BDF_170

Page 1

Ano 4 • Número 170

R$ 2,00 São Paulo • De 1º a 7 de junho de 2006

Juventude. Um novo desafio Movimentos sociais discutem os rumos da organização juvenil para revigorar a luta política Robson Oliveira

O

s jovens querem participar da política. Mas não se sentem “aptos” e “preparados” para fazê-lo em movimentos sociais. Na verdade, são as organizações que não estão “aptas” e “preparadas” a assumir o desafio de integrar a juventude em sua prática política. Oito dirigentes jovens, ouvidos pelo Brasil de Fato, acreditam que os movimentos precisam reinventar-se, incorporando as manifestações culturais e a nova linguagem juvenis. Se não o fizerem, correm o risco de perderem força e desaparecerem. Trabalho, acesso à educação e luta contra o imperialismo são temas que, segundo os entrevistados, unem a juventude e devem ser trabalhadas pelos movimentos. O desafio está dado. E é de todos. Pág. 3

Trabalhadores rurais sem-terra participam de jornada de luta para exigir do governo Lula medidas que fortaleçam a agricultura familiar e viabilizem a reforma agrária

Jornada de sem-terra conquista avanços do setor de agricultura familiar em 5 anos, com juros de 8,5% ao ano. O governo também prometeu destinar R$ 10 bilhões para a agricultura familiar, enquanto concedeu quatro vezes mais para custear o agronegócio. Pág. 5

O maior evento mundial está prestes a começar. A partir do dia 9 de junho, 32 equipes buscarão, durante um mês, o título da Copa do Mundo, que acontecerá na Alemanha. No entanto, mais do que simples partidas de futebol, muitos dos embates poderão ex-

pressar relações simbólicas entre os adversários, seja do passado, seja do presente. Colonialismo na África e nas Américas, guerras sangrentas e até conflitos diplomáticos atuais poderão entrar em campo. Pág. 7

Nos últimos dez anos, 287 indígenas foram assassinados, segundo o relatório A Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, lançado pelo Conselho Indigenista Missionário, dia 30 de maio, em Brasília. A questão fundiária é, na opinião dos analistas, a principal causa dessa violência. O Mato Grosso do Sul é o Estado onde se registram mais violações dos direitos dos povos indígenas em 2005. Pág. 4

Marcio Baraldi

Após deflagar a mobilização de milhares de trabalhadores rurais em 18 Estados, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) obteve conquistas para os pequenos agricultores - entre as quais a prorrogação do pagamento da dívida

Copa do Mundo 2006: um enfoque político-histórico

Indígenas são vítimas do agronegócio

EDITORIAL

Uribe na contramão da América Latina A pseudodemocracia burguesa garantiu a reeleição do presidente Álvaro Uribe, na Colômbia, com pouco mais de sete milhões de votos. O país – dominado pelo terrorismo de Estado, por máfias e por grupos paramilitares – teve um pleito marcado por quase nula participação popular. Não compareceram às urnas 16,7 milhões de cidadãos ou 55% dos habilitados a votar. Entre os que se motivaram a votar, Uribe ficou com 62% de votos do eleitorado, contra 22% do candidato da esquerda, Carlos Gaviria (Pólo Democrático Alternativo), e 12% de Horacio Serpa, do Partido Liberal. Na prática, Uribe foi eleito com apenas 27% dos votos. Inquestionavelmente, Uribe saiu fortalecido. Ganhou fôlego extra para implementar mais políticas neoliberais e conseguir que o Congresso aprove o Tratado de Livre Comércio (TLC) assinado com os Estados Unidos, como interessa às oligarquias exportadoras e à elite colombiana. Além disso, no plano internacional, sua vitória mantém um enclave estratégico dos Estados Unidos na América Latina, sobretudo em um momento de efervescência popular e crescente sentimento antiimperialista em seus dois vizinhos: a Venezuela, presidida por Hugo Chávez, e a Bolívia, por Evo Morales.

Não foi à toa que o presidente estadunidense George W. Bush negociou arduamente no Congresso um aumento dos milhões dólares e do apoio militar dados à Colômbia no início do ano, mesmo depois de relatórios internos mostrarem o fracasso do Plano Patriota – que tinha como objetivo combater as guerrilhas. O processo de militarização constante do país deve prosseguir, assim como a repressão às manifestações sociais. É ilustrativo o saldo da Cúpula Nacional Itinerante, convocada pelas principais organizações indígenas, campesinas e afrodescendentes do país às vésperas da eleição, em 19 de maio. Os movimentos manifestaram discordância com Uribe e suas bandeiras. O exército interrompeu o encontro e entrou em confronto com os participantes: um indígena foi morto, outros 60 ficaram feridos e 36 foram presos (leia mais na página 7). Mas as eleições também abriram novos cenários na Colômbia. Em primeiro lugar, pela primeira vez na história do país, uma frente de esquerda – o Pólo Democrático – afirmou-se nacionalmente e sepultou o que restava do velho Partido Liberal, que por mais de 50 anos revezou-se no poder com os conservadores. Em segundo lugar, embora Uribe diga que “pacificou” os centros urbanos, está longe de

derrotar as guerrilhas clássicas, principalmente as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs). Em terceiro, o país vive o caos social: os índices de miséria e desemprego na população urbana e rural são assustadores, e não há horizonte de mudanças. É inegável também o papel que os outros povos latinoamericanos podem ter nesse processo, em um cenário em que avança a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), agora com os novos acordos entre a Bolívia e a Venezuela. E o outro vizinho, o Equador, ainda que viva uma crise institucional e política, resolve nacionalizar o petróleo, atendendo ao clamor popular. E as próximas eleições na Nicarágua, no México e no Peru não prometem o reforço dos planos estadunidenses. Ao contrário. A roda da história, na América Latina e no mundo, não gira hoje em favor do neoliberalismo. O imperialismo encontra crescentes dificuldades no Oriente, no próprio Iraque, e no aparentemente dominado Afeganistão, e não sabe como vai enfrentar a crise com o Irã. A vitória de Uribe não é boa para os projetos de integração da América do Sul. Mas tampouco representa uma reviravolta na correlação de forças da região, em favor do imperialismo.

Na Colômbia, presidente com poucos votos Pág. 6

Cinema do Nordeste na periferia de SP Pág. 8

Já está no ar o novo formato da Agência Brasil de Fato na internet. No endereço ( w w w. b ra s i l d e fa t o. c o m . b r ) , você poderá encontrar nossa produção diária de conteúdo exclusivo, entre reportagens, entrevistas e análises, além das edições anteriores do jornal impresso. Em breve, os assinantes terão uma seção específica para acessar a edição da semana. Vamos colocar no ar também um link para rádios comunitárias de


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.