O Baú de Memórias- Escrita criativa dos alunos do 4ºano do AE Eng. Fernando Pinto de Oliveira_21-22

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Alunos das turmas dos 4ºs anos

AEEFPO Junho 2022


O livro O Baú das Memórias é um trabalho de escrita criativa interturmas. Os alunos das turmas dos 4ºs anos do nosso agrupamento participam com as suas ideias e constroem um texto entre colegas, oferecendo os seus contributos a este projeto de empenho comum. Este trabalho é uma obra. É uma articulação de turmas numa composição de escritas, que se ligam por gerações e histórias de vários espaços e memórias, que só um baú pode guardar. Vamos abrir e ver o que tem para contar.

No âmbito e em parceria com: Plano 21|23 escola + Biblioteca Escolar do Agrupamento, aLer+

Os alunos e professores dos 4ºs anos, Agrupamento de Escolas Engenheiro Fernando Pinto de Oliveira

Junho 2022

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CAPÍTULO I – As Matrioskas

Numa pacata aldeia transmontana havia uma menina, chamada Luna, que vivia com os seus pais e com os seus avós. Como não tinha irmãos para brincar, Luna fazia amigos com muita facilidade. Na sua aldeia vivia o seu melhor amigo, que se chamava Gabriel e com o qual brincava todos os dias. O seu avô construiu-lhe uma casa na árvore para que ela pudesse brincar e se divertir com o seu grande amigo. Certo dia, enquanto brincavam na maravilhosa casa da árvore, encontraram um baú que resolveram abrir, onde estavam vários objetos que acharam magníficos. A curiosidade apoderou-se deles e decidiram, naquela tarde, ficar a explorar o que encontravam. De repente, encontraram uma linda boneca de madeira, pintada. Enquanto admiravam a boneca, aperceberam-se que era possível abri-la com um simples rodar. Quando finalmente conseguiram abrir a boneca, depararam-se com outra boneca, mais outra e mais outra e assim sucessivamente, até chegarem a uma minúscula bonequinha. As duas crianças estavam tão felizes com o que estava a acontecer, que fizeram uma grande algazarra. O avô da Luna, que andava ali por perto, ao ouvi-los, decidiu subir até à casa da árvore para ver o que se estava a passar. Quando lá chegou, passou a mão na cabeça das duas crianças e perguntou: – O que se passa? – Avô, encontrámos este baú e pegámos nesta linda bonequinha que tem dentro de si muitas bonequinhas! Sabes de quem é este baú? – perguntou a Luna com grande entusiasmo. O avô sorriu para as duas crianças e respondeu com doçura: – Eu e a tua avó viajámos muito pelo mundo, quando éramos mais novos, porque a tua avó era bailarina. Ela pertencia a uma companhia de bailado russo, das mais conhecidas e importantes! Tinha espetáculos por todo o mundo e eu acompanhava-a sempre... 3


O avô, ao falar da avó da Luna, ficou um pouco emocionado, porque a avó já tinha morrido há muitos anos e a sua neta não a tinha sequer conhecido. Com a voz trémula e a segurar uma lágrima, continuou: – Sabes, o objeto que tens na tua mão chama-se Matrioska e era um dos favoritos da tua avó, porque é um objeto do seu país de origem, a Rússia. Esse objeto tem um significado muito especial. Pois, de acordo com a cultura russa, as Matrioskas simbolizam o amor, a amizade, a fertilidade e a maternidade, e é por isso que as bonequinhas “nascem” umas das outras. Quando alguém oferece as Matrioskas está a desejar sorte e uma vida feliz! As crianças ficaram maravilhadas com a explicação do avô e decidiram que dali para a frente, todos os dias, iriam continuar a explorar aquele baú cheio de memórias e objetos oriundos de muitos países.

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CAPÍTULO II – A Lanterna Chinesa

Na manhã seguinte, os dois amigos acordaram cheios de curiosidade e saltaram da cama. Passaram pela cozinha, não havendo tempo para se sentarem, pegaram numa maçã e correram até à casa da árvore, lugar do encontro. Treparam, que nem macaquinhos, e correram para o baú. Tinham o coração aos pulos, suores frios e um formigueiro que lhes deixava o corpo em movimentos agitados… – Abre, abre rápido essa tampa!!! – sussurrava, eufórica, a Luna para o seu amigo Gabriel, que de calmo, nada tinha. Quando abriram o baú, ao centro, algo estava embrulhado num belo tecido de seda branco, bordado à mão. O suspense aumentava, pois reluzia a cor vermelha do tal objeto, parecendo uma chama. Muito delicadamente retiraram o embrulho. – Não é pesado! Até é leve! – referiu a Luna muito admirada. Quando o desembrulharam, os olhos da menina pareciam dois pontos de interrogação. – O que é isto?? Gabriel, com um sorriso malandro, disse: – Eu sei o que é. – Sabes? Não percebo… Eu nunca vi nada igual! – Aguarda um pouco, vou a casa e volto já. – desatou a correr e em poucos minutos desapareceu por entre as árvores. Luna não estava a entender, mas só lhe restava aguardar. Nem cinco minutos tinham passado e Gabriel apareceu com um livro debaixo do braço e uma linda e grande caixa dourada. – Que trazes aí? – perguntou a Luna animada. – Este é o álbum de fotografias da minha família. – abriu-o e lá estavam os retratos dos seus avós, tios, primos… – Quem são? Não os conheço. Vivem noutra aldeia? 5


Acompanhado de uma gargalha, Gabriel respondeu: – Não, vivem no país onde nasci. – Como assim, não nasceste em Portugal? – Não, olha bem para mim. Achas que fisicamente somos iguais? – Sim, temos pele, ossos, músculos, carne, cabelo… O menino riu-se e acrescentou: – Olha bem para a minha cara… Para os meus olhos. – Tens olhos pretos, parecem estar quase fechados. É isso? – Exato, essa é a diferença. Tu tens olhos redondos e azuis. – e continuou – Sabes onde nasci? – Sim, na escola estamos a estudar os diferentes continentes e países. Nasceste na China. – Boa, acertaste! Estás atenta às aulas! De seguida, sentaram-se bem juntinhos, com o álbum sobre as pernas. Orgulhosamente, Gabriel ia “apresentando”, um a um, os seus parentes. – Olha, olha bem para aqui. – gritou a Luna enquanto apontava, insistentemente, para a fotografia onde a sua avó estava comodamente sentada no chão do alpendre. Por trás de si cintilava um objeto exatamente igual ao do baú. Lentamente, Gabriel abriu a caixa, parecendo que o tempo abrandava. Enquanto Luna observava sem dizer uma palavra, suavemente, ele fazia aparecer aquele estranho, mas maravilhoso objeto. – Apresento-te a LANTERNA JAPONESA. – disse com uma voz bem colocada e de sorriso no rosto. E continuou – Na verdade estas lanternas não têm origem no Japão, mas sim na China. Por isso, são também conhecidas como Lanternas Chinesas. Surgiram há cerca de dois mil anos atrás. Uma das lendas conta o seguinte: O pássaro preferido de um imperador chinês foi morto por um habitante da aldeia. Muito irritado, mandou os seus soldados incendiarem todas as casas. No entanto, um dos moradores soube do plano e pediu que todos confecionassem lanternas redondas com papel vermelho e as colocassem à janela. Assim o imperador acharia que a aldeia estaria a arder. A ideia deu certo, o imperador acreditou e, a partir desta data, todas as casas continuaram a usá-las.

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Luna estava em silêncio, impressionada, mas maravilhada com tudo que estava a aprender. Do lado de fora da janela, o avô, que estava à escuta, estranhou o silêncio vindo da casa da árvore e foi espreitar. Em pezinhos de lã, entrou e disse-lhes: – Que coisa fantástica! Essa lanterna traz-me inúmeras recordações de um país no continente asiático. As duas crianças, muito empolgadas, gritaram: – China, China!!!

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CAPÍTULO III – Macau

O avô tentou acalmar os ânimos e a agitação das duas crianças e afirmou: – O país que me traz inúmeras e maravilhosas recordações é Macau. – Macau? Onde fica? Europa? América? Ásia? – perguntaram os dois amigos. O avô pediu às duas crianças que esperassem um bocadinho pois ia a casa buscar o seu globo terrestre. Quando regressou, apontou para o sul da China e do lado oposto de Hong Kong, lá estava Macau. – Macau é uma região autónoma da China, e sim, pertence ao continente asiático. A Luna e o Gabriel ouviam tudo com muita animação e curiosidade. – Foi lá que eu nasci e passei parte da minha infância e juventude. – contou o avô muito nostálgico com um brilho nos olhos. – A sério, avô? Realmente a tua vida é uma “caixa de surpresas”! Mas nasceste lá porquê? – perguntou a Luna, a saltar de curiosidade. O Sr. Manuel, era este o nome do avô, explicou às duas crianças com muita paciência: – Luna, o teu bisavô era pescador e tinha um barco de pesca em Macau. Sabiam que Macau esteve sob o domínio português de 1513 a 1999? Era principalmente um território de pesca e rotas comerciais. – Mas, avô… – questionou a Luna – o meu bisavô foi trabalhar para tão longe, porquê? – Naquela altura, em Portugal, como vocês estudaram nas aulas de Estudo do Meio, avizinhava-se um golpe militar, e Salazar preparava-se para governar. Lembramse? – Uh, não me lembro muito bem! Acho que não falamos nisso… – disse o Gabriel, enquanto coçava a cabeça. – Gabriel, nem digas isso! A professora bem diz que tens que estar mais atento nas aulas! Claro que falámos, avô… A Ditadura foi um período muito mau, não havia liberdade, não havia emprego, e o comércio estava parado. Ah! E mais, houve a guerra colonial, onde morreram muitos portugueses. 8


– Sim, Luna. O teu bisavô emigrou para Macau no início da Ditadura e a tua bisavó foi com ele. No início, a vida em Macau não foi fácil, sabem que é um país muito diferente, mas tal como todos os portugueses que emigraram, adaptaram-se e gostaram de lá estar. Adorei a minha infância e juventude, tinha amigos asiáticos, mas também portugueses. Regressei a Portugal já no fim da Ditadura, onde conheci a tua avó num espetáculo, a que o nosso país ia assistir pela primeira vez. A partir desse dia, nunca mais deixei Portugal, mas tenho memórias felizes de Macau. – Incrível, Sr. Manuel! Como é que os portugueses chegaram a todo lado? E como é que Portugal tem pessoas de tantas nacionalidades?! Magnífico! Agora já entendi porque é que a nossa professora diz que o planeta Terra é uma pequena aldeia global! O Sr. Manuel ficou muito pensativo e sugeriu aos dois amigos: – Venham comigo! Tenho uma coisa para vos mostrar! Os três desceram da casa da árvore e dirigiram-se para a garagem do avô. A Luna e

o

Gabriel

quase

rebentavam

de

curiosidade! O avô chegou ao fundo da garagem, olhou para a velha manta e puxou-a. Por baixo, escondida pelo pó, estava uma velha máquina. Os dois jovens olharam um para o outro, olharam para o avô e perguntaram: – O que é isto? Que máquina é esta? – Meus caros, à vossa frente está a minha

velha

máquina

do

tempo

MT3000x1.0!

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CAPÍTULO IV – A Máquina do Tempo

– Isso é verdade, avô? Existe, realmente? – Sim, existe. Está aqui! Querem pô-la a funcionar? A Luna e o Gabriel sentiam uma mistura de emoções e, entre o entusiamo, curiosidade e preocupação, pediram ao avô que ligasse a máquina do tempo. Então, o avô ligou a ficha à tomada, esticou o dedo e carregou num botão vermelho que estava por detrás de uns fios empoeirados. A máquina começou a zumbir e a tremer por todos os lados, enquanto os meninos se afastavam assustados. Começou a sair um fumo preto que se acumulou no teto da garagem e «Pum!!». A luz foi abaixo. – O que foi avô? Já viajámos? – Viajámos para um tempo escuro, sr. Manuel! – Não. A máquina avariou e a luz foi abaixo. Vai abrir as janelas, Gabriel. E tu, Luna, traz uma lanterna. A Luna saiu da garagem e foi à casa da árvore. Num piscar de olhos, já estava na garagem com a lanterna chinesa que tirou do baú. O fumo tinha dissipado e a luz do fim da tarde ia diminuindo. – Acende, avô. – pediu a neta, ansiosa. Para a Luna, que não disfarçava o entusiamo de talvez um dia poder ver a avó, a máquina só faria sentido para um propósito desse tamanho… Mas pensou melhor e a presença do Gabriel demoveu-a dessa vontade. Fosse qual fosse a sua viagem, seria feita com o Gabriel, deixando de lado a sua ideia pessoal de um encontro familiar, pelo menos, por enquanto. O avô acendeu a lanterna e começou a reparação da máquina do tempo, mas havia algumas explicações importantes a fazer: – Luna e Gabriel, – chamou a atenção o avô – têm de perceber e cumprir algumas regras. Nas passagens do tempo não podemos participar em nenhum acontecimento. Teremos de ser apenas observadores. – Como assim, sr. Manuel? – questionou o Gabriel, intrigado.

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– Ouçam bem, se participarmos em algum acontecimento passado, faremos alterações que vão refletir-se no futuro. E esse futuro pode ser o nosso presente. Teremos de ser muito responsáveis. Não podemos interagir com ninguém. – Então, que viagem vamos fazer? – perguntou o Gabriel, enquanto ia passando a chave de fendas ao avô da Luna. O Gabriel e a Luna olharam um para o outro e perceberam que, de entre várias épocas no passado e diferentes culturas e civilizações, havia uma combinação enorme de possibilidades. E, naquela pequena e calma aldeia, a agitação das ideias nas suas cabeças era gigante… Terminada a reparação da máquina do tempo, o avô ligou a ficha, carregou no botão e umas luzes amarelas começaram a girar. – Pronto! Já está. E agora, para “quando” querem ir?

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CAPÍTULO V – Vostok 1

– Época dos Descobrimentos Marítimos, avô! Século XV! Vá lá, avô! Please! Assim teríamos oportunidade de andar nas caravelas… Luna foi interrompida pelo avô. – Luna, esta máquina do tempo não tem a capacidade de recuar tantos séculos atrás. Já está enferrujada de não ter uso há décadas! – Oh! Que pena… gostava tanto de voltar à época dos reis e rainhas… saber como se vivia dentro de um castelo… experimentar um vestido de uma verdadeira princesa… Este que a mãe me ofereceu, para o Carnaval, foi comprado nos chineses! Gostava de pegar numa verdadeira coroa… A minha é de plástico!!! Luna sonhava acordada quando Gabriel teve uma brilhante ideia: – Eu gostava de conhecer o cosmonauta Yuri Gagarin. Lembras-te que hoje a nossa professora nos falou que foi o primeiro homem a viajar no Espaço? – Sim, claro que me lembro. Foi uma aula muito interessante! A professora contou-nos que ele tinha apenas 27 anos! – Muito bem meninos, então programo a máquina do tempo para que data? Já não me recordo do ano. A velhice tem destas coisas… Mas ainda tenho na memória o nome da nave. Era a nave VOSTOK 1! – Verdade! Também já sabemos! Foi dia 12 de abril de 1961, avozinho. Aiii, essa cabecinha! Enquanto o avô programou a data, os pequenos lembraram-se que não podiam entrar nesta aventura sem os restantes amigos da pacata aldeia de Samil. Na escola havia mais meia dúzia de crianças e, como a máquina do tempo era muito espaçosa, não havia problema algum. Estavam eufóricos! Queriam contar aos amigos o mais rápido possível. Não tinham telemóveis, pois apenas tinham nove anos. Sabiam que só iriam receber um, quando passassem de ano, quando fossem estudar para Bragança, para o 5º ano. Aí sim, precisariam de cada um, seu telemóvel porque já teriam que andar de autocarro, uma vez que a pequena aldeia fica a 5 km da cidade.

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Combinaram bater à porta de cada um e, para ser mais rápido, separaram-se. Luna correu pela rua da Portela, Gabriel subiu a rua S. Lourenço. Em pouco mais de um quarto de hora estavam todos informados, exceto o Diogo, a Liliana e a Lara. Estes moravam perto do Café Central e todas as tardes de sábado estavam no largo a jogar ao “espetaprego” ou ao pião. Foi lá que Luna os encontrou. A algazarra foi tanta, que os homens que estavam a jogar à sueca na esplanada do único café de Samil, também ouviram! A notícia espalhou-se pelas aldeias vizinhas. No dia seguinte, estava tudo planeado e grande parte da população assistiu à descolagem da máquina do tempo.

Em poucos segundos encontravam-se no ano de 1961, mais precisamente no dia 12 de abril, quando ouviram a voz de Yuri Gagarin transmitir para todo o mundo: «A Terra é azul. Como é maravilhosa! Ela é incrível!».

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CAPÍTULO VI – Viagem ao Espaço

Olharam em volta e ficaram maravilhados com o que os rodeava. Estavam bem no centro da Praça Vermelha, em Moscovo, na Rússia. Nunca tinham visto nada tão grandioso, original e bonito! Para qualquer lado que olhassem viam extraordinários e belos edifícios: a lindíssima Catedral de São Basílio, o Mausoléu de Lenin, as imponentes Muralhas do Kremlin e a sua extensa Necrópole, a harmoniosa Catedral de Kazan, o Armazém Soviético, a Torre do Salvador, o Museu Nacional de História, a Estátua de Minin e Pozharsky, o Portão da Ressurreição, o Edifício da Antiga Duma da Cidade,… – Uau!... Que espanto! – exclamaram em coro. – Nunca vi nada igual… – disse a Luna. Como se não bastasse tudo isto, aos poucos, o grupo de amigos da Luna e do Gabriel e o sr. Manuel, começaram a ver aglomerados de pessoas vindas das principais ruas da cidade. Os populares e os militares vinham entusiasmados, cantando e dançando, enquanto seguravam bandeiras soviéticas e cartazes que felicitavam o sucesso da expedição de Yuri Gagarin ao espaço. Finalmente, deslumbraram, no meio das centenas de milhares de pessoas em júbilo, a chegada do herói internacional que, orgulhoso, discursou: «Foi um voo de 108 minutos: 9 minutos para entrar em órbita e o tempo restante para dar uma volta em torno da Terra. Entretanto, só tive que manter a comunicação pelo rádio e comer a primeira refeição espacial.». Gabriel absorvia todas as palavras do seu cosmonauta preferido, com muita atenção e, admirado, disse: – Gostava tanto de ser, por um dia, o Yuri Gagarin!... – Estás maluco?! Já viste o perigo desta profissão? – alertou um dos colegas da turma. – Eu cá não me metia numa nave espacial nem que me pagassem. Já imaginaste se a nave não regressasse à Terra em segurança?

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– Eu adoro adrenalina e, na realidade, acabámos de constatar que esta viagem foi um êxito! Olhem bem à vossa volta! – pediu Gabriel, apontando em todas as direções. – O Gabriel tem razão. Este homem abriu caminho para a descoberta do espaço. Foi após esta viagem que a União Soviética e os Estados Unidos da América investiram ainda mais na exploração do Universo – explicou o avô. 15


Sonhadora, a Luna afirmou: – Já imaginaram podermos ver a Terra, o espaço, o Sistema Solar de perto? Eu concordo com o Gabriel. Devia ser uma aventura imperdível! – e acrescentou – Ó avô, foi o Yuri Gagarin que também foi à Lua pela primeira vez? – Não, não foi. Na realidade, ele morreu em 1968 e o Homem só chegou à Lua em 1969 – explicou o avô. – Vocês sabem quem foi o primeiro homem a pisar a Lua? – Sei eu, sei eu!! – gritou a melhor aluna da escola da Luna e do Gabriel. – Foi o Neil Armstrong!! – Exatamente! Lembro-me bem do dia em que os noticiários anunciaram a chegada do Homem à Lua, tinha eu 19 anos acabados de fazer. Foi um dia memorável… – lembrou, com nostalgia o sr. Manuel. Sem o deixarem terminar a frase, os amigos gritaram em uníssono: – Leva-nos para esse dia, avô!! De imediato, começaram a ligar os botões da máquina do tempo e o avô inseriu no pequeno computador de bordo a data da chegada do Homem à Lua: 20 de julho de 1969. As luzes da nave começaram a piscar e ouviu-se o motor da mesma a arrancar num barulho crescente. No entanto, subitamente, ouviu-se um grande estrondo: – PUUUUMMMMM!!

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CAPÍTULO VII – Olho de Hórus

Saíram faíscas e fumo da máquina do tempo, ativando assim o sistema de segurança que, imediatamente, os levou de regresso a casa. Enquanto o avô Manuel tentava reparar a máquina, os meninos dirigiram-se até à casa da árvore para descobrir o que mais haveria no baú das recordações. – Olhem as horas! Temos de voltar para casa! Estamos ansiosos por contar tudo o que nos aconteceu aos nossos pais! – exclamaram os coleguinhas. – Ok, nós vamos continuar por aqui, até amanhã. – responderam a Luna e o Gabriel. Uma vez na casa da árvore, os dois amigos procuraram no baú e um objeto sobressaiu, despertando-lhes a atenção. – O que será isto? – perguntou o Gabriel. – Deixa ver, mas que estranho! – exclamou a Luna. – Luna, vamos perguntar ao teu avô, a mim mais me parece ser um olho. – opinou o Gabriel. Pegaram no objeto e correram até à garagem, onde se encontrava o sr. Manuel. – Avô, avô, encontrámos isto no baú, sabes o que é? – perguntou a Luna, toda excitada. – Calma, meninos… tenho boas e más notícias para vos dar…a boa, é que, efetivamente, sei o que é …a má é que a máquina do tempo avariou de vez e não dá para concertar. – Oh, então e agora? – perguntaram os dois amigos. – Agora… Acabaram-se as viagens no tempo. – declarou o avô com tristeza. – Que chatice… – disseram os meninos. – Mas, sr. Manuel, pode dizer-nos o que é este objeto, por favor? – pediu o Gabriel. – Meninos, esse objeto é o olho de Hórus e é originário do Egito. Ainda me lembro de ter sido eu a oferecer esse amuleto à tua avó, Luna. – Mas o que é um amuleto? – perguntaram eles.

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– Tenho uma ideia, porque não vão pesquisar? Podem usar o computador e os livros da biblioteca do meu escritório. – sugeriu o avô Manuel. – Boa ideia, obrigado pela tua sugestão, avô. Gabriel, vamos! – ordenou a Luna. Então, os dois amigos dirigiram-se ao escritório do sr. Manuel para iniciarem a sua pesquisa. – Luna, descobri. Sabes que até existe uma lenda? Olha: «Segundo as lendas, Hórus era o Deus dos Céus, filho de Osíris e Ísis. Com sua cabeça de falcão, ele enfrentou Seth, o Deus do Caos, a fim de vingar a morte do pai. Durante a luta, entretanto, acabou por perder o olho esquerdo. Por causa disso, o símbolo transformou-se num amuleto de sorte e proteção. Além disso, os egípcios acreditavam que ele podia proteger contra o mau-olhado e outras forças do mal.». – Gabriel, também descobri umas coisas na net, anda ver: «O Olho de Hórus também pode ser chamado de Udjat (olho direito) ou Wedjat (olho esquerdo). De acordo com a mitologia, o lado direito representa o Sol, enquanto o esquerdo representa a Lua. Juntos, portanto, os dois simbolizam as forças da Luz e de todo o Universo. Desta maneira, o conceito é semelhante ao do Yin e Yang, que junta formas opostas para representar o conjunto.». – Resumindo, é um amuleto que dá força, sorte, saúde, proteção e poder, e que se pode usar em colares ou outros acessórios. Agora percebo por que razão o meu avô ofereceu este amuleto à minha avó! – exclamou a Luna. – Olha, aqui diz que os antigos egípcios eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses e que alguns desses deuses eram totalmente humanos, outros inteiramente animais, outros ainda com corpo de homem e cabeça de animal. Que engraçado! – disse o Gabriel. – Realmente são muitos deuses. Olha, Rá era o responsável pela criação do mundo, era representado pelo Sol e costuma aparecer com a face de uma ave de rapina. Os egípcios acreditavam que seu rei, o Faraó, era a encarnação de Rá e Osíris reinou sobre a Terra como o primeiro Faraó do Egito. Olha, aqui diz que Ísis com Osíris teve o filho Hórus. Esta lista nunca mais acaba... – afirmou a Luna. – Aqui fala de Hórus, que é representado com cabeça de falcão e corpo de homem. É o protetor dos Faraós e das famílias, lutou contra Seth pelo trono do principal Deus do Egito, após o assassinato de seu pai, Osíris. – leu o Gabriel, fascinado. 18


Muito entusiasmados com as suas pesquisas, os dois amigos foram ter com o avô de Luna, que estava na sala de estar. – Avô, descobrimos o significado deste amuleto e a sua lenda! – exclamou a Luna. – Muito bem, excelente trabalho meninos, é isso mesmo. – disse o avô com uma pontinha de orgulho.

– Bem, tenho de ir embora, já é tarde. – afirmou o Gabriel. – Avô, como já é tarde, o Gabriel podia ficar aqui a dormir, não achas? – perguntou a menina. – Também acho uma boa ideia. Vamos ligar aos teus pais, Gabriel, para eles não ficarem preocupados. Os pais do Gabriel concordaram e ele ficou a dormir em casa da Luna, mas o entusiasmo era muito para os meninos conseguirem dormir, por isso, só adormeceram a altas horas da noite.

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CAPÍTULO VIII – Berimbau

No dia seguinte, Luna acordou muito cedinho pois tinha colocado o seu despertador para as 7 horas da manhã. Estava ansiosa por voltar à casa da árvore e continuar a “explorar” aquele fantástico baú. Despachou-se, muito rapidamente, e foi bater à porta do quarto do seu amigo Gabriel. – Gabriel! Gabriel! Acoooorda, seu dorminhoco! Já são horas. Mal acabou de bater à porta, surgiu o Gabriel com um sorriso maroto: – Pensavas que ainda estava a dormir? Estou prontíssimo!!!! Vamos! Enquanto desciam as escadas iam maravilhados com o cheiro que vinha da cozinha onde já se encontrava o avô de Luna. Na mesa redonda da cozinha tinham à sua espera um magnífico pequeno-almoço que o avô lhes preparara. Panquecas, torradas, fruta, cereais, iogurtes, ovos, queijo… Eram algumas das iguarias que os esperavam. – Uauuu, sr. Manuel! Que delícia! Isto é tudo para nós? – perguntou o Gabriel com água na boca. – Claro que sim! O pequeno-almoço é uma refeição muito importante pois alivia o jejum noturno, permite-nos “recarregar as baterias”, fornecendo ao corpo as energias de que necessita para funcionar durante o dia. E sei que hoje vão precisar de muita energia… Os amigos deliciaram-se com todas aquelas maravilhas que, carinhosamente, o avô lhes preparou e despediram-se apressadamente. Desapareceram pela porta principal e só pararam quando chegaram à casa da árvore. – Agora és tu a abrir o baú. – sugeriu o Gabriel à Luna, que se ajoelhara em frente ao baú. Bem no fundo do baú, chamou-lhes a atenção um objeto comprido. Era uma vara em arco, de madeira, com mais de um metro, um fio de aço preso nas extremidades e, na sua base, tinha amarrada uma cabaça. – Que objeto será este? – questionou o Gabriel. 20


– Ah… eu já vi um objeto parecido a este… Deixa-me pensar onde é que foi…– declarou, muito pensativa, a Luna. Enquanto o Gabriel retirava, cuidadosamente, o objeto do baú, Luna gritou: – Já sei! Foi em casa do nosso colega de nacionalidade brasileira, o Caetano, que mora aqui ao lado, na Rua da Portela. – Como será que veio aqui parar? – perguntou o Gabriel. Como o avô andava perto a cavar a sua horta, Luna pediu-lhe se podia subir à casa da árvore. – Avô, olha o que encontrámos. Que objeto é este? – Que saudades!! Este objeto é um berimbau. Numa das inúmeras viagens em que acompanhei a tua avó, ela esteve durante um mês no Brasil, no estado da Bahia, onde participou em vários espetáculos. Numa das nossas idas à praia, assisti a um jogo de capoeira e apaixonei-me e, como sabem, não gosto de estar parado, então decidi aprender. Trouxe-o para Portugal e guardei-o no baú. – contou, saudoso, o avô. – A sério, avô? Tu surpreendes-me todos os dias! – exclamou a neta. – Vou chamar o Caetano. Certamente, ele sabe muitas coisas sobre o berimbau. A menina foi num pé e veio noutro, acompanhada pelo seu amigo que se encontrava no pátio da sua casa a jogar futebol. – Caetano, encontrámos este objeto! Sei que tens um parecido. Será que nos podes explicar para que serve? O Caetano ficou muito entusiasmado com aquele pedido, pois para além do futebol, a sua outra paixão era a capoeira, desporto que praticava desde pequenino. – Chama-se berimbau ou hungu e é um instrumento de corda com origem em Angola e tradicional da Bahia… – Angola? Em Angola fala-se português, não fala? – perguntou o Gabriel, interrompendo a explicação do amigo. – Claro, Gabriel. Não te recordas da aula de Estudo do Meio? Angola é um dos países denominados países lusófonos, pois foi colonizado por Portugal e manteve o português como língua oficial, após se tornar independente. Esses países também são conhecidos por CPLP, uma sigla que significa Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Sabiam que existem, aproximadamente, 249 milhões de falantes do português no mundo? É o oitavo idioma mais falado e está presente em mais oito países 21


para além do nosso: Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, São Tomé e Príncipe, Brasil, Angola, Moçambique e Timor-Leste. – explicou a Luna. – Só no Brasil são 209 milhões de falantes – continuou o Caetano a sua explicação. – Bem, como estava a dizer, o berimbau foi levado pelos escravos angolanos para o Brasil, onde passou a ser utilizado para acompanhar a arte marcial afro-brasileira, conhecida por capoeira, na qual o som do berimbau comanda o ritmo dos movimentos do capoeirista. Ele comanda a roda, dita o ritmo e o estilo do jogo. São dados nomes às variações de toques mais conhecidas e, quando se toca repetidamente um mesmo toque, diz-se que se joga a capoeira daquele estilo. As variações mais comuns são "Angola" e "São Bento Grande". – Caetano, tu praticas capoeira, não é? – perguntou a Luna. – Sim, pratico capoeira desde os quatro anos. Se quiserem posso ensinar-vos. – Boa ideia! – gritaram, em coro, os dois amigos. Muito entusiasmados, desceram da árvore e passaram o resto da manhã a praticar capoeira.

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CAPÍTULO IX – Ópera Nacional de Kiev

A manhã foi diferente, mas muito divertida! No entanto, a fome estava a chegar e Caetano teve a brilhante ideia de convidar os amigos a comer um prato típico do Brasil, em casa dele. A Luna e o Gabriel adoraram o convite e foram logo pedir autorização ao avô, enquanto o amigo corria até casa. Caetano estava tão eufórico que entrou pela porta, com toda a energia que conseguia, e chamou pela mãe: – Mamãeee?!... Onde estáaa?! – Estou na cozinha… Mas o que se passa, Caetano?!! – questionou a mãe. – Mamãe, quero-te pedir uma coisinha… Os meus amigos, Luna e Gabriel, podem vir cá almoçar? E podes fazer feijão tropeiro mineiro? – perguntou, com um modo muito dócil. – Sim, claro, filho!… Então, ajuda-me a preparar a mesa. – Sim, mamãe. É já!! – respondeu o menino, com um sorriso de orelha a orelha. Na casa do avô, a Luna e o Gabriel conversavam sobre a manhã e perguntaramlhe se podiam ir almoçar a casa do Caetano, aos quais ele respondeu: – Vocês não param, meninos!!! Hum…vão lá, mas assim que acabarem, voltam porque o Gabriel tem de ir para casa. Aliás, a mãe ligou-me agora a dizer que ele tem uma consulta médica, ao final do dia. Ao chegarem a casa do Caetano, os meninos tocaram à porta e esta abriu-se, repentinamente, com ele a sorrir de tão feliz que estava. Enquanto caminhavam pelo corredor, um cheirinho delicioso vinha da cozinha e, subitamente, a mãe apareceu: – Ahhh, vejo que já chegaram! Venham, venham para a mesa e bebam o guaraná que vos arranjei. – disse a mãe. – Mhammm… Isto é muito bom, nunca tinha provado! De que é feito? – interrogou a Luna. A mãe do Caetano reparou logo que os amigos eram curiosos e que o almoço ia ser muito divertido. Passou, então, a explicar à Luna que o guaraná era uma planta 23


medicinal muito comum na região amazónica e no continente africano, sendo muito utilizada em refrigerantes e remédios caseiros para a falta de energia e de apetite, bem como para o cansaço excessivo. O Gabriel também queria agradar a mãe e, com a boca ainda a mastigar, meia aberta meia fechada, disse: – Esta comida está um espetáculo!!! Gosto mesmo muito! Depois do almoço, os meninos despediram-se do amigo e da mãe e correram para a casa da árvore. As pernas ainda tremiam, mas eles não esperaram nem um minuto para recuperar fôlego e voltaram a colocar as mãos naquele precioso baú… Ora remexe, ora vira… E Luna sentiu algo diferente, tipo uma mistura de tecido suave com algo denso. Puxou-o com toda a força para si! Naquele momento, segurava um fato de ballet e ficaram ambos boquiabertos a olhar um para o outro. O silêncio era mais forte. Sem dirigirem uma única palavra, desataram a correr da casa da árvore, em direção ao sr. Manuel. – Avô, avô, encontrámos este fato de bailarina e não estamos a acreditar… É mesmo da avó?!!! – perguntou a Luna. Naquele momento, o sr. Manuel ficou imóvel e uma lágrima caiu do rosto, lentamente. – Sr. Manuel, porque está a chorar?! – disse o Gabriel, com piedade. Com a voz trémula, recordou: – Sim Luna, tens razão! Este fato de ballet é especial, porque foi o último que ela usou… Lembro-me que a tua avó Katerina estava, simplesmente, deslumbrante nesse dia! Estávamos em Kiev, na capital da Ucrânia, a 30 de novembro de 1974. Naquele momento, Luna e Gabriel estavam com os olhos vidrados e entusiasmados em ouvir mais sobre esse espetáculo. – Ora bem, o bailado russo atuava nesse dia, às 22h, na Ópera Nacional da cidade. – continuou o avô – Vocês não sabem, mas trata-se do terceiro teatro mais importante, a seguir à Ópera de Odessa e Lviv. É um edifício incrivelmente bonito no centro histórico de Kiev. Lembro-me que assim que lá entrei, fiquei maravilhado com os interiores sofisticados, a grandiosidade e o luxo. Os corredores eram decorados com espelhos e as escadas de mármore… Vejam bem, eram iluminadas com candeeiros de porcelanas!

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– Uaauuu, sr. Manuel… Quem me dera voltar atrás no tempo. – mencionou o Gabriel, a sonhar acordado. – Aiii! Como eu adorava ter visto a minha avó a bailar nesse palco! – suspirou a Luna. – E a sala estava cheia? – interrompeu o Gabriel. O avô sorriu e disse: – Meninos, foi um dos espetáculos mais importantes da história da Ucrânia e estava repleto, com ilustres personalidades de vários países. Quando o espetáculo acabou, as luzes acenderam-se e toda a plateia estava de pé a aplaudir os bailarinos e a tua querida avó! TRRIMMM…TRRIMMM… A mãe do Gabriel tinha acabado de chegar para levá-lo ao médico.

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CAPÍTULO X – O Último Espetáculo

Luna e Gabriel não estiveram mais juntos nesse dia, mas não pararam de pensar na conversa com o querido avô e de imaginar o espetáculo maravilhoso em que a avó tinha participado naquele dia na Ucrânia. Na manhã seguinte, mal acordaram, correram até à casa da árvore e, em simultâneo, disseram um para o outro: – Temos que arranjar a máquina do tempo!! Admirados por terem tido a mesma ideia, pensaram que só poderia ser uma ideia genial. Conversaram sobre esta hipótese e estavam determinados a fazer uma surpresa ao avô. A surpresa era voltarem todos ao dia do espetáculo para verem, uma última vez, aquele magnífico bailado e a avó com o lindo fato que tinham encontrado. Resolveram procurar no baú alguma ferramenta que os pudesse ajudar a começar o arranjo. Encontraram algo prateado, redondo e com um fio pendurado, mas não sabiam se era uma ferramenta. – O que será isso? Uma bússola? Ou apenas uma caixa? – perguntou a Luna. – Não sei, mas tem um botão! Carrega! A Luna carregou no botão e… Era um relógio! – É um relógio de bolso suíço! – disse o avô, que tinha chegado naquele momento. –Ofereci-o à tua avó no primeiro espetáculo de bailado em que a acompanhei, na Suíça. Quase que nos atrasávamos e, como a Suíça é conhecida por ter os relógios mais precisos do mundo, achei que este presente seria perfeito! E a verdade é que nunca mais se atrasou para nenhum espetáculo. – Oh! E ainda está certo! São exatamente 10h30m. Ao fim destes anos todos, o relógio ainda funciona! Devem ser mesmo bons na arte da relojoaria... – comentou o Gabriel. – A Suíça também é um país conhecido por ter excelentes chocolates e uma variedade de queijos sem fim. Sabiam que foram dois suíços que inventaram o chocolate de leite? – acrescentou o avô. – Hummm. Só por isso já gostava de ir à Suiça! – disse a Luna, que era muito gulosa. 26


– Ah, ah, ah! Também irias gostar de ver os Alpes, as suas paisagens magníficas e de ir a Berna, a capital. Tu que adoras animais, sabias que o São Bernardo é um animal muito simbólico na Suíça? – questionou o avô. – Já vi que tenho muitas boas razões para visitar esse país da Europa! – Sr. Manuel, pode dizer-nos o que avariou na máquina do tempo? – perguntou o Gabriel, ansioso. – Várias peças, entre as quais o relógio do tempo… – respondeu. – Avô, e se este relógio ajudar? Afinal é dos mais precisos do mundo! Queremos fazer uma última viagem…cujo destino diremos no dia da partida. – Seria preciso muita mão-de-obra, meus pequenos… Sozinhos não conseguimos. As crianças saíram a correr e foram chamar todos os vizinhos, amigos, amigos dos amigos… e, num instante, era uma multidão pronta a ajudar! Estiveram todo o fim-desemana à volta da máquina e o relógio foi a peça fundamental no arranjo. Quando a máquina finalmente ligou, o avô, emocionado, disse: – A união faz a força! Foi então que os meninos anunciaram: – Vamos até Kiev, capital da Ucrânia, dia 30 de novembro de 1974, às 21:55. Queremos muito ver a avó naquele dia! – o avô sorriu e acenou com a cabeça. Vvvvrrruuuummmmm…. Partiu a máquina, sem demora, e aterraram exatamente na data pretendida, às 21:55 em ponto. O relógio suíço não falhou! Foi o dia mais emocionante das suas vidas! Lá estava ela, deslumbrante no vestido de bailarina que encaixava na perfeição, rodopiava com uma delicadeza e graciosidade sem fim. No fim do espetáculo, de facto, não havia ninguém sentado, todos aplaudiam de pé e nós, ali na frente, no canto direito, ficámos sem palavras quando a avó olhou para nós e nos piscou o olho, dizendo: «Sejam felizes!». Nesse momento, atirou um presente para o público, que a Luna apanhou. Em casa veria o que era. Era urgente sair de lá, pois sem querer estavam a interagir com o passado e não era permitido. Chegados a casa, em segurança, decidiram que aquela seria mesmo a última viagem. A máquina estava por um fio e poderiam correr o risco de ficarem presos no passado para sempre. Juntos, olharam para o embrulho quadrado que a Luna trazia, com um laço chique, amarelo de veludo. 27


– Abre! – incitou o Gabriel. A Luna puxou a linda fita que fechava o embrulho, abriu a tampa e, dentro da caixa, estavam… Uns sapatos de bailarina! Lindos, cor-de-rosa, com uma fita de cetim, e cabiam-lhe na perfeição. Os olhos da Luna brilhavam e uma lágrima caiu enquanto sorria. Uns anos mais tarde, foi a sua primeira vez no palco. Luna vestia o fato de bailarina da avó e os sapatos de bailarina que tinha recebido. Bailou, rodopiou e encheu o avô, o Gabriel e toda a plateia de luz e felicidade.

Luna e Gabriel decidiram que ao longo das suas vidas iriam fazer por viajar muito e conhecer um pouco de cada canto do mundo, enchendo o baú com novas recordações, cheias de histórias para as gerações seguintes descobrirem.

Fim.

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CAPÍTULO I – As Matrioskas, turma da professora Cláudia Vieira CAPÍTULO II – A Lanterna Chinesa, turma da professora Mafalda Maia CAPÍTULO III – Macau, turma da professora Armanda Domingues CAPÍTULO IV – A Máquina do Tempo, turma do professor Nuno Fernandes CAPÍTULO V – Vostok 1, turma da professora Paula Teles CAPÍTULO VI – Viagem ao Espaço, turma da professora Carmo Cambão CAPÍTULO VII – Olho de Hórus, turma do professor Avelino Vaz CAPÍTULO VIII – Berimbau, turma da professora Fátima João CAPÍTULO IX – Ópera Nacional de Kiev, turma da professora Helena Oliveira CAPÍTULO X – O Último Espetáculo, turma da professora Inês Lobo

Junho, 2022

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