Brasil Observer #25 - Portuguese Version

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B R A S I L O B S E R V E R LONDON EDITION

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK

ISSN 2055-4826

MARCH/2015

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GUILHERME ARANEGA / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR)

E T R A A D O D A T S E

INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS VISITAM CENTRO AVANÇADO DE PESQUISA NO REINO UNIDO E COGITAM PARCERIAS

QUEBRA-CABEÇA BRASIL Nas ruas, população reage ao ajuste fiscal e à corrupção ELZA FIÚZA/AGÊNCIA BRASIL

FUTEBOL MOLEQUE Uma visão bem humorada para o jogo entre Brasil e Chile RAFAEL RIBEIRO/CBF


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SUMÁRIO 4 6 8 10 14 16 18 21 24 26 30

EM FOCO América Latina em questão

LONDON EDITION

COLUNISTA CONVIDADO Vassiliki Constantinidou sobre o Brasil e a Grécia

É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

PERFIL Sebastian Ramos e a passarela da London Fashion Week

ANA TOLEDO Diretora de Operações ana@brasilobserver.co.uk

BRASIL GLOBAL Uma nova ‘Revolução Industrial’ está em curso no Reino Unido CONEXÃO BR-UK Filmes restaurados de Hitchcock são exibidos em São Paulo

GUILHERME REIS Diretor de Redação guilherme@brasilobserver.co.uk

BRASILIANCE Insatisfação e inquietude: as peças do quebra-cabeça Brasil

ROBERTA SCHWAMBACH Diretora Financeira roberta@brasilobserver.co.uk

CONECTANDO De Foz do Iguaçu, uma universidade que respira América Latina

EDITORES EM INGLÊS Kate Rintoul Kate@brasilobserver.co.uk Shaun Cumming shaun@investwrite.co.uk

GUIA Seleção Brasileira em campo: piada pronta DICAS CULTURAIS

DESIGN E DIAGRAMAÇÃO Jean Peixe peixe@brasilobserver.co.uk

COLUNISTAS

COLABORADORES Cati Calixto, Francisco Denis, Franko Figueiredo, Gabriela Lobianco, Juliana Resende, Leticia Faddul, Michael Landon, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Vassiliki Constantinidou, Wagner de Alcântara Aragão

VIAGEM

IMPRESSÃO St Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, London mohammed.faqir@stclementspress.com 10.000 cópias DISTRIBUIÇÃO Emblem Group Ltd.

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PARA ANUNCIAR comercial@brasilobserver.co.uk 020 3015 5043 PARA ASSINAR contato@brasiloberver.co.uk PARA SUGERIR PAUTA E COLABORAR editor@brasilobserver.co.uk ONLINE brasilobserver.co.uk issuu.com/brasilobserver

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E D I T O R I A L

UM PAÍS ATORMENTADO

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Esta edição do Brasil Observer circula em Londres desde sexta-feira 13 de março. Dia de má sorte, lembrarão alguns. As atenções, porém, estavam mesmo no que poderia acontecer no domingo 15, dia para o qual estavam marcadas, em diversas cidades do país, manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Difícil prever o que aconteceria. Em um país como o Brasil, onde a narrativa dos acontecimentos permanece na mão de poucos, os interesses políticos e econômicos de uma minoria normalmente se sobrepõem à realidade dos fatos – independentemente da posição ideológica. Dessa forma, é seguro afirmar que enquanto alguns usarão as manifestações para desestabilizar o governo federal, outros tentarão deslegitimar os protestos. Aqui, os dois lados falham. O Brasil Observer considera o direito de manifestação e expressão um pilar fundamental da democracia – por isso defendemos, em outras oportunidades e agora, uma reforma democrática da mídia, para que as concessões públicas de rádio e televisão atendam aos critérios previstos na Constituição de 1988. Acreditamos, portanto, que os protestos contra o atual governo – e qualquer outro – são legítimos. Não nos furtamos de constatar, porém, que não há base jurídica para um pedido de impeachment. O afastamento do presidente está previsto no artigo 85 da Constituição e pode acontecer em casos de crimes de responsabilidade, entre os quais estão, por exemplo, crimes contra a existência da União, o exercício de direitos políticos, sociais e individuais e contra a probidade administrativa. Até que se prove o contrário, nada evidencia uma relação direta de Dilma Rousseff a alguma prática criminosa por dolo (quando há intenção). Além disso, o Brasil não vive uma crise institucional – a condução até aqui da Operação Lava Jato, que investiga irregularidades na Petrobras, comprova que as instituições funcionam. A turbulência política é causada principalmente pelo quadro de recessão econômica – além dos próprios escândalos de corrupção e da falta de habilidade de Dilma e sua equipe na relação com a base aliada no Congresso. Após a reeleição de Dilma, o Brasil Observer ressaltou que na definição da estratégia para a retomada do crescimento estava a principal armadilha para o governo. Como previsto, ao adotar as medidas que combateu durante a campanha eleitoral – ajuste fiscal – para ganhar credibilidade junto ao mercado e seus adversários, Dilma perdeu capital político na correlação de forças nacional. Pior que isso, perdeu o

apoio daqueles que votaram nela. Foi ingênuo pensar que, ao fazer o que pregavam seus adversários, conseguiria apaziguar os ânimos dos que não lhe concederam o voto. Resultado: insatisfação generalizada (leia a matéria de Wagner Aragão, na página 16). Esse clima de instabilidade política é péssimo para o problema central e imediato do país: a estagnação econômica. Se o governo não consegue articular no Congresso nem as medidas de ajuste fiscal que quase todos concordam ser necessárias, que dirá outras iniciativas fundamentais para destravar o crescimento, como as reformas trabalhista e tributária, além do aumento dos investimentos. Um impeachment agravaria ainda mais essa realidade, com consequências mais danosas às conquistas sociais da última década. Sobre a corrupção, mal antigo e crônico no país, o Brasil Observer não esmorece: no poder, o PT se mostra incapaz de seguir caminho diferente daquele adotado tradicionalmente por todos os outros partidos. O julgamento e a possível condenação de políticos e executivos de grandes empresas indiciados pela Operação Lava Jato enche o país de esperança. Por si só, porém, isso não é o bastante. As empreiteiras investigadas por irregularidades em contratos com a Petrobras estão entre os maiores doadores para campanhas políticas. Quase todos os partidos recebem doações de empresas que, obviamente, visam com isso garantir benefícios futuros. Este é um dos maiores males de nosso jovem sistema democrático, pois deturpa o conceito básico de uma pessoa, um voto, e ainda gera possibilidades infinitas de corrupção. Para enfrentar seriamente o problema, é necessária uma reforma política que, no mínimo, proíba doações para campanhas políticas por parte de empresas privadas. Por fim, vale dizer que o PT erra ao considerar os movimentos pelo impeachment de Dilma como manifestações de uma elite branca movida pelo ódio de classe. Isso de fato existe, é inegável, mas não explica totalmente o desgaste do partido que está no poder desde 2002. Não é só a elite que está insatisfeita com o atual governo. Os avanços sociais e econômicos da última década não vieram acompanhados de uma maior conscientização política e democrática por parte dos cidadãos – nem por parte dos partidos. O reflexo disso é o que vemos hoje: um país atormentado que, meses depois das eleições, ainda não sabe o que o resultado das urnas quis dizer.

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EM FOCO

Em um país como o Brasil, onde a maioria da população, inclusive a mídia hegemônica, prefere o conforto da dependência, política externa ativa é vista como problema. Ex-Ministro da Defesa e das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, durante palestra concedida na London School of Economics

AMÉRICA LATINA EM QUESTÃO

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Por Guilherme Reis

Há quem argumente que a América Latina já não atrai mais tanta atenção internacional quanto antes. Depois de uma década de crescimento econômico – alavancado principalmente pelo ‘boom’ do mercado de matérias-primas –, algumas economias da região encontram-se diante do risco da estagnação. Diante disso, os investidores internacionais se questionam: vale pena a empreitada? Primeiro ponto, elementar, é saber de qual América Latina estamos falando. Parece haver um consenso de que, em cada país da região, há pelos menos dois países diferentes. Isso não apenas por conta da diversidade cultural, mas essencialmente pela desigualdade social que faz com que a realidade possa ser muito boa ou muito ruim para a população local – e também para os investidores internacionais. Fosse a América Latina uma região mais homogênea, integrada e com estratégias políticas e econômicas bem delimitadas, certamente a tarefa de entender e participar do desenvolvimento regional seria mais fácil. Mas, da mesma forma que, quando se cria uma atmosfera de animação, muitos problemas ficam escondidos, as oportunidades também se tornam mais difíceis de serem captadas e aproveitadas quando o cenário é de crise. Em um ambiente em que, muitas vezes, a percepção vale mais que a realidade, o que é real não se vê. Nesse sentido, dois eventos realizados no mês de fevereiro em Londres, com abordagens completamente distintas, fomentaram um abrangente entendimento sobre o que se passa na América Latina. O primeiro deles, realizado pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Londres, tratou de analisar os dez anos da Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA), criada em 2004 pelos então presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Fidel Castro, de Cuba. Hoje com 11 membros (o Brasil não é um deles), a organização intergovernamental nasceu sob o ideal de construção de um Socialismo do Século 21, em oposição à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Suas ações visam aumentar a integração econômica, política e social da região através dos conceitos de solidariedade, cooperação e complementaridade entre as nações. Das experiências apresentadas na conferência, duas se destacaram. Uma em re-

lação ao Sucre, moeda virtual comum da ALBA, e a outra sobre as tentativas de construir um Sistema Econômico Comunitário. Para Stephanie Pearce, candidata a doutorado no Queen Mary College, da Universidade de Londres, apesar de a moeda complementar ter sido criada para diminuir a influência do dólar na região e eliminar os custos financeiros das transações econômicas entre os países da ALBA, “o Sucre não atingiu seu pleno potencial”, sendo usado quase que exclusivamente entre Venezuela e Equador. Já Helen Yaffe, da Universidade de Leicester, depois de apontar os aspectos positivos que testemunhou na Venezuela diante do funcionamento das Empresas de Produção Social e das Unidades de Produção Familiar, colocou em xeque a transição para o socialismo em um contexto de dependência econômica. Para ela, “o governo bolivariano evitou o conflito com a elite capitalista” e falhou na condução do gasto público por não diversificar a produção nacional. Tal ponto também foi enfatizado por José Manuel Ponte, da Universidade de Oxford, para quem a ALBA só vai continuar se desenvolvendo se não for mais dependente da Venezuela, que sempre foi a grande financiadora do grupo, mas que hoje enfrenta uma séria crise econômica agravada pela queda do preço do petróleo. O segundo evento também tratou do desenvolvimento econômico na América Latina, mas a partir de uma perspectiva mais liberal. Organizada pela London Business School, a décima edição do Latin American Business Forum girou em torno de dois painéis principais, um sobre competitividade e o outro, a respeito da polarização entre livre mercado e controle estatal – e qual seria o meio termo possível para que os países da região alcancem um crescimento equitativo. De modo geral, todos pareceram concordar que os países latino-americanos precisam tornar os gastos públicos mais eficientes; diminuir a corrupção; aumentar o percentual de investimento em relação ao PIB; e focar em infraestrutura e formação educacional, de modo que haja um impacto relevante sobre a produtividade. “A produtividade da América Latina era de 20% nas décadas de 1960 e 1970 em relação aos países desenvolvidos. Hoje é de 40% a 50%”, disse o Economista Chefe da Pátria Investimentos, Luis Fernando Lopes.

“Quanto mais o país cresce, mais produtivo ele é”, completou. Leonardo Uehara, Diretor Associados da Visagio, apontou para a necessidade de modernizar as leis trabalhistas no Brasil. “Hoje cada Estado tem sua própria regulamentação. Como uma empresa vai expandir?”, questionou. Uehara comentou ainda que, “se o Brasil quer ser competitivo, deve ter empresas investindo no exterior, deve se mostrar presente”. Para ele, as empresas brasileiras tem grande vantagem em outros mercados emergentes: “entendemos melhor”. Já Wenceslao Bunge, Diretor Gerente do Credit Suisse, afirmou que “a única forma de ser competitivo exportando matéria -prima é reduzindo o custo de produção”, agregando valor com a aplicação de recursos tecnológicos. Sobre os efeitos da corrupção, Bunge argumentou que, “quando as instituições são mais importantes que as pessoas, o país tem os meios para alcançar o sucesso econômico”. No segundo painel, falou-se bastante sobre o papel do setor privado na economia latino-americana. Alejandro Puente, Chefe de Relações Externas do Banco Comportamos, disse que na região “há muitas oportunidades porque há muitas necessidades”. E que “tratados de livre comércio são bons pontos de partida, mas não suficientes”. Visão semelhante foi compartilhada por Francisco Pírez Gordillo, Embaixador do Uruguai na Organização Mundial do Comércio, para quem “antes do acordo, é preciso fazer a lição de casa”, pois do contrário a economia nacional pode ser fortemente prejudicada. Antes do encerramento do fórum, discursou o ex-presidente do Uruguai, Luis Lacalle Herrera. Ele recordou a criação do Mercosul, no início dos anos 1990, e disse que não reconhecia mais a organização, pois a mesma perdeu o foco do livre comércio e passou a ter objetivos políticos. Lacalle disse que acha improvável um acordo entre o Mercosul e a União Europeia, se mostrando mais simpático a um pacto entre países da América Latina e os Estados Unidos. Superar a pretensa dicotomia do “livre mercado X controle estatal” é o grande desafio de praticamente todos os países latino-americanos. Algo tão ingênuo quanto acreditar que uma dessas ideologias, sozinha, poderá levar a América Latina ao pleno desenvolvimento.

NA AGENDA g

17 de Março Diante da queda do preço do petróleo e do acordo entre Estados Unidos e China na área de mudança climática, a Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha sedia evento que vai analisar a nova geopolítica em torno dos recursos energéticos e as implicações para o Brasil. (“Energy Geopolitics and the New World Order – the implications for Brazil”. Onde: Taylor Wessing, 5 New Street Square. Preço: £10 para membros / £30 para não-membros).

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18 de Março O Instituto Brasil do King’s College e a Canning House recebem Leslie Bethell para uma palestra sobre as relações do Brasil com os Estados Unidos e a América Espanhola no período de 1889 – ano da Proclamação da República Brasileira – até a Primeira Guerra Mundial, através das ideias do Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco e Manoel de Oliveira Lima. (“The Americanization of Brazil Foreign Relations, 1889-1914”. Onde: S -1.06 Strand Building. Palestra aberta ao público; não há necessidade de registro prévio).

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24 de Março Conferência da Canning House analisa o setor de energia renovável na América Latina, destacando as oportunidades para investidores britânicos e as possibilidades de diversificação da produção energética na região. (“The Future of Energy in Latin America – bright prospects? Onde: Canning House, 14/15 Belgrave Square. Preço: £20 para membros / £40 para nãomembros).

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25 de Março Canning House antecipa debates em torno da Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU sobre Drogas (UNGASS), marcada para os dias de 19 a 21 de abril, em Nova York. (“Drugs Policy in Latin America”. Onde: Canning House, 14/15 Belgrave Square. Preço: £10 para membros / £15 para nãomembros).


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Are you considering doing business in Brazil? The world has finally discovered the potential of this great country and how it plays a leading role in Latin America. However, what does it take to succeed in this complex market? How to deal with local challenges which can constitute real obstacles to companies? That is where we come in: developing and implementing strategic plans for the international expansion of our clients. Learn more about our company at www.suriana.com.br

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COLUNISTA CONVIDADO

ENTRE O APARENTE E O OCULTO O que têm em comum os governos atuais do Brasil e da Grécia? E a quem interessa desestabilizá-los? Por Vassiliki Constantinidou g

Vassiliki Constantinidou é jornalista e autora de “Os Guardiões das Lembranças – Memória e História dos Imigrantes Gregos no Brasil” g

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Embora possa parecer estranho, vou contar um sonho sonhado numa noite recente. Estava andando numa rua cheia de gente: pessoas indo e vindo mergulhadas em seus pensamentos, em suas certezas e dúvidas. O dia está claro e o sol brilhando. Mas, aos poucos, uma nuvem cinzenta toma conta do céu, tampando a luz solar, embora seja possível perceber luminosidades ao redor de sua aureola. Esse quadro ilustra bem o momento em que estamos vivendo desde a crise de 2008. Quando meu pensamento voa para a Grécia, sei que as pessoas estão vendo os raios e a luminosidade que as sombras tentam esconder. É a luz da esperança que eles enxergam. Aqui no Brasil, se vê o mesmo sol, mas o que se enxerga são as sombras que se aproximam. Sombras de uma elite que destila ódio contra um partido e uma presidente, pois não suporta perder privilégios. Aparentemente, os dois países estão trilhando caminhos opostos. A Grécia negocia com a União Europeia o caminho para o crescimento contra a depressão econômica. O Brasil, que até o ano passado driblou a crise mantendo o nível de renda e emprego, realiza alguns ajustes, que de fato são medidas de austeridade. Deixemos os meandros econômicos, porém, aos especialistas. Os mandatários dos dois países enfrentam hoje uma difícil batalha no campo econômico e social, mas vivem também um momento político muito delicado. Somente o apoio popular poderá dar respaldo às suas ações. Tenho acompanhado e vivenciado de perto a trajetória desses dois países que fazem parte da minha história de vida. Na Grécia estão minhas raízes ancestrais; no Brasil, a terra que me formou e acolheu a mim e meus pais imigrantes. Como dois países tão diferentes do ponto de vista econômico e histórico podem ter algo em comum? Comecemos por lembrar que os dois governos, empossados neste ano, foram eleitos democraticamente, numa disputa acirrada entre forças conservadoras e progressistas. Estive na Grécia no ano passado, antes das eleições. O resultado das urnas confirmou o clima de basta a uma situação insustentável, que percorria praças, lares e ruas de Atenas. A vitória do Syriza abriu novas possibilidades para modificar o quadro de depressão que o país vive, provocado pela crise econômica iniciada em 2008. É também um alento para

os países do Velho Continente que vivem igual situação. Para auxiliá-lo nessa empreitada, há o apoio popular e da maioria do Congresso. A reeleição de Dilma Rousseff no Brasil foi uma resposta clara à necessidade de ampliação das conquistas sociais que o governo do PT e seus aliados desenvolvem desde 2002, quando Lula foi eleito. Isso se traduz em programas de inclusão social que servem de exemplo para todos os países em desenvolvimento. É também um sinal da urgência das reformas política e tributária para o país seguir no trilho do crescimento. No entanto, o acirramento das forças conservadoras e progressistas durante as eleições, assim como a eleição de um Congresso conservador, dificulta a realização dessas metas. Em 2012, Alexis Tsipras e alguns deputados do Syriza estiveram no Brasil e em outros países da América do Sul. Participei de um encontro com ele, promovido pela comunidade grega de São Paulo. Houve uma série de outros encontros com representantes de vários partidos, um deles no Instituto Lula, com o ex-presidente. Tsipras e sua comitiva queriam conhecer as alternativas adotadas pelo Brasil para manter o nível de crescimento, apesar da crise que aumentava. Na ocasião, numa conversa informal, Lula explicou que a economia brasileira estava estruturada e as condições de conjuntura possibilitaram, mesmo na crise, aumentar o salário mínimo, permitindo manter o nível de renda e dos salários, para não entrar em recessão. Humildemente, Lula afirmou que era o Brasil que deveria pedir alternativas à Europa na questão do bem estar social, pois aqui estávamos atrasados pelo menos 30 anos nessa questão. O que teriam essas duas lideranças em comum? Provavelmente o resgate da dignidade de seu povo. Na Grécia, a eleição de Tsipras resgatou a dignidade grega, que durante esses anos de depressão esteve asfixiada pelo poder econômico, o que levou a população a uma situação de desesperança, humilhação e sofrimento. Lula, para o sociólogo Emir Sader, “foi quem resgatou a dignidade do povo brasileiro, de suas camadas mais pobres, em particular do nordeste. Reconheceu seus direitos, desenvolveu políticas que favoreceram suas condições de vida e uma recuperação espetacular da economia, das condições sociais e do sistema educacional do nordeste”.

Observando a certa distância ou vivenciando o dia-a-dia, percebese nos dois países um movimento, alimentado pela direita política, empresarial e religiosa, de desestabilização do governo. Na Grécia, a mídia tenta desqualificar Alexis Tsipras e seu partido detendo-se nos detalhes do aparente. Preocupam-se mais com a falta da gravata do que com os resultados das negociações com a União Europeia. No Brasil, as grandes corporações jornalísticas disseminam o ódio, manipulando e omitindo informações. O lixo que está sendo tirado debaixo do tapete, com denúncias de corrupção em vários segmentos da sociedade brasileira, está trazendo à tona uma estrutura de Estado a serviço das classes privilegiadas (empresariais e políticas). E isso só está sendo possível porque há um governo democrático com vontade política de modificar as estruturas vigentes, em defesa dos mais vulneráveis. Algo imperdoável para as elites brasileiras. O desejo de justiça e de melhorar as condições dos menos favorecidos talvez seja o ponto em comum entre Tsipras e Dilma. Embora com históricos diferentes, neste mundo onde o poder econômico dá as cartas, as sombras que investem na desestabilização dos dois governos são as mesmas. Sabe-se que, a cada nova crise do capitalismo, alguém tem que pagar a conta. Normalmente o ônus recai sobre as classes mais pobres da sociedade. E é contra essa prática que os dois lutam, levando em conta a realidade, peculiaridades e características de seus países. Nosso cotidiano está povoado de certezas sem conhecimento, sem memória; de manipulação e inconformismo das forças conservadoras que perderam as eleições; de um jornalismo hegemônico comprometido com as classes dominantes, falho em informação histórica. Estamos perdendo a noção do outro, da tolerância e diversidade. Há em curso uma “boçalidade do mal”, como escreveu Eliane Brum em sua coluna no El País (http://goo.gl/pOVv5C). Lutar contra isso talvez seja nadar contra a corrente, pois muitos dizem que “o mundo é assim” para justificar desigualdades e perpetuar privilégios. As urnas dos dois países mostraram a vontade de construir um mundo mais justo, fraterno e democrático. Se vivemos de fato numa democracia, isso precisa ser respeitado.


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A maior celebração das culturas latino-americana, espanhola e portuguesa no Reino Unido! Confira os destaques brasileiros que são finalistas: Arts Festival of the Year

BRASILIANCE é um projeto de história oral desenvolvido pela companhia de teatro StoneCrabs, com apoio Heritage Lottery Found e parceria com King's College e University College London. Brasiliance tem foco na história oral de brasileiros que estão em Londres e imigraram entre 1960 a 1989. A equipe do Brasiliance realizou 11 entrevistas com brasileiros que vivem no Reino Unido, representando diferentes origens. Além das entrevistas, o projeto desenvolveu ao longo do ano de 2014 uma extensão programação que difundiu a história dos brasileiros em Londres através de diferentes formas artísticas. Mais informações: www.brasiliance.com VOTE >>> http://goo.gl/I9xZ65

Entrepreneur of the Year

FRANCINE MENDONÇA vive em Londres há 18 anos, nasceu em uma pequena cidade no Sul do Brasil e começou a trabalhar como cleaner na capital inglesa, sempre em contato com os brasileiros durante esse período. Já com interesse sobre questões de vistos e imigração, começou a ajudar a comunidade brasileira muito cedo nesta área. Depois disso, trabalhou como editora de um jornal brasileiro (Brazilian News) e aumentou sua rede de contatos na comunidade. Em 2001 Francine fundou sua empresa, a LondonHelp4U para ajudar os brasileiros com visto e consultoria de imigração. Parra isso, especializou-se em Serviços de Imigração (Office of the Immigration Services Commissioner). Mais informações: www.londonhelp4u.co.uk VOTE >>> http://goo.gl/h95QlP

Community Worker of the Year

ALICIA BASTOS nascida e criada no Brasil, há 13 anos Alicia trabalha com a Indústria Criativa no Brasil, França, Estados Unidos e Londres. Após o desenvolvimento de importantes projetos, Alicia mudou o foco da sua carreira para criar eventos que contribuam para a conscientização social de questões globais e atuais. Enquanto estudava seu mestrado em Empresas e Gestão de Artes Criativas da Universidade de Artes de Londres, ela criou 'Braziliality', organização sem fins lucrativos que visa a promoção de artistas brasileiros ou artistas inspirados pelo Brasil. Mais informações: www.braziliarty.org VOTE >>> http://goo.gl/SSXpym

International Sports Personality of the Year

MARTA DA SILVA mais conhecida como Marta. É jogadora de futebol brasileira que atua como atacante. Atualmente, joga pelo FC Rosengård, da Suécia. Marta já foi escolhida como a melhor jogadora de futebol do mundo por cinco vezes consecutivas, um recorde entre mulheres e homens. Foi considerada pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009. Após grandes exibições recentes e, principalmente, nos Jogos Pan-americanos de 2007, Marta chegou a ser comparada a Pelé, sendo chamada pelo mesmo de o "Pelé de Saias". Além disso, entrou na calçada da fama do Maracanã, sendo a primeira e, até agora, a única mulher a deixar a marca dos pés neste local. VOTE >>> http://goo.gl/T0Exz0

Categorias específicas brasileiras:

www.thelukas.co.uk

Brazilian or Portuguese Actor of the Year >>> http://goo.gl/24q2wq Brazilian DJ of the Year >>> http://goo.gl/qpy69w Brazilian Dance Performers of the Year >>> http://goo.gl/x5UCI5 Brazilian Dance School of the Year >>> http://goo.gl/r9NgIE Brazilian Dance Teacher of the Year >>> http://goo.gl/na7h97 Brazilian Restaurant of the Year >>> http://goo.gl/SVWcZz

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PERFIL

SEBASTIAN RAMOS E A PASSARELA

Amor vem um pouco da combinação entre romance e sensualidade. Qual estilista poderia ter um tema como este a não ser Sebastian Ramos? O brasileiro, designer da marca Sebastian London, voltou à semana de moda de Londres no mês de fevereiro para apresentar sua nova coleção, mostrando que seu estilo faz jus ao mote da estação. Em seu desfile, Sebastian apresentou transparências, rendas e flores para inspirar as mulheres a esbanjar seu lado eternamente romântico, com um toque de sensualidade. Rendas francesas e tecidos em formato de flor foram combinados para representar essa dualidade sensual e romântica da estação mais esperada do ano. O designer se inspirou nos parques de Londres naqueles dias em que as flores estão nascendo e o cheiro de primavera está no ar. “Sou encantado pelas flores de Londres e gosto de analisar cada detalhe. Esta coleção traz toda a minha inspiração floral. As flores de Londres estão nos meus vestidos de forma sutil, como parte dos detalhes. Procurei reproduzir a delicadeza e a sofisticação dos botões e pétalas, em especial a Cherry Blossom”, contou Sebastian ao Brasil Observer. Sobre a escolha das cores, Sebastian salientou a importância do bem-estar ao vestir. Tons e tecidos apropriados devem ser lembrados no momento da criação. “As cores apresentam grande influência sobre a temperatura. Além disso, podem estimular o humor, o cotidiano de cada pessoa”, argumentou o designer. Os vestidos da coleção “Spring Feelings” podem ser definidos em três palavras: renda, bordado e transparência. Apresentando vestidos longos e curtos, a paleta varia entre preto, marfim, vermelho e rosa suave. Sebastian revelou os segredos de criação e disse se basear no caimento do vestido ao contato com a pele da modelo. “Busco sempre escolher tecidos que realcem o corte do vestido e o corpo das mulheres. Tenho andado pelo mundo estudando os tecidos que tenham o caimento perfeito, que acentuam a silhueta. O meu truque é sempre colocar o pano no corpo de uma modelo, antes mesmo de cortar. Desta forma o corte fica perfeito, e o feitio sofisticado”. Para o estilista, cada etapa flui com naturalidade no processo de criação. “Depois da fase de inspiração e esboço de projetos com os croquis, tiro as medidas e em seguida faço os cortes. Vou criando a base de cada medida em cima da manequim e depois cubro a base com pedrarias e detalhes. O resultado é o que você vê na passarela”. Questionado sobre a preparação que antecede à semana de moda de Londres, o designer disse trabalhar em tempo integral para influenciar o bem vestir das mulheres. Ele entende que suas criações causam impacto no comportamento feminino e sabe lidar muito bem com isso. “A preparação para a London Fashion Week é intensa. São horas antecipadas de trabalho e dedicação. É a semana em que os designers apresentam a dedicação de mais de meio ano de trabalho. A semana mostra que a moda está cada vez mais presente no cotidiano, especialmente nas ruas de Londres, onde as pessoas não se intimidam em usar o que está sendo lançado nas passarelas”.

RÔMULO SEITENFUS

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Por Rômulo Seitenfus

Estilista brasileiro volta à London Fashion Week e apresenta coleção baseada no romance e na sensualidade da primavera


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BRASIL GLOBAL DIVULGAÇÃO

UMA NOVA

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Entrada do AMRC (Advanced Manufacturing Research Centre)


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Embraer, ITA e SENAI cogitam parcerias com o AMRC, centro ‘state-ofthe-art’ de pesquisa em manufatura avançada que a Universidade de Sheffield opera com a Boeing, visitado pela reportagem durante a Open Innovation Week g

Por Juliana Resende, de Sheffield, especial para o Brasil Observer

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Quem associa Sheffield às cenas desoladoras e também divertidas dos metalúrgicos desempregados que viram strippers no filme inglês Ou Tudo Ou Nada (The Full Monty, 1997) não está de todo errado. Trata-se de um passado não tão longínquo. Mas vestígios destes tempos de decadência da eterna Cidade do Aço, tão bem explorados no cult vencendor do Oscar, desintegram quando adentramos no admirável mundo novo que um dos mais modernos centros de inovação em pesquisa de manufatura avançada do mundo, o AMRC (sigla para Advanced Manufacturing Research Centre), materializa. Somos uma delegação brasileira de primeira viagem ao local. Integrada por representantes do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), CNI-MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação da Confederação Nacional das Indústrias) e da Smyowl, startup da Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens), a delegação brasileira visitou o AMRC a bordo da Open Innovation Week, evento promovido pela rede de Ciência e Inovação do UK Trade & Investiment (UKTI), órgão de fomento ao intercâmbio do governo britânico,

e ficou muito bem impressionada. Afinal, o AMRC é um modelo que pode ser adotado no Brasil. Encravado no Parque de Manufatura Avançada, o AMRC é um complexo de alta tecnologia de 420 mil metros quadrados – englobando cinco instituições pesquisando de composites para a indústria aeroespacial a próteses de materiais ultra-avançados para o corpo humano, passando por turbinas, drones e robôs. É numa sessão de realidade virtual mostrando a montagem do tipo ‘next generation’ de um motor que o engenheiro Alberto Xavier Pavim, Especialista em Desenvovimento Industrial do SENAI, mais se entretém. “Meus colegas Marcelo Prim e André Nascimento, também Especialistas em Desenvolvimento Industrial, lideravam a equipe do SENAI (que eu acompanhava) para visitar os potenciais parceiros internacionais britânicos. Nossa viagem visava identificar parceiros de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação que tivessem interesse de trabalho conjunto com os Institutos SENAI de Inovação no Brasil, no escopo de uma chamada especial do Edital de Inovação do SENAI em cooperação com o Newton Fund”, conta Pavim.

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“O AMRC muito nos impressionou por sua dimensão e resultados de pesquisa. Observa-se, no local, o efeito positivo e impactante da ação colaborativa entre empresas, academia e demais atores do ecossistema de inovação britânico”, dizem os engenheiros do SENAI. “A infraestrutura disponível no AMRC reflete o estado da arte nas áreas em que realiza pesquisa aplicada, bem como um claro comprometimento das indústrias que integram este ambiente de inovação, via investimento na construção de edificações, plantas-piloto e na compra de equipamentos”, completam, lembrando que o centro conta ainda com iniciativas estratégicas governamentais para suportar seu financiamento. “No local, pode-se observar, por exemplo, a ação integrada entre Boeing, Rolls Royce e Universidade de Sheffield. Os resultados obtidos neste ambiente de inovação são expressivos e impactam inclusive na atualização do próprio currículo acadêmico da Universidade a que pertence, demonstrando que as ações dos atores do ecossistema resultam num benefício mútuo, com o fim de impactar, em última análise, a sociedade britânica em si”, ressalta o engenheiro Pavim. JULIANA RESENDE

Richard Caborn e John Baragwanath conversam com delegação brasileira no AMRC

REINDUSTRIALIZAÇÃO Enquanto o resto da delegação segue imerso em realidade aumentada, uma pergunta não quer calar: por que Sheffield? Para começar, aquele lugar de céu de chumbo em que a fumaça das siderúrgicas levou George Orwell a considerar que devesse pleitear o posto de “a cidade mais feia do Velho Mundo”, em 1937, melhorou muito de vida ao se tornar uma das Core Cities, grupo das oito maiores cidades do Reino Unido fora Londres que se ajudam mutuamente, criado em 1995. Fundada na Idade do Bronze, berço da Revolução Industrial, da banda Arctic Monkeys e do primeiro time de futebol do planeta, entre outras coisas, Sheffield ficou famosa pela qualidade das facas que produzia no século 14. Duzentos anos

mais tarde, a então vila saxã que virara um estratégico ponto comercial às margens do rio Sheaf assumiu a liderança mundial na fabricação de talheres. No século 19, Sheffield entrou para a história quando deu ao mundo o processo de produção de aço. No século 20, revolucionou a siderurgia internacional com diversas inovações, como a invenção do aço inoxidável. Com um passado assim cheio de glórias, é triste imaginar a velha Sheffield como um entreposto de privações, onde a classe proletária já teve seu trabalho nas fábricas comparado à condição de semiescravidão. Nos anos 70 e 80, dias ainda mais cinzentos com altos índices de desemprego assombraram a cidade, devido ao declínio da indústria tradicional dependente do carvão, cujos minei-

ros protagonizaram greves que encheram Margaret Thatcher de cabelos brancos. Mas eis que o final do século 20 uma Sheffield-Fênix emerge das cinzas à frente da inovação na área de manufatura avançada de alto valor agregado. Como? Devido a uma consistente política nacional de redesenvolvimento das principais cidades britânicas nos anos 90. A Sheffield dos mineiros-strippers viu, nos anos 2000, sua combalida economia crescer a uma média de 5% ao ano, num cenário em que parcerias da indústria com as universidades de Sheffield e Hallam – da qual saiu a pesquisa fundamental na evolução dos modernos aços de baixa liga e alta resistência, tão essenciais no século 21 – foram e continuam sendo fundamentais.


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MODELO EXEMPLAR

JULIANA RESENDE

O AMRC é um exemplo de como o Reino Unido – que pulou de décimo para o segundo país mais inovador do mundo, segundo o Global Innovation Index de 2014 – está se reindustrializando, apostando principalmente no potencial de regiões fora da Grande Londres. Esse modelo de descentralização dos centros de conhecimento e produção, unindo pesquisa (universidade) e aplicação no mercado (indústria) está sendo replicado em outras regiões e segue inspirando governos, empresas e intuições de diversos países – entre eles o Brasil. Construído no mesmo terreno que já foi parque de históricos conflitos entre os sindicatos e a polícia do governo linha dura do sucessor de Thatcher, o premiê conservador John Major, o AMRC é “a mais completa tradução de pesquisas de ponta em manufatura de alto valor”, define o vice-reitor da Universidade de Sheffield, Sir Keith Burnett. “O centro é como um ‘departamento independente’ da universidade”, ressalta. E prepara, para o final de 2015, uma impressionante expansão de sua ‘Fábrica do Futuro’ (mais no BOX). O AMRC foi apontado como a mola-propulsora Igor Siqueira Cortez, da recuperação economista especialista econômica britâem Desenvolvimento Industrial da Confederação nica e colocou a Universidade de Nacional da Indústria Sheffield como principal citada no relatório UniverCities: The Knowledge to Power UK como referência em fornecer componentes de “high value manufacturing” a multinacionais que, por sua vez, fomentam dois clusters de inovação no local: de Manufatura Avançada e Manufatura Nuclear. São as chamadas Catapultas, financiadas pelo governo britânico por meio da Innovate UK (agência governamental de promoção da inovação e nome de uma das maiores conferências de inovação do mundo que acontece em novembro, em Londres). O AMRC abriga também um Centro de Treinamento, líder na formação de aprendizes avançados para estudo de engenharia e metalurgia – duas áreas em que a Universidade de Sheffield, eleita a primeira em satisfação estudantil em 2014 pelo ranking Times Higher Education, é pioneira. Interessado em trocar experiências, o AMRC possui o Centro de Transferência de Conhecimento que, desde 2012, compartilha com afiliados e mantenedores descobertas e materiais inovadores que serão a base de uma nova revolução industrial. Segundo os engenheiros do SENAI, “semelhante modelo de pesquisa aplicada

Um mundo de oportunidades aqui a serem exploradas

e cooperação para inovação” interessa à instituição brasileira, que foca atualmente numa estratégia de sustentabilidade para introduzir novos modelos de negócio de suporte à inovação no Brasil. “Na medida em que a organização está implementando 26 Institutos de Inovação inseridos em um ecossistema nacional de inovação em pleno desenvolvimento, almeja-se construir tais parcerias estratégicas com indústria, universidades, comunidades empreendedoras e demais atores do ecossistema”. O SENAI, por meio de seus Institutos, busca beneficiar a sociedade, contribuindo para a necessária mudança de patamar tecnológico da economia brasileira. Criado em 1942, pelo então presidente Getúlio Vargas, o SENAI surgiu para atender a uma necessidade premente: a formação de profissionais qualificados para a incipiente indústria de base. Já na ocasião, estava claro que sem educação profissional não haveria desenvolvimento industrial para o país.

‘AVIONICS’ O AMRC nasceu em 2001, fruto de colaborações entre o professor Keith Ridgway – Commander of the Most Excellent Order of the British Empire (CBE) e ainda hoje o pesquisador-chefe do centro – e o empresário local Adrian Allen, que começou a trabalhar com a Boeing para direcionar a pesquisa aplicada na Universidade de Sheffield para novos materiais destinados à aviação. Foram investidos £15 milhões de libras (cerca de R$ 65.5 milhões), com apoio do Fundo Europeu para Desenvolvimento Regional. Em 2004, o complexo começou a expandir. Hoje, são mais de 200 engenheiros e diversos pesquisadores se revezando em prédios de arquitetura arrojada, prototipando e testando equipamentos de alta tecnologia para as indústrias aeroespacial, médicas e de manufatura de alto valor em geral. Para integrar esse expertise acadêmico com a indústria e a economia locais, foi criado o programa RISE – que engloba uma comissão multidisciplinar para o crescimento de Sheffield (City Growth Commission) e da região (o condado de South Yorkshire) –, no qual a universidade trabalha junto à prefeitura da cidade na criação de empregos e na atração e retenção de cérebros (o campus abriga 26 mil estudantes e staff de 120 países, entre os quais ostenta cinco prêmios Nobel). Não à toa, o AMRC está sendo apontado por catapultar literalmente a inovação no Reino Unido e sua transformação em negócios, numa cadeia alimentada pela parceria com empresas que têm na tecnologia de ponta seu maior asset. Além da gigante aeroespacial Boeing, potências globais como Rolls-Royce, Unilever, AstraZeneca, Glaxo SmithKline, Siemens e Airbus estão entre as 30 empresas britânicas e transnacionais, além de agências de governos estrangeiros e fundações, que contribuem com o centro. “Aqui, somos extremamente privilegiados por colocar em prática um trabalho visionário em manufatura avançada, unindo academia, governo e mercado, com abrangência não somente nacional,

mas como uma forma de manter a economia britânica competitiva num cenário global”, festeja Richard Wright, diretor-executivo da Câmara de Comércio de Sheffield. O AMRC é parte de um esforço público e privado, em parceria com a academia e a indústria, que o governo brasileiro pretende replicar por meio do Plano Inova Empresa, com investimento de R$ 32,9 bilhões nos próximos dois anos em inovação e cujo lançamento aconteceu em 2013, meio à reunião geral da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). Para o economista Igor Siqueira Cortez, especialista em Desenvolvimento Industrial da CNI-MEI, um dos delegados da Open Innovation Week, “há um mundo de oportunidades aqui [no Reino Unido e no AMRC] a serem exploradas”.

RETOMADA DO CRESCIMENTO No Brasil, a inovação foi apontada prioridade do governo Dilma Rousseff, visando o aumento da competitividade e unindo pesquisa e mercado na geração de novos negócios nas áreas de saúde, energia, sustentabilidade e indústria aeroespacial. Em outras palavras: a retomada do crescimento. Um dos pilares do programa de inovação brasileiro que recebeu mais elogios de Dilma em 2014 foi o Inova Aerodefesa. O programa tem o objetivo de incentivar a inovação em empresas dos segmentos de defesa, segurança, aeroespacial e materiais especiais por meio de editais administrados pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), empresa pública vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia e criada para promover e financiar a inovação. “O apoio que concedemos para atividades inovadoras se justifica pelo fato de que o país precisa cada vez mais de inovação, tecnologia e conhecimento”, afirmou a presidente, na inauguração do hangar para fabricação do cargueiro KC-390 pela Embraer – que não é uma experiência isolada de sucesso, incluindo geração de empregos diretos e indiretos. No entanto, o caminho para o topo é longo, e depende de constância e comprometimento político, independente do partido que estiver no governo. O relatório da competitividade da CNI Competitividade Brasil mostrou o país em penúltimo lugar entre os 15 mais competitivos do mundo em 2014. Há conversações entre o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e a Embraer para desenvolver um parque de pesquisa e produção tecnológico inspirado no AMRC. Familiarizado com negociações com potenciais parceiros brasileiros, o deputado trabalhista Richard Carbon, membro do parlamento britânico por Sheffield e consultor estratégico do AMRC, presente na comissão do centro que recebeu a delegação brasileira, parecia ansioso para ir “straight down to business” (expressão que define bem a cultura dos ingleses, quando o assunto é “ir direto aos negócios”). “Por enquanto, sabe-se que com a seleção do ITA para formar a Unidade EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Indus-


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A jjornalista Juliana Resende é editoraexecutiva da agência de PR e conteúdo BR Press, operando em São Paulo e Londres, e visitou o AMRC como gerente de comunicação interina do Consulado-Geral Britânico de São Paulo, a convite da rede brasileira de Ciência e Inovação do UKTI. Email: Juliana@brpress.net

FÁBRICA DO FUTURO DIVULGAÇÃO

trial) de Manufatura Aeronáutica para as Cadeias Produtivas de Aeronáutica de Defesa, as chances reais de parceria com o AMRC aumentam, com fundos de financiamento do governo brasileiro”, acredita Caborn – embora nada ainda esteja oficialmente confirmado. A UE-ITA proporcionará sinergia com as várias divisões da instituição, será uma unidade núcleo para iniciativas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação com a efetiva participação das empresas e contará com a coordenação técnica do Prof. Dr. Luís Gonzaga Trabasso. Para ele, “a UE-ITA é uma oportunidade de incrementar a integração academia-empresa por meio de mecanismos ágeis de contratação, execução e verificação de projetos de P&D (pesquisa e desenvolvimento)”. Ao compartilhar riscos de projetos com as empresas, a EMBRAPII, sendo um órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Ministério da Educação que atua por meio da cooperação com instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas ou privadas, tendo como foco as demandas empresariais, na fase pré-competitiva da inovação, tem o objetivo de estimular o setor industrial a inovar mais e com maior intensidade para, assim, potencializar a força competitiva das empresas tanto no mercado interno como no mercado internacional – exatamente o modelo do AMRC. Vale lembrar que o ITA, assim como a Universidade de São Paulo (USP) já formalizaram intercâmbios de staff com a Universidade de Sheffield. Tim Cricks, diretor de Parcerias Internacionais da Universidade de Sheffield, aguarda “uma visita do vice-presidente da Embraer ao AMRC em breve”. Em seu discurso na Embraer, a presidente Dilma listou, na relação de prioridades alavancadas por incentivos à inovação, o sistema integrado de monitoramento das fronteiras terrestres brasileiras, a construção do satélite geoestacionário para comunicações estratégias e o programa de submarinos de propulsão convencional e nuclear. A construção do submarino nuclear brasileiro, por exemplo, “sofre com a inconstância com que recebe verbas”, lembra o Prof. Dr. Tharcísio Bierrenbach de Souza Santos, professor do FAAP -MBA, responsável pelos cursos de Globalização e Competitividade, Cenários Econômicos, Governança Corporativa e Compliance e Gestão Estratégica de Crises, além de coordenador do curso da instituição específico para jornalistas, o Agenda Brasil. “É preciso foco”, alerta Santos. “E muito mais investimento em educação para que a inovação se desenvolva no Brasil”.

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Construção da Factory 2050, a ‘Fábrica do Futuro’ e a projeção de como ficará o local

O Advanced Manufacturing Research Centre (AMRC) cresce num ritmo acelerado e prepara terreno para expandir a chamada “Fábrica do Futuro”, em operação desde 2010 e tendo a Rolls-Royce (que, segundo o Financial Times denunciou em pleno Carnaval, teria pago propina para fornecer equipamentos à Petrobras) como parceira-chave. A edição revista e ampliada da “Fábrica do Futuro” será a AMRC Factory 2050, “um grande laboratório de produção englobando várias tecnologias e integrado com várias universidades”, explica o escocês John Baragwanath, ex-engenheiro de comunicações da Royal Air Force e Officer of the Most Excellent Order of the British Empire (OBE) que, como chefe da Unidade de Inovação do condado de Yorkshire, teve um papel importante na fundação do AMRC, ao qual ele se juntou como diretor de projetos em 2005. Na era dos biocomposites e de novos paradigmas industriais trazidos pela tecnologia, o AMRC aposta na “convergência de todas as áreas”, conforme descreve Baragwanath, para reinventar-se com a

Factory 2050 – que ganhou as fundações em fevereiro e promete ficar pronto até o final de 2015. Será o primeiro prédio do novo Campus de Manufatura Avançada da Universidade de Sheffield, que dará ao antigo Sheffield City Airport um propósito inovadoramente revolucionário. Em março, o AMRC sedia uma convenção internacional sobre o projeto. A julgar pela maquete disponível em um vídeo de animação 3D, trata-se de uma construção de dimensões impressionantes, toda envidraçada, em forma de disco voador, que será a primeira fábrica do Reino Unido totalmente digital a produzir componentes de alto valor diferentes em períodos alternados: por exemplo, turbinas pela manhã, e motores à tarde – tudo de maneira totalmente automatizada, por meio de robótica e realidade virtual. Projeto de £43 milhões (cerca de R$ 170 milhões), a Factory 2050 será um marco na indústria de manufatura avançada e aposta no conceito de “fábrica reconfigurável”, o que propicia altos níveis de flexibilidade em relação ao que vai ser produzido. O objetivo é atender à cres-

cente demanda de possibilitar rápidas mudanças tanto no design do produto quanto no que está sendo efetivamente produzido. A “Fábrica do Futuro” foi projetada para permitir que máquinas e módulos operacionais se movam pelas suas instalações. Sofisticados sistemas de monitoramento vão catalogar todos os processos gerando um alto volume de informação, que será compilado e usado para maximizar resultados, minimizando o tempo de produção e mantendo alta qualidade. Toda a operação será por meio de tecnologia verde, sendo sua principal fonte de energia própria e renovável. Somente em sua fase da construção, a Factory 2050 gerou 160 empregos e estima-se a contratação de cerca de 75 técnicos para operá-la, após a finalização. Isso sem falar nos empregos e investimentos indiretos gerados por empresas que vão se instalar na região de Sheffield, trazendo uma estimativa de £6.4 milhões (cerca de R$ 27 milhões) à economia local e contribuindo com cerca de £2 milhões, anualmente, em Geração de Valor Agregado (GVA).


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CONEXÃO BR-UK

HITCHCOCK À MOSTRA

EMBAIXADA DO BRASIL PROMOVE PRÊMIO ARTÍSTICO

Parceria entre British Council Brasil, British Film Institute, Festival do Rio e Sesc São Paulo oferece rara oportunidade para os amantes do cinema e os devotos de um dos mais importantes cineastas britânicos de todos os tempos DIVULGAÇÃO

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Em 2012, o British Council Brasil, o British Film Institute (BFI) e o Festival do Rio promoveram, pela primeira vez no Brasil, a exibição de um filme mudo de Alfred Hitchcock com trilha sonora ao vivo. Nos anos seguintes, o público carioca pôde apreciar outros filmes mudos que marcaram o início da carreira do eterno mestre do suspense. Agora, em 2015, o Sesc São Paulo dá continuidade ao projeto com a mostra Hitchcock in Concert, oferecendo aos paulistanos a oportunidade de conhecer quatro obras: Chantagem e Confissão, A Mulher do Fazendeiro, Vida Fácil e Pobre Pete – todos exibidos no Sesc Santana nos dois primeiros finais de semana de março. Os filmes foram restaurados pelo BFI e integram o maior projeto de restauração do instituto britânico, que, além de abrigar as primeiras e mais importantes cópias existentes da obra do grande cineasta, recorreu a diversos arquivos e tecnologias para revelar, camada por camada, novas texturas, facetas e sentidos ocultos em cada filme. “A equipe do BFI examinou mais de 9 milhões de frames individuais para trazer esses filmes de volta à vida, utilizando material de sete arquivos em três continentes. O resultado é uma coleção fascinante e valiosa dos primeiros trabalhos de Hitchcock, que oferecem uma amostra dos primeiros

Cineasta britânico em alta no Brasil

sinas de sua futura maestria. O British Council vem trabalhando com o BFI para fazer com que essas joias alcancem públicos ao redor do globo, apoiando exibições acompanhadas de música ao vivo”, explicou Will Massa, consultor de filmes do British Council em Londres, na ocasião do Festival do Rio no ano passado. Com a parceria, que é um dos diversos frutos do programa Transform

(www.transform.britishcouncil.org. br) de cooperação cultural e artística entre o Brasil e o Reino Unido que acontece entre 2012 e 2016 como parte do legado Olímpico, o público tem a chance de acompanhar o nascimento de um estilo único, marcado pela perspicácia e pelos domínios artístico e técnico do jovem que se transformaria em um dos maiores nomes do cinema mundial.

CRESCE NÚMERO DE TURISTAS BRASILEIROS NO REINO UNIDO A CEO do Visit Britain, Sally Balcombe (foto), divulgou em fevereiro, no Explore GB, dados provisórios de 2014. Segundo a dirigente, o Reino Unido deve fechar 2014 com 34,8 milhões de visitantes estrangeiros, aumento de 6% sobre 2013, que gastaram 21,7 bilhões de libras, aumento de 3%. Ambos os resultados são recorde. Em relação ao desempenho do Brasil, os números referem-se ao período de janeiro a setembro do ano passado, quando o país enviou 245 mil visitantes, crescimento de 15%, responsáveis por gastos de 215 milhões de libras. Neste último quesito, a queda foi de 8%. Em números de visitantes, os principais mercados foram França (3,93 milhões), Alemanha (3,1 milhões), Estados Unidos (2,7 milhões) e Irlanda (2,3 milhões), de acordo com os dados provisórios.

A Embaixada do Brasil em Londres, em parceria com o Itaú BBA e o People’s Palace Projects (da Queen Mary University of London), está promovendo a primeira edição do prêmio Visual Arts Awards. A edição inaugural está aberta para submissões e vale para todos os artistas baseados no Reino Unido. Neste ano, a premiação tem como foco as cidades de Londres e do Rio de Janeiro, sedes dos Jogos Olímpicos de 2012 e 2016, e as conexões temáticas entre as duas. Serão aceitos trabalhos criativos em diferentes formatos, incluindo pintura, desenho, escultura, fotografia, cerâmica e gravura (excluindo as instalações de vídeo). A data limite de envio é o dia 17 de abril. Uma pré-seleção dos trabalhos escolhidos pelo júri será exibida entre os dias 4 e 22 de maio na Embaixada do Brasil em Londres, para que o público tenha a chance de ver as obras e votar em suas peças favoritas. Prêmios em dinheiro, fornecidos pelo Itaú BBA, serão dados aos três finalistas que serão anunciados no dia 22 de maio. O prêmio para o primeiro colocado é de 3 mil libras; para o segundo e para o terceiro colocados, o prêmio é de 1 mil libras para cada um. Para mais informações, acesse www.culturalbrazil.org


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READ EVERY PAST ISSUE OF BRASIL OBSERVER AT

ISSUU.COM/BRASILOBSERVER

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BRASILIANCE

INSATISFAÇÃO E INQUIETUDE Estatísticas e projeções econômicas não justificam alarmismo dos pessimistas, mas freiam euforia dos otimistas. Nas ruas, população reage às medidas de austeridade e às denúncias de corrupção. As peças do quebra-cabeça Brasil estão à mesa

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Política e economicamente o Brasil enfrenta um dos momentos mais complexos do último decênio. Apesar do bombardeio diário de notícias e informações sobre escândalos de corrupção e de projeções desfavoráveis de indicadores econômicos, é exagero dizer que o país afunda em crise. Há também resultados satisfatórios em alguns setores da economia. E se as denúncias vêm à tona com mais frequência nos dias que correm isso não significa que os desvios sejam maiores do que antes; indica, aí sim, que más condutas cada vez menos passam despercebidas e estão mais sujeitas a punições. Há, porém, uma sensação quase generalizada de que, em relação às recentes conquistas sociais e econômicas, existem ameaças iminentes. O mercado de trabalho se mantém aquecido e a renda do trabalhador segue em alta, mas o Produto Interno Bruto (PIB) patina e pode retrair em 2015, com inflação maior (ver indicadores no box). Além disso, segue em andamento uma série de medidas impopulares, tomadas em sua maior parte pelo governo federal, mas também por governos estaduais e prefeituras. São aumentos de tributos a penalizar principalmente os trabalhadores, com restrições a benefícios previdenciários, cortes em orçamentos de serviços públicos como saúde e educação e reajuste de tarifas do transporte urbano, energia, água e combustíveis. Um conjunto de ações rotuladas de “ajuste fiscal” que tem como objetivo garantir a meta governamental de superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública) em 2015, que é de 1,2% do PIB – cerca de R$ 110 bilhões. Na prática, no entanto, contribuem para alimentar o clima de insatisfação, encurtando o caminho para se chegar à alarmada crise. “O ajuste fiscal só aprofundará os problemas econômicos, sociais e políticos do Brasil. A chamada austeridade recairá, como sempre, sobre os trabalhadores, a classe média e o setor produtivo, reduzindo as margens de crescimento”, adverte o professor de Economia Luciano Wexell Severo, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). “O ajuste e a suposta austeridade só servem para beneficiar ainda mais o mercado financeiro, que exige taxas de juros altas e o fiel pagamento da dívida pública. Os gastos cortados são com pessoal, com investimentos e com a infraestrutura social. As despesas reservadas para o pagamento da dívida são intocáveis”.

Por Wagner de Alcântara Aragão

CORREÇÃO DE RUMO A presidenta Dilma Rousseff (PT), nas raras aparições e declarações públicas desde que iniciou seu segundo mandato, tem argumentado que o chamado ajuste fiscal é imprescindível para o país retomar o caminho do crescimento econômico. “Estamos entrando agora numa nova fase de enfrentamento da crise internacional, em que medidas serão necessárias para uma nova trajetória para crescermos”, declarou no início do mês durante entrega de 1.472 moradias do Programa Minha Casa Minha Vida em Arauguaria, Minas Gerais. “Queremos melhorar ainda mais o que conquistamos. Por isso, estamos fazendo correções e ajustes”, completou a governante. Não é o entendimento dos brasileiros. Principalmente por conta dos aumentos na conta de luz e na gasolina, há um descontentamento quase que generalizado com o começo de segundo mandato de Dilma. A mais recente pesquisa sobre a popularidade da presidenta disponível até o fechamento desta edição, feita pelo Datafolha e divulgada no início de fevereiro, mostrava que 44% dos entrevistados consideram o governo ruim ou péssimo – quase o dobro do verificado meses antes, em dezembro, quando o percentual era de 24%. O índice dos que consideram a gestão ótima ou boa, por sua vez, despencou de 42% em dezembro para 23% no mês passado. A queda na popularidade não é privilégio apenas da presidenta Dilma. A mesma pesquisa Datafolha identificou insatisfação dos paulistas com o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB) – o percentual dos que avaliam a administração dele como ruim ou péssima também quase dobrou, alcançando 24% –, e com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) – índice de 44% de ruim ou péssimo. No dia 26 de fevereiro, Alckmin viu na porta do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual e residência oficial do governador, uma manifestação encabeçada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) contra a falta de água no Estado. Milhares de pessoas participaram do ato (até 10 mil manifestantes).

LEVANTE NO PARANÁ A maior demonstração de insatisfação e inquietude contra medidas impopulares veio do Paraná. Em greve, servidores públicos estaduais – em sua

maioria professores e funcionários das escolas – promoveram praticamente um levante contra o corte de recursos para a educação básica e superior e contra um pacote de ajuste fiscal enviado pelo governador Beto Richa (PSDB) à Assembleia Legislativa no começo de fevereiro. O pacote de medidas incluía eliminação do fundo previdenciário do funcionalismo, extinção de mecanismos de ascensão na carreira dos educadores e redução drástica em benefícios como adicional por tempo de serviço e auxílio transporte. Em 10 de fevereiro, antevendo que as propostas enviadas pelo governador seriam aprovadas pela maioria dos deputados estaduais, os trabalhadores do serviço público ocuparam o plenário da Assembleia Legislativa, em Curitiba, interrompendo a sessão de apreciação do pacote. Os manifestantes permaneceram acampados por toda a noite e o dia seguinte, do lado de dentro e de fora do Legislativo, obrigando os deputados, no dia 11, a retomarem a apreciação numa sessão realizada no refeitório da Assembleia. No dia 12, quando ocorreria a sessão de votação definitiva dos projetos do governador, milhares de manifestantes cercaram a Assembleia para bloquear a entrada dos parlamentares e, assim, impedir a votação. Transportados por um micro-ônibus blindado do batalhão de choque da Polícia Militar – uma espécie de camburão onde são levados detidos – e isolados por um cordão de policiais em solo, os deputados conseguiram furar o cerco dos manifestantes, e entraram na Assembleia Legislativa por uma passagem improvisada. Subiram ao refeitório para iniciarem a sessão, mas, tão logo os trabalhos foram abertos, do lado de fora, indignada e revoltada, a multidão conseguiu se sobrepor ao isolamento policial (que não impôs a resistência costumeira), derrubar cercas e ocupar totalmente a Assembleia Legislativa. Acuados, temendo uma tragédia, os deputados, atendendo à reivindicação dos manifestantes, conseguiram do governador Beto Richa a retirada do pacote de medidas da pauta. O recuo do governador e dos deputados de sua base não bastou para por fim às manifestações. Os professores e funcionários tanto das escolas como das universidades estaduais mantiveram a greve, cobrando do Governo do Estado a retomada no repasse de recursos para a manutenção dos estabelecimentos de ensino e o cancelamento de medidas administrativas que vinham sendo tomadas pelo Estado desde o final de 2014. Os educadores promoveram outras duas grandes

marchas por ruas centrais de Curitiba, no dia 25 de fevereiro (de 40 mil a 50 mil pessoas) e no dia 4 de março (20 mil pessoas). A insatisfação com a gestão de Beto Richa no Paraná não é só dos servidores públicos. Reeleito em outubro de 2014 no primeiro turno, com 56% dos votos válidos, o governador do PSDB viu sua popularidade despencar. Levantamento do instituto Paraná Pesquisas divulgado neste mês de março aponta que 76% dos paranaenses entrevistados reprovam o segundo mandato de Beto Richa.

CAMINHONEIROS Também no Paraná e em pelo menos mais dez Estados brasileiros a última semana de fevereiro e a primeira de março foram marcadas por protestos de caminhoneiros que bloquearam dezenas de rodovias federais e estaduais. Entre os motivos, dois principais: o recente aumento no preço do diesel e as elevadas tarifas de pedágio. A paralisação dos caminhoneiros chegou a prejudicar o abastecimento de indústrias e supermercados e o escoamento da safra agrícola. O governo federal recebeu lideranças do movimento a fim de negociar um acordo – a sanção de uma lei de regulamentação da categoria, aprovada ano passado pelo Congresso Nacional, atendeu parte dos pleitos. A redução no preço dos combustíveis foi descartada. Ainda para a primeira metade de março outras duas manifestações eram aguardadas com expectativa. Uma delas, agendada para 13 de março, prometia reunir em diversas cidades sindicalistas, integrantes de movimentos sociais e lideranças políticas de esquerda. A mobilização teve convocação oficial de dezenas de entidades e contava com um aliado de peso – o ex-presidente Lula. A mobilização tem como bandeiras o apoio à Petrobras (desgastada pela Operação Lava Jato) e o combate à corrupção, todavia “contra o viés golpista dado aos fatos pela direita e os setores conservadores da sociedade”. Os atos de 13 de março surgiram como resposta a convocações feitas, principalmente por redes sociais, para manifestações marcadas para 15 de março, pedindo o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Desde que perdeu as eleições presidenciais de outubro, setores da direita esboçam movimentos com o intuito de destituir Dilma. Diante das medidas impopulares, de ajuste fiscal, tomadas pela presidenta depois de reeleita, os defensores do impedimento de Dilma apostam fichas na insatisfação popular para lograr êxito.


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JOKA MADRUGA/ APP

INDICADORES

Impeachment de quem? Até agora, maior manifestação ocorreu em Curitiba: 50 mil a favor da greve dos professores e contra o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB)

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Produto Interno Bruto (PIB): O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta para 2015 um crescimento de 0,3% do PIB brasileiro. Internamente, o mercado prevê retração de até 0,5% para o país. O próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levy, admitiu a possibilidade de recuo. O PIB de 2014 será anunciado no dia 27 de março – no acumulado de 12 meses encerrados em setembro último, o crescimento foi de 0,7%.

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Mercado de trabalho e renda: O desemprego nacional terminou 2014 com taxa média de 6,8%, menor que os 7,1% de 2013 e que os 7,4% de 2012. No ano passado, o mercado formal de trabalho gerou saldo positivo de 397 mil empregos, acréscimo de 1% sobre 2013. Na mesma comparação, o salário médio subiu 7%, alcançado R$ 1.181,56/mês. O atual salário mínimo (R$ 788/mês) tem o maior poder aquisitivo desde 1965.

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Indústria, comércio e serviços: Em 2014, a produção da indústria brasileira caiu 3,2% em relação a 2013. Já o comércio viu subir a receita, no mesmo período, em 8,5%; em volume de vendas, o crescimento foi de 2,2%. O setor de serviços terminou 2014 com crescimento nominal de 6% sobre 2013.

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Inflação: A inflação de 2014 foi de 6,1% e ficou dentro do teto da meta (6,5%) estipulada pelo Banco Central. No acumulado em 12 meses encerrados em fevereiro último, o índice está em 7,7%, puxado sobretudo pelas altas dos combustíveis, energia elétrica e tarifas de ônibus dos dois primeiros meses de 2015.

Fontes: IBGE, Ministério do Trabalho e Banco Central

AJUSTE FISCAL NÃO É A ÚNICA SOLUÇÃO, AFIRMAM ECONOMISTAS Para aprofundar o debate sobre retomada do crescimento brasileiro, o Brasil Observer consultou dois professores de economia: Fernando Ferrari Filho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Luciano Wexell Severo, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Confira a seguir a opinião dos dois a respeito do ajuste fiscal e das alternativas existentes para o país.

O ajuste fiscal vai reconduzir o Brasil ao crescimento? c FERRARI FILHO - O ajuste fiscal é necessário, mas não é o único caminho. Saímos de uma situação fiscal relativamente confortável antes da crise para uma situação de déficit primário em 2014, mas a dívida pública não recrudesceu. Centrar atenções no ajuste parece ser desconsiderar que o país tem problemas de desindustrialização, desequilíbrio externo, gargalos de infraestrutura, entre outros fatores que contribuem para a pífia dinâmica da economia brasileira. c SEVERO - O ajuste é a alternativa mais custosa para os brasileiros e a mais covarde para o governo. Durante o segundo governo de Lula, mesmo com medidas paliativas, houve impactos positivos em uma economia que estava estancada. Prevaleceu uma preocupação com a volta da industrialização e com o fortalecimento do mercado interno. No entanto, depois de 2011, começou uma mudança de rumo e regrediu-se a uma política econômica de caráter liberal, ortodoxo e convencional que conspira contra o crescimento e o desenvolvimento. Que outras medidas econômicas poderiam ser tomadas? c FERRARI FILHO - Políticas monetária e cambial que induzam os investimentos privados; parcerias público-privadas que expandam a infraestrutura do país; política industrial e reformas tributária, previdenciária e trabalhista; essas e ou-

c

tras medidas devem estar na agenda do governo. Ademais, temos que torcer para que o cenário internacional melhore, pois, assim, não somente as exportações líquidas podem reverter o déficit comercial do país, como os investimentos internacionais podem ser dinamizados. Se insistirmos somente no ajuste fiscal (como o alemão), não iremos muito longe. SEVERO - O ajuste neoliberal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não é a única opção. O problema é que a preocupação central da coalizão governante não é com a economia nacional ou com o desenvolvimento das forças produtivas internas. Até agora, a proposta governamental expressava uma ideia vaga de crescimento com transferência de renda em que todos ganhassem. De fato, foi promovida a melhoria dos indicadores sociais e a ampliação das oportunidades dos mais pobres via ações paliativas de transferência de recursos oriundos de um crescente processo de desnacionalização. Mas esta estratégia é insustentável. Os financiamentos do BNDES poderiam promover uma industrialização soberana, com empresas estatais ou de capital privado nacional de porte pequeno e médio.

Qual a posição dos investidores estrangeiros nesse cenário? c FERRARI FILHO - Se houvesse um total descontrole das contas públicas, com elevados déficits primário e nominal e recrudescimento da dívida pública – cuja

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consequência é uma maior precificação da taxa de juros por parte dos demandantes de títulos públicos (e, portanto, do próprio mercado) –, com certeza a austeridade fiscal poderia resgatar a confiança dos investidores. Não estamos nesta situação, mas temos um problema crítico: entre 2008 e 2014 acumulamos um déficit em transações correntes da ordem de US$ 390 bilhões. Este é o ponto. Se não revertemos esta situação (e somente o setor de agronegócios não dá conta do recado), poderemos ter, em um futuro próximo ou distante, uma crise cambial. O que investidor quer é um ambiente institucional favorável. SEVERO - Afirmar que as medidas de ajuste resgatarão a confiança de investidores equivale a uma chantagem feita, sobretudo, pelo mercado financeiro. O argumento da inevitabilidade do ajuste é falso e tem a finalidade de ampliar a extorsão dos bancos, dos rentistas e de parcela dos exportadores sobre a sociedade brasileira. Os investidores estrangeiros devem vir para contribuir e não para estorvar. Contribuir significa investir, produzir, agregar valor, pagar impostos, gerar empregos, exportar e reinvestir capitais aqui. Tudo dentro da lei e das normas do Estado brasileiro, como ocorre nos países que exigem respeito. A retomada do crescimento depende de políticas anticíclicas. Depende do Estado, do planejamento, do fomento à industrialização e da expansão do mercado interno.

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CONECTANDO

Foz do Iguaçu

UMA UNIVERSIDADE QUE RESPIRA AMÉRICA LATINA Na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, UNILA é um polo para o desenvolvimento da integração latino-americana Por Francisco Denis – de Foz do Iguaçu, Paraná g

H

Holá, me chamo Francisco Denis, mais conhecido como Chico Denis. Sou um dos primeiros estudantes brasileiros a chegar à Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) para cursar a graduação em Relações Internacionais e Integração, no mês de agosto de 2010. Sou natural da pequena cidade de Quixelo, no interior do Estado do Ceará. Filho de trabalhadores rurais, aceitei o desafio de participar da construção de uma universidade nova por causa de suas características que, desde o primeiro momento, me chamaram a atenção. Isso me fez cruzar mais de 5 mil qui-

lômetros até a cidade de Foz do Iguaçu para seguir a carreira que eu queria. Como a UNILA é bastante jovem – apenas cinco anos – e não está localizada em um grande centro brasileiro, poucos conhecem suas características. Por que, então, essa universidade é tão especial? Primeiro, ela não poderia estar em lugar melhor: em Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná, na fronteira trinacional entre Argentina, Brasil e Paraguai. Além de ser a fronteira mais expressiva em população, economia e importância estratégica para o continente, conta com uma das maiores

belezas naturais da terra, as Cataratas do Iguaçu, que fazem da cidade o segundo destino turístico mais visitado no Brasil. O atrativo recebe, somente do lado brasileiro, mais de um milhão de visitantes por ano, sendo que, do lado argentino, a estimativa é quase a mesma. A região possui uma composição étnica muito variada, abrigando mais de 72 nacionalidades – com atenção especial à comunidade árabe. A região assiste, nas últimas décadas, a um acelerado processo de integração econômica, cultural e demográfica, num fenômeno único no continente. Nesse novo cenário, o local ganha uma

importante relevância. Somam-se a isso suas assimetrias econômicas, sociais e políticas, que são um verdadeiro reflexo do que é a realidade latino-americana, fazendo com que essa área funcione como um verdadeiro laboratório no estudo e na formulação de políticas para a integração regional. O fato de a UNILA estar ali não é por acaso. Trata-se da primeira instituição federal da região, o que mostra a grande importância desse processo de construção de novos conhecimentos e a aplicação destes no desenvolvimento local. Pelos diversos desafios que


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DIVULGAÇÃO

UNILA tem estudantes de todos os cantos do Brasil e de outros 11 países da América Latina

envolvem a fronteira, a universidade, por meio da produção e da cooperação das diferentes áreas do conhecimento, tem o dever de atuar no desenvolvimento científico e tecnológico das sociedades, levando a uma construção de uma verdadeira cidadania regional. Uma das características que mais me chamou a atenção ao iniciar meu estudos na universidade foi a interdisciplinariedade de seus cursos. A UNILA tem hoje 29 cursos de graduação em diversas áreas do conhecimento e implantará mais 12 novas carreiras no segundo semestre de 2015. Os cursos

têm caráter diferenciado em relação aos cursos tradicionais de outras universidades, com ênfase nas sociedades do continente latino-americano. A universidade oferta cursos como de Antropologia - Diversidade Cultural Latino-Americana; Ciência Política e Sociologia - Sociedade, Estado e Política na América Latina; Ciências Biológicas - Ecologia e Biodiversidade; Ciências da Natureza - Biologia, Física e Química; Ciências Econômicas - Economia, Integração e Desenvolvimento; Cinema e Audiovisual; Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar; Engenharia de Energias

Renováveis; Geografia - Território e Sociedade na América Latina; História - América Latina; Música, Relações Internacionais e Integração; Medicina; Biotecnologia; Administração Pública e Políticas Públicas; entre outros. Na pós-graduação lato sensu oferece seis cursos de especialização e na scricto sensu oferta os mestrados em Integração Contemporânea da América Latina e o Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos. Com o processo de expansão da universidade, ao final de 2015, a instituição contará com 41 cursos de graduação. Essa quantidade de cursos em uma federal

que ainda não tem campus próprio preocupa as diferentes organizações de classe da universidade, sendo que a falta de infraestrutura é um dos principais desafios enfrentados desde o início. A maior parte do movimento estudantil, bem como muitos professores e técnicos, foi contra a criação dos novos cursos por entender que essa expansão comprometeria a qualidade do ensino e da aprendizagem universitária. Trata-se de um dos desafios mais importantes que a UNILA terá que enfrentar nos próximos anos.


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DIVULGAÇÃO

Entrei na UNILA pelo Sistema de Seleção Unificada (SiSU) com base na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Esse é o sistema de seleção para alunos brasileiros. Para os demais estudantes de países latino-americanos e caribenhos a seleção é feita em seu próprio país de origem pelo respectivo Ministério da Educação. Hoje a UNILA tem mais de 2.300 estudantes de todo o Brasil e de outros 11 países: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, El Salvador, Haiti, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. A vinda de estudantes dos países vizinhos à UNILA é um desafio fundamental. A maioria está em situação de vulnerabilidade social e não tem condições de permanecer no Brasil sem os auxílios estudantis (moradia, alimentação e transporte) ofertados pela universidade. Acontece que a oferta de benefícios é limitada, pois depende dos recursos destinados pelo Ministério da Educação. Nesse caso, nem todos os estudantes têm direito aos auxílios, e ter ou não bolsa é fator decisivo para escolher a UNILA. No processo seletivo deste ano, o número de estudantes estrangeiros diminuiu. Além dos fatores apresentados, há também os de ordem política dos próprios países, motivados por eleições e mudanças de quadros burocráticos. Esse desafio faz com que a instituição vá aos poucos perdendo sua característica latino-americana e a missão a que se propôs, tendo que buscar uma estratégica de cooperação com instituições e organismos dos países vizinhos para financiar mais bolsas de estudo – tal como já faz o Paraguai por meio de um acordo entre a UNILA e a Usina de Itaipu, que concede bolsas de estudo para estudantes do país vizinho. Outra importante característica que diferencia essa instituição de qualquer universidade latino-americana é o processo de democratização interno existente a partir da conquista da paridade universitária. Ainda quando eu era representante estudantil no Conselho Universitário, a organização dos estudantes foi fundamental para a conquista da paridade universitária não só para eleições para reitor, mas também para o Conselho Universitário, maior órgão deliberativo da instituição. A proporcionalidade para as três categorias (estudantes, técnico-administrativos e professores) é uma vitória em nome da autonomia universitária e fruto de um processo que visa democratizar as universidades. O entendimento é de que UNILA tem de ser co-construída

Parque Tecnológico Itaipu, onde funcionam a maioria dos cursos oferecidos pela UNILA

Com português e espanhol no dia a dia das salas de aulas, bilinguismo é um diferencial

entre todas as suas classes de forma democrática, com igualdade de voz e de voto. Após um ano de experiência de paridade, o resultado comprovou que nenhum assunto ou projeto foi prejudicado na universidade, tal como previam muitos daqueles que eram contrários à proposta. Ao contrário, a participação democrática aumentou, fazendo com que as categorias tivessem mais engajamento e debatessem mais os rumos da instituição. Posso afirmar que o bilinguismo na UNILA é também umas das principais características que a diferenciam das demais instituições de ensino superior existentes. O português e o espanhol no dia a dia das salas de aulas e nas moradias estudantis se misturam com as línguas originárias faladas por estudantes de diversas regiões, como o Guarani (Paraguai), o Aymara e o Quéchua (Bolívia e Peru) e o Chaná

g

(Uruguai). Essa diversidade linguística mostra que a concepção de América Latina não se restringe a um continente nascido da colonização ibérica (Espanha e Portugal), mas compreende todos os países do continente americano que falam espanhol, português ou francês, bem como idiomas dos povos originários. O que se busca na UNILA é que todos respeitem essa riqueza e essa diversidade e considerem, principalmente, a interatividade das diferentes áreas do conhecimento como importante ferramenta do saber. O diferencial no ensino está no chamado Ciclo Comum de Estudos, que inclui línguas adicionais (português ou espanhol), epistemologia e metodologia, além de fundamentos da América Latina. São disciplinas obrigatórias a todos os estudantes de todos os cursos da instituição e oferecidas em módulos durante os quatro primeiros semes-

Esta matéria foi produzida por Francisco Denis, recémformado no curso de Relações Internacionais e Integração da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em parceria com o Projeto CONECTANDO, desenvolvido pelo Brasil Observer junto a universidades do Brasil, da Europa e da América Latina. Para participar e ter seu texto publicado neste jornal escreva para conectando@brasilobserver.co.uk

tres. A ideia é introduzir o estudante às principais questões relacionadas à região, colaborando na construção do conhecimento latino-americano. No meu caso, convivi com um colega uruguaio por mais de dois anos na mesma moradia estudantil, onde tive meu primeiro contato com o espanhol e ele com o português. Essa experiência de conviver no mesmo espaço com jovens de outros países enriquece o aprendizado sobre a cultura e o modo de ver o mundo do outro, o que colabora para construir o respeito, assim como nos leva a compreender os problemas e soluções de cada sociedade em nosso continente. A UNILA é a primeira instituição pública de ensino superior bilíngue da América Latina e tem muitos desafios, mas já começa a colher bons frutos de um projeto universitário que está revolucionando a educação superior pública e gratuita no continente latino-americano.


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B R A S I L S E R V E R

SELEÇÕES SE ENFRENTAM DIA 29 DE MARÇO, EM LONDRES >> PGS. 22 E 23

MARCELLO CASAL JR/ AGÊNCIA BRASIL

E L I H C X L I S A BR


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GUIA

GUIA PARA NÃO PERDER A PIADA NO JOGO DA SELEÇÃO BRASILEIRA CONTRA O CHILE Depois do inesquecível 7 a 1, melhor não levar futebol a sério Por Guilherme Reis

MARCELO CAMARGO/ AGÊNCIA BRASIL

Chega a Londres neste mês de março a maior, mais vitoriosa, mais talentosa, mais espetacular e dançante seleção de futebol de todos os tempos: ela, a temida, a amada S eleção Brasileira! Imagina na Copa! Opa, espera aí, a Copa do Mundo já foi e ninguém parece empolgado com a seleção canarinho. Afinal, se aquela semifinal contra a Alemanha ainda estivesse rolando, o placar marcaria uns 700 mil a favor dos germânicos. Duvida? Melhor não, pois tem gente que até hoje ouve “Gol da Alemanha!”. Ah se o Neymar tivesse em campo... Para quem não é muito fanático por futebol, pode parecer bobagem. Mas o fato é que, depois daquele fatídico jogo no Mineirão (lágrimas escorrem do meu rosto... mentira), ficou mais difícil fazer amizades com os gringos. Afinal, quase sempre o primeiro papo era futebol: “Ah, você é brasileiro? Eu amo o futebol brasileiro!”. Quem em sã consciência fala isso hoje em dia? Está bem, ainda tem quem ame nosso futebol, mas antes isso era tão fácil quanto ganhar do Gabão. Mas vamos ver pelo lado positivo... Depois daquela derrota (na verdade, depois dos 3 a 0 que tomamos contra a Holanda na disputa pelo terceiro lugar), o futebol brasileiro mudou para melhor! Em uma emocionante guinada de ousadia e alegria, assumiu o posto de técnico o inquestionável Dunga (qualquer piada relativa ao fato de ele ser um dos 7, eu disse 7 anões não será aceita pela audiência). Não sejamos injustos, porém. Em sua segunda passagem pela Seleção Brasileira (já que o treinador comandou os selecionáveis de 2006 a 2010), Dunga acumula uma marca insuperável: 100% de aproveitamento. Foram seis vitórias em seis jogos no ano passado, contra Colômbia, Equador, Argentina, Japão, Turquia e Áustria. Em 2015, as duas primeiras partidas amistosas do Brasil acontecem neste mês de março: primeiro contra a França (arrepios), em Paris, dia 26, e depois diante do Chile (moleza?), em Londres, dia 29. Quem quiser assistir ao jogo precisa correr para garantir um ingresso. A partida será realizada no estádio do Arsenal, o Emirates Stadium. Até o fechamento desta edição, ainda havia entradas disponíveis a partir de £35 no site oficial do clube www.arsenal.com. Se você, caro leitor, já tiver comprado seu ingresso e estiver se preparado para encarar o jogo; ou se você já está dentro do estádio aguardando o hino nacional ser tocado; ou ainda se não tem o menor interesse em futebol e, por algum motivo inexplicável, tiver chegado até aqui neste texto; tenho algumas dicas para você não perder a esportiva se alguma coisa sair errado nas quatro linhas – ou até antes do jogo, porque sempre tem um engraçadinho para lembrar que, sim, tomamos 7 a 1, com muito orguuulho, com muito amooor...


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RAFAEL RIBEIRO/CBF

REVANCHE Antes do tal 7 a 1, o mundo era outro. Impeachment era uma palavra dos anos 1990, os moradores de São Paulo tomavam banhos sem se preocupar e a torcida brasileira realmente acreditava que seríamos campeões do mundo. Quem não se lembra daquela sofrida disputa de pênaltis contra o Chile nas oitavas de final da Copa? Haja coração! Pois é, os chilenos devem lembrar mais daquele dia do que a gente (afinal, temos outro muuuito melhor pra recordar, não é?). Então nada mais justo que, diante de qualquer menção infeliz àquele número dois pontos acima

do cinco, humilhemos nossos adversários imitando o Júlio César defendendo uma cobrança de penalidade. OK, não parece muito divertido. Mas, caso o Brasil perca o jogo, acho digno gritar “Quando valia mesmo vocês amarelaram!”. Ou não, porque o Brasil é amarelo e pode pegar mal. Vai que eles revidam com “7 a 1!”. Bom, paciência, melhor insistir no argumento “quando valia mesmo vocês tremeram” e repetir isso incessantemente. Afinal, para eles o jogo é uma revanche (risos), como disse o jogador chileno Charles Aránguiz: “Há uma espinha entalada com o Brasil”.

REPRODUÇÃO

BRASILEIROS INGLESES Ao todo cinco jogadores brasileiros convocados para a partida atuam no futebol inglês: Filipe Luis, Oscar e William, do Chelsea, Fernandinho, do Manchester City, e Philippe

Coutinho, do Liverpool. E daí? E daí que podemos nos aliar aos ingleses torcedores dessas equipes para sacanear os chilenos - caso seja necessário, é claro.

ALEXIS EM CASA Para isso, no entanto, temos que ter em mente que o atacante chileno Alexis Sháncez joga pelo Arsenal, então não é tooodo torcedor inglês que vai estar do nosso lado na zoeira sem limites. O jogador, aliás, está bem convidativo: “Daremos as boas-vindas à Seleção Brasileira

em nosso estádio”, disse ao site do Arsenal. Tudo bem, ele parece ser um cara legal. Mas, se Sanchéz começar a criar problemas pra nossa zaga, podemos organizar uma vaia com os torcedores das equipes rivais do Arsenal. Será que algum inglês topa?

REPRODUÇÃO

NEGÓCIO DA CHINA Pela primeira vez na história da Seleção Brasileira, um jogador que atua na China foi convocado: Diego Tardelli, do Shadong Luneng. Caso Tardelli faça um gol, podemos trocar o

“R” das palavras pelo “L” e fazer piadinhas infames indicando que até chinês faz gol no Chile. “Chi, Chi, Chi... Rê, Rê, Rê... Toma ChiRê!”. Que tal? Péssimo...

TRICAMPEÃO NO BANCO

RAFAEL RIBEIRO/CBF

Esta é minha favorita. E não tem a ver com gozação aos chilenos. Afinal, os chilenos são gente boa e não têm culpa pelo nosso desastroso desempenho na Copa que resolveram fazer no Brasil. Estará no banco de reservas, como auxiliar técnico especial, um monstro sagrado do futebol brasileiro: Jairzinho, o furacão do tricampeonato mundial da Seleção Brasileira em 1970. O cara é até o hoje o único jogador

a marcar gol em todos os jogos disputados em uma mesma Copa do Mundo – foram sete tentos naquele Mundial. Jogos amistosos normalmente são mornos, cheios de toques para o lado, corridas preguiçosas e torcedores sonolentos. Se isso acontecer, podemos pedir a entrada de Jairzinho em campo – se ele der uma corridinha lateral na área técnica já vai ser o melhor lance do jogo!

DEPOIS DO CHILE, O CHILE Depois de enfrentar o Chile, a Seleção Brasileira jogará, nos meses de junho e julho, a Copa América, que será disputada no Chile. Diante disso, vale a pena dar alguns conselhos aos nossos queridos hermanos sobre como é se-

diar um evento futebolístico. “Relaxa, cara, não é porque a competição é em casa que você tem que ganhar...”. Ou: “Fique tranquilo, a Alemanha não joga a Copa América...”. Ou ainda: “Posso ficar na casa da sua família durante o torneio?”.

GOL DA ALEMANHA Depois de tudo isso, se você não entrar no clima, não se preocupe. Pense que nada pode ser pior

do que já passou. E, afinal, estamos há quase um ano sem tomar um golzinho sequer da Alemanha!


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DICAS CULTURAIS

CINEMA

Review: América Latina para inglês ver Por Gabriela Lobianco

SHOWS

EMICIDA Quando: 24 de abril Onde: Rich Mix (35-47 Bethnal Green Road) Ingresso: £15 | Info: www.comono.co.uk

Das batalhas de MC na periferia de São Paulo ao renomado festival Coachella, nos Estados Unidos, Emicida carrega na bagagem uma relevante trajetória dentro música. Ao lado de Criolo, é hoje provavelmente a principal voz do rap brasileiro, misturando temas, ritmos e formando parcerias com diversos nomes da nova geração.

Em 2012, Emicida esteve em Londres para o festival Back2Black. No mês que vem, ele volta à capital britânica dentro do La Linea, festival organizado pelo Como No, de 21 a 30 de abril. Será uma excelente oportunidade para conferir o que de melhor o rap brasileiro produz, com espaço para outras batidas, como samba, funk, soul e maracatu.

ELIANE ELIAS & ED MOTTA Quando: 4 de maio Onde: Barbican Hall Ingresso: £20–35 | Info: www.barbican.org.uk

Trash – A esperança vem do lixo revela a visão política de um britânico sobre o Terceiro Mundo, seus governantes e sua pobreza. O Brasil de Stephen Daldry, porém, é fictício – mesmo que o diretor tenha morado no país durante os últimos dois anos, para tocar o projeto de adaptação do livro homônimo de Andy Mulligan. O best-seller foi baseado nas experiências do escritor ao ensinar inglês e teatro em quarto lugares: Índia, Filipinas, Vietnã e Brasil. Por questões de logística, Daldry e o roteirista Richard Curtis, em parceria com a O2 de Fernando Meirelles, optaram pelo cenário tupiniquim para narrar a saga dos amigos Rafael, Gardo e Rato para o cinema. A história percorre as aventuras e desventuras de três garotos da favela que encontram uma carteira no lixão em que trabalham, e que passam a se envolver numa trama de caça ao tesouro, com ações de uma polícia corrupta e a ajuda divina na forma de um padre gringo. Como o diretor teve seus quatro filmes anteriores indicados ao Oscar (Billy Elliot, As Horas, O Leitor e Tão Forte e Tão Perto), houve grande expectativa sobre o projeto de rodar um filme no Brasil, falado em português e com a presença dos atores americanos Martin Sheen e

Rooney Mara no elenco. Mas o tiro saiu pela culatra. Em Billy Elliot, as câmeras captam com sagacidade o desconforto desajeitado que o bailarino Billy tinha com o pai inglês – um incômodo inerente ao comportamento dos ingleses e sua cultura. É justamente essa perspectiva de quem faz parte e não de quem é espectador que falta no filme Trash – A esperança vem do lixo. Stephen Daldry deixa a desejar por não ter bagagem cultural para mostrar em cenas um Brasil menos estereotipado. Falta-lhe convencimento, com desenvoltura e intimidade, para retratar a pobreza marginalizada daqueles meninos que querem ser a esperança de um futuro melhor como alegoria àquele suposto país cheio de policiais e políticos corruptos. Mesmo a competência de Sheen como ator fica insuficiente ao interpretar o padre Juilliard – seu esforço para falar português acaba por ser mecânico e o sentimento de indignação que o personagem exige, se perde na tela. No fim, a mise-en-scène do filme se resume a uma mistura de artigos sobre países emergentes como Quem quer ser milionário? ou o próprio Cidade de Deus, do Meirelles. Apesar do alto orçamento, Trash – A esperança vem do lixo foi feito mesmo só para inglês ver.

Duas faces da música contemporânea do Brasil se reúnem para apresentação única no Barbican, em Londres, no mês de maio. A pianista e vocalista de jazz Eliane Elias sobe ao palco ao lado do cantor, compositor e multi-instrumentista de soul Ed Motta. O último álbum de Eliane, ‘I Thought About You’, foi um tributo ao seu amigo e

lenda do jazz Chet Baker. Já o último registro de Ed Motta foi ‘AOR’, gravado em duas versões, em inglês e português. O repertório do show conta com músicas da longa carreira dos dois músicos, incluindo faixas do novo álbum de Eliane Elias, ‘Made in Brazil’, cujo lançamento estava marcado para o dia 31 de março.

FLÁVIA COELHO Quando: 18 de maio Onde: Rich Mix (35-47 Bethnal Green Road) Ingresso: £15 | Info: www.richmix.org.uk

Criada nas tradições do samba e da bossa nova, Flávia Coelho é uma cantora brasileira versátil que passeia com leveza por ritmos que misturam do reggae ao hip-hop. Fora do Brasil desde 2006, quando se mudou para Paris, Flávia encantou a crítica especializada com seu primeiro disco, ‘Bossa Muffin’, que lhe garantiu grande repercussão no Reino Unido, com di-

reito a participação no London Jazz Festival. Em 2015, Flávia Coelho volta a Londres para abrir o festival Serious Space Shoreditch. A apresentação acontece uma semana depois do lançamento de seu novo disco, ‘Mundo Meu’, produzido por Victor-Attila Vagh. O novo trabalho revela uma visão de mundo diversa, com a junção de ritmos como funk, afrobeat, forró e samba.

CAETANO VELOSO & GILBERTO GIL Quando: 1º de julho Onde: Eventim Apollo (45 Queen Caroline Street) Ingresso: £45.75–£67.75 | Info: www.eventim.co.uk

Caetano Veloso e Gilberto Gil não precisam de apresentações: são nomes consagrados da Música Popular Brasileira. Em julho, os dois sobem ao palco em aparição raríssima para o público de Londres. A cidade, aliás, faz parte da trajetória pessoal e artística dos dois. Na virada da década de 1960 para 1970, após o auge do movimen-

to musical que ficou conhecido como Tropicália, Caetano e Gil passaram um período de exílio na capital britânica – o Brasil vivia os anos mais difíceis da ditadura civil-militar. Daquela época, ambos guardam memórias que certamente serão lembradas em forma de relatos e canções. O público deve pedir que Caetano cante “London, London”.


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EXPOSIÇÕES

IRIS DELLA ROCA Quando: 14 a 21 de março Onde: The Little Black Gallery (13A Park Walk) Info: www.thelittleblackgallery.com

Em 2009, a fotógrafa Iris Della Rocca se mudou para o Rio de Janeiro e passou a viver na favela da Rocinha. Lá começou um projeto em que crianças podiam expressar quem realmente eram posando para fotografias e revelando seus sonhos. Os retratos mostram o poder e orgulho dessas crianças e trazem vida nova ao ambiente ao redor. ADVENTURES OF THE BLACK SQUARE Quando: Até 6 de abril Onde: Whitechapel Gallery Info: www.whitechapelgallery.org

A partir da pintura radical de Kazimir Malevich, esta exibição apresenta o trabalho de mais de 100 artistas que seguiram seu legado, de Buenos Aires a Teerã, Londres a Berlin, Nova York a Tel Aviv. As pinturas, fotografias e esculturas simbolizam as utópicas aspirações do Modernismo, incluindo trabalhos de Hélio Oiticica. RAFAEL SILVEIRA Quando: 19 de março a 11 de abril Onde: Atomica Gallery (7 Greens Court) Info: www.atomicagallery.com

Exposição Mind’s Eye Funfair revela as pinturas do artista brasileiro Rafael Silveira, de Curitiba, cujo trabalho imaginativo combina pintura figurativa clássica, imagens inspiradas em histórias em quadrinhos e temas surreais. Suas pinturas convidam o espectador a abandonar os paradigmas cotidianos e abraçar o desconhecido. LUCAS SIMÕES Quando: Até 11 de abril Onde: Space in Between (8 Andrews Road) Info: www.spaceinbetween.co.uk

Perpetual Instability é a primeira exibição solo de Lucas Simões em Londres. Nela, o artista brasileiro usa instalações de concreto para responder à realidade da arquitetura brutalista. A mostra é a primeira parte de um projeto de intercâmbio que levará o artista Simon Linington a expor suas obras em exibição solo em São Paulo.

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COLUNISTAS

FRANKO FIGUEIREDO

SOBRE O SUCESSO Dinheiro, fama e posses oferecem satisfações fugazes, podem ajudá-lo a alcançar o sucesso, mas não são tudo

Sucesso, de acordo com o dicionário de língua inglesa de Oxford, é a realização de um objetivo ou propósito, também visto como o alcance de fama, riqueza ou status social. No mais arcaico dos significados, sucesso define o resultado positivo ou negativo de uma empreitada. O sucesso, a bem da verdade, é um tema muito subjetivo, mas uma coisa é certa: não significa necessariamente qualidade de vida. A forma como alcançamos e usamos o sucesso faz toda a diferença. Durante o ano passado uma série de peças teatrais, tanto no circuito periférico quanto no central, celebrou a falta de sucesso, levando-nos a olhar nossa própria humanidade na face. Na Royal Court, a peça How to hold your breath apresenta uma mulher em espiral descendente em direção a sua própria crise financeira pessoal. No festival Write Now, que acontece no Brockley Jack em maio, serão abordados temas como a nova geração que, no mundo inteiro, se sente perdida e impotente, principalmente por ter fracassado em suas empreitadas e sonhos. O novo musical de Almodóvar, Women on a verge of a nervous breakdown, também é construído a partir do fracasso: o desespero, a rejeição, o desgosto que vem com o amor traído. Todos, porém, são na verdade tributos à capacidade de sobrevivência dos personagens. Algumas pessoas têm a força de nunca desistir diante das adversidades, e daí nasce seu sucesso. O teatro, como todas as formas de arte, está sempre tentando nos fazer pensar, questionar nossas ações, mostrando num espelho nossas falhas, na esperança de provocar uma mudança positiva na sociedade. Pegue como exemplo o pedestal da Trafalgar Square, onde agora fica o esqueleto de um cavalo que está sendo arrastado pelos arcos da bolsa de valores. É um símbolo das medidas de austeridade do atual governo. Espero que isso faça as pessoas pensarem sobre seus votos na

próxima eleição. A maioria da população foi deixada como aquele cavalo: esquelético e mal nutrido. Até Boris Johnson disse algo na linha de que a escultura representa a política econômica de George Osborne. É uma peça corajosa de arte que nos provoca imensamente e mostra o que o sucesso pode fazer. Em seu livro Seven Paths to Global Harmony, Daisaku Ikeda inclui um capítulo sobre autodomínio, diálogo, tolerância e o “Caminho da Cultura”, que fala sobre a revolução humana em termos de autodomínio. Simplificando, isso significa ganhar o controle sobre si mesmo, superando o “pequeno eu” que é dominado por interesses próprios e despertando o “eu maior”, que trabalha para o bem de todos. Deste ponto de vista, um dos principais obstáculos para o desenvolvimento de nós mesmos é o modo de vida vinculado ao pequeno ego. A expansão do eu inferior ao maior é o caminho da revolução humana. Daisaku Ikeda afirma que “o sucesso não é uma questão de acumular mais disso ou daquilo, não é medido em quantidade, significa mudar a qualidade de sua vida. Riqueza, poder, fama e conhecimento não farão você feliz, não importa o quanto você adquira de tudo isso. Não se pode mantê-los após a morte. Mas, melhorando a qualidade de sua vida, você vai pelo menos se aproximar da verdadeira felicidade”. Tais coisas como dinheiro, fama e posses materiais oferecem satisfações fugazes, podem ajudá-lo a alcançar o sucesso, mas não é o princípio nem o fim de tudo. Sucesso reside na busca da felicidade; não é uma rua de mão única. É uma viagem constante. Ao paramos de tentar, falhamos. Como Samuel Beckett escreveu: “Tudo de outrora. Nada mais nunca. Nunca tentado. Nunca falhado. Não importa. Tentar de novo. Falhar de novo. Falhar melhor”. REPRODUÇÃO

Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs g

A maioria da população foi deixada como aquele cavalo no pedestal da Trafalgar Square: esquelético e mal nutrido


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10am - Instrumental Workshops AUTHENTIC BRAZILIAN CULTURE

2.45pm - Live Bossa Nova Perfect for a relaxing Saturday afternoon 4pm - Film / Talk 5pm - Dance Class Suitable for all ages and abilities 7pm - Clube do Choro UK

An entire day of authentic Brazilian activities celebrating the music and culture of Rio De Janeiro and culminating in an evening of live Brazilian music

Showcasing choro music in a traditional roda (circle) Fusion between choro and Samba de Raiz Midnight - Samba de Raiz Finish the night in Brazilian samba style!

LAST SATURDAY OF THE MONTH LAUNCH: 28th MARCH 2015

3-7 Delancey St, NW1 7NL www.forgevenue.org

Lapa in London is supported by The Brazilian Embassy, The Forge and Clube do Choro UK

3-7 Delancey St, NW1 7NL

www.forgevenue.org

£10 Standard £8 Students

DOIS POR QUATRO The Forge 28th MARCH 7pm

3-7 Delancey Street,

Camden NW1 7NL

LAPA IN LONDON


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COLUNISTAS

RICARDO SOMERA

ENTRE DADOS E METADADOS Debate sobre o documentário ‘Citizenfour’ em São Paulo chama atenção para a segurança e a privacidade na rede

Ricardo Somera é publicitário e você pode encontrá-lo no Twitter @souricardo e Instagram @outrosouricardo

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“Não podemos deixar que o Estado ou qualquer organismo mantenha dados, metadados, logs e registros de quem não é suspeito de um crime. Ao aceitarmos que eles possam guardar dados de todos nós porque em potencial podemos ser um pedófilo ou um terrorista, isso é um equivoco, uma inversão da lógica de que todos nos somos inocentes. E eles inverteram isso, principalmente após o 11 de setembro. Numa sociedade em que passamos cada vez mais vezes em redes cibernéticas, ou seja, redes onde a interação é feita a partir do controle, nós não podemos permitir que o controle técnico se torne o controle político, cultural, da nossa vida. E é por isso que é legal esse filme ter ganhado o Oscar. Temos que avançar, denunciar e aprender a criptografar pra falar com sua mãe, pois eles vão escanear essa mensagem, vão gastar uma grana pra poder quebrar essa mensagem e essa mensagem vai estar escrito ‘oi mãe!’”. Assim Sergio Amadeu, sociólogo e pesquisador de cibercultura e professor

da UFABC, começou no bairro do Bixiga, em São Paulo, o debate sobre o documentário vencedor do Oscar, Citizenfour (da diretora Laura Poitras), que documenta as primeiras revelações de Edward Snowden ao jornalista Glenn Greenwald (The Guardian) sobre a espionagem realizada pelos Estados Unidos, através da NSA (Agência de Segurança Nacional Americana), de todos os cidadãos indiscriminadamente com dados de empresas privadas como Google, Facebook e Verizon. O filme é um excelente documento e um precioso registro para os hackers, ciberativistas e para toda a sociedade se inspirarem e se unirem em rede pelo mundo e não se acomodarem com um sistema pré-estabelecido, restritivo e desigual. “A única forma de manter documentos sigilosos na rede, é a rede. É usando os sites espelhos”, comentou Sérgio Amadeu. Ele exemplificou que quando ilegalmente a Amazon foi pressionada a tirar o Wikileaks do ar mais de 800 sites no mundo tinham replicado o mesmo con-

ARTESANATO DE PÁSCOA 1 dia £30.00 – material incluso

teúdo em vários continentes diferentes. Só a rede pode proteger e distribuir as informações, de acordo com o sociólogo. É difícil separar o filme do debate já que mais do que nunca a conexão cibernética é indispensável. O indicado ao prêmio Nobel da Paz chacoalhou o mundo com revelações como a da espionagem americana a chefes de Estado, entre eles a nossa presidenta Dilma, que na ocasião cancelou uma visita diplomática aos Estados Unidos. O que eu acho de mais interessante no documentário é a construção de um novo herói, de alguém que realmente deveria ser mais reconhecido pela sua coragem e senso de coletividade e colaboração. Hoje Edward Snowden está exilado na Rússia e é acusado por vários crimes nos Estados Unidos, entre eles o de espionagem. Alguns grupos no Brasil já pediram para que a presidenta Dilma conceda asilo político a Snowden, mas isso dificilmente acontecerá nesta vida. O filme já está disponível online: thoughtmaybe.com/citizenfour

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* Inscrições podem ser feitas por telefone (020 7792 2931) ou diretamente na Casa Brasil, com antecedência de até uma semana para preparação do material. * Pagamento no ato da inscrição para compra de material. * Todos os cursos desenvolvidos podem ter aulas extras individuais por £15.00/hora.


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VIAGEM

BONITO FAZ JUS AO NOME Premiada na feira World Travel Market, em Londres, como melhor destino de turismo responsável, cidade no Mato Grosso do Sul encanta pelas belezas naturais e opções de lazer Por Cati Calixto

DIVULGAÇÃO

A pessoa que criou aquele conhecido estereótipo segundo o qual o Brasil é um país onde todas as pessoas vivem em uma floresta paradisíaca; tomam banho em rios cristalinos; se alimentam de peixes e frutos regionais; e estão acostumadas a ver, com frequência, araras incrivelmente coloridas, tucanos e macacos deve ter visitado Bonito, no Mato Grosso do Sul, para tamanha inspiração. Com quase 21 mil habitantes, a pequena cidade localizada na Serra da Bodoquena, na borda sudoeste do Pantanal, encanta pela beleza natural e se agiganta com a estrutura turística que oferece. Não é raro ver gringos circulando pela rua principal, entrando de loja em loja para comprar artesanatos, ou se esbaldando nos bares e restaurantes de primeira que existem por lá. Tudo em meio aos brasileiros de diferentes regiões do país que chegam com apenas um propósito: constatar que a cidade de Bonito, na verdade, é linda. A quantidade de passeios disponíveis, todos voltados ao ecoturismo, é imensa. Por isso, para quem pretende visitar a região pela primeira vez, vale a pena selecionar as atrações consideradas imperdíveis. A reserva desses passeios é feita de maneira bastante organizada, e é oferecida exclusivamente por agências devidamente regulamentadas de acordo com as leis de turismo e de preservação ambiental. Como a cidade é muito concorrida, é importante reservar tudo com antecedência, o que também vale para as diversas pousadas e hotéis.

ÁGUA CRISTALINA Minha passagem por Bonito foi relativamente curta. Em uma manhã, visitei a inacreditável Gruta do Lago Azul, um dos cartões postais de da região. Os raios de sol por volta das 9h da manhã conseguem penetrar diretamente a entrada na gruta, iluminando o lago subterrâneo. A luz solar, combinada com a composição da água – rica em calcário e magnésio –, faz com que o lago brilhe em um tom de azul simplesmente indescritível. Até a vista “a olho nu” do lago nos faz acreditar que estamos diante de uma montagem de Photoshop. Só é possível descer a gruta em grupos fechados e acompanhados, obrigatoriamente, por um guia. Além disso, o local disponibiliza todos os equipamentos de segurança obrigatórios para realizar a descida. Exceto a trilha que utilizamos para descer até a beira do lago, todo o restante da gruta permanece praticamente intocado – apenas pesquisadores que estudam o local têm permissão para explorar outros pontos da caverna. O passeio é rápido, mas obrigatório. No mesmo dia, visitei o Aquário Natural Baía Bonita. Neste passeio, faz-se flutuação na nascente do principal rio de Bonito, o Formoso. Os equipamentos, como

trajes de banho e máscaras, são fornecidos e o passeio também é realizado em grupo, com acompanhamento de um guia. Antes da flutuação no rio, é feito um curto treinamento em uma piscina, e tudo fica mais fácil. Durante a flutuação, é possível observar as mais de 30 espécies de peixes que são encontradas nos rios da região. A sensação é de pertencimento: os cardumes nadam pertinho de você e a vegetação subaquática é de encher os olhos. A água é tão cristalina que nos permite observar as plantas subaquáticas realizando fotossíntese (bolhinhas de ar saem das folhas verdíssimas). Além disso, ver o fundo da nascente borbulhando, devido à água que sai dos lençóis freáticos, nos faz pensar como a natureza mantém tudo sempre no lugar. Para não contaminar a água da nascente, precisamos tomar uma ducha antes de iniciar a flutuação para retirar cloro, protetor solar, repelente ou qualquer outro produto químico que esteja no corpo. A beleza do lugar é tamanha que nem liguei de ser comida viva por mosquitos.

AVENTURA Bonito, porém, não é só deslumbramento e belas paisagens. Dá para aproveitar a beleza natural da região com aventura – e muita, por sinal. O Eco Park Porto da Ilha oferece um “combo” de atividades que podem ser feita durante um dia inteiro, como passeio de duck, passeio de bote, boia-cross e stand up paddle. A estrutura do complexo banhado pelo Rio Formoso tem ainda área para banho, cachoeiras e espaço para descanso – para relaxar um pouco, afinal. O passeio de duck é feito em duplas em uma espécie de caiaque inflável. Os guias dão dicas de como remar e depois a gente se vira para descer alguns metros rio abaixo, incluindo a descida de algumas cachoeiras. O passeio de bote tem o mesmo propósito, a única diferença é que, além do percurso ser maior, em cada bote vai um grupo de aproximadamente 10 pessoas. Alguns ajudam a remar, juntamente com o guia, que vai sentado atrás direcionando o bote. O boia-cross, apesar de ser rápido, é um passeio divertido. Vale pelos tombos que a gente leva ao descer três cachoeiras – difícil se manter em cima da boia em todas elas. Já o stand up paddle consiste na prática de ficar em pé em uma prancha para remar. No começo, ficar em pé em cima da prancha é quase impossível, mas depois que você pega o jeito, a brincadeira fica divertida e até um pouco relaxante. Quem vai à Bonito não pode deixar de fazer outra flutuação, desta vez no Rio Sucuri. O pequeno rio está entre vários que deságuam no Rio Formoso e sua água está entre as mais cristalinas do mundo. A água é muito fria, mas a sensação de ter a leve correnteza do rio te levando suavemente pelos 1,6 km de flutuação é maravilhosa.


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QUANDO IR A melhor época para apreciar a paisagem é no período de chuvas - de dezembro a março -, quando a vegetação está verdinha, o nível dos rios mais alto e as cachoeiras, bastante caudalosas. No inverno, apesar de os campos ficarem secos e as queimadas serem constantes, as águas ficam mais claras, aumentando a visibilidade.

COMO CHEGAR De avião. A empresa Azul (www.voeazul.com.br) faz voos de Campinas a Bonito, indo às quartas e voltando aos domingos. O aeroporto de Dourados, a 254 quilômetros de Bonito, também recebe voos da Azul, provenientes de Campinas, duas vezes por dia. Já o aeroporto de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, que opera voos de diversas companhias, fica a 310 quilômetros da cidade. De ônibus. As empresas Gontijo (www.gontijo.com.br), Motta (www. motta.com.br) e Andorinha (www.andorinha.com) têm ônibus partindo de diversas capitais do país com destino a Campo Grande. Já a viação Cruzeiro do Sul faz a linha de Campo Grande até Bonito.

ONDE FICAR Há diversas opções de hotéis e pousadas em Bonito, para diferentes gostos e orçamentos. Na baixa temporada – fora dos meses de verão e férias escolares – é possível encontrar diárias a partir de R$ 90.

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Para mais informações, acesse www.turismo.bonito.ms.gov.br

Na natureza selvagem, mas sob cuidados: Bonito é o principal destino do Brasil para os praticantes de ecoturismo


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