Lendas de Curitiba: Histórias Para Contar no Escuro

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© 2022 Amanda Helena Zanin, Cássia Marina Zanin

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Todos os Contos por Luciana do Rocio Mallon

Projeto Gráfico por Amanda Helena Zanin

Cássia Marina Zanin

Ilustrações por Amanda Helena Zanin

Diagramação por Cássia Marina Zanin

Sob Orientação de Alan Ricardo Witikoski

Impressão e Acabamento Gráfica Tecnicópias

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

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Zanin, Amanda Helena; Zanin, Cássia Marina (org.)

Lendas de Curitiba: Histórias Para Contar no Escuro –

Curitiba: DADIN, UTFPR, 2022

ISBN: 000-00-0000-000-0

1.Lendas. 2.Terror. 3.Ilustração. 4.Editorial. 5.Curitiba.

CDD (00. ed.) 000.000

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Contos por Luciana do Rocio Mallon Ilustrações por Amanda Helena Zanin Diagramação por Cássia Marina Zanin

sumário

Lenda da Bruxa

Ana Formiga

Lenda dos Fotógrafos

Ambulantes da Rua XV

Lenda do Lobisomem do Tarumã

9 13 17 21

Lenda da Canção do Cemitério

Lenda do Artista Macabro

sumário 25 29 35 41 Lenda da Espanhola do Bairro Cabral
Lenda do Príncipe do Quadro e a Musa dos Sonhos Lenda da Condessa dos Espelhos e a Alma da Dama

Lenda da Bruxa

Ana Formiga

No século dezenove, a feiticeira Ane O ‘Neil era perseguida na Escócia por ser suspeita de matar crianças em rituais macabros. Por isto ela embarcou em um navio clandestino que tinha como destino o sul do Brasil.

Quando chegou no porto de Paranaguá, no Paraná, esta bruxa subiu a serra e partiu para Curitiba onde montou uma tenda, na Rua Benjamin Lins, para realizar curandeirismo e ler a sorte para as pessoas. Como esta mulher tinha o traseiro avantajado, igual ao de uma tanajura, e comia muitos doces recebeu o apelido de Ana Formiga. Esta feiticeira tinha hipoglicemia, assim toda a vez que sua taxa de glicose baixava ela passava mal. Por isto, muitas vezes, Ana aceitava doces como forma de pagamento pelos seus serviços.

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Em 1889 esta bruxa estava roubando guloseimas de uma confeitaria e foi presa em flagrante por um cabo do exército, que era recém-casado. No momento de sua prisão, ela exclamou ao militar:

— Quando eu sair deste lugar, farei um feitiço forte e você perderá a sua amada!

Os clientes de Ana ficaram comovidos com a sua prisão, por isto juntaram uma alta quantia de dinheiro e pagaram a sua fiança.

Um dia após a libertação da bruxa, a esposa do cabo teve um pesadelo com formigas invadindo a sua residência. Então, pela manhã, quando acordou abriu a janela do seu quarto e achou coisas estranhas: uma rã seca que tinha presa às pernas uma rosa branca e uma cruz na boca. No canto da mesma janela ainda tinha um bilhete escrito com tinta roxa contendo as seguintes palavras:

— Cabo, sua esposa morrerá daqui a sete dias!

Uma semana depois, a mulher deste militar morreu de uma doença que os médicos não souberam diagnosticar.

Segundo relatos esta história saiu por toda a mídia curitibana da época.

Reza a lenda que hoje, onde era a antiga casa desta bruxa na Rua Benjamin Lins, foi construído um hotel de luxo. Alguns funcionários deste estabelecimento disseram que já viram vultos estranhos e que linhas telefônicas de quartos desocupados tocam misteriosamente.

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Lenda do Fotógrafo Ambulante da Rua XV

Reza a lenda que entre as décadas de 1920 e 1960, existiam fotógrafos ambulantes, que andavam pela Rua XV de Novembro de Curitiba, tirando retratos, de surpresa dos passantes daquela rua. Às vezes, depois desta foto relâmpago, eles entregavam os cartões dos estúdios onde trabalhavam. Mas tinham alguns que esperavam o retorno da pessoa à famosa rua e assim, que ela aparecia, o profissional mostrava a foto revelada e tentava vende-la ao transeunte.

Naquela época existia um rapaz chamado Zezinho, que estava desempregado. Porém tinha realizado um curso de fotografia e revelação. Então ele montou um estúdio em sua casa e para ganhar um trocado, o rapaz tornou-se um destes fotógrafos relâmpagos. Deste jeito ele passou a tirar retratos, de surpresa, das pessoas que andavam pela Rua XV para vender estas fotos depois.

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De repente, ele viu uma moça muito bonita. Mas que vestia roupas do século dezenove. Mesmo assim ele tirou uma foto da jovem. Porém, na hora da revelação, não saiu a imagem da bela.

Dias depois, o rapaz avistou a mesma mulher e deu um clique. Mas, na hora da revelação, em vez da imagem da moça, apareceu a seguinte frase na foto:

– Donzelas mortas e vampiros não aparecem em fotografias e nem em espelhos.

– Por favor, me deixe em paz!

Desta maneira, Zezinho ficou assustado.

Quando chegou dois de novembro, Dia de Finados, ele foi convidado para tirar fotos do movimento do Cemitério Municipal São Francisco de Paula.

Então, no meio do campo-santo, ele se deparou com um túmulo onde havia o retrato da mesma jovem misteriosa que sumia nas revelações. Assim o moço resolveu fotografar o túmulo. Quando ele deu o clique, seu corpo foi parar dentro da tumba, onde havia um esqueleto com as mesmas roupas da jovem misteriosa.

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Lenda do Lobisomem do Tarumã

Dona Cida é uma senhora, que mora a muitos anos no bairro Tarumã, em Curitiba. Foi ela que contou e autorizou o compartilhamento da lenda abaixo.

Reza a lenda que nos anos 1960, um rapaz vindo do interior chamado Zé, bateu nas portas do Jockey Club, localizado no bairro Tarumã, para pedir emprego. Então, este moço explicou a sua situação ao gerente, que deu emprego de auxiliar de serviços gerais e um quartinho nos fundos do estabelecimento para Zé morar.

O problema foi que partir daquele momento, nas noites de Lua Cheia, de quinta para sexta-feira coisas estranhas passaram a acontecer: primeiro os moradores passaram a escutar uivos estranhos vindo do jóquei, mas pensaram que se tratava de um cachorro de grande porte.

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Porém, no mês seguinte, os cachorros da região começaram a aparecer com os corpos dilacerados. Por isto, quem tinha bichos de estimação passou a prender os animais nas noites de Lua Cheia.

Já no outro mês, Lurdes, que era vizinha de dona Cida, passou maus bocados por causa do monstro. Como esta moça era uma enfermeira solteira, dependendo do horário do plantão, às vezes, ela pegava o ônibus madrugueiro e chegava altas horas em casa. Numa madrugada de sexta-feira, Lurdes estava cortando caminho por um bosque no Tarumã, quando, de repente, sentiu que estava sendo seguida. Então quando ela olhou para trás viu um lobo gigante e passou a gritar. O bicho encostou as garras nas costas da donzela, que sangraram e ficaram marcas. Mesmo assim, como esta dama conseguiu entrar numa rua iluminada, escapou do monstro. Porém, ao chegar a sua casa, a jovem chamou a ambulância. Porém, os médicos não souberam identificar qual tipo de animal atacou Lourdes.

No dia seguinte, Zé bateu palmas na cada de Cida, com uma aparência cansada e perguntou se esta senhora tinha um punhado de sal para emprestar. A dona-de-casa foi até a cozinha e deu o pedido ao moço, que no mesmo instante derramou todo o sal em sua boca. Deste jeito Cida pensou:

Este rapaz só pode ser um lobisomem, pois lá no norte do Paraná dizem que um homem que pede sal, na casa da vizinha, com aparência de cansado é porque virou lobisomem na noite anterior. Afinal, a transformação consome muito sal do corpo.

No outro mês, alguns cavalos do jóquei apareceram mortos como se fossem atacados por um animal de grande porte. Então, acionaram as autoridades competentes para uma investigação. Naquele mesmo dia, Zé desapareceu e a partir daquele instante não houve mais relatos de ataques de lobisomens no bairro Tarumã.

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Lenda da Canção do Cemitério

Nos anos 1970, foram colocados telefones públicos em todos os cemitérios de Curitiba. Isto gerou várias lendas como a que será lida abaixo:

Laura era uma menina de quatro anos de idade, que só dormia com sua mãe, Valquíria, cantando a música:

“ – A fada da princesa se perdeu no campo-santo

Ela foi colher flores para a bailarina que virou anjo.”

O problema é que naquele mesmo ano, Valquíria teve um acidente de carro e morreu na hora.

Assim Laura não conseguia dormir. O pai ficou desesperado e procurou uma psicóloga que recomendou a contratação de uma babá que soubesse cantar a mesma música antes da criança ir para a cama. Depois de várias entrevistas, o homem escolheu a

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nova funcionária. Na mesma noite, ela tentou cantar a canção para a menina. Mas ela não aceitou e exclamou:

– Só dormirei quando eu escutar a voz da minha mãe!

– Pode ser até pelo rádio ou pelo telefone!

– Mas quero ouvir a voz da minha mãe!

Deste jeito, a babá pegou uma vela, acendeu num castiçal da sala e orou:

– Dona Valquíria, onde a senhora estiver, por favor, cante para sua filha todas as noites!

Naquele mesmo instante, o telefone tocou, Laura atendeu e disse:

– Mamãe, quantas saudades!

– Eu amo esta canção que me dá sono!

Após isto, a garota dormiu com o gancho do telefone no ouvido.

A empregada pegou o aparelho e escutou a voz de uma mulher cantando que desligou de repente.

A partir daquela noite, Laura passou a receber as mesmas ligações antes de dormir. O pai da garota, assustado, resolveu colocar um identificar de chamadas no aparelho. Mas se surpreendeu ao descobrir que as ligações vinham do telefone do mesmo cemitério onde a sua esposa foi enterrada.

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Lenda da Condessa dos Espelhos e a Alma da Dama

Anos atrás, na Europa, existia uma condessa chamada Sabrina, que amava espelhos e tinha mais de 30 penteadeiras com espelhos enormes. Mas diziam que estes espelhos eram passagens para outras dimensões. Depois da morte de seu marido, a condessa abriu um bordel, todo decorado com estes espelhos, por onde alguns homens entraram e nunca mais saíram.

Por causa disto, Sabrina foi acusada de bruxaria. Assim para fugir da fogueira, ela se escondeu num navio que viria para o Brasil. Dentro da sua bagagem existiam alguns espelhos mágicos.

Depois de alguns dias, ela desceu em Paranaguá e pegou carona, numa carruagem, até a Vila Nossa Senhora da Luz, atual Curitiba, onde ela atuou como “curandeira” fazendo magias com espelhos.

Antes de morrer esta senhora montou uma penteadeira com três espelhos mágicos e colocou no porão.

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Anos se passaram e nos anos 1970, a penteadeira misteriosa foi parar num brechó da Rua Riachuelo, na mesma capital do Paraná.

Daniele, uma jovem loira e fogosa, comprou o objeto e colocou no seu quarto que ficava em sua residência no bairro Cabral. O problema é que Jackson, o namorado desta moça, descobriu que estava sendo traído.

Numa noite Murilo, o pai da jovem, saiu com sua nova namorada e Daniele ficou sozinha em casa se penteando em frente à penteadeira.

De repente, Jackson pulou a janela do quarto e deu vários tiros na garota que caiu morta em frente ao espelho.

O pai da moça quando soube do fato, trancou o quarto da adolescente e resolveu colocar a casa para alugar.

Neusa e Mara, as vizinhas das casas ao lado, passaram a ver o fantasma de Daniele andando pela casa e, principalmente, entrando e saindo da penteadeira.

Dias depois, Cíntia e Marcos, um casal recém-casado alugou a casa. No mesmo dia, Neusa apareceu no muro e exclamou:

Vocês não aguentarão morar nesta casa!

O casal não deu bola.

Cíntia tinha o sono pesado e trabalhava muito, por isto não notava nada de estranho. Mas Marcos, que sofria de insônia, escutava passos e vozes na residência pela madrugada toda.

Numa noite, Marcos sentiu sono de verdade, pela primeira vez, e disse à esposa:

Por favor, não me incomode hoje, pois trabalhei demais no escritório.

De madrugada, ele sentiu mãos passando pelo seu corpo e uma boca beijando a sua. Deste jeito gritou:

Pare, Cíntia!

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De repente, o rapaz sentiu um peso em cima do seu corpo. Então abriu os olhos e viu que Cintia dormia. Porém ao olhar no espelho avistou uma jovem loira em cima do seu corpo.

Deste jeito, o moço berrou, acordou a esposa e pediu para que ela fizesse as malas. Assim o casal saiu do local e foi para um hotel.

Quando os dois estavam partindo, Neusa apareceu no muro e comentou:

– Eu disse que morar nesta cara era assustador.

– Não aguentaram, né?!

No dia seguinte Marcos ligou para Murilo e disse:

– Não ficaremos mais nesta casa!

– Pagaremos os outros meses!

– Porém jamais voltaremos lá!

– Por acaso alguma adolescente morreu na casa?

O proprietário confessou:

– Minha filha foi assassinada lá.

Reza a lenda que depois deste acontecimento, Murilo vendeu as coisas de sua filha para um brechó. Até hoje a penteadeira, dos espelhos mágicos, encontra-se à venda numa loja de objetos usados.

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Lenda da Espanhola do Bairro Cabral

No começo do século vinte, na Espanha, havia uma jovem chamada Perla, que tinha a família muito rígida, pois ela não podia ir aos bailes e nem namorar. Um certo dia, esta donzela conheceu um caixeiro viajante que bateu na porta da sua casa e passou a ter um romance com ele. Então, o rapaz lhe deu uma boneca vestida de espanhola, que dança Flamenco, muito parecida com a amada e disse-lhe:

– Esta boneca foi feita por uma fada e lhe trará sorte.

Um mês depois, Perla descobriu que estava grávida. Então, foi atrás do seu namorado no hotel onde estava hospedado.

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Mas, o gerente falou que o vendedor havia partido. Então, a moça foi expulsa de casa, levando algumas roupas e sua boneca.

Nos primeiros dias, ela dormiu na rua, pois ninguém quis lhe dar abrigo. Porém, Rúbia, a dona de um bordel, percebendo a sua situação recolheu a pobre. Lá, a cafetina disse:

Posso dar abrigo a você e a seu filho pela vida inteira.

– Mas, precisarei lhe ensinar a arte da sedução e você terá que trabalhar para mim.

A jovem, sem escolha, aceitou a proposta. Lá ela aprendeu muitas coisas como: ter trejeitos sensuais, dançar, cozinhar petiscos afrodisíacos, realizar magias sexuais e aprender os segredos de como administrar um comércio.

O tempo passou e Perla deu à luz a uma menina dentro do lupanar. Porém, a criança desapareceu uma hora depois e ninguém soube explicar o fato, naquele mesmo instante.

Mas, o guardião do local afirmou que viu uma idosa correndo, com a criança nos braços e deu a descrição física da mulher. Assim, Perla percebeu que se tratava de sua mãe e foi até sua antiga residência. Quando, chegou lá, viu sua filha morta no berço. Mesmo assim, pegou a criança nos braços e voltou à casa da luz vermelha. Porém, esta mãe cremou o bebê e colocou as cinzas dentro de sua boneca espanhola.

Perla, muito depressiva, pegou um navio com direção ao Brasil. Desta maneira, ela desembarcou em Curitiba, capital do Paraná. Aqui, esta moça conseguiu emprego como balconista de lanchonete e fez sucesso graças aos seus quitutes espanhóis e a sua beleza sensual.

Quando juntou bastante dinheiro, esta mulher resolveu montar uma mercearia, no bairro Cabral e seu comércio ficou conhecido como: A Mercearia da Espanhola. Mas, além de vender objetos e

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cozinhar, Carmita também fazia serviços esotéricos como: jogar tarô, ler bola de cristal, realizar magias para unir e separar casais.

Esta espanhola teve vários amantes e um deles foi um capitão, que sempre ajudava financeiramente a esta mulher. Um dia, a esposa deste militar desconfiou que ele tivesse uma amante e pediu ajuda para os feitiços de Perla. A mulher traída ofereceu grande quantidade de dinheiro e a espanhola não resistiu. Porém, desta vez o feitiço não deu certo porque a bruxa estava apaixonada pelo marido da outra.

Uma noite, o amante de Perla mentiu para a esposa que estaria de serviço. Mas, a mulher, desconfiada, seguiu o marido e viu que ele entrou no bar da espanhola, que deixou uma funcionária atendendo aos fregueses e foi com o homem para os fundos.

A dama traída entrou pela janela, pegou os dois no flagra, apontou uma arma e matou a espanhola. Enquanto isto, o homem fugiu pela janela.

No meio daquela confusão, a funcionária da mercearia chegou perto da patroa, que disse:

– Por favor, fique com a boneca espanhola, pois ela é mágica e tem um segredo dentro.

Após dizer estas palavras, Perla faleceu.

Reza a lenda que este lugar, hoje, é um outro bar, onde os homens, quando bebem demais, conseguem ver a espanhola e até ter relações íntimas com ela.

Quanto à boneca, dizem que a ex-funcionária pegou o brinquedo e sentiu que ele pesava muito. Por isto, abriu a cabeça e viu que tinham diamantes dentro. Mas, como o objeto era amaldiçoado, a jovem morreu, naquela mesma hora. A mãe da garota, ao ver a cena, montou a boneca de volta e levou para casa. Porém, não se sentindo bem com a presença do bibelô, ofereceu o brinquedo a sua sobrinha. Mas, esta moça sentiu uma vibração estranha

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e vendeu a boneca para um brechó. Falam que a dona de uma academia de Dança Flamenca comprou o brinquedo, para expor na escola e que por isto as alunas tem reações diferentes ao ver a boneca: umas sentem calafrios e outras chegaram até a conversar com este bibelô misterioso.

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Lenda do Artista Macabro

Na região de rural da cidade de Colombo, região Metropolitana de Curitiba, existe uma casa abandonada que ninguém consegue destruir e nem invadir. As pessoas dizem que dentro desta residência há um quadro de uma moça, que parece estar viva, mas que não tem a mão direita. Esta obra de arte tem muitas lendas urbanas, leremos uma abaixo:

Há muitos anos atrás existia em Curitiba, uma senhora chamada Tânia, que não conseguia engravidar e por isto fez um pacto com as forças do mal. Nove meses após esta magia ela deu à luz a um menino, que ela batizou de: Augusto. Durante a infância, este garoto era muito tímido, tinha facilidade para as artes plásticas e passava muitas horas em seu quarto desenhando. Mas quando ele chegou à adolescência seu comportamento ficou mais estranho

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ainda, pois Augusto passou a frequentar um grupo de góticos que visita cemitérios e fazia rituais. Logo, o adolescente passou a roubar objetos e pedaços de cadáveres para fazer obras de Arte usando estas coisas. Sua atividade intensificou-se mais quando o jovem descobriu que, no mercado negro, havia pessoas que pagavam caro para ter uma obra de arte macabra. Porém, durante este período, veio morar ao lado da casa de Augusto uma família com uma filha muito bonita chamada: Ruth. Com o passar do tempo, o artista se apaixonou pela nova vizinha e os dois passaram a namorar às escondidas, pois a má fama do rapaz já tinha chegado aos ouvidos da mãe da garota. Algum tempo depois, Ruth apareceu grávida e Augusto recebeu ameaças de morte do pai da menina. Tânia, a mãe do moço, tratou de mandar o filho estudar na Europa, ficou responsável pela ajuda financeira à criança e passou a proibir qualquer contato do filho com a ex-namorada.

Logo, nasceu Martinha, sua neta.

Então, Ruth entrou às escondidas na casa de Tânia, pegou a agenda e descobriu o número do telefone de Augusto. Na primeira ligação, a moça disse ao jovem:

– Venha ver a sua filha, pois ela precisa da sua mão.

Assim, Augusto respondeu:

– Engana-se, pois quem precisa de mão dela sou eu.

A partir daquele dia, toda a vez que Ruth ligava pedindo para que o ex-namorado visse a criança. Augusto sempre respondia:

– Na verdade, sou eu que precisa de uma mão da minha filha.

O tempo passou e a pequena virou uma linda jovem, que nunca tinha conhecido o pai. Pois, Tânia convenceu o filho a morar na Europa e nunca mais voltar para o Brasil. O problema foi que, aos dezesseis anos de idade, Martinha conheceu Tavares, um colega de escola problemático e passaram a namorar. Depois de um mês de namoro a jovem passou a morar junto com o colega,

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que volta e meia tinha ataques de ciúmes e batia na pobre. Um certo dia, Tavares desconfiou que a companheira estava tendo um caso com um cliente da loja em que trabalhava. Então, ele dopou a esposa, esquartejou a pobre, deixou o corpo no meio do mato e fugiu.

Algumas horas depois, com o desaparecimento da moça, todos desconfiaram que Tavares tinha assassinado a esposa. Tânia, desesperada, telefonou para o filho e pediu para que o homem voltasse ao Brasil. Ao chegar a sua terra natal, Augusto pediu para Ruth alguns objetos da sua filha para guardar de lembrança, já que não tinha conhecido a pobre e sentia-se culpado pela sua ausência.

Alguns dias depois, o corpo esquartejado de Martinha foi achado por um lavrador, que comunicou à polícia. Assim, as autoridades conseguiram montar o corpo da moça, porém não acharam a mão direita e avisaram o ocorrido para Tânia.

Algum tempo depois, esta mulher foi até o porão de sua casa e viu uma obra de arte estranha: um quadro com uma mão humana, bijuterias e bonecas. Deste jeito, ela desconfiou de Augusto e pediu uma explicação. O homem disse que estava montando um quadro com lembranças da filha para que esta obra de Arte fosse enterrada junto com ele, já que nunca pode conhecer Martinha. Assim, Augusto acabou sendo preso. Na cadeia ele sonhou que sua filha foi visitá-lo e disse-lhe:

– Papai você não precisava roubar a minha mão.

– Se quiser fazer alguma obra de arte como lembrança minha, basta me pintar em um quadro, que darei um jeito dele ser colocado na casa da vovó em Colombo.

Então, a partir daquele pesadelo, Augusto começou a pintar um quadro da filha. Na última pincelada, ele deu um último suspiro e morreu.

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Este retrato da garota foi colocado, há alguns anos atrás, numa casa que Tânia tinha na cidade de Colombo, na região metropolitana de Curitiba. Esta senhora já faleceu, mas o quadro continua lá. Reza a lenda que, nas noites de Lua Cheia, Martinha sai do quadro, caminha pela região e não deixa ninguém depredar a casa. Mas, o principal problema é que o mercado negro de obras de Arte feitas com restos de cadáveres continua a funcionar e, este último fato, não é apenas uma mera Lenda Urbana.

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Lenda do Príncipe do Quadro e a Musa dos Sonhos

Na Curitiba, dos anos sessenta, existia uma moça séria chamada Virgínia. Ela nunca saía de casa, pois além de ter os pais muito rígidos, ela precisava cuidar da sua avó doente. Um certo dia a moça teve um pesadelo horrível, a pobre sonhou que estava sendo abusada e torturada dentro de um castelo escuro. Porém, no meio do pesadelo, ela foi acordada pela sua irmã mais nova que a consolou. Um mês depois Virgínia passou a sentir tonturas e náuseas. Assim sua família a levou a um consultório médico e lá todos descobriram que a jovem estava grávida. Deste jeito, ela foi expulsa de casa. Na rua, ela passou a pedir emprego de casa em casa, mas a resposta era sempre não. Até que a pequena

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parou num bairro chamado Mercês, onde avistou um casarão antigo que mais parecia um castelo. Assim ela bateu palmas e uma senhora atendeu. Desta maneira Virgínia disse:

– Bom dia!

– Estou procurando emprego como empregada doméstica...

De repente, a dona da residência interrompeu a jovem e falou:

– Realmente estou precisando de uma nova secretária do lar. Pois a última faleceu, há um mês atrás, e como sou uma viúva solitária não dou conta do serviço sozinha.

– Além disto, pinto quadros por encomenda e não tenho tempo para me dedicar às prendas do lar.

Meu nome é Aretusa, por favor entre.

Então a idosa mostrou a edícula em que Virgínia moraria e explicou todo o serviço de casa. Quando Aretusa descobriu que a empregada estava grávida, ela não ficou braba e apoiou a gravidez, pois a idosa nunca conseguiu realizar o sonho de ser mãe.

Alguns meses depois Virgínia deu à luz a um menino que batizou de Fábio. Aretusa fez questão de oferecer a melhor educação para o filho da empregada. O tempo passou até que Fábio entrou no começo da juventude. Ele era um dos rapazes mais bonitos do bairro, tinha o corpo que lembrava o Davi de Michelangelo e o rosto com traços gregos. Porém este garoto tinha um problema: era tímido ao extremo e não tinha a coragem de se aproximar das criaturas do sexo feminino.

Um certo dia, Fábio estava na banheira quando sentiu que alguém fechou os seus olhos. Então ele perguntou:

– Quem está aí?

Assim o rapaz escutou uma voz doce:

– Sou Laura, nasci para ser sua amada.

Após ouvir estas palavras, o galã tentou abrir os olhos, não conseguiu e perguntou:

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– Que brincadeira é esta?

A moça explicou:

– Eu sou o espírito da mulher da sua vida. Era para você me conhecer hoje na escola. Porém quando minha mãe estava grávida, um bandido a esfaqueou no ventre. Deste jeito eu acabei morrendo. Mas verei você à noite.

Como um raio, Fábio conseguiu abrir os olhos, mas não viu ninguém no banheiro.

Naquela madrugada, o rapaz sonhou que estava num jardim e no meio da roseira em flores, uma bela mulher surgiu e disse:

– Sou a Laura, também gosto de pintar quadros como a Dona Aretusa. Hoje eu vim para ficar com você.

Sempre uma vez por semana Fábio sonhava com esta dama e sentia a presença dela quando estava na banheira.

Um certo dia, Aretusa falou ao jovem:

– Você cresceu e ficou tão bonito!

– Gostaria de pintar seu rosto num quadro que ficará pronto até o dia do seu casamento.

– Quero que saiba que arrumei uma noiva para você. Ela é a minha sobrinha do interior e se chama Débora.

Ao saber da estória do casamento arranjado, Fábio se revoltou e ralhou com sua mãe, que disse não podia ir contra a vontade de sua patroa.

A partir daquele dia Fábio nunca mais sonhou com Laura.

Porém aceitou ser o modelo do quadro de Aretusa. Uma tarde, a idosa estava retratando o rapaz. Quand o de repente, desmaiou e teve uma espécie de ataque epilético. O moço tentou acudir e gritou:

– Dona Aretusa, o que está acontecendo?!

Naquele instante a idosa abriu os olhos e exclamou:

– O meu nome é Laura!

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– Sou eu que estou pintando o seu retrato eterno!

Após estas palavras, a velhinha desmaiou. Mas depois de cinco minutos voltou ao normal e indagou:

– O que aconteceu?

O rapaz perguntou:

– A senhora conhece alguma Laura?

Aretusa respondeu:

– Não conheço ninguém com este nome. Por favor, volte a sua posição que continuarei a pintá-lo.

O jovem simplesmente obedeceu.

O tempo passou até que o quadro ficou pronto e chegou o dia do casamento de Fábio. Aretusa colocou o retrato do rapaz na sala e disse:

– Agora, anos podem se passar que a imagem do homem mais bonito desta cidade nunca sairá desta casa.

Na hora do casamento, quando a noiva se aproximou de Fábio, ele teve um ataque e faleceu. Naquele mesmo instante entrou uma mulher, toda vestida de preto, tocou no noivo morto e evaporou-se no ar. Ao lado do corpo do Fábio, deixaram um lenço bordado com o nome: Laura.

Um ano depois Virgínia faleceu de câncer e seis meses, após este fato, Aretusa morreu de falência múltipla dos órgãos. Débora, a única herdeira desta senhora, vendeu a casa para um casal recém-casado: Elisa e Marcus. Já no primeiro dia, a mulher tentou tirar o retrato de Fábio da parede, mas não conseguiu. Seu marido tentou quebrar o quadro, porém foi em vão. Com o passar do tempo, os dois passaram a se sentir mal com a presença daquela obra de arte na sala. Cinco anos depois este casal vendeu a residência para uma empresa que instalou uma firma dentro dela.

A dona do negócio tentou arrancar o retrato de Fábio da sala, porém não conseguiu. Seus funcionários viviam dizendo que o

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quadro mexia os olhos. Hoje, esta casa está abandonada e virou um mocó. Alguns moradores de rua tentaram destruir o retrato de Fábio, porém nenhum deles conseguiu.

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1ª Edição

Novembro 2022

Impressão e Acabamento Gráfica Tecnicópias

Papel do Miolo Offset 120 g/m²

Papel da Capa Couchê Fosco 250 g/m²

Tipografia do Corpo de Texto STIX Two Text

Tipografia dos Títulos Domine

Tipografia Auxiliar Roboto

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