CADERNO DE RESUMOS

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Gentilismos no Brasil e na Índia

Célia Cristina da Silva Tavares Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Ao entrar em contato com a documentação produzida pela Inquisição e pela Companhia de Jesus, no tempo de meus estudos relacionados com o mestrado e o doutorado e na trajetória de projetos de pesquisa que tenho orientando na minha vida acadêmica vinculada ao Departamento de Ciências Humanas da Faculdade de Formação de Professores, tanto em nível de iniciação científica quanto no PROCIÊNCIA, no período de 2005 até hoje, tive a oportunidade de encontrar muitas referências interessantes sobre as práticas religiosas que misturavam elementos culturais de sociedades não europeias que haviam sido convertidas com as práticas do catolicismo difundidas pela presença portuguesa. Tanto indígenas, no litoral do Brasil, quanto populações indianas na cidade de Goa e arredores, por exemplo, depois de batizados e, em geral, levemente doutrinados, na maior parte das vezes por padres jesuítas, tendiam a praticar a nova religião dentro dos parâmetros daquelas crenças em que haviam nascido, mas misturado à ritualística católica. Diante desta realidade, inquisidores e jesuítas produziram inúmeros textos onde registraram muitas vezes perplexidade e, outras vezes, tentaram interpretações para estabelecer uma aproximação e obter alguma explicação sobre essas atitudes. Em geral, chamavam estas práticas de “gentilismo”, expressão derivada da palavra “gentio”. A presente conferência pretende explorar alguns aspectos da consolidação do termo tanto para jesuítas quanto para inquisidores.

Para além das palavras: a diáspora visual goesa nas miniaturas mughal

Cibele E. V. Aldrovandi Universidade de São Paulo

A presente comunicação tem como objetivo discutir alguns aspectos presentes nas pinturas miniaturas Mughal de influência europeia – mais especificamente aquelas de origem goesa –, cuja temática, além dos retratos e cenas do cotidiano, enveredou sobretudo pelas representações religiosas cristãs. Os contatos entre o Império Mughal e o Império Português ultramar datam do século XVI. Com a conquista do Norte da Índia pelo imperador Babur, em 1526, o subcontinente viu surgir o maior império indiano sob a égide islâmica. Os portugueses, por sua vez, já haviam se firmado em solo indiano, desde 1510, com a fundação de sua capital além-mar em Goa, bem como em outros territórios fortificados ao longo do litoral. Os jesuítas portugueses foram os primeiros europeus a ter contato direto com os Mughal, visitando a corte de Akbar. Embora não apareçam tão explicitamente nas crônicas muçulmanas, a presença desses europeus ficou registrada nas miniaturas Mughal, fornecendo um painel desses encontros transculturais que se refletiram nas esferas comercial, política, cultural, religiosa e perduraram por dois séculos. Interessa-nos, portanto, evidenciar as influências múltiplas que subsidiaram a produção dessas pinturas, permeadas por interesses conflitantes, ambiguidades e resistências em permanente negociação. Este repertório imagético pretende ser discutido sob a ótica de um deslocamento heterotópico e, nesse sentido, de uma visualidade diásporica e híbrida, cuja análise permita trazer luz às questões que permearam essas interações e mediaram suas respectivas culturas visuais. Palavras-Chave: Goa; Mughal; império; pinturas miniatura; diáspora visual.


Goa: Entre o Local e o Global

Cielo G. Festino Universidade Paulista/Grupo de Trabalho Pensando Goa

Poder-se-ia dizer que Goa é um lugar paradoxal porque embora muitos de seus vilarejos ainda têm as marcas de uma comunidade rural, também é o epítome da pós-modernidade. Enquanto muitas vezes Goa é imaginada como um lugar pequeno e contido, ela estende-se além das fronteiras geográficas e políticas desde que está profundamente integrada com o global através de aqueles que, embora morando na diáspora, ainda são considerados como Goenkars, e dos muitos estrangeiros, os bahille, que chegam a Goa de lugares longínquos, mas querem ser tratados como locais. Nesse contexto, a partir da problematização dos conceitos de espaço e comunidade (Cresswell, 2004) esta comunicação traz uma leitura do ciclo de narrativas Inside/Out. New Writing from Goa (Goa Writers Group, 2011).

Aspectos gerais da Literatura de Timor-Leste em língua portuguesa

Damares Barbosa Universidade de São Paulo

Apresentamos alguns aspectos gerais do Roteiro da Literatura de Timor-Leste em Língua Portuguesa, tese de doutorado apresentada na Universidade de São Paulo, que teve como escopo reunir e comentar a Literatura de Timor-Leste em língua portuguesa, tendo como base os textos de escritores timorenses. A pesquisa apresenta, de maneira geral, a poesia dos escritores politicamente engajados e os romances escritos na diáspora, que procuram identificar as principais questões que estiveram no horizonte dos timorenses em diferentes momentos de sua história. Da mesma forma, as obras analisadas procuram delinear a imagem que o conjunto desses textos acabou por produzir do Timor na contemporaneidade. Palavras-chave: Timor-Leste; diáspora; literatura de Timor-Leste

Narrativas e contra-narrativas da história timorense: Memorial de Balide e Arquivo e Museu da Resistência Timorense (AMRT) em perspectiva comparada

Daniel De Lucca UNICAMP/FESP-SP

Com a independência restaurada em 2002, a reconstrução do Estado de TimorLeste passou a caminhar ao lado do trabalho de renarração da nação. Como acontece em outros países pós-conflito, ali as narrativas mestras da nação são quase sempre elaboradas a partir das posições daqueles que sobreviveram e venceram os combates. Este trabalho pretende abordar a produção da história timorense contemporânea através da análise comparativa de duas importantes instituições nacionais: o Memorial de Balide e o Arquivo Museu da Resistência Timorense (AMRT). Em cada um destes espaços buscar-se-á problematizar as respectivas 1) trajetórias


e contextos institucionais; 2) as estruturas narrativas expostas no processo da visita; e 3) os estatutos das vidas timorenses que ali são destacadas. O contraponto entre estes dois lugares de memória, o cotejo entre os diferentes discursos históricos a respeito da nação que estas instituições carregam consigo, bem como o contraste entre os heróis nacionais selecionados e que dão corpo a estas narrativas, são meios pelos quais se pode abrir um campo mais alargado e diversificado de posições para a interpretação da história de conflitos e dos conflitos sobre a história que Timor-Leste vive em seu presente pós-colonial . Palavras chave: Timor-Leste, museu, história, narrativa, conflito

Diáspora dos Deuses e Colonialidade. O Templo Caminhos do Vaishnavismo em Goa

de

Devaki-Krishna

e os

Dilip Loundo Universidade Federal de Juiz de Fora

O Templo de Devaki-Krishna situado no pequeno vilarejo de Mashel (ou Marcela), ao leste do estado de Goa na Índia, tem como ícone central uma combinação do deus Krishna – um dos principais avatares de Vishnu - e sua mãe Devaki. A consagração ritual e simbólica de Devaki-Krishna como uma das principais divindades tutelares (kula-devata) da comunidade brâmane Gaud Saraswat envolve uma narrativa autoreferida que é emblemática de um processo recorrente de diáspora dos deuses. Tendo por correlato um diálogo continuado entre comunidades, repleto de conflitos e reconciliações, a diáspora de Devaki-Krishna pode ser condensada em três etapas principais. A primeira corresponde ao deslocamento da comunidade Gaud Saraswat de regiões situadas ao norte dos Vidhyas para a região de Goa, em diversas fases, cujas mais antigas remontam a 1000 a.c. A segunda etapa corresponde ao processo de interação física e simbólica, que se estende até o século XV, entre as divindades adventícias da comunidade Gaud Saraswat - originariamente vinculadas à matrix smarta da tradição védica - e as divindades locais, e a influência crescente exercida pelo Vaishnavismo – corrente religiosa centrada na predominância de Vishnu e seus avatares - sobre setores significativos da comunidade. Dentre estes últimos, encontramse, precisamente, os devotos de Devaki-Krishna cujo templo originário foi construído no vilarejo de Chodan (ou Chorão). E a terceira etapa corresponde ao diálogo mantido com o cristianismo romano como resultado do processo de colonização portuguesa iniciado no século XVI. A repressão perpetrada pelos colonizadores lusos, em especial no primeiro século de dominação, forçou o deslocamento da comunidade Gaud Saraswat, e em particular dos setores afeitos à divindade tutelar Devaki-Krishna, para regiões fora do controle colonial. Foi nesse contexto que o templo de Devaki-Krishna foi reconstruído no vilarejo de Mashel.


A

poesia goesa de língua portuguesa em torno de

do

Carmo Vaz

1961: Vimala Devi

e

Mário

Duarte Drumond Braga Universidade de São Paulo/FAPESP

Esta comunicação procura chamar a atenção para a poesia de Goa à roda da data de fecho do colonialismo a partir do Lusotropicalismo enquanto evidente quadro ideológico de dois poetas goeses: Vimala Devi e Mário do Carmo Vaz. Trata-se, contudo, de um Lusotropicalismo não recebido passivamente mas pensado, apropriado e devolvido a Portugal a partir de Goa, deste modo criando fortes ambivalências nas obras destes autores no que toca à relação com Portugal e desenhado o quadro a partir do qual é pensada (e justificada) a questão colonial. Procurarei mostrar a forma como duas obras de poesia – A Terra falou-me assim (1959) de Mário do Carmo Vaz e Súria (1962) de Vimala Devi – partilham as seguintes questões, que se inscrevem no aludido quadro doutrinal e estético-ideológico: eventuais diálogos com o Neorealismo português, a visão do colonialismo e a relação com Portugal, a fecunda temática do exílio, tão característica da modernidade goesa e ainda a transposição de referências culturais hindus para contextos sócio-culturais europeu veiculados pelo discurso lírico.

Women’s writing in Goa: From within the Father’s house and beyond

Edith Noronha Melo Furtado Retired faculty – Department of French and Francophone Studies/Goa University Goan women’s writing does not figure in the celebrated anthology of women’s writing in India. For a complete and comprehensive recovery of the cultural history of Goa, writings by Goan women during the colonial period cannot be undermined. These, though small in number, could play a central role in the reconstruction of a literature and a society , far removed from its present status , nonetheless, pointing to a future generation of today’s post-liberation women writers , with different but at times, overlapping concerns, yet bound by an unspoken , common generational link. Women in Goa have been writing since the 19th century albeit within the confines of home and society, limited educational opportunities, imprisoned in socio-cultural determinisms. Yet, Goan women wrote within what Patricia Smart describes as the ‘father’s house’. ‘Feminine’ themes were germane to their writing. The pre-1961 women’s writing does present itself as a subject worthy of study, for in Goa, the Indo-Portuguese women writers are either a forgotten or a lesser known institution. The literary history of Goa demands that the lacuna be filled and that this writing be legitimised. Women writing after 1961 have rewritten the prevalent zeitgeist (the male dominated printed word). In total contradiction to Naipaul’s criticism of female Indian authors writing about the legacy of colonialism, for the "banality" of their work, Goan women, on the other hand, having been traditionally readers, are now the producers of textual meaning; they are both readers and writers.


A

nascente literatura de língua portuguesa em

Timor

leste e a formação da

identidade nacional

Edson Luiz de Oliveira Universidade de São Paulo Certamente os timorenses possuem uma consciência identitária muito forte, apesar da diversidade cultural que engloba 16 línguas étnicas, além da presença histórica do português; da língua indonésia (bahasa) como legado do período de ocupação; do inglês reforçado durante período pós-conflito pela comunidade internacional e pela vizinhança da Austrália. No entanto, desde a independência que se consolidou a partir de 2002, uma nova realidade fundamentada no Estado nacional tem o português e o tétum como línguas oficiais - asseguradas pela Constituição da República Democrática de Timor Leste (RDTL). Para justificar o status do português como Língua cooficial, juntamente com o tétum, os defensores da língua portuguesa no Timor Leste recorreram a diversos argumentos políticos e culturais. Dentre estes, destaca-se o argumento do português ser parte integrante da identidade timorense por alimentar a língua da unidade nacional, o tétum, com expressões de uso cotidiano e termos técnicos. De fato, são inúmeros os vocábulos de origem portuguesa que enriqueceram o tétum no longo período de contato entre essas duas línguas. Por outro lado, politicamente, os documentos oficiais do movimento independentista eram quase todos redigidos em português. Podemos dizer que o português era a língua da resistência à invasão indonésia. Atualmente, um outro fenômeno cultural está se desenrolando naquela meia-ilha. Estão surgindo escritores memorialistas que escrevem em português, relatando assim as memórias dos tempos da Resistência Timorense nesse idioma. Portanto, nessa fase de construção nacional uma nascente literatura em língua portuguesa está sendo dedicada à memória dos tempos da resistência e da experiência da diáspora timorense. Autores como Luis Cardoso e Domingos de Sousa praticam uma literatura que se poderia denominar de autoficção, que resgata as experiências vividas por eles e outras pessoas próximas a eles naqueles tempos heroicos. Palavras-chave: literatura de língua portuguesa, Timor Leste, identidade nacional, memorialismo, autoficção.

A comunidade católica portuária na Índia no período colonial

Ernestina Carreira Université Aix-Marseille

Entre os séculos XVII e XIX, uma comunidade católica dependente da jurisdição do Arcebispado de Goa (Padroado) foi-se construindo em portos indianos comprados (ou anexados) e depois desenvolvidos pelas companhias francesa e inglesa, como Bombaim, Surat, São Tomé de Mylapore (Madrasta), Pondichery, Chandernagore, Calcuta…. Já no início do século XVIII, estes núcleos comunitários, compostos por metropolitanos, luso-descendentes e indianos convertidos ao catolicismo, constituiam a elite social e económica dos estabelecimentos franceses e ingleses. A sua posição privilegiada explica as estratégias matrimoniais adoptadas por jovens funcionários europeus das companhias francesa e inglesa, na maioria filhos caçulas de velha nobreza europeia. Citamos entre eles o futuro marquês de Dupleix por exemplo. A fortuna


e rede relacional dessas famílias permitiam uma ascensão socio-econômica, muitas vezes imediata, dos jovens ambiciosos oriundos de famílias anglicanas e protestantes, mas que não hesitavam na Índia a aderir ao velho culto católico do Padroado. Apesar da introdução progressiva, e conflitualíssima, dos missionários das Missions Etrangères de Paris ou da Propaganda Fide (Roma), esta comunidade permaneceu até às primeiras décadas do século XIX o núcleo social culturalmente mais homogêneo destes portos europeus. A sua estratégia de visibilidade em espaços urbanos não lusófonos levou-a ao mecenato e ao financiamento integral da maioria dos grandes edifícios religiosos ainda hoje existentes. A partir do século XVIII, investiram também em instituições de ensino e de cultura (clubes e bibliotecas) destinadas às elites mas também às classes populares dos católicos «portugueses» de Bombaim, Madrasta e Calcuta. A ligação umbilical com Goa permitiu a esta comunidade, ao longo do século XIX e até à primeira guerra mundial, de integrar matrimonialmente as elites goesas (brahmanes e Chardós) que migraram progressivamente para a Índia inglesa, à medida que Goa mergulhava na sua secular letargia decorrente da independência do Brasil. Frente a um Portugal em plena desagregação no século XIX, estas comunidades criaram a sua «identidade portuguesa», a pontos de evoluir no século XX para uma consciência de «nação», à medida que as autoridades britânicas aplicavam uma política segregacionista em relação às elites nativas. Esta elite estava em meados do século XIX, em posição de negociar seus privilégios directamente com Roma, contornando Lisboa, e essa situação explica em parte a aceitação, pelo Papa, da condordata de 1886. A minha comunicação tratará da identidade cultural desta comunidade através dos órgãos de imprensa por ela fundados e financiados, e que permitem seguir a ascensão e declínio da sua influência na Índia Inglesa antes da sua migração maciça para fora do sub-continente indiano a partir da primeira guerra mundial.

Orientalizando Goa

ou o quimérico projeto nacionalista dos intelectuais

goeses cristãos

Everton V. Machado Centro de Estudos Comparatistas da Universiade de Lisboa A dominação portuguesa de Goa por quatro séculos e meio, apoiada sobre um histórico pacto entre as elites nativas locais e o poder colonial, conhece a partir de finais do século XIX o emergir de uma consciência nacional levando artistas e políticos do meio cristão a buscar referências na cultura hindu e tentar assimilá-las à sua identidade, não raro caindo no mais manifesto orientalismo. A presente comunicação pretende demonstrar os meandros de tal construção ideológica e a incapacidade dos seus agentes em solucionar através desse projeto o dilaceramento identitário provocado pela empresa colonial, em virtude da irrevocabilidade dos interesses políticos e culturais assumidos por ambas as partes (portugueses e goeses) na história de Goa.

Percurso pelas histórias da poesia goesa de língua portuguesa

Hélder Garmes Universidade de São Paulo/FAPESP/CNPq

Trata-se de realizar um percurso pelos textos históricos e crítico-literários que procuraram traçar um panorama da poesia goesa de língua portuguesa. Pretendese reunir e averiguar as tentativas de sistematizar a história dessa poesia, buscando


identificar até que ponto foram bem-sucedidas, quais suas lacunas e que diferentes perspectivas assumiram, no intuito de delinear uma nova abordagem para sua elaboração.

Confúcio e o Rito

Ho Yeh Chia LIA-DLCV/DLO –Universidade de São Paulo

Confúcio se tornou um homem famoso por causa dos seus conhecimentos nos ritos. Conhecimentos estes que adquiriu viajando para a terra do Zhou. Após isso, foi Ministro da Justiça do Estado de Lu, e, por toda a sua vida, demonstrou um amor especial pelos ritos. Esta apresentação tem como objetivo mostrar a importância dos ritos na vida de Confúcio, e procurar entender os motivos desde amor.

Há “Regionalismo” nos Contos Regionais de José da Silva Coelho?

João Figueiredo Alves da Cunha Doutorando ECLLP – USP

O contista goês José da Silva Coelho ganhou reconhecimento por sua produção em periódicos como O Heraldo, de Pangim. Entretanto, pelo valor de sua obra, o crítico Manuel de Seabra promoveu a republicação dos contos, que tinham ganhado fama nas duas primeiras décadas do século XX. Tais republicações ocorreram no “Boletim do Instituto Menezes de Bragança”, nas décadas de 70 e 80, sendo que 42 desses contos foram, por Seabra, classificados como Contos Regionais. Nossa ideia é discutir por que foi dada a classificação de “regionais” a contos como “Por que não casei com Osmilda”, ou “O Fígado do Dr. Pancrácio”. Esse regionalismo se relaciona com o que Candido definiu como Literatura Regionalista, no Brasil? Há uma estética específica para esse regionalismo? Há uma ideologia comum entre os contos? São essas e outras questões relacionadas ao título dado à coletânea de contos de José da Silva Coelho que procuraremos trazer à tona em nossa apresentação.

Sobre Epitácio Pais

José Antonio Pires de Oliveira Filho Doutorando ECLLP – USP

A presente comunicação tem por objetivo apresentar alguns aspectos do livro de contos Os javalis de Codval (1973) do escritor goês Epitácio Pais (1926-2010). O que motivou essa proposta foi, primeiramente, o desconhecimento de uma obra que faz parte de uma literatura também pouco conhecida e estudada: a literatura goesa de língua portuguesa. Também o contexto singular em que esta obra surge, a saber, a realidade pós-colonial no âmbito do antigo império lusitano, estimulou a reflexão sobre sua especificidade. Pretende-se, assim, averiguar como o gênero conto se configurou nesta obra, procurando demonstrar que os valores advindos do cânone ocidental são insuficientes para qualificar e analisar devidamente o livro de Epitácio Pais.


O

lugar de

Jacob

e

Dulce

dentro do universo da ascensão do romance em

português

Kouassi Loukou Maurice Doutorando ECLLP – USP

O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre o lugar do romance Jacob e Dulce – cenas da vida indiana (1896) do escritor goês Francisco João da Costa no contexto das literaturas de língua portuguesa e dentro do macrossistema dessas literaturas no sentido de repensar a ascensão do romance em português, para além da matriz colonial.

Viagens do olhar em Luis Froes e Aluisio de Azevedo

Lica Hashimoto Universidade de São Paulo

Esta comunicação trata de modo sucinto de dois momentos do encontro entre o Ocidente eurocristão e o Japão. O primeiro, ocorrido nos séculos XVI e início do século XVII, com a chegada dos portugueses ao Japão, no contexto das grandes navegações e descobertas de novos mundos pelos ibéricos e, o segundo, no final do século XIX e início do século XX, após cerca de 220 anos desde a ordem de fechamento do país baixada em 1639. A Historia de Japam (1583-1597) de Luis Froes (1532-1597) e O Japão (1897-1899) de Aluísio Azevedo (1857-1913) revelavam ao leitor ocidental um mundo desconhecido a partir de impressões e experiências obtidas e vivenciadas num determinado momento da história cultural.

Problemas

legais em relação à comunidade brasileira dekassegui no

Japão

contemporâneo

Masato Ninomiya Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

Uma janela para o mundo: a arte da conexão Japão-Portugal

Michiko Okano Universidade Federal de São Paulo

O tema da apresentação é a arte namban, fenômeno artístico cujas obras produzidas têm conexão temática, material e/ou estilística ocasionada pela presença dos portugueses no Japão entre os séculos XVI e XVII. Estuda-se algumas obras representativas da arte namban, desde as obras religiosas como pinturas a óleo, objetos em laca japonesa produzidas a partir da orientação dos jesuítas até biombos confeccionados


pelos próprios artistas japoneses, bem como as placas de madeira, bronze ou latão denominadas fumi-e. Novos signos são criados a partir da harmoniosa convergência de ideias bem como, por meio de conflitos, choques e rejeições.

Literatura de Macau hoje

Mónica Simas LIA-DLCV-DLO – Universidade de São Paulo

Esta comunicação tem como objetivo principal mostrar, caracterizar e analisar parte da produção literária contemporânea, produzida em Macau, isto é, de 1990, data aproximada à transferência da soberania administrativa da região para a República Popular da China, até os dias de hoje. Palavras-chave: Literatura de Macau, interlocuções com a Ásia; multiculturalismo e interculturalidades.

Preia-Mar de Epitácio Pais: Um Romance Indiano de Língua Portuguesa?

Paul Melo e Castro Universidade de Leeds

Parece existir consenso em como a terminologia mais adequada para a literatura produzida em Goa na antiga língua de administração do território seria ‘Literatura Goesa de Língua Portuguesa’. No entanto, nesta comunicação debaterei se PreiaMar, título provisório de um romance inédito de Epitácio Pais, poderia ser considerado como um romance indiano de língua portuguesa, um exemplar fantasma de uma literatura impossível. Neste romance as preocupações extravasam um enquadramento estritamente goês, em que a memória do regime português já se ia diluindo, para tecer considerações sobre uma série de factores que confrontava a nação indiana nos anos 1970s. Mas será que este romance reflete sobre a problemática da India independente ou tão somente sobre a melhor maneira da elite católica manter uma posição de superioridade secular dentro de Goa?

Women’s voices. Colonialism and Nationalism in Goa

Rosa Maria Perez ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa

The nationalist movement in Portuguese India has not been systematically analysed, and the studies produced exclude women's voices. Although there was indeed a feeble female participation in the nationalist process there were women who, since the beginning of the anti-colonial movement, were engaged in the larger Indian satyagrahis’ group, thus merging into the pan- Indian freedom movement.This paper aims at presenting the key role played by a small constellation of women nationalists, particularly one who, from the neighbouring states of Goa (Karnataka and Maharashtra) created a radio station that broadcasted to Goa the silenced voices of the opposition to Portuguese rule. By the same token, her life story helps us to acknowledge that Goan decolonization was set in motion years before the well-known Operation Vijay.


Línguas, culturas literárias e culturas políticas na modernidade goesa

Sandra Ataíde Lobo CHAM/CHC – Universidade Nova de Lisboa

Na presente comunicação proponho-me aprofundar os conceitos de cultura literária e de cultura política, para reflectir sobre as suas relações na construção da modernidade goesa desde a Revolução Liberal de 1820. Nesse contexto abordarei a problemática das línguas em situação colonial e os motivos porque os debates sobre as línguas e o uso das diversas línguas em palco adquirem uma relevância política e cultural central em Goa, ainda hoje fracturante. Por fim, defenderei a importância democrática de estabelecer um diálogo entre as diversas tradições literárias locais e reflectirei sobre os obstáculos que se colocam a tal programa.

Macau sob o comando de Goa e sua autonomia

Sérgio Pereira Antunes LIA-DLCV-DLO – Universidade de São Paulo

Dois pontos importantes na rota comercial criada pelos navegadores portugueses no século XVI, Goa e Macau, construíram um sistema governativo com certa autonomia da Metrópole do Império. Macau, em particular, ainda mais distante de Lisboa (e também de Pequim) tem essa autonomia como sua grande marca até mesmo após a Reunificação (Handover). A comunicação visa discutir as peculiaridades da autonomia de Macau pelos aspectos literários, sociais, políticos e econômicos, dando especial atenção ao período em que esteve sob a administração do Vice-Reino de Goa.

Timor-Leste, Macau e Goa: a poesia de língua portuguesa no Oriente

Suillan Miguez Gonzalez Doutoranda em ECLLP – USP

Este trabalho propõe flagrar temáticas singulares e locais na produção poética dos principais escritores das literaturas de língua portuguesa do Oriente: Timor-Leste, Macau e Goa. Ao contrário do prestígio e dedicação voltados às literaturas africanas, portuguesa e brasileira, aquelas permanecem à margem quanto a estudos que as leiam no âmbito cultural asiático. Para isso, é necessário entender como se deu a colonização portuguesa nessas regiões e de que maneira, na atualidade, manifestamse na dinamicidade das relações entre as literaturas de língua portuguesa.

Musicalmente falando ou como guardar a goanidade nas palavras cantadas

Susana Sardo Universidade de Aveiro

O perfil colonial do território de Goa decorre de um processo de dominação portuguesa que se prolongou por 451 anos durante os quais as políticas sociais adquiriram perfis


diferenciados. A partir de meados do século XIX, sobretudo nos territórios que historicamente se designam por “Velhas Conquistas”, o reconhecimento por parte

do colonizador da existência de uma elite burguesa de perfil local mas claramente cúmplice do poder político, conduziu também a um processo de permissibilidade na manutenção de práticas performativas locais, aparentemente “inofensivas” em relação ao papel do colonizador. O aparecimento de um repertório de “música goesa”, composta por compositores goeses, cantada em konkani e desempenhada sobretudo em contextos de intimidade doméstica, constitui um exemplo paradigmático desse processo. Esta comunicação procura mostrar através da análise de alguns mandde e dulpodam, o modo como os goeses garantiram através das palavras cantadas, a fixação de um imaginário quase auto-etnográfico, que contribuiu para a preservação da língua e, sobretudo, para a construção de um arquivo de memória, que regista e descreve um modo particular de ser goês.

A cor da pele e a nacionalidade como narrativas de identidade na construção de duas famílias indo-portuguesas

Viviane Souza Madeira Mestranda em ECLLP – USP

A presente comunicação tem por objetivo problematizar como se dá a construção das identidades nos romances de temática indo-portuguesa Skin (2001), de Margaret Mascarenhas, e A casa-comboio (2010), de Raquel Ochoa por meio da caracterização das personagens. Ao considerar as teorias sobre Orientalismo, hibridismo, nacionalismo e cor da pele discutidas por Edward Said, Homi Bhabha e Frantz Fanon, é possível perceber que narradores e personagens se postam de maneiras diversas em relação à ironia colonial.


Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa Laboratorio de Interlocuções com a Ásia Grupo de Estudos Pensando Goa Grupo (Pt. Oriente) Portugal e o Oriente: Literaturas, Línguas e Culturas Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa Av. Professor Luciano Gualberto, 103, sala 101 CEP: 05508-010 | Caixa Postal 72042 | Cidade Universitária – SP Tel: 5511 3091.3751 celp.fflch.usp.br facebook.com.cepusp

Apoios: Casa de Portugal FAPESP Créditos das imagens internas “Sem título\simbologia maconde” e “Peixes”: autoria de Maluda.


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