REPORTAGEM

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MORADORES

RECOLHEM

ASSINATURAS

PARA

RETIRAR

A

CRACKOLÂNDIA NA ZONA SUL DE SÃO PAULO No bairro do Campo Belo, moradores organizam um abaixo assinado para retirada do comércio de crack no bairro.

Por Beatriz Camargo

José Rubens, síndico de um dos condomínios da região e morador do bairro há mais de 10 anos, organizou uma petição pública para reunir o maior número de assinaturas e enviar à prefeitura de São Paulo e subprefeitura de Santo Amaro para conseguir a retirada dos moradores de rua e acabar com o comércio de entorpecentes da região. A divulgação da Petição Pública tem sido feita através de folhetins de informação colocados dentro dos elevadores dos edifícios da região e, via internet. “O intuito é recolher o maior número de assinaturas possíveis para termos uma solução definitiva para o caso. Além do folhetim e do Facebook, o que mais funciona até hoje é o ‘boca a boca’”, comenta o autor da petição. Além disso, em meio a sua rotina, quando frequenta os supermercados, farmácias e padarias do bairro, José Rubens afirma que é muito fácil encontrar pessoas que estão reclamando desse assunto. “Sempre que escuto o início de um diálogo relacionado, vejo uma oportunidade para agregar mais assinaturas. Delicadamente, interrompo a conversa e sugiro a petição, passo o link do abaixo assinado. Muitas vezes passei meu número de celular e a pessoa me ligou para saber qual era o link para acessar”, completa. Em dezembro de 2012, outra Petição Pública havia sido requerida solicitando uma solução imediata para a crackolândia do bairro. Essa petição teve, em média, quinhentas assinaturas e foi prontamente atendida. No entanto, os problemas voltaram um tempo depois. “Acredito que nós tivemos sossego por cinco meses, no máximo. Logo depois os moradores de rua voltaram a se reestabelecer e o comércio aumentou novamente. Semana passada eu até reparei que em uma das ruas sem saídas do bairro tem um comerciante de entorpecentes que montou uma barraquinha com as cores da Copa do Mundo para atrair turistas. Já está virando piada”. Segundo a assistente social responsável pela região, Thalita Kuwabara afirma que as entidades responsáveis pelo caso buscam responder imediatamente aos moradores, porém o seu trabalho sofre dificuldades. “Antes de abordar os usuários e os moradores


de rua, precisamos ter cautelas. Muitas vezes, com o uso das drogas, eles se tornam agressivos e não entendem que queremos ajuda-los. Temem a nossa presença o tempo todo e isso dificulta a retirada. Eles se sentem confortáveis, apesar de viverem em condições desumanas”. Para quem frequenta o Campo Belo é possível observar usuários de drogas vivendo em péssimas condições nas calçadas. Além disso, segundo dados estatísticos da Secretaria de Segurança Pública, a violência e os assaltos na região cresceram 19,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Moradores afirmam que, além do medo de sair à noite, temem receber visitas em casa. “Muitas vezes, na hora de irem embora, as visitas se surpreendem com vidros dos carros quebrados ou furtos”, comenta Márcia Flesch que mora no bairro há dois anos. “Ainda não montamos uma estratégia pontual. Mas, eu pude observar que com as últimas manifestações públicas, com a população indo às ruas, conquistamos a nossa voz perante as entidades responsáveis. Claro, tive dificuldades em ser atendido, porque eles sempre alegam que há casos mais importantes, mas sei que a nossa petição está caminhando para um bom resultado. A população precisa soltar a voz, se fizermos isso no bairro, não teremos muita atenção, mas já é um passo a ser dado para a conquista da nossa segurança.”, comenta o autor do abaixo assinado que busca recolher em torno de 1500 assinaturas para levar a petição para o Poder Público, através do Conselho Nacional de Segurança Pública. A campanha “Lei de Drogas: É preciso mudar” lançada em 2012 pelo Viva Rio, tinha como objetivo formular uma nova política sobre drogas. Essa nova política ficou à disposição de toda a população para que todos pudessem contribuir para as novas propostas e, principalmente, para que o consumo abusivo de psicoativos fosse tratado como uma questão de saúde pública. Assim como essa grande campanha, a luta dos moradores do Campo Belo segue os mesmos moldes. Garantir a segurança da vizinhança e, ao mesmo tempo, manter a integridade e ajudar aos viciados, garantindo que saindo dali, eles irão para lugares melhores, com outras condições. Por telefone, Francisco Caninde, assessor de comunicação da subprefeitura de Santo Amaro nos informou que o subprefeito Adevilson Maia está ciente do caso e apoia a petição pública, “ele quer o que a população quer. Apoia essa petição e dará toda a


assistência necessária para que a solução seja imediata e definitiva”. Além disso, o assessor nos informou que a solução virá logo do início de 2014. A Petição Pública está disponível em versão online desde Outubro de 2013, até a última atualização da matéria 862 assinaturas foram recolhidas.


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