Aliança do Pensar e do Fazer na Cáritas de Bragança-Miranda

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´ Editorial Caritas

Portuguesa

Cáritas N.º 02 | JANEIRO 2016

OS SIMPÓSIOS DA EDITORIAL

Fotografia: Bruno Luís Rodrigues

A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER NA CÁRITAS DIOCESANA DE BRAGANÇA­‑MIRANDA


ÍNDICE A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER NA CÁRITAS DIOCESANA DE BRAGANÇA-MIRANDA ENTREVISTA A D. JOSÉ CORDEIRO Bispo da Diocese de Bragança­‑Miranda

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POBREZA E RELAÇÕES HUMANAS: CONTRIBUTOS PARA SUPERAR A POBREZA, A PARTIR DA MUDANÇA DE RELAÇÕES Apresentação do Pe. Delfim Gomes 5 ENTREVISTA AO PROF. DOUTOR ANTÓNIO FRANCISCO RIBEIRO ALVES Diretor da Escola Superior de Educação de Bragança 8 “HUMANIZAR A SOCIEDADE” Apresentação de Joaquim Oliveira

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EDITORIAL CÁRITAS Praça Pasteur, nº 11 ‑­ 2.º, Esq. 1000­‑238 LISBOA editorialcaritas@caritas.pt Tel. +351 911 597 808, fax. +351 218 454 221

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A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER

Fotografia: Bruno Luís Rodrigues

A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER NA CÁRITAS DIOCESANA DE BRAGANÇA­‑MIRANDA Nos dias 19 e 20 de novembro de 2015, a “Aliança do Pen‑ sar e do Fazer” teve lugar em Bragança. Numa iniciativa levada a cabo pela Cáritas Diocesana de Bragança­‑Miranda, a Editorial Cáritas apresentou dois dos seus títulos – “Pobreza e Relações Hu‑ manas”, do Pe. Delfim Gomes, e “Humanizar a Sociedade”, do Pe. Georgino Rocha. Ao longo de dois dias, esta inicia‑ tiva decorreu na Casa Episcopal da Diocese, no Centro Paroquial De Vila Flor e na Escola Superior de Educação de Bragança, con‑ tando com a presença de mais de 350 participantes. Transversal a todas as interven‑ ções foi a questão da pobreza e a importância de uma reforma no sistema atual. No fundo, a neces‑ sidade de colocar no centro os mais vulneráveis. Sendo o mote do livro da autoria do Pe. Delfim Gomes ­‑ Pobreza e Relações Humanas – ficou claro ao longo da sua intervenção que esta é uma das suas principais reflexões: “Não queremos tratar nem escalpelizar os números mas é aflitivo e ensurdecedor quando vemos que quase metade da po‑ pulação mundial passa privação, é pobre. Por isso, quando alguém,

independentemente de ser re‑ ligioso, uma pessoa de bem que se preze tem de ter em atenção o bem do próximo. E o próximo está a passar privação e precisa de ajuda”, acabou por referir. Joaquim Oliveira, colaborador da Cáritas de Vila Real, apresentou o livro “Humanizar a Sociedade”, do Pe. Georgino Rocha, e alicerçou a sua intervenção num conceito de participação e de agir que é espe‑ cífico do agir cristão. Falou­‑nos da visão do autor ao longo da obra, e referiu que a sua abordagem é uma abordagem “que dá cora‑ gem, que fortalece, que procura estabelecer as condições de uma verdadeira humanização da socie‑ dade”, tendo sempre em conta que os mais vulneráveis podem tornar­‑se eles próprios agentes do seu processo de libertação e de humanização. Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, esteve tam‑ bém presente e, assumindo o compromisso com a instituição que representa, reforçou a neces‑ sidade de existir uma estratégia nacional para a erradicação da pobreza, realçando que “estamos perante um drama social, que é altamente prejudicial para o pro‑ gresso sustentado e humanizado

de qualquer sociedade”, e que é cada vez mais urgente a existên‑ cia de uma vontade política a ní‑ vel nacional e internacional, para um investimento de fundo que obrigue a rever alguns interesses e privilégios a favor dos mais po‑ bres, estando certo de que “para tornar o fosso entre ricos e po‑ bres menos escandaloso, alguns têm de ceder”. Este encontro foi também uma oportunidade para consolidar a parceria entre a Editorial Cáritas, a Cáritas Diocesana de Bragança­ ‑Miranda e o Instituto Politécni‑ co de Bragança, que consiste na entrega de um prémio anual que distinga o melhor trabalho de in‑ vestigação ao nível do mestrado no Instituto. D. José Cordeiro, Bispo da Dioce‑ se de Bragança­‑Miranda, vê nesta parceria um desafio, ao mesmo tempo que a considera um im‑ portante “incentivo à investigação e ao contributo de uma caridade inteligente e de um novo humanis‑ mo, da dignidade da pessoa huma‑ na e, com estes novos gestos, con‑ tribuir para uma nova ética social, uma nova amizade social”. Caritas ´ Portuguesa

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ENTREVISTA A D. JOSÉ CORDEIRO BISPO DA DIOCESE DE BRAGANÇA­‑MIRANDA

Editorial Cáritas (EC):

Esteve

A Editorial Cáritas tem

no mês passado na apresen‑

tornado a relação com as insti‑

lações Humanas: Contributos

prioridades. Como vê a parceria

tação do livro “Pobreza e Re‑ para Superar a Pobreza, a par‑ tir da Mudança de Relações”. Podem este e outros títulos da

Editorial Cáritas ser um con‑ tributo para uma aproximação

mais intelectual dos agentes so‑ ciais à Doutrina Social da Igreja?

D. José Cordeiro (D.JC): O con‑ tributo da Editorial Cáritas revela­‑se muito positivo para uma cultura da Misericórdia e da Ternura como nos interpela constantemente o Papa Fran‑ cisco. A formação permanente do Clero e dos Leigos é para nós um desafio constante. Por isso, a apresentação do livro do P. Delfim Gomes foi um ótimo momento, em quantidade e qua‑ lidade, de proposta de mudança das relações humanas no cami‑ nho do desenvolvimento inte‑ gral e solidário. Felicito e aprecio os títulos da Editorial Cáritas que têm sido um feliz pretexto para uma aproximação cada vez maior à Doutrina Social da Igreja.

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EC:

tuições de ensino uma das suas assumida entre a Cáritas Dio‑

cesana de Bragança­ ‑Miranda, a Editorial Cáritas e o Instituto Politécnico de Bragança?

D.JC: Olho com muita Esperan‑ ça esta cooperação recíproca entre a Cáritas Diocesana, a Editorial Cáritas e o Instituto Politécnico de Bragança. Con‑ sidero um fórum privilegiado no diálogo social, cultural e espiritual. A Doutrina Social da Igreja é solicitada e deter‑ minada pelas questões sociais, de que quer ser resposta de justiça social.

para a ação da Cáritas Dioce‑ sana de Bragança­‑Miranda, por‑ que permitem uma ação global e integral solidária no serviço do Bem Comum e da dignidade humana assente na Caridade in‑ teligente da Fé. EC:

De que forma pode este

programa chegar às outras ci‑ dades da Diocese?

D.JC: Já na última atividade com a Editorial Cáritas, além de Bragança, estivemos em Vila Flor e muito bem. Podemos e devemos alargar às demais Vilas, Cidades, Arciprestados e Unidades Pastorais da nos‑ sa Diocese esta boa prática da Cáritas Diocesana na ação pastoral e espiritual do Bom EC: Considera que as ativida‑ Samaritano. Há uma necessida‑ des da Editorial Cáritas podem de urgente que tal aconteça e ser um contributo para o tra‑ que marque a agenda cultural balho levado a cabo pela Cári‑ e espiritual nas Unidades Pas‑ tas de Bragança­‑Miranda a ní‑ torais, Cidades e Vilas, dando vel local? cidadania maior à Caridade e à Misericórdia, para a constru‑ D.JC: As atividades já realizadas ção da Paz. Caritas ´ Portuguesa e a realizar pela Editorial Cáritas são um contributo importante


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POBREZA E RELAÇÕES HUMANAS: CONTRIBUTOS PARA SUPERAR A POBREZA, A PARTIR DA MUDANÇA DE RELAÇÕES APRESENTAÇÃO DO PE. DELFIM GOMES*

Falar de pobreza nos dia de hoje, não é fácil, e muito menos apre‑ sentar sugestões sobre como a superar, apontando caminhos al‑ ternativos de desenvolvimento e de compromisso solidário, assen‑ te na mudança de relações. Procurei ligar o conhecimento e a experiência de tantos homens e mu‑ lheres com as propostas que a Igreja foi dando ao longo dos séculos, de modo a melhor compreender este mundo com as suas desigualdades sem precedentes em toda a histó‑ ria da humanidade. Fui às origens procurar os porquês, perceber os contextos e seguir o “rasto” da po‑ breza até aos nossos dias, olhando para a realidade a partir do que foi a experiência da Igreja e da socieda‑ de neste campo, numa perspetiva de esperança, procurando dar o nosso modesto contributo com um olhar novo e diferente.

Enquanto não resolvermos as causas estruturais da desigualda‑ de social, estamos a aumentar o fosso que nos separa e a provo‑ car mais iniquidade. A existência de três mil milhões de pessoas, não só de indigentes e pobres, mas empobrecidos e oprimidos, exige a mudança de rumo. A grande pobreza constitui uma violação dos direitos humanos e um grave atentado à dignidade humana, favorecendo a estigmati‑ zação e as injustiças. Perante a situação atual ganham uma enorme atualidade as palavras do grande Bispo D. Hélder Câma‑ ra, que dizia: “Quem vive onde mi‑ lhões de criaturas se encontram de‑ gradadas e submetidas a condições infra­‑humanas, vendo­‑se praticamen‑ te reduzidos à escravidão, deverão es‑ tar muito surdas para não escutar o clamor dos oprimidos. E o clamor dos Pertinência e atualidade do oprimidos é a voz de Deus.” Fazer tema eco deste “clamor” e estar atento Por detrás do fenómeno crescen‑ a esta voz é o primeiro passo para te da pobreza, esteve e está um uma avaliação da situação atual injusto e inumano sistema econó‑ inspirada pela fé. mico, social e político que prefere O livro foi dividido em três par‑ o lucro e ignora a pessoa. tes: a primeira aborda a evolução

do conceito de pobre na Sagrada Escritura até ao Pensamento So‑ cial da Igreja; a segunda vai procu‑ rar demonstrar que a pobreza é o resultado da falência das rela‑ ções humanas, passando da eco‑ nomia ao compromisso solidário apresentando algumas propostas alternativas que visam diminuir a pobreza e contribuem para a inte‑ gração social; a terceira parte tem como objetivo apresentar a mu‑ dança de relações interpessoais e entre os estados, como condição necessária para o desenvolvimen‑ to humano que tem por horizon‑ te ou fim último o bem comum, apontando, ainda que utopica‑ mente, para a civilização do amor. A diversidade de definições e a complexidade dos fenómenos, pobreza e exclusão social, obriga a ser o mais abrangente possível, recorri à opinião de reconheci‑ dos especialistas que ao longo do livro e de acordo com a temática a abordar apresentei, enrique‑ cendo o conteúdo e combinando uma abordagem interdisciplinar e de complementaridade. Um dos maiores especialistas so‑ bre a pobreza e exclusão social, o 5


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Professor Doutor Alfredo Bruto da Costa, vai ao âmago da questão e diz que o «ser humano é tocado como um todo …no sofrimento, nos sentimentos e afetos, no exer‑ cício da inteligência e da vontade, nos hábitos e comportamentos… na relação com os outros, no exercício da cidadania, no cum‑ primento dos seus deveres e no gozo dos seus direitos, a começar pelo direito à liberdade – enfim, na concretização da sua fundamental e universal vocação de desenvolvi‑ mento e de realização».1 A relação com os outros, no exer‑ cício da cidadania a que se refere Bruto da Costa, parece ser, a pedra angular da construção da nova ci‑ vilização, que aprofundei no tercei‑ ro capítulo, uma vez que propõe a mudança de relacionamento a nível social, económico e político... Pobre é também um conceito dialético. Faz referência ao termo contrário “rico” e estabelece uma relação dialética entre ambos; há ricos porque há pobres e há po‑ bres porque há ricos. «Pobre… não é meramente o que carece de algo senão o que é priva‑ do, o que é despojado do que tem e do que devia ter. Privado e despo‑ jado do que exige a dignidade hu‑ mana; privado e despojado do que é o fruto do seu trabalho; privado e despojado do destino comum e principal dos bens da terra.»2 E a Carta Social Europeia Artigo 30º diz: «Toda a pessoa tem direi‑ to à proteção contra a pobreza e a exclusão social». Depois de lembrar os direitos e tendo um olhar mais crítico, convém recordar, que a pobreza 1 2

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Costa A. B., 2008, 20 Cf. Ellacuría, 788.

é uma realidade multifacetada: há formas antigas e novas de pobreza a que é consequência do subdesenvolvimento, da imigração, das condições de trabalho e habitação, dos desempregados e dos insolventes, a pobreza dos grupos socialmente marginalizados, étnicos ou outros, a pobreza dos idosos com baixos recursos e a dos automarginalizados; há a pobreza dos países pobres e a dos países ricos; há a pobreza das zonas abandonadas e a dos subúrbios das grandes cidades; e há a pobreza material e dos pobres, sós e sem afeto, sem cultura e sem participação cívica. Por tudo isto, a questão da pobreza tem di‑ retamente a ver com os direitos do Homem e com a democracia formal e real; a não ser levada a sério, entra em risco o próprio equilíbrio das sociedades. É o que nos diz o Relatório de 2011 da U.E. da Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais sobre a Pla‑ taforma Europeia contra a pobre‑ za e a exclusão social: «a grande pobreza constitui uma violação dos direitos humanos e um gra‑ ve atentado à dignidade humana, favorecendo a estigmatização e as injustiças.... ».3 Poderia continuar a citar vários organismos internacionais, com os seus relatórios e as suas pro‑ postas, e o interessante em tudo isto, é que continuaríamos a ver a pobreza com as suas mil caras, de acordo com o método seguido e as definições estabelecidas. Daí não aprofundar os diferentes conceitos de pobreza, ­‑ absoluto, relativo ­‑, nem as suas definições 3

Daerden, 9

subjetivas, como as suas causas e tipos. Por esta ligeira abordagem, pode perceber­‑se, de facto, que o tema da pobreza não é uma questão pacífica nem resolvida, é um fenó‑ meno multidimensional, daí a difi‑ culdade em defini­‑la e ainda mais em medi­‑la. Desafios Como superar a pobreza? • A resposta está ligada ao projeto de sociedade que queremos construir. • Que projeto de sociedade defendemos? • Queremos um mundo soli‑ dário, que respeite a pessoa humana e procure o bem comum para que todos se realizem? • Uma sociedade que procure refazer as relações humanas, que nos aproxime e leve a um compromisso solidário pro‑ movendo a comunhão entre os povos? • Ou, uma sociedade egoísta, desigual que gera e cria po‑ breza e leva à exclusão, que privilegie o lucro em detri‑ mento da pessoa, e o poder em vez do serviço? • A decisão é nossa, depen‑ de de cada um de nós. Assim o exigem, a nossa vocação de cristãos, o testemunho do amor a que fomos chamados na construção de uma socieda‑ de mais justa e mais fraterna.


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• «Trata­‑se de construir o Mundo em que

todos os homens possam viver uma vida plenamente humana». PP, 47 Ontem, como hoje, na raiz da pobreza, está a injustiça.

A promoção da justiça, deve ser o nosso com‑

promisso concreto de vida.

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*Presidente da Direção do Centro Social e Paroquial de São Bartolomeu Vila Flor

Livro: “Pobreza e Relações Humanas: Contributos para Superar a Pobreza, a partir da Mudança de Relações”

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ENTREVISTA AO

PROF. DOUTOR ANTÓNIO FRANCISCO RIBEIRO ALVES DIRETOR DA ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE BRAGANÇA

Editorial Cáritas (EC): A Edito‑

diferente perante a realidade rial Cáritas esteve recentemen‑ social, como condição necessá‑ te na Escola Superior de Educa‑ ria para uma intervenção cada ção de Bragança a apresentar vez mais humanizada. dois dos seus títulos. Quais os Todos os títulos na área social contributos que títulos nesta relacionados com a construção área podem trazer para a inves‑ teórica, com a novidade meto‑ tigação na vossa Escola? dológica, e com os programas de intervenção social e sua António Francisco Ribeiro Al- avaliação, são integráveis nos ves (AFRA): No que respeita diferentes ciclos de estudo e aos contributos da apresenta‑ nos temas de investigação das ção dos dois títulos, conside‑ dissertações de mestrado que ro que foi uma oportunidade anualmente são iniciadas. formativa para docentes e, em particular, para os estudantes EC: Quais as mais­‑valias desta da área da Educação Social por ligação da Cáritas de Bragança­ dois motivos fundamentais: (1) ‑Miranda à Escola Superior de representou uma abertura ao Educação? conhecimento do pensamen‑ to social de matriz cristã, onde AFRA: É, antes de mais, uma o outro como pessoa humana parceria estratégica com a tem uma posição nuclear; (2) Escola Superior de Educação houve uma espécie de desas‑ (ESE). A organização e a ma‑ sossego cognitivo porque a nutenção da qualidade dos apresentação também desa‑ cursos da ESE exigem a ce‑ fiou a necessidade de um olhar lebração de protocolos que

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assegurem lugares de estágio para os estudantes. A Cáritas de Bragança­‑Miranda tem dado sempre a sua melhor coopera‑ ção neste aspecto. Além disso, tem franqueado as portas aos nossos docentes que necessi‑ tam, mercê dos seus trabalhos de investigação, da cooperação da Cáritas. Portanto, as mais­ ‑valias centram­‑se na formação prática dos alunos através de estágios curriculares e na pos‑ sibilidade de concretização de projetos de investigação. EC: Foi­‑lhe lançado o desafio de, através de um protocolo com a Editorial e a Cáritas de Bragança­‑Miranda,

premiar

a melhor tese de mestrado

da Escola. O que acha desta iniciativa?

AFRA: Trata­‑se de uma inicia‑ tiva que espero ver concre‑ tizada este ano. Julgo que, em breve, ser­‑nos­‑á apresentado


A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER

o protocolo. Considero que tem o condão de dar mais vida a uma dissertação por‑ que permitir­‑lhe­‑á sair do ni‑ cho académico e oferecer­‑lhe­ ‑á a oportunidade de exercer influência num público mais vasto. Neste último sentido, a iniciativa coloca o desafio de tornar o conhecimento acessí‑ vel e consequente num mundo que se pretende melhor. Será, ainda, um enaltecimento para o(a) estudante que vier a ser contemplado(a), para os do‑ centes e para a ESE. EC:

Pode o estímulo que ad‑

vém desta iniciativa ter impac‑

to na investigação realizada na vossa Escola?

AFRA: Sim, porque a possibi‑ lidade de publicação reforça a vontade de saber mais e, por conseguinte, de investigar com crescente exigência teórica e metodológica. Acresce, ainda, o facto de tal possibilidade mos‑ trar aos docentes e aos estu‑ dantes que os textos académi‑ cos, além da obtenção de graus, podem influenciar as vidas das pessoas e que a sua qualidade é reconhecida também por agen‑ tes conhecedores de produção conceptual e de intervenção na área da educação social. EC:

A Escola Superior de Edu‑

cação de Bragança colabora com outras instituições? Quais

AFRA: A identificação de inicia‑ tivas correria o risco de algu‑ ma omissão involuntária, dada a profusão das mesmas. Diria que, desde o seu primeiro ano de funcionamento, na segun‑ da metade da década de 80, a ESE procurou sempre a total abertura à comunidade local. Esta abertura tem­‑se concreti‑ zado através de parcerias com as instituições educativas, so‑ ciais, desportivas, culturais, ar‑ tísticas, intervenientes na área da saúde, e com organizações comerciais e empresariais. Re‑ gra geral, tais parcerias estão ao serviço da formação dos estudantes da ESE porque as‑ seguram estágios curriculares, ao serviço da investigação, ao serviço da formação e do de‑ senvolvimento das pessoas (quer as da comunidade da ESE quer as da comunidade local), ao serviço da partilha do co‑ nhecimento, e, em alguns ca‑ sos, ao serviço da partilha de recursos. Ou seja, desde a sua criação que a ESE compreen‑ deu e praticou uma vivência em rede com a comunidade local. Gosto dar o exemplo do nosso Espaço Lúdico Infantil porque permite à ESE receber, com regularidade, grupos de crianças em idade pré­‑escolar e escolar para efeitos lúdicos e formativos em diversas áreas das ciências e das artes. Caritas ´ Portuguesa

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as iniciativas que têm ao nível

do envolvimento da comunida‑ de local?

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“HUMANIZAR A SOCIEDADE” APRESENTAÇÃO DE JOAQUIM OLIVEIRA*

No passado dia 20 de Novembro, na Escola Superior de Educação de Bragança, por ocasião duma conferência promovida pela Cá‑ ritas Portuguesa, foram apresen‑ tadas duas obras relativas à ação social da Igreja: “Humanizar a sociedade” do Padre Georgino Rocha e “Pobreza e Relações hu‑ manas”, resultado de uma investi‑ gação da autoria do Padre Delfim Gomes e que o próprio subme‑ teu à reflexão dos alunos e pro‑ fessores dos Cursos de Serviço Social e Educação Social presen‑ tes no evento. “Humanizar a sociedade” é uma colectânea de textos que o Sr. Padre Georgino Rocha redigiu ao longo dos anos e que acompanha‑ ram a sua reflexão e intervenção no campo social. As propostas e ensaios contidos nesta obra abrangem um vasto leque daquilo que é a doutrina e a prática social da Igreja em Portugal. Os ensaios e testemunhos apresentados tra‑ tam, entre outros, de temas como a comunicação, a família, os valo‑ res, a intervenção junto das pes‑ soas da terceira idade, de etnia cigana ou de reclusos. 10

O Sr. Padre Georgino Rocha dedi‑ ca uma particular atenção à forma como os mais vulneráveis se po‑ dem tornar eles próprios agentes do seu processo de libertação e humanização. O conceito de par‑ ticipação é, por este motivo, uma das chaves de leitura desta obra na medida em que a qualidade e a intensidade da participação dos mais frágeis determinam a efetivi‑ dade de uma ordem social justa. Nesta perspectiva, as estruturas sociais do poder, da administra‑ ção e da propriedade só podem responder à exigência de justiça social se permitirem que cada um participe efetivamente no poder, nos direitos e nos bens instituí‑ dos por essas mesmas estruturas sociais. Para muitos seres humanos, a possibilidade de uma participação autêntica diminuiu drasticamente nos últimos tempos. O poder de decisão está cada vez mais con‑ centrado num pequeno número de organizações tecnocráticas jurídicas e económicas. Esta mo‑ nopolização do poder de decisão leva ao perigoso alastramento do sentimento de impotência que

nutre todos os extremismos. O Sr. Padre Georgino Rocha mostra que a humanização da sociedade tem de ser alicerçada na participação de todos. Tem de contar com parceiros capazes de estruturar no plano prático a sua dependência recíproca pelo meio de instituições justas. Deste modo a interdependência constitutiva da condição humana é assumida existencialmente deixando de ser imposta unilateralmente. Estender esse princípio a toda a criação, isto é, estender este cri‑ tério da participação não só à es‑ fera social mas também à esfera ecológica obriga a uma viragem radical, a uma conversão profun‑ da do nosso modo de vida e do nosso comportamento em rela‑ ção à natureza. É aquilo que o Sr. Padre Georgino Rocha chama de estilo de vida sóbrio, solidário e criativo. Neste caminho, não só a natureza deixa de ser conside‑ rada um mero objeto do qual se pode dispor sem limites mas o próprio homem assume­‑se como parceiro da natureza. “Humanizar a sociedade” não propõe apenas uma série de


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deveres pensados criteriosamente para o homem de hoje. De facto, o agir cristão pressupõe mais do que uma ética feita de obrigações sociais e impera‑ tivos heterónomos. A prática cristã supõe uma hu‑ manidade que encontra o seu alicerce na fé. É esta humanidade que descreve o Padre Georgino Rocha, uma humanidade que oferece a sua existência à luz da fé e que tem a sua origem na promessa e no futuro a que Deus chama. Não se trata apenas de um imperativo exigente mas sim de um dom que já coloca o homem no quadro do Reino que há de vir. A visão que nos oferece o Sr. Padre Georgino Rocha alicerça­‑se assim naquilo que é o específico do agir

cristão. Um agir que se entende a si próprio como consequência de um dom que o supera e excede em todas as dimensões. Um agir que acolhe e inter‑ roga a Revelação divina feita em Cristo e que tenta responder simultaneamente às exigências da razão humana e do viver em sociedade. Trata­‑se de uma visão que dá coragem, que fortalece, que procura estabelecer as condições de uma verdadeira huma‑ nização da sociedade. Caritas ´ Portuguesa

*Colaborador da Cáritas Diocesana de Vila Real

Livro: “Humanizar a Sociedade – Responsabilidade de Todos, Contributo dos Mais Vulneráveis”

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TÍTULOS PUBLICADOS O PENSAMENTO SOCIAL O Amor que Transforma o Mundo – Teologia da Caridade Moralidade Pessoal na História Humanizar a Sociedade Entre Possibilidades e Limites Cristãos Pensadores do Social Caminhos para uma vida solidária Maritain e Bento XVI: Sobre a Modernidade e o Relativismo Cuidar do Outro Pobreza e Relações Humanas Dar-se de Verdade: Para um desenvolvimento Solidário A Consciência Social da Igreja Católica AS PERSONALIDADES E AS SUAS OBRAS Cónego José M. Serrazina Protecção Social e (re)educação de Menores Criminalidade, Geração e Educação de Menores Teresa de Saldanha – A obra sócio-educativa Cartas de Ozanam Um Intelectual ao Serviço dos Pobres OS TEMAS SOCIAS Gerontologia/Gerontagogia: Animação Sociocultural em Idosos Perspectivas sobre o Envelhecimento Ativo Serviço Social e Desemprego de Longa Duração Rendimento Social de Inserção Crimes e Criminosos no norte de Portugal O SOCIAL GLOBAL Um Genocídio de Proximidade Procissão dos Passos: Uma vivência no Bairro Alto

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