Brasil Observer #42 - BR

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LONDRES

www.brasilobserver.co.uk

ISSN 2055-4826

SETEMBRO/2016

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EDITORIAL

Conteúdo LONDON EDITION

SEGUE O JOGO

SETEMBRO/16

Quando o Brasil Observer foi lançado, em novembro de 2013, enxergávamos um futuro razoável para o país. A ideia de crescimento econômico com distribuição de renda ainda dava frutos e a preparação para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos permitia certo entusiasmo. Quase três anos depois, o que temos é o eterno 7 a 1 e uma presidenta democraticamente eleita vítima de um impeachment no mínimo duvidoso. É verdade que lá trás o desgaste do partido governista, o PT, e da própria presidenta Dilma Rousseff já era evidente – as manifestações de junho de 2013 deixaram claro que uma mudança de rota era fundamental. Em 2014, porém, Dilma foi reeleita. E, apesar de todos os erros na condução política e econômica, Dilma tinha o direito de permanecer até 2018. Este jornal se mantém contra o impeachment de Dilma por entender que os motivos para a cassação de seu mandato não foram suficientemente fortes, o que coloca em risco nossa jovem democracia. Entendemos que pouco importa definir o processo como golpe ou não, apesar de não termos receio de dizer que, sim, tratou-se de um golpe parlamentar. De todo modo, continuaremos mantendo nossa posição crítica e honesta em relação aos temas tratados nestas páginas, respeitando sempre a verdade dos fatos. Esperamos que o Brasil possa aprender com os traumas do presente, apesar de aparentemente não ter aprendido muito com os traumas do passado. Torcemos para que nossa economia se recupere e volte a gerar empregos e bem-estar social, diminuindo nossa vergonhosa desigualdade, ainda que desconfiemos fortemente da capacidade do governo de Michel Temer. Enfim, seguiremos trabalhando para contribuir com o debate sobre o Brasil em terras britânicas.

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8 CONVIDADA

É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

Ana Toledo Diretora de Operações ana@brasilobserver.co.uk

Beatriz Garcia sobre os Jogos Rio 2016

10 REPORTAGEM

Guilherme Reis Diretor Editorial guilherme@brasilobserver.co.uk

O papel das federações empresariais no impeachment

14 REPORTAGEM

Eleições 2016 trazem novas regras, mas poucas mudanças

Roberta Schwambach Diretora Financeira roberta@brasilobserver.co.uk

16 CONECTANDO

Editor em Inglês Shaun Cumming shaun@investwrite.co.uk

A luta de uma reserva ambiental no interior de São Paulo

18 DICAS CULTURAIS

Sons brasileiros para curtir em Londres

Colaboradores Andrew Linghorn Franko Figueiredo Gabriela Lobianco Heloisa Righetto Nathália Braga Wagner de Alcântara Aragão

20 COLUNISTAS

Franko Figueiredo sobre teatro e vida Heloisa Righetto sobre feminismo

22 LONDON BY

Descubra onde comer bem em Londres

IMPRESSÃO St Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, London mohammed.faqir@stclementspress.com 10.000 cópias

Arte da Capa Márcio MFR

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Nascido no Rio de Janeiro em 1983, Izolag mudouse para Itacaré (Bahia) quando tinha 7 anos de idade. Em 2003, começou a estudar Fine Arts na Universidade Federal da Bahia, em Salvador. Durante o curso Izolag começou a pintar murais nas ruas da capital baiana, mas logo voltou sua produção para o desenvolvimento da técnica stencil, destacando-se ao usar o stencil com múltiplas cores. Papéis velhos, couro, madeira, tela, pincéis, marcadores, carcaças de diferentes fontes, muita tinta e várias técnicas que vão muito além do stencil; essas são as matériasprimas mais utilizadas pelo artista para atingir seus objetivos. Misturando passado, presente e futuro, para além dos temas que retratam o seu compromisso social, suas pinturas têm fortes influências da música, a atmosfera que se refere ao movimento musical, ritmos e formas. APOIO:

A capa desta edição foi feita por Izolag Armeidah para a Mostra BO, projeto desenvolvido pelo Brasil Observer em parceria com a Pigment e com apoio institucional da Embaixada do Brasil em Londres. Cada uma das 11 edições deste jornal em 2016 contará com uma arte em sua capa produzida por artistas brasileiros selecionados através de uma chamada pública. Em dezembro, os trabalhos serão expostos na Sala Brasil.

Design e Diagramação Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com

Para assinar contato@brasiloberver.co.uk Para sugerir pauta e colaborar editor@brasilobserver.co.uk Online 074 92 65 31 32 brasilobserver.co.uk issuu.com/brasilobserver facebook.com/brasilobserver twitter.com/brasilobserver O Brasil Observer, publicação mensal da ANAGU UK MARKETING E JORNAIS UN LIMITED (company number 08621487), não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome desta publicação. Os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que creditados ao autor e ao Brasil Observer.


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IMIGRAÇÃO

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CONVIDADA

As Olimpíadas mudaram o Rio para melhor A realidade não é tão cruel como a que foi retratada pela imprensa internacional

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Por Beatriz Garcia g

Os Jogos Olímpicos Rio 2016 mal tinham terminado e os comentaristas já lamentavam seus impactos negativos sobre a cidade-sede. Muitos concluíram que um legado duradouro é incerto – ou mesmo impossível. Visões tristes e melancólicas são excelentes para produzir manchetes dramáticas. A realidade, porém, não é tão sombria. A imprensa internacional sempre foi pessimista sobre a capacidade do Brasil de sediar os Jogos Olímpicos. Antes dos jogos, diversos artigos criticaram os preparativos, condenaram os despejos forçados e lançaram dúvidas sobre a entrega de obras dentro do cronograma. É certo que, no contexto da atual crise econômica e turbulência política, havia – e ainda há – uma série de motivos plausíveis para preocupação. Mas é importante não tomar as controvérsias como a única fonte de verdade. Uma vez que os jogos começaram, a cidade ganhou uma pausa e o foco mudou para as maravilhas do esporte – e a obsessiva contagem de medalhas. Mas mesmo depois de muitos terem sido tomados pela emoção dos jogos em si, não demorou muito para que as críticas retornassem. Em contraste com este quadro desolador, minha própria investigação sobre o Rio ao longo dos jogos, com base em um quadro que interroga as dimensões culturais destes bem como as de oito cidades anfitriãs desde Sydney 2000, revela uma dimensão diferente.

A ARTE DO PROGRESSO As pessoas com quem falei estavam frustradas com o fato de as histórias positivas de mudanças urbanas, sociais e culturais no Rio não estarem sendo exploradas pelos jornalistas. Isso ficou especialmente claro nas favelas onde realizei a maior parte de minha pesquisa. Esses locais atraíram a atenção mundial por conta de suas más condições de vida e elevadas taxas de criminalidade associadas ao tráfico de drogas. Ainda que as disputadas entre facções internas tenham gerado violência por décadas, os moradores das favelas ressaltam que também fazem parte de comunidades fortes e otimistas. Aqueles que estão fora das rivalidades entre gangues dizem que se sentem seguros em suas comunidades, e que a cultura e a criatividade sempre foram uma fonte de empoderamento. Ativistas culturais como DJ Zezinho e Obi Wan me disseram que estavam fartos de serem convidados a falar sobre tudo o que está errado no Rio. Eles disseram que a vida na comunidade onde moram está prosperando e que as oportunidades estão se abrindo para os residentes como Obi Wan, que recebeu uma bolsa para estudar em uma escola particular e que agora está administrando um hostel e um tour pela favela.

Artistas (locais e adotados) também trouxeram mudanças positivas. O fotógrafo francês JR assumiu um papel de destaque em uma série de projetos nos Jogos Olímpicos. Seu trabalho variou entre a instalação de fotos gigantes InsideOut e pequenas intervenções com foco comunitário – como no centro cultural Casa Amarela, em uma das favelas mais antigas do Rio. Além disso, as primeiras bibliotecas com base nas favelas estão se abrindo, e a nova linha de metrô vai melhorar a acessibilidade à favela da Rocinha. Os moradores estão esperançosos de que isso vai finalmente deixar claro que as favelas são verdadeiramente parte do Rio – não eram reconhecidas em mapas oficiais até 2013. Obviamente, as reações dos moradores não são todas positivas. Um morador da Rocinha salientou: “Nós não estamos autorizados a utilizar o metrô até depois dos jogos – no momento, apenas os detentores de ingressos podem usar”. Mas, com o projeto de pacificação das favelas – uma iniciativa controversa, mas transformadora no combate ao crime –, ninguém nega que os jogos têm ajudado no avanço de importantes causas sociais e na construção de importantes obras públicas. Não são apenas os moradores das favelas que estão sentindo alguns benefícios de sediar os jogos. Apesar da reputação de ser uma cidade de grande desigualdade, o Rio tem uma classe média substancial. Entre 60% e 75% de sua população vive em quatro grandes distritos: o Centro, a Zona Sul, a Zona Norte e os subúrbios da Zona Oeste. Esta última inclui a Barra da Tijuca, que hospeda o Parque Olímpico e que está em rápido desenvolvimento. Os Jogos Olímpicos têm dado aos moradores de classe média do Rio de Janeiro – particularmente aqueles do Centro e da Zona Norte – a chance de participar do debate sobre o tipo de cidade que o Rio é e pode ser.

ÁREA REVITALIZADA Tanto as autoridades locais quanto olímpicas têm destacado o fato de que 63% da população têm agora acesso a transportes públicos (ante 18% há sete anos). Mas igualmente importante (e culturalmente mais significativo) é a redescoberta de espaços públicos. Assim como Barcelona redescobriu seu porto durante os Jogos Olímpicos de 1992, o Rio se reconectou com o Porto Maravilha. O porto faz fronteira com a região central, uma área cheia de trabalhadores durante os dias de semana. Até recentemente, a região tinha poucos espaços públicos, sendo considerada insegura e não atraente durante os fins de semana. Isso mudou dramaticamente durante os Jogos

Olímpicos (e vai continuar nas Paralimpíadas). O Porto Maravilha foi rebatizado como Boulevard Olímpico – e, de repente, é um lugar para estar. Local onde os fãs podem assistir aos jogos em telas grandes, o Boulevard Olímpico deve seu sucesso à combinação entre diversificada oferta cultural (incluindo o novo Museu do Amanhã e o renovado Museu da Arte) e entretenimento. Além disso, a área atrai uma enxurrada de artistas de rua (cinco até agora) para realizar graffitis imensos em seus muros. E pela segunda vez – após os Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, em 2010 – a pira olímpica foi colocada fora do estádio, dando àqueles sem ingresso a oportunidade de experimentar um dos ícones mais reconhecidos dos jogos. Assim, os cariocas se reuniram aos milhares no Boulevard Olímpico. Eles abraçaram totalmente essa nova parte da cidade: não haverá elefantes brancos aqui. O porto passou, em questão de meses, a ser uma área que deve ser visitada, dada a sua posição como ponto de encontro, se tornando um dos locais públicos mais animados e diversos da cidade.

UM LEGADO DURADOURO O Parque Madureira, na zona norte da cidade, é outro exemplo de regeneração urbana que deixa um legado positivo para a comunidade local. Localizado em uma área densamente povoada, de baixa renda e dominada pela infraestrutura industrial, este novo parque trouxe vegetação, instalações esportivas e uma nova vida cultural a um bairro de mais de 350.000 pessoas. O Rio é uma cidade grande. Com atividades olímpicas espalhadas por seus quatro distritos principais, os fãs foram forçados a gastar uma parte considerável de seus dias no trânsito. Por isso, foram expostos a muitos lados do Rio, além das praias de Copacabana e das favelas. Acima de tudo, os jogos mostraram o espírito generoso dos cariocas. No Rio, testemunhei a emoção dos habitantes locais ao descobrir novos espaços de lazer; o prazer de se misturar com pessoas de outros bairros – muitas vezes pela primeira vez, por conta da divisão econômica norte-sul –; e a não aceitação em ser reduzido a estereótipos e condenado a repetir os mesmos erros sociais e culturais do passado. Há dificuldades pela frente: o país ainda enfrenta recessão econômica e turbulência política. Mas os Jogos Olímpicos abriram novos espaços públicos, dando a todos a chance de gerar memórias coletivas positivas. Em vez de assumir uma atitude derrotista, há muito a ser ganho prestando atenção ao que está dando certo no Rio.


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Beatriz Garcia é diretora do Instituto de Capital Cultural da Universidade de Liverpool e realiza uma pesquisa no Rio de Janeiro financiada parcialmente pelo Comitê Olímpico Internacional. Este artigo foi publicado originalmente em www.theconversation.com

Alexandre Macieira/Riotur

Boulevard Olímpico

Tomaz Silva/Agência Brasil

Caldeirão Olímpico Tânia Rêgo/Agência Brasil

Parque Madureira

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REPORTAGEM

Como as federações empresariais se articularam pelo impeachment

Repórter da Agência Pública checou a atuação de dez federações estaduais pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff; metade participou dos movimentos pró-impeachment Por Alice Maciel, da Agência Pública www.apublica.org

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Empresários de todos os cantos do país desembarcaram em Brasília nos meses de março e abril com uma missão definida: visitar deputados de seus estados e convencê-los a votar pela abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Eles se espalharam discretamente pelos corredores do Congresso em busca de votos, principalmente de parlamentares indecisos. Na avaliação dos representantes dos empresários, o lobby, liderado pelos sindicatos patronais, surtiu efeito. “Foi uma viagem muito produtiva não só pelos resultados como pela mobilização em si. Fizemos um trabalho de corpo a corpo com os parlamentares paranaenses e chegamos a ir à casa de um deles, que estava indeciso”, relatou Elaine Rodrigues de Paula Reis, diretora do Sindicato das Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado do Paraná (Sinqfar). Ela integrou a comitiva da Fiep, formada por 50 lideranças empresariais, à capital federal no dia 17 de abril, quando a

votação na Câmara abriu caminho para o processo de impeachment. De acordo com o presidente da Fiep, Edson Campagnolo, pelo menos seis votos foram revertidos “graças à mobilização da população e ao trabalho dos empresários”. Os sindicatos dos patrões também foram para o front nas ruas. Enquanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT) liderava o movimento contrário ao impeachment, os empresários usaram diversos recursos para incentivar as manifestações pela saída de Dilma da Presidência. A Pública foi atrás dessas histórias para mostrar como o setor empresarial atuou no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O levantamento foi feito nas dez principais federações de indústrias do país. As entidades de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Rio de Janeiro declararam apoio formal. No Espírito Santo, apesar de o presidente Marcos Guerra ser favorável ao impeachment, a entidade não se manifestou. A Federação das Indústrias


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Reprodução/Facebook

Prédio da Fiesp em São Paulo se transformou em ponto de encontro das manifestações a favor do impeachment de Dilma

A Fiesp foi além. Montou uma infraestrutura na frente da sua sede, na Avenida Paulista, para receber manifestantes favoráveis ao processo e publicou um anúncio de 14 páginas no primeiro caderno dos principais jornais do país defendendo “Impeachment Já”. Outra rodada publicitária foi feita em 21 estados com a divulgação de foto, telefone e páginas do Facebook dos parlamentares para pressioná-los durante a votação. Centenas de entidades patronais também apoiaram a campanha, liderada pela Fiesp. A orientação para que os empresários fossem atrás dos parlamentares de seus estados partiu da entidade paulista e da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). “Todos nós vamos nos concentrar em conscientizar os parlamentares de que o país quer o impeachment. Um deputado deve representar o povo, e eu creio que qualquer parlamentar de bem, pensando no povo, vai fazer isso o mais rapidamente possível, para dar uma oxigenação e um plano para o país sair de um ciclo vicioso”, declarou Skaf, depois de uma reunião com cerca de 300 líderes empresariais, na sede da Fiesp, transmitida online para as federações da indústria dos estados da Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Pará e Paraná. No mesmo dia, o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa, declarou seu apoio ao processo e também defendeu que os empresários exercessem pressão no Congresso. “[Vamos] mostrar aos parlamentares a obrigação deles, de votar para o Brasil, mudando a presidente do Brasil o mais rapidamente possível. Não podemos continuar nessa pasmaceira”, disse.

PRESSÃO EM CASA

do Estado de Pernambuco (Fiepe) informou que “a grande maioria dos sindicatos presentes na casa apoiou o movimento”, no entanto a instituição não se posicionou. As federações de Minas Gerais e da Bahia se mantiveram neutras. Insatisfeitos com os rumos que a economia vinha tomando no governo petista, o setor produtivo viu-se contemplado pelo discurso do vice-presidente, Michel Temer (PMDB): “O governo por si só não pode ser populista apenas para inchar a máquina do Estado, mas deve ser participativo, e essa participação vem precisamente da iniciativa privada que hoje, convenhamos, está muito decepcionada. Eu compreendo as decepções dos empresários”, defendeu Temer durante evento de lançamento da Caravana da Unidade do PMDB, em Curitiba, no dia 28 de janeiro. E seguiu repetindo bordões que soaram como música no ouvido do empresariado: “A iniciativa privada tem que ser prestigiada porque ela garante o emprego do nosso país”; “a iniciativa

privada que é a força motriz do próprio governo”. No mesmo encontro, com a presença de diversos setores da sociedade civil, Temer divulgou o que se tornaria a plataforma de seu governo, o documento “Ponte para o futuro”. Lançado oficialmente como programa do PMDB para a crise econômica, ele tem como principal proposta uma política de desenvolvimento centrada na iniciativa privada. O primeiro representante dos empresários a defender o impeachment foi um aliado de Temer, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf, em declaração feita no dia 14 de dezembro do ano passado. Desde então, tornou-se um militante da causa e articulador do processo junto ao empresariado. A sede da Fiesp se transformou em ponto de manifestações favoráveis ao impeachment, e o famoso pato inflável, criado para a campanha contra aumento de impostos, virou símbolo contra o governo da petista.

A Pública conversou com alguns senadores depois de a Casa ter decidido pela continuidade do processo contra a presidente afastada. Eles estavam reunidos no plenário nº2, na Ala Senador Nilo Coelho, para votar a Medida Provisória 726/2016, editada em 12 de maio pelo presidente interino Michel Temer, extinguindo nove ministérios: Cultura; Comunicação; Desenvolvimento Agrário; Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos; Portos; Aviação Civil; Comunicação Social; Casa Militar; e Controladoria-Geral da União (CGU). A líder do governo de Michel Temer no Congresso Nacional, senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), fez questão de destacar que o impeachment da presidente Dilma Rousseff “não teve as digitais do setor das indústrias”. Já o relator do processo de impeachment no Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), afirma não ter visto mobilização alguma, nem contra nem a favor. Ele alegou ter passado os últimos meses apenas trabalhando junto à equipe de consultoria do Senado. O deputado federal Leonardo Quintão (PMDB -MG) defendeu que o impeachment não foi um movimento de setores. Já na análise do presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá, o impeachment é o resultado do movimento popular e de setores organizados. Como a senadora Rose, tanto Jucá como Quintão admitem ter sofrido pressão, mas garantem que a mobilização da população insatisfeita com o governo pesou mais no

resultado do processo do que a mobilização dos empresários, liderados pelas federações de indústrias. “O setor econômico tem uma força peculiar. Porque representa setores produtivos, mas não tem voto, não tem capacidade de mobilização. Eu diria que tem mais organização, mais proposição técnica. No caso dos setores sociais, eles fazem mais barulho, têm mais representatividade política eleitoral, geram mais desgaste para os parlamentares que estão contra as ideias deles”, afirmou Jucá. Fato é que, com fácil acesso aos gabinetes de Brasília, a pressão dos sindicatos patronais chegou com força ao Congresso. Os empresários goianos foram recebidos na Câmara pelos deputados Heuler Cruvinel (PSD), Alexandre Baldy (PTN), Flávia Morais (PDT), Pedro Chaves (PMDB), Daniel Vilela (PMDB), Thiago Peixoto (PSD), Delegado Waldir (PR), Giuseppe Vecci (PSDB), Marcos Abrão (PPS) e Magda Mofatto (PR) e pelos senadores Ronaldo Caiado (DEM) e Lúcia Vânia (PSB); todos parlamentares de Goiás. “Fomos muito bem recebidos e tivemos total êxito”, comemorou o presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás, Euclides Barbo Siqueira. Para retribuir, o Fórum das Entidades Empresariais do Estado de Goiás e o Fórum Goiano da Habitação realizaram, em 25 de abril, um jantar para os deputados federais que votaram pela saída de Dilma da Presidência. Entre os presentes, o relator do processo de impeachment na Câmara, deputado federal Jovair Arantes (PTB). “Fiquei muito honrado por hoje, isso nos dá mais força para trabalhar”, afirmou o parlamentar durante o evento. Os senadores que votaram favoravelmente ao impeachment também foram presenteados com um almoço oferecido pela Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), no dia 23 de maio. Já os deputados de Santa Catarina receberam o recado durante reunião do Fórum Parlamentar Catarinense com o Conselho das Federações Empresariais de Santa Catarina, que ocorreu em Brasília no dia 23 de março. Dos 16 deputados federais do estado, 10 são empresários, de acordo com estudo do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. A capital catarinense foi um dos municípios visitados por Temer com a Caravana da Unidade em fevereiro. Na ocasião, Michel Temer participou de um painel com representantes dos setores produtivos na Federação das Indústrias do Estado (Fiesc). Em março, a Fiesc divulgou manifesto pedindo um novo governo. O lobby setorial também atuou. Quatro dias antes da votação na Câmara, mais de 150 líderes e empresários do transporte rodoviário de cargas do país desembarcaram em Brasília “para visitar os deputados federais de suas respectivas regiões e reforçar o posicionamento do setor”. “Foi uma iniciativa muito positiva porque tínhamos representantes de vários estados presentes nesse trabalho dentro do Congresso. O posicionamento do setor, que já era de conhecimento público pela nota divulgada, foi reforçado pessoalmente com os parlamentares, e todos se mostraram extremamente receptivos”, comentou o empresário José Hélio Fernandes.


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RELAÇÕES E DOAÇÕES Não só os interesses de classe mobilizam os sindicatos patronais. As relações político-partidárias permeiam as federações de indústrias e a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para se ter uma ideia, só em 2010, depois de 30 anos, a CNI elegeu seu primeiro presidente não parlamentar. Robson Braga assumiu a vaga no lugar de Armando Monteiro, hoje senador pelo PTB de Pernambuco. Armando Monteiro foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior de Dilma Rousseff e, apesar de ser referência para os interesses da entidade no Senado, foi um dos poucos empresários que se mantiveram ao lado da presidente e votou contra o processo de impeachment. Já Robson Braga assinou uma carta aberta destinada aos deputados federais, três dias antes da votação do impeachment na Câmara, em que dizia: “É hora de mudar”. A diretoria da CNI conta ainda com Paulo Skaf na vice-presidência, que também está à frente da Fiesp e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Aliado de Michel Temer, Skaf tornou-se cacique peemedebista já no comando das instituições paulistas, onde está desde 2004. Em 2014, ele chegou a disputar uma vaga ao governo de São Paulo e recebeu R$ 236,3 mil de doação de dirigentes da Fiesp. A Pública fez um levantamento na diretoria das dez maiores federações para entender as relações dos dirigentes com os partidos políticos. Em todas, há diretores que fizeram doações nas últimas eleições. Em Minas e São Paulo, o número de doadores foi mais expressivo, 12 e 26, respectivamente. Na Fiesp, além de Skaf, outro vice -presidente, Josué Gomes (PMDB-MG), filho do ex-vice-presidente José Alencar, também disputou as eleições. Ele concorreu a uma vaga de Minas no Senado. Josué recebeu doações de representantes da Fiesp no valor de R$ 140 mil. Ao todo, os empresários da instituição paulista doaram R$ 4,8 milhões para campanhas de 2014, e a maior parcela foi para candidatos do PMDB: R$ 3,7 milhões. O restante das doações foi distribuído da seguinte maneira: R$ 348,17 mil para o PDT, R$ 92 mil para o PROS, R$ 341,22 mil para o PSD, 34 mil para o PSDB, 12,9 mil para o PCdoB, R$ 2,12 mil para o PRB, R$ 250,96 mil para o PT, R$ 20 mil para o PTB e R$ 10 mil para o SD. Paulo Skaf e Josué Gomes também receberam doações de dirigentes da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Foram R$ 35 mil doados pelo vice-presidente, Aguinaldo Diniz Filho. Outros 11 diretores da entidade mineira doaram ainda R$ 25 mil para candidatos do PSDB, R$ 5 mil para os do PT, R$ 20 mil para os do PSD, R$ 1,5 mil para os do PTN, R$ 5 mil os do PHS e R$ 42,9 mil para os do PPS. A Fiemg é presidida por Olavo Machado Júnior desde 2010, quando substituiu Robson Braga. O presidente da Fiemg Regional Vale do Rio Grande, Altamir Rôso, é do PMDB e foi secretário de Desenvolvimento Econômico do es-

tado. Sua pasta foi extinta na reforma administrativa do governador Fernando Pimentel (PT), em julho. Apesar do rompimento nacional, em Minas o PMDB, partido do vice-governador do estado, Antonio Andrade (PMDB), se mantém na base de governo petista. O que sugere uma explicação para o fato de a Fiemg ter se mantido oficialmente isenta do processo de impeachment. Já no Rio de Janeiro, apenas o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa, que está há 21 anos na direção da entidade, e o vice-presidente, Carlos Mariani Bittencourt, fizeram doações nas eleições de 2014, sendo as duas destinadas a Skaf, totalizando R$ 20 mil. No mesmo ano, a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) reelegeu um de seus dirigentes, José Antônio Vitti (PSDB), para a Assembleia Legislativa do estado. Na entidade, as doações foram mais distribuídas entre os partidos. Candidatos do PDT, DEM, PMDB, PR, PTB, PV, PSL e PSD foram contemplados com recursos de cinco representantes. Doações para o PT só vieram do Rio Grande do Sul (R$ 11,7 mil), Minas Gerais (R$ 5 mil), São Paulo (R$ 250 mil) e Bahia (R$ 1 mil). Das legendas que receberam doações, o PCdoB foi o menos agraciado, com apenas R$ 3 mil, que vieram de São Paulo. Já o PMDB foi o que mais recebeu doações. Além de São Paulo, Minas, Rio e Goiás, representantes de Santa Catarina e Paraná financiaram candidatos da legenda.

BANCADA EMPRESARIAL A bancada empresarial é a maior do Congresso, com 251 representantes – 221 deputados e 30 senadores, de acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Ela, no entanto, perdeu representantes em relação à legislatura passada, quando eram 273. Apenas PSOL, PCdoB, PSDC e PEN não possuem empresários em suas bancadas. Entre os cem políticos apontados pelo Diap como os mais influentes no Parlamento brasileiro, 30 são empresários. O PMDB é hoje o partido com mais parlamentares na bancada, 34 deputados e 10 senadores, seguidos de PSDB, com 28 deputados e 10 senadores, e PP, com 26 deputados e 3 senadores. Isso significa que metade dos parlamentares do PMDB são proprietários de estabelecimentos comerciais, industriais, de prestação de serviços ou do segmento rural. O levantamento do Diap mostra também que não é recente a proximidade do PMDB com os patrões. Desde a legislatura 19911995, quando a entidade iniciou esse estudo, os peemedebistas estão entre os principais representantes do setor. Com coordenação da CNI, a bancada empresarial conta com uma agenda de projetos prioritários para o setor composta de 121 proposições, sendo 14 pautas mínimas, que são um conjunto de temas prioritários e de maior impacto para o setor. A exclusão da obrigatoriedade de participação mínima da Petrobras na exploração de petróleo em

O “pato da Fiesp” se transformou em um dos maiores símbolos das manifestações a favor do impeachment de Dilma

áreas do pré-sal (PLS 131/2015), novas regras para o licenciamento ambiental (PL 3.729/2004) e regulamentação da terceirização (PLC 30/2015) são algumas das propostas apresentadas como urgentes para os empresários.

A CNI monitora todos os projetos que tramitam no Congresso Nacional. O Conselho de Assuntos Legislativos (Coal), comandado por Paulo Afonso Ferreira, ex-presidente da Fieg, é o setor responsável por esse acompanhamento e conta com uma equipe de executivos que estão em contato direto com parlamentares e autoridades do governo. “Os responsáveis pelo lobby da CNI estão alocados na Coal”, destaca Andréa Cristina de Jesus Oliveira em tese de doutorado apresentada na Universidade de Campinas: “Lobby e representação de interesse: lobistas e seu impacto sobre a representação de interesse no Brasil”. No estudo ela observa que o Coal tem como função monitorar, influenciar, informar e elaborar estudos que subsidiem sua ação e ao mesmo tempo sejam fonte de informações para os parlamentares. Além do acompanhamento dos projetos positivos e negativos para as indústrias, de acordo com Andréa, a CNI também faz um monitoramento político para identificar aliados e inimigos das causas defendidas, “além das lideranças políticas mais atuantes no Congresso Nacional e as pessoas que ocupam papéis-chave no governo”. Como exemplo, o deputado federal André Moura (PSC), em agosto, participou de uma reunião do Coal da CNI e recebeu elogios de Paulo Afonso: “André Moura [PSC] é desbravador de projetos que estavam parados há tempos na Câmara. Quando a proposta cai nas mãos dele, sabemos que ela vai andar”. “Os lobistas da Coal são os responsáveis pelo corpo a corpo da CNI. No

entanto, há uma questão a ressaltar: os lobistas da Coal jamais serão vistos interpelando parlamentares durante a votação de determinado projeto”, observa Andréa. De acordo com ela, os lobistas preferem atuar nas comissões, quando o projeto está começando a tramitar. O Coal possui alguns canais de comunicação com os empresários. Entre eles, o Legisdata, um “banco de dados voltado às ações do Congresso Nacional, que permite acompanhar as proposições legislativas do interesse do setor industrial. Contém informações sobre tramitação, sínteses executivas, íntegra dos textos e pareceres indicativos do posicionamento da CNI”. Os usuários das informações também podem emitir suas opiniões. O monitoramento é realizado pelas federações de indústrias nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. “Através do monitoramento, a Assessoria faz um mapeamento de todos os projetos de lei que são apresentados nas Casas Legislativas. As proposições de interesse da indústria mineira são cadastradas e classificadas no SisCOAL (Sistema de Acompanhamento do Processo Legislativo). Além do monitoramento virtual, são acompanhadas presencialmente as reuniões de Plenário, das Comissões, bem como as Audiências Públicas. A atuação é o contato direto do setor produtivo com o Legislativo. Ela possibilitará o entendimento para que as leis propostas estejam de acordo com a realidade industrial. A Assessoria de Assuntos Legislativos atua como órgão intermediador junto ao Poder Legislativo, apresentando ao autor de determinado projeto de lei bem como para os relatores designados nas Comissões as sugestões do setor industrial”, informa a Fiemg.


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Lucio Bernardo Jr./ Câmara dos Deputados

Tulipa Ruiz + DJ D.Vyzor Quinta-Feira 8 de Setembro Rich Mix comono.co.uk

MARIA Acesso privilegiado à ‘Casa do Povo’ Fotos de representantes dos sindicatos patronais em Brasília foram divulgadas nas páginas das entidades na internet. As imagens mostram os empresários em gabinetes e até mesmo no plenário da Câmara. Os líderes empresariais, que foram à capital federal pedir o impeachment, exaltam a recepção dos parlamentares. Se para eles a “Casa do Povo” está aberta e o acesso aos deputados e senadores não oferece obstáculos, para outras classes da sociedade brasileira, a recepção é outra. No mesmo dia em que os senadores votavam o relatório da Comissão Especial do Impeachment , 9 de agosto, cerca de 200 lideranças indígenas, quilombolas, pescadores e extrativistas ocuparam o auditório Nereu Ramos, anexo II da Câmara, após audiência em homenagem ao Dia Internacional dos Povos Indígenas. Deixaram o local por volta das 22h30, depois de acordado que seriam recebidos pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, às 10h30 do dia seguinte. “Na minha tribo, a palavra é o que vale, aqui é o papel. Por isso viemos trazer um papel para o presidente”, afirmou o cacique Nailton Muniz Pataxó Hã-Hã-Hãe, do município de Pau Brasil, no sul da Bahia. O documento, entre outras pautas, pede o fim da CPI da Funai e o arquivamento da PEC 215, que, se aprovada, inviabilizaria as demarcações de terras indígenas.

Eles chegaram à Câmara na hora marcada, mas só foram recebidos duas horas depois, por volta de 12h30 do dia 10. Isso porque antes deles, às 11h, Rodrigo Maia recebeu o diretor-presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, e parlamentares da Frente Parlamentar das Micro e Pequenas Empresas. “Quando chegamos aqui nessa Casa que tem uma obrigação de nos receber, enfrentamos dificuldades para entrar”, afirmou o cacique enquanto aguardava a reunião com Maia. “Às vezes a gente se sente muito constrangido porque há uma má- fé em relação a nos receber e em relação à aceitação de nossa reivindicação”, acrescentou. “A forma que o empresário chega e tem espaço para dialogar na Casa, tem espaço para entrar na Casa, para sair da Casa na hora que eles querem. Mas nós, comunidades tradicionais, quando entramos aqui, existe ali fora uma barreira para impedir a nossa entrada. Ai de nós se não trouxermos documentos, se não viermos com a roupa adequada, porque se não nós não vamos entrar”, disse a representante da Articulação Nacional de Quilombos, Fátima Barros. De acordo com ela, Rodrigo Maia comprometeu-se a não colocar a PEC 215 em votação e a não prorrogar a CPI contra a Funai e o Incra. “Ele não tomará a decisão sozinho, mas ele disse que não vai ouvir só um lado”, contou.

DOMINGO 23 DE OUTUBRO

‘Sublime’ The Times “Mágico” The Independent

Segunda-Feira 26 de Setembro

ANTÓNIO ZAMBU O TERÇA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO UNION CHAPEL COMONO.CO.UK


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Poucas chances para o novo Brasileiros vão às urnas dia 2 de outubro para escolher prefeitos e vereadores. Novas regras eleitorais, porém, não tendem a favorecer renovação política Por Wagner de Alcântara Aragão

Uma campanha mais curta, mais discreta e, em tese, mais barata. É o que se espera das eleições municipais deste ano, depois da minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso Nacional em 2015. Apesar de alguns avanços – como o fim do financiamento empresarial de campanhas –, as mudanças devem frustrar aqueles quem almejam renovação política e práticas mais legítimas e éticas. Para o cientista político Emerson Urizzi Cervi, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o tempo menor de campanha se torna um obstáculo para que candidatos menos conhecidos consigam se comunicar e expor suas propostas para o eleitor. A campanha deste ano (iniciada em 16 de agosto) terá 45 dias de duração, metade dos 90 dias das eleições anteriores. Além disso, a propaganda eleitoral no rádio e na televisão também foi reduzida. “[As mudanças na legislação eleitoral] beneficiam aqueles que já são conhecidos. Assim, ou o eleitor vota naquele que está disputando a reeleição ou as opções são esportistas, figuras dos meios de comunicação ou religiosos, que já são conhecidos”, assinala Cervi, em entrevista ao Brasil Observer. “O que a reforma eleitoral fez foi diminuir as opções reais para o eleitor. Depois não adianta reclamar da alta taxa de reeleição ou do crescimento de pastores na política”, critica o professor da UFPR.

DEBATES Dos debates eleitorais, principalmente aqueles promovidos por emissoras de televisão, dificilmente se deve esperar um foro consistente de discussão de ideias e propostas. A começar pelo horário em que são realizados e transmitidos – geralmente depois das 10pm, avançando pelo início da madrugada. A maior parte da

população, que precisa acordar cedo para trabalhar e estudar, acaba não tendo condições de acompanhar esses encontros. Além do horário pouco adequado, as regras costumam engessar as discussões. O que se têm, normalmente, são exposições curtas feitas pelos candidatos, ensaiadas com assessores, dentro de temas preestabelecidos e generalistas. Apenas no segundo turno há maior possibilidade de confrontos, mas dos 5.568 municípios brasileiros, só 92 contam com mais de 200 mil eleitores, onde é possível ocorrer uma segunda votação entre os dois candidatos a prefeito com maior número de votos no primeiro turno.

PARTICIPAÇÕES A minirreforma eleitoral aprovada em 2015 também tornou a participação de candidatos nos debates mais restrita. Pela nova legislação eleitoral, os organizadores dos debates só são obrigados a convidar candidatos de partidos com mais de nove parlamentares na Câmara dos Deputados. A inclusão de nomes de agremiações que não atendam a esse requisito dependia da concordância dos concorrentes. Essa restrição chegou a ser derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 25 de agosto último – quando a Corte julgou procedentes quatro ações diretas de inconstitucionalidade que questionavam tal limitação. “A possibilidade de a emissora convidar para debate eleitoral candidato não apto pela lei, sem a necessidade da concordância dos demais candidatos, pode sim trazer maior densidade democrática ao processo eleitoral”, declarou o ministro do STF Dias Toffoli, relator das ações, junto com a ministra Rosa Weber. “A regulação normativa não pode comprometer

o debate público, sob pena de transgredir a democracia deliberativa, o que culminaria por aniquilar o direito básico que impõe ao Estado respeito ao princípio de igualdade de oportunidades”, acompanhou o ministro Celso de Mello. Mesmo assim, em dois dos principais debates de televisão, promovidos pela emissora Band em São Paulo (no dia 22 de agosto) e no Rio de Janeiro (no mesmo dia 25 da apreciação das ações pelo STF), os candidatos do Psol – Luiza Erundina, na capital paulista, e Marcelo Freixo, no Rio – não puderam participar. Vale ressaltar que tanto Erundina quanto Freixo são apontados por pesquisas de opinião como fortes concorrentes nas respectivas disputas.

CONJUNTURA Não bastasse o período menor de campanha eleitoral, o começo dela coincidiu com o momento em que as atenções do país no campo político estavam voltadas para o julgamento do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Em que pese esse contexto, o cientista político Emerson Cervi acredita que a conjuntura nacional não deve ter impacto mais significativo no pleito de outubro próximo. “Não creio. As eleições são municipais, onde as questões nacionais estão muito distantes para mais de 90% dos municípios”, afirma ao Brasil Observer. “No Brasil, 50% dos municípios têm até 20 mil eleitores, ou seja, são muito pequenos e a eleição municipal serve para discutir as questões locais. Dos quase 5.600 municípios apenas 92 têm segundo turno, ou seja, é uma eleição em que as disputas dos grupos locais importam mais que a conjuntura nacional.”

ESPECTROS Diante do impeachment da presidente Dilma Rousseff e do ressurgimento das forças de centro-direita e direita, que espectro político deve sair fortalecido das eleições municipais de outubro? De acordo com o professor da UFPR, difícil cravar um diagnóstico. “Em geral a esquerda está com um discurso cansado no Brasil, assim como no resto do mundo. Na Europa a extrema direita cresce no descontentamento do cidadão comum. No Brasil o fenômeno é parecido”, compara Cervi. A pulverização partidária, realidade brasileira, complica traçar uma projeção. Todavia, o momento parece mais favorável às forças conservadoras. “Como há muitos partidos [disputando as eleições municipais], não é possível antecipar qual deles deve ter vantagem. O que se espera é [maior vantagem para] os pequenos e médios partidos de centro-direita e direita”, aponta o cientista política.

LIDERANÇAS Uma constatação praticamente unânime entre os analistas políticos é a escassez de lideranças marcantes – pior que isso, a absoluta falta de perspectivas de surgimento de novas, em curto prazo. O atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), que tenta a reeleição, e do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), costumam ser apontados como lideranças potenciais – por administrarem as duas maiores cidades do país.


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Backstage_ZecaPagodinho_Jornal_Observer_Bleeds_v01.pdf

PRINCIPAIS MUDANÇAS

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

A consolidação dessa força, no entanto, vai depender do desempenho de ambos nas eleições deste ano. Haddad, segundo as primeiras pesquisas eleitorais, terá dificuldade para se reeleger – Celso Russomano (PRB) e a ex-prefeita Marta Suplicy (PMDB) lideram a disputa; o atual prefeito divide a terceira colocação com a também ex-prefeita Luiza Erundina (Psol). Mas o chefe do Executivo paulistano tende a crescer no decorrer da campanha e, passando ao segundo turno, chega com força. Já Eduardo Paes está em seu segundo mandato, de modo que não pode ser eleito novamente desta vez. O candidato o qual apoia, Pedro Paulo (PMDB), por ora não atinge os dois dígitos de intenção de voto em pesquisas – o senador Marcelo Crivella (PRB), o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) estão à frente do candidato de Paes. Conforme a campanha for avançando e a população associando o nome de Pedro Paulo ao de Paes, é provável que o peemedebista melhore nas pesquisas. De qualquer forma, na avaliação do professor Emerson Cervi, é muito difícil que das eleições municipais deste ano surja uma figura que se alce logo à condição de liderança nacional. “Na história eleitoral do Brasil poucos prefeitos conseguiram projeção nacional diretamente. Normalmente a Prefeitura é o ponto de partida para o Congresso ou Governo do Estado, e a partir daí para o cenário nacional. O que os prefeitos fazem é, no máximo, conseguir se reeleger. Se fizer isso, já está de bom tamanho para eles”, considera o cientista político.

Principais regras estabelecidas pela minirreforma eleitoral: g

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Filiação partidária: até 2 de abril último (antes o cidadão precisava estar filiado a um partido político um ano antes do pleito) Período de campanha: 45 dias (antes eram 90 dias) O período de propaganda dos candidatos no rádio e na televisão também foi diminuído, de 45 para 35 dias, com início em 26 de agosto, no primeiro turno. A campanha terá dois blocos no rádio e dois na televisão com dez minutos cada. Além dos blocos, os partidos terão direito a 70 minutos diários em inserções, que serão distribuídos entre os candidatos a prefeito (60%) e vereadores (40%). Em 2016, essas inserções somente poderão ser de 30 ou 60 segundos cada uma. Financiamento empresarial a candidatos está proibido. Só é permitido o financiamento de pessoas físicas (no máximo 10% do rendimento bruto do doador) e, ainda, por meio de recursos do Fundo Partidário. As candidaturas terão teto máximo para as despesas definido com base nos maiores gastos declarados nas eleições municipais de 2012 (dentro da respectiva circunscrição eleitoral).

NÚMEROS DAS ELEIÇÕES DESTE ANO

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

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144.088.912 eleitores no Brasil 5.568 municípios 92 municípios com mais de 200 mil eleitores 2 de outubro, data do primeiro turno 30 de outubro, data do segundo turno (municípios com mais de 200 mil eleitores onde o primeiro colocado não atingir 50% mais um dos votos válidos)

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CONECTANDO

São Miguel Arcanjo, SP

Troca de inimigo

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O sol nem precisa se despedir para a lua fazer sua morada no céu ainda anil. O som da cidade ficou a 33 quilômetros pela estrada íngreme de cascalho. As árvores mais altas do mundo, em verde degrade, balançam para lá e para cá como orquestra, a água faz o curso rápido pelas pedras limbosas e as aves arco-íris avisam a chegada da noite negra, porém estrelada. Pois é, não há silêncio na mata. Mas é lá, em meio ao caos natural, que habita a paz e o ser humano se rende à majestade. É o coração brasileiro, um coração verde chamado Parque do Zizo, que fica em São Miguel Arcanjo, cidade a 200 quilômetros de São Paulo, sentido sul do Estado. Trata-se de uma reserva particular de 118 alqueires (2,3 mil metros quadrados), localizada no maior contínuo de Mata Atlântica remanescente do Brasil. Um mosaico composto pelos Parques Estaduais Petar, Intervales, Nascentes do Paranapanema, Carlos Botelho e pela Estação Ecológica de Xitué, que juntos passam dos 250 mil hectares de mata preservada. E ali no meio, com 60% do território intocado pelo homem, o Parque do Zizo mantém o restante catalogado com nascentes, cachoeiras, lagoas e mirantes disponíveis à visitação e pesquisas. Um coração pulsante protegido pela família Balboni, que há quase 18 anos luta para manter a área. Só para se ter uma ideia, já foram catalogados no parque mais de 350 espécies de pássaros raros, além de outros animais, como onça pintada, mico leão preto e muriqui (maior pri-

mata das américas), todos ameaçados de extinção. É ali que os Balbonis fazem cerco aos chamados palmiteiros, grupos de extração ilegal do palmito Jussara (Euterpe edulis) – também ameaçado de extinção e nativo da Mata Atlântica –, que insistem ameaçar não só o parque, mas as Unidades de Conservação também. Picam a mata, abrem caminhos e clareiras, fazem fogueiras, caçam para comer e cozinham os palmitos, fomentando a rede clandestina de alimentos livres de impostos e impróprios para o consumo, vista a ameaça da bactéria Clostridium botulinum (oriunda da falta de higiene e que provoca o botulismo). Os mantenedores do sistema? Desde os menores e individuais consumidores até os maiores comércios do país, passando por pizzarias e restaurantes, inclusive os elitizados. Para inibir, além de evitar o confronto, a estratégia é buscar o diálogo junto aos palmiteiros e projetos que incentivam a produção do Jussara de forma consciente nas comunidades ribeirinhas. Além disso, há incentivo à educação ambiental, disponível para alunos do ensino fundamental e universidades. Uma iniciativa que se espalha pelas reservas particulares e pelas Unidades de Conservação estaduais, visando transformar a ameaça em aliada. Tudo em nome da preservação da mata, responsável pela existência e sobrevivência da raça humana. Uma luta travada dia-a-dia pelos Balbonis em nome de seu principal membro, o que dá nome ao parque. Um lugar adquirido com

A história de um Brasil que luta para sobreviver Por Leila Gapy – de São Miguel Arcanjo, São Paulo

indenização do Estado brasileiro às famílias de mortos e desaparecidos durante a Ditadura Militar brasileira (1964/1985). Não é de hoje que a família pensa no bem comum social.

EM NOME DA LIBERDADE Iniciada com o casamento de seu Luiz, um empresário autodidata que se fez sozinho, e dona Francisca Áurea, estudiosa dona de casa, a família cresceu em São Miguel Arcanjo (SP) com oito filhos, sendo Luiz Fogaça Balboni, o Zizo, o mais velho. Aprumado, como diziam, e inteligente, cresceu vendo os pais trabalhando na roça e adolescente foi estudar na capital – sendo seguido por mais dois irmãos, Aldo e Vital. Mais tarde, estudante da Universidade de São Paulo (USP), já na década de 1960, Zizo vivenciou o cenário político da época, o golpe civil-militar. Com espírito livre e justiceiro, como definem os que o conheceram, se aliou à Ação Libertadora Nacional (ALN). Ingressou na sequência no Grupo Tático Armado (GTA), o mesmo de Carlos Marighella. Ele sabia que a guerra urbana crescia e deveria ser levada ao campo. Foi morto numa emboscada armada pelo o delegado Sergio Paranhos Fleury, o Matador. A família foi devastada, taxada e hostilizada. Ele rotulado de terrorista a fim de evitar que qualquer outro membro da família se arriscasse se envolver com a resistência. Mas já era tarde. Aldo, segundo filho do casal, também foi torturado durante semanas no Departamento de Ordem e

Política Social (Dops-SP), logo após o enterro do irmão. Vital, que aguardava orientações de Zizo, antes de sua morte, para entrar no GTA, teve de se afastar às pressas e tempo depois rumou para a Europa. Zizo defendia o sonho de um país livre e igualitário, com oportunidades como as que teve, com infância feliz e estudos. Não chegou a vê-lo. Foram quase 30 anos até que os Balbonis obtivessem uma resposta e descobrissem o que houve com uma testemunha que sobreviveu. Manoel Cyrillo, responsável pelo sequestro do embaixador norte-americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, e que possibilitou a libertação de dez guerrilheiros. O depoimento de Cyrillo descortinou a sombra da família. Zizo havia sido pego, torturado, fuzilado e morto em 25 de setembro de 1969. Suas declarações em 1996 possibilitaram a indenização da família em 1998 e a criação do Parque do Zizo no ano seguinte. Os 200 mil dólares encaminhados aos Balbonis não quitaram o ônus da perda. Menos ainda a alienação social sofrida. Mas possibilitou que dona Auréa colocasse, com orgulho, a foto do filho falecido na parede da sala e rezasse uma missa em sua memória com as portas da casa abertas. O dinheiro também fez com que a memória de Zizo fosse preservada, hoje por meio de 18 herdeiros que cuidam da Associação Parque do Zizo (Apaz) – que delimita os rumos da área e impede a degradação do parque, além de priorizar a educação ambiental.

CONECTANDO é um projeto criado pelo Brasil Observer que busca fomentar experiências de comunicação ‘glocal’. Em parceria com universidades e movimentos sociais, nosso objetivo é fazer com que pautas locais atinjam uma audiência global. Para participar e/ou obter mais informações, escreva para contato@brasilobserver.co.uk


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Octávio Campos Salles

A MAIS RICA FLORESTA Conduta que ilustra a luta de uma minoria pela manutenção da mata brasileira. Sim, uma minoria, encabeçada não só pelo governo estadual por meio dos parques, mas também pelas poucas iniciativas privadas, além do Zizo, como do Parque Rio Taquaral e Parque da Onça Pintada, ambos em São Miguel Arcanjo – nem 10% da mata que ainda existe e que não é protegida. A história do descobrimento do Brasil é a história da devastação da Mata Atlântica. Cada ciclo do desenvolvimento resultou na redução da floresta que atualmente soma apenas 8,5% da mata original. Área composta inicialmente de 1,3 milhão de quilômetros quadrados e que se estendida por 17 estados. Tida hoje como floresta Hotspot mundial, uma das mais ricas biosferas do planeta, principalmente quanto aos recursos hídricos. E também a mais ameaçada, sendo a localização de 55% dos animais brasileiros na lista dos ameaçados de extinção. Uma Reserva da Biosfera pela Unesco e Patrimônio Nacional pela Constituição Brasileira de 1988 que gera economia de base e renda, por meio da agricultura, extrativismo e turismo a mais de 72% da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), de 2014. Floresta preservada pelos governos Federal e Estadual há cerca de 40 anos e que tem como principal concorrente o cidadão, vista que as iniciativas para preservação e manutenção necessitam de reflorestamento.

LUTA ETERNA No último mês de agosto, por exemplo, o mundo inteiro voltou seus os olhos para o Brasil, palco dos Jogos Olímpicos. A oportunidade foi agarrada com unhas e dentes pelo Comitê Organizador, que não perdeu a chance de mandar seu recado principal, tanto na abertura, no dia 5, quanto no encerramento, dia 21: a necessidade urgente de preservação, manutenção e restauração do meio

ambiente. A iniciativa foi criticada, já que dentro do próprio país há contradições. Pede-se cuidado com a mata, destaca-se a necessidade de preservação para o futuro, refere-se à degradação inconsciente e mal-educada. Mas não cria, por exemplo, mecanismos eficientes para execução da Política Nacional de Resíduos Sólidos e coleta seletiva – que depende da junção das mãos dos governos e dos cidadãos para promover a mudança cultural; não pune os responsáveis municipais pelos 29% de aumento na produção de lixo e dos ainda 41% dos resíduos destinados inadequadamente aos aterros – dados de 2014 em comparação a 2013, segundo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil de 2014, da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Esse desequilíbrio não tange somente a sustentabilidade, o consumo consciente, a preservação e manutenção de suas florestas. Mas ao caos político que incomoda a liberdade e esbarra na censura quando não se respeita as urnas, retira benefícios trabalhistas, corta incentivos à educação e cultura, favorece o salário do judiciário e mantém a mídia elitizada. Caos real com projetos como a Escola Sem Partido – que impede professores da rede pública em falar de política em sala de aula –; caos legitimado quando o presidente interino pede para não ser anunciado durante a abertura dos Jogos Olímpicos. Há semelhança entre o país visto por Zizo e o país vivido por seus herdeiros. Há repetição na história. Muito provavelmente os Balbonis – família guerreira desde a origem do pai – sobreviverão. Eles têm apenas trocado de inimigos, como muitas iniciativas que caminham sozinhas – Organizações Não Governamentais (ONG) e o próprio Estado. Parece que o país que não limpou a Baia de Guanabara para os atletas velejadores está, na verdade, pedindo socorro. Mas como escreveu o grande pensador Gustav Jung, aquilo que você não aprende, repete-se. (Colaboração da família Balboni e de Márcia Hirota, diretora-executiva da ONG SOS Mata Atlântica)


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DICAS

Sons brasileiros para curtir em Londres Tulipa Ruiz Tulipa Ruiz está na vanguarda das novas cantoras brasileiras – sua voz é lúdica e teatral, variando ritmos leves e badalados. Sua levada pop se expande sobre os impulsos estilísticos da Tropicália, fundindo uma gama de influências em suas composições próprias. Quando: 8 de setembro Onde: Rich Mix (35-47 Bethnal Green Road, London E1 6LA) Entrada: £12-15 Info: www.richmix.org.uk

Metá Metá Formado por três dos músicos mais procurados de São Paulo (Juçara Marçal, Thiago França e Kiko Dinucci), o grupo Metá Metá cria um sedutor Afro-Punk misturando Afrobeat, Afrosambas, be-bop e art rock. O segundo álbum da banda, MetaL MetaL, parte dos antigos cânticos dos orixás e combina samba psicadélico, jazz e Afro-Punk. Quando: 13 de setembro Onde: Battersea Arts Centre (Lavender Hill, London SW11 5TN) Entrada: £15 Info: www.bac.org.uk

Zélia Duncan e Zeca Baleiro Zélia Duncan e Zeca Baleiro fazem um show intimista com apresentação única em Londres. Os cantores e compositores já estiveram juntos no palco algumas vezes, mas, agora, pela primeira vez, eles estão em um projeto de um show só deles. Quando: 9 de outubro Onde: O2 Forum Kentish Town (9-17 Highgate Road, London NW5 1JY) Entrada: £35 Info: www.academymusicgroup.com

Maria Gadú Na vanguarda da Música Popular Brasileira, Maria Gadú apresenta seu novo álbum, Guelã, com sua banda. As músicas acústicas e sentimentais de Gadú caberiam confortavelmente na categoria indie pop, mas sua voz apaixonada e violão são notavelmente brasileiros. Quando: 23 de outubro Onde: Barbican Hall (Silk Street, London EC2Y 8DS) Entrada: £15-35 Info: www.barbican.org.uk

Elza Soares

A rainha da música brasileira apresenta seu novo álbum, A Mulher do Fim do Mundo. Dando início a uma nova fase musical sem esquecer sua história, Elza Soares tem sido uma presença marcante na música brasileira desde os anos 1950. Em seu mais recente disco, Elza fez uma parceria com a nata dos músicos de vanguarda de São Paulo, cantando histórias de um país que é tudo menos um paraíso tropical. Quando: 13 de novembro Onde: Barbican Hall (Silk Street, London EC2Y 8DS) Entrada: £17,50-25 Info: www.barbican.org.uk

Zeca Pagodinho Um dos sambistas mais populares do Brasil e quatro vezes vencedor do Latin Grammy, Zeca Pagodinho retorna a Londres para uma apresentação única pela primeira vez em uma década. Escolhido para cantar na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016, Zeca Pagodinho e sua música continuam a encarnar o espírito livre do carioca. Quando: 29 de novembro Onde: Hammersmith Apollo (45 Queen Caroline St., London W6 9QH) Entrada: A partir de £29,50 Info: www.eventimapollo.com


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BRAZIL DAY

celebrating olympics & paralympics

TRAFALGAR SQUARE | 10 September | 12 - 7pm LIVE MUSIC|FOOD MARKET|SPORT ACTIVITIES|FREE ADMISSION

MINISTRY OF SPORT

MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS #brazilday2016


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COLUNISTAS FRANKO FIGUEIREDO

Que poder tem o teatro? O teatro está sempre trazendo um reflexo da sociedade; a pergunta é o que fazemos com a imagem que reproduzimos?

M

Michel Temer no Brasil. Theresa May no Reino Unido. Shinzo Abe no Japão. Tantos políticos conservadores no poder... O mundo parece estar numa fase bem deprimente. Governos neocapitalistas são bem assustadores. Será que o teatro tem algum poder de fazer as pessoas questionarem a ética política e econômica mundial? Fiquei surpreso quando descobri que o governo japonês está considerando abolir o Artigo 9. Esta cláusula da Constituição do Japão descarta a guerra como meio de resolver disputas internacionais envolvendo o estado. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e o lado conservador de seu governo, porém, acham que ter o pacifismo como regra é uma anomalia. Não seria melhor se o resto do mundo adotasse o mesmo artigo, encerrando de vez suas máquinas de guerra? Adoraria ver uma peça de teatro sobre isso. Geralmente, quando refletimos sobre o teatro japonês, ou pensamos em suas formas tradicionais, como Noh, Kabuki e Bunraku, ou pensamos em alta tecnologia, em peças que saem da parede como no show Miss Revolutionary Idol Berserker, descrito pelo Barbican Centre como “caos controlado”. Raramente pensamos em peças que refletem a sociedade japonesa contemporânea. Em minha última passagem por Tóquio entrei em contato com o verdadeiro significado do teatro: a arte de contar histórias e a conexão que um ator precisa fazer com o mundo de uma história para proporcionar a magia que o público espera. Durante os dias em que trabalhei cenas de Romeo e Julieta na capital japonesa, arrumei um tempo para assistir a algumas produções teatrais contemporâneas e encontrar alguns renomados dramaturgos, como Ai Nagai, que está no primeiro plano de uma nova revolução teatral no Japão. Aliás, Nagai está vindo ao Reino Unido para supervisionar a exibição de sua peça Got to Make Them Sing, que será apresentada como parte da mostra Winds of Change, uma série mensal de leituras no palco organizada pela Yellow Earth e o StoneCrabs Theatre em parceria com a Japan Foundation que começou no início do mês e vai até dezembro. Existe entre os realizadores de teatro um desejo comum de alcançar as pessoas e lembrá-las de que podemos e devemos compartilhar nossa humanidade. Podemos ser pessoas melhores se tentarmos um pouco mais. O teatro está sempre trazendo um reflexo da

sociedade; a pergunta é o que fazemos com a imagem que reproduzimos? Ignoramos? Conseguimos ao menos reconhecê-la? Uma história bem contada pode emocionar e mudar as pessoas; pode nos transportar para outros lugares e culturas que não temos contato. A treinadora de voz da Royal Shakespeare Company, Cicely Berry, diz que “quanto mais a tecnologia domina a comunicação, menos acreditamos na linguagem. As palavras têm o poder de perturbar, surpreender, encantar, provocar, e estão acontecendo neste momento – e entre as pessoas”. Isso resume o que estamos tentando alcançar com o teatro: redescobrir o poder da palavra, e como isso nos ajuda a criar e engajar uma audiência desejosa de histórias reais, de representações reais. É interessante notar que, como no Brasil, as peças de teatro japonesas dificilmente são impressas; as peças ou são concebidas por uma empresa ou escritas para um elenco e público específicos. Poucas são publicadas, muito menos traduzidas. Há, porém, algumas mudanças recentes: à medida que o Japão nutre uma nova geração de artistas, vemos uma insurgência de dramaturgos que buscam assumir o comando da palavra e preenchê-las com histórias japonesas modernas que são críticas social e politicamente, e internacionalmente importantes. As peças que vemos em Winds of Change são um exemplo disso: peças de teatro contemporâneas que nos transportam para outra cultura, levantando questões políticas e sociais, questões globais discutidas localmente. A série começou com Global Baby Factory, de Atsuko Suzuki. Esta sátira social se passa entre o Japão e a Índia e lida com as questões que envolvem fertilização in vitro, sub -rogação e maternidade. Em outubro é a vez de Got To Make Them Sing, de Ai Nagai. Nagai parte da decisão do Conselho de Educação de Tóquio que pune os professores que não levantam a bandeira nem fazem seus alunos cantarem o hino nacional nas cerimônias de graduação para questionar atitudes governamentais draconianas contra a liberdade individual. São alguns exemplos de dramaturgia contemporânea japonesa que estão finalmente se tornando acessíveis para nós. Esperemos que, à medida que absorvemos essas novas histórias, com suas próprias idiossincrasias culturais, nós possamos amadurecer mais sábios e mais fortes, mais compreensivos em relação às nossas semelhanças e mais tolerantes em relação às diferenças.

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Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs


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HELOISA RIGHETTO

Meu corpo, minhas regras Crescemos ouvindo que precisamos nos adaptar aos padrões estéticos, e que não podemos mostrar nossos corpos Mídia NINJA

Todas as vezes que falo sobre minha frustração com a sociedade machista no Snapchat, recebo pelo menos uma mensagem (quase sempre de um homem) que quer “explicar” por que o movimento feminista é às vezes mal interpretado pelos “cidadãos de bem”. “Veja bem”, começa ele, “é que algumas feministas às vezes fazem coisas que queimam o filme de todas vocês”, continua, em tom educacional, feliz por me passar todo seu conhecimento. “Elas protestam nas ruas, com os peitos de fora, gritam palavras de desordem, são imorais.” Claramente esse sujeito nunca foi tocado por um estranho na rua. Provavelmente ele jamais pensou em não usar alguma peça de roupa decotada ou justa para não correr o risco de ser assediado. Também acredito que ele não hesitou em usar bermudas ou uma blusa sem mangas em um dia muito quente, ignorando o fato de suas pernas e suas axilas estarem cobertas de pelos. O homem que invariavelmente acha que sabe muito sobre feminismo nunca suou frio ao passar em frente a um grupo de homens (e nunca teve que fingir que não escutou os insultos e assovios, seguindo em frente e colocando o acontecimento no arquivo “isso faz parte de ser mulher”); condena a “imoralidade” de um par de peitos expostos, mas provavelmente não vê problema algum em chamar uma mulher de gostosa ou tocar a buzina do carro quando vê um corpo que lhe agrada passando na rua. Porque é isso que ele vê: um corpo. g

Aqueles que se assustam (ou será que sentem ameaçados?) com os peitos de fora em protestos feministas são geralmente os mesmos que assediam mulheres verbalmente nas ruas. Vejam só a ironia: quando mostramos nossos peitos porque queremos conscientizar a população de que nossos corpos apenas a nós pertencem, é chocante. Mas, em qualquer outro contexto, os peitos são para deleite alheio, mesmo que cobertos. O corpo da mulher é propriedade pública. Nós crescemos ouvindo que precisamos nos adaptar aos padrões estéticos, inalcançáveis para a maioria das mulheres, para sermos desejadas. Mas ao mesmo tempo nos ensinam que não podemos mostrar nossos corpos. Mostrar é provocar, e como todo mundo sabe mulher que provoca, consente. Caso a gente não tolere assédio, somos loucas, histéricas ou mal amadas. A apropriação do corpo da mulher muitas vezes aparece em situações mais corriqueiras que acabam adormecidas e nos voltam à memória apenas quando colocamos as lentes do feminismo. Durante toda minha infância eu escutei que era uma criança mal humorada, que precisava sorrir mais. Eu cresci acreditando nisso. Tenho certeza de que muitas das minhas ações e decisões foram tomadas por causa dessa personalidade inventada pelos outros. Mas só fui me dar conta disso quando, já adulta e morando em Londres, escutei de um homem muito mais velho (que não conhecia e que me abordou enquanto eu fazia o meu trabalho de cobrir um evento): dá um sorriso, você é tão bonita! Eu imediatamente sorri, mas logo depois compreendi o absurdo da situação. Assim como os “assobiadores”, esse senhor pensava que eu estava ali para ser admirada por ele. Como um enfeite. A campanha “Chega de fiu fiu” da ONG Think Olga obteve um excelente resultado, conscientizando homens e mulheres de que assovios e afins não são cantadas, e sim assédio. A objetificação da mulher começa no momento que ela nasce e é uma constante, ainda que nos atinja de maneiras diferentes dependendo da cor da nossa pele, da nossa condição social e da nossa preferência sexual. Por isso, caro homem conhecedor do feminismo, vou colocar meus peitos pra fora sim. Meu corpo não é seu.

Heloisa Righetto é jornalista e escreve sobre feminismo (@helorighetto – facebook.com/conexãofeminista)


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LONDON BY

Onde comer bem em Londres? Blogueiros escrevem guia de restaurantes na capital inglesa

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Uma das melhores coisas de Londres é que a cidade permite experiências muito diferentes. Por exemplo, a região oeste da cidade – Kensington, Chelsea, Notting Hill – é bem diferente da parte leste – Shoreditch, Stoke Newington. O mesmo vale para a gastronomia. É possível passar uma semana a base de hambúrguer ou restaurantes asiáticos. Você pode também fazer todas as refeições em pubs ou render-se à culinária britânica, pois fish & chips não é a

única coisa que se come neste país. Para mostrar o lado gastronômico da cidade, 11 blogueiros uniram-se para escrever o guia ‘100 Restaurantes em Londres’, disponível para download gratuitamente (bit.ly/100londres). Dos 100 restaurantes, aqui estão dez, cada um representando uma categoria. Baixe o guia para o review completo desses e dos outros 90 integrantes da lista!

Divulgação

Culinária Brtitânica

por Karine Porto www.brazuka.net

Roast

The Floral Hall, Stoney Street, SE1 1TL Um grande queridinho dos britânicos é o tradicional “Sunday Roast” (assado de domingo), a especialidade do restaurante Roast. Grande parte dos ingredientes utilizados vem de produtores locais que fornecem diariamente para o mercado de Borough, ou seja, espere produtos frescos. O menu de três pratos servido aos domingos custa £37.50.

Hamburguerias

por Heloisa Righetto www.aprendizdeviajante.com

Kua Aina

26 Foubert’s Place, W1F 7PP Uma hamburgueria havaiana: dos ingredientes à decoração e trilha sonora, a ideia é que você coloque um pezinho nesse paraíso do Pacífico! O menu é bem variado, mas tem o básico pra quem não está com vontade de provar novas misturas. Um hambúrguer custa em média £10.

Culinária Internacional

por Ana Beatriz Freccia Rosa www.omundoqueeuvi.com

The Palomar (Israel)

34 Rupert Street, W1D 6DN Uma cadeia de restaurantes de Israel abre sua primeira filial em Londres. Peça para sentar no balcão: além de ver seu prato sendo preparado na hora, você se diverte com os chefs e palhaçadas na cozinha. As porções são pequenas e vale a pena pedir várias, regadas a um vinho da Judeia.

Rooftops & Restaurantes com Vista

por Liliana Stahr www.catalogodeviagens.net

Frank’s

10th floor, Peckham Multi Story Carpark, 95A Rye Ln, SE15 4ST O Frank’s é um bar sazonal, que funciona geralmente de maio a outubro no topo de um prédio usado como garagem no bairro de Peckham. Sua vista é privilegiada, o ambiente é descontraído e os preços são mais baixos do que na maioria dos rooftops luxuosos da cidade. O bar conta com um restaurante que serve pratos variados a preços justos. Pratos principais a partir de £7.50.


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Bares de Cerveja Artesanal

por Natasha e João Brotto www.pravernomundo.com.br

The Draft House

206-208 Tower Bridge Road, SE1 2UP As torneiras de chopp estão sempre lotadas de excelentes “beras” locais e internacionais e as geladeiras impressionam pela variedade de exemplares. Como se não bastasse tudo isso o cardápio de comida está à altura. Há desde clássicos de pub (como fish and chips - £11.90 - e scotch egg por £4.50), até cachorro quente (desde £7.40).

Asiáticos

por Paula Augot www.nomundodapaula.com

Pho

163-165 Wardour Street, W1F 8WN Pho é uma rede especializada em comida de rua vietnamita: o forte são as sopas vietnamitas (Pho) e eles oferecem quase 20 opções. Há também lulas fritas de entrada e diversos pratos de noodles, tudo isso num ambiente bastante informal. Preço médio: £13 por pessoa.

Restaurantes de Hotel

por Pedro Richardson www.travelwithpedro.com

Asia de Cuba – St Martin’s Lane Hotel

45 St Martin’s Lane, WC2N 4HX O restaurante está no hotel St Martin’s Lane, desenhado pelo renomado arquiteto Philippe Starck, e passou por uma recente renovação. O chef Luis Pous preparou um novo menu de fusão cubano-asiática com prato principal a partir de 21 libras.

Gastropubs

por Rafa Maciel www.guriinlondon.com

The Hawley Arms

2 Castlehaven Road, NW1 8QU Que Amy Winehouse frequentava este pub muita gente já sabe. Mas o que pouca gente sabe é que a comida é uma delícia. Alguns dias são servidas especialidades da casa como scotch egg, sausage rolls e aos domingos o clássico Sunday roast. Se estiver passando só pra uma boquinha rápida vale a pena pedir uma porção de batata frita, que vem dentro de um copo de pint (£3.50).

Tapas

por Thaís Nascimento www.setemilkm.com

San Carlo Cicchetti

215 Piccadilly, W1J 9HL O San Carlo é especializado em “cicchetti”, os petiscos que acompanham drinks em Veneza. Só que ao contrário dos minissanduíches, azeitonas e croquetes servidos por lá, no San Carlo você vai encontrar massas com trufas, os melhores cortes de carne, frutos do mar e ingredientes sazonais direto da Itália. Preço médio por pessoa: £50

Bons & Baratos

por Tina Wells www.londrespravoce.com

Leon

35 Great Marlborough Street, W1F 7JE O Leon tem uma proposta bacana: provar que nem tudo que é gostoso e feito rapidamente faz mal. Os sabores são inspirados na cozinha do Mediterrâneo, mas há também sanduíches bem britânicos e pra quem está com saudade do Brasil, tem até feijão. Os pratos são servidos em caixas: a caixa com bolinhos de carne, molho de tomate e arroz custa £6.85.


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