Brasil Observer #21 - Portuguese Version

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DANIEL GOLDMAN

LONDON EDITION OCTOBER

ISSN 2055-4826

Brasil Observer entrevista diretor do CASA Festival >> Páginas 12 e 13

RÔMULO SEITENFUS

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DIVULGATION

PELA QUARTA VEZ CONSECUTIVA DESDE 2002, PT E PSDB DISPUTAM A PRESIDÊNCIA DO BRASIL EM SEGUNDO TURNO

>> Páginas 4 e 5

BRASILEIROS VÃO ÀS URNAS EM LONDRES

>> Páginas 6 e 7

ELEIÇÕES NOS ESTADOS E NO CONGRESSO

>> Páginas 8 e 9

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E D I T O R I A L

SOBRE MUDANÇAS Por Ana Toledo – ana@brasilobserver.co.uk

LONDON EDITION

EDITORA - CHEFE Ana Toledo ana@brasilobserver.co.uk

EDITORES A primeira eleição após as manifestações de junho de 2013, cujo o principal mote era a renovação, teria a mudança como consequência. Isso é a teoria, pois os fatos concretos demonstram outra perspectiva. A conjuntura política do Brasil e os resultados das urnas de 5 de outubro revelam uma guinada para outra direção: o segundo turno presidencial mais acirrado de nossa jovem democracia. O que não aconteceu desde o início do processo – e o que era considerado um avanço – marca o final do primeiro turno e início do segundo: a velha polarização histórica entre PT e PSDB. Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) têm até 26 de outubro para correr em busca dos 37 milhões de brasileiros que, no primeiro turno, não votaram nem em um nem no outro. Sobre isso, leia nas páginas 4 e 5 a matéria de Wagner de Alcântara Aragão. Para ficar por dentro da disputa pelos governos estaduais e a nova composição do Congresso Nacional, confira as páginas 8 e 9. E, nas páginas 6 e 7, veja como foi o dia de eleição dos brasileiros aqui em Londres. Por falar em mudança, o Brasil Observer aproveita para anunciar a sua: a partir de novembro, quando completaremos um ano, mudaremos nossa periodicidade para mensal. Aprimorar nosso trabalho jornalístico e prover informação de qualidade para nossos leitores foram os principais motivos que balizaram nossa decisão. A partir de novembro, toda primeira segunda-feira do mês você vai ter à disposição um produto que visa mostrar o Brasil a partir de uma perspectiva global, mostrando sua atuação internacional sob diversos prismas: no mundo dos negócios, na política, no turismo, na cultura. Essa mudança, como outras que já fizemos, segue o mesmo percurso de focar no aperfeiçoamento jornalístico e no aumento da capacidade das informações produzidas chegarem ao maior número de leitores. Para tornar isso uma realidade, nos empenhamos para colocar nosso site no ar: www.brasilobserver.co.uk. Neste período que antecede a mudança, também estamos fortalecendo o projeto Conectando, com o intuito de manter nossa presença no Brasil e ampliar seu alcance. Outro ponto importante e motivador dessa caminhada é o interesse do mercado internacional no Brasil. É de nosso entendimento que as mudanças que ocorreram nos últimos anos colocam o país como o principal mercado da América Latina. O aumentando das perspectivas comerciais trazem como consequência a necessidade de maior entendimento sobre o país, terreno fértil para expansão dos negócios. Aliado a isso, ainda temos as movimentações para 2016, ano que o Brasil voltará a estar no centro do mundo, como sede dos Jogos Olímpicos. E se a experiência que tivemos como sede da Copa do Mundo 2014, a Copa das Copas, for aprimorada, o legado com certeza terá um saldo ainda mais positivo do que o de 2014 deixou. Diante desse cenário, consideramos uma boa hora para anunciar que as mudanças estão chegando. Fique atento, pois dia 3 de novembro estaremos novamente nas ruas de Londres!

Guilherme Reis guilherme@brasilobserver.co.uk Kate Rintoul kate@brasilobserver.co.uk

RELAÇÕES PÚBLICAS Roberta Schwambach roberta@brasilobserver.co.uk

COLABORADORES Alec Herron, Antonio Veiga, Bianca Dalla, Gabriela Lobianco, Marielle Machado, Michael Landon, Nathália Braga, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Rosa Bittencourt, Shaun Cumming, Wagner de Alcântara Aragão

PROJETO GRÁFICO wake up colab digala@wakeupcolab.com.br

DIAGRAMAÇÃO Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com

DISTRIBUIÇÃO Emblem Group LTD mpbb@btinternet.com

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EM FOCO

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AMÉRICA LATINA: INTEGRANDO OU DIVERGINDO? Quarta edição da conferência anual promovida pela Canning House em Londres reúne especialistas para debater as transformações políticas, econômicas e sociais da região Por Guilherme Reis “Tudo o que você disser sobre a América Latina, o oposto também é verdadeiro”. A frase proferida pelo chefe da Unidade de Inteligência da Secretaria Geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Mario López-Roldán, durante a quarta edição conferência anual da Canning House, dia 1º de outubro, em Londres, pode parecer desanimadora. Ilustra, porém, o quanto a América Latina pode ser contraditória, tanto aos olhos dos próprios latinos quanto dos europeus que buscam entender a região. Decifrar essas contradições e apontar os caminhos para uma maior integração latino-americana estava no centro do debate que reuniu, além de Mario López-Roldán, o diplomata estadunidense Arturo Valenzuela; o presidente do grupo Arup, Gregory Hodkinson; o diretor de Assuntos Estratégicos do CAF - banco de desenvolvimento da América Latina -, Germán Ríos; o ex-ministro de Fazenda da Colômbia e atual professor da Universidade de Columbia Jose Antonio Ocampo; e a economista sênior global do banco HSBC, Karen Ward. Para isso, partiu-se do entendimento de que existem hoje dois modelos econômicos vigentes na América Latina. Um deles seria orientado pela maior presença do Estado e o outro, pelo mercado. O primeiro modelo estaria sendo colocado em prática por países como Brasil, Argentina e Venezuela, que integram o Mercosul junto com Paraguai e Uruguai. O segundo, por México, Peru, Chile e Colômbia, que por sua vez integram a Aliança do Pacífico com a Costa Rica. Na opinião de Arturo Valenzuela, “o Mercosul é mais uma união de costumes, enquanto a Aliança do Pacífico é baseada no mercado, na redução das tarifas e no

livre comércio com os Estados Unidos”. A Aliança do Pacífico representa hoje, de acordo com dados oferecidos pela Canning House, metade das exportações da região, apesar de ter um PIB combinado que totaliza menos de dois terços que o do Mercosul. Em 2013, os países membros da Aliança do Pacífico tiveram um crescimento econômico combinado de 5%, com o comércio entre eles crescendo 1,3% em relação ao ano anterior. Já o Mercosul teve um crescimento combinado de 2,9%, com uma redução do comércio entre seus países membros na ordem de 9,4%. Para 2014, de acordo com pesquisa do banco de investimento estadunidense Morgan Stanley, a previsão é de que o crescimento do PIB da Aliança do Pacífico seja de 4,25%; do Mercosul, alta de 1,9%. Independentemente das práticas e rendimentos distintos apresentados por esses dois blocos, todos os especialistas presentes na conferência reconheceram que a América Latina como um todo vem tendo grande desempenho neste início de século 21, especialmente no enfrentamento da crise financeira. A diminuição da desigualdade social e a consolidação de uma classe média com maior poder de compra, além da consolidação das instituições democráticas e da estabilização monetária após décadas de regimes ditatoriais, são fatores que reposicionaram a região no mapa dos interesses internacionais. Mas ainda há, é claro, um longo caminho pela frente. Isso principalmente porque, com essa nova classe média ascendente e mais exigente, os países latino-americanos precisam pavimentar o acesso a um novo ciclo de desenvolvimento, menos vulnerável à volatilidade dos preços das commodities e com maior capacidade para agregar valor à produção, com avanço principalmente em tecnologia e infraestrutura logística.

Para que a América Latina caminhe em conjunto em busca desse objetivo, “é preciso criar conexões físicas entre os países”, acredita Germán Ríos. Segundo ele, seria necessário que a América Latina dobrasse o investimento destinado à infraestrutura dos atuais 3% para pelo menos 6% do PIB. Diante disso, Gregory Hodkinson e Karen Ward ressaltaram a importância do setor privado nesse processo. Hodkinson lembrou que dez anos atrás a Arup, baseada em Londres, não tinha negócios na América Latina, e que hoje possui empreendimentos no Brasil e na Colômbia, além da América Central. De acordo com ele, no entanto, “o Brasil é o país mais difícil de entrar”, por conta da burocracia, dos altos custos envolvidos e da infraestrutura deficiente. “A comunidade internacional quer ver o Brasil completamente integrado”, disse. Para Karen Ward, neste momento em que “o fluxo de comércio ainda não voltou ao normal” após o colapso da crise financeira, “os mercados emergentes tem de convencer os investidores estrangeiros de que o crescimento será sustentável”. Ela deu como exemplo a Ásia, que “está atraindo mais investimentos do que a América Latina”, para elencar questões primordiais na atração desse capital: inflação baixa, redução da burocracia, gastos públicos controlados, combate a corrupção, estabilidade das instituições democráticas e investimento alto em educação, tecnologia e qualificação profissional. Nesse sentido, Karen Ward deixou claro seu posicionamento sobre o atual governo brasileiro. Ela considera que Dilma Rousseff tem falhado em atender as expectativas do mercado nacional e internacional, o que explicaria o baixo rendimento do PIB do Brasil em 2014 – a última previsão do Banco Central é de crescimento de apenas 0,7%. O que não chega a ser

uma surpresa, pois o partido de Dilma, o PT, nunca teve uma boa relação com o empresariado. Houve uma melhora, é verdade, durante os anos de governo Lula, mas a atual presidente não conseguiu manter o mesmo diálogo de antes, sendo acusada de praticar uma política econômica intervencionista. Mesmo assim, Jose Antonio Ocampo defendeu o Brasil durante a conferência, principalmente os avanços registrados após o início do governo petista, em 2002. Para ele, “o crescimento da classe média é a maior oportunidade para o mercado doméstico da América Latina”. Ocampo ressaltou ainda o trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) como exemplo de investimento tecnológico que é feito no Brasil hoje, além do programa Ciência Sem Fronteiras como esforço no sentido de internacionalização do conhecimento. Nesse aparente dilema entre Estado e mercado residem as principais divergências da América Latina, assim como dentro dos próprios países da região. Ainda que iniciativas como a Unasul, formada pelos doze países da América do Sul, e a Celac, que inclui os países do Caribe, tenham sido de extrema importância na formalização de intenções e na formação de uma identidade regional independente – inclusive com a possibilidade de criação de um banco de desenvolvimento –, a maior divisão a ser superada na América Latina, como sugeriu Jose Antonio Ocampo, talvez seja aquela entre Brasil e México, as duas maiores economias latino-americanas. Superar essa dicotomia entre Aliança do Pacífico e Mercosul também parece essencial dentro do processo de integração da América Latina. Os dois blocos devem trabalhar em conjunto, pois a distância entre os dois só pode servir a interesses que não são latino-americanos.


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SEGUNDO TURNO DAS ANTÍTESES Pela quarta eleição presidencial consecutiva, PT e PSDB se enfrentam na reta final. Até o dia 26 de outubro, campanhas devem explorar comparações entre os dois lados, e o grande desafio é convencer pelo menos 37 milhões de brasileiros Por Wagner de Alcântara Aragão

Desde 2002 tem sido assim e não será diferente em 2014. Embora até os instantes finais houvesse a possibilidade de um cenário inédito, PT e PSDB vão disputar mais uma vez (a quarta seguida) a Presidência da República em segundo turno. No dia 26 de outubro, os 142,8 milhões de eleitores brasileiros retornam às urnas para escolher entre a petista Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves. Ambos os lados devem explorar agora as características que diferenciam os dois grupos políticos. Do lado da candidatura governista, a campanha de Dilma deve focar nas comparações entre os oito anos de gestão do PSDB (1995 a 2002, com Fernando Henrique Cardoso) e os últimos 12 anos das gestões de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010) e da própria presidente (desde 2011). Já o PSDB tende a comparar as gestões nos Estados em que governa, como São Paulo, com as administrações petistas no governo federal. PT e PSDB têm até o dia 26 de outubro para lutar pelo voto de pelo menos 37 milhões de brasileiros que, no primeiro turno, não votaram nem em Dilma nem em Aécio Neves, preferindo os demais candidatos ou o voto nulo ou branco. Outros 27 milhões de brasileiros (quase 20% do eleitorado) se abstiveram no turno inicial – nesse grupo pode estar também um grande potencial de votos a serem conquistados.

data. No embalo do clima de comoção, pregando a defesa de uma “nova política” que se contrapunha à polarização entre PT e PSDB, Marina se firmou como terceira via. A sensação de esgotamento com o governo PT, de modo geral, acentuou-se com a ascensão de Marina. Esse desgaste, que até então parecia relevado porque não se enxergava opção melhor (já que trocar o PT pelo PSDB, só por trocar, não parecia razão suficiente), passou a pesar mais. As críticas ao governo petista não vinham mais apenas de uma oposição que já esteve no governo e que, portanto, não tinha tanta credibilidade assim. Vinham de alguém que supostamente representava o “novo”, um novo mais autêntico. A entrada de Marina e seu protagonismo fizeram com que Dilma e Aécio passassem a expor as contradições da candidata do PSB. Posicionamentos titubeantes de Marina e a incapacidade de explicar o que realmente propunha fizeram com que o encantamento inicial de parte considerável do eleitorado e da opinião pública se quebrasse. Dilma subiu nas pesquisas e Aécio, que a uma semana do primeiro turno parecia definitivamente derrotado, se recuperou. Reconquistou eleitores antipetistas que tinham migrado para Marina e deixou de perder intenções de voto. As pesquisas já apontavam que Aécio ultrapassaria a oponente do PSB. E as urnas confirmaram a virada.

EQUILÍBRIO

COMPARAÇÕES

O embate deste ano entre PT e PSDB é esperado como o mais equilibrado da série histórica de segundos turnos entre os dois partidos. Dilma segue como favorita, mas seu favoritismo está longe de ser comparado ao de Lula sobre José Serra em 2002, ou do próprio Lula sobre Geraldo Alckmin em 2006, e mesmo o de Dilma sobre Serra em 2010. Não que Aécio Neves seja um nome mais forte e cativante. São as circunstâncias do primeiro mandato de Dilma e a conjuntura política atual que pesam a favor do tucano desta vez. Um desses fatores é, claramente, o desgaste natural causado ao longo de 12 anos de governo do PT. Quando Lula venceu em 2002, superou um José Serra que representava o continuísmo de uma gestão em esgotamento – a de Fernando Henrique Cardoso. A reeleição de Lula, em 2006, deu-se com a perspectiva de que quatro anos era tempo insuficiente para que a gestão petista efetivasse as mudanças necessárias. Já a eleição de Dilma, em 2010, ocorreu no auge da popularidade de Lula e da aprovação de seu governo. Em 2014, o desgaste natural do continuísmo foi agravado pelos efeitos da crise econômica internacional que impedem o Brasil de repetir o desempenho que experimentava quatro anos atrás – além, é claro, das manifestações de 2013. Não havia, porém, candidatura que representasse uma opção efetiva de mudança. A alternativa principal, Aécio Neves, não encarnava o desejo de mudança do eleitorado. Após o acidente aéreo fatal que vitimou Eduardo Campos, então candidato à presidência pelo PSB, o cenário eleitoral mudou drasticamente. A vice de Campos, a ex-senadora Marina Silva foi alçada à condição de candi-

O grande trunfo de Dilma para bloquear a recuperação de Aécio e manter o favoritismo são as comparações entre os 12 anos de governo do PT e os oito do PSDB. As antíteses entre os dois modos de governar certamente estarão a ser exploradas pela candidatura governista, assim como Lula fez em 2006 ante Alckmin e como a própria Dilma fez ante Serra em 2010. Essas comparações – em estatísticas, em indicadores, em reconhecimento internacional, em respaldo popular – têm sido amplamente vantajosas aos petistas. Os programas de transferência de renda, as políticas sociais de educação e saúde, as obras de infraestrutura e os investimentos em moradia, entre outras ações, representam um ativo considerável dos governos Lula e Dilma. E, mesmo em momento desfavorável na economia, os indicadores da área são melhores que os do PSDB. Aos tucanos restará a opção de anular essas comparações levando o debate para o tema da corrupção. Como, em regra, os casos de desvios de conduta envolvendo as administrações e as figuras políticas do PSDB são bastante amenizados pela mídia – ao passo que casos semelhantes encontrados em gestões do PT são extraordinariamente potencializados –, a candidatura de Aécio espera conseguir convencer o eleitorado de ser uma opção moralizadora. A candidata Dilma fica numa situação desfavorável nesse quesito. Se resolver partir para o contra-ataque (e fatos há para isso), terá de saber que essa ofensiva vai ressoar menos na opinião pública do que as acusações que vêm dos tucanos contra o PT. Se optar por não entrar na seara, poderá transmitir a impressão de estar consentindo.


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ELEIÇÕES 2014 Por outro lado, há um debate em que a situação desfavorável se inverte. É o debate sobre a privatização do patrimônio público. Alckmin, em 2006, e Serra, em 2010, procuraram a todo custo evitar o tema e se livrar da pecha de privatistas. No primeiro turno deste ano, em pelo menos dois debates na televisão Dilma chegou a questionar Aécio sobre suas intenções com relação à Petrobrás. Relembrou declarações do tucano, de 18 anos atrás, em que Aécio aventava a possibilidade de vender a companhia de petróleo nacional. Dilma deve insistir no assunto, questionando Aécio o que ele pensa sobre a exploração do petróleo da camada pré-sal. Quando as reservas foram descobertas, o governo Lula modificou o regime de exploração por concessão, implantado pelo governo tucano de Fernando Henrique, pelo de partilha. Neste, o petróleo extraído é assegurado como riqueza pública. Aécio voltaria ao modelo antigo, justamente quando os royalties do petróleo estarão garantidos, por iniciativa do governo Dilma, a financiar a educação e saúde? É o posicionamento que a presidenta tende a exigir do oponente.

Dilma Rousseff – PT 41,59% dos votos válidos (43.267.668) Número de Estados onde venceu: 15 de 27 Região Sul: 35,5% Região Sudeste: 34,5% Região Centro Oeste: 33% Região Nordeste: 59,4% Região Norte: 44,6% g

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ALIANÇAS

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DESEMPENHO NO 1º TURNO

Aécio Neves – PSDB 33,55% dos votos válidos (34.897.211) Número de Estados onde venceu: 10 de 27 Região Sul: 48% Região Sudeste: 36,5% Região Centro Oeste: 40,09% Região Nordeste: 17% Região Norte: 31,1% g

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O DR AN LE ITO BR DE

O PSB de Marina Silva, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno com 21,32% dos votos, deverá ser o grande cobiçado pelas coligações de Dilma e Aécio na reta final. Historicamente, o PSB esteve sempre próximo do PT – até o ano passado, fazia parte do governo Dilma, depois de integrar o governo Lula. Neste ano, porém, alianças do PSB com o PSDB em São Paulo e a candidatura própria do partido à presidência arranharam as relações com os petistas. Outra incógnita, até o fechamento desta edição, era a postura de Marina Silva. Ela foi alvo no primeiro turno tanto de Dilma quanto de Aécio, embora as críticas mais contundentes tenham vindo da candidatura petista. A evidente animosidade pessoal de Marina com Dilma também torna difícil um apoio declarado da ex-ministra do Meio Ambiente à atual presidente. Em contrapartida, aliar-se a Aécio e aos tucanos seria abrir mão em definitivo da posição de terceira via. Se Marina ainda quer fundar seu partido e tentar nova candidatura em 2018, deveria repetir a “neutralidade” do segundo turno entre Dilma e Serra em 2010. Mas não é o que parece. Na segunda-feira após a eleição, Marina deu sinais de que apoiaria Aécio no segundo turno. Ela quer, porém, que o candidato tucano inclua em seu programa de governo causas defendidas por ela nas áreas educacionais e de meio ambiente. Esse apoio seria acordado a partir de temas que os dois defendem, como o fim da reeleição. Quatro anos atrás, os eleitores que escolheram Marina no primeiro turno (ela teve quase 20% dos votos válidos) em sua maioria migraram para Dilma, o que foi decisivo para a eleição da petista. Resta saber qual será a tendência no próximo dia 26 de outubro. O Brasil testemunha, isso está certo, a campanha mais acirrada desde a redemocratização. Seja quem for o vencedor, a primeira ação do novo presidente deve ser a reconciliação, a abertura de diálogos após um processo eleitoral que deixa dividida a nação.


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brasilobserver.co.uk ANA TOLEDO

VOTAÇÃO DE BRASILEIROS NO EXTERIOR CRESCE 63% Candidato Aécio Neves teve 49,51% dos votos, contra 26,01% da candidata Marina Silva. Dilma Rousseff ficou em terceiro lugar em território estrangeiro, com 18,35% dos votos

Ao todo, 141.501 brasileiros votaram na eleição para presidente da República em 89 países no domingo dia 5 de outubro. O número é 63% maior do que o registrado no primeiro turno das eleições presidenciais de 2010. A abstenção (número de eleitores aptos que não compareceram) também aumentou: de 55,5% para 59,9%. Apurados os votos das 954 urnas instaladas em 135 cidades de todos os continentes, os resultados gerais ficaram assim: o candidato do PSDB, Aécio Neves, teve 49,51% dos votos, contra 26,01% da candidata do PSB, Marina Silva. A petista Dilma Rousseff ficou em terceiro em território estrangeiro, com 18,35% dos votos válidos. A colocação dos candidatos foi a mesma em países como a Inglaterra, Itália e Alemanha. Já em Portugal, nação europeia com o maior número de eleitores brasileiros, Dilma ficou em segundo. No Porto, a petista alcançou 31% dos votos, contra 40,32% de Aécio Neves. Marina Silva teve 24,41%. Na capital, Lisboa, o candidato do PSDB manteve a liderança, com 38,43%. Dilma e Marina praticamente empataram, com 28,20% contra 28,06%, respectivamente. Na Guiné-Bissau, na África, Marina Silva foi a mais votada no primeiro turno, com 46,34%

dos votos válidos, seguida da candidata do PT, que obteve 36,59%. O presidenciável do PSDB ficou em terceiro, com 9,76% O mesmo ocorreu em Moçambique, onde a candidata do PSB chegou a 37,23%. Dilma Rousseff teve 33,33%. Já Aécio Neves alcançou 23,40% dos votos válidos de Moçambique.

EM LONDRES A capital britânica é a segunda cidade europeia com mais eleitores brasileiros registrados para votar em 2014, com aproximadamente 17 mil. O número é 145% superior ao de 2010, mas representa menos de 10% dos estimados 200 mil brasileiros que vivem no Reino Unido. No domingo dia 5 de outubro, além do Consulado Geral do Brasil em Londres, próximo à Oxford Street, outro local de votação era a Embaixada do Brasil, nos arredores da Trafalgar Square. A aglomeração de brasileiros chamava a atenção dos turistas que passavam por ali. Na calçada, a diversidade era evidente: famílias, idosos e jovens formavam uma fila para exercer o direito ao voto. Um desses jovens era Kelvin Felício Cordeiro, de 18 anos, que havia acabado de votar pela primeira vez na vida quando pa-

rou para conversar com a equipe do Brasil Observer. Nascido em Londrina, no Paraná, Kelvin mora em Londres há três anos e é estudante do Bsix College. “Resolvi participar das eleições pelo fato de a mudança ter chegado, é o tempo da mudança”, afirmou confiante. Como muitos jovens, Kelvin declarou voto em Marina Silva, do PSB. “Estamos fartos de tanta corrupção, tanto do PT quanto do PSDB”, completou. Priscila Silva, de 21 anos, também estava votando pela primeira vez. Nascida em Manaus, no Amazonas, ela mora em Londres desde os dez anos de idade e, para não se distanciar do país, disse que procura se informar sobre tudo que acontece no Brasil. “Minha primeira opção seria votar nulo, pois nenhum dos três principais candidatos realmente me interessa”, disse Priscila. “Mas eu espero que haja alguma mudança, então votei no Aécio Neves”, revelou. Já Zira Melo, de 45 anos, nascida em Belo Horizonte, estava votando pela segunda vez em Londres, onde mora há 13 anos e trabalha como intérprete. “Mesmo que eu more aqui na Inglaterra, o Brasil ainda é meu país. Faço questão de votar porque eu acredito que, se você vota consciente, você vota por um Brasil melhor”, argumentou.


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Na primeira foto, a fila em frente Ă Embaixada do Brasil em Londres; na segunda, Kelvin FelĂ­cio Cordeiro mostra seu tĂ­tulo de eleitor; na terceira, eleitora registra seu voto na urna


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PMDB DEVE SER O VENCEDOR NOS ESTADOS

Partido ganhou quatro Estados no primeiro turno das eleições e ainda disputa oito governos no segundo; PT pode chegar no máximo a sete Estados, enquanto o PSDB pode chegar a oito Por Rosa Bittencourt

Dos 26 Estados da federação mais o Distrito Federal, 13 tiveram seus governadores eleitos no primeiro turno das eleições do dia 5 de outubro no Brasil. O melhor desempenho foi do PMDB, partido da base aliada da presidente Dilma Rousseff (PT), que conquistou quatro Estados: Paulo Hartung no Espírito Santo, Marcelo Miranda no Tocantis, Jacson Barreto em Sergipe e Renan Filho em Alagoas. O PMDB ainda terá, no segundo turno do dia 26 de outubro, a chance de conquistar os governos de outros oitos Estados: Amazonas, Ceará, Goiás, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Rondônia. Com essa perspectiva, a legenda tem grandes chances de terminar as eleições com o maior número de governos estaduais. Pode chegar a no máximo 12 – em 2010, havia conquistado cinco. O PT, por sua vez, saiu do primeiro turno vitorioso em três Estados: Rui Costa na Bahia, Fernando Pimentel em Minas Gerais e Wellington Dias no Piauí. A vitória em Minas Gerais é bastante significativa porque é o Estado que já foi governado pelo candidato à presidência pelo PSDB, Aécio Neves. Dilma deve questionar Aécio sobre o fato de a própria população mineira não ter escolhido seu partido no Estado. O partido de Dilma disputará ainda outros quatro cargos estaduais no segundo turno: Acre, Ceará, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Se ganhar nestes que ainda estão em disputa, o PT pode expandir seus domínios em relação a quatro anos atrás. Em 2010, elegeu cinco governadores, e pode encerrar as eleições de 2014 com até sete. Já o PSDB ganhou no primeiro turno com Geraldo Alckmin em São Paulo e Beto Richa no Paraná. Em São Paulo, a reeleição leva Alckmin ao quarto mandato como governador, mantendo a impressionante hegemonia dos tucanos no Estado. Desde a gestão do peemedebista Luiz Antônio Fleury Filho (1991 a 1995), nenhum outro partido foi eleito pelos paulistas ao governo estudal. Isso, consequentemente, faz com que o desempenho de Dilma em São Paulo tenha sido um dos piores no primeiro turno – ela teve 25,8%, ante 44,2% de Aécio. Apesar de ter tido o pior desempenho entre os principais partidos do país no primeiro turno das eleições estaduais, o PSDB

vai disputar ainda seis governos no segundo turno: Paraíba, Pará, Acre, Rondônia, Goiás e Mato Grosso do Sul. Com isso, o partido pode chegar ao mesmo número de Estados conquistados nas eleições de 2010: oito. O PSB de Marina Silva venceu no primeiro turno apenas em Pernambuco, onde elegeu Paulo Câmara. E disputa no segundo mais quatro Estados: Amapá, Distrito Federal, Paraíba e Roraima. Ainda que consiga ganhar todas as disputas, os socialistas vão ficar no máximo com cinco governadores, contra seis do início da disputa. Entre os partidos de menor expressão, PCdoB, PDT e PSD elegeram um governador cada no primeiro turno. Flávio Dino venceu no Maranhão pelo PCdoB. Pedro Taques, do PDT, ganhou em Mato Grosso. Em Santa Catarina, Raimundo Colombo se elegeu pelo PSD.

PRESIDENCIÁVEIS No tabuleiro eleitoral, a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) levou a melhor na disputa em 15 dos 26 Estados brasileiros mais o Distrito Federal. Aécio Neves (PSDB) ficou em segundo nesse ranking e abocanhou a maior parte dos eleitores em 10 Estados. Fora da disputa do segundo turno, Marina Silva (PSB) venceu apenas no Acre, sua terra natal, e em Pernambuco, reduto do aliado Eduardo Campos, morto em agosto após acidente aéro. As urnas mostram que as regiões Norte e Nordeste são redutos de Dilma. Ela também venceu em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, segundo e terceiro maiores colégios eleitorais do país, além do Rio Grande do Sul. Já Aécio tem força no Centro Oeste e na região Sul. O território onde Dilma teve a votação estadual mais expressiva foi o Piauí, onde obteve a preferência de 70,61% dos eleitores. Aécio, por sua vez, teve a votação mais elástica em Santa Catarina, com 52%. Terceira colocada, Marina teve 48% dos votos em Pernambuco. Outro dado interessante mostra que em 14 Estados do país o candidato a governador eleito ou líder no primeiro turno pertence à mesma coligação que o presidenciável que teve mais votos locais.


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SENADO MUDA POUCO; RENOVAÇÃO NA CÂMARA É SUPERIOR A 40% PT e PMDB continuam com as maiores bancadas no Congresso Nacional, mas nova composição da Câmara pode dificultar a construção de alianças entre Executivo e Legislativo Por Claudia Ribeiro

A escolha para o cargo de Presidente da República atrai, indiscutivelmente, mais atenção dos eleitores. Os parlamentares que vão ocupar as 513 cadeiras da Câmara dos Deputados e as 27 vagas no Senado, porém, têm papel fundamental nesse processo. Afinal, o chefe do Executivo só consegue governar com o aval do Segundo Poder, como é chamado o Legislativo. Quanto mais agregar partidos, mais facilidade o presidente terá para fazer valer seu programa. O novo Congresso eleito em 2014 receberá em 2015 o presidente escolhido no segundo turno da eleição presidencial, a ser disputado no próximo dia 26 entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Caso seja reeleita, a atual presidente terá no Congresso uma gama de partidos aliados capaz de controlar, na teoria, a Câmara dos Deputados e o Senado. Na Câmara, por exemplo, os nove partidos que apoiam a candidatura de Dilma elegeram ao todo 294 deputados. Já o PSDB de Aécio Neves se consolidou como terceira força do Congresso ao aumentar em dez deputados sua bancada na Câmara. Caso o tucano chegue à presidência, a aliança de governabilidade que o PT e o PMDB mantêm desde o primeiro governo do presidente Lula pode ser colocada em xeque. Mas, apesar de terem encolhido, PT e PMDB continuam com as maiores bancadas na Câmara e no Senado.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

*Com informações da Agência Brasil

Nas urnas, os eleitores acabaram optando por renovar mais de 40% dos deputados federais. Dos eleitos, 198 deputados exercerão mandato pela primeira vez. Nesse universo, incluíram seis novos partidos na Casa. A partir de janeiro de 2015, as atuais 22 legendas representadas por parlamentares passarão a ser 28. “Houve uma pulverização partidária e a governabilidade ficará mais difícil”, explicou Antonio Augusto de Queiroz, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). “Os grandes partidos encolheram, especialmente PT e PMDB, e houve crescimento de pequenas e médias legendas. Isso obrigará o futuro

presidente a negociar com eles, que não se pautam por questões programáticas ou ideológicas”, alertou. O PT continua tendo a maior bancada na Câmara, com 70 deputados, mas perdeu assentos. Na atual legislatura, o partido tem 88 parlamentares. O PMDB também teve a bancada reduzida, passando de 71 para 66 deputados. Entretanto, permanece como o segundo mais representado na Casa. O PSDB aumentou de 44 para 54. Na opinião de Queiroz, outro aspecto que pode ser avaliado como má notícia é o perfil de grande parte dos novos deputados. “Alguns são pastores evangélicos, apresentadores de televisão, especialmente de programas policialescos, ou parentes de políticos famosos [mais de 70 deputados]. Isso tornará o próximo Congresso mais conservador”, afirmou. Ele lembrou a eleição de nomes como o de Celso Russomano (PRB-SP), deputado federal mais votado do Brasil, com mais de 1,5 milhão de votos, e Jair Bolsonaro (PR), defensor da ditadura militar, que teve 461 mil votos e foi o deputado federal mais votado do Rio.

SENADO Este ano os eleitores brasileiros escolheram apenas um dos três representantes de cada Estado no Senado, e não houve mudança significativa quanto a atual correlação de forças. Foram eleitos 27 novos senadores, que tomarão posse em fevereiro de 2015. Embora PMDB e PT tenham diminuído o tamanho das bancadas, as duas siglas continuam sendo as maiores. O PMDB tinha 19 senadores e terá 18. O PT passou de 13 para 12. O PSDB segue com dez. O ganho mais representativo foi do PSB, que passou de 4 para 6 senadores eleitos, entre eles o ex-jogador de futebol e ex-deputado federal Romário, pelo Rio de Janeiro, com 63,43% dos votos válidos. Mesmo que o PT tenha perdido apenas uma cadeira no Senado, a baixa incluiu um de seus nomes mais importantes, Eduardo Suplicy. Senador por 24 anos, ele foi derrotado em São Paulo por José Serra, do PSDB, que foi eleito com 11 milhões e 105 mil votos.


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UK NO BRASIL DIVULGAÇÃO

Empresa britânica Balmoral abrirá fábrica em Vitória

Missão britânica apoiou 500 empresas em negócios no Brasil

Encontro aconteceu no Palácio dos Bandeirantes

REINO UNIDO ASSINA ACORDO COM SÃO PAULO Parceria na área de ciência e tecnologia terá foco na troca de experiência, internacionalização de parques tecnológicos e implantação de laboratório de cidades inteligentes O embaixador do Reino Unido no Brasil, Alexander Ellis, e o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Nelson Baeta Neves Filho, assinaram na quarta-feira, dia 1º de outubro, no Palácio dos Bandeirantes, um acordo para cooperação mútua entre o Estado de São Paulo e o país europeu nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, com foco na troca de experiências e na internacionalização dos parques tecnológicos. A parceria tem como objetivo incentivar boas práticas na administração de parques tecnológicos, além de divulgar essas iniciativas para instalação de empresas inovadoras britânicas no Brasil. O mesmo

trabalho será realizado com os parques do Reino Unido, apresentando os locais como possíveis destinos para implantação de empresas brasileiras de base tecnológica. Segundo o secretário Nelson Baeta, o compartilhamento de experiências será importante para o aprimoramento e divulgação das iniciativas credenciadas no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec). “Essa interação entre paulistas e britânicos vai estimular a eficiência na gestão dos empreendimentos e atrair novos negócios, além de incentivar a internacionalização das pequenas e médias empresas brasileiras, contribuindo para o crescimento econômico, com a conquista de outros mercados”, disse.

O acordo também vai avaliar a implantação de um laboratório de cidades inteligentes do futuro, destinado ao desenvolvimento de soluções para sistemas urbanos integrados, com o envolvimento de seis pilares principais: energia, água, efluentes, transportes, saúde e construção sustentável para a habitação social. Entre as atividades previstas por meio da parceria estão o intercâmbio e o treinamento de membros e funcionários do Estado de São Paulo e do Reino Unido, a promoção de visitas técnicas entre os participantes, empresas e universidades dos dois locais e realização de seminários para apresentação dos resultados do projeto.

A missão britânica auxiliou, nos últimos dois anos, 500 empresas do Reino Unido que fecharam negócios na ordem de mais de 1,5 bilhão de libras no Brasil, segundo dados do Consulado Geral Britânico. “Já temos muitas empresas britânicas bem posicionadas. Cerca de 120 trabalham atualmente no setor de petróleo e gás, desde grandes corporações até pequenas empresas. No entanto, estamos trabalhando para que essa presença seja ainda mais significativa”, disse o Cônsul-Geral do Reino Unido no Rio, Jonathan Dunn. O setor de petróleo e gás, como ressaltou Dunn, é o mais promissor. Com o descobrimento do pré-sal, o Brasil terá inúmeros desafios tecnológicos, área em que a reputação das indústrias britânicas se destaca. “O mercado brasileiro busca a tecnologia e a experiência desenvolvidas por empresas britânicas no Mar do Norte. Esta é uma vantagem que a indústria britânica possui, ante outras empresas estrangeiras”, afirma o especialista de negócios, Chris Wall. Em coletiva de imprensa na feira Rio Oil & Gas, em setembro, o Embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, anunciou a construção de uma fábrica da empresa britânica Balmoral em Vitória, Espírito Santo. Especializada em produtos de flutuação e isolamento térmico em águas profundas, a sede brasileira atenderá as demandas da empresa na América do Sul. O investimento multimilionário deve criar cerca de 100 empregos locais até o início de 2015.


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PERFIL

Daniel Goldman abre sua casa Diretor artístico do CASA Latin American Theatre Festival conversa com o Brasil Observer sobre as ideias por trás do evento que chega a sua sétima edição em 2014, traça planos para o futuro e fala sobre sua paixão pelo teatro Por Guilherme Reis

Em um amplo escritório no terceiro andar de um prédio comercial em Canary Wharf, Daniel Goldman recebe a equipe do Brasil Observer como quem acaba de ser surpreendido. “Faz cinco minutos que lembrei que vocês vinham hoje para a entrevista, mas então me esqueci de novo e agora tomei um susto”. Com sua voz altiva e animada mesmo que pela manhã, Daniel pede ajuda para subir uma postagem no Facebook. “Olha aqui, você entende dessas coisas? Se eu fizer assim a foto fica grande?”. Respondo que sim, esperando que nada dê errado para que prevalecesse o clima amistoso que se estabelecia. “A-há!”, exclama satisfeito com o tamanho da fotografia na postagem. “Não é preciso muito para me fazer feliz”, diz para logo em seguida oferecer-me um café que acabara de ser passado. Daniel Goldman parece estar sempre ligado na tomada. Na ocasião deste encontro, não à toa. Faltavam exatos sete dias para o começo da sétima edição do CASA Latin American Theatre Festival, que acontece de 10 a 19 de outubro (mais informações na página 20), e o diretor-artístico do festival ainda estava “adicionando coisas ao programa”. “É sempre assustador, mas é o jeito que as coisas funcionam”, revelou enquanto sentávamos em volta de uma mesa. Confiro se o gravador está funcionando, tomo o último gole de café já morno e tento retomar a entrevista pelo começo. Quero saber, afinal, como nasceu essa ligação de Daniel com a América Latina, especialmente com o teatro de lá, para entender melhor o que está por trás desse festival cujo “maior objetivo é unir pessoas, construir pontes entre diferentes culturas e criar oportunidades de diálogo”. “Cresci falando francês e inglês”, começa Daniel, que nasceu em Paris de mãe francesa e pai inglês. “Aos 13 anos, me apaixonei pelo idioma espanhol, principalmente através da literatura. Mais tarde decidi ir para universidade e acabei conseguindo uma vaga em Cambridge para estudar as línguas portuguesa e espanhola”, explica para, enfim, chegar a território sul-americano: “No terceiro ano de curso, tive que escolher um país que falasse um desses idiomas para passar 12 meses. A maioria escolhe a Espanha, mas eu tinha acabado de começar a me interessar por teatro e queria algo mais divertido e desafiador, então acabei escolhendo Buenos Aires, na Argentina”. A viagem de Daniel para o sul do mundo não poderia ter sido feita em momento mais turbulento para Argentina. Corria então ano de 2001 e o país estava prestes a testemunhar grandes manifestações populares que ficariam conhecidas como “panelaço”, diante de uma crise financeira que afetou diretamente as contas bancárias dos argentinos da noite para o dia. “Cheguei cinco meses antes da crise e fiquei mais sete depois que ela começou. Foi um momento incrivel-

mente político, as pessoas foram muito afetadas. Foi um momento crucial da história moderna da Argentina e houve uma resposta muito clara do teatro e das artes em geral ao que acontecia. Então vi um teatro muito engajado social e politicamente. Era um teatro que realmente significava alguma coisa”, lembra Daniel. O ambiente efervescente da Argentina naquele começo de século certamente influenciou bastante a visão de Daniel sobre a América Latina e o teatro. Ele demonstra ter claro conhecimento sobre o que foram os anos de ditadura militar em vários países da região e entende como o teatro, junto com outras formas artísticas, foi essencial para o processo de resistência, além de ser fundamental para a preservação da memória coletiva sobre aqueles anos. O reflexo disso pode ser visto na programação do CASA, que sempre apresenta peças que carregam forte conotação polícia e social. Durante aquele período, o então estudante frequentava a escola de teatro argentina Andamio 90. Somando os afazeres da universidade, tomava mais de 70 horas de aula por semana a ia ao teatro toda noite, tornando-se obcecado pelo palco e tudo que envolvia a produção teatral. Foi naquela mesma época, aliás, que visitou o Brasil pela primeira vez. Daniel passou o Carnaval de 2002 em Olinda, Pernambuco, e depois conheceu as cidades de Recife, Fortaleza, Natal, Salvador, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu. Ele retornaria ao país novamente em 2013, para uma temporada curta em São Paulo. De volta à ampla sala do terceiro andar do prédio comercial em Canary Wharf, de onde se vê arranha-céus por uma janela que se estende por todo o ambiente, avanço no tempo para falar do presente, ou seja, a sétima edição do festival que Daniel começou por um motivo tanto óbvio quanto essencial: “Quando eu voltei da América Latina, 13 anos atrás, não havia nada de teatro latino-americano aqui no Reino Unido, no máximo dois shows por ano”. Em 2014, conta Daniel, o CASA traz quatro companhias latino-americanas: duas do Chile, uma do Equador e outra da Argentina. Cada uma vai apresentar duas peças – todas em espanhol, mas com legendas em inglês. Há ainda oficinas de teatro e debates, além do Nuestra CASA Scratch Night, uma residência artística criada para apoiar até seis artistas a cada ano com orientação, espaço para ensaio e uma bolsa para desenvolver um novo projeto de teatro. Mas, afinal, cadê o Brasil? A programação deste ano não traz nenhuma companhia brasileira, mas Daniel garante que já está conversando com grupos do Brasil para o festival do ano que vem. Perguntado sobre quais seriam, preferiu não revelar “por enquanto”. Passamos a falar, então, sobre o lado lúdico

do festival, a aproximação de diferentes culturas e o senso comunitário que ele carrega. “Tudo que tentamos fazer é que o festival seja o mais acessível possível, então temos o site nas três línguas (português, inglês e espanhol), as peças são legendadas e os preços são baixos. Você pode ver duas peças por apenas nove libras”, diz Daniel. “O teatro pra mim é vivo, tem essa coisa de voltar para as primeiras técnicas usadas pelo homem para se contar uma estória. E o artista sempre tem algo a dizer, assim fazemos o programa: o que esse artista tem pra dizer, o que ele quer compartilhar?”, continua para emendar uma visão sobre os latino-americanos em Londres. “Uma coisa interessante é ver o comportamento da comunidade latino-americana aqui. Os brasileiros têm interesse em ver uma peça da Argentina? Os colombianos querem ver shows do Equador? Queremos ver todos interessados em tudo. Queremos trazer a comunidade latino-americana para dentro da mesma fotografia”, afirma Daniel. Proponho, em seguida, que Daniel reflita sobre as diferenças de se fazer teatro no Reino Unido e na América Latina. O que cada um pode aprender com o outro? “Há formas diferentes de se trabalhar. É difícil de ganhar dinheiro com teatro na América Latina. Aqui é mais rápido e intenso, em semanas se ensaia e vai ao palco, se pagam salários e todos sabem o que vai acontecer. Na América Latina a tendência é que se trabalhe o ano inteiro, ou até dois anos para desenvolver uma peça. Na América Latina há maior profundidade artística e humana com o trabalho, pois está sendo desenvolvido com tempo maior. Talvez o que podemos aprender é como as companhias latino-americanas trabalham com o envolvimento de todos, como essas companhias duram mais e com as mesmas pessoas”, argumenta. “A forma latino-americana me encanta mais, mas aqui estou eu na Inglaterra... Todos nós temos nossa porção de contradição”, conclui. Sobre o futuro, Daniel revela que, a partir do ano que vem, o festival vai focar mais em um único país, ainda que com atrações de outros, a começar pelo México – a vez do Brasil será em 2016. E surpreende ao dizer que espera que alguém assuma a direção artística do CASA em algum momento, mesmo que seja difícil entregar algo que ele próprio criou. “Seria brilhante que o festival fosse dirigido por alguém da América Latina”, diz. Daniel confessa que pretende desenvolver mais seu lado artístico, escrevendo e dirigindo peças de teatro. Para encerrar, peço que ele resuma em poucas palavras sua maior satisfação: “Criamos uma casa onde culturas diferentes podem se encontrar”. E essa casa, como se vê, está mais aberta do que nunca.


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RÔMULO SEITENFUS

O teatro pra mim é algo vivo, tem essa coisa de voltar para as primeiras técnicas usadas pelo homem para se contar uma estória

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Para mais informações acesse www.casafestival.org.uk


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CONECTANDO

A LUTA DE HONG KONG O movimento Occupy Central não é tanto uma luta por democracia quanto é por justiça social, diz Ming Chun Tang Por Ming Chun Tang

somente introduzido em 2010, está calculado em HK$28 (US$3.60) por hora – um pouco abaixo do valor dos Estados Unidos. Não existe negociação coletiva, nenhum seguro desemprego ou pensão. O número de horas trabalhadas é de aproximadamente 49 horas semanais. Os preços de habitação estão entre os mais altos do mundo. Até a revista neoliberal The Economist colocou Hong Kong no topo de sua crônica sobre homens de negócios bem conectados politicamente no mundo. A lista de quem se manifestou contra o Occupy Central é particularmente reveladora – a oligarquia Li Ka-shing, o HSBC e alguns outros do círculo dos negócios. A principal questão na administração de CY Leung não é o fato que não foi eleita democraticamente, mas que serve à dois grupos principais: Pequim e elites locais. Em outras palavras, longe da democracia e sua representação. Não é difícil ver por que grandes empresas e oligarquias estão apavoradas pelo Occupy Central: qualquer movimento na direção de uma democracia real afetaraia o domínio deles sobre o território. O status quo, por outro lado, os serve bem. Hong Konguianos não formam um grupo ideológico definido. Nunca votamos, nem nos 17 anos como colônia da China, nem sob um século de regime colonial britânico. Fomos bons sujeitos colonizados e nos mantivemos calmos porque conseguíamos viver bem de maneira geral. No momento em que as classes média e trabalhadora começam a pressionar, as classes dominantes passam a compreender que não podem simplesmente deixar tudo exatamente como está. A batalha pela democracia não é uma batalha pelo voto, mas por uma democracia real: pelo direito das pessoas de governarem a si mesmas. O voto é meramente um ponto de partida para um longo processo de reforma que tira o poder das elites de Hong Kong e da China e, pela primeira vez, passa para as mãos das pessoas comuns.

COMO PARTICIPAR? Conectando é um projeto desenvolvido pelo Brasil Observer que visa colocar em prática o conceito de comunicação ‘glocal’, ou seja, uma história local pode se tornar global, ser ouvida e lida em diferentes partes do mundo. Mande sua história para nós! Saiba como participar entrando em contato pelo conectando@brasilobserver.co.uk

REPRODUÇÃO

Enquanto pessoas inundam as ruas de Hong Kong exigindo eleições livres em 2017, a mídia internacional de modo geral entra em seu costumeiro modus operandi, descrevendo a luta como uma disputa entre um Estado autoritário e seus cidadãos que querem ser livres. A esquerda internacional, enquanto isso, se mantém calada. Não é imediatamente claro se isso ocorre por conta da inabilidade de entender a situação, da falta de disposição em apoiar valores supostamente liberais ou da simples relutância em criticar a China. Enquanto histórias sobre o movimento Occupy Central estampam as primeiras páginas da mídia tradicional, tanto a BBC quanto a CNN publicam artigos e matérias sobre “como entender a questão” que mais confundem do que explicam, pois não fazem nenhum esforço no sentido de identificar as causas econômicas da insatisfação popular. A BBC chegou a questionar se o futuro de Hong Kong como centro financeiro estaria “ameaçado” – dando um pista obviamente clara sobre quais são as reais prioridades do “establishment” global. Independentemente do que a BBC quer que o mundo acredite, o Occupy Central não é tanto uma luta por democracia quanto é uma luta por justiça social. É verdade que a população de Hong Kong está insatisfeita com a interferência de Pequim em assuntos domésticos, como a imigração da China, a liberdade de imprensa e o programa de propaganda nacionalista. Essas questões, porém, desaparecem em comparação às dificuldades crescentes das realidades cotidianas. Como coloca o professor da Universidade da Cidade de Hong Kong, Toby Carroll, um em cada 5 Hong Konguianos vive abaixo da linha da pobreza, em um momento em que a desigualdade alcançou os índices mais altos do mundo. Os salários não cresceram junto com a inflação, ou seja, caíram em termos reais. O salário mínimo,

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Ming Chun Tang é escritor, nascido em Hong Kong. Estudou no Hamilton College (Nova Yorque) e hoje estuda na London School of Economics. Escreve em www.clearingtherubble.wordpress.com


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Brasil Observer

GUIDE

THE WAY HE LOOKS

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The Film chosen to represent Brazil at the Oscars 2015 debuts in the UK and director Daniel Ribeiro speaks to Brasil Observer. >> Read on pages 16 and 17

Hoje eu quero voltar sozinho, filme escolhido para representar o Brasil no Oscar 2015, estreia no Reino Unido e Daniel Ribeiro, diretor do longa-metragem, dรก entrevista exclusiva ao Brasil Observer. >> Leia nas pรกginas 16 e 17


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BRAZIL’S OSCAR SUBMITTED FILM DEBUTS IN THE UK The Way He Looks tells the story of Leo, a blind teenager who discovers he is gay when a new boy joins his school. “I hope the film can contribute to the debate on homophobia”, says director Daniel Ribeiro By Gabriela Lobianco

In a competition between 18 Brazilian films, The Way He Looks, directed by Daniel Ribeiro, was chosen by Brazil to compete at the Academy Awards for best foreign film in 2015. The announcement was made in September and put other critically-acclaimed films, including Futuro Beach (Karim Aïnouz), Bald Mountain (Heitor Dhalia), and Tattoo (Hilton Lacerda) out of the running for one of the industry’s highest accolades. Daniel Ribeiro, who also produced and wrote the screenplay for The Way He Looks, gave an interview with the Brasil Observer and said that the announcement by Selection Committee of the Brazil’s Culture Ministry had surprised him. He confirmed that the emphasis now will be to secure a place among the five finalists. “The competition was very good, with several very interesting films and representing the great diversity of Brazilian cinema. Now let’s fight for a spot,” he said. The final list of nominations will be released in January next year. The good news for the UK audience is that Ribeiro’s first feature film is released in British cinemas on 24 October (see more details in our info box). People will also have the opportunity to watch the drama on 9 and 10 October at the annual BFI London Film Festival. The Festival also includes other Brazilian films: Casa Grande, by Fellipe Barbosa, August Winds, by Gabriel Mascaro, Sunday Ball, by Eryk Rocha, and the short film Tennis Girl, by Daniel Barosa.

PROMISING CAREER Starring Guilherme Lobo, Fabio Audi and Tess Amorim, The Way He Looks is based on Daniel Ribeiro short film Hoje Eu Não Quero Voltar Sozinho, which was screened at over 70 festivals around the world. The feature film deepens the debate proposed by the first. But, despite being a different narrative to the same story, it is not a sequel. Both films were born together, on the construction of Leo, a blind teenager who discovers himself gay when he falls in love for a new boy that joins his school. “I made a short before to try out some issues, such as working with a young actor playing a blind role, I also saw the short as a portfolio to attract funding for a

developed feature,” said Ribeiro. Having fulfilled his goal and completed his first film independently, Ribeiro’s dedication and talent have been rewarded and The Way He Looks won several awards at this year’s Berlin Film Festival, this included taking second prize in the public choice award, best film of the International Federation of Film Critics and the Teddy Award, that showcases films that explore LGBT topics. Ribeiro believes that the awards in Berlin were fundamental to the commercial success of the film. “It’s an independent film without great resources, so the impact of the German festival helped a lot in marketing the film and helped us sell the release rights to many countries.”

LGBT DEBATE Upon hearing the news of the announcement, Antonio Carlos Fonseca, coordinator of the Centre for Sexual Diversity in Sao Paulo, said he happy that the film was chosen to compete for a spot at the Academy Awards. For him, The Way He Looks shows that there is no difference between the feelings of homosexuals and heterosexuals. “Passion and love are the same regardless of sexual orientation or gender,” he said. When announcing the choice, Brazil’s Minister of Culture, Marta Suplicy, said it was “an original story, with a well-developed script, undertaken by a competent cast. It is a work of high sensitivity that approaches adolescence experienced by the blind protagonist and his discovery of love and sexuality. It is a production that opened understanding of different universal language to the public.” After the news of recent homophobic statements made by one of Brazil’s presidential candidates, Levy Fidelix, the success of this film may help promote a meaningful debate on homophobia in the country. “Although homosexuality has become visible, raising the level of tolerance, homophobia has grown too. It seems that the visibility around the issue has increased the backlash. Statistics show that an LGBT person is killed every 28 hours in Brazil. It is unacceptable. I hope the film can contribute to the debate on homophobia and bring a bit more tolerance,” concluded Ribeiro.

Daniel Ribeiro’s first film stars Fabio Audi, Tess Amorim and Guilherme Lobo (photo 2 from left to right)


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FILME ESCOLHIDO PARA REPRESENTAR O BRASIL NO OSCAR ESTREIA NO REINO UNIDO DIVULGATION

T H E WAY H E L OOKS In cinemas 24 October 9-10 October: BFI London Film Festival 11 October: Iris Film Festival, Cineworld Cardiff 13 October: Cornerhouse, Manchester 14 October: Clapham Picturehouse 15 October: Dukes Komedia, Brighton For more information visit www.peccapics.com

Em uma disputa entre 18 filmes nacionais, o longa-metragem Hoje eu quero voltar sozinho, dirigido por Daniel Ribeiro, foi o escolhido pelo Brasil para disputar uma vaga ao Oscar 2015 de melhor filme estrangeiro. O anúncio foi feito em setembro. Ficaram de fora títulos como Praia do Futuro, de Karim Aïnouz, Serra Pelada, de Heitor Dhalia, e Tatuagem, de Hilton Lacerda – este último vencedor no Festival de Gramado 2014, principal prêmio do cinema brasileiro. Daniel Ribeiro, que também é produtor e roteirista de Hoje eu quero voltar sozinho, afirmou em entrevista ao Brasil Observer que não imaginava que o filme seria eleito pela comissão selecionadora. Ele garante que agora a ênfase será garantir um lugar entre os cinco finalistas. “A concorrência era muito boa, com vários filmes muito interessantes e representando a grande diversidade do cinema brasileiro. Agora vamos brigar por uma vaga”, disse. A lista completa dos concorrentes será divulgada em janeiro do ano que vem. A boa notícia para o público do Reino Unido é que o primeiro longa-metragem de Ribeiro entra em cartaz nos cinemas britânicos dia 24 de outubro (confira outras exibições no box). Os espectadores têm ainda a oportunidade de conferir o drama em primeira mão nos dias 9 e 10 de outubro, no BFI - London Film Festival. O evento londrino também apresenta outros filmes brasileiros: Casa Grande, de Fellipe Barbosa, Ventos de Agosto, de Gabriel Mascaro, Campo de Jogo, de Eryk Rocha, e o curta-metragem A tenista, de Daniel Barosa.

CARREIRA PROMISSORA Estrelado por Guilherme Lobo, Fabio Audi e Tess Amorim, o filme de Daniel Ribeiro é baseado no curta-metragem Hoje eu não quero voltar sozinho, que rodou por mais de 70 festivais pelo mundo desde sua estreia, em 2010. O longa-metragem se aprofunda no debate proposto pelo primeiro filme. Mas, apesar de ser uma narrativa diferente para a mesma história, não se trata de uma continuação. Os projetos de ambas as películas nasceram juntos, da construção do personagem Leo, um adolescente cego que se descobre gay ao se apaixonar por um colega recém-chegado à escola. “Fiz um curta antes para experimentar algumas questões, como trabalhar com um ator jovem interpretando um cego, além de utilizar o curta como portfólio para atrair o financiamento para o

longa”, explicou Ribeiro. A surpresa foi que a produção independente ganhou alguns prêmios importantes na Berlinale, Festival de Cinema de Berlim, no início de 2014: segundo lugar na escolha do público, prêmio de melhor filme da Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema) e o Teddy Bear, premiação voltada a filmes com a temática homossexual. O diretor acredita que os prêmios recebidos em Berlim foram fundamentais para a carreira comercial do filme. “Trata-se de um filme independente, sem grandes recursos para divulgação, então a repercussão que houve por conta do festival alemão ajudou muito em tornar o filme conhecido. Além disso, a participação no festival fez com que o filme fosse vendido para diversos países”, argumentou.

Hoje eu quero voltar sozinho (The Way He Looks, em inglês) gira em torno do personagem Leo, um adolescente cego que se descobre gay. ‘Espero que o filme possa contribuir com o debate sobre homofobia’, diz o diretor Daniel Ribeiro

DEBATE LGBT

Por Gabriela Lobianco

Antonio Carlos Fonseca, coordenador do Centro de Diversidade Sexual em São Paulo, comemorou o fato de o filme ser o escolhido para concorrer uma vaga ao Oscar. Para ele, Hoje eu quero voltar sozinho mostra que não existe diferença entre os sentimentos dos homossexuais e dos heterossexuais. “Paixão e amor são iguais para quem sente independente de opção sexual ou gênero”, defendeu. Ao anunciar a escolha do filme parar representar o Brasil na disputa pelo Oscar, a Ministra da Cultura, Marta Suplicy, disse ser “uma história original, com roteiro bem desenvolvido, empreendido por um elenco competente. Trata-se de uma obra de alta sensibilidade que aborda a adolescência vivenciada pelo protagonista frente à cegueira e sua descoberta do amor e da sexualidade. Uma produção de linguagem universal aberta à compreensão de diferentes públicos”. Após as recentes declarações homofóbicas do candidato à presidência do Brasil Levy Fidelix, essa indicação pode ajudar muito no debate sobre homofobia no país. “Apesar de a homossexualidade ter se tornado visível, elevando o nível de tolerância, a homofobia tem crescido também. Parece que a visibilidade em torno do tema fez crescer a reação contrária. Estatísticas apontam que um LGBT é morto a cada 28 horas no Brasil. É inaceitável. Espero que o filme possa contribuir com o debate sobre homofobia e trazer um pouco mais de tolerância aos homossexuais”, concluiu Daniel Ribeiro.


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NINETEEN EIGHT-FOUR

IN LINE FOR THE CASTLE By Ricardo Somera

Almost all Brazilians who grew up in the 1990s shared the dream of one day travelling around the Ra-Tim-Bum Castle and now, until November this can become a reality, if you pay a visit to the city of São Paulo. For those of you unlucky enough to not know about the Castelo Ra-Tim-Bum, it is a children’s TV program, created in 1994 that became a national phenomenon when every night millions would watch to see their inseparable friends Nino, Biba, Pedro and Zequinha. The program was so successful that decades later, it is still draws the largest audience on TV Cultura, the

public television channel for the State of São Paulo. At its height, the show reached up to 12 points in Ibope polls, on some nights, beating the novellas on TV Globo. Now, twenty years after its debut, the Museum of Image and Sound of São Paulo has mounted an exhibition that recreates some of the sets of Castelo Ra-Tim-Bum. It is expected that 150,000 people will visit the exhibition, beating the figures for the retrospectives of David Bowie and Stanley Kubrick that were held at the museum and drew an audience of 80,000 people each. Online ticket sold out in minutes and the queues in front of the museum are the same, if not longer than

the big exhibitions like the recent Chromeo show at Converse Rubber Tracks of São Paulo. I made sure I got in early and even though I’m almost 30, as I entered and enjoyed the show I felt ten again. One thing I found funny was the parents who had takes their young children, but who were having more fun that kids who no doubt prefer the shows of Pepa or Galinha Pintadinha. The exhibition and the queues will run until 16 November, and even though it has been a great success, unfortunately this will not be extended. What else do I have to say? This is a must see!

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It is expected 150,000 people will visit the Ra-Tim-Bum Castle exhibition

NA FILA DO CASTELO Por Ricardo Somera

Quase todo brasileiro que viveu sua infância nos anos 1990 teve a ilusão de um dia conhecer o Castelo Rá-Tim-Bum. Até novembro isso pode se tornar realidade se você estiver na cidade de São Paulo. Para quem não sabe do que se trata o Castelo Rá-Tim-Bum é um programa de TV infantil criado em 1994 e que até hoje é um fenômeno nacional. Nino, Biba, Pedro e Zequinha eram nossos amigos inseparáveis de todas as noites. O programa fez tanto sucesso na década retrasada que ainda hoje é a atração com a maior audiência da TV Cultura, a TV pública do

Estado de São Paulo. Naquela época, o programa alcançava até 12 pontos no Ibope e, em algumas noites, batia a novela das sete da TV Globo. Vinte anos após sua estreia, o Museu da Imagem e Som de São Paulo montou uma exposição recriando os cenários de Castelo Rá-Tim-Bum. A expectativa é de que 150 mil pessoas passem pelo museu até o final da mostra, batendo as retrospectivas de David Bowie e Stanley Kubrick, no mesmo local, com um público de 80 mil pessoas cada. Os ingressos vendidos pela internet se esgotam em minutos e as filas em frente ao museu são dignas de shows badaladíssimos como o último do Chromeo, no

Converse Rubber Tracks de São Paulo. Eu já tenho quase trinta anos, mas me senti com dez em frente ao porteiro de lata, dentro do lustre e até mesmo no quarto do Nino – que era interpretado pelo ator Cássio Scapin já adulto, mas eu achava que era uma criança, a mesma certeza quando via Chaves. Uma coisa que achei engraçado são os pais que levam os filhos pequenos, mas se divertem mais que as crianças que prefeririam estar no show da Pepa ou da Galinha Pintadinha. A exposição e as filas vão até 16 de novembro e, mesmo com o grande sucesso, infelizmente não será prorrogada. O que tenho a dizer? IMPERDÍVEL!


brasilobserver.co.uk 19 ‘In a highly comical, breakneck fashion, Philipp Löhle illuminates the mechanisms of our globalised, technologised, rapidly changing world.’ Deutsches Theater, Berlin

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StoneCrabs Theatre Company in co-production with Tanja Pagnuco present

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When the African Siwa is talked into using sustainable methods of cotton cultivation by a Swiss aid worker, it helps two young Chinese businesspeople to make a success of their first start-up. But when their trade in soya beans begins to falter, this has an impact on Romanian pig-breeders, which in turn has direct consequences for the marriage of Europeans Katrin and Thomas. Meanwhile, ‘the thing’, a cotton boll, journeys over oceans and through cities amazed by the wheelings and dealings of humanity. Directed by Tanja Pagnuco Designed by Martina Trottmann Translated by Birgit Schreyer Duarte

Tue 14 Oct - Sat 1 Nov, 7.30pm Saturday Matinees, 3.30pm. No shows Sundays & Mondays

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Tue 14 Oct - Sat 1 Nov, 7.30pm New Diorama Theatre, 15 - 16 Triton Street, London, NW1 3BF

WHAT ABOUT

New Diorama Theatre, 15 - 16 Triton Street, London, NW1 3BF Das Ding is translated by Birgit Schreyer Duarte, sponsored by the Goethe Institute. This production is supported by the New Diorama Emerging Companies Fund. The set/costume design has been produced by the Swiss Costume Designer Martina Trottmann.

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GOING OUT

FABIANA COZZA

MÔNICA VASCONCELOS

RED LIKE EMBERS

15 October (7pm)

18 October (10pm)

28 October – 1 November

Where The JazzCafe Camden Tickets £18 >> www.mamacolive.com/thejazzcafe

Where Kings Place Tickets £16.50 >> www.kingsplace.co.uk

Where Theatre503 Tickets £10 - £8 >> www.theatre503.com

A first class samba singer from Sao Paulo, Fabiana Cozza celebrates 17 years of a solid, vibrant career. She has shared the stage with several stars of the Brazilian Popular Music such as João Bosco and Elza Soares, as well as played in a great number of festivals around the world. Award Winner of Brazilian Music 2012 as Best Female Singer of Samba, she is definitely an artist that you should be looking forward to seeing live.

Brazilian jazz star Mônica Vasconcelos returns to Kings Place with the show Rise Up and Dance: Brazilian Freedom Songs. The military dictatorship in Brazil, which begun in 1964 and lasted until 1985, coincided with one of the most creative periods in Brazilian music. Mônica Vasoncelos has been searching for the stories behind these songs and has reworked them with a team of top musicians from Brazil and Britain.

Brazil: the home of the carnival and a hot-bed of political protest, a land of natural beauty with a history of brutality. Theatre503 and CAL Arts present a festival of plays, talks and performance from the sensual heartland of Latin America. These vibrant and often violent stories, a blend of religion, sexuality and politics will showcase the work of a many playwrights that have never been seen outside of their homeland.

CASA FESTIVAL

Parlamento! / Parliament! By Tryo Teatro Banda (Chile)

10-19 October Where Barbican Centre, Rich Mix and Rose Lipman Building Tickets From £12 >> www.casafestival.org.uk

DIVULGATION

BADI ASSAD + GAIO DE LIMA

BRAZILIAN CINEMA

CASA Latin American Theatre Festival is the only UK event entirely dedicated to bringing the best of Latin American theatre. Founded in 2007, CASA has grown into a popular and acclaimed arts festival of national and international repute. In 2012 and 2013, CASA won the prestigious LUKAS (Latin UK Awards) for Best Arts Festival in the UK. In 2014, CASA brings 10 days of Latin American Theatre to London, enriched with Latin American art, music and food. Moreover, the complementary programme includes talks, workshops, the Scratch Night – which is a way to support Latin American artists resident in the UK – and a community day that offers the chance to everyone to let their inner artist shine.

OBSERVATIONS IN BRAZIL

29 October (7:30pm)

15 and 29 October

Until 7 November

Where Kings Place Tickets £12.50 – £24.50 >> www.kingsplace.co.uk

Where Embassy of Brazil Tickets Free >> www.culturalbrazil.org

Where Embassy of Brazil Tickets Free >> www.culturalbrazil.org

Hailing from Brazil, singer-guitarist percussionist Badi Assad transcends traditional styles of her native music with a mixture of pop, jazz and world/ethnic sounds that de¬fies categorization – Assad’s trio is complete with Simone Sou (drums and percussion) and Oleg Fateev (button accordion). Gaio de Lima is a professional musician from Rio de Janeiro, living in London since 2007. In the UK, he founded Clube do Choro UK.

The Embassy of Brazil in London screens two films in October. The first one is City of Men, which tells the story of Acerola and Laranjinha, who are struggling with the pressures of manhood in the midst of a bloody neighborhood gang war. The second is Drained, which tells the story of Lourenço, a lonely pawn shop owner who becomes insensitive to the suffering of those who seek to sell him their personal possessions.

The Embassy of Brazil and Lucid-ly Productions present a rare collection of 50 photographs by Sir Benjamin Stone. The photographs were taken during a Royal Astronomical Society expedition set out to observe a full solar eclipse in the Brazilian Amazon in 1893. Stone also documented his journey by sea to Brazil, photographing the people and places he discovered upon arrival. Special event with talks occurs on October 22.

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NEW CANVAS OVER OLD

THE LADY IS A VAMP By Kate Rintoul

In the days when smart casual is the dress code for pretty much everything, we tend go out straight after work and an evening’s entertainment usually consists of a TV box set, it’s easy to feel like we’ve lost any sense of glamour in our lives. This was particularly on my mind in August with the news that Lauren Bacall, the last of the old fashioned glamazons had died at the ripe age of 89. Even though I had never watched any of her films (a terrible admission, The Big Sleep has been on my ‘movies to watch’ list for years), her beauty, grace and signature husky voice were deeply rooted in the collective consciousness of style. Her death also symbolised sartorial milestone that all of the 16 icons of glamour Madonna listed in Vogue, including Marlon Brando, Greta Garbo and Katherine Hepburn were all now making whatever lies beyond a more beautiful place. No comfort could be drawn from looking around today’s stars of the stage and screen. It seems like ever since the 1990s we’ve all been praising normality. Even people who have had quite extraordinary lives like aristo model Cara Delevingne, are constantly finding ways to show they are just like us - with the odd Instagram of them in McDonalds thrown in for good measure. Even super princess Kate Middleton has tried hard to be average, wearing high street clothes rather than the likes of Versace. Of course then there are the hundreds of “reality stars” who really were just like us before they appeared on shows like Pop Idol. X Factor and Big Brother. But I don’t want to worship in the secular community centre of ‘normal’ if I’m going to admire, look up to and love a star, I want a fully paid membership to the cathedral of fabulousness. We all work hard to earn our money and if we want to spend it on music, a trip to the cinema or splurge on a night of live music than we should want more than ‘average’. When I choose to invest in a famous person I want them to be extraordinary and this is why I loved every second of Bebel Gilberto’s recent concert at London’s Barbican Centre. Everything about the show, from the diamond-like backdrop, jewel shaded lighting, four-man multi instrument band and of cour-

se Bebel’s wonderful onstage persona made it an experience to remember. From the moment she shimmied onto the stage in a slinky figure hugging black silk gown, Bebel delivered full throttle entertainment for the duration of the show and made this dress wearing, prosecco drinking, glamour starved Londoner very happy indeed. With a voice like velvet and passionate delivery Bebel, proved that she is the vamp for the modern age. Between the perfectly pitched songs, that were the good mix of old favourites and some interesting new material from her latest album Tudo, Bebel made sure her audience were with her all the way and shared a lot of her personality with us. Arriving on stage carioca late (20 minutes) and a little flustered with a wardrobe/ear piece malfunction, Bebel quickly charmed a technician into helping her and was so entertaining and funny that it was impossible for the largely punctual audience to be cross with her. She purred apologies saying things like “I’m just so sensitive, that one small sound can put me off completely”. Later when she decided to lower her mic stand, another helpful technician scuttled on stage to attend to her and to whom she said, “Thank you so much, now get me a drink.” From anyone else this diva behaviour could grate, but throughout it all Bebel connected with the audience and worked damned hard to put on a wonderful show, so it just added to her allure. She shared a little of herself with us and with such a big personality, good sense of humour and impressive musical back catalogue, a little went a long way. In some ways it’s no surprise, the daughter of Bossa Nova great João Gilberto and singer Miúcha, Bebel was born into showbusiness, dividing her time between Rio and New York from a young age and having her first album credit aged just seven. While she has pushed the bossa genre in new directions, she has stayed true to it’s stylish past, born in an age of optimism and relative wealth of mid century Brazil. Bebel and her music is a great antidote to the auto-tuned tinny sounding contemporary music that dominates our sound waves. So having seen her perform live I can now say that Bebel has put herself at the top ranking and only member of my list of modern vixens. Viva la Vamp!

Bebel Gilberto on stage with guitarist Maza Shimizu


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RÔMULO SEITENFUS

A DAMA É FATAL Por Kate Rintoul

Nos dias em que smart casual é o código de vestimenta para praticamente tudo, tendemos a “sair correndo direto do trabalho” quando uma noite de entretenimento não consiste em ficar de frente para a TV. Perdemos qualquer senso de glamour em nossas vidas. Isso ficou em minha mente especialmente depois de agosto com a notícia de que Lauren Bacall, a última dos antigos e verdadeiros ícones da elegância, morreu aos 89 anos. Mesmo que eu nunca tenha visto nenhum de seus filmes (essa admissão é terrível, pois ‘The Big Sleep’ há anos está na minha lista de filmes para assistir), sua beleza, graça e voz rouca estavam profundamente enraizadas na consciência coletiva sobre o que é, ou era estilo. Sua morte também simboliza outro marco: todos os 16 ícones que Madonna listou na Vogue, incluindo Marlon Brando e Greta Garbo, agora estão mortos. Nenhum conforto pode ser extraído ao olhar para as estrelas de hoje, tanto dos palcos quanto das telas. Parece que desde a década de 1990 temos valorizado a normalidade. Mesmo as pessoas que tiveram vidas até certo ponto extraordinárias, como a modelo Cara Delevingne, estão constantemente encontrando maneiras de mostrar que são como nós – com fotos bizarramente comuns no Instagram. Até a princesa Kate Middleton tenta ser média, vestindo roupas de rua em vez de nomes como Versace. Há também as centenas, talvez milhares de estrelas de reality shows que realmente eram como nós antes de aparecerem em programas como Big Brother. Mas eu não quero adorar ou até mesmo virar fã de uma estrela que seja “normal”. Todos nós trabalhamos duro para ganhar nosso dinheiro e se queremos gastá-lo em uma ida ao cinema ou numa noite de música ao vivo, deveríamos querer mais do que “médio”. Quando eu opto por investir em uma pessoa famosa eu quero que ela seja extraordinária e é exatamente por isso que eu amei cada segundo do show de Bebel Gilberto no Barbican Centre, em Londres. Tudo, desde

o cenário de diamante, a iluminação sombreada, a banda formada por quatro multi instrumentistas e, claro, a maravilhosa presença de palco de Bebel, foi dignamente memorável. A partir do momento em que entrou dançando no palco, Bebel deu ao público de Londres um show animadíssimo. Com sua voz aveludada, provou que é uma verdadeira mulher fatal. Entre as músicas cantadas, uma boa mistura de antigas canções favoritas e outras do novo e interessante material do mais recente álbum, Tudo. A cantora brasileira fez com que a plateia estivesse com ela durante todo o caminho e compartilhou muito de sua personalidade com a gente. Subindo ao palco com um atraso carioca de 20 minutos, um pouco perturbada com o mau funcionamento do fone de ouvido, Bebel rapidamente chamou um técnico para ajudá-la e foi tão divertida e engraçada que foi impossível para o público ficar zangado com ela. A cantora ronronou desculpas dizendo coisas como “Sou tão sensível que um pequeno som pode tirar-me do ar completamente”. Quando ela decidiu reduzir o pedestal do microfone, outro técnico foi chamado e ela disse: “Muito obrigado, agora me traga um drinque”. De mais ninguém esse comportamento de diva poderia agradar, mas ao longo do show Bebel se conectou intensamente com o público e trabalhou duro para fazer um show maravilhoso. Ela compartilhou um pouco de si mesma e mostrou grande personalidade, bom senso de humor e uma impressionante capacidade musical em sua voz. Em alguns aspectos, não é nenhuma surpresa, já que é filha do grande nome da Bossa Nova, João Gilberto, e da cantora Miúcha. Bebel nasceu dentro showbusiness, dividindo seu tempo entre Rio e Nova York desde cedo. Além de levar a Bossa Nova para novas direções, manteve-se fiel ao passado elegante. Bebel e sua música são um ótimo antídoto para o metálico da música contemporânea. Então, depois de ter visto o seu desempenho ao vivo, agora posso dizer que Bebel colocou-se no topo do ranking, até agora única integrante da minha lista de damas fatais modernas. Viva la Vamp!


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MUSIC TO WEAR

THE T-SHIRT OF THE DAY g

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By Marielle Machado

I have always been a big fan of cool t-shirts. When I was a teenager and a bit of a rock chick, I had a huge tee collection of my favourite bands: Faith No More, Interpol, Death Cab For Cutie... Not to mention the ones I bought during my Nu Metal phase from bands like Slipknot and Linkin Park, which I wore with pride. Films and TV series were not off limits either, I still have my Donnie Darko t-shirt today! T-shirts were all that I used to wear, and always with jeans. It was at that stage of my life that I found out that the coolest t-shirts were always in the men’s section of clothes

We all might already be tired of this high-low style, but I still think it’s cool and fun to wear two pieces that in theory should not be together. I could go for a sequin or a tulle skirt, but that day I decided to revive my teenage rocker years - and now poser - and I ended up going out dressed all in black! The black pleated midi skirt did quite a good job as the more fancy part of my outfit, although it was even cheaper than the t-shirt. So here is a tip for those who like t-shirts with some cool designs, prints or slogans: look for them on the menswear racks, if you’re in Brazil or in the UK... or even inside your boyfriend’s closet!

então peguei o hábito de procurar elas por lá. Agora que eu estou casada, esse é um dos principais motivos de eu gostar de ir fazer compras com o Shaun. Sempre acabo levando pra casa alguma coisa pra mim também. Foi assim que eu encontrei essa camiseta que estou usando nas fotos! Nunca deixei as camisetas de banda completamente de lado, mas hoje em dia procuro por estampas mais interessantes. Compro números maiores e mais largos para usar com calça jeans ou leggings; mais justas para usar com saias e shorts de cintura alta. Meu primeiro instinto é misturá-las com algo mais brilhoso, mais chamativo,

mais chique, e combinar com a casualidade da camiseta. Esse estilo high-low pode até já ter cansado, mas ainda acho legal e divertido usar duas peças que na teoria não deveriam estar juntas. Pensei em uma saia de paetês ou tule, mas nesse dia da foto resolvi reviver a adolescência roqueira, toda vestida de preto! A saia preta plissada e midi até que fez bem à parte mais social da combinação, apesar de ter sido ainda mais barata do que a própria camiseta. Então fica a dica pra quem curte camisetas com desenhos, frases e estampas legais: procure por elas nas araras de roupas masculinas, tanto no Brasil quanto no Reino Unido... Ou no armário do namorado!

PERSONAL ARQUIVE

shops, and since then I picked up the habit of looking for my t-shirts there. Now that I’m married, this is one of the main reasons I like to go shopping with Shaun. I always end up taking home something for me too, and that’s how I came across this t-shirt I’m wearing in the photos! I didn’t just stop wearing my favourite bands t-shirts, but nowadays I look for more interesting prints, and I buy them in bigger sizes to wear with jeans or leggings or a little bit tighter to wear with high-wasted skirts and shorts. My first instinct was to wear this new t-shirt with something sparkly, more chic, to contrast with the design.

I didn’t stop wearing my favourite bands t-shirts, but nowadays I look for more interesting prints

A CAMISETA DO DIA g

Essa conversa continua lá no www.musicaparavestir.com.br

Por Marielle Machado

Sempre tive uma relação de amor com camisetas consideradas “cool”. Quando eu era adolescente e roqueira, tinha uma coleção grande de camisetas das minhas bandas favoritas: Faith No More, Interpol, Death Cab For Cutie... Sem contar as da fase new metal com camisas do Slipknot e Linkin Park, que eu usava com o maior orgulho, e de filmes e séries – a do Donnie Darko eu tenho até hoje! Era só o que eu costumava usar, sempre com uma calça jeans. Foi nessa fase que eu descobri que as camisetas mais legais sempre ficavam na ala masculina das lojas de roupa; desde


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Just as the Brits have their beloved Pubs, the Brazilians have Botecos. For any Brazilian or anyone who’s whiled away an afternoon in a bar in Brazil, a mere mention of a boteco automatically brings to mind the idea of fun and friends, with good conversation and beer on tap. It’s fair to say Brazil’s botecos offer a little more than two pints of lager and a packet of crisps, as tasty bar snacks are provided and music is played, including some live acts. It’s with this in mind, that the Made in Brasil group have opened the doors of the Made in Brasil Boteco - another genuinely Brazilian establishment to add to the diversity of Camden Town. With authentic flavours and numerous choices from Brazilian cuisine, the Made in Brasil Boteco offers a wide menu where you can go from traditional dishes including chicken hearts, feijoada, to seafood with a delicious moqueca, and to finish there is a nostalgic delicious dessert - the famous Brigadeiro. All of the dishes are expertly prepared and served with finesse and sophistication. Great food isn’t the only thing on the agenda here as the new venue will also be hosting live Brazilian music every night. Even if you think you already know your botecos, this one has a few tricks up its sleeve to delight any Brazilian or gringo, starting with their apple and spiced cinnamon caipirinha. For the caipirinha purists out there, perhaps this combination seems strange, but give it a go - the fantastic flavour combination will surely shake up opinions. The Made in Brasil Boteco offers a perfect combination with all the right ingredients of a winning boteco: a great atmosphere, good music and tasty snacks all washed down with caipirinhas and excellent service. For boteco lovers, a visit here is a must. And for those on a budget, the owners have also ensured everything is at an affordable price as you can enjoy three Brazilian tapas (more than enough for for two people) for just £14.50 every day until 8pm and all day and night every Tuesdays. Bigger groups or hungrier people can enjoy five for £24.50. Oh and for just £4.50 you can have the best caipirinhas in London.

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VIBRANT BRAZILIAN BOTECO

MADE IN BRASIL BOTECO 48 CHALK FARM RD, LONDON NW1 8AJ

VIBRANTE BOTECO BRASILEIRO Assim como os PUB’s estão para os ingleses, os ‘botecos’ estão para os brasileiros. Isso pode ser considerado uma máxima de locais tradicionais para diversão nos diferentes países. Já pensou em juntar as duas coisas? Ou um PUB inglês no Brasil ou um boteco brasileiro em Londres? É com esta proposta em mente que o grupo Made in Brasil abriu as portas de mais um estabelecimento genuinamente brasileiro em meio a diversidade de Camden Town, o Made in Brasil Boteco. Com o sabor e as inúmeras opções da culinária brasileira, o local oferece um vasto cardápio no qual você pode ir desde um tradicional coraçãozinho, picanha na chapa, feijoada, passar pelos frutos do mar com uma deliciosa moqueca, camarão, peixe e ir até a nostálgica e deliciosa sobremesa, o famoso brigadeiro. Tudo isso embalado por uma boa música brasileira ao vivo todas as noite. E se você acha que já conhece tudo isso, a casa tem novidade que pode surpreender qualquer brasileiro e encantar os gringos: caipirinha de maçã com canela. Para os mais conservadores no que diz respeito a drink’s, talvez a combinação não tenha uma aprovação de primeira, mas fica a dica para uma degustação experimental que, com certeza, vai abalar opiniões já estabelecidas. O local oferece uma perfeita combinação, com os ingredientes que não podem faltar no que diz respeito aos botecos brasileiros: boa música, saborosas porções, regadas com caipirinha e o execelente atendimento. Para os amantes de botecos, a parada é obrigatória. E ainda com um importante ponto para ressaltar, o preço acessível. Todos os dias até 8pm e nas terças-feira durante todo o dia, por £14.50 você pode degustar três peticos brasileiros, bem servidos para duas pessoas. Ou cinco por £24.50. E por £4.50, você pode saborear a melhor caipirinha de Londres.


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