Caderno de Educação Popular em Saúde - volume 2

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ESCUTA já desenvolvia há cinco anos e que era protagonizado por jovens do grupo. Sobre esses círculos de cultura, o cirandeiro Paulo (que também era do ESCUTA e que veio posteriormente substituir a cirandeira Lúcia na condução das Cirandas) relata: Partindo de alguns problemas percebidos na comunidade, passamos a realizar o que chamávamos de banquetão. Ali juntávamos o ESCUTA e a comunidade para, a partir da exibição de filmes ou da apresentação de esquetes teatrais, iniciar debates sobre as questões trazidas com aquelas linguagens. Em um primeiro momento, logo após as apresentações, deixávamos que as pessoas falassem livremente sobre aquilo que a apresentação lhe inspirava sobre o tema em questão e as relações com a realidade vivenciada pelas pessoas que ali estavam. As crianças e os jovens sempre participavam de todas as ações.

Havia, também, outra ação que se reacendia agora, as rodas de rua – parte de várias das ações dos Círculos de Cultura Brincantes: Com base nos relatos das pessoas (que representavam grupos) que se articulavam na rede social que se fizera no lugar, o grupo de atores do ESCUTA, que realizava o Círculo de Cultura Brincante5, preparava uma esquete teatral, agora incluindo esses relatos e falas das pessoas e passavam a circular nas escolas e nas ruas da comunidade, em uma ação que chamávamos de rodas de rua. Ali 5

Círculo de cultura brincante.

se problematizava a questão tendo como referência a proposta do teatro fórum de Augusto Boal e se parava o espetáculo para ouvir da platéia sua opinião sobre como a questão se apresentava na comunidade e também suas sugestões para o enfrentamento do problema. O grupo sistematizava as questões surgidas a partir das rodas de rua e de acordo com as propostas apontadas como caminhos para enfrentar o problema, convidava pessoas ou setores que deveriam se responsabilizar por esses enfrentamentos. Isso incluía desde representantes das redes sociais da comunidade, até moradores e instituições públicas. Novamente o teatro era a forma escolhida para expressar os olhares da população sobre o que produzia os problemas e as propostas de ações para superá-los. Isso por sua vez resultava em um planejamento onde todos os presentes assumiam uma responsabilidade sobre o que foi planejado. Daqui nasceu uma proposta muito interessante - os vários movimentos do Pici passassem a atuar em rede de modo mais profundo (grifo nosso).

Retomando a fala da cirandeira Lúcia, reconstituímos os círculos de cultura, agora problematizando a violência, como situação que necessitava ser enfrentada no contexto do território pela ação protagonista de seus atores locais e das redes sociais. Ouçamos seu relato: O Pici ficou mais violento; a cada semana morrem mais jovens assassinados. Pensamos então fazer novos círculos de cultura e decidimos também fazer o mapa da violên-

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