JORNAL MARTIM-PESCADOR 136

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Julho/Agosto 2015

Cisticercose é grave problema no Brasil Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, a neurocisticercose (cisticercose cerebral) afeta 50 milhões de pessoas e é responsável por 50 mil óbitos por ano em países em desenvolvimento, África, Ásia e América Latina. A cisticercose humana acontece quando o homem, acidentalmente, ingere diretamente os ovos da T. solium a partir da água e alimentos. Neste caso, ele desenvolverá o cisticerco nos tecidos, da mesma forma que ocorre com os suínos. Os embriões evoluem para cisticercos que se instalam principalmente no tecido cardíaco e cérebro, permanecendo infectantes por aproximadamente dois meses. No caso, o ovo é a forma embrionária que vai dar origem ao cisticerco, que é a larva, ou seja, o parasita em seu estágio inicial de vida. “A cisticercose é um negligenciado problema de saúde pública, afirma o médico-veterinário Germano Biondi da Faculdade de Medicina Veterinária e Zoologia da Unesp, que estuda a doença há 26 anos. “Como não existe obrigatoriedade de notificação compulsória da doença no Estado de São Paulo, não há fornecimento de registro de informações de diagnóstico de neurocisticercose repassado por clinicas privadas”, explica o veterinário. “A cisticercose faz parte do complexo teníase – cisticercose que é uma zoonose parasitária grave para a saúde humana”, diz Biondi. A teníase, popularmente conhecida como solitária, se adquire através de ingestão de carne crua ou mal passada ou assada de suínos ou bovinos contendo os cisticercos permeados na musculatura esquelética de tais animais. No caso especial do complexo teníase-cisticercose o homem é o único hospedeiro no qual pode abrigar o parasita adulto da Taenia solium e da Taenia saginata. Portanto, os humanos atuam como reservatório do complexo teníase-cisticercose contribuindo para a manutenção destes parasitas no meio ambiente. Certamente continuam acontecendo casos de neurocisticercose na maioria dos estados brasileiros, em função da falta de saneamento básico e distribuição de

pecífica) ou cirúrgico. A profilaxia é sempre a melhor opção, assim para se evitar a teníase, o conselho é consumir carnes inspecionadas preferencialmente, sempre bem passadas ou bem cozidas. Os riscos de transmissão da cisticercose no homem se torna maior quando o homem portador de teníase não tem boas práticas de higiene como lavar as mãos após defecar e antes de comer, e usa água contaminada com esgoto para irrigação de hortas.

O médico veterinário Germano Biondi fala sobre a cisticercose

água potável à população, além de uma educação sanitária continuada. A evolução da cura até a presente data evoluiu bastante em função dos diferentes métodos auxiliares de diagnóstico por imagem, além de servir também para monitorar os pacientes graves. Portadores de tênia quando confirmado diagnóstico são medicados com drogas antiparasitárias especificas. Neste caso a cura se dá após confirmação da eliminação do parasito. No caso de um individuo ser portador de cisticercose cerebral denominada neurocisticercose, vai depender da localização anatômica cerebral para que o médico possa avaliar qual o tratamento a ser instituído: clinico (uso de drogas antiparasitária es-

Ciclo biológico O homem parasitado pela T. saginata ou T. solium elimina as proglótes grávidas contendo ovos com as suas fezes para o meio exterior. Os bovinos podem ser infectados pela T. saginata e os suínos pela T. solium, ao ingerir os seus ovos, os quais se rompem no intestino destes animais. Em seguida, os embriões são liberados e após 24 a 72 horas, alcançam a corrente sanguínea sendo transportados para quaisquer órgãos e tecidos do bovino e suíno, como por exemplo: muscular esquelético, subcutâneo, cardíaco ou nervoso. Os embriões evoluem para cisticerco os quais se instalam principalmente no tecido cardíaco e cérebro, permanecendo infectantes por aproximadamente dois meses. Quando o homem ingere a carne bovina ou suína crua ou mal cozida com o cisticerco infectante, este parasita sofre ação do suco gástrico no estômago e se fixam através do escólex no intestino delgado humano. Nesta fase, o cisticerco desenvolve-se transformando-se em tênia adulta. Três meses após a ingestão da carne inicia-se a eliminação de 1 a 5 proglótes grávidas por dia para o meio exterior junto com as fezes e consequentemente, um novo ciclo de vida das tênias. O homem pode ainda, acidentalmente, ingerir diretamente os ovos da T. solium a partir da água e alimentos. Neste caso, o homem desenvolverá também o cisticerco nos tecidos (cisticercose), da mesma forma que ocorre com os suínos. A literatura medica não relata a possibilidade de que a ingestão de ovos de T. saginata (bovino) possa gerar a cisticercose humana.

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Pescado e envelhecimento saudável Nas últimas décadas têm-se verificado o aumento da longevidade na população de idosos no Brasil e no mundo, devido à melhor condição de saúde e de tratamento. Muitos estudos vêm sendo realizados para esclarecer os benefícios do ômega-3 em indivíduos de idade igual ou maior de 65 anos, buscando agregar qualidade de vida aos anos vividos. É claro que uma alimentação saudável nessa fase de vida é muito importante, porém há necessidade de se estimular constantemente a memória, linguagem e funções executiva e cognitiva, através de leitura, artes, música e toda atividade que exercite o sistema nervoso central, para melhorar a qualidade de vida do idoso. Além de que o funcionamento cognitivo do idoso está associado ao seu bem-estar psicológico, o que representa envelhecimento ativo e longevidade. O Jornal de Nutrição do USA mostrou relações entre o ácido graxo, ômega-3 e funções cognitivas, resposta imunológica, saúde óssea, tônus muscular, qualidade de vida e mortalidade. O uso de ômega -3 em pessoas com mais de 65 anos têm sido relevante na redução de perda da memória e no processo de envelhecimento. Um estudo comparando o consumo de óleo de peixe ou ingestão de ômega-3 mostrou que este pode estar associado à redução de rebaixamento das funções no envelhecimento, Outro estudo concluiu que altos níveis de ácidos graxos do tipo ômega-3 no sangue podem estar associados à menor redução de rebaixamento das funções, porém não mostrou relacionamento com a memória. Segundo este estudo os resultados são positivos para prevenção e tratamento da massa muscular e manutenção da massa óssea. Outro fator a ser considerado é a quantidade deste alimento ingerido, pois indivíduos que se alimentam de mais de três porções por semana não apresentaram perda óssea. Nos últimos anos, as pesquisas

têm comprovado a importância do ômega -3 e ômega-6 na prevenção de doenças cardiovasculares, nos processos inflamatórios crônicos, na inibição da vaso constrição, no crescimento fetal e desenvolvimento neural, ação sobre a prevenção do câncer, entre outras. Baixa concentração ou ausência destes elementos aceleram o processo de envelhecimento e aumentam a probabilidade de envelhecimento. Um dos primeiros sinais de envelhecimento é a mudança na elasticidade da pele (rugas), que pode ser combatida com o uso de ômega-3. Os idosos podem necessitar de uma maior oferta de proteínas (carnes brancas como peixes e aves) e carnes vermelhas, desde que sem gordura. Portanto deve-se dar-se preferência ao pescado, aves sem pele e carnes magras. A ingestão de proteínas animais a partir da carne de pescado e aves deve ser diária, enquanto que a ingestão de carnes vermelhas, ainda que magras, deve ser de duas a três vezes por semana. As principais espécies ricas em ômega-3 são as de águas oceânicas frias, como o bacalhau, salmão, atum, sardinha, dando se preferência a forma de preparo assada, grelhada, cozida, evitando-se o uso de frituras que inviabilizam o ácido graxo bom.

Augusto Pérez Montano Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo


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