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astroPT magazine


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PARABÉNS ESO

O ano de 2012 marca o quinquagésimo aniversário do Observatório Europeu do Sul (ESO), a mais importante organização intergovernamental para a invesPágina 2

tigação em astronomia do mundo. A astroPT deseja muitos mais anos de investigação da ESO.


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Palestra do Prof. Stephen Hawking O Professor Stephen Hawking, que hoje faz 70 anos, foi o terceiro convidado das palestras dos 50 anos da NASA. Palestras sobre a importância da exploração espacial, descoberta científica e desenvolvimento da aeronáutica na economia, saúde, educação e ambiente. O seu discurso pode ler-se aqui. Destaco estas palavras como as mais importantes: “Porque deveríamos ir para o espaço? Qual é a justificação para realizar todo esse esforço e gastar esse dinheiro na obtenção de alguns pedaços de rocha lunar? Não existem causas melhores aqui na Terra? De certa forma, a situação foi assim na Europa antes de 1492. As pessoas podem muito bem ter argumentado que era um desperdício de dinheiro enviar Colombo num navio para mares desconhecidos. No entanto, a descoberta do novo mundo fez uma profunda diferença para o velho. [...] No espaço o efeito será ainda maior. Irá mudar completamente o futuro da raça humana [...]. Poderá não resolver nenhum dos nossos problemas imediatos na Terra, mas nos dará uma nova perspectiva sobre eles [...]. Esperamos que este desafio possa unir-nos para enfrentar um desafio comum. Esta seria uma estratégia de longo prazo [...]. Poderíamos ter uma base na Lua dentro de 30 anos ou chegar a Marte em 50 anos e explorar as luas dos planetas exteriores em 200 anos. Por “chegar”, quero dizer com o homem ou, devo dizer, vôo espacial com pessoas. [...] Ir para o espaço não será barato, mas consumirá apenas uma pequena proporção dos recursos mundiais. O orçamento da NASA tem-se mantido mais ou menos constante em termos reais desde o tempo das Apollo, mas diminuiu de 0,3 por cento do PIB dos Estados Unidos em 1970, Página 3

para 0,12 por cento neste momento. Mesmo se tivéssemos que aumentar o orçamento internacional 20 vezes para fazer um esforço sério para ir para o espaço, seria apenas uma pequena fração do PIB mundial. Haverá aqueles que argumentam que seria melhor gastar o nosso dinheiro resolvendo os problemas deste planeta, mudanças climáticas e poluição, ao invés de desperdiçá-lo em uma busca infrutífera por, possivelmente, um novo planeta. Não estou negando a importância do combate às alterações climáticas e o aquecimento global, mas podemos fazer isso com apenas 0,25% do PIB mundial para o espaço. O nosso futuro não valerá essa pequena contribuição?[...]“ Vale a pena ler o resto da palestra, que é sobre o surgimento da vida na Terra, a vida em outros planetas, OVNIs, etc. José Gonçalves


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As odisseias espaciais de Richard Linnehan na Universidade do Minho

Fotos: à Direita—Richard Linnehan. Crédito Wikipedia . À esquerda: Palestra na Universidade do Minho. Crédito Rui Barbosa.

Numa rara passagem por Portugal por parte de um astronauta (apesar de ser a segunda vez em menos de um ano que teve a oportunidade de conviver com alguém que já treinou ou participou num voo espacial), Richard Linnehan falou das odisseias espaciais de um astronauta numa palestra intitulada “Space Odysseys” realizada no Campus de Gualtar da Universidade do Minho, Braga. A palestra foi organizada pela Escola de Ciências da Universidade do Minho em colaboração com a Embaixada dos Estados Unidos da América. A palestra inseriu-se num programa de visita à universidade minhota de uma delegação da embaixada norte-americana e da Texas A&M University, da qual faz parte Richard Linnehan. A sua visita a Portugal enquadrou-se na vinda de uma delegação da Texas A&M University ao Colégio Pierre de Coubertain, em Santa Maria da Feira, na perspectiva de uma possível parceria entre estas instituiPágina 4

ções no âmbito do programa STEM (Science, Technology, Engeneering & Mathematics). A palestra iniciou-se com uma breve apresentação por parte do reitor da Universidade do Minho, António M. Cunha, seguida de uma breve apresentação do orador por parte da Presidente da Escola de Ciências da Universidade do Minho, Estelita Rodrigues Vaz. Richard Linnehan, veterano de quatro missões a bordo do vaivém espacial, falou-nos em especial da sua última missão a bordo da estação espacial internacional (STS-123 em Março de 2008) e dos trabalhos de reparação e manutenção do telescópio espacial Hubble na missão STS-109, em Março de 2002. Percorrendo várias fotografias, Linnehan tirou partido da sua formação como veterinário e ambientalista para descrever com sensibilidade as suas emoções em relação ao voo espacial e ao nosso futuro como espécie exploradora. As foto-


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grafias escolhidas mostravam vários aspectos do seu treino espacial como das missões nas quais participou, passando em revista algumas fotografias obtidas pelo telescópio espacial Hubble como base de partida para explicar a necessidade de uma excelência na educação científica e tecnológica. A palestra teve como objectivo atrair os jovens para a Ciência, tornando-os cidadãos interventivos e que possam construir um futuro melhor. Após a apresentação, Linnehan respondeu a várias questões que versaram temas espaciais e em especial a forma como os astronautas respiram em microgravidade, a sua opinião sobre a existência de vida no Universo para lá do nosso planeta, as sensações que sentiu na sua primeira missão espacial e a forma como se preparam os astronautas para as actividades extraveículares. Em termos pessoais foi para mim uma oportunidade de conhecer de perto um astronauta norteamericano e fiquei bastante surpreendido com a abertura e disponibilidade de Richard Linnehan em responder às perguntas colocadas. No final todos tiveram a oportunidade de obter um autógrafo de Linnehan e de tirar uma fotografia pessoal com o astronauta que respondendo a uma pergunta feita pelo Boletim Em Órbita e pelo astroPT, referiu que gostava de voltar ao espaço apesar de esta não ser uma decisão sua. Para finalizar gostava de referir que para um antigo aluno da Universidade do Minho foi com muito orgulho que vi a minha alma mater receber um viajante cósmico e que pelo aspecto composto do auditório onde decorreu a palestra, seria um tipo de iniciativa a repetir no futuro. O Médico Veterinário Richard M. Linnehan nasceu a 9 de Setembro de 1957, em Lowell, Massachusetts. Frequentou o ensino secundário em Página 5

Pelhan, New Hampshire, e recebeu o seu Bacharelato em Zoologia em 1980 pela Universidade do New Hampshire. Posteriormente completou o seu Doutoramento em Medicina Veterinária em 1985 pela Universidade Estadual do Ohio. Após completar o seu doutoramento, Linneham ingressou na carreira veterinária e de seguida recebeu uma bolsa de investigação por dois anos em medicina animal e patologia comparativa no Jardim Zoológico de Baltimore e na Universidade de John Hopkins. Em 1989 ingressou no Exército dos Estados Unidos, sendo comissionado para o Centro Naval de Sistemas Oceânicos em San Diego, Califórnia, tendo aí executado as funções de veterinário clínico no Projecto dos Mamíferos Marinhos. Foi seleccionado para astronauta em Março de 1992 e em Agosto do ano seguinte completava o treino e o curso que o qualificou como especialista de voo do vaivém espacial. A sua primeira função como astronauta foi no Laboratório de Integração de Aviónicos do Vaivém Espacial. Participou em quatro missões espaciais: STS-78 a bordo do vaivém espacial OV-102 Columbia, uma missão para estudar as ciências da vida e a microgravidade; STS-90 (Columbia), uma missão para estudar os efeitos da microgravidade no cérebro e no sistema nervoso; STS-109 (Columbia), a quarta missão de reparação e manutenção do telescópio espacial Hubble; e STS-123 (OV-105 Edeavour), uma missão que transportou parte do laboratório espacial japonês Kibo para a estação espacial internacional. Richard Linnehan passou mais de 59 dias em órbita e acumulou 42 horas e 11 minutos de experiências em seis actividades extraveículares. Rui Barbosa


ASTROFOTOGRAFIA

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Lagoa das 7 Cidades fotografada por Miguel Claro, é hoje Earth Science Picture of the Day na NASA. Em Dezembro passado e a convite da Associação Ambiental Amigos dos Açores, tive a oportunidade de ministrar um Workshop sobre Astrofotografia e Paisagem Nocturna na ilha de São Miguel, nos Açores. No final da noite e apesar das nuvens, junteime ao Nuno Santos, organizador do evento e fomos até ao topo da cratera vulcânica onde tive a oportunidade de fotografar numa longa exposição, a grandiosidade e esplendor da Lagoa das 7 Cidades.

Podem ver e aceder hoje 19-01-2012 directamente ao link do EPOD através de: http://epod.usra.edu/ blog/ Posteriormente o link permanente da imagem será este: http://epod.usra.edu/blog/2012/01/lake-ofthe-seven-cities.html Em baixo partilho a imagem original publicada no

meu site. É essa mesma imagem que partilho aqui com os leitores, distinguida hoje como EPOD Earth Science Esta e outras imagens podem ser vistas no local do Picture of the Day na NASA.

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costume em: http://astrosurf.com/ astroarte/skyscapes.htm Miguel Claro

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AURORAS

Fotografia tirada por Antti Pietikäinen, na Finlândia.

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EDUCAÇÃO

RTP – serviço público? Em 1º lugar gostaria de dizer que dos 4 canais generalistas em Portugal, e RTP é a que presta um melhor serviço à população. Os outros canais têm constantemente programas degradantes e diariamente vigaristas na televisão. A RTP já teve também vigaristas diariamente convidados, mas não sei se agora tem. Sei que tem programas bons. (por vigaristas, entenda-se pessoas que mentem objetivamente à luz do conhecimento, com vista a tirarem proveitos pessoais disso, como por exemplo a sua própria auto-promoção na televisão). No entanto, estava a fazer zapping há minutos atrás e vi o Júlio Isidro a entrevistar um suposto astrólogo (não confirmei se o era, mas disseram -me que sim – também não sei o nome da pessoa) que só dizia asneiras. Fiquei irritadíssimo com isso. Como é que, conscientemente, se enganam milhões de pessoas que possam estar a ver o programa? É esse o objetivo da RTP? Será isso a definição de serviço público? Como fiquei piúrso, enviei imediatamente um email ao Provedor do Telespectador. Não sei se cairá em “saco roto”, mas gosto de ser proactivo. Ainda tenho o idealismo de que se fizermos pelas coisas, as coisas até possam mudar para melhor. Ficarei à espera de resposta, e dar-vos-ei conhecimento do que for acontecendo. De qualquer modo, a resposta é-me indiferente. O que eu gostava mesmo é que passassem a ensinar a população e não andarem a enganálas com entrevistas feitas a quem nada percebe do que diz. Este foi o meu e-mail para o Provedor do TelesPágina 10

pectador. Críticas são bem-vindas se acharem que da próxima vez deverei escrever de outra forma. Se vocês também se queixarem, pode ser que alguma coisa mude… ——————————— Caro José Carlos Abrantes, O meu nome é Carlos Oliveira, sou educador científico, com especialização na área da astrobiologia, e dou aulas na Universidade do Texas em Austin. A minha pergunta é simples: a RTP tem por objectivo fazer serviço público? Se a resposta for positiva, então a minha pergunta é: o que entendem por serviço público? Será enganarem as pessoas? Farto-me de ver darem tempo de antena a pessoas que só enganam as pessoas, e isso revoltame.


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Ainda agora acabei de ver um astrólogo no vosso canal, no programa A Festa é Nossa, a ser entrevistado pelo conhecido Júlio Isidro, e só a dizer barbaridades, como por exemplo a mentira de que vai haver um alinhamento planetário a 21 de dezembro. Isto é comprovadamente mentira. Serviço público não deveria ser mentir às pessoas. Mesmo que as pessoas que deveriam ser responsáveis se escondam atrás de “programa de entretenimento”. Os telespectadores assumem a informação veiculada como verdadeira, e no entanto ela é mentira. As pessoas são enganadas, como o são muitas vezes que tenho visto no pouco tempo que estou de férias em Portugal, e como foram enganadas quando na TV deram tempo de antena

aos burlões das pulseiras quanticas (que já assumiram ser tudo uma vigarice). Porque não convidam pessoas com conhecimento? Relembro que as televisões só existem, porque existem cientistas. Nenhum vigarista alguma vez fez algo de positivo pela Humanidade. No entanto, pelos vistos, a RTP gosta de lhes dar tempo de antena para eles enganarem e manipularem a população. Com os melhores cumprimentos e os votos que a RTP melhore a qualidade dos seus entrevistados, Carlos Oliveira

As marés Já publicamos no nosso blog a explicação da existência das marés. Também explicamos que não se trata de um processo divino. A maré é causada pela atracão gravitacional do Sol e da Lua. A influência da Lua é bastante superior devido a distância à Terra ser menor do Crédito: APRH que da Terra ao Sol, apesar da massa da Lua ser muito menor que a da nossa estrela. Matematicamente a maré Página 11

é uma soma de sinusoides (ondas constituintes) cuja periodicidade é conhecida e depende exclusivamente de fatores astronómicos. A onda formada pelas marés é mais alta na posição onde se encontra a Lua, devido à atração gravitacional. Contudo, no lado oposto da Terra, a inércia excede, em módulo, a força devido à Lua, conforme princípio da ação-reação proposto por Newton, causando assim a mesma elevação nas águas nesse lado oposto. Devido à lei de ação e reação da terceira lei de Newton (além da força centrifuga), a maré ira subir do outro lado da terra tanto quando sobe no lado que está próximo a da lua. Para saber mais: curiofisica, hidrografico.pt e APRH. Deixo-vos este pequeno vídeo com a explicação das marés e o que poderia acontecer se a Lua estivesse mais próxima (clicar em cc para ativar as legendas e escolha português) Ver aqui. José Gonçalves


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Diagramas de Feynman no PHDcomics (humor)

Imagem: Feynman. Crédito Caltech.

O website PhDcomics oferece uma série de tiras engraçadas sobre a vida dos estudantes que estão a realizar os respectivos doutoramentos. Este último número é uma obra prima para todos aqueles apaixonados pela Física (LOL), “Diagramas de Feynman nas Interações Académicas” (imagem à direita). Ver também o Quantum Gradnamic aqui, aqui, e aqui. Também, vale a pena ver as Leis de Newton para a Graduação aqui, aqui, e aqui. Nota: Esta tira foi lançada no dia 11 de Janeiro, curiosamente quando o filme esteve em Portugal (Universidade Nova de Lisboa). Nota2: Curiosamente, o filme vai estar na Universidade do Algarve no dia 15 de Fevereiro (21h). Vejam o vídeo do trailer aqui. José Gonçalves Página 12


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Cientistas replicam possíveis primeiros passos da transição de um organismo unicelular para multicelular removeram então Cientistas replicaram em laboratório o que se pensa estes aglomerados que podem ter sido os primeiros passos na transipara um novo meio ção de um organismo unicelular para multicelular. de nutrientes agitando-o e recomeOs cientistas realizaram as experiências usando a comum levedura de cerveja, um organismo unicelu- çando novamente o ciclo. Sessenta lar. ciclos depois, os Os resultados obtidos, que estão a entusiasmar os aglomerados consbiólogos em todo o mundo, foram publicados esta tituídos por centenas de células, apresentavam uma semana na revista Proceedings of National Academy estrutura do tipo “floco de neve” com uma forma of Sciences (PNAS). aproximadamente esférica. O que está a espantar os cientistas foi a facilidade com que o processo se desencadeou. Aos biólogos bastou uma experiência realizada durante 60 dias utilizando células de levedura, meios de cultura e uma centrifugadora. Tudo indica portanto, que a conclusão a tirar das experiências é que a passagem de um ser unicelular para um ser multicelular pode ser muito menos complexa do que se julgava. Para realizarem as experiências, os cientistas escolheram a comum levedura de cerveja (saccharomyces cerevisiae), que é um organismo eucariota unicelular e que é utilizada em diversas indústrias como a indústria de panificação ou a de produção de bebidas como a cerveja. As células foram inicialmente adicionadas a um meio de cultura rico em nutrientes para que pudessem crescer durante um dia em tubos de ensaio. Depois usando uma centrifugadora, fizeram a separação de aglomerados de células, que por serem mais pesados desceram mais rapidamente para o fundo do tubo de ensaio. Os cientistas Página 13

A análise demonstrou que os aglomerados de células não eram apenas um conjunto de células que se tinham juntado aleatoriamente, mas sim que eram um grupo de células inter-relacionadas por divisão celular e que em conjunto cooperavam, reproduziam-se e adaptavam-se ao meio ambiente formando assim um “corpo” multicelular. Os cientistas estimam que a multicelulariedade terá evoluído no passado de um modo independente em 25 grupos. Travisano e Ratcliff, dois dos cientistas autores deste estudo, interrogam-se sobre a razão de serem tão poucos uma vez que o processo parece ser relativamente simPUB ples e durante milhões de AstroPT anos viveram alojado por: Grifin na Terra http://www.grifin.pt/ biliões de organismos unicelulares. Mais informação poderá ser obtida aqui. Pedro Seixas


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A Ciência no mapa do metro

Mapa da história da ciência moderna

O site Science, Reason and Critica Thinking é um baú de tesourinhos…e não são daqueles deprimentes! Para além de uma original tabela periódica, da qual já falamos aqui, podemos encontrar também este fantástico mapa da história da Ciência Moderna, criado “para celebrar os feitos do método científico ao longo da idade da razão, do iluminismo e da modernidade”: Notem que, se entrarem na página original do mapa, para além de poderem ver todos as “linhas” em detalhe, poderão também ver informação relativa a cada cientista mencionado. E estão lá todos os grandes nomes dos principais Página 14

ramos da Ciência Moderna (pós séc. XVI)! Mas, para mim, o mais interessante são as “conexões” entre as “linhas” pois a Ciência Moderna, apesar do alto grau de especialização individual, vive também da interdisciplinaridade. Apesar de ser hoje raro encontrar “naturalistas” a laséc. XIX, que estudem o mundo natural, desde a geologia, à biologia, passando pela química, (como Charles Darwin), assiste-se também ao renascer da importância da colaboração alargada entre disciplinas e do conhecimento menos estanque. Este mapa reflete uma história maravilhosa! Diana Barbosa


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A melhor equipa do Mundo Não, não vou falar de futebol, nem especificamente do Benfica, do Barcelona, das equipas do Mourinho, ou do que seja. Vou falar sim das Conferências Solvay que reuniam uma equipa dos mais consagrados cientistas do mundo. Quiçá a mais famosa de todas foi a 5ª Conferência Solvay, em 1927. 17 dos 29 participantes possuíam ou receberiam o Prémio Nobel. Foi um verdadeiro “dream team” da ciência. Piccard, E. Henriot, P. Ehrenfest, E. Herzen, Th. De Donder, E. Schrödinger, J.E. Verschaffelt, W. Pauli, W. Heisenberg, R.H. Fowler, L. Brillouin; P. Debye, M. Knudsen, W.L. Bragg, H.A. Kramers, P.A.M. Dirac, A.H. Compton, L. de Broglie, M. Born, N. Bohr; I. Langmuir, M. Planck, M. Skłodowska-Curie, H.A. Lorentz, A. Einstein, P. Langevin, Ch. E. Guye, C.T.R. Wilson, O.W. Richardson. Esta Conferência Solvay teve a melhor equipa de sempre de mentes brilhantes. Uma equipa de verdadeiros génios. A foto mostra a Dream Team da Intelectualidade da altura. Se existe algum gráfico com o índice de inteligência ao longo dos tempos por todo o mundo, esse gráfico atingiu certamente o seu ponto mais alto nesta conferência. Se viajar no tempo vier a ser possível, este será certamente um local e temPágina 15

po a visitar. Para quem venera a inteligência, estar nesta conferência, na presença de diversas mentes absurdamente inteligentes, será certamente melhor que marcar um golo (e já dizia Fernando Gomes, famoso ponta de lança do FCP e bi-bota de ouro, que marcar um golo é como ter um orgasmo). Neste caso, assistir a esta Conferência Solvay em 1927 seria um momento ímpar de prazer intelectual. Carlos Oliveira


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Ciência, ilumina-me! Já aqui referimos por várias vezes no blog a importância da Ciência. Até no contexto de crise, ela é extremamente importante, por vários motivos. Primeiro, ensinanos a olhar para este período com outros olhos para resolver ou contornar os problemas (criatividade). Segundo, evita que sejamos enganados por diversos agentes que operam de diversas maneiras, para retirar de nós o pouco que já temos. Terceiro, é nela que devemos depositar a esperança e investimento, pois é na Ciência que surgirá novas tecnologias, empregos, desenvolvimento, etc. A meu ver desinvestir na Ciência, é um grave perigo para qualquer sociedade. Para além de sermos ultrapassados por outras nações que estejam economicamente bem, corre-se o perigo de não termos como produzir no futuro devido à mão de obra que ficou obsoleta. Por isso, neste momento negro da nossa nação, um ponto importante: Invistam na vossa formação, mesmo que economicamente não possam dispensar algum dinheiro, existe inúmeras maneiras (principalmente através da leitura) e ações gratuitas para que aumentem a vossa literacia. Página 16

Inclusivé recorram à leitura do material que vós é deixado aqui no blog ou nas nossas revistas. É claro que isto só não chega. É necessário garantir a gerações futuras melhores condições dos que as que existem hoje. Para isso, os nossos governantes devem apostar em áreas científicas. Assim, teremos técnicos qualificados para futuros empregos e cientistas que poderão dar o seu contributo às empresas para a sua verdadeira modernização e expansão. Investir na Ciência é uma garantia de completo retorno. Veja o vídeo, sobre a importância da Ciência, aqui. José Gonçalves


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Hyadum Primus, por que te chamam assim? Apesar de estar designada como Gama do Touro, esta estrela é apenas a décima mais brilhante da constelação. É a estrela que marca o vértice do alinhamento em forma de “V” do Touro. Seu nome, em latim, significa “A primeira das Hyades”. As Hyades, assim como as Plêiades, são aglomerados visíveis a olho nu. As estrelas das Hyades fazem parte do aglomerado estelar aberto mais próximo da Terra, conhecido desde a pré-história.

As Hyades têm origem na mitologia grega, filhas de Atlas e Etra. Segundo a lenda, depois da morte de seu irmão Hyas, suas irmãs, as Hyades, choraram tanto a sua morte que acabaram morrendo de tanta pena. Zeus, o chefe dos deuses, em reconhecimento a este amor, compadeceu-se das irmãs e transformaram-nas em estrelas, colocando-as na cabeça do Touro, cujo surgimento coincidia com o périodo de abundantes chuvas. Saulo Machado

Elnath, por que te chamam assim? Chegamos à estrela mais brilhante do Touro depois de Aldebaran, chamada Elnath. Ela se situa um pouco afastada do alinhamento que corresponde à face do Touro, o notável “V” que surge no alto do céu, nas noites após o solstício de dezembro. Esta estrela faz parte de um asterismo bem conhecido entre os astrônomos, o Pentágono do Cocheiro, formado por quatro estrelas principais dessa constelação, mais a estrela Elnath, formando assim a tal figura geométrica. De fato, em atlas antigos a estrela Elnath era designada como Gamma Aurigae (Gama do Página 17

Cocheiro). Esta situação é praticamente a mesma da estrela Alfa de Andrômeda (Alpheratz), que antigamente era designada como pertencente ao Pégaso, já que ela é mais notável como integrante do Quadrado de Pégaso. Fazendo retas partindo de Aldebaran e Epsilon Tauri até Zeta Tauri e Elnath, respectivamente, conseguimos reproduzir os chifres da cabeça do Touro. Daí a origem do nome “Elnath” (variante: Alnath), que significa, em árabe, “o que chifra” ou “o chifre” do Touro. Saulo Machado


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Íman Revela Mutações forma da M2 permitiram que a proteina conseguisse escorregar por entre as tampas e evitar a erradicação” e por este motivo foi recomendada a não utilização dos antivirais focados na M2.

Um íman de 900 MHz serviu para desvendar como ocorrem as mutações numa proteina específica do vírus da gripe. O estudo concentrou-se na proteína M2, um canal iónico transmembranar importante para a descapsidação e libertação dos segmentos genómicos do vírus. Os actuais antivirais gripais, como a Amantadina e a Rimantadina, inibem o fluxo proteico pela M2 e impedem, dessa forma, a descapsidação. Outros antivirais focam-se nourtras proteínas, com outras estratégias. “Ao longo dos anos, as alterações [mutações] na Página 18

O íman de 40 toneladas fornece uma visão interna do vírus. “O campo magnético gerado pela espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) é capaz de torcer e girar outros elementos além do hidrogénio, possibilitando captar a imagem das proteínas que não vivem no meio aquoso. Além disso, as amostras podem ser congeladas”. Recentemente Timothy A. Cross descobriu que a proteína M2 tem de ser activada por um ambiente ácido. Dois aminoácidos, histidina e triptofano, activam o processo da seguinte forma: Histidina carrega protões da célula hospedeira para o interior viral. O triptofano funciona como portão e abre quando os protões, encaminhados pela histidina, chegam. “O mecanismo da M2 é único. “Talvez possamos desenvolver um remédio que atinja especificamente essa novidade química”” (podem ler aqui) Dário Codinha


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A mente aberta! Volta e meia, tumba! Lá levo eu com a cena da “mente aberta”. É preciso ter a mente aberta dizem. Mas eu, como sei o que – quase sempre – lá querem atirar para dentro, tenho muito cuidado com essa coisa da mente aberta. Assim, para abrir a porta a tudo e mais alguma coisa, não dá. Isso é o equivalente cognitivo a deixar o carro parado no cais-do-sodré todas as noites, com as portas abertas e dinheiro no portaluvas para a gasolina. É que “mente aberta” para mim, significa ser capaz de aceitar as evidências; significa ter sede de procurar demonstrações sólidas, vontade de conhecer resultados experimentais, e ser capaz de os aceitar mesmo que não sejam o que nós esperávamos. Significa também hierarquizar a evidência pelo que vale e não pelo que queremos acreditar. “Mente aberta” definitivamente não é acreditar em tudo o que alguém propõe. Não é dar um bilhete de ida ao espirito crítico e mandar a lógica e os factos conhecidos verem se chove. Toda a gente, de um modo ou de outro, escolhe as coisas em que acredita. A minha proposta é que o critério, em vez de ser a sensação visceral que uma ideia nos causou ou o pedido de credulidade do apresentador, seja a ponderação consciente e informada sobre a matéria em causa. Que seja a qualidade da justificação. Que seja a qualidade da resposta à pergunta: “como sabes isso?” Se a resposta é outro apelo à credulidade, ou porque era bom que assim fosse ou porque há muita coisa que ainda não se sabe (apelo à ignorancia) que é Página 19

a norma nos auto-intitulados abertos de mente (pelo menos quando o termo vem à baila), estamos mal. Eu até poderia dizer que se isso é a tal “mente aberta” não me faz falta uma mente aberta. Mas é o próprio uso do termo que está errado. Mente aberta sim, mas com espírito crítico. Quem diz ter mente aberta com tanta prontidão, (normalmente para impingir as coisas que diz requererem mente aberta), está a rejeitar outras ideias muito mais plausíveis sobre o mesmo assunto e que se refutam mutuamente. E quem achar que tudo o que passa pela cabeça de alguém é verdade e que é verdade tudo ao mesmo tempo, bem… Recomendo as melhoras. João Coutinho


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As mentes fechadas O meu ultimo “post” foi sobre a “mente aberta” e como eu vejo a utilização desse termo, por isso agora faz sentido “postar” um sobre a mente fechada. Aqui vem ele: Tal como na “mente aberta” em que o que se deveria ter em consideração quando se usa o termo, não é ser a mente que aceita toda a carga de diferentes ideias – porque acabam por formar uma teia inconsistente e disfuncional de conceitos – na “mente fechada” também não é a mente que não aceita nunca ideias novas que será pertinente.Isso seria a “mente bafienta” e já é um eufemismo. Não conheço casos em que se aplique, felizmente. Mas mentes fechadas, sim. É bastante frequente observa-las fecharem-se mesmo frente às ideias mais bem fundamentadas e assim ficarem até sabe-se lá quando. Por isso penso que é preciso distinguir entre não aceitar ideias novas, (ou poucas) e aceitar apenas as ideias novas de que gostamos. É o caso da mente fechada de Linaeus. Tem à priori uma expectativa que tem de ser observada e sem investigação especifica sobre o tema em causa, faz uma opinião. Não aceita o que não gosta e fundamenta-se no que quer acreditar. Considera que o que lhe parece deve ser e que a sua opinião tem o mesmo valor que um argumento cientifico ou filosófico. Provavelmente vou ser queimado vivo por isto… Mas a verdade é que *opinando* não é uma forma segura de construir conhecimento. É verdade que cada um tem direito a ter a sua opinião, mas mesmo este facto, de que cada um tem direito a ter a sua, devia chamar a atenção para que o conhecimento Página 20

opinativo, do senso comum, não tem valor enquanto conhecimento rigoroso. A não ser que cada um tenha direito à sua própria realidade. Toda a gente tem direito às suas próprias opiniões, mas não aos seus próprios factos, leis e teorias. Ou funcionam ou não funcionam. Ou funcionam mal. Mas seja como for, opinar não é a ultima palavra no mundo do conhecimento. É a primeira. É a que se tem quando não se sabe melhor que isso. Pode fazer falta, mas quando há melhor é preciso ter a mente aberta. Durante milénios não houve melhor. Durante 200.000 anos o homem não teve mais que senso comum e a sua opinião para o guiar. A escrita tem menos de 7000 anos e o conhecimento transmitido oralmente é uma lotaria. Mas agora tem mais. Tem a filosofia desde a Grécia Antiga e a ciência desde Galileu. Por isso, penso que o problema está em parte em


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achar que ninguém deve saber melhor que isso, que a opinião própria, sobretudo quando se trata da nossa opinião. Uma crença que em si deve ter dado segurança e determinação a milhares de homens durante milhares de anos. É uma coisa relativamente nova poder dispor de tanto conhecimento que é melhor que o opinativo. Há quem considere que a inteligencia é precisamente a capacidade de adaptação a situações novas do ponto de vista evolutivo. Passar a pesquisar o que dizem os especialistas, o que está provado com rigor, como se pode saber o que se sabe, pode muito bem ser em si um sinal (mas não o unico!) de inteligência nessa perspectiva. Se não, pelo menos de “mente aberta”. A “mente fechada” caracteriza-se não só por não estar aberta a avaliar imparcialmente as evidências como a não estar sequer aberta à sua pesquisa. Prefere fazer julgamentos rápidos menos informados a lentos e mais informados (dantes não era uma opção) e não obstante isso insiste que o seu, por ser seu, é o melhor. A mente fechada recusa-se a ir mais longe que a opinião. Por preguiça, ignorância, teimosia ou impotência, escolhe defender uma opinião qualquer, que pareça simpática, e não está aberta a estudos sistemáticos, argumentos difíceis de perceber (sobretudo se envolverem matemática), ou que pura e simplesmente requeiram muita aprendizagem nova.

nião, a maioria dirá que não. Mas isto não os fará enveredar por uma sede de investigação, procura de conhecimento ou coisa do género. Como se o conhecimento fosse a coisa mais bem distribuida deste mundo, e algo que nunca falta, estão sempre satisfeitas com o que têm e com a qualidade dos seus argumentos. Argumentos esses que lhes parecem bons desde que sejam a defender a ideia que já tinham antes. Coisa que devia era ser ao contrário – ter uma ideia porque é suportada por bons argumentos. Mesmo quando proferem o seu mais potente argumento: “Porque eu acredito” ou “porque eu sei”, não se dão conta da inversão lógica. E este é o sinal patognomónico da “mente fechada”. É o considerar a sua opinião um argumento em si. Que acreditar é o ponto de partida para formar conhecimento – numa confusão desastrosa entre mapa e território. Está errado. Depois é enveredar numa odisseia de confirmation bias” e temos a mente fechada feita de ideias… Fechadas? Sim, é o termo correcto. Fechadas a serem testadas. As coisas não são como são só porque nós gostávamos que fosse assim, fosse bom que fosse assim, acreditamos que é assim ou até que devia ser assim. Dá trabalho, e às vezes não está ao nosso alcance perceber tudo. Mas sinceramente. Vale a pena. Agora uma nota importante: A “mente fechada” de Linaeus, como digo a brincar, caracterizada por

Frequentemente recorre a raciocínios falaciosos sem dar conta disso e considera um exotismo grotesco que se apontem falácias, não gosta que se critiquem as suas ideias – considera-as uma coisa pessoal – e até acha que a ciência ou a filosofia são uma questão de opinião. Aceita testemunho individual como evidencia forte, confunde carisma com autoridade, e vê facilmente relações de causalidade em coisas que tenham uma sequência temporal.

todos estes pontos o tempo todo, é uma abstrac-

No entanto se lhes perguntarem, às mentes fechadas, se a realidade é uma questão de opi-

João Coutinho

Página 21

ção. Não corresponde a ninguém. É um exagero para tentar caricaturizar um estereótipo de comportamento e um estado mental, não tanto de carácter - felizmente a mente fechada é algo que não ocorre o tempo todo mesmo nas mentes mais susceptíveis. Pelo menos que eu tenha presenciado.


FÍSICA

Janeiro 2012

Os novos e pesados Hadrões exóticos

Figure 1. Existing standard hadrons and exotic hadrons. At the B Factory experiment, a series of new exotic mesons containing charm quarks (c) have been discovered. Unlike these exotic mesons, the newly discovered Zb particles contain bottom quarks (b) and have an electric charge. If only one bottom quark and one anti-bottom quark ( b ) are contained, the resulting particle is electrically neutral. Thus, the Zb must also contain at least two more quarks (e.g., one up quark (u) and one anti-down quark ( d )). Credit: PhysOrg

O Experimento Belle (que realiza colisões entre electrões e positrões) pertercente ao High Energy Accelerator Research Organization (KEK), Japão, descobriu dois novos hadrões, contendo quarks botton. Estas novas partículas têm carga elétrica e pensa-se que sejam hadrões “exóticos” (não-padrão), contendo pelo menos quatro quarks (por exemplo, o protão é constituído por três quarks). Anteriormente, uma série de novos e inesperados hadrões “exóticos” contendo quarks charm e an-ticharm Página 22

foram observados. Esta última descoberta demonstra a existência de hadrões exóticos contendo pelo menos quatro quarks, num sistema de partículas, incluindo quarks bottom. O Experimento Belle descobriu inesperadamente estas duas novas partículas. Estas partículas, denominadas Zb, contêm um quark bottom (o segundo quark mais pesado entre


FÍSICA / VIDA

Volume 2 Edição 1

Figure 2. Production of Zb in an electron-positron collision. Immediately after being produced, the Zb decays into a bottomonium ( Υ or hb) and a charged pi meson (π±). The bottomonium then decays into a pair of muons (μ±), which are subsequently measured with a detector.

os conhecidos seis tipos de quarks) e um quark anti-bottom. Além disso, apresentam carga elétrica e, portanto, pensa-se que tenham mais dois quarks adicionais (para além dos quark bottom e anti-bottom), ligados entre si, perfazendo um total de quatro quarks.

Uma grande quantidade de dados foi obtida nas colisões entre o electrão e o positrão, que teve o valor mais elevado de luminosidade conseguido até ao momento. Podem ler mais sobre assunto no PhysOrg. José Gonçalves

Vida baseada no arsénio? Lembram-se da notícia revolucionária da descoberta de vida baseada no arsénio? Relembrem, aqui. E lembram-se de todas as críticas que se seguiram? Relembrem, aqui. Um novo estudo, liderado pela conhecida Rosie Redfield, falhou na sua confirmação da experiência anterior da Felisa Wolfe-Simon. A Redfield conclui da sua experiência que: “Their most striking claim was that arsenic had been incorporated into the backbone of DNA, and what we can say is that there is no arsenic in the DNA at all”. Mas a Wolfe-Simon ripostou dizendo que quer ver essas experiências publicadas, após peerPágina 23

review, já que o blog da Redfield é insuficiente para retirar conclusões. Entretanto, há algumas diferenças nas experiências, que poderão fazer com que a conclusão da Redfield ainda não acabe com todo o debate. Leiam os detalhes na Scientific American. Isto é ciência em movimento. Carlos Oliveira


Janeiro 2012

FÍSICA

Mais um passo para a Fusão Nuclear Usando um sistema de aquecimento, os físicos conseguiram pela primeira vez prevenir o desenvolvimento de instabilidades no plasma, de uma forma alternativa e eficiente, para o reator de fusão nuclear do futuro. É um passo importante no esforço para a construção do reactor ITER. in PhysOrg A fusão nuclear é uma tentativa de produzir energia como acontece no Sol, num reator aqui na Terra. O gás é aquecido a uma temperatura extremamente elevada e cria um plasma. Por vezes no plasma, aparecem instabilidades e cresce o suficiente para perturbar o plasma. O desafio foi reduzir essas instabilidades no interior do plasma de modo a que estas Página 24

não aumentassem, permitindo ao mesmo tempo o normal funcionamento do reator . Os cientistas recorreram à utilização de antenas, como parte do sistema para aquecer o plasma. As simulações e os testes demonstraram que esse aquecimento e supressão de instabilidades é possível, apontando a radiação ligeramente desviada do centro do plasma. Estas melhorias poderão ser implementadas no reator de fusão nuclear ITER. Seguir o link para saber mais sobre fusão. Ver o vídeo aqui. José Gonçalves


COSMOLOGIA

Volume 2 Edição 1

Intensa formação estelar na constelação do Cisne Uma equipa de astrónomos, maioritariamente do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) detetou uma zona com um grande aglomerado de jatos, que indicam um local de intensa formação estelar. O local observado fica na direção da constelação do Cisne, próximo da estrela Deneb. As estrelas nascem em grandes aglomerados de gás e poeira, também conhecidos por nebulosas moleculares. Quando o gás se começa a contrair por efeito da gravidade, nasce uma nova estrela. No entanto, pouco depois de se acenderem, estas estrelas jovens (ou protoestrelas) estão ainda escondidas pelo gás e poeira da nebulosa que lhes deu origem. Mas as protoestrelas continuam ainda a atrair material do disco que sobrou em sua volta. Ao interagir com os fortes campos magnéticos da estrela, a matéria do disco pode ser acelerada até velocidades supersónicas, e acaba por ser ejetada pelos polos. As violentas ondas de choque destes jatos bipolares (são emitidos a partir de ambos os polos) com o meio interestelar acabam por comprimir o gás que o compõe, formando moléculas de hidrogénio, que brilham intensamente na banda do infravermelho. Estes jatos bipolares são por isso autênticos faróis que assinalam a presença de estrelas recém-nascidas. Na banda do infravermelho, é possível ainda observar “através” das zonas escuras, para ver as estrelas recém-formadas. E com observações levadas a cabo pelo telescópio espacial Spitzer (NASA) e pelo telescópio Zeiss de 3,5 metros (Calar Alto), os astrónomos do CAUP detetaram um imenso aglomerado de jatos e respetiPágina 25

vas protoestrelas. Jorge Grave, um dos investigadores do CAUP envolvidos nesta investigação, comentou: “O que torna esta imagem especial é o facto de nela vermos uma concentração de dezenas de jatos numa região relativamente reduzida. Como os jatos são característicos de uma etapa do processo de formação estelar, podemos inferir que todas as estrelas responsáveis pela libertação desses jatos estão no mesmo estágio de evolução e provavelmente ter-se-ão formado simultaneamente.” Para obter esta imagem foi necessário capturar toda a enorme nebulosa, o que resultou em várias centenas de imagens. Estas foram depois analisadas individualmente pela equipa, até finalmente chegarem a uma imagem de pormenor, onde os jatos aparecem a verde, enquanto as protoestrelas aparecem a vermelho. Esta imagem é uma composição de 3 filtros, obtidos na banda K (Azul) e H2 (verde) pelo telescópio Zeiss de 3,5 metros do observatório de Calar Alto, e em 8 microns (vermelho) pelo telescópio espacial Spitzer (NASA). Na imagem vêem-se os jatos (a verde) e protoestrelas (a vermelho), na nebulosa molecular na direção da constelação do Cisne. Este texto é uma reprodução do comunicado de imprensa do CAUP. CAUP


Janeiro 2012

COSMOLOGIA

O núcleo brumoso e cor de rosa da Nebulosa Ómega A nova imagem da Nebulosa Ómega, obtida pelo Very Large Telescope do ESO (VLT) é uma das imagens mais nítidas deste objeto, captada a partir do solo. A imagem mostra as regiões centrais cor de rosa e brumosas desta famosa maternidade de estrelas e revela com um detalhe extraordinário a paisagem cósmica composta por nuvens de gás, poeira e estrelas recém-nascidas. O gás colorido e a poeira escura da Nebulosa Ómega servem de matéria prima na criação da próxima geração de estrelas. Nesta região particular da nebulosa, as estrelas mais jovens – brilhando de forma ofuscante em tons branco-azulados – iluminam todo o conjunto. As zonas de poeira da nebulosa, semelhantes a brumas, contrastam visivelmente com o gás brilhante. As cores vermelhas dominantes têm origem no hidrogénio, que brilha sob a influência da intensa radiação ultravioleta emitida pelas estrelas quentes jovens.

gado como Messier 17 (M17) e NGC 6618. A nebulosa situa-se a cerca de 6500 anos-luz de distância na direção da constelação de Sagitário. Um alvo bastante popular entre os astrónomos, este campo de poeira e gás brilhante é uma das mais jovens e mais ativas maternidades estelares na

A Nebulosa Ómega tem muitos nomes, depen-

Via Láctea, onde nascem estrelas de grande mas-

dentes de quem a observou, quando e do que jul-

sa.

gou ter visto. Entre esses nomes inclui-se: Nebu-

Leiam todo o artigo, na página do ESO.

losa Cisne, Nebulosa Cabeça de Cavalo e ainda

Para ver o vídeo ir aqui.

Nebulosa Lagosta. Este objeto foi também catalo-

Carlos Oliveira

Página 26


Volume 2 Edição 1

COSMOLOGIA

Grande Nuvem de Magalhães A Grande Nuvem de Magalhães é uma das galáxias satélites da Via Láctea. Encontra-se a cerca de 160.000 anosluz de distância. Em luz visível, ela é vista assim (imagem em cima). Em infravermelho, ela é vista assim: (imagem à esquerda). Carlos Oliveira

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Janeiro 2012

COSMOLOGIA

Nebulosa da Águia

Já falamos da Nebulosa da Águia, neste post. Agora trago a mesma Nebulosa, mas vista em infravermelho (pelo telescópio Herschel) e em Página 28

raios-X (pelo telescópio XMM-Newton). Carlos Oliveira


Volume 2 Edição 1

E a mesma imagem, em vários comprimentos de onda (imagem à direita).

Página 29

COSMOLOGIA


SISTEMA SOLAR

Janeiro 2012

SDO observa três gigantescas proeminências solares

Três grandes proeminências solares no extremo oeste do disco solar. Imagem obtida a 02 de Janeiro de 2012 pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly (AIA) do Solar Dynamics Observatory, através do canal de 304 Å (He II). Foi incluída no lado direito da imagem uma representação da Terra à escala para comparação de dimensões. Crédito: SDO (NASA)/AIA consortium/NASA (imagem da Terra)/montagem de Sérgio Paulino.

Ontem, três gigantescas colu-

sequência de imagens. Vejam:

nas de plasma elevaram-se vio-

o vídeo aqui

lentamente da superfície do

A erupção gerou uma ejecção

Sol a uma altitude superior a

de massa coronal numa direc-

200 mil quilómetros! O fenó-

ção perpendicular à da Terra,

meno teve origem numa erup-

pelo que não deverá provocar

ção classe C2 ocorrida na

quaisquer efeitos no campo

região activa 1384, agora loca-

magnético terrestre.

do disco solar. O Solar Dynamics Observatory registou toda a acção numa espectacular Página 30

Sérgio Paulino. PUB

lizada além do extremo oeste


SISTEMA SOLAR

Volume 2 Edição 1

Saturno em infravermelho A sonda Cassini iniciou o ano de 2012 com várias sessões de observação dedicadas à atmosfera superior de Saturno, com o objectivo principal de estudar a sua opacidade a comprimentos de onda particulares na banda do infravermelho próximo. Deixo-vos aqui uma das mais recentes imagens de uma dessas sessões. Imagem: Saturno em cores falsas, visto pela sonda Cassini no passado dia 07 de Janeiro de 2012. Foram combinadas neste retrato do planeta três imagens obtidas na banda do infravermelho próximo, através de filtros sensíveis a diferentes graus de absorção do metano (727 nm, 752 nm e 890 nm). As cores vermelha e laranja correspondem a nuvens localizadas em camadas profundas da atmosfera. As nuvens das camadas intermédias surgem coloridas de amarelo e verde, enquanto que as nuvens mais altas e as camadas de neblina da atmosfera superior surgem

tingidas de azul e branco. Os anéis aparecem coloridos de azul porque se encontram fora da atmosfera (o seu brilho não é afectado pela absorção de luz pelo metano atmosférico).

AVIATR Em 2030, pode ser que vejamos o AVIATR (Aerial Vehicle for In-situ and Airborne Titan Reconnaissance) a voar pela lua Titã…

Página 31

Carlos Oliveira

Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino. Sérgio Paulino


SISTEMA SOLAR

Janeiro 2012

Adeus Lovejoy ! Conforme foi noticiado aqui pelo Sérgio Paulino, o cometa Lovejoy (designado oficialmente de C/2011 W3) foi descoberto fotograficamente pelo astrónomo amador australiano Terry Lovejoy no dia 27 de Novembro de 2011. Na altura o cometa tinha apenas magnitude 13 e não era de antecipar o espectáculo que viria a proporcionar um mês depois. Observações subsequentes, ao longo dos dias seguintes, permitiram calcular a sua órbita com precisão cada vez maior e foi com grande surpresa que os astrónomos verificaram que se tratava de um cometa da chamada Família de Kreutz, o primeiro a ser descoberto a partir da Terra em 40 anos. A Família de Kreutz é constituída por um 20 de Dezembro de 2011, Vello Tabur, Austrália

O astrónomo amador australiano Terry Lovejoy. Crédito: Amy e Sarah Lovejoy

Ikeya-Seki, em 1965, o mais brilhante do século XX e talvez o membro mais famoso desta família, foram descobertos vários cometas da família mas a maioria nem sequer sobreviveu à passagem pelo periélio. Havia portanto alguma espectativa relativamente ao desempenho do Lovejoy. Foi assim com natural excitação que a comunidade astronómica verificou que o cometa sobreviveu à passagem pelo periélio, que teve lugar exactamente no dia 16 de Dezembro de 2011 às 00:17 UTC. Na altura o Lovejoy passou apenas 140 mil quilómetros acima da fotosfera solar. O cometa foi observado nesta parte da sua órbita por uma frota sem precedentes de satélites de observação solar: o SDO (Solar Dynamics Observatory), o STE-

conjunto de cometas com órbitas muito semelhantes e caracterizadas por terem distâncias ao Sol no periélio extrema(21 de Dezembro de 2011, Colin Legg, Austrália mente pequenas. Kreutz, um astrónomo alemão, notou pela primeira vez a semelhança entre as órbitas de vários cometas e propôs que a dita poderia ser explicada se todos esses cometas fossem fragmentos de um cometa muito maior cujo núcleo se teria desintegrado numa passagem pelo periélio, na antiguidade. Desde o aparecimento do cometa Página 32


Volume 2 Edição 1

REO (Solar TErrestrial RElations Observatory) e o SOHO (Solar and Heliospheric Observatory). Após a passagem pelo perihélio o cometa passou a ser visível no céu de madrugada, por volta do dia 20 de Dezembro, primeiro a sua cauda projectada do horizonte e poucos dias depois também o falso núcleo e a cabeleira. Como é habitual com estes cometas, o espectáculo foi efémero e no final do ano o Lovejoy era já uma sombra do que tinha mostrado apenas uma semana antes, resultado do seu rápido afastamento do Sol (e da Terra) a caminho do Sistema Solar exterior. Deixovos aqui com algumas imagens deste cometa que para os nosso amigos do hemisfério sul constituiu uma inesperada prenda de Natal. Luís Lopes 25 de Dezembro de 2011, Dave Liu, Austrália.

23 de Dezembro de 2011, Guillaume Blanchard, Chile

Página 33

SISTEMA SOLAR

22 de Dezembro de 2011, astronauta Dan Burbank, Estação Espacial Internacional


SISTEMA SOLAR

Janeiro 2012

Regolito sobre basalto A Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO) localizou este curioso grupo de crateras na base da antiga cratera Tsiolkovskiy, nos limites dos depósitos basálticos que preenchem o seu interior. Tsiolkovskiy é uma das mais espectaculares crateras de impacto do lado mais distante da Lua. Formada há cerca de 3,5 mil milhões de anos, teve tempo para acumular uma camada significativa de regolito, uma fina poeira resultante da meteorização das rochas lunares. Algumas das pequenas crateras que compõem o grupo observado pela LRO apresentam uma estrutura anómala. Ao contrário da forma típica de taça, estas crateras possuem uma base abruptamente plana. Porquê? Estas são provavelmente crateras secundárias formadas por material projectado de um impacto primário próximo. Os impactos secun-

Conjunto de pequenas crateras (possivelmente secundárias) localizadas no interior da cratera Tsiolkovskiy. Imagem obtida pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter a 31 de Maio de 2011 (resolução: 61 cm/pixel). Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

A cratera Tsiolkovskiy vista de uma das janelas do módulo de comando Endeavour da missão Apollo 15. Tsiolkovskiy tem cerca de 180 km de diâmetro e é uma das poucas crateras do lado mais distante da Lua inundadas por grandes volumes de basalto negro. Crédito: NASA.

dários ocorrem geralmente a velocidades muito menores, pelo que dispõem de menos energia para escavar uma cratera. No caso dos exemplares aqui mostrados, os impactos responsáveis pela sua formação não tiveram energia suficiente para pulverizar a camada mais profunda de rocha sólida. A base plana destas crateras representa assim a fronteira entre a camada de basalto intacto e o regolito superficial. Ao medirem a profundidade destas crateras, os cientistas conseguem estimar com segurança a profundidade do regolito acumulado em Tsiolkovskiy. Explorem esta e outras regiões vizinhas aqui. Sérgio Paulino

Página 34


SISTEMA SOLAR

Volume 2 Edição 1

Alerta! Nuvem de plasma a caminho da Terra!

Ejecção de massa coronal registada ontem pelo coronógrafo LASCO do observatório solar SOHO. Crédito: LASCO/SOHO Consortium/NRL/ESA/NASA/anotações de Sérgio Paulino.

Ontem ao final da tarde, a região activa 1402 pro-

geomagnética. O impacto deveráocorrer amanhã,

duziu uma fulguração classe-M de longa duração.

pelas 22:30 ± 7 horas (hora de Lisboa).

A explosão enviou uma ejecção de massa coronal

Apesar de improvável, não é de excluir a ocorrên-

na direcção da Terra, a uma velocidade de cerca

cia de auroras a latitudes médias. Por isso, ama-

de 1.100 km.s-1.

nhã à noite estejam atentos ao céu, de preferên-

De acordo com os analistas do Goddard Space Weather Laboratory, a densa nuvem de plasma

cia num local com pouca ou nenhuma poluição luminosa.

deverá atingir a magnetosfera terrestre com força

Ver vídeo aqui.

suficiente para produzir uma forte tempestade

Sérgio Paulino

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SISTEMA SOLAR

Janeiro 2012

Marte visto pela Rosetta

Marte em cores naturais, fotografado pela sonda Rosetta a 24 de Fevereiro de 2007, a uma distância de 240.800 km. É possível ver próximo do centro da imagem a cratera Gale, o futuro local de amartagem do robot Curiosity. Crédito: ESA/equipa OSIRIS/MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/ INTA/UPM/DASP/IDA/Gordan Ugarkovic.

Fobos em trânsito sobre Marte. Nesta imagem, a pequena lua paira sobre Syrtis Major Planum, um vasto planalto basáltico localizado no hemisfério norte de Marte. Imagem obtida pela sonda Rosetta a 24 de Fevereiro de 2007, a uma distância de 149.700 km. Crédito: ESA/equipa OSIRIS/MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/ INTA/UPM/DASP/IDA/Gordan Ugarkovic.

A ESA disponibilizou (finalmente!) no Planetary Data System todas as imagens obtidas nos primeiros quatro anos da missão Rosetta, incluindo tesouros há muito aguardados, recolhidos durante a única assistência gravitacional realizada pela sonda em Marte. Os membros do Outra imagem mostrando Fobos em trânsito sobre Marte, desta vez acompanhada da sua sombra projectada a oeste sobre Elysium Planitia. Reparem também nas abundantes nuvens de gelo visíveis em perfil a leste. Crédito: ESA/equipa OSIRIS/MPS/UPD/ LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA/ Gordan Ugarkovic.

fórum UnmannedSpaceflight.com apressaram-se logo a mergulhar na abundância de dados para trazerem a público belíssimos retratos do planeta Página 36

nunca antes vistos. Apreciem estas três imagens processadas pelo croata Gordan Ugarkovic. Sérgio Paulino


SISTEMA SOLAR

Volume 2 Edição 1

Troika espacial quer estabelecer-se na Lua

Crédito: Kagaya

A Roscosmos (Rússia) está em conversações com

a exploração [da Lua] com a NASA e a Agên-

a NASA (Estados Unidos) e a ESA (União Europeia)

cia Espacial Europeia.”

para futuramente estabelecer uma base lunar

Referiu ainda que existem duas opções: “criar

permanente.

uma base na Lua ou lançar uma estação que fica-

“Não queremos que o homem apenas pise a

rá em órbita ao redor desta.”

Lua,” disse Vladimir Popovkin numa entrevista à

Fontes: RIA Novosti, via Fox e The New York

estação de rádio Vesti FM.

Times | space-com | dvice

“Hoje, sabemos o suficiente sobre ela, sabemos

José Gonçalves

que existe água nas regiões polares” disse, acrescentando que “estamos a discutir como começar

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SISTEMA SOLAR

Janeiro 2012

Água nos pólos de Vesta? O pólo sul de Vesta fotografado pela sonda Dawn em Setembro de 2011. A região é dominada pela gigantesca bacia de impacto Rheasilvia. Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA.

No interior da Cintura de Asteróides, região onde Vesta reside, a radiação solar é suficientemente forte para rapidamente volatilizar quaisquer depósitos superficiais de água ou de outros compostos voláteis. Ao contrário de Mercúrio e da Lua, o gigantesco asteróide também não tem crateras permanentemente sombrias para suportar a sobrevivência desses compostos por longos períodos de tempo. O seu eixo de rotação está inclinado cerca de 27,2º (para comparação, o eixo de rotação da Lua tem uma inclinação de apenas 1,5º), pelo que virtualmente todos os pontos da sua superfície recebem Página 38

luz solar em algum momento do ano vestiano. Por estes motivos, durante muito tempo, os cientistas consideraram Vesta uma das superfícies mais secas do Sistema Solar. Um novo estudo vem agora, no entanto, revelar uma nova e interessante possibilidade. Baseados em imagens recolhidas pelo telescópio espacial Hubble em 1994 e em 1996, os investigadores Timothy Stubbs e Yongli Wang criaram novos modelos para as distribuições globais da irradiação e das temperaturas em Vesta. As previsões produzidas pelos modelos mostram que, apesar dos pólos vestianos pas-

sarem por estações (tal como os pólos terrestres), a sua temperatura média anual fica abaixo dos 145 K (equivalente a 128º C), o limiar térmico da sobrevivência do gelo de água nos primeiros metros abaixo da superfície do asteróide. Mais ainda, estas condições estendem-se até à latitude de 27º, linha a partir do qual as médias se tornam demasiado elevadas. Os resultados do modelo de Stubbs e Wang terão o seu escrutínio definitivo quando forem analisados os dados recolhidos pela sonda Dawn, no final da sua missão na órbita de Vesta. Serão particularmente determinantes as obser-


Volume 2 Edição 1

SISTEMA SOLAR

Mapa das temperaturas médias de Vesta (em K) previstas pelo modelo de Stubbs e Wang. A linha cinzenta delimita a estreita banda em redor do equador em que se torna impossível a presença de gelo de água junto à superfície. Crédito: NASA/GSFC/UMBC.

vações realizadas pelo espectrómetro GRaND, o único equipamento com capacidade para detectar água no regolito vestiano. Podem encontrar este trabalho aqui. Sérgio Paulino

Mapa das temperaturas médias da região do pólo sul de Vesta (em K) previstas pelo modelo de Stubbs e Wang. Crédito: NASA/GSFC/ UMBC.

Página 39


SISTEMA SOLAR

Janeiro 2012

Terra atingida pela maior tempestade de radiação solar desde 2005

Fluxo de protões detectado na órbita da Terra pelo satélite GOES-13. Crédito: NOAA. Está neste momento em actividade uma forte tempestade de radiação solar classe S3, a maior desde Maio de 2005. O fenómeno teve origem numa fulguração de longa duração classe M9, com um pico de intensidade por volta das 04:00 (hora de Lisboa). A explosão Página 40

produziu ainda uma ejecção de massa coronal que viaja agora no espaço interplanetário a uma velocidade de 2.200 km.s1 ! Segundo os analistas da NOAA, a Terra deverá ser atingida por um dos flancos da nuvem de plasma amanhã, por volta das

14:00 (hora de Lisboa), com intensidade suficiente para produzir uma forte tempestade geomagnética (vermodelo). Esperam-se mais uma vez intensas auroras nos próximos dias. Sérgio Paulino


SISTEMA SOLAR

Volume 2 Edição 1

Cientista Russo encontra Vida em Vénus ? Vénus, como toda a gente sabe, é um inferno. No entanto, recentemente Leonid Ksanfomaliti, após ter analisado fotografias tiradas pela sonda Venera 13 na superfície de Vénus, publicou um estudo em que está convencido que encontrou um «disco», uma «mancha preta», e um «escorpião». Como diz Ksanfomaliti: “Pondo de parte os conceitos atuais de que não pode existir vida nas condições de Vénus, vamos audaciosamente sugerir que as características morfológicas desses objetos nos permitem dizer que estão vivos”. Podem ler a notícia, em inglês e português. Ou seja, evidências extraordinárias não existem. O que existe sim é alguém que se lembrou de olhar para umas fotos de fraca qualidade tiradas por uma sonda em 1982, viu umas manchas nas imagens, e imaginou que essas manchas são a prova de seres extraterrestres em Vénus. Além disso, a vida em Vénus parece ser semelhante à terrestre, ou pelo menos é assim Página 41

que o cientista Russo a imagina. Sinceramente, nem sei que dizer, de tão ridícula que a especulação é. Convido-vos a ler este excelente texto sobre esta notícia. Termino com o que é a evidência maior do ridículo destas especulações. Esta é uma imagem tirada pela

sonda na superfície de Vénus. A fotografia foi ampliada. Para o cientista Russo, o que se vê na foto é um escorpião em Vénus. Mais palavras para quê? Carlos Oliveira


TERRA

Janeiro 2012

Erupção vulcânica no arquipélago de AlZubair chega ao fim

O nascimento de uma ilha no arquipélago de Al-Zubair, no Mar Vermelho. Depois de quatro semanas de intensa actividade, o novo vulcão parece estar agora adormecido. Crédito: NASA (montagem de Sérgio Paulino).

Terminou a erupção vulcânica que em Dezembro passado fez emergir uma nova ilha no Mar Vermelho, nas proximidades da costa do Iémen. Uma imagem captada este fim-de-semana pelo satélite Earth Observing-1 mostra um novo pedaço de terra firme com cerca de 760 metros de comprimento por 480 metros de largura, sem quaisquer indícios de actividade vulcânica em curso. Sérgio Paulino Página 42

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Volume 2 Edição 1

TERRA

Navio naufragado Costa Concordia visto do espaço O naufrágio do navio Costa Concordia encontrase já entre os piores desastres marítimos da História. Na passada sexta-feira, o luxuoso navio de cruzeiro italiano colidiu com um banco rochoso ao largo da ilha Giglio, provocando pelo menos 11 mortos. Neste momento, as autoridades locais concentram os seus esforços na busca de 23 pessoas ainda desaparecidas, e na instalação de barreiras flutuantes para

contenção de eventuais fugas de combustível dos depósitos do navio. O local do acidente foi fotografado na passada terça-feira por um dos satélites da empresa americana DigitalGlobe. Aimagem mostra o gigantesco navio inclinado sobre as águas do Mediterrâneo, a cerca de 150 metros da costa de Giglio. Sérgio Paulino

O navio Costa Concordia visto por um dos satélites da DigitalGlobe, quatro dias após o seu naufrágio a escassos metros da ilha Giglio, Itália. Crédito: DigitalGlobe. Página 43


TERRA

Janeiro 2012

A propósito de animais estranhos… A propósito deste post e das espécies novas que se vão descobrindo em terras mais ou menos distantes e inacessíveis para a maioria de nós, deixem que vos apresente uma estranha criaturinha que existe bem ao virar da esquina: o urso-de-água! Não são ursos, mas é certo que vivem na água (ou em locais muito húmidos). Como podem ver na fotografia, estes estranhos e crípticos seres que, quando observados numa lupa ou microscópio, têm, como o urso, um corpo arredondado e roliço. Mas, o verdadeiro motivo para o nome é a sua forma de locomoção, que se assemelha à do urso, com as devidas diferenças de escala. Cientificamente são chamados de tardígrados, nome que deriva das palavras em latim tardus (lento) e gradus(passo). Estes minúsculos seres, com cerca de 1 mm, têm o corpo em forma de barril, quatro pares de patas, “pés” com 4 a 8 garras e alimentam-se maioritariamente de matéria vegetal. Têm diferentes estratégias reprodutivas e os seus ovos podem ter belas ornamentações.

Não são insetos (como as moscas, abelhas ou escaravelhos), nem crustáceos (como os camarões, caranguejos e lagostas), nem Ursos-de-água (Tardígrados) aracnídeos (como as aranhas e escorpiões)! São mesmo um filo completamente independente de invertebrados! Existem mais de 1000 espécies ursos-de-água e são considerados dos animais mais resistentes da Terra, tendo sido encontrados desde os Himalaias até às profundezas do mar. Quando em condições adversas, podem entrar num estado de desidratação e dormência extremos e, deste modo, resistir a temperaturas extremamente baixas ou altas (de -200ºC a 150ºC), 1000 vezes mais radiação que outro animal e sobreviver quase uma década sem água! Os leitores mais astronómicos deste blog possivelmente já ouviram alguma referência a estes seres, já que eles podem até resistir ao vácuo do espaço e, em Maio de 2011, foram passageiros na última viajem do vai-vem espacialEndeavour, como parte do projeto BIOKIS patrocinando pela Agência Espacial Italiana. Quem sabe que surpresas ainda nos hão-de revelar estas criaturinhas? Diana Barbosa

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Volume 2 Edição 1

TERRA

Dia da Lembrança

A NASA celebrou o Dia da Lembrança, que é uma ocasião para homenagear os 17 astronautas que morreram na exploração espacial.

morreram a 28 de Janeiro de 1986. (em cima) Os astronautas do Columbia (David Brown, Rick Husband, Laurel Clark, Kalpana Chawla, Michael Anderson, William McCool, Ilan Ramon) morreram a 1 de Fevereiro de 2003. (em baixo) Carlos Oliveira

Os astronautas da Apollo 1 (Virgil I. “Gus” Grissom, Edward H. White II, Roger B. Chaffee) morreram a 27 de Janeiro de 1967. (em cima) Os astronautas do Challenger (Ellison Onizuka, Michael Smith, Christa McAuliffe, Dick Scobee, Gregory Jarvis, Judith Resnick, Ronald McNair) Página 45


EXOPLANETAS

Janeiro 2012

Novidades da Missão Kepler Anunciadas em Conferência da AAS Durante o 219º Encontro da American Astronomical Society (AAS), a decorrer de 8 a 12 de Janeiro em Austin no Texas, foram apresentadas mais descobertas notáveis com base em dados da missão Kepler. A primeira novidade importante consiste na descoberta de mais dois planetas circumbinários, isto é, planetas que orbitam um sistema formado por duas estrelas. O Kepler tinha já descoberto um sistema com estas características, oKepler-16, cujo planeta foi afectuosamente apelidado de “Tatooine” pela equipa da missão. A descoberta, publicada no número da revista Nature de hoje, mostra que este tipo de sistemas é afinal comum na nossa galáxia e demonstra que os sistemas binários, outrora considerados um ambiente hostil para a formação de planetas, constituem afinal um território fértil para a exploração planetária. Os novos planetas, designados de Kepler-34b e Kepler-35b, são ambos gigantes de gás, comparáveis a Saturno, com massas de 70 e 40 vezes a da Terra (Saturno = 95 vezes) e com raios de 8.6 e 8.2 vezes o da Terra (Saturno = 9.4 vezes), respectivamente. O primeiro orbita o sistema binário com um período de 289 dias ao passo que as estrelas, no centro do sistema, efectuam uma órbita completa em 28 dias apenas. Os eclipses permitem a medição muito precisa dos raios não só do planeta mas também das duas estrelas. O sistema Kepler-34 (também KOI-2459) situa-se a uma distância estimada de 4900 anos-luz. O Kepler-35b, por sua vez, orbita um sistema binário com um período de 131 dias. As estrelas, com 80% e 89% da massa do Sol, orbitam em torno do seu centro de gravidade comum em apenas 21 dias e também se eclipsam mutuamente. O sistema Kepler-35 (também KOI-2937) situa-se a cerca de 5400 anos-luz. A segunda novidade do dia foi a descoberta de Página 46

Representação artística do sistema Kepler-35. Crédito: Lynnette Cook

um sistema planetário em miniatura em torno de uma pequena anã vermelha, também no campo do telescópio Kepler mas a uma distância de apenas 130 anos-luz. O sistema, designado de KOI961, é absolutamente incrível, com uma dimensão semelhante ao sistema formado por Júpiter e as suas luas galileanas. Os planetas têm apenas 78%, 73% e 57% do raio da Terra e os trânsitos, apesar da precisão do Kepler, só foram detectados porque a estrela hospedeira é muito pequena, apenas 70% maior do que Júpiter. Ainda não foi possível calcular a massa dos planetas mas o seu tamanho sugere que sejam planetas do tipo terrestre. O mais pequeno destes planetas, com 57% do raio da Terra, é sensivelmente do tamanho de Marte. A descoberta foi feita por uma equipa do California Institute of Technology que usou dados disponibilizados ao público pela equipa da missão Kepler complementados com observações realizadas nos observatórios do Monte Palomar, na Califórnia, e Keck, no Hawaii. Segundo John Johnson, um dos investigadores envolvidos neste estudo: “este é o mais pequeno sistema planetário descoberto até à data. É mais semelhante a Júpiter e às suas luas [AstroPT:galileanas] em escala do que qualquer outro sistema descoberto e demonstra a diversidade de sistemas planetários existentes na nossa galáxia”.


EXOPLANETAS

Volume 2 Edição 1

Representação artística do sistema KOI-961. Os planetas representados são, por ordem crescente da distância à estrela: KOI961.02, KOI-961.01 e KOI-961.03. Crédito: NASA/JPL-Caltech

A existência deste sistema tem implicações importantes pois as anãs vermelhas são de longe o tipo mais comum de estrela na nossa galáxia. Phil Muirhead, o primeiro autor do estudo, resumiu a importância desta descoberta quando afirmou: “sistemas como este poderão ser ubíquos no Universo”. Podem ver as duas notícias aqui e aqui. Luís Lopes

(Imagem à direita: A escala do sistema KOI-961 comparada com a do sistema formado por Júpiter e as suas luas galileanas. Crédito: Caltech)

Os tamanhos dos planetas do sistema KOI-961 comparados com os de Marte, da Terra e dos planetas Kepler-20e e Kepler-20f. Crédito: NASA/JPL-Caltech Página 47


EXOPLANETAS

Janeiro 2012

Pôr-do-sol num mundo distante Conhecemos as cores do pôr-do-sol na Terra e em Marte. Mas já imaginaram um pôr-do-sol num dos distantes mundos recentemente descobertos fora do Sistema Solar? Embora seja ainda impossível observar directamente estes fenómenos, os cientistas conhecem suficientemente bem a Representação artística de um ocaso visto 10 mil quilómetros acima de HD209458b. Reconstrução fiel ao que seria observado pelo olho humano, realizada a partir de especcomposição da tros de transmissão obtidos pelo espectrómetro STIS do telescópio espacial Hubble. atmosfera de alguns Crédito: Frédéric Pont. exoplanetas e o espectro das respectivas estrelas para os podeestranha coloração esverdeada junto ao horizonrem reproduzir com algum rigor. Frédéric Pont, te. Por fim, como a estrela se encontra a apenas 7 um astrofísico da Universidade de Exeter, espemilhões de quilómetros de distância, aparenta um cialista no estudo de atmosferas exoplanetárias, tamanho muito superior ao do Sol quando obserusou recentemente os dados científicos disponívado a partir do nosso planeta. Como resultado, o veis do sistema planetário HD209458 para consdisco estelar de HD209458 não se limita a apenas truiruma imagem de um pôr-do-sol no gigante uma camada atmosférica (como acontece na Tergasoso HD209458b. ra). Em vez de mudar de cor à medida que se A imagem mostra um pôr-do-sol verdadeiramenmove em direcção ao horizonte, exibe as várias te extraterrestre. Apesar de HD209458 ser uma tonalidades descritas em cima em simultâneo! estrela semelhante ao Sol, existe sódio neutro HD209458b foi o primeiro exoplaneta a ser descosuficiente na atmosfera do seu companheiro plaberto pelo método dos trânsitos. Podem ler mais netário para que a luz vermelha seja removida de sobre este curioso mundo aqui. forma eficaz. Nas camadas mais profundas da Sérgio Paulino atmosfera, a luz azul é dispersa da mesma forma que na Terra, pelo que a estrela adquire uma Página 48


ASTRONAÚTICA

Volume 2 Edição 1

Fomalhaut b Não Existe?

A imagem acima, obtida com a Advanced Camera for Surveys (ACS) do telescópio Hubble, em 2008, pela equipa de Paul Kalas, tornou-se um dos ícones da astronomia moderna. O pequeno ponto assinalado na imagem, em órbita de Fomalhaut, a estrela Alfa da constelação do Peixe Austral, parecia nessa altura ser um exoplaneta, um dos primeiros a ser fotografados directamente. Nos meses e anos que se seguiram, no entanto, o mistério adensou-se. Apesar de ter sido fotografado de novo pelo Hubble, com a nova Wide Field Camera (WFC3), a órbita deduzida a partir das posições observadas nas imagens era difícil de explicar e incompatível com o bordo bem definido da zona interior do anel de poeiras que circunda Fomalhaut, o qual deveria resultar da influência gravitacional do presumido planeta. Hoje, uma equipa de astrónomos liderada por Markus Janson da Universidade de Princeton, publicou um artigo que lança ainda mais dúvidas sobre a natureza planetária do objecto fotografado. As imagens originais do Hubble tinham sido realizadas no visível e no infravermelho próximo, entre os 600 e 800 nanometros. A equipa deduziu que, a tratar-se de um planeta gigante ainda em formação (Fomalhaut é uma estrela muito Página 49

jovem), deveria emitir uma quantidade considerável de radiação no infravermelho e por isso optaram por observar o sistema com o telescópio Spitzer, no comprimento de onda de 4.5 micrometros (4500 nanometros). Para conseguir realizar este feito difícil a equipa teve de inventar uma nova técnica de subtracção de imagens que permitiu aumentar o contraste e a resolução espacial das imagens obtidas pelo Spitzer. O resultado pode ser visto na figura que se segue.

À esquerda vê-se a imagem obtida pelo Spitzer, com a seta 1 marcando o local onde deveria ser detectado o objecto fotografado com o Hubble. À direita, à imagem obtida com o Spitzer foi adicionada artificialmente uma fonte pontual (seta 1 de novo), representando o que deveria ter sido observado pelo Spitzer caso o planeta gigante realmente existisse. A seta 2 aponta para uma fonte de radiação nova, potencialmente interessante, mas cuja natureza não foi possível ainda determinar. O artigo apresenta um conjunto de possíveis explicações para os resultados obtidos mas é claramente desfavorável à tese de que o objecto detectado com o Hubble é um planeta gigante. Segundo os autores, a explicação mais plausível para as observações consiste na dispersão de luz da estrela na direcção da Terra por uma nuvem de poeira semi-transparente, possivelmente transiente. Luís Lopes


EXOPLANETAS

Janeiro 2012

Mais 11 Sistemas Planetários Descobertos pelo Kepler

Os 11 novos sistemas planetários descobertos pelo Kepler. Crédito: NASA Ames/Jason Steffen, Fermilab Center for Particle Astrophysics

A equipa da missão Kepler acaba de anunciar a descoberta de 11 novos sistemas planetários, num total de 26 novos planetas e vários outros ainda por confirmar. A imagem inicial deste artigo mostra a “foto de família” destes sistemas, do Kepler-23 ao -33. Cada sistema novo corresponde a uma coluna, com os planetas confirmados representados a verde e com nomes oficiais do tipo Kepler-#b, -#c, -#d, etc. Os outros possíveis planetas estão coloridos a violeta e têm ainda

apenas denominações temporárias do tipo KOI#.# (KOI = Kepler Object of Interest, os números referem-se a um catálogo interno da equipa). Os planetas têm raios entre 1.5 vezes e 14.4 vezes o da Terra (Júpiter = 11.2 vezes o raio da Terra), tendo 15 deles raios inferiores a Neptuno. Podem comparar os tamanhos dos planetas agora descobertos com os planetas do Sistema Solar (a azul) e os planetas em sistemas múltiplos anteriormente descobertos pelo Kepler (a vermelho) na imagem

Crédito: NASA Ames/Jason Steffen, Fermilab Center for Particle Astrophysics Página 50


ASTRONAÚTICA

Volume 2 Edição 1

seguinte. (imagem ao fundo pág. anterior) Os sistemas têm entre 2 a 5 planetas confirmados cujos períodos orbitais variam entre os 6 e os 143 dias. Estamos portanto a falar de planetas que orbitam as respectivas estrelas hospedeiras a uma distância inferior à de Vénus ao Sol. Em sistemas com uma configuração tão compacta, a atracção gravitacional mútua entre os planetas provoca acelerações e desacelerações nos movimentos orbitais. Como resultado, os planetas deixam de realizar os seus trânsitos pela estrela pontualmente quando vistos a partir da Terra. Umas vezes chegam atrasados, outras adiantados. Este efeito é designado de Variação na Periodicidade dos Trânsitos (Transit Timing Variations ou TTV). A amplitude do efeito para cada planeta é uma função complexa das configurações orbitais dos planetas e, em especial, das suas massas. Por outras palavras, a observação deste efeito num sistema múltiplo durante um intervalo de tempo suficiente permite deduzir as massas individuais dos planetas, sem recurso a outras técnicas como a velocidade radial. Esta técnica tem ainda a vantagem de permitir a determinação da massa de planetas semelhantes à Terra ou mesmo menos maciços, algo impraticável actualmente com outras técnicas. Esta foi a técnica utilizada para confirmar os planetas nos 11 sistemas agora descobertos e estimar (até agora pelo menos) um limite máximo para a sua massa. Vejam este vídeo que ilustra a técnica melhor do que eu jamais conseguirei por palavras. Outra descoberta interessante está relacionada com a estabilidade gravitacional dos sistemas. Afinal de contas, ter vários planetas a orbitar uma estrela a tão pouca distância não parece muito saudável. Mais tarde ou mais cedo, uma aproximação menos prudente entre dois planetas pode Página 51

provocar a ejecção de um deles do sistema ou obrigar à reconfiguração radical do mesmo. Ora, a equipa da missão Kepler descobriu que em vários destes sistemas existem “configurações ressonantes”. Isto quer dizer que os períodos orbitais dos planetas estão relacionados entre si pela razão entre dois números inteiros pequenos. Por exemplo, nos sistemas Kepler-25, -27, -30, -31 e -33, existem pares de planetas nos quais o planeta interior orbita a estrela duas vezes por cada órbita completa do planeta mais exterior. Estas ressonâncias são do tipo 1:2 (1 órbita do planeta exterior por 2 órbitas do planeta interior). Noutros quatro sistemas, Kepler-23, -24, -28 e -32, existem pares de planetas em que o planeta mais interior realiza 3 órbitas no mesmo tempo que demora o mais exterior a realizar 2 órbitas. Tratam-se de ressonâncias de tipo 2:3. No nosso sistema solar, é uma ressonância deste último tipo que estabiliza a interacção entre Neptuno e Plutão, apesar da órbita deste último intersectar a de Neptuno. A ressonância orbital impede a colisão dos planetas a longo prazo. Da mesma forma, as ressonâncias descobertas pela equipa da missão Kepler têm provavelmente um papel fundamental na estabilização destes sistemas planetários tão compactos. Os quatro artigos descrevendo estas descobertas foram publicados na reputada revista Astrophysical Journal. Podem ler a notícia em inglês aqui e aqui, e ver mais informação sobre os planetas e respectivas estrelas hospedeiras aqui. Veja o vídeo aqui. Luís Lopes


EXOPLANETAS

Anéis Distantes

Ao analisarem a estrela 1SWASP J140747.93394542.6, astrónomos descobriram que ela deverá ter um objeto de menor massa a orbitá -la, e esse objecto (anã castanha? planeta?) deverá ter um sistema de anéis ao seu redor. O professor Eric Mamajek disse: “This marks the first time astronomers have detected an extrasolar ring system transiting a Sun-like star, and the first system of discrete, thin, dust rings detected around a very low-mass object outside of our solar system”. Leiam em inglês, aqui e aqui. Carlos Oliveira

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Janeiro 2012


ASTRONAÚTICA

Volume 2 Edição 1

Ano Novo, China…? Desde que a

dorismo espacial chinês contrasta com a falta de

China publi-

liderança por Barack Obama que ao contrário de

cou o

Kennedy em 1961 não conseguiu criar um com-

seu Livro

promisso com a América para que a NASA de fac-

Branco das

to continuasse na vanguarda da exploração espa-

actividades

cial.

espaciais no passado

Pelo contrário, para o Partido Comunista Chinês,

dia 29 de Dezembro, que no que diz respeito ao espaço as coisas não poderiam estar mais animadas. Até porque no Livro Branco é apresentado um plano de 5 anos para o programa espacial chinês que passará por pôr um homem na Lua, vai lançar laboratórios espaciais e fazer preparativos tecnológios para uma estação espacial.Teremos uma corrida espacial em breve? Ou a Rússia com os desai-

o programa espacial é visto como sendo um fac-

res dos últimos lançamentos e

tor critico no progresso económico e

o problema da dívida america-

realização nacional. A China está a auto-

na e europeia farão com que a

comprometer-se para levar mais longe

China brilhe sozinha no Espaço

os voos tripulados e de fazer grandes

no século XXI?

avanços tecnológicos, criando uma fun-

O editorial do Washington

dação para o futuro dos seres humanos

Times de 2 de Janeiro aborda

no Espaço!

de uma forma interessante

Enquanto não temos as respostas que

este plano chinês afirmando

tanto ansiamos, deixo-vos uma sugestão

que a próxima corrida espacial

de leitura: Asia Space Race de James

será entre os EUA e a China,

Clay Moltz da Naval Postgraduate

sendo que se prevê a China

School.

como vencedor. O empreen-

Vera Gomes

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Janeiro 2012

ASTRONÁUTICA

Primeiro lançamento orbital de 2012 Com um calendário de lançamentos que mostra mais de 20 lançamentos previstos para 2012, a China levou a cabo o primeiro lançamento orbital do corrente ano às 0317UTC do dia 9 de Janeiro colocando em órbita o satélite de observação da Terra ZY-3 ZiYuan-3. O lançamento foi levado a cabo por um foguetão Chang Zheng-4B a partir da Plataforma de Lançamento LC9 do Centro de Lançamento de Satélites de Taiyuan, província de Shanxi. O ZiYuan-3 é o primeiro de uma nova série de satélite civis de detecção remota de altaresolução. O novo satélite transporta câmaras pancromáticas de alta-resolução e um sistema de observação infravermelhos multiespectral, com as câmaras a estarem posicionadas na parte frontal, inferior e posterior do satélite. O ZiYuan-3 orbita a Terra a uma altitude média de 500 km e com uma inclinação de 97,48º. O satélite tem uma massa de 2.630 kg. Juntamente com o ZiYuan-3 foi lançado o pequeno satélite luxembusguês VesselSat-2 com uma massa de 28 kg. O Vesselsat-2 foi construído pela LuxSpace SARL, uma filial da OHB AG e será integrado na constelação Next Generation (OG2) da ORBCOMM. A órbita específica dos satélites Ves-

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selsat irá permitir uma monitorização e vigiçência dos navios nas regiões equatoriais com uma frequência de visita muito maior do que com plataformas em órbita polar. Rui Barbosa


ASTRONÁUTICA

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Marcha para a Lua

O Centro Espacial Johnson da NASA e a School of Earth and Space Exploration, inauguraram a 6 de Janeiro o Project Gemini Online Digital Archive que contém as primeiras cópias a de altaresolução dos filmes de voo originais das missões

Gemini, que estão agora disponíveis em vários formatos. Imagem: NASA Rui Barbosa

Progress M-14M a caminho da ISS A agência espacial federal russa levou a cabo o lançamento do veículo de carga Progress M -14M às 2306:40UTC do dia 25 de Janeiro de 2012 a partir da Plataforma de Lançamento PU5 do Complexo de Lançamento LC1 do Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão, utilizando um foguetão Soyuz-U. Esta é a missão ISS-46P no âmbito do programa da estação espacial internacional. O Progress M-14M entrou em órbita terrestre pelas 2316UTC, com os painéis solares e as Página 55

antenas de comunicação e navegação a abrirem sem problemas. A bordo do veículo segue uma carga com uma massa de 2.669 kg contendo água, ar, oxigénio, alimentos, experiências científicas e equipamento para os membros da tripulação da Expedição 30 na ISS. A acoplagem com o módulo Pirs deverá ter lugar pelas 2217UTC do dia 29 de Janeiro de 2012. Rui Barbosa

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ASTRONÁUTICA

China lança satélite meteorológico no segundo lançamento de 2012 Com um segundo lançamento orbital em menos de uma semana, a China colocou em órbita o satélite meteorológico geostacionário FY-2F FengYun2F (também designado FengYun-2-07). O lançamento teve lugar às 0056:04UTC do dia 13 de Janeiro de 2011 e foi levado a cabo pelo foguetão CZ-3A Chang Zheng-3A (Y22) a partir da Plataforma de Lançamento LC3 do Centro de Lançamento de Satélites de Xichang, província de Sichuan. Os satélites FengYun-2 são desenvolvidos pela Academia de Tecnologia de Voo Espacial de Xangai e pela Academia de Tecnologia Espacial da China. De forma geral, estes satélites são estabilizados por rotação em torno do seu eixo longitudinal, tendo uma forma cilindrica com uma massa total de 1.369 kg no lançamento e 536 kg em órbita. Rui Barbosa

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Janeiro 2012


ASTRONÁUTICA

Volume 2 Edição 1

ISS executa manobra evasiva A estação espacial internacional levou a cabo com sucesso uma manobra evasiva para se afastar de um fragmento do satélite de comunicações Iridium-33. Os serviços balísticos do Centro de Controlo de Korolev, Moscovo, informaram que a manobra teve lugar às 1610UTC e que os motores do módulo Zvezda foram accionados por 54 segundos com uma taxa de incremento de velocidade de 0,85 m/s. Em resultado, a altitude orbital média da ISS aumentou em 1,5 km para os 391,4 km. Anteriormente estava prevista uma correcção de altitude para o dia 18 de Janeiro devido ao atrito com a atmosfera terrestre e consequente perda

de altitude. Com a manobra de hoje, a manobra do dia 18 deixa de ser necessária. Rui Barbosa

Fobos-Grunt reentra a 15 de Janeiro A agência espacial federal russa Roscosmos actualizou a informação relativa à reentrada da sonda Fobos-Grunt. A sonda encontra-se numa órbita com um apogeu a 174,2 km de altitude, perigeu a 149,7 km de altitude, inclinação orbital de 51,44º e período orbital de 87,57 minutos. A reentrada da sonda poderá ocorrer nos dias 15 ou 16 de Janeiro, sendo mais provável que aconteça às 1751UTC do dia 15 de Janeiro sobre a costa do Pacífico da América do Sul. Entretanto, o observador amador Harro Zimmer prevês a reentrada da Fobos-Grunt às 1705UTC (+/- 3 horas) do dia 15 de Janeiro, ocorrendo a 42,80°N – 119,90°E . Página 57

Imagem: Roscosmos Rui Barbosa


astroPT

Guia de Referência da ISS

A TODOS OS INTERESSADOS: As revistas estão disponíveis para download em: http://issuu.com/ astroPT Clicar na revista que quer descarregar, ao abrir a nova página e em baixo encontrará uma caixa com uma setinha que irá permitir fazer o download (é necessário ter conta no issuu, mas pode fazer o registo com a conta do facebook.

Está disponível no sítio da NASA o Guia de Referência da Estação espacial Internacional (em Inglês). Destaco a página 21 onde podemos encontrar o Guia das Experiências realizadas na ISS. Para ler e divulgar. José Gonçalves

O astroPT está agora também disponível no G+. Poderá consultar-nos através da sua conta do Gmail clicando no link superior direito (+SeuNome). Ou então poderá seguir esta ligação (ou ver posts). Passem por lá, adicione aos seus círculos e divulgue pelos seus amigos. José Gonçalves

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astroPT magazine, revista mensal da astroPT Textos dos autores, Design: José Gonçalves

A APOD de hoje traz-nos a constelação de ORION no céu das Ilhas Canárias, numa astrofotografia feita pelo conhecido Juan Carlos Casado. Carlos Oliveira


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