Speed

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Ficha Técnica: Autores e ilustradores: Alunos do 4º ano do Centro Escolar de Ervedosa do Douro, sala 8/3Agrupamento de Escolas de S. João da Pesqueira

Supervisão da professora da turma: Maria Atília Martins de Carvalho

Data da edição: Maio de 2018

Parcerias: Biblioteca do Agrupamento de Escolas de S. João da Pesqueira, Encarregados de Educação e Agrupamento de Escolas de S. João da Pesqueira.

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Estava tão bem a dormir uma soneca numa alface tenrinha, quando senti água fria a molhar a minha concha espiralada às riscas claras e escuras. Abri os olhos e, já todo arrepiado, deitei para fora da concha os meus dois pauzinhos, a medo, e senti umas mãos quentes a pegarem em mim. Aqueles dedos enormes pareciam aranhas gigantes.

- Brrrr… que medo! “Ai que lindo caracol” – ouvi eu. Como sou corajoso, ergui a cabeça em direção à linda voz. Nem imaginam o que estes olhinhos, que a terra há de comer, viram! Uma linda menina de olhos azuis e cabelos dourados. _ Olá caracol lindo! – A sua voz parecia a de um anjo! A menina de cabelos dourados que pareciam raios de sol, pôs-me dentro de uma caixa plástica cheia de folhas de alface tenrinhas. _Socorro! Socorro! _gritava eu. Ela não ouvia. Eu só a ouvia falar com a mãe.

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_ Mãe, mãe, olha que caracol tão lindo! Posso ficar com ele e levá-lo

para

a

minha

escola? _ caracol

Ó é

filha, um

um

animal

muito frágil e pode morrer! _ Mãe, anda lá, deixa-me ficar com ele. Vou levá-lo para a minha sala de aula e vou pedir à minha professora para ser o nosso animal de estimação. - Luísa, o caracol é um animal selvagem… Não sei se será boa ideia, mas leva lá o caracol. Reparei que a Luísa, agora já sabia o nome dela,ficou muito contente e pegou na caixa e levou-me para o quarto. Pousou-me na mesinha da cabeceirae ficou a olhar para mim através das paredes da caixa. Eu disfarcei e encolhi-me na minha frágil concha, receoso do que estava para acontecer. Não estava a achar muita piada à situação, mas acabei por adormecer. Depois de uma noite mal dormida, dei conta que estava a viajar, dentro da caixa, ao colo da menina. Ela cantarolava e saltitava e eu até estava a ficar enjoado. Nem um bocadinho de alface me apeteceu comer… De repente, estiquei um pouco o pescoço e vi que estava numa sala de aula cheia de meninos e meninas. _ Senhora professora, tenho aqui um caracol muito bonito que encontrei ontem,

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numa folha de alface, quando estava a ajudar a minha mãe a fazer a salada. – disse a menina muito empolgada. - Meninos, venham ver o pequenino caracol que a Luísa trouxe. Como estamos a estudar os animais vai ser bom termos um caracol aqui na sala para aprendermos mais sobre eles. – aproveita logo a professora para dizer. Tantos olhos gigantes a olharem para mim, todos queriam tocar na minha concha, ainda bem que a professora, com sensatez, não deixou.

Ali fiquei eu, na cama de folhas de alface, junto à janela, na caixinha plástica furada a observar a sala de aula e aqueles seres gigantes, traquinas e barulhentos. Adormeci um pouco porque estava estafado da noite mal dormida mas, de repente,vi imagens de caracóis e logo as minhas antenas saíram da concha.

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A Luísa, os colegas e a professora estavam a procurar num gigantesco ecrã as principais características dos caracóis e fiquei logo a saber mais sobre mim.

_Caracóis são os moluscos gastrópodes terrestres de concha espiralada calcária.

São animais com ampla distribuição ambiental e geográfica. Respiram através de um poro respiratório. – leu o João, rapaz alto, magro e de olhos azuis e cabelo louro como a Luísa.

_ As diversas espécies de caracóis distinguem-se especialmente pela concha que é, na verdade, o esqueleto externo do animal. Essa concha é feita de calcário, e pesa pouco mais de um terço do peso total. – leu com entoação o Rúben, de óculos redondos e também alto e espadaúdo. _ Mariana lê tu agora. – ordenou a professora. _ Os caracóis não têm audição. O quê? Eu ouço bem! Os humanos não percebem nada de caracóis…utilizam especialmente os sentidos do tato e

do olfato que se situam em todo o corpo mas principalmente nas antenas, já que pouco enxergam com os olhos situados nas pontas das antenas maiores. Os caracóis podem

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dormir por até três anos, ou seja, 10% de todo o seu tempo de vida. Por isso é que eu já estava a ficar sonolento. - pensei. _ Ana, continua tu. – pediu a professora.

_ É comum encontrarmos caracóis terrestres nos jardins, hortas e pomares, pois eles alimentam-se de diversos tipos de plantas. Os caracóis terrestres são encontrados em ambientes de solo húmido, não encharcado e são difíceis de ser observados durante o dia, uma vez que grande parte das suas atividades ocorrem durante a noite. - Senhora professora, agora posso eu continuar a leitura?- solicitou o Simão, o aluno mais alto da turma e com cabelo muito pretinho e espetadinho. _ Sim, claro! _ Os caracóis são essencialmente herbívoros pois comem verduras como a couve e

a alface, frutos carnosos como a melancia, banana e maçã . São animais de hábitos noturnos e vorazes, pois comem uma grande quantidade de alimentos. Os caracóis são animais hermafroditas incompletos, ou seja, cada um possui os dois sexos, mas precisam de um parceiro para realizar o acasalamento e a fecundação. _ Por favor professora, deixe-me ler agora a mim. – implorou a Inês, a aluna mais tímida e sossegada da sala.

_ Eles formam casais e acasalam em média 4 vezes por ano. A gestação dura cerca de 16 dias. Cada um deposita, em média,

100

a

300

ovos

dependendo da espécie numa covinha de terra húmida. Tocou a campainha e saíram todos para o intervalo de almoço. Ufa! Que silêncio! Agora é que vou dormir uma valente soneca, sem ninguém me incomodar.” – pensei.

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De regresso à sala de aula, timidamente, a Luísa pediu à professora para darem um nome ao caracol e assim torná-lo a mascote da turma. O Diogo B. disse logo três nomes: Speed, Slow e Slow Ness, sem colocar o dedo no ar para falar e o Diogo R. e o Henrique gritaram entusiasmados: “Speed! Speed! Speed”! É fixe! _ Por favor, meninos, silêncio! Não podem falar todos ao mesmo tempo e muito menos gritar! – atalhou a professora um pouco zangada. Fez-se um silêncio na sala e o Tomás, que ainda não tinha dito nada e era o aluno mais novo da turma, levantou, a medo, o indicador

da

mão

esquerda. _

Fala

Tomás!-

ordenou a professora já sem paciência. _ O nome Speed assenta-lhe que nem uma luva, senhora professora, é o nome que eu gosto mais. Resolveram

fazer

uma votação e ganhou o nome preferido do Tomás, do Henrique e do Diogo R.: “SPEED” Já tenho nome! Já sou importante! E logo um nome que é bem diferente da minha personalidade e ainda por cima em inglês. Já sou famoso! A partir desse dia passei a ser a mascote daquela turma. Todos os meninos tratavam bem de mim, dando-me folhas de alface tenrinhas, brincavam comigo colocando-me nas mãos macias e quentes, assistia às aulas, aprendia, adormecia com o primeiro luar da noite e acordava com os primeiros raios de sol e, todos os dias, era o primeiro “aluno” daquela sala. 9


Aos fins-de-semana cada aluno, à vez, levava-me para sua casa. Acabava por ficar muito cansado porque tinha de viajar de carro e não me deixavam dormir o que eu necessitava. Chegou o Carnaval e era a vez de a Ana levar-me com ela. Não podia ficar naquela sala tantos dias sozinho. Não é que se esqueceu de mim… O que valeu foi o Diogo R. ter voltado à sala para buscar a lancheira. Com muito cuidado levou-me para casa dele, deu-me muita alface e muitas festinhas, brincou muito comigo e ainda fomos dar um passeio pelo jardim verdejante. Estive para fugir, mas andava cansadito e fui ficando… _ Speed, vamos para a escola? Acorda dorminhoco! – ouvi aquele rapazinho de rosto redondo e branquinho gritar-me.

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Lá voltámos de novo à rotina. Estava a ficar farto daquela vidinha. Precisava de sair dali. Mas como? – matutava todos os dias. Certa noite, acordei estremunhado, estiquei as antenas e percebi que se esqueceram de fechar a tampa da minha caixinha. Era desta, ou nunca mais… Subi, subi, subi… Ufa! Já estava no cimo da parede. Olhei em volta e só me restava uma alternativa, deixar o meu corpo escorregar até ao tampo da carteira. Com muito esforço e com pingos de suor à volta da minha conchinha, rastejei metros e metros e metros e tive de parar junto de um objeto largo com “cabelos” grossos e pretos que estava encostado junto à porta que dava para o recreio da escola. “Será melhor dormir aqui uma soneca até tocar a campainha”. - Professora, professora, o nosso Speed desapareceu.

Que alvoroço naquela sala. - Sabem meninos, o vosso caracolito devia estar cansado de estar fechado naquela caixa. Provavelmente quer ser livre e arranjar uma namorada…_ tentou acalmar a professora. Mal os alunos entraram nas salas, lá me arrastei até ao recreio e fugi por entre as ervas. Sou livre! – gritei, melhor dizendo, tentei gritar...Estava tão estafado que adormeci, mesmo ali junto a um tufo de erva. Já tinha anoitecido, quando senti cócegas na minha conchinha, abri os olhos e vi uma bela caracoleta, linda como o Sol a olhar fixamente para mim. _ Estás perdido? 11


_Sim, acho que sim… - respondi hesitante. _Quem és tu?- perguntei a medo. _ Sou a caracoleta Serafina, uma amiga ao teu dispor. – disse com os pauzinhos a abanar. Senti todo o meu corpinho a esquentar e encolhi as antenas e pensei: “ ai a minha vida, estou apaixonado! Naquela

noite,

vagarosamente

acompanhei a Serafina até ao muro que vedava a escola e, muito a custo, chegámos à sua casinha, um buraquinho bem acolhedor. Já devem estar a adivinhar o final da história? Sim, é esse: Viveram felizes para sempre e em liberdade! – acrescento eu. Nunca

me

esqueci

dos

meus

amiguinhos da sala de aula que gostavam tanto de mim e, afinal, foi graças à Luísa que encontrei o meu novo lar!

Fim

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