Ana Beatriz Moser Adriano José Rossetto Junior Rodrigo Pojar Paiva
1º Edição
São Paulo Instituto Esporte e Educação 2015
Projeto cidades da copa: a construção do legado social e esportivo do megaevento copa do mundo FIFA 2014 / Ana Beatriz Moser, Adriano José Rossetto Junior e Rodrigo Pojar Paiva. 1 ed. – São Paulo: Biblioteca Instituto Esporte & Educação, 2015 142 p. ISBN 978-85-68080-01-6 Inclui bibliografia 1. Megaeventos esportivos. 2. Legado Esportivo. 3. Copa do Mundo FIFA no Brasil. I. Título. ISBN Prefixo Editorial: 68080 Número ISBN: 978-85-68080-01-6 Título: PROJETO CIDADES DA COPA - A Construção do Legado Social e Esportivo do Megaevento Copa do Mundo FIFA 2014 Tipo de Suporte: Papel Presidente: Ana Beatriz Moser Coordenadora Operacional: Isabel Cristina Jaehrig Coordenadores Pedagógicos: Adriano José Rossetto Junior; Alexandre Dezen Arena; Ambleto Ardigó Junior; Bethania Myriam Brotto; Caio Martins Costa e Fabio Luiz D’Angelo. Essa publicação é resultado do PROJETO CIDADES DA COPA, desenvolvido em todas as cidades-sede da Copa do Mundo de Futebol FIFA (2014), uma iniciativa que faz parte do Movimento pelo Legado Social dos Megaeventos Esportivos (Copa do Mundo FIFA 2014, Jogos Olímpicos - Rio 2016 e Jogos Paralímpicos de 2016), idealizado e realizado pelo Instituto Esporte e Educação, apoiado pela Rede de Esporte pela Mudança Social (REMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Atletas pelo Brasil e pelos municípios que receberam o evento. O Projeto foi financiado, através da Lei de Incentivo ao Esporte, pelo Instituto Votorantim, CCR e BTG Pactual. Organizadores: Ana Beatriz Moser, Adriano José Rossetto Junior e Rodrigo Pojar Paiva. Projeto Gráfico: Marcell Yoshihiro Kano Revisão: Milton Nakabayashi Impressão: Gráfica Paulo’s
AGRADECIMENTOS
A
realização de um Projeto desta magnitude e abrangência, em todas as
cidades-sede da Copa do Mundo FIFA - Brasil 2014, durante mais de três anos, só é possível graças ao empenho incessante do Instituto Esporte e Educação e à parceria com financiadores, como CCR / RODOVIAS, BTG PACTUAL E INSTITUTO VOTORANTIM, que acreditam e investem na construção de um país menos desigual e que vislumbram um cenário futuro onde milhões de pessoas acessam o esporte como um direito para o desenvolvimento da educação e da saúde. Fundamental lembrar e agradecer que o PROJETO CIDADES DA COPA foi realizado devido ao apoio do Ministério do Esporte que, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, favoreceu o fomento das ações do Projeto, que se propôs a dialogar, refletir e participar ativamente da construção do Legado Social e Esportivo da Copa do Mundo FIFA - Brasil 2014. Durante todas as etapas de consecução do PROJETO CIDADES DA COPA pudemos contar com ampla e irrestrita colaboração dos gestores públicos e parceiros locais das Secretarias de Esportes e Educação, entre tantas outras, que nos receberam e abriram as portas de vossas Secretarias para discutir o avanço do esporte no Brasil. Também, contamos com a constante participação de atletas brasileiros renomados, com representantes das sempre atuantes Rede de Esporte pela Mudança Social e Atletas pelo Brasil e com a significativa presença de membros da UNICEF, que com o comparecimento e posições validavam nossas ações em favor das crianças e jovens. Não podemos deixar de agradecer aos coordenadores do Instituto Esporte e Educação e colaboradores dos departamentos financeiro e operacional, que cooperaram para consecução de todas as etapas do projeto, participando das reuniões, das reflexões nas plenárias, da elaboração de relatórios, na reserva de passagens e hospedagens, compra de materiais e tantas outras ações essenciais para a consecução de importante Projeto que englobou todas as regiões de nosso país. Deixamos aqui nossa sincera gratidão ao Abel, Alexandre, Antônio, Bárbara, Bethania, Caio, Carlos, Celiane, Cristina, Eduardo, Fabio, Igor, Iolete, Isabel, Mari, Marta, Raquel e Willian, sem os quais, o Projeto não seria executado com tanta qualidade. Sabendo da impossibilidade de registrarmos neste pequeno espaço o nome de todos a quem devemos ser eternamente gratos pelo apoio e trabalho em conjunto nas cidades-sede e, também, para não correr o risco de não mencionar algum parceiro, deixamos aqui nosso agradecimento a todos aqueles que contribuíram, da forma como puderam, para a construção de um país onde o esporte faça parte do cotidiano de seu povo, e não apenas quando da realização de um megaevento esportivo.
Nosso muito obrigado! ANA BEATRIZ MOSER ADRIANO JOSÉ ROSSETTO JUNIOR RODRIGO POJAR PAIVA
Sumário
INTRODUÇÃO............................................................................................................... 07 CAPÍTULO 1: O Projeto Cidades da Copa: Planejamento do legado social e esportivo ................... ETAPAS DO PROJETO................................................................................................... Reunião de Trabalho e Apresentação do Projeto Cidades da Copa ............................ Etapa 1: Lançamento oficial do Projeto Cidades da Copa e discussão sobre legado esportivo da Copa do Mundo FIFA 2014 ........................................... QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO - ESPORTE EDUCACIONAL..................................... Etapa 2: Elaboração do plano municipal de universalização do acesso ao esporte ... Etapa 3: Apresentação pública do plano de ação ........................................................
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CAPÍTULO 2: LEGADO DE MEGAEVENTO ESPORTIVO: ENTENDIMENTOS E CRÍTICAS ............... 29 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E CONQUISTAS DO PROJETO CIDADES DA COPA: PLANOS DE AÇÃO E PARCEIROS ................................................................................................................ 33 BELO HORIZONTE - BH Mais esporte e lazer............................................................... 38 Instituições Parceiras em Belo Horizonte ................................................................. 44 BRASÍLIA - Juntos pelo Esporte: Brasília jogando limpo .............................................. 45 Instituições Parceiras em Brasília ............................................................................. 53 CUIABÁ - Esporte em campo ........................................................................................ 54 Instituições Parceiras em Cuiabá ............................................................................. 64 CURITIBA - Esporte é mais ............................................................................................ 65 Instituições Parceiras em Curitiba............................................................................. 68 FORTALEZA - Esporte para todos ................................................................................. 69 Instituições Parceiras em Fortaleza .......................................................................... 82 MANAUS - Manaus esportiva ........................................................................................ 83 Instituições Parceiras em Manaus ............................................................................ 92 NATAL - Cidade do esporte ........................................................................................... 93 Instituições Parceiras em Natal.................................................................................100 PORTO ALEGRE - Porto Alegre em ação é mais esporte e educação ........................101 Instituições Parceiras em Porto Alegre .....................................................................105 RECIFE - Recife bom de esporte ...................................................................................106 Instituições Parceiras em Recife ...............................................................................111 RIO DE JANEIRO - Projeto Rio mais+ Nessa disputa quem ganha é você.................112 Instituições Parceiras em Rio de Janeiro ..................................................................117 SALVADOR - Construindo o sistema Municipal de esportes e lazer.............................118 Instituições Parceiras em Salvador ...........................................................................122 SÃO PAULO - Cidade do esporte: Uma nova jogada para São Paulo .........................123 Instituições Parceiras em São Paulo.........................................................................134 CAPÍTULO 4: CONSTATAÇÕES, INDÍCIOS E APRENDIZADOS .........................................................135 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................139 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................141
INTRODUÇÃO Grandes eventos esportivos fascinam a humanidade há muitos anos, sejam eles os Jogos Olímpicos, Copas Mundiais de Futebol, Campeonatos Pan-Americanos, dentre outros. Tais eventos, sem dúvida, podem ser considerados fenômenos de popularidade. A escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo FIFA 2014 abre um amplo debate, pois são vislumbradas diversas oportunidades de legados e desenvolvimento para o país e ao mesmo tempo exigem grandes investimentos do poder público. Porque os megaeventos esportivos podem possibilitar ao cidadão importantes benfeitorias e conquistas, que vão desde o planejamento urbano, transportes, segurança, logística, comunicação, até a arquitetura de novos edifícios, iluminação e paisagismo de espaços públicos, o que resulta na construção de uma nova infraestrutura urbana e metropolitana. Os resultados e as consequências dos megaeventos, geralmente, são: a provisão de infraestrutura, impactos econômicos e sociais, desenvolvimento cultural, renovação ou criação da imagem da cidade por meio da mídia, particularmente da TV, dentre outros (ESTENDER, VOLPI e FITTIPALDI, 2011). Os argumentos em favor da realização destes megaeventos consistem na perspectiva de que criam empregos e geram renda, potencializam o turismo de longo prazo, possibilitam reformas urbanas significativas no âmbito da mobilidade urbana, da segurança pública, do desenvolvimento de tecnologias, de fluxos de negócios e telecomunicações, etc. Embora esses empreendimentos possam trazer inovações e melhorias reais para as cidadessede, o montante de recursos públicos empregado para sua realização põe em discussão a validade ou a viabilidade de sua execução nos países em desenvolvimento, como no caso do Brasil. Além da inquietude causada pelas incertezas da realização de um megaevento esportivo e da conquista de seus possíveis legados - há ainda certa nebulosidade sobre quais os percursos a serem trilhados rumo à constituição de políticas públicas nacionais de esporte. No Brasil, as políticas públicas de esportes e lazer são orientadas, desde a realização dos jogos Pan-americanos de 2007 (Pan-RJ), na cidade do Rio de Janeiro, pelo objetivo explícito de projetar o país globalmente, tanto no âmbito esportivo, como nas dimensões política e econômica. Após os Jogos Pan-americanos – Rio de Janeiro 2007, o país sediou os Jogos Mundiais Militares em 2011, a Copa das Confederações 2013, a Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 e sediará os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. A realização dos megaeventos esportivos passou a compor, prioritariamente, a agenda política do setor esportivo do país. Entretanto, sem a projeção de impactos e legados para a democratização do esporte no Brasil. As entidades governamentais, instituições públicas e privadas e a sociedade civil têm apresentado maior interesse em discutir os grandes eventos esportivos, demonstrando especial atenção ao retorno dos elevados investimentos requeridos para a realização de megaeventos como Copas do Mundo de Futebol e Olimpíadas, e com a sua comparação com outras opções
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de investimentos, por exemplo, em programas sociais. Organizações privadas, que também alocam recursos vultosos em eventos esportivos, igualmente se defrontam com as decisões de composição dos seus investimentos em marketing. Desde o anúncio de que o país fora eleito como sede desses eventos, o tema passou a fazer, ainda mais, parte do cotidiano do povo brasileiro, deixando de ser discutido apenas nas esquinas, nas bancas de jornal, nos bares, nas portas dos estádios, nas manhãs de segunda-feira na rotina dos trabalhadores e passou a ser debatido também no parlamento, nos escritórios das grandes corporações e nas reuniões de governantes nas esferas municipal, estadual e federal. Os assuntos são os mais variados. As possibilidades de o país vencer a Copa e tornar-se o único hexacampeão da Copa do Mundo; a posição que o país assumirá no cenário internacional e no quadro de medalhas dos jogos olímpicos; o investimento em esportes; os possíveis resultados do megaevento; os aspectos sociais, educacionais e econômicos promovidos pelos megaeventos, entre tantos outros. Indiscutivelmente uma questão perpassou a maior parte destas conversas: qual será o legado deixado por estes megaeventos esportivos? O esporte nunca foi tão debatido no Brasil; comentado, contestado, criticado e, ao mesmo tempo, apoiado, estimulado e promovido como agora. Sediar eventos esportivos da magnitude de Copas do Mundo FIFA e Olimpíadas insere o esporte no cotidiano dos cidadãos das cidadessede dos megaeventos esportivos, gera discussões acaloradas a respeito do esporte e se vale ou não os esforços e investimentos necessários para construir e adaptar a infraestrutura de acordo com as exigências das instituições organizadoras em relação ao possível legado desses eventos, especialmente, em relação ao legado esportivo. Especificamente em países como o Brasil, onde o esporte é entendido como direito do cidadão, regulamentado na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, o que torna o Estado responsável pelo seu desenvolvimento. Entretanto, uma pesquisa realizada pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) apontou que 30% das escolas públicas brasileiras não possuem espaço destinado à Educação Física – na zona rural chega a 50% e no Nordeste do país aumenta para 51% (REVISTA EF, 2012). A Copa do Mundo no Brasil tem grandes possibilidades e potencialidades de alavancar melhoras significativas para a população, na esfera social, esportiva, cultural e outras, transformando o país que agora é apenas uma potência econômica, em uma nação mais igualitária, inclusiva, segura e democrática, especialmente, para a população de baixa renda, que ainda é maioria no país, como se observa no Índice de Desenvolvimento Humano, divulgado em 2013, em que o Brasil ocupa o 85º lugar entre 187 países, apesar de ser a 6ª economia do mundo (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2013). A realização deste megaevento esportivo no Brasil poderia se configurar na abertura de uma janela de oportunidades inédita para o incentivo e desenvolvimento à prática esportiva no país. Diversas melhorias no fomento, na construção e qualificação de estruturas físicas, equipamentos e materiais esportivos, formação e aprimoramento de recursos humanos para a garantia do direito ao acesso universal, entre tantas outras, poderiam fazer parte do conjunto de realizações, impactos e legados da Copa do Mundo FIFA - Brasil 2014. Entendemos que os legados de megaeventos esportivos são elementos indissociáveis da política pública e da função precípua do Estado, qual seja, de assegurar os direitos sociais fundamentais a todos os cidadãos, com qualidade, equidade e universalidade. Essa deve ser a referência básica que suporta toda a estratégia de promoção de megaeventos e, por
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consequência, de seus legados. No Brasil, é responsabilidade pública assegurada pelo Estado (Constituição Brasileira, 1988 – Artigo 217), o desenvolvimento do esporte, dentro ou fora da escola, tendo como finalidade democratizar e gerar cultura esportiva, desenvolvendo o indivíduo em relações sociais recíprocas e com a natureza, a sua formação corporal e as próprias potencialidades, preparando-o para o lazer e o exercício crítico da cidadania, com vistas a uma sociedade livremente organizada, cooperativa e solidária (TUBINO, 2010). Diante deste cenário, levantou-se alguns questionamentos: qual o legado do esporte com a realização da Copa do Mundo no Brasil, especialmente, quanto à democratização da prática esportiva, com o fomento, criação e ampliação de equipamentos, espaços e projetos e programas esportivos? Nesse contexto surge o PROJETO CIDADES DA COPA, elaborado e desenvolvido pelo Instituto Esporte e Educação, o qual faz parte do Movimento pelo Legado Social dos Megaeventos Esportivos (Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada e Paralimpíada de 2016), que é organizado pela REMS (Rede de Esporte pela Mudança Social), pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e pelo Atletas pelo Brasil. Iniciativa que busca refletir sobre os possíveis legados esportivos da realização da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014 e construir plano de ação para intervenção e geração de legado positivo para o esporte nacional. As instituições parceiras do PROJETO CIDADES DA COPA (IEE, Atletas pelo Brasil, UNICEF e REMS) acreditam que discutir a perspectiva ideal de uma sociedade equitativa, justa, soberana e democrática, voltada para a garantia dos direitos à prática esportiva, fundamentais a todos os cidadãos, no sentido de satisfazer as necessidades humanas, almejada pela maioria da população, seja pauta em qualquer discussão de legado, especialmente, quando vinculado à política pública. O projeto de uma sociedade socialmente justa, democrática, que assegure a garantia dos direitos à prática do esporte pelos cidadãos deve ser a referência para o debate acerca da importância dos legados de megaeventos esportivos (FILGUEIRA, 2008a). As instituições parceiras entendem legado como herança resultante de ações planejadas, determinadas, proativas. Acreditam que a geração de legados deve, acima de tudo, ser referenciada na perspectiva do desenvolvimento humano, da justiça e da inclusão social desta e de futuras gerações. Portanto, não se trata de discutir e discorrer sobre eventuais legados que sejam autonomamente ou compulsoriamente gerados pelos megaeventos nas cidades-sede, Estados ou País, como os estruturais e econômicos. A relevância do PROJETO CIDADES DA COPA é identificar ações e possibilidades transformadoras do legado esportivo do megaevento Copa do Mundo FIFA Brasil 2014 e explicitar e discutir os benefícios da realização dos grandes eventos, com foco na garantia dos direitos dos cidadãos na prática esportiva e na superação de limites e vulnerabilidades existentes nas cidades-sede. A avaliação, registro e divulgação dos planos de legados esportivos dos megaeventos podem ter papel fundamental para a estruturação de projetos para quaisquer outras cidades que se proponham a universalizar o acesso ao esporte.
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CAPÍTULO 1 O PROJETO CIDADES DA COPA: PLANEJAMENTO DO LEGADO SOCIAL E ESPORTIVO O Instituto Esporte & Educação (IEE), a partir da visualização da janela de oportunidades que a Copa do Mundo FIFA - Brasil 2014 possibilita e do entendimento que o esporte, como a saúde, a educação, a moradia, o saneamento básico, a segurança, entre outros, faz parte do conjunto de direitos constitucionais do cidadão brasileiro, estruturou o PROJETO CIDADES DA COPA para discutir com os atores esportivos das cidades-sede o legado esportivo do megaevento. Assim nasceu o PROJETO CIDADES DA COPA, uma iniciativa que faz parte do Movimento pelo Legado Social dos Megaeventos Esportivos (Copa do Mundo FIFA 2014 e Jogos Olímpicos - Rio 2016 e Jogos Paralímpicos de 2016), realizado pelo Instituto Esporte e Educação, apoiado pela Rede de Esporte pela Mudança Social (REMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Atletas pela Cidadania. No intuito de discutir e buscar garantir o legado social e esportivo da Copa do Mundo FIFA 2014 para o Brasil, o Instituto Esporte e Educação desenvolveu o PROJETO CIDADES DA COPA nos seguintes municípios-sede da Copa: Belo Horizonte (BH), Brasília (DF), Cuiabá (MS), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP). O PROJETO CIDADES DA COPA foi financiado, através da Lei de Incentivo ao Esporte, pelo Instituto Votorantim, CCR e BTG Pactual e pretendeu contribuir com a construção do legado social e esportivo da Copa do Mundo FIFA 2014, garantindo a todos e todas o direito à prática do esporte. Dessa forma, os governos municipais, a sociedade civil, clubes, federações, iniciativa privada e atores do esporte foram mobilizados a construir as bases estruturantes do esporte, vislumbrando um país pleno de oportunidades que potencialize a prática esportiva e, consequentemente, os benefícios que esta proporciona como saúde, educação, bem-estar, inclusão social, lazer e cidadania. O PROJETO CIDADES DA COPA consubstanciou-se em ação de mobilização e advocacy e contou com o compromisso de participação do governo, organizações da sociedade civil, atores locais e jovens. Os atores esportivos de cada localidade participaram ativamente durante o desenvolvimento do projeto, envolvendo parceiros representantes dos três setores da sociedade em todas as etapas do projeto. Os Objetivos do PROJETO CIDADES DA COPA: • Contribuir para elaboração de um plano de ação de esporte para todos em cada cidadesede da Copa; • Apoiar a constituição do Comitê do Legado Social da Copa do Mundo FIFA 2014; • Construir uma rede para discussão e disseminação do esporte como direito, nas cidadessede da Copa do Mundo; • Identificar os programas e projetos existentes no município, diagnosticando as potencialidades e desafios para a garantia do esporte como direito.
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As Metas do Projeto: • Construir um o Plano de Ação Municipal Esporte para Todos; • Fortalecer o Comitê da Copa, com a participação da sociedade civil e do poder público; • Realizar uma apresentação pública do Plano de Ação Municipal de Esporte para Todos; • Contribuir para que o número de praticantes de exercício físico nas cidades-sede da Copa duplique até 2016; • Colaborar para garantir o acesso ao esporte educacional nas escolas públicas para todas as crianças e os adolescentes brasileiros até 2016. As ações foram: articular, formar, discutir e refletir sobre o direito da prática esportiva para todas e todos os cidadãos e as políticas públicas de esporte, com os atores esportivos das cidades-sede da Copa do Mundo Fifa de Futebol 2014 – gestores públicos, dirigentes esportivos, professores de educação física, atletas e outros. As atividades do projeto aconteceram durante três encontros de dois dias de duração, com o objetivo de compreender as dimensões do esporte, formular propostas de políticas esportivas e confeccionar um projeto de ação para ampliar a prática esportiva nessas cidades, com a democratização do acesso e qualificação da educação física escolar e do esporte educacional. O que se organizou em cada uma das cidades-sede foi a elaboração de propostas duradouras que perpassem os governos atuais e por virem, garantindo a continuidade das ações e estruturando políticas públicas de esporte para todos.
ETAPAS DO PROJETO O projeto foi estruturado para que se realizasse em três encontros de dois dias de duração para discutir o legado social dos megaeventos esportivos e o direito à prática esportiva, tendo como ponto de partida o levantamento da realidade esportiva de cada localidade, por meio de diagnóstico do esporte na cidade-sede, que servisse de instrumento base para a elaboração de um documento propositivo, representando os interesses dos diferentes setores das sociedades política, privada e civil sobre as questões relacionadas ao acesso ao esporte como direito. Reunião de Trabalho e Apresentação do PROJETO CIDADES DA COPA Para alcançar os objetivos do projeto, a primeira tarefa foi realizar reuniões de articulação e apresentação do CIDADES DA COPA com os representantes dos setores sociais de cada localidade. O estabelecimento do contato em cada cidade-sede se dava, inicialmente, entre a coordenação do Instituto Esporte e Educação e o gestor público esportivo das cidades, prioritariamente, o secretário de esportes. A partir do diálogo IEE / Secretário de Esportes, foi possível ampliar a rede de relacionamentos em cada cidade-sede, convidando para uma primeira reunião de trabalho e apresentação do projeto aos representantes das Secretarias de educação, saúde, segurança pública, meioambiente, direitos das pessoas com deficiência, assistência social entre outras, além de parceiros estratégicos nas esferas municipal, estadual e federal, que preferencialmente favoreciam a interlocução do projeto com o maior número possível de atores esportivos, da sociedade civil, pesquisadores acadêmicos do tema esportes e legado, líderes comunitários e quaisquer outros membros das comunidades locais que representavam as atividades esportivas do município. Nessa reunião, os coordenadores do IEE apresentavam e esclareciam as dúvidas sobre o PROJETO CIDADES DA COPA aos parceiros locais, detalhavam as atividades que seriam
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desenvolvidas nas etapas subsequentes, ampliavam a rede de associações e parceiros interlocutores e construíam, em parceria com os representantes de todos os setores envolvidos, uma agenda compartilhada de etapas definindo previamente datas, locais, autoridades e atletas que seriam convidados em cada momento. Também nesta reunião de trabalho, eram estipuladas as tarefas que cada colaborador local poderia desenvolver para organizar e potencializar a realização das etapas. Imediatamente após a definição das datas e locais, era confeccionado um convite oficial, que principiava a divulgação e mobilização para a primeira etapa e, simultaneamente, era disponibilizado release publicitário para utilização das mídias locais, assessorias de imprensa e gabinetes, de modo a todos tomarem conhecimento do evento de lançamento.
Secretário Adjunto de Esportes, Lazer e Recreação (Luiz Salles), Secretária Adjunta da Pessoa com Deficiência e com Mobilidade Reduzida (Karina Zonzini), representante da Secretaria de Educação e coordenadora do desporto escolar (Maria A. Zimmermam), representante do UNICEF em São Paulo (Maria Adrião), coordenador do Centro Esportivo e do Programa de Desenvolvimento Humano pelo Esporte de São Paulo (Maykell Carvalho), assessora do gabinete da vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, e representante da SPCOPA (Lucimara Castilho), coordenador do Instituto Passe de Mágica (William Oliveira) e Instituto Esporte e Educação (Adriano Rossetto). Figura 1: Reunião de apresentação do PROJETO CIDADES DA COPA e articulação entre os diferentes atores sociais de cada cidade-sede.
Etapa 1: Lançamento oficial do PROJETO CIDADES DA COPA e discussão sobre legado esportivo da Copa do Mundo FIFA 2014: A primeira etapa do projeto, lançamento oficial, tinha como principais atividades a apresentação do PROJETO CIDADES DA COPA para toda a comunidade da cidade-sede, e a sensibilização do maior número possível de atores locais envolvidos com o fomento ao esporte em cada municipalidade. O lançamento ocorria em evento aberto ao público com ampla divulgação da mídia local e da equipe de parceiros responsáveis pela mobilização. Neste momento, contávamos também com o apoio da assessoria de imprensa e do cerimonial da prefeitura local.
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Após o anúncio de agradecimentos e boas vindas, feitos, geralmente, pelo mestre de cerimônias da administração pública, encetava-se a composição da mesa solene. Neste momento, a Presidente do Instituto Esporte e Educação – Ana Moser – realizava a fala de abertura e convidava todas as autoridades presentes a compor, ao seu lado, a mesa de lançamento oficial e debates sobre o legado social e esportivo do Megaevento Copa do Mundo FIFA 2014. As principais autoridades que participavam desta solenidade eram os gestores públicos da localidade, quando possível também representantes do Governo do Estado de cada cidadesede, sempre nas figuras de um ou mais secretários, também compunham a mesa parceiros de instituições esportivas de grande representatividade local, como federações esportivas, grandes clubes e outros, representantes dos financiadores do projeto e dos apoiadores Atletas pelo Brasil, UNICEF, além de um atleta local com destaque nacional. Subsequentemente eram realizadas duas apresentações institucionais, do Instituto Esporte e Educação e do PROJETO CIDADES DA COPA, com seu histórico, seus objetivos e metas, seus parceiros e o cronograma em cada cidade para todo o público presente e possíveis novos parceiros. Cada uma das autoridades componentes da mesa solene realizava uma fala sobre as atividades desenvolvidas nas instituições ou secretarias que representavam, enfatizando as ações consonantes com os objetivos de universalizar o acesso ao esporte. O atleta local convidado também explanava suas experiências pessoais e as contribuições e lições advindas do esporte à sua vida e discursava sobre se, e em quais proporções, vislumbrava a possibilidade de o esporte nacional passar a ser mais valorizado com o advento do megaevento Copa do Mundo. Ao término destas atividades, a mesa solene era desconstituída e as autoridades presentes assistiam a um debate sobre o legado na perspectiva acadêmica da universidade e política.
Atletas Pelo Brasil (Daniela Castro), CCR (Leonardo), UNICEF (Antonella), Secretário de Educação (Denilson Bento), Instituto Esporte e Educação (Ana Moser), Instituto Votorantim (Diogo Quitério), UNICEUB (Daniel Veloso), Secretaria do Idoso (Ricardo Quirino). Outros representantes que não aparecem na mesa: Secretaria de Segurança (Major Elser), Secretaria da Mulher (Valesca Leão), Secretaria da Cultura adjunto (Miguel), Secretaria da Criança (Catarina Souza).
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UNIFOR (Ralciney Barbosa), Cons. do Desporto do Estado do Ceará (Abelardo Petter), Atletas pelo Brasil (Adriana Nascimento), SECOPA-FOR (Circe Jane Teles), Secretário de Esportes (Marcio Lopes), Instituto Esporte e Educação (Ana Moser), Secretaria de Educação (Rafael Moreira), Comissão da Copa na Câmara (Rochele Bauman). Figura 2: Apresentações públicas do PROJETO CIDADES DA COPA com autoridades públicas, financiadores, atletas e presidente do IEE, Ana Moser.
Assim, na sequência formava-se uma mesa de debate sobre o legado esportivo da Copa do Mundo FIFA – Brasil 2014 naquele município. Eram convidados a compor a mesa de discussão um pesquisador acadêmico local com estudos relacionados aos megaeventos esportivos, aos legados da Copa do Mundo ou ao esporte, um representante do poder público responsável pela gestão esportiva na cidade, geralmente o secretário de esporte e um atleta local, preferencialmente partícipe do Atletas pelo Brasil e/ou comprometido com a universalização do acesso ao esporte no município. Além de um coordenador do Instituto Esporte e Educação que realizava a mediação dos debates. As duas principais estratégias adotadas pelo Instituto Esporte e Educação para garantir que os debates fossem centrados no tema legado social e esportivo e universalização do acesso ao esporte em todas as cidades-sede, evitando que o evento se tornasse uma plataforma política ou debates sobre legados de outras esferas, era apresentar um briefing1 aos participantes da mesa solene e, ainda assim, dar início aos debates sempre pelo coordenador do IEE pautando o público participante e os debatedores sobre o assunto esporte para todas e todos como legado do megaevento. Neste momento, o professor pesquisador local, o gestor de esporte da cidade-sede, o atleta e o coordenador do Instituto Esporte e Educação versavam sobre os acontecimentos, os dados, as publicações, as tendências da literatura atual sobre o papel social dos megaeventos esportivos e as políticas públicas de esporte na cidade-sede. A todo o momento o papel do coordenador do IEE era mediar as reflexões para manter o foco do debate no processo de universalização do esporte como legado decorrente da Copa do Mundo FIFA 2014. 1 - Brief (eng) = Dossiê, ou conjunto de informações antecipadas, dados, fatos ou assuntos que servirá de pauta de discussão e reflexão.
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Secretaria de Esportes do Estado de MG (Ex-Atleta Olímpico Rogério Romero), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Doutor Daniel Marangon Duffle Teixeira), Instituto Esporte e Educação (Rodrigo Paiva).
Universidade de São Paulo (Doutor Reinaldo Pacheco), Instituto Esporte e Educação (Adriano Rossetto), SESCSP (Eduardo Uhle), Assessora Vice-Prefeita de São Paulo (Nádia Campeão) e representante do SPCOPA (Elizabeth Tortolano). Figura 3: Debates acadêmicos sobre o legado social e esportivo do Megaevento Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014.
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Após o encerramento da mesa redonda de debates acadêmicos, era realizada uma dinâmica, envolvendo todos os participantes do lançamento do projeto, objetivando mapear as principais expectativas pessoais e institucionais para com o PROJETO CIDADES DA COPA e as potencialidades de desenvolvimento do esporte nacional a partir do megaevento Copa do Mundo. Esta atividade verificava a percepção dos participantes sobre o projeto, os megaeventos e, principalmente, o esporte, permitindo-nos debater as múltiplas formas como este fenômeno se manifesta na sociedade, a saber: Esporte de rendimento – reservado à pequena parcela da população, visando o automatismo, a quebra de recordes e a mercantilização do espetáculo esportivo. O esporte de rendimento tem como forte característica a institucionalização, hierarquia e a padronização dos gestos técnicos. Esta dimensão esportiva é aquela enfatizada pela mídia, que recebe patrocínios e investimentos para a produção do espetáculo esportivo, como os jogos de futebol da Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. É, inquestionavelmente, belíssima de se ver pelo domínio técnico dos esportistas, a plasticidade/ estética, performance dos atletas e a precisão dos movimentos realizados, que são resultados de anos de prática e dedicação que lhes aproxima da perfeição motora. Para que possa dedicar tempo significativo de sua vida ao treinamento desportivo, o atleta é compromissado com alguma instituição financiadora ou profissional. Esporte de participação – ou de lazer - pressupõe a atividade em tempo livre, desregrada e descompromissada, sem orientação profissional, sem a obrigatoriedade da busca pela superação. Esse é o esporte espontâneo, pelo qual as pessoas buscam a prática descompromissada e a socialização, a prática de atividade física prazerosa como a “pelada do fim de semana” - o vôlei, o frescobol, o futebol à beira-mar -, ou seja, a prática esportiva sem foco de alto-rendimento. Uma das principais características do esporte de participação/ lazer é a ausência de sistematização e padronização. Também, não podemos perder de vista que diversas vezes a forma como o esporte de lazer é praticada se assemelha bastante ao esporte de rendimento. Podemos perceber isso, quando, num jogo de fim de semana, no encontro entre amigos na praia, no parque, no clube ou em qualquer outro espaço de prática esportiva, as pessoas se reúnem com intuitos variados, como manter-se fisicamente ativos, divertir-se entre outros motivos, no entanto, as regras das práticas esportivas são as institucionalizadas, os valores de sobreposição, busca exacerbada pela vitória, se sobressaem ao lazer, ao entretenimento e ao espírito participativo e fazem com que esta prática se distancie da dimensão do lazer e se aproxime da de alto-rendimento, que é o padrão divulgado pela mídia. Esporte educacional – voltado para a formação integral do ser humano, sendo a prática esportiva não uma ferramenta, mas sim um fator de desenvolvimento global que promova uma leitura crítica do mundo em que o sujeito está inserido. Diferentemente do que ocorre em relação às outras duas dimensões, aqui o praticante é denominado Aluno, e não Atleta. Os objetivos do esporte educacional são a educação integral do indivíduo, alargando o aprendizado além dos aspectos motores e físicos, o intuito é a formação do cidadão por meio das práticas esportivas inclusivas, democráticas, dialógicas e emancipatórias. Cabe dizer que a função precípua do PROJETO CIDADES DA COPA é fomentar a discussão sobre o acesso universal e irrestrito ao esporte como direito constitucional, em quaisquer das manifestações supracitadas, debatendo o valor social de todas elas, mas analisando criticamente que o processo de democratização se daria prioritariamente pelas práticas educacionais e de lazer/ participação, em razão das possibilidades de inclusão de todos e todas. Findada a discussão sobre as manifestações sociais do esporte, a atividade posterior trazia para a reflexão as relações existentes entre megaeventos esportivos e políticas públicas. Debatiam-se as aproximações e os nexos necessários para que as propostas de legados dos megaeventos esportivos pudessem se configurar, verdadeiramente, como políticas públicas esportivas no âmbito municipal de governo.
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A primeira etapa se encerrava com a apresentação de um documento de sistematização para a coleta de dados dos municípios sedes da Copa do Mundo FIFA 2014, que permitisse o estabelecimento de uma linha de base, diagnóstico que subsidiasse o mapeamento das atividades esportivas oferecidas em cada cidade-sede, configurando-se em elementos para o planejamento e gestão esportiva nas cidades-sede da Copa. O diagnóstico foi formatado em quatro áreas: 1) Informações gerais - Dados quantitativos sobre a população e a rede escolar. 2) Processo de gestão e Mecanismos de controle - Dados que retratam a organização do sistema de esporte e lazer do município, as ações realizadas pelo poder público e os mecanismos de monitoramento e avaliação da qualidade do trabalho realizado. 3) Recursos físicos e humanos - Dados que explicitam as condições de infraestruturas, em aspectos como gestão administrativa, equipamentos, espaços físicos e recursos humanos. 4) Alianças e parcerias - Dados que comunicam a existência ou não de “redes” que fomentam parcerias entre os diferentes setores da sociedade para a implantação de projetos e programas voltados para o esporte. Assim, foram estruturados os seguintes indicadores, que foram apresentados às diversas instituições e órgãos esportivos das cidades-sede da Copa FIFA 2014, conforme segue abaixo:
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Etapa 2: Elaboração do Plano Municipal de universalização do acesso ao esporte A segunda etapa objetivava a elaboração coletiva do Plano Municipal de democratização do acesso ao esporte. O intervalo entre a primeira e segunda etapa era de aproximadamente sessenta dias, para que as instituições parceiras, Secretarias, federações e os membros da sociedade civil tivessem tempo suficiente para realizar o levantamento das informações necessárias para a composição do diagnóstico. Todo o debate era orientado pelo conjunto de dados identificado durante o intervalo entre as etapas, considerado como mapeamento de base. A relevância deste instrumento de captação da realidade local era permitir elaborar objetivos e metas condizentes com as características e necessidades de cada cidade-sede. Todos os membros participantes da primeira etapa eram contatados no intervalo entre os encontros por meio de convite oficial, diálogos virtuais, e-mails e redes sociais, no intuito de garantir a maior participação e representatividade possíveis. Cabe notar que durante os contatos com os parceiros locais e instituições participantes havia uma solicitação de que o convite fosse estendido a quaisquer outros atores sociais comprometidos com atividades esportivas e com a luta pela garantia dos direitos sociais, com objetivo de ampliar a participação e contemplar maior parcela da comunidade esportiva da cidade. Esta etapa era de extrema importância para o alcance dos objetivos do PROJETO CIDADES DA COPA, em razão de possibilitar que todas as instituições e Secretarias expressassem suas percepções, angústias, necessidades e contribuições para a democratização do acesso em suas localidades. A realização do diagnóstico surpreendeu, diversas vezes, gestores, professores, articuladores e coordenadores de instituições, quando deparados com os dados de oferecimento e estrutura de esportes nos municípios. O depoimento dos participantes de satisfação para com o documento diagnóstico demonstrava o quão importante foi o PROJETO CIDADES DA COPA como primeiro movimento de sistematização das informações sobre esportes nas cidades-sede. A ênfase era na oportunidade pioneira de reunir atores sociais de entidades públicas, privadas, ONGs, OSCIPS e a sociedade civil, debatendo abertamente o cenário esportivo de cada localidade no período precedente à Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014, o que possibilitou pela primeira vez na história dos municípios o mapeamento, ainda que parcial em alguns locais, das práticas esportivas, favorecendo a construção coletiva e democrática de um novo e promissor quadro social de inclusão por meio do acesso às práticas esportivas. Após a aglutinação das informações e preenchimento do documento final de monitoramento das condições de estrutura e oferecimento de esportes nas cidades, eram construídos quadros de potencialidades e desafios identificados para a democratização das práticas de exercícios físicos e esportes na cidade. Quadro 1: Exemplo de quadro de Desafios e Potencialidades.
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A construção do quadro permitiu a visualização dos principais pontos que deveriam ser debatidos e encetava as atividades coletivas dos Grupos de Trabalho (GT) para a elaboração dos Objetivos (geral e específico), Metas, Estratégias de alcance e Mecanismos de Avaliação (Indicadores e Evidências de ocorrência / Instrumentos de mensuração). Adotando a construção coletiva como principal metodologia de diálogo democrático e descentralizado, as mediações dos coordenadores do IEE priorizavam Grupos de Trabalho (GT) heterogêneos, compostos por gestores, professores, representantes das Secretarias públicas, das instituições sociais e da sociedade civil de diferentes regiões da municipalidade, garantindo assim maior representatividade dos diferentes pontos de vista sobre os desafios de democratizar e talvez universalizar o esporte na cidade-sede. Cada GT debatia as informações do diagnóstico relacionando-as com os pontos cruciais do quadro de desafios e potencialidades, assumindo-os como um ponto de partida, mas não se limitando a eles, elaborando os Objetivos Gerais do Plano de Ação.
Participantes do Projeto construindo coletivamente. Figura 4: Mapeamento Coletivo de Desafios, Oportunidades, Objetivos, Estratégias e Avaliação.
A proposta neste momento era integrar as experiências pessoais e institucionais da localidade, conferindo um perfil bastante municipalizado de cada plano. Foi possível verificar que em determinadas cidades-sede o GT acabou por assumir como Objetivos Gerais da localidade os mesmos propostos no PROJETO CIDADES DA COPA, compreendendo que as peculiaridades locais se fariam representar de forma mais explícita nos objetivos específicos. Obviamente que, em um processo democrático, a opinião dos parceiros locais e membros das instituições partícipes prevalecia e, quando julgavam conveniente, a cidade desenvolvia um número maior de objetivos específicos em detrimento de desdobrarem muitos objetivos gerais.
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Não restam dúvidas que uma das maiores contribuições que o PROJETO CIDADES DA COPA proporcionou às cidades-sede foi a proposta metodológica de diálogo democrático e participativo, não diretivo ou propositivo, respeitando quaisquer divergências de perspectivas e opiniões dos membros de cada cidade. Tal diversidade dialógica refletiu-se, inclusive, nos próprios documentos produzidos. É possível constatar2 que cada localidade apropriou-se da melhor forma possível dos elementos do plano. Ao término da dinâmica de elaborações dos Objetivos, os participantes realizavam uma espécie de plenária, quando toda a produção dos GTs era debatida abertamente para que todos os membros de todos os GTs pudessem sugerir melhorias, inserções ou modificações nas propostas. Neste momento, quaisquer participantes tinham o mesmo poder de decisão sobre a elaboração do documento. Eram confrontadas as perspectivas do professor doutor da universidade com as dos membros da sociedade civil que atuam como militantes do esporte. Da mesma forma os representantes das instituições públicas debatiam com as instituições do terceiro setor, federações e clubes privados. Todo este movimento de busca de consenso pacífico por meio do diálogo perpassou a elaboração de todos os elementos constituintes do Plano de Ação do PROJETO CIDADES DA COPA. A composição das metas, das estratégias e dos mecanismos de avaliação foi absolutamente idêntica ao modelo de diálogo nos pequenos GTs e das plenárias. Especificamente, quando da elaboração das estratégias de realização, foi possível ver as disponibilidades institucionais. Por meio do oferecimento de ajuda mútua, o quadro de estratégias demonstrou claramente que o PROJETO CIDADES DA COPA não se configura como uma carta de demandas públicas, mas sim um conjunto de intenções exequíveis por meio da parceria entre as mais de quatrocentas instituições presentes em todo o país em busca da democratização do acesso ao esporte como um direito. Quando todos os elementos constituintes (Objetivos e Metas, Estratégias e Avaliação) do Plano de Ação estavam finalizados, era realizada uma discussão para elaborar o nome que melhor representasse as propostas de ação para democratização do esporte contidas no documento. O segundo encontro se encerrava com a organização de agenda coletiva de articulações sociais no período precedente à etapa final, que se realizou, geralmente, com intervalo de dois meses. As instituições se mobilizavam para aglutinar o maior número possível de parceiros e representantes do esporte em cada cidade-sede para garantir ampla representatividade dos diferentes públicos de interesse, democratizando as oportunidades de gestão social do esporte e construindo um grupo suficientemente grande para participar da apresentação pública do plano de ação para o gestor da cidade. Etapa 3: Apresentação Pública do Plano de Ação A terceira e última etapa era caracterizada pela devolutiva à sociedade das atividades realizadas nos encontros precedentes e, principalmente, a solenidade pública de apresentação do plano de ação de esportes para todas e todos. Quando possível esta apresentação ocorria na Câmara de Vereadores em uma audiência pública solicitada por um vereador local sensibilizado e comprometido com o Esporte e a Educação Física como direito.
2 - Mais adiante no texto serão apresentados os planos de ação produzidos em todas as cidades-sede da Copa do Mundo.
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Fundação Gol de Letra / Atletas Pela Cidadania (Raí), UINCEF (Silvio Kaloustian), Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (Karina Zonzini), Secretário Adjunto de Esportes, Lazer e Recreação (Luiz Salles), Instituto Esporte e Educação (Ana Moser), Prefeitura de São Paulo / Secretaria Especial da Copa SP (Nadia Campeão), Secretaria de Educação (Maria Alice Zimermman) e Instituto Votorantim (Diogo Quitério). Figura 5: Cidade de São Paulo. Solenidade Pública de apresentação do Plano Municipal de Esportes para Todos.
Secretário Adjunto de Esporte (Mario Pecora), Secretário Municipal de Esportes (Carlos Klaus), Instituto Esporte e Educação (Rodrigo Paiva) e Presidente do Conselho Regional de Educação Física (Carlos Eilert). Nas laterais, representantes de Secretarias de Educação, Saúde, Segurança, Bem Estar Social e da sociedade civil. Figura 6: Cidade de Cuiabá. Solenidade Pública de apresentação do Plano Municipal de Esportes para Todos.
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Instituto Compartilhar (Fernando), Organização Pequeno Príncipe (Rodrigo), Vereador (Paulo Rink), Instituto Esporte e Educação (Ana Moser), Assistente da Câmara dos Vereadores (Peter), Presidente da Câmara (Paulo Salamuni), Secretário Municipal de Esporte, Lazer e Juventude (Aluisio de Oliveira Dutra Junior), Representante da SECOPA (Amilton Stival). Figura 7: Cidade de Curitiba. Solenidade Pública de apresentação do Plano Municipal de Esportes para Todos.
Os atos solenes de apresentações públicas do plano demonstraram o quão frágeis são as políticas atuais de democratização e universalização do acesso ao esporte nas cidades-sede da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014 e a importância do PROJETO CIDADES DA COPA na tentativa de reverter esse quadro. Os discursos dos políticos e gestores públicos demonstram o desconhecimento sobre as dimensões do esporte e das potencialidades e limitações deste fenômeno social, transformando-o em panaceia, o que compromete na projeção de planos e na elaboração de políticas concretas para a efetivação dos direitos dos cidadãos a prática esportiva. Não seria errado inferir que, se as cidades que sediaram o evento não têm, ainda, um conjunto estruturado de políticas públicas de esportes, as demais cidades do território nacional não devem apresentar um quadro diferente e, com poucas possibilidades de que haja algumas exceções, porque têm um quadro ainda mais vulnerável quando o assunto é esporte. Neste sentido, o PROJETO CIDADES DA COPA se configurou como uma oportunidade ímpar de trazer à luz o assunto legado social e esportivo nas cidades-sede da Copa do Mundo. Aproveitando-se da janela de oportunidade do megaevento para debater o direito ao acesso ao esporte na esfera política, foi possível identificar a enorme expectativa depositada pelos membros das instituições quando da entrega do plano de ação para o gestor municipal. Cada cidade demonstrou uma particularidade no momento da apresentação pública. Em alguns casos o cerimonial solene de publicização dos trabalhos realizados pelo PROJETO CIDADES DA COPA ocorreu na Universidade Federal local, em outros municípios, ocorreu em centros culturais renomados como o Museu do Futebol, mas o local de maior frequência foi a Câmara dos Vereadores com a presença do prefeito, secretários municipais, por vezes até estaduais, vereadores, atletas renomados, membros das instituições esportivas participantes, representantes da sociedade civil, entre outros e a presença da mídia que divulgou o projeto.
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Tabela 1: Instituições e personalidades participantes da entrega do plano de ação, por cidade-sede
No momento da entrega do documento oficial, produzido pelo grupo de instituições representadas no plano do PROJETO CIDADES DA COPA, o gestor local tomava conhecimento do conjunto de objetivos e metas debatidos e propostos no documento, todos estes comprometidos com a exequibilidade, portanto, houve o cuidado constante em não se estipular ações inviáveis, que foi prontamente reconhecido pelos gestores como mais um dos pontos fortes do PROJETO CIDADES DA COPA: seu desenvolvimento com ações reais, realizáveis e promissoras como forma de reconfigurar um quadro nacional de falta de oportunidades de práticas esportivas, que reflete na educação e saúde. O PROJETO CIDADES DA COPA era recebido com satisfação pelos gestores e, dentre tantos outros benefícios que o projeto trazia à cidade-sede da Copa, a principal alegação para a alta aceitabilidade das propostas era a possibilidade de democratizar o acesso ao esporte, combatendo diversas injustiças e vulnerabilidades sociais associadas à exclusão esportiva e social.
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CAPÍTULO 2 LEGADO DE MEGAEVENTO ESPORTIVO: ENTENDIMENTOS E CRÍTICAS Inicialmente, é necessário diferenciar impacto de legado de megaevento, pois enquanto o primeiro ocorre apenas durante o período do megaevento esportivo, o segundo pode vir a surgir a partir de impacto anterior, sendo percebido, constatado ou identificável somente após um longo período da realização do megaevento esportivo (PREUSS, 2000). Podemos sintetizar que legado é a herança deixada pela ação planejada e realizada anteriormente. Legado é um fenômeno multidimensional, pois está relacionado a diversas fases, da proposta para a realização do evento até o plano para a utilização após o evento (HILLER, 2006). Megaeventos, esportivos ou não, são acontecimentos de curto prazo com impactos localizados de grande escala, concentração elevada de capital e dão um real sentido à noção de redução de tempo e espaço do desenvolvimento, no qual governo e setor privado conseguem produzir a infraestrutura e os serviços necessários para sediar o evento com um aumento concomitante na mobilização de uma força de trabalho flexível e altamente explorável (COTTLE, 2014). A partir da realização do megaevento, a cidade ou país tem um impacto e passa a contar com uma estrutura em seis áreas específicas (infraestrutura, conhecimento, imagem, emoções, redes e cultura) – que permite uma mudança de circunstâncias locais, que irá gerar novas possibilidades e novas demandas para o local, induzindo mais empregos, mais produção, mais impostos e viabilizando um benefício econômico de longo prazo, que pode se constituir no legado do megaevento (PREUSS, 2000). Usualmente também é assumido que os megaeventos trazem consequências futuras em termos de turismo, realocação de plantas industriais e investimentos externos. (VILLANO e TERRA, 2008). Neste sentido, em muitas cidades os megaeventos podem ser um “atalho” para conseguir um reconhecimento global por meio da exposição de mídia, o que pode ser bom para um destino turístico caso o evento seja um sucesso, tornando-se uma cidade global (SASSEN, 1998), ou até mesmo, destrutivo, caso o evento possua falhas perceptíveis para todos os participantes: atletas, familiares, imprensa e torcedores. No entanto, esses impactos são de difícil mensuração. O que se verifica constantemente é um acúmulo de inferências e projeções que não são, devida e necessariamente, acompanhadas por longo período após a realização do evento (PREUSS, 2000). Dentro dessa variedade de legados possíveis podemos categorizá-los em tangíveis e intangíveis. Assim, pode ser considerado legado tangível toda a infraestrutura do megaevento, pois ela é suscetível à análise econômica de custo-benefício. Já o impacto cultural do megaevento, pode ser considerado legado intangível, pois seus efeitos repercutem de modos diversos: às vezes para legitimar mudanças, outras vezes para lançar uma larga sombra sobre a cidade ou área associada a um projeto falho (POYNTER, 2007). Os políticos e os apoiadores e defensores da Copa do Mundo FIFA 2014 no Brasil, após as manifestações de Junho de 2013, que reivindicavam transparência dos investimentos e realocação dos mesmos para áreas mais prioritárias como educação e saúde, passaram, na tentativa de justificar os investimento para sediar a Copa FIFA, a utilizar-se do legado intangível como grande conquista para o povo brasileiro, com a explanação da ampliação da cultura, do orgulho nacional, da valorização do país, ou seja, não conseguindo mais argumentos concretos,
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como econômicos, estruturais ou de transportes, apelaram para aspectos emocionais, cívicos e abstratos! Há muitas dificuldades em se avaliar os efeitos econômicos e sociais dos megaeventos esportivos. Primeiramente, em razão da existência de incontáveis estudos e relatórios produzidos por acadêmicos e pelas instituições e empresas ligadas ao esporte nas últimas décadas. Muitos desses relatórios são elaborados para clientes que estão se preparando ou apoiando uma candidatura à sede do megaevento esportivo (RIBEIRO, 2008). Segundo, há relativamente poucos estudos realizados durante um período de tempo suficiente longo para se avaliar os efeitos dos impactos do megaevento esportivo transformando-se em legado positivo ou negativo a longo-prazo. Os estudos e planejamentos realizados geralmente antes dos eventos tendem a focar os benefícios econômicos e sociais que o acontecimento em questão pode gerar. No entanto, existe um crescente número de pesquisas acadêmicas sobre os efeitos negativos ou ambivalentes dos megaeventos, tanto do ponto de vista econômico quanto social (HIGHAM, 1999; ROCHE, 1994). Terceiro, as cidades experimentam efeitos positivos e negativos tanto tangíveis quanto intangíveis, sendo praticamente inviável quantificar os intangíveis. Finalmente, quando cidades associam suas candidaturas para sediar a Copa do Mundo ou Olimpíada a um grande plano de reestruturação ou desenvolvimento econômico, como, por exemplo, Barcelona 1992, Sidney 2000, Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012, é difícil distinguir entre efeitos específicos relacionados aos megaeventos esportivos e aqueles que aconteceriam mesmo que o megaevento não ocorresse naquela cidade e o poder público e a iniciativa privada realizassem investimentos para a recuperação e remodelação de determinada área da cidade. Os megaeventos esportivos constituem-se em uma oportunidade única e grandiosa para alavancar o esporte no país, especialmente o esporte educacional, assegurando a democratização e o direito da prática esportiva a todos os cidadãos, conforme previsto na nossa Constituição e nos marcos legais internacionais. Dessa forma, os governos são mobilizados a construir as bases estruturantes do esporte, vislumbrando um país pleno de oportunidades que potencializem a prática esportiva e, consequentemente, os benefícios que esta proporciona, como saúde, educação, bem-estar, inclusão social, lazer e cidadania. Não restam dúvidas de que todos os investimentos financeiros em infraestrutura, meios de transporte, edificações, estádios, aeroportos, comunicação e segurança dentre tantos outros que não se esgotariam aqui, são legados importantes da realização da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014. Porém, o Brasil necessita e a sociedade civil espera e busca impactos sociais para além da estrutura física, como saúde, educação, moradia, saneamento básico, segurança, esporte, entre outros, que fazem parte do conjunto de direitos constitucionais do cidadão brasileiro. Rubio (2008) enfatiza a necessidade de “discutir os custos sociais e materiais do processo de candidatura e realização de megaevento esportivo na atualidade” (p. 11). Para Rubio o fator legado é identificado em meio a uma controvérsia, por ser necessária a construção de “equipamentos para que sejam incorporados à cidade e ocupados por sua população”, em razão das necessidades da população, especialmente, no Brasil, país em desenvolvimento e com direitos da população não atendidos, como educação, saúde, lazer, moradia e outros. O que contradiz com a maioria dos investimentos públicos em “novos equipamentos públicos para um uso restrito e temporário” (p. 12), com grandes estádios ou arenas para o futebol. A responsabilidade social dos governantes, no caso, é apresentada como solução para tal disputa entre as exigências da competição esportiva, especificamente, das Instituições organizadoras (Federação Internacional de Futebol e Confederação Brasileira de Futebol), e as demandas e direitos da sociedade. A democratização e a garantia de acesso ao Esporte e ao Lazer contribuem para a reversão do quadro de injustiça e vulnerabilidade social que caracteriza
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a sociedade brasileira, uma vez que o Esporte e o Lazer atuam como instrumentos de educação integral do indivíduo, promoção da saúde e integração comunitária. Como consequência disso, podem possibilitar o desenvolvimento da convivência social, a construção de valores, a melhoria da saúde e o aprimoramento da consciência crítica (FILGUEIRA, 2008a). Os benefícios conquistados com os megaeventos esportivos, como infraestrutura, conhecimento, tecnologia, entre outras áreas mobilizadas para a realização de um grande evento poderão potencialmente viabilizar o acesso de camadas significativas da população às políticas públicas em diversas áreas, como as políticas de desenvolvimento do esporte (FILGUEIRA, 2008b). Para o desenvolvimento do esporte brasileiro e a garantia dos direitos da população é preciso que o esporte seja acessível a todos que queiram praticá-lo. A solução, conforme Rossetto Junior, Costa e D’Angelo (2012) e Tubino (2010), está no desenvolvimento do esporte educacional. O desafio é democratizar e oportunizar a formação esportiva, para todos e todas, que supere a teoria da “pirâmide esportiva”, que tem como base o treinamento esportivo e a busca do alto rendimento, de caráter excludente. O esporte, como direito, deve ser para todos, e o caminho para a universalização desse direito é o esporte educacional, que tem os princípios de inclusão de todos, construção coletiva, respeito à diversidade, educação integral e rumo à autonomia (ROSSETTO JUNIOR, COSTA e D’ANGELO, 2012), A população somente desenvolverá o hábito de praticar esporte e atividade física como meio para promoção da sua saúde, ou de vivenciar o lazer, se for educada desde cedo de forma integral e, acima de tudo, de forma a compreender a importância dessa atividade física para elevar a qualidade de vida. “A finalidade do esporte educacional é o desenvolvimento integral e pleno do cidadão brasileiro como ser autônomo, democrático e participativo” (FILGUEIRA, 2008b, p.67). Portanto, fomentar a educação esportiva, com a construção de estruturas e equipamentos esportivos e implantação de projetos e programas esportivos educacionais que beneficiem a população é dever do Estado e direito do cidadão, como garantem a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente, porque são fundamentais para a garantia de seus direitos e para melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, os quais devem ser prioritários nas políticas públicas voltadas para a responsabilidade social. Para uma maior efetividade dos legados de um megaevento esportivo, é essencial que o planejamento de ações se inicie durante o processo de candidatura, destacando também a importância do processo de construção e intervenções, pois são nesses momentos que se definem as medidas obrigatórias (necessárias para que a competição possa ocorrer) e as medidas opcionais (que estão atreladas ao projeto do evento, mas que não surgem por causa dele). São as opcionais que possibilitam legados sociais (PREUSS, 2000). Legado não quer dizer somente coisa boa. Quer dizer apenas herança de algo realizado. Legados são produções deixadas pelas pessoas, e a conduta dessas pessoas é que determinará a extensão dos benefícios ou dos prejuízos. Portanto, para ocorrer legados positivos devese planejar, trabalhar e organizar as ações antes até mesmo da candidatura à realização do megaevento esportivo. No Brasil, a construção de instalações para eventos esportivos de grande porte exige envolvimento do setor público. Na Copa do Mundo FIFA 2014, os gastos públicos corresponderam a 85% do total investido para receber o megaevento, ampliando a necessidade de entendimento da população em face aos gastos públicos excessivos. Nestas circunstâncias e sob o ponto de vista dos direitos do cidadão, seria importante que a população participasse em todas as etapas, incluindo-se a decisão sobre a candidatura. Diferentes setores da sociedade civil precisavam estar representados nos comitês organizadores com direito de decisão, para que suas posições fossem consideradas e valorizadas. Ainda mais, é necessário sempre garantir o direito à informação. Esta deve ser adequada e
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veiculada de modo que a população possa tomar conhecimento dos acontecimentos, desde o planejamento da candidatura até a execução do projeto final. O que o projeto CIDADES DA COPA tentou conseguir durante seu desenvolvimento. No processo de planejamento estará sempre presente a negociação entre o tangível e o intangível. Aspectos econômicos e educacionais ou culturais estarão em conflito, ao propor o pós-uso e a gestão das instalações projetadas e construídas para megaeventos esportivos, como estádios, centros de treinamento, vias públicas, centro de telecomunicações, segurança e outros. Fatores como localização, renda média, grau de instrução e ambiente cultural, aliados a uma política de esportes e lazer moderna e consistente, devidamente amparada por adequado suporte de legislação, são alguns dos fatores que influenciam nas opções e decisões técnicas a serem propostas para os projetos e planos de impacto e legado dos megaeventos esportivos.
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CAPÍTULO 3 RESULTADOS E CONQUISTAS DO PROJETO CIDADES DA COPA: PLANOS DE AÇÃO E PARCEIROS Durante todo o processo de realização do PROJETO CIDADES DA COPA foram coletados dados e produzidas informações que permitissem a realização de uma ampla avaliação dos três anos de execução do projeto. O comprometimento com o monitoramento constante dos resultados do PROJETO CIDADES DA COPA favoreceu-nos a compilação dos dados que são apresentados abaixo. Entre os anos de 2012 e 2014 foram realizadas trinta e seis (36) etapas em todas as cidadessede, conforme descrito na Tabela 2 pode-se verificar um atendimento de 1650 pessoas, dos setores público, privado, ONGs, universidades e sociedade civil, representando 477 instituições. Tabela 2: Total de participantes e instituições das sedes da Copa FIFA 2014
Uma primeira análise pertinente diz respeito aos dados de execução do PROJETO CIDADES DA COPA. Os números acima correspondem à somatória das três etapas realizadas em cada cidade-sede. Com exceção do Rio de Janeiro, em que alguns participantes representaram mais de uma instituição, o número de instituições em todas as cidades-sede é sempre inferior ao número de participantes, uma vez que há a participação frequente de mais de um membro por instituição, ainda que não simultaneamente.
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É possível verificar o impacto nacional do PROJETO CIDADES DA COPA atingindo diretamente um número elevadíssimo de participantes e instituições nas cidades-sede da Copa do Mundo, além dos impactos indiretos e intangíveis às pessoas participantes do projeto, que dialogaram e ampliaram a discussão sobre legado social e esportivo no âmbito de suas instituições e colaboradores ou alunos. Se por um lado o maior número de pessoas participando por instituição representou amplitude de perspectivas, diversidade de interesses, mais pontos de vista e de análise, por outro, significou também que as discussões eram sempre reiniciadas por haver uma notada ruptura do processo, quando da substituição de quaisquer participantes ou instituições. Segundo Dagnino (2002), um dos principais impedimentos da participação da sociedade civil no controle social das políticas públicas é o baixo nível de preparo técnico. Esta rotatividade de públicos pode perpetuar a condição de segregação das pessoas e não envolvimento efetivo com a causa do legado da Copa FIFA, mas não das instituições que se qualificam por aglutinar os saberes de todos os que participaram no processo articulado e desenvolvido pelo CIDADES DA COPA. A primeira etapa do projeto, lançamento oficial, foi marcada em todas as cidades pela presença dos gestores públicos (prefeitos e vice-prefeitos, secretários municipais e estaduais de educação, saúde, turismo, esporte e lazer, juventude, Secretarias da Copa do Mundo) entidades do terceiro setor (Instituto Esporte e Educação, Fundação Gol de Letra, Instituto Passe de Mágica, Instituto Barrichelo Kanaan, Rede de Esporte pela Mudança Social, SESC, SESI, Federações), da mídia (CBN, Rádio Globo, Rede Globo de Televisão), de atletas renomados (Atletas Pelo Brasil – Ana Moser, Hortência, Ricarda Lima, João “Pipoca”, Ricardo Vidal, Carmem de Oliveira, Raí Oliveira, Magnolia Figueiredo, Pelé do Vôlei, Ida), acadêmicos relacionados ao estudo do esporte como fenômeno social (Universidade de São Paulo - USP, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Minas Gerais – PUC SP/ PUC MG, Universidades Federais do Amazonas, Pernambuco, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Universidade Estadual de Pernambuco, Universidade Estadual de Fortaleza, Universidade Potiguar, Universidade Católica de Brasília e Universidade Maurício de Nassau), Fundo das Nações Unidas pela Infância - UNICEF, entre outras autoridades. Em todas as cidades-sede foram convidados professores universitários de diferentes instituições de ensino superior para dialogarem sobre o papel da academia, da universidade e da ciência na análise e reflexão sobre o legado social e esportivo do megaevento esportivo. Observa-se no Quadro 2 a participação das autoridades nas etapas de lançamento do CIDADES DA COPA. Quadro 2: Autoridades presentes no lançamento oficial do Projeto Cidades da Copa
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A etapa seguinte, caracterizada pela elaboração do Plano de Ação de Esportes para Todos, que previa um conjunto de objetivos, metas, estratégias e mecanismos de avaliação para a democratização do acesso ao esporte educacional, contou, igualmente, com a presença rotativa de representantes das instituições. A mudança de público da primeira para a segunda fase explicitava uma primeira dificuldade, garantir representatividade no documento elaborado (Dagnino, 2002). Obviamente que não se pretendia que os gestores públicos (prefeito, secretários e assessores diretos), atletas e autoridades elaborassem o documento na segunda etapa, mas o afastamento do campo acadêmico/universitário, do apoio da imprensa e de representantes do escalão diretivo das instituições e do próprio poder público, exigiu esforços dos presentes para garantir a representatividade de todos os interesses sociais no plano. Em outras palavras, da primeira para a segunda etapa, o que se presenciou foi um esvaziamento de participantes com poder decisório ou cargos diretivos e a elaboração, de praticamente, todas as ações, foi tutelada por um grupo de funcionários técnicos das secretarias e instituições, os quais, em algumas cidades não tinham competências e poder decisório para elaborar planejamentos ou se os tinham faltava-lhes comprometimento, impactando de certa forma na qualidade dos planos de ação, fato que exigiu ainda mais a ação dos coordenadores do IEE no desenvolvimento dos conteúdos e mediações dos processo de elaboração dos planos de ação, que ao final alcançaram bom nível de qualidade. Neste sentido cabe ressaltar que, para a efetiva participação popular e democrática no controle e gestão pública, de acordo com Farah (2008, p.80), quaisquer propostas que se pretendam configurar como ações que serão implementadas na agenda pública, quer como programas de governo, quer como políticas públicas, dependem da sensibilização, participação e adoção das propostas por “atores sociais e políticos nas localidades receptoras”. Também este fato encontra espaço de diálogo com a literatura da sociologia do esporte e demonstra o alcance das ações, pois de acordo com Bourdieu (1983), a sociedade consome o esporte que lhes é oferecido. Em outras palavras, as instituições que elaboraram os planos de ação, prioritariamente, abdicavam suas especificidades e sua competência técnica numa determinada área para poderem, então, confeccionar um documento suficientemente plural que atendesse aos interesses de Secretarias, instituições, clubes e/ou federações que por quaisquer motivos não se fizeram presentes. Mas por outro lado, naturalmente, carregavam consigo pressupostos, valores e ideologias que se viram representadas no documento final. Neste sentido todos aqueles interessados no desenvolvimento esportivo da região que não se fizeram presentes relegaram seus interesses à capacidade de generalização do grupo de elaboração que participou desta etapa. Grupo este que, apesar da formação nas manifestações esportivas e das reflexões sobre a democratização da prática esportiva, desenvolvidas pelo PROJETO CIDADES DA COPA, ainda apresentava visão restrita e interesses limitados na organização do esporte para os munícipes. A terceira etapa, fase final, se caracterizava pela devolutiva social do documento elaborado. Era realizada uma solenidade pública de apresentação, com o convite formal para gestores públicos e a garantia de presença de atletas renomados para sensibilizar e certificar a presença das autoridades presentes quando da ocasião de lançamento. Conforme supracitado, a transição do primeiro para o segundo encontro era marcada pela elaboração de um diagnóstico, ainda que parcial, dos dados referentes ao esporte no município, tais quais, estrutura física, investimento, recursos humanos, financeiros, materiais, estruturais, eventos e projetos e programas esportivos. Os resultados explicitaram que os municípios não têm um conjunto confiável de dados sobre atendimentos, projetos e planos esportivos ou os demais itens avaliados. Neste sentido, a elaboração do documento, algumas vezes e momentos, partiu do conhecimento tácito dos membros presentes e noutros momentos da incipiência das informações obtidas nos diagnósticos. Ressalta-se que este aspecto não demonstra a fragilidade de uma cidade em especial, sendo identificado em todas as sedes da Copa do Mundo FIFA 2014. Portanto,
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denuncia a urgência de sistematização das informações relacionadas ao esporte e da criação de um sistema municipal de avaliação e controle do esporte nos municípios, sem o qual não é possível planejar e realizar a política e gestão esportiva responsável e eficaz. Como forma de clarificar ao leitor quais as principais discussões e propostas estruturadas referentes ao processo de democratização do esporte em cada cidade-sede, são apresentados na sequência os documentos redigidos nas doze cidades-sede da Copa do Mundo como proposta de democratização e ampliação do acesso ao esporte. Ao longo dos três anos de realização do PROJETO CIDADES DA COPA e do reconhecimento das diferentes realidades em cada município que sediou a Copa do Mundo Fifa - Brasil 2014, foi possível verificar muitas das potencialidades para o fomento ao esporte no Brasil, assim como, alguns dos principais elementos comprometedores para a real constituição do que se pretende chamar de acesso universal ao esporte como direito. Uma das maiores riquezas produzidas pelo PROJETO CIDADES DA COPA foi a confecção de um mapa atual, transparente, mesmo que ainda uma visão inicial e com possibilidades demaior aprofundamento do real cenário do esporte no país. Foi possível verificar, por meio dos planos de ação construídos em cada cidade-sede, quais as principais necessidades percebidas pelas instituições participantes em cada município. A seguir são apresentados os documentos elaborados, o que permitirá uma análise detalhada das aproximações e dos distanciamentos das realidades de cada sede da Copa. Boa leitura!
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PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE; SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTES E LAZER; SECRETARIA DE ESTADO DE JUVENTUDE, ESPORTES E LAZER; E.C.LEÃO DE JUDÁ; A.E.TUPINAMBÁS; AASIR; ABCMIMG; AFFEMG; ALME; AMCE; AMIFE; AOMEC; ARENA; ATENAS ESPORTE CLUBE; ATLETAS PELA CIDADANIA; CÂMARA MUNICIPAL; CJUV BH; CMDCA; CONSELHO ESTADUAL DO IDOSO; CREF MG; FEDERAÇÃO MINEIRA DE FUTEBOL DE MESA; FEDERAÇÃO MINEIRA DE ATLETISMO; FMDS; UFMG; GRUPO SEVAC; INSTITUTO AMICO; LBV; MEC; PUC - MG; REDE CIDADANIA; REDES GERAIS DE RÁDIOS MG; REJUPE; SEDESE; SENAGIC MG; SITIPAM; SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO; SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE; UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL.
Instituições Parceiras em Belo Horizonte
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GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL; SECRETARIAS DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, JUSTIÇA, ESPORTE, IDOSO, CRIANÇA, JUVENTUDE, SEGURANÇA, CULTURA, DIREITOS HUMANOS, DESENVOLVIMENTO SOCIAL E TRANSFERÊNCIA DE RENDA; GERÊNCIA DE ESPORTE E LAZER DAS ADMINISTRAÇÕES REGIONAIS; UNICEUB; UNB; UCB; SESC; INSTITUTO JOAQUIM CRUZ; INSTITUTO CARMEM DE OLIVEIRA; INSTITUTO AMIGOS DO VÔLEI; INSTITUTO SABIN; ATLETAS E EX-ATLETAS; ASSOCIAÇÃO DAS FEDERAÇÕES DESPORTIVAS DO DISTRITO FEDERAL; FAE; FACULDADE ALVORADA; C.EST.ATLETISMO; CAESB; CBF; CCR; RTI; CTN; FUNDAÇÃO ASSIS CHATEAUBRIAND; FEDERAÇÃO DE TAEKWONDO DO DISTRITO FEDERAL; LIGA DESPORTIVA BJ DE SAMAMBAIA; MÉTODOS; PLANO BRASÍLIA; SEB. CRIANÇA; SEBRAE; SENAI; TREINO WEB; VOTORANTIM; W SPORTS BRASIL E MINISTÉRIO DO ESPORTE.
Instituições Parceiras em Brasília
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AABB; ASSOCIAÇÃO DE MORADORES; CÂMARA MUNICIPAL; CBN; COLÉGIO SÃO GONÇALO; CREF 11; FAUC; FMDE; GENOMA COLORADO; PREFEITURA DE CUIABÁ; SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO; SECRETARIA DE ESPORTES; SHOTOKAN; UFMT.
Instituições Parceiras em Cuiabá
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CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA; VEREADOR ALADIM LUCIANO; VEREADOR PAULO RINK; CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE; COMPLEXO PEQUENO PRÍNCIPE; FEDERAÇÃO PARANAENSE DE FUTEBOL; FUTEBOL DE RUA; GERAÇÃO DE EMPREGO; RENDA E APOIO AO DESENVOLVIMENTO REGIONAL (GERAR); INSTITUTO COMPARTILHAR; INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO DE CURITIBA (IPPUC); INSTITUTO MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (IMAP); LIGA DE REMO DO PARANÁ; NÚCLEO CURITIBA DO OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES; PARATI S/A – PROJETO BOM DE BOLA; PROGRAMA COMUNIDADE ESCOLA (SME); REDE DE ADOLESCENTES E JOVENS PELO DIREITO AO ESPORTE SEGURO E INCLUSIVO (REJUPE); SECRETARIA DO ESPORTE DO ESTADO DO PARANÁ; SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO (SME); SECRETARIA MUNICIPAL DO ESPORTE, LAZER E JUVENTUDE (SMELJ); SECRETARIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE (SMMA); SECRETARIA MUNICIPAL EXTRAORDINÁRIA DA COPA DO MUNDO DA FIFA BRASIL 2014 (SECOPA); SESC PR; UNICEF.
Instituições Parceiras em Curitiba
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ATLETAS PELO BRASIL; CÂMARA MUNICIPAL; CONSELHO DE ESPORTES; CRESCENDO PARA O BRASIL; EDITORA; ESTÁCIO FIC; FCDA; FECEFA; FUNCER; GESTÃO MIX; LEACB; PREFEITURA; SAMU; SECRETARIA DE ESPORTES E LAZER; SECOPA; SEGUNDO TEMPO; SECRETARIA DE EDUCAÇÃO; SECRETARIA DE SAÚDE;SESI; UNIFOR.
Instituições Parceiras em Fortaleza
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Instituições Parceiras em Manaus
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CGEE; SECRETARIA DE TURISMO E DESENVOLVIMENTO; ATLETAS PELO BRASIL; ATTITUDE; BOM PASTOR; CÂMARA MUNICIPAL DE NATAL; CEDB; CLPCAME; CLUBE DESPORTIVO; FANEC; FEDERAÇÃO DE ATLETISMO; FEDERAÇÃO DE FUTSA; FNKI; FUNCARTE; FUNDAC; INSTITUTO FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE; KARATÊ PATRIOTA; MV CIA DE DANÇA; NATAL PREV; ONG AÇÃO; PREFEITURA DE NATAL; SEC. SAÚDE; SECOPA; SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO; SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTE, LAZER E JUVENTUDE; SECRETARIA MUNICIPAL DE MOBILIDADE URBANA; SECRETARIA MUNICIPAL DE PLANEJAMENTO; SEMTAS; SETHAS; TV CÂMARA; TV TROPICAL; TV U; UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ; UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE; UNIVERSIDADE MAURÍCIO DE NASSAU; UNIVERSIDADE POTIGUAR.
Instituições Parceiras em Natal
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ACM; AÇÃO RUA/ FÉ COM ALEGRIA; AMOVITEC; AMURT–EL; ASSOCIAÇÃO BEITHSHALOM; CÂMARA DOS VEREADORES; ATLETAS PELO BRASIL; CAJU; CESMAR; CLUBE DO PROFESSOR GAÚCHO; INSTITUTO DUNGA; INSTITUIÇÃO PEQUENA CASA; FEDERACLUBES; FUNDAÇÃO TÊNIS; FÓRUM DCA; FUNDATEC; GABINETE DO PREFEITO; FUNDAÇÃO ESPORTE CLUBE INTERNACIONAL; FATO RS; CRUZ VERMELHA BRASILEIRA; CREF RS; CMDCA; COMITÊ EVESCA; PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE; SECRETARIA MUNICIPAL DA JUVENTUDE; SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE; SECRETARIA MUNICIPAL DO TURISMO; SECRETARIA DE GOVERNANÇA LOCAL; SOCIAL FUTEBOL CLUBE; TEM; UNICEF; UNISINOS; SEST/SENAT; SECOPA; ROVENA – CASA DA CRIANÇA; REMS; REJUPE RS; REDE ILHAS; PUC RS; SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO; MICRO 5; INSTITUTO VISÃO SOCIAL.
Instituições Parceiras em Porto Alegre
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ASS. DOS MORADORES LOTEAMENTO BOM CLIMA; ONG CRESCER MANGABEIRA CIDADANIA E AÇÃO SOCIAL; INSTITUTO MIGUEL ARRAES; UNIÃO DOS MORADORES DA VILA DO BURITI-MACAXEIRA; FPR; GRUPO DE CAPOEIRA GINGA BRASIL; SIND. DOS SERV. FEDERAIS; CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA; REDEUJS – RECIFE; ASS. NOSSA CAPOEIRA; LIGA PERNAMBUCANA DE REMO E CANOAGEM; CONSELHO DE CIDADANIA; UNICEF; FEDERAÇÃO PERNAMBUCANA DE BADMINTON; ARTES MARCIAIS ALTO SANTA TEREZINHA; ASS. CRESCER – MANGABEIRA; FEDERAÇÃO DE JIU JTSU DO ESTADO DE PERNAMBUCO; REPRESENTANTE DA SELEÇÃO DE VOLEI PARAOLÍMPIADA DE PE; ESCOLINHA DE FUTSAL SÃO CRISTOVÃO – GUABIRABA; MAIS EDUCAÇÃO ESPORTE; UBM - UNIÃO BRASILEIRA DE MULHERES; ESCOLINHA 15 DE NOVEMBRO; UMES; FEDERAÇÃO PERNAMBUCANA DE TAEKWONDO; INSTITUTO MIGUEL ARRAES; SESC; AAPPD - ASS. APOIO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA; ASS. MORADORES VILA DO BURITI; IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA; AAPPD - ASS. APOIO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA; REPRESENTANTE DA UFPE - NAI NO CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA; GAJOPE; CENTRO ESPORTIVO CULTURAL MADUREIRA NOVA DESCOBERTA; UNIVERSO; LIGA PERNAMBUCANA DE REMO E CANOAGEM; SOCIEDADE CIVIL; CONS. DE MORADORES DA CIDADE UNIVERSITÁRIA E BRASILIT; FUNDAÇÃO PERNAMBUCANA DE PATINAGEM; FEDERAÇÃO PERNAMBUCANA DE KARATÊ; REPRESENTANTE DA UNINASSAU NO CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA; ASSAN/UFPE; CONF. BRAS. HÓQUEI E PATINAÇÃO; REPRESENTANTE DO SIND. DOS SERV. FEDERAIS NO CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA; INST. DE CEGOS ANTÔNIO PESSOA DE QUEIROZ; UEP; FEDERAÇÃO PERNAMBUCANA DE TAEKWONDO INTERESTILOS; ASSOCIAÇÃO MISSÃO EDUCAR; ESCOLINHA BUENOS AIRES FUTEBOL CLUBE IBURA DE BAIXO; ASS. NOSSA CAPOEIRA; PERNAMBUCA DE REMO E CANOAGEM; ONG CRESCER MANGABEIRA CIDADANIA E AÇÃO SOCIAL; CONSELHO DE CIDADANIA DO CONJUNTO HABITACIONAL JOSUÉ PINTO E ADJACÊNCIAS - BREJO DE BEBERIBE; COORDENADOR DO GRUPO SER EDUCACIONAL; UJS – RECIFE; SEC. SAÚDE; PROGRAMA DE ESPORTES E LAZER NA CIDADE; SEC. ESPORTES E COPA DO MUNDO; PROJETO SEGUNDO TEMPO; COPPV; SEC. DE TURISMO; SEC. DA SAÚDE; SEC. DE ESPORTES E COPA DO MUNDO; SEC. DA MULHER; SEC. EDUCAÇÃO; SEC. DE DESENVOLVIMENTO E PLANEJAMENTO URBANO; SEC. MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE; SEC. DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E DIREITOS HUMANOS.
Instituições Parceiras em Recife
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SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTES; SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO; UNICEF; REMS; RIOTUR; FIRJAN; FETRANSPOR; GBP/RIO INCLUI; CLUBE DE REGATAS VASCO DA GAMA; UFRJ; INSTITUTO REAÇÃO; INSTITUTO COMPANHEIROS DA AMÉRICA; INSTITUTO SUPERAR; INSTITUTO SÓLAZER-O CLUBE DOS EXCEPCIONAIS; INSTITUTO TREVO; BEM TV; FUNDAÇÃO PRÓ- SABER E FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ.
Instituições Parceiras em Rio de Janeiro
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19º BATALHÃO; ACDN – FUTEBOL SALVADOR; APAE; ARENA DIQUE; ARRAIAL DO RETIRO; ASSOCIAÇÃO AZEVEDO; ASSOCIAÇÃO DE SANTO INÁCIO; ATLETAS PELO BRASIL; CAPOEIRA SÃO BENTO; CMC; CREF; CREF-BA; CUC; DGEL; FBKEDS – FEDERAÇÃO BAIANA DE KARATÊ; FEDERAÇÃO BAIANA DE ATLETISMO; FEDERAÇÃO BAIANA DE FUTEBOL; FEDERAÇÃO BAIANA DE VOLEIBOL; FEDERAÇÃO DE BOXE DE SALVADOR; FENA; FGM; GESPORTE; HAPKIDO LOUREIRO – SALVADOR; LD BARRIS; LÍDER COMUNITÁRIO; LIGA BAIXIENSE DE FUTEBOL; LIGA BATESTACA; LIGA DCS; LIGA ESPORTE CENTRO COMUNITÁRIO; PERSONAL CLUB; SALVE COSMO; SEFAZ; SESI-BA; SINPEF-BA; SMED/ DGEL; TERÇA NOBRE – FUTEBOL; UCSAL; UNISPORT.
Instituições Parceiras em Salvador
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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO; SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTE, LAZER E RECREAÇÃO; SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO; SECRETARIA MUNICIPAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E MOBILIDADE REDUZIDA; ATLETAS PELA CIDADANIA; ABRAPEFE; AÇÃO EDUCATIVA; ACM SP; AMPLOS EVENTOS; APRENDIZ; CANAL FUTURA; CENTRO PAULA SOUZA; CIEDS; COMGÁS; CREF; FUNDAÇÂO DOM BOSCO; EACH-USP; FEDEESP; FEDERAÇÃO PAULISTA RUGBY; FLYTIME; FUNDAÇÃO ABRINQ; FUNDAÇÃO GOL DE LETRA; FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL; FUNDAÇÃO TELEFÔNICA; GIFE; GOL DE LETRA; HURRA; INDES; INSTITUTO BARRICHELO KANAAN; INSTITUTO ESPORTE E EDUCAÇÃO; INSTITUTO VOTORANTIM; ISEE; JLEIVA; MAGISTER; MIDOS; PASSE DE MÁGICA; PORTAL PORVIR; PORTAL SETOR 3; PREFEITURA DE OSASCO; PRODHE / CEPEUSP; PROJETO VIDA CORRIDA; RÁDIO GLOBO; REJUPESP; VIRAÇÃO; REMS; SENAC; TIDE SETUBAL; UNICEF.
Instituições Parceiras em São Paulo
CAPÍTULO 4 CONSTATAÇÕES, INDÍCIOS E APRENDIZADOS Alguns dos elementos que podem ser aventados e que não devem passar sem um olhar mais apurado, dizem respeito aos possíveis motivos pelos quais tais informações, diagnósticos, dados, objetivos não compõem o cabedal de atuação dos governos municipais contemplados pelo Projeto. Pode-se inferir com a realização do PROJETO CIDADES DA COPA, depois de refletir, trabalhar, planejar e organizar o Plano de Ação juntamente com as Secretarias municipais que a sistematização do esporte não faz parte da agenda política nestas localidades. De certo que, dentre diversos fatores que se mostraram importantes, organizar de forma sistematizada, verificável e confiável os dados referentes ao oferecimento de esportes no território nacional é uma das tarefas fundamentais dos gestores esportivos para a constituição de uma política pública de esportes. Paradoxalmente, embora tais localidades tenham se disponibilizado a receber a Copa do Mundo FIFA, um dos maiores megaeventos esportivos do planeta, o fenômeno esporte enquanto bem cultural, possível promotor de inclusão e inserção social por meio da cultura corporal do movimento, constitucionalmente garantido como direito de todo cidadão brasileiro, não integra o bojo de propostas e políticas públicas. Notadamente, conforme Farah (2008), enquanto o assunto não for compreendido como relevante pela agenda local e não fizer parte do conjunto de propostas de determinado grupo de poder, também não será considerado como pauta relevante para a constituição de políticas públicas. Para que se vislumbre uma maior efetividade dos legados, de um megaevento esportivo, é fundamental que haja proposição dos objetivos que se pretendem alcançar baseados em informações precisas, diagnósticos claros que possibilitem definir ações obrigatórias e opcionais que permitirão, em maior ou menor grau, a consecução destes objetivos (PREUSS, 2000; FILGUEIRA 2008b). Na ausência deste diagnóstico, a concretização de quaisquer planos ou projetos e ações dificilmente permitirá uma comparação com metas do quadro anterior que se buscou alterar, qualificar. Portanto, a sistematização da avaliação e controle para possibilitar a gestão do esporte foi meta em todos os Planos de Ação das cidades-sede. A partir destas informações, ou até, da ausência delas, deu-se início à elaboração de objetivos e metas peculiares em cada uma das cidades-sede. A análise dos planos elaborados nas doze cidades-sede permite constatar e/ou inferir pontos nevrálgicos de convergência de aspectos que comprometem o desenvolvimento do esporte no país. A seguir serão apresentados elementos que pretendem sintetizar, mas notadamente não se esgotam neste ensaio textual, que devem ser considerados como foco de intervenção para a democratização e qualificação do acesso ao esporte: 1) CONTRATAÇÃO DE PESSOAS EM REGIME DE URGÊNCIA Praticamente, em todas as cidades que receberam o megaevento Copa do Mundo FIFA 2014, há necessidade premente de aumento do número de profissionais que atuam com esporte em múltiplas instâncias. Desde professores de Educação Física para atuarem nas escolas, clubes, parques, centros comunitários, equipes de treinamento, até gestores e técnicos administrativos.
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As instituições também sinalizam grande dificuldade em qualificar e ampliar seu potencial de atendimento devido à escassez de recursos humanos. Nota-se um gargalo que inviabiliza a ampliação sistêmica do atendimento: recursos humanos em número e qualificado. No caso do setor público, o processo da contratação é extremamente complexo. Exige planejamento muito antecipado, desde os Planos Diretores decenais, até os Planos Plurianuais com destinações precisamente detalhadas nas leis de orçamento anual (LOA) e de diretrizes orçamentárias (LDO). Depois de determinadas as linhas orçamentárias, inicia-se o processo de elaboração de edital para realização de concurso público. O que se verifica é notadamente um processo longo, burocrático e extremamente intrincado que perpassa gestões e precisa ser planejado e realizado o quanto antes. Entretanto, os gestores públicos não se mobilizam e nem entendem a necessidade de planejar e iniciar o processo de contratação de professores, provavelmente, por não compreenderem como necessidade premente para a democratização do esporte. Constata-se que o principal foco dos gestores são os eventos esportivos, quando podem se promover politicamente, em razão da presença da mídia, como a Copa do Mundo FIFA 2014. 2) QUALIFICAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO ESPORTE EM TODAS AS INSTÂNCIAS A formação continuada de estagiários, monitores, agentes esportivos comunitários, professores, técnicos e gestores parece ser um fator fundamental para o aprimoramento do sistema municipal de esportes. As instituições sinalizam necessidade de apoio; as prefeituras precisam de mais parcerias; os professores de Educação Física têm pouco tempo ou incentivo para realizar cursos de formação continuada. Por vezes, os programas de formação são esporádicos, como cursos e palestras, mas não contribuem efetivamente para a qualificação pedagógica do professorado. Situação agravada pela pouca ou quase nenhuma participação das universidades no diálogo sobre legado e democratização do esporte nas cidades da Copa FIFA, demonstrando o desinteresse pela qualificação e democratização do esporte na cidade e explicitando o enclausuramento da área acadêmica do país. 3) MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO ESPORTE A realização do projeto em todas as cidades-sede demonstrou que uma das principais atividades necessárias em cada uma delas é a sistematização dos dados de atendimento e infraestrutura esportiva. As cidades realizam eventos, programas e projetos de esportes. Secretarias de esportes executam diversos atendimentos. Secretarias de educação oferecem aulas de Educação Física escolar. As de saúde promovem ações de qualidade de vida por meio de programas de atividade física, entre tantas outras ações. No entanto, estes dados não são sistematicamente avaliados, unificados e organizados, impedindo qualquer formulação de política pública de esporte, inviabilizando a potenciação de recursos, consequentemente, a gestão do esporte é precária pela falta de dados concretos para o planejamento de ações, que resulta em propostas com base em intuitos políticos e promocionais, sem grandes impactos para a educação, saúde e lazer da população. 4) AUMENTO DA VERBA DESTINADA AO ESPORTE As ações apontadas nos planos de ação sinalizam muitas possibilidades de ampliação da prática esportiva, mas sem investimento previsto. Projeta-se a articulação entre instituições e Secretarias, inter-instituições e inter-secretariais, mudanças metodológicas, eventos concomitantes, entre tantas outras. Porém, verificou-se que o recurso direcionado ao esporte nos municípios é pífio. As metas
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estipuladas nas conferências municipais, estaduais e nacional, de destinação de 1% do orçamento municipal para a pasta do esporte não se verificou em nenhuma cidade-sede. Foi possível verificar, ainda, um claro paradoxo referente ao investimento em esportes. De um lado, a ausência de dados suficientemente sistemáticos sobre equipamentos, recursos e materiais desportivos, identificada a partir da precariedade dos diagnósticos, sinaliza a inviabilidade da exata definição de quanto seria necessário construir, reformar, adquirir ou restaurar. Por outro, o cenário nacional denuncia a premência da ampliação e qualificação dos equipamentos, estruturas físicas e dos materiais, quando eles existem. O que se pode afirmar é que notadamente as estruturas de oferecimento de esportes são inadequadas à maioria dos usuários. Há pequenos avanços, mas ainda muito incipientes. 5) INTERPRETAÇÃO EQUIVOCADA DO PAPEL SOCIAL DO ESPORTE: Em todas as cidades foi possível verificar um discurso naturalizado do potencial formativo do esporte. Mesmo quando capitaneado pelo meio acadêmico, o debate sobre oferecimento de oportunidades democráticas de acesso ao esporte demonstrava um entendimento superficial, acrítico e ufanista do esporte como direito e prática social. Frequentemente se associava o esporte à melhoria do rendimento escolar, distanciamento de vulnerabilidades sociais como drogas, criminalidade, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez juvenil, entre outros. O que se pode verificar é a percepção de que o esporte, por si só, dizimaria tais mazelas sociais. Notou-se, ainda, um claro direcionamento das ações esportivas nos municípios para a formação de atletas, a realização de eventos excessivamente competitivos (inclusive no ambiente escolar), incentivo às competições escolares como solução para o acesso, o que há tempos já se sabe que, além de um equívoco, é inviável. As atividades esportivas, em sua maioria, não se configuram em ações de fomento e oportunidade de prática frequente à maioria da população e uma tendência generalizada de incentivo predominante ao esporte de rendimento, em detrimento do esporte educacional e de lazer. Fomento quase prioritário a eventos e quaisquer outras ações de atendimento pontual e assistemático, na contramão do debate de acesso frequente e universal. Quando recorremos a Bracht (1997) e Bracht e Almeida (2003) pode-se verificar que a “pseudovalorização do esporte” se faz presente também nas cidades-sede que, supostamente, deveriam figurar como vitrines de oportunidades e exemplos de democratização da prática esportiva. Adicione-se a isso o distanciamento dos representantes do campo acadêmico e dificilmente será possível vislumbrar uma mudança de cenário e entendimentos em curto prazo. Sobre este aspecto desvelou-se uma sombria realidade, a saber: após o evento de lançamento, o campo acadêmico não se fez representado em praticamente nenhuma cidade-sede, exceção feita às cidades de Curitiba e Manaus em que professores das Universidades participaram. Embora na etapa de lançamento tenha sido recorrente o discurso sobre a importância da participação do setor acadêmico nas etapas do PROJETO CIDADES DA COPA, as etapas de desenvolvimento mostraram a dificuldade de aproximação das ações científico-intelectuais produzidas dentro dos muros das grandes universidades e a realidade vivida pela população nas atividades do cotidiano. Não nos parece que os pesquisadores não tenham interesse em participar da construção de uma sociedade melhor, mais justa e igualitária, mas que as estruturas e exigências lhes são impostas dificultam, ou acabam por impedir, um maior envolvimento dos acadêmicos nos projetos de transformação social. Os planos de ação e os dados de participação corroboram a percepção de que é fundamental envolver a sociedade civil na discussão sobre qual legado se pretende quando da realização de um megaevento esportivo (DAGNINO, 2002; RUBIO, 2008).
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Indiscutivelmente, se as cidades-sede de megaeventos planejassem antecipadamente legados sociais e esportivos teriam maior probabilidade de colherem os frutos da intencionalidade. Por outro lado, na ausĂŞncia de perspectiva de legado previamente planejado, a possibilidade de que ele ocorra ĂŠ idealĂstica.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados do PROJETO CIDADES DA COPA, que dialogou e refletiu com os três setores da sociedade nas cidades-sede e buscou diagnosticar, analisar e planejar possíveis legados esportivos das 12 cidades-sede da Copa do Mundo FIFA - Brasil 2014, demonstraram a ausência de planejamentos antecipados de legados sócio-esportivos nas cidades-sede, a falta de entendimento sobre as dimensões sociais do esporte e o desconhecimento dos gestores públicos sobre democratização do esporte. Todavia, cabe ressaltar que o Projeto possibilitou um diálogo inédito entre os diferentes agentes sociais responsáveis e comprometidos com o processo de democratização do acesso ao esporte. Quais sejam, as entidades públicas, privadas, ONGs, OSCIPS e membros representantes da sociedade civil foram chamados para um debate transparente e necessário sobre o real cenário do esporte no Brasil. Assim, o período que precedeu a Copa do Mundo de Futebol FIFA - Brasil 2014 foi indiscutivelmente marcado pela participação social, ampliação das oportunidades de diálogos multissetoriais e plurissociais, além de iniciar o diagnóstico/ mapeamento das oportunidades de prática de esportes nas sedes, possibilitando propor as mudanças que garantam acesso irrestrito ao esporte no Brasil. Constata-se a inexistência de mecanismos de fomento como fundo municipal e leis de incentivo ao esporte em praticamente todos os municípios e poucos recursos investidos em esporte, apesar do discurso positivo e a favor do esporte, tanto dos políticos, como dos gestores. Cabe ressaltar que estes dados não criminalizam as gestões em quaisquer instâncias, uma vez que quando do início da realização do PROJETO CIDADES DA COPA, todas se dispuseram prontamente a elaborar documentos e arquitetar estratégias de implementação dos objetivos supra-apresentados. Portanto, demonstra a intenção de avançarem na estruturação do esporte nas cidades, mesmo que ainda de forma inicial. Durante a realização do Projeto, pôde-se acompanhar alguns avanços e conquistas. Por exemplo, nas cidades de São Paulo e Manaus foram aprovadas leis municipais de incentivo ao esporte durante o decorrer de 2014. Legado não quer dizer somente coisas positivas, como mencionado anteriormente. Quer dizer a herança resultante da ação humana. Portanto, se o que se pretende é um legado positivo, um país que aproveite a janela de oportunidades criada pelos megaeventos esportivos e que adote a prática de esportes e exercícios físicos como comportamento cotidiano dos cidadãos, é de se esperar que as cidades recebam os maiores eventos esportivos do planeta e se configurem como verdadeiras vitrines de fomento à adoção desses hábitos. A análise das assertivas, argumentos e ideias expostas permite inferir que o legado ideal é o que consegue ser positivo em todas ou em várias das dimensões impactadas, tangíveis ou intangíveis: esportiva, econômica, social, educacional, cultural, ambiental e outras. Porém, mesmo com planejamento, ter sucesso em todos os aspectos, já é algo bastante difícil; na ausência de planejamento, como no caso do Brasil, praticamente impossível. Assim, o PROJETO CIDADES DA COPA remediou a situação com a elaboração do Plano de Ação de Esporte, que buscou traçar estratégias para a democratização do esporte como resultante da realização da Copa do Mundo FIFA – Brasil 2014 nas cidades-sede. Os legados de megaeventos esportivos devem comprometer-se com os direitos sociais asseverados nos documentos públicos do Estado, principalmente pelo comprometimento direto
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de elevados valores de financiamento das estruturas necessárias à sua realização. Essa deve ser a referência básica que suporta toda a estratégia de promoção de megaeventos e, por consequência, de seus legados, por se tratar de inquestionável janela de oportunidades para alavancar o desenvolvimento do país. Desta forma, a temática que orienta esta discussão posta em pauta é de que um dos principais legados de um megaevento esportivo seja fomentar a educação da população para a adoção de hábitos de vida fisicamente ativa e saudável, por meio de incentivos, construção e revitalização dos espaços e equipamentos destinados às práticas corporais, aquisição de materiais diversificados em quantidade e qualidade indubitáveis para a promoção universal de oportunidades de práticas esportivas. Quanto à sustentação econômica para a implantação de política pública de esporte, com a criação de um sistema nacional de esporte, é da esfera da responsabilidade política conciliar os tangíveis benefícios econômicos com os intangíveis objetivos sociais da prática esportiva. Assim, demonstra a imprescindível necessidade e obrigatoriedade do poder público, em conjunto com a sociedade civil organizada e setor privado, planejar antecipadamente Planos de Ação de Esporte democráticos e inclusivos, que utilizem a infraestrutura construída para o megaevento, oportunizando esporte para todos e todas e ampliando o legado esportivo e social ao melhorar a educação, saúde e qualidade de vida dos munícipes. Não se pretendeu esgotar as discussões sobre legados. Mas cabe alertar sobre alguns fatores fundamentais para a conquista de legado positivo de megaeventos esportivos. Assim, compreendeu-se que deve compor o quadro de atividades indispensáveis para a assunção de cidade-sede o planejamento e monitoramento da execução das ações propositivas dos legados sociais e esportivos com os megaeventos. Entende-se que a realização do PROJETO CIDADES DA COPA compõe um conglomerado de ações sociais que pretendeu contribuir para o legado da Copa do Mundo FIFA - Brasil 2014, ao possibilitar a discussão e reflexão sobre a garantia do direito à prática esportiva, denunciar as lacunas, necessidades de dialogar com o poder público para rascunhar uma proposta de política de esporte para os maiores municípios do país. Logo, se o projeto deixar de ser a única (ou uma das únicas) iniciativa(s) de articulação e discussão em todas as cidades para a prospecção do legado social e esportivo e passar a compor o grupo de ações que pressionam as autoridades e legitimam os interesses sociais, no intuito de um legado positivo para toda a sociedade, certamente terá cumprido seu maior objetivo. O legado já terá começado.
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