Poemas de Natal

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE CARVALHOS ESCOLA SOLIDÁRIA

BIBLIOTECA ESCOLAR


HISTÓRIA ANTIGA Era uma vez, lá na Judeia, um rei. Feio bicho, de resto: Uma cara de burro sem cabresto E duas grandes tranças. A gente olhava, reparava e via Que naquela figura não havia Olhos de quem gosta de crianças. E, na verdade, assim acontecia. Porque um dia, O malvado, Só por ter o poder de quem é rei Por não ter coração, Sem mais nem menos, Mandou matar quantos eram pequenos Nas cidades e aldeias da Nação. Mas, por acaso ou milagre, aconteceu Que, num burrinho pela areia fora, Fugiu Daquelas mãos de sangue um pequenito Que o vivo sol da vida acarinhou; E bastou Esse palmo de sonho Para encher este mundo de alegria; Para crescer, ser Deus; E meter no inferno o tal das tranças, Só porque ele não gostava de crianças. Miguel Torga


PRESร PIO

Duas tรกbuas... E era um berรงo! Tudo escuro... E alumiava! Estaria Deus lรก dentro? Fomos a ver... E lรก estava!

Pedro Homem de Mello


NATAL CHIQUE Percorro o dia, que esmorece Nas ruas cheias de rumor; Minha alma vã desaparece Na muita pressa e pouco amor. Hoje é Natal. Comprei um anjo, Dos que anunciam no jornal; Mas houve um etéreo desarranjo E o efeito em casa saiu mal. Valeu-me um príncipe esfarrapado A quem dão coroas no meio disto, Um moço doente, desanimado... Só esse pobre me pareceu Cristo.

Vitorino Nemésio


A PALAVRA MAIS BELA Fui ver ao dicionário de sinónimos a palavra mais bela e sem igual, perfeita como a nave dos Jerónimos… E o dicionário disse-me: Natal. Perguntei aos poetas que releio: Gabriela, Régio, Goethe, Poe, Quental, Lorca, Olegário... E a resposta veio: E é Christmas… Natividad… Noël… Natal. Interroguei o firmamento todo! Cobra, formiga, pássaro, chacal! O aço em chispas, o “pipe-line”, o lodo! E a voz das coisas respondeu Natal! Pedi ao vento e trouxe-me, dispersos, – riscos de luz, fragmentos de papel – cânticos, sinos, lágrimas e versos: Um N, um A, um T, um A, um L... Perguntei a mim próprio e fiquei mudo… Qual a mais bela das palavras, qual? Para quê perguntar se tudo, tudo, diz Natal, diz Natal e diz Natal?!

Adolfo Simões Müller


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