Os desafios do microcrédito produtivo na visão das instituições e seus operadores

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Os desafios do microcrédito produtivo na visão das instituições e seus operadores

Entretanto, o palestrante avalia que é possível diminuir os riscos com a utilização de modelos de contratos que facilitem o monitoramento das transações. “Nas instituições que focam em contratos de empréstimo solidário, de fato, há uma relação inversa entre retorno e sustentabilidade, no seguinte sentido: na medida em que se aumenta a taxa de juros, a lucratividade dessas instituições vai caindo. É interessante que, nos contratos que são focados no indivíduo, contratos bilaterais sem grupos, o que ele mostra é o seguinte: que o risco de fato cresce com o aumento dos juros”, embora, segundo o palestrante, exista espaço para mais lucratividade com alteração para cima das taxas de juros. Entretanto, essa margem para ajustes na taxa de juros resulta em novo dilema: vale a pena aumentar a lucratividade das instituições alterando a taxa de juros, mesmo que isso resulte em manter os tomadores mais pobres por mais tempo na pobreza? Outro ponto apresentado por Antonio Marcos Ambrozio foi o fato de estudos demonstrarem que instituições que atuam com contratos individuais têm mais gastos com pessoal, mas aumento em sua lucratividade. Ao contrário, nas instituições que atuam com contratos solidários, o aumento com pessoal não resulta em mais lucratividade.

14 Para Ambrozio, isso é explicado da seguinte forma: “Nos contratos individuais, usa-se seu pessoal para, efetivamente, fazer seleção de risco, evitando contratos duvidosos. No caso dos contratos solidários, embora o pessoal também faça seleção de riscos, a natureza do contrato lhe permite aumentar o número de operações de forma crescente e, como essas operações envolvem valores médios menores do que nos contratos individuais, não há ganhos de lucratividade e sim de alcance”. Em relação à focalização nos mais pobres, o palestrante do BNDES afirmou que é uma questão ainda não resolvida pelas instituições de microcrédito, sejam públicas ou privadas. Segundo ele, “microcrédito é um instrumento efetivo para aliviar algum grau de pobreza e dinamizar as economias locais. Apesar disso, as instituições parecem ter alguma dificuldade de alcançar os mais desfavorecidos entre os pobres”. Essa dificuldade é especialmente maior naquelas instituições que tentam alcançar os que estão na base da pirâmide social. E há algumas limitações para que o microcrédito encontre resistência para alcançar o núcleo duro da pobreza. A primeira delas é a dificuldade de as instituições alavancarem funding, que são os recursos financeiros colocados à disposição para implementar planos de expansão, objetivando o aumento da carteira de empréstimos de microcrédito, pois “no Brasil, estão operando com um tamanho, número de empréstimos na carteira, muito pequeno”.


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