Caderno de Educação Popular em Saúde - volume 2

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jetividade de uma experiência que nunca pode chegar ao seu termo, pois neste reaparece a presença que presentifica e objetiva: o sujeito. Ao contrario, se experimentamos o objeto como presença presente a si mesmo, esta experiência tão pouco se esgota na pura subjetividade, pois, na transparência desta, o corpóreo se reencontra, também, como objetividade. Eu e mundo não se erguem em frente ao outro: convocam-se, mutuamente, para a existência, que é o movimento no qual se situa e se projeta, isto é, no qual se dialetiza como efeito que se transcende e transcendência que se efetiva. O significar ativo em que o mundo é significado não se efetua como atividade de uma consciência pura subjetividade. Este significar, ao contrário, é um comportamento corpóreo-mundano e existencial no qual se constitui e reconstitui o mundo significado. O sujeito deste significar é logos e práxis. Não é um logos que ilumina o mundo como espetáculos; ilumina-se na interioridade de uma práxis que transforma. Diz o mundo num discurso que é existência. O homem não é, pois, um sujeito dentro de um mundo de objetos: é uma subjetividade encarnada numa objetividade. Isso quer dizer que, neste sentido, o mundo vai diminuindo sua opacidade e resistência, ganhando maior transparência humana, enquanto o homem vai dominando e assumindo, como fator intrínseco de sua própria renovação. É, então, quando a conscientização esboça o traçado essencial de seu movimento: o da encarnação histórica.

4. A subjetividade não se comensura com a ipseidade de um eu fechado em seu próprio mundo. Se cada consciência de seu mundo, separado dos demais mundos, a subjetividade morreria sufocada dentro de mônadas incomunicáveis. A comunicação da consciência (a intersubjetividade) supõe um mundo comum. Se cada um constituísse seu mundo, esse não poderia ser a mediação para o encontro das consciências, e estas se comunicariam sem o mundo - o que não é o caso, pois somos seres encarnados – ou não se comunicariam. Uma vez mais: as constituem em intersubjetividade originaria. Nossos caminhos pessoais são os mais diversos. Dentro deste encontro radical, podemos desencontrar-nos, quando nossas intencionalidades não têm o mesmo sentido. Porém, qualquer objetivação nossa se inserta nesse horizonte de comunidade. Não há objetividade exclusiva de uma consciência: esta é, sempre, abertura com a amplitude da universalidade. Em nossa encarnação histórica, não constituímos uma objetividade própria, somente nossa, mas participamos de uma objetividade comum. O dinamismo significante deste mundo comum, como dissemos, não é intencionalidade da consciência pura: é práxis transformadora. Significar existencialmente o mundo, num comportamento corpóreo, equivale a construí-lo. Sua elaboração, em intersubjetividade, é coloração. A encarnação no mundo coincide com a promoção mútua das consciências; uma é condição da outra, em reciprocidaNossas fontes

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