HOU.SIS

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Arquitetura é a arte de habitar. “É o processo que nos permite pensar e definir como o homem se relaciona com seu entorno, como constrói estruturas habitáveis capazes de criar uma sociedade coesionada, um habitat solidário que garanta alta qualidade de vida local e estimule a criação.” [Por Vicente Guallart, extraído do livro “Sociopolis – proyecto para um habitat solidário”]

O projeto HOU.SIS. tem como base, um princípio socialmente integrador, e está comprometido com a arquitetura experimental. O resultado deste trabalho propõe um sistema gerador de unidades residenciais, aplicável a qualquer de terreno. A idéia é repensar o conceito do morar nos dias atuais, analisando as reais necessidades dos homens de hoje, priorizando a versatilidade, a economia e a ecologia. Em todo o mundo atual estão surgindo iniciativas construtivas que têm na flexibilidade uma característica importante. Diversas culturas entram em contato, e diferentes maneiras de viver e trabalhar se influenciam mutuamente. A sociedade móvel, dinâmica, em constante evolução, exige uma reflexão sobre o antigo modo de morar. O valor do solo urbano, um modelo familiar em evolução e o protótipo do habitante urbano nômade e profissionalmente autônomo são, também, fatores importantes para essa análise. Considerando, então, que um dos objetivos essenciais do projeto é a ecologia, buscou-se desenvolver um sistema que, ao ser construído, não apresentasse impactos negativos ao meio ambiente. O container se mostrou, ao longo da pesquisa, um elemento que reúne todas as características necessárias para a aplicação desse conceito, com ilimitado potencial para gerar espaços habitáveis adequados ao mundo contemporâneo. Atualmente, costuma-se ouvir que o avião e a internet são os grandes responsáveis pela globalização. Analisando a questão do ponto de vista comercial, nenhuma invenção foi mais importante que o container. Graças às suas dimensões padronizadas, o custo do frete caiu de 20% para 1% do valor final da mercadoria. Do ponto de vista da arquitetura, o container é um maneira de construir extremamente flexível ao apresentar grande resistência estrutural, estar disponível no mercado e ter suas dimensões modulares padronizadas. O baixo custo e a possibilidade de mobilidade são outros fatores a serem considerados. É importante lembrar que em países, como o Brasil, que importam mais do que exportam, o número de containers que entram no país é maior do que o que sai. Isso significa dizer que há um acúmulo desses objetos em desuso no país, uma vez que é mais barato mantê-los aqui a mandá-los vazios de volta ao país de origem.


É também papel do arquiteto propor soluções criativas para a aplicação – ou reaplicação – de novos materiais ou técnicas na indústria da construção civil. Considerando que o projeto HOU.SIS é aplicável a qualquer terreno, foi escolhida uma área, na cidade de Macaé, para a elaboração de um estudo de caso. Nela foi feita um mapeamento dos usuários daquele território, analisando principalmente o tempo que permaneciam na cidade. Esse estudo gerou cinco unidades residenciais diferentes, todas elaboradas para responder às respectivas necessidades temporais dos habitantes. Segundo essas considerações, foram propostas unidades híbridas de habitação de acordo com os diferentes tipos de personagens identificados no território analisado. Uma sobreposta à outra, compartilhando alguns espaços e os custos da manutenção do edifício. Assim temos uma unidade na escala de residência, mas aproveitando as características positivas dos edifícios multi familiares. A principal dificuldade ao transformar containers em unidades residenciais é o isolamento termo-acústico. Para tal fim, utilizou-se um material chamado de corkoco. A fibra de coco (Corkoco), aliada ao aglomerado de cortiça expandido é um produto de topo de gama, particularmente no caso do isolamento acústico, devido à absorção das baixas freqüências, onde apresenta excelentes resultados dificilmente alcançados por outros materiais. A utilização desta matéria-prima natural e renovável, existente no mundo em grandes quantidades, traz inúmeras vantagens, face ao aproveitamento de um material que se viria a perder. A fibra de coco representa hoje para as cidades litorâneas brasileiras um sério problema ambiental, uma vez que é de difícil absorção pelo solo. O material vem sendo disposto em aterros e lixões, o que vem provocando um enorme problema aos serviços municipais de coleta de lixo, em função, principalmente, do grande volume. A sua aplicação na construção civil resolve problemas técnicos de maneira limpa, e contribui para a reutilização daquilo que, ainda, é chamado de lixo. O resultado final do projeto HOU.SIS é uma edificação que não pode ser chamada nem de “casa”, e tampouco de “edificação multi-familiar”, ao menos não como a chamamos atualmente. Surge um novo modelo, mais adequado ao mundo contemporâneo, sempre pensando no usuário e na reciclagem de elementos pré-existentes. Se a casa transformou-se com a chegada da água e, posteriormente, com a eletricidade, a chegada massiva da informação, a facilidade de transporte e o novo comportamento do homem há de provocar uma transformação em escala similar. É importante que nós, arquitetos, comecemos, já não sem atraso, a pensar – e projetar – com isso em mente.

Rio de Janeiro, 03 de maio de 2008. Carolina Libardi.







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