astroPT Set2011

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Volume 1, Edição 9

Setembro 2011

astroPT magazine

Fragmentos do UARS cai no Pacífico

Elenin desaparece. Terra continua

Neutrino: Apanha-me se puderes, fotão!


Setembro 2011

EDUCAÇÃO

Olhos no Sistema Solar

A NASA acabou de criar uma ferramenta excelente. Chama-se “Eyes on the Solar System” e permite viajar pelo sistema solar sem sair da frente do computador. Cliquem aqui. *E podem ver os vídeos no blog ou no nosso canal no YouTube.] Carlos Oliveira Página 2

N.R.: Aproveitem esta ferramenta nas vossas aulas, especialmente no 7º ano, na Unidade “Nós e o Universo”, para despertar o interesse dos alunos na disciplina de Ciências Físico—Químicas.


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Vantagens da Exploração Espacial A exploração espacial levou a incríveis avanços no conhecimento científico e a numerosas aplicações práticas na nossa vida diária. O impacto da NASA na nossa vida diária é estrondoso! A exploração espacial contribuiu decisivamente para o progresso da ciência e da tecnologia que utilizamos no dia-a-dia.

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screvi este artigo com 40 tecnologias que utilizamos constantemente e que foram desenvolvidas ou melhoradas devido à exploração espacial. Vejam cerca de 50 exemplos: - telemóveis que precisam dos satélites. - melhores previsões meteorológicas após imagens de satélite. - GPS – Sistema de Posicionamento Global. - satélites permitem uma melhor gestão dos recursos naturais. - satélites salvam vidas, ao encontrar pessoas em perigo em zonas de desastres naturais. - observação das mudanças climáticas. - conhecimento do Buraco do Ozono - conhecimento de várias características naturais da Terra - maior rapidez na descoberta de coágulos sanguíneos (que provocam tromboses) de modo a salvar vidas. - tecnologia de imagem utilizada por satélites para monitorizar sistemas na Terra é agora utilizada em hospitais para detectar doenças, tal como máquinas MRI e TAC. - tecnologia para montar carros. - óculos de sol com maior resistência aos riscos e que protegem mais eficazmente dos raios ultravioletas. Página 3

- novas ligas metálicas (mais fortes que o titânio e bastante maleáveis) para equipamentos médicos e desportivos. - desenvolvimento de técnicas de controlo de tráfego aéreo. - novos sistemas de leitura de códigos de barras. - desenvolvimento de software para detectar terramotos - criação de medicamentos mais puros no espaço. - criação de mais e melhores alimentos em ambientes de micro-gravidade. - desenvolvimento de materiais para salvamento em acidentes de automóveis. - sinais de emergência e de “Saída” em grande parte dos edifícios públicos. - mecanismos utilizados para fazer crescer plantas no espaço são hoje utilizados para combater PUB o cancro, diminuir dores crónicas (como AstroPT artrite e espasmos alojado por: Grifin musculares), e http://www.grifin.pt/ aumentar a circulação sanguínea. - componentes de satélites são hoje utilizados em dispositivos para inserir insulina no corpo.


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- melhorias em aplicações utilizadas em casa como termómetros de infravermelhos. - melhorias no isolamento térmico. - roupa que regula a temperatura corporal. - desenvolvimento da fotografia digital. - material utilizado pela NASA para navegação e detecção de mísseis serve hoje para aparelhos de dentes transparentes. - ajuda nas operações de socorro, busca, e regate, após desastres naturais. - sistemas de tratamento e purificação de água mais eficientes - desenvolvimento de programação automática nas cozinhas. - material que aumenta a tracção diminuindo acidentes em estradas, passeios, e campos de jogos. - tecnologia para controlar a pressão do ar durante o mergulho e ao fazer montanhismo. - lubrificantes mais eficientes utilizados em automóveis, e em produtos caseiros e desportivos. - raquetes de ténis e skis mais eficientes. - etc. As missões Apollo em particular levaram a várias aplicações na nossa vida diária: - fornos micro-ondas desenvolvidos para os astronautas. - sapatilhas (da Nike, Adidas, etc) que utilizam materiais que foram desenvolvidos para os fatos espaciais americanos e que reduzem a fadiga, absorvem o impacto no solo, promovem a estabilidade, e são bastante flexíveis. - estruturas (tal como o tecto de estádios de futebol) que utilizam materiais desenvolvidos para os fatos dos astronautas das missões Apollo. - lasers na medicina que vieram de um desenvolvimento para a medicina espacial. - desenvolvimento de melhor equipamento cardíaco. - computadores com menor massa, menor volume, menor peso, maior mobilidade, maior capacidade, maior rapidez de processamento, e um consumo mais eficaz foram desenvolvidos pela NASA para as missões Apollo. Página 4

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- sistemas de reciclagem de ar e água que deram origem a máquinas de diálise. - ajuda no desenvolvimento de circuitos integrados (que levaram ao microchip existente nos computadores) com o objectivo de levar os astronautas à Lua. - as placas térmicas no módulo de comando das Missões Apollo permitiram criar materiais que retardam e resistem ao fogo e que são hoje instalados nas nossas casas e automóveis. - pneus mais eficientes nos automóveis actuais a partir dos carros lunares. - o software utilizado nas cápsulas espaciais é um percursor das máquinas Multibanco existentes nas lojas - os fatos utilizados pelos astronautas tinham componentes que hoje são utilizados nos fatos dos bombeiros e de pilotos de carros de corrida (F1, NASCAR, Rali, e Todo-terreno) para proteger do fogo, para reduzir a fadiga, e para aumentar a mobilidade. - os métodos de esterilização das sondas e cápsulas espaciais permitem agora detectar terrorismo biológico (por exemplo, detectam antrax). - a “comida de astronauta” levou ao desenvolvimento de ingredientes nutricionais que são hoje utilizados em produtos alimentares para bebés e crianças. - desenvolvimento de máquinas de exercício físico no espaço que são actualmente utilizadas em clínicas de reabilitação física. - etc. Vejam aqui mais alguns exemplos de tecnologias do nosso dia-a-dia, que foram desenvolvidos para as missões Apollo. Como diz a Visão História nº 5, na página 40: “Muitos objectos que hoje são de uso corrente nasceram das necessidades do programa espacial. A vida na Terra estaria bem menos facilitada se não fosse tão complicada a sobrevivência lá em cima. As rigorosas condições que enfrentavam os astro-


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nautas da missão Apollo obrigaram ao desenvolvimento de equipamentos sofisticados e inovadores. Ainda hoje, a exploração espacial continua a ser um dos principais motores de inovação tecnológica.” E não esquecer que a exploração espacial também contribuiu para o avanço natural no conhecimento humano! E para a exploração e curiosidade, que são caracteristicas que nos fazem humanos! Convido-vos a ler este artigo da Nancy Atkinson sobre quanto do espaço está ligado aos Jogos Olímpicos de Beijing: - sapatilhas. - fatos de natação (o LZR). - melhorias no Google Earth da área de Beijing. - etc. Este site tem mais alguns exemplos sobre as Vantagens da Exploração Espacial no dia-a-dia. Nesta página, vêem mais 8 tecnologias derivadas da exploração espacial. Nesta página têm os spinoff da NASA. Este site tem mais 13 exemplos: - detector de fumo. - a ferramenta eléctrica Black & Decker. - fato de natação. - aparelho dentário. - óculos de esqui. - termómetro. - canetas espaciais. - botas e luvas térmicas. - cameras de filmar portáteis. - computadores pequenos e calculadoras de bolso. - cartões Multibanco. - melhores guitarras. - aperfeiçoamento de perfumes. Página 5

O site da NASA tem centenas de exemplos do quanto daquilo que temos em casa e na nossa cidade foi desenvolvido com base em descobertas espaciais ou com o objectivo de ir ao espaço. Para quem diz que a exploração espacial é um desperdício de tempo e dinheiro, a resposta está no NASA@Home eNASA City. O impacto na nossa vida diária é estrondoso! Visitem o site, clicando aqui. Leiam também estes artigos em inglês: NASA Library, essay, spinoffs, spaceplace. Mesmo a série de ficção científica espacial Star Trek, ajudou a desenvolver várias tecnologias de ponta que utilizamos actualmente, como podem ler, clicando aqui. E isto é só uma pequena parte de todas as vantagens possíveis com a exploração espacial! Mas ainda há quem não perceba essas vantagens, e só olhe para o umbigo terrestre… Carlos Oliveira [N.R.: Recomenda-se que visite o sítio da NASA sobre tecnologia desenvolvida pela NASA e que está presente nas nossas casas e cidades: NASA @ HOME AND CITY]


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Construir um Sistema Solar

Agora que vai iniciar-se um novo ano lectivo, e depois de viajarmos pelo Sistema Solar, fica aqui um programa de simulação criado pela National Geographic. Vejam o vídeo sobre as principais funções aqui. Dois pontos que não aparecem no vídeo: 1) para afastar ou aproximar o planeta da estrela, clique com o botão esquerdo sobre o planeta e arraste; 2) para imprimir velocidade ao planeta, clique numa espécie de seta que está ao pé do planeta e arraste. Vamos lá ver quem consegue um Sistema Solar. José Gonçalves

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Lua time-lapse A New Scientist publicou recentemente um vídeo sobre o aspecto da Lua durante alguns meses de 2011. Criado por uma equipe de visualização científica do estúdio do Goddard Space Flight Center, é a primeira vez que se obtém uma simulação de computador reproduzindo a lua em alta resolução. O vídeo foi criado recorrendo às imagens captadas pela Lunar Orbiter Laser Altimeter (LOLA) da Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO). (Vejam o vídeo aqui) Não percam também de passar pelos seguintes posts:   

Imagens dos locais de alunagem das missões Apollo; Pólo Norte da Lua; Sondas GRAIL;

Lua é mais jovem do que se pensava Pensa-se que a Lua tem 4,57 mil milhões de anos, e que se solidificou rapidamente (em poucos milhões de anos). Mas uma análise mais completa às rochas lunares mostrou que se cristalizaram à 4,36 mil milhões de anos. Isto faz com que a superfície lunar pode ser 200 milhões de anos mais nova. Leiam aqui, aqui, e aqui. Carlos Oliveira

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A Terra já teve duas Luas?;

Fotografia Espectacular.

José Gonçalves


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Mais Rápido que a Luz? A BBC noticiou hoje que particulas subatómicas podem ter-se deslocado a uma velocidade superior à da velocidade da luz. Bem, para já não deite fora os livros de física. De facto, algo de estranho e sem precedentes está a acontecer no CERN, que poderá desfazer grande parte do Modelo Padrão, e não tem nada a ver com colisões de partículas no LHC ou com a partícula de Higgs. Ao realizar uma experiênica de rotina com neutrinos, entre Genebra (CERN HQ) e o laboratório de Gran Sasso, na Itália, a sensivelmente 732 quilómetros de distância, os cientistas descobriram que seus neutrinos parecem viajar mais rápido que a velocidade da luz. Este resultado é potencialmente enorme. Mas, como mencionado acima, ainda não é hora de derrubar toda a física moderna e começar tudo de novo. Concretamente eis o que se passa: os físicos do CERN dispararam neutrinos – que não interagem com a matéria normal e, portanto, pode passar direto através da terra – em direção a um detetor na Itália. O objetivo aqui era testar a frequência das oscilações, assim a equipe de Genebra enviou um feixe de neutrinos muônico para Gran Sasso, e no Gran Sasso a equipe gravou quantos destes acabaram por chegar como neutrinos tauônicos. A estranheza residiu no facto dos neutrinos do CERN aparecerem no Gran Sasso alguns bilionésimos mais cedo que o previsto – em outras palavras, eles pareciam estar a deslocarse da Suíça para a Itália mais rápido do que a luz seria capaz de percorrer essa mesma distância. Esta não é uma anomalia isolaPágina 8

da, mas já se arrasta há anos. A equipe tem agora medido cerca de 15.000 lotes de neutrinos vindo através dessa distância, e eles dizem que já chegou a um ponto onde começa a ter grande significado estatístico. Contudo, por mais que tentem, não conseguem explicar o que está a acontecer e é por isso que os dados estão abertos ao escrutínio da comunidade científica. Basta agora esperar e ver se é possível reproduzir esses

mesmos resultados ou chegar a algum tipo de explicação para os neutrinos que parecem estar a violar uma lei física fundamental. Ler mais aqui, aqui, aqui e aqui. Artigo no arXiv. Veja o vídeo da entrevista com o Porta-Voz Antonio Ereditato e o Investigador do CNRS, do OPERA, Dario Autiero em: Mais Rápido que a Luz? José Gonçalves


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Efeitos de ser mais rápido que a luz Física “Desfeita”?! Cientistas anunciaram oficialmente nesta sextafeira (a astroPT anunciou na quinta-feira, dia 22 de Setembro) que partículas subatómicas chamadas neutrinos podem ter passado o limite da velocidade máxima, a velocidade da luz. Mas, de acordo com a teoria especial da relatividade de Einstein, nada pode ultrapassar essa barreira. Assim, ou as medições estão incorretas, ou então muita da Física terá que ser revista. Aqui estão as mais importantes (sejam polémicas ou não).

A velocidade da luz representa a espinha dorsal da teoria de Einstein

Albert Einstein during a lecture in Vienna in 1921. Source: Wikipedia

(1905) da relatividade especial. Essa lei acaba com o conceito de velocidade absoluta, e em vez disso diz que o movimento é relativo. Exceto para a luz. Todos os observadores, independentemente da sua própria velocidade, irão medir a velocidade da luz numa constante de 299 792 458 metros por segundo. Esta velo-

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cidade representa o mais rápido que qualquer coisa pode viajar, um limite máximo absoluto do movimento. As novas descobertas ameaçam derrubar esta lei confiável. ”De acordo com a relatividade, é preciso uma quantidade infinita de energia para que algo se movimente mais rápido que a luz”, disse o físico Robert Plunkett do laboratório Fermilab. ”Se estas coisas estão a mover-se mais rápido que a luz, então estas regras tem de ser reescritas. ” Inclusive, teorias que já foram descartadas teriam que ser reconsideradas.

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Relatividade Especial

Multiwavelength X-ray, infrared, and optical compilation image of Kepler's supernova remnant, SN 1604. Source: Wikipedia


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Viagens no Tempo

Theatrical release poster by Drew Struzan, for the movie "Back to the Future", 1985. Source: Wikipedia

A relatividade especial afirma que nada pode viajar mais rápido que a velocidade da luz. Se algo vier a exceder este limite,

var a causalidade. “A maior parte da estrutura teórica que foi erguido no século 20 tem contado com esse conceito de que as coisas tem que são mais lentas que a velocidade da luz”, disse Plunkett. ”Pelo que entendi se tiver algo a viajar mais rápido que a velocidade da luz pode ter coisas acontecendo antes de suas causas.”

O Modelo Padrão

seria retroceder no tempo (demonstrado que é impossível a pouco tempo por uma equipa de cientistas), de acordo com a teoria. A nova descoberta levanta todo tipo de perguntas espinhosas. Se os neutrinos estão realmente a viajar mais rápido que a luz, então devem ser viajantes do tempo. As partículas poderiam, teoricamente, chegar em algum lugar antes de partir.

Causa e Efeito A lei fundamental da física, na verdade, de toda a ciência, é a cauA girl on a garden swing. Souce: Wikisalidade: que pedia toda a causa sempre precede um efeito. Esta regra foi aceite na Física Clássica (Newton), e a teoria da relatividade especial teve o cuidado de preservar o Estado, apesar da relatividade do movimento de um objeto. Mas se algo pode viajar mais rápido que a luz, pode viajar para trás no tempo, de acordo com a teoria. Neste caso, um “efeito” pode viajar de volta para um ponto antes de sua ”causa” ocorrer - por exemplo, um bebê balançando antes que ele recebe um empurrão. Tal resultado seria heresia científica, certamente exigindo algum apressado reescrever das leis para preserPágina 10

Standard model of elementary particles: the 12 fundamental fermions and 4 fundamental bosons. Please note that the masses of certain particles are subject to periodic reevaluation by the scientific community. The values currently reflected in this graphic are as of 2008 and may have been adjusted since. Source: Wikipedia

O Modelo Padrão é o nome da teoria reinante da física de partículas, que descreve todas as partículas subatómicas conhecidas que compõem o nosso universo. Mas se a regra da velocidade da luz, e a teoria da relatividade são reescritas, este modelo também pode necessitar de ajuste. “Um dos fundamentos do Modelo Padrão é a relatividade especial”, disse Stephen Parke, diretor do departamento de física teórica no Fermilab. ”Se começar a abanar a fundação, terá que começar a abanar com a casa também no topo. ”


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This image appeared on the cover of the November 2007 issue of en:Scientific American. Source: Wikipedia

A teoria das cordas é a ideia de vanguarda de que todas as partículas fundamentais são realmente pequenas vibrações de laços de corda. Esta suposição acaba por ter implicações de grande alcance, incluindo a possibilidade de que nosso universo tem dimensões mais do que as conhecidas (três dimensões do espaço e uma de tempo). A teoria das cordas é incrivelmente difícil de testar, e não há nenhuma prova de que está correta. Mas, se as medições dos neutrinos estiverem corretas, alguns físicos revelam que a teoria das cordas pode oferecer a melhor explicação. Ou seja, os neutrinos não estão a viajar ao longo de uma linha reta, mas podem saltar numa das dimensões extra prevista pela teoria das cordas, obtendo um atalho para o seu destino. Se eles viajaram numa distância mais curta no tempo medido, então sua velocidade real pode não ter sido superior à da luz.

Neutrinos Talvez a nova descoberta não significa que qualquer coisa pode viajar mais rápido que a luz, mas apenas os neutrinos. Se for esse o caso, Página 11

Schematic description of the OPERA experiment. Credit: OPERA

então há definitivamente algo especial que os cientistas não sabiam sobre estas partículas. Os neutrinos são estranhos: são neutros; partículas com massa extremamente reduzida*; quase que raramente interagem com a matéria comum; há em vários tipos, chamada de sabores, e eles estranhamente parecem ser capazes de mudar de um sabor para outro. Então é possível que sua habilidade de ser mais rápida que a luz seja também uma característica única. *Com efeito a massa dos neutrinos não podem ser medidos diretamente. Estima-se que seja, respetivamente, <2,2 eV para o neutrino eletrónico, <170 keV para o neutrino muónico, e 15,5 MeV para o neutrino taónico (valores equivalentes para os seus pares anti-).

Taquiões Na década de 1960 os físicos sugeriram que podem existir partículas que viagem mais rápido que a luz. Estas partículas, taquiões, só foram teorizadas, nunca detetadas. Por causa das pro-

A sua revista mensal de astronáutica [clica na imagem para saber mais]

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Teoria das Cordas


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ra ainda mais cedo.

Since a Tachyon moves faster than the speed of light, we cannot see it approaching. After a tachyon has passed nearby, we would be able to see two images of it, appearing and departing in opposite directions. The black line is the shock wave of Cherenkov radiation, shown only in one moment of time. Source: Wikipedia

priedades controversas, incluindo a possibilidade de que violaria a regra da causalidade, muitos físicos consideraram os taquiões uma opção marginal. No entanto, se a nova descoberta é confirmada, os cientistas podem querer dar uma olhada na teoria dos taquiões.

Supernova 1987A Uma das peças mais contraditórias de prova para as novas descoberA time sequence of tas vem a partir de observaHubble Space Telescope images, taken ções da supernova SN1987A, in the 15 years from que fica a cerca de 168.000 anos 1994 to 2009, showing the collision of -luz da Terra, na Grande Nuvem the expanding supernova remnant de Magawith a ring of dense lhães. Observações, dessa estrematerial ejected by the progenitor star la morta, realizadas pelo experi20,000 years before mento Kamiokande II, no the supernova. Japão descobriu que a luz e os neutrinos, que partiram da supernova chegaram à Terra com poucas horas de diferença. A diferença deveu-se, em primeiro lugar, porque os neutrinos formaram-se no colapso do núcleo da estrela e iniciaram a sua viagem nesse momento, atravessando a estrela quase sem interagirem com a matéria nas camadas exteriores. Por outro lado, a primeira luz proveniente da explosão só foi emitida algumas horas depois, quando a onda de choque gerada pelo colapso do núcleo, e que se propagou pela estrela, atingiu a sua superfície. Na realidade, se os neutrinos viajam a uma velocidade superior à da luz, deveriam ter chegado à TerPágina 12

No entanto, as novas descobertas não estão de acordo com este resultado. Sugere-se, em vez disso, que os neutrinos realmente superam a velocidade da luz em 60 nanossegundos, ao percorrer pouco mais de 730 quilómetros. Parece que uma revisão, quer da medição da supernova, ou os resultados do s neutrinos, colocará tudo em ordem.

Evolução dos Primórdios do Universo~ Prevailing model of the origin and expansion of spacetime and all that it contains. Credit: NASA

Muitos outros aspetos da astronomia também poderão ser afetados se a nova descoberta se mantiver. Algumas ideias importantes sobre a história do universo, na verdade, são baseados em medições de neutrinos e teorias. “Neutrinos são abundantes no início do universo e se comportam de maneira diferente, isso afeta os cálculos da evolução do universo primordial, a nucleossíntese e as sementes de formação de estrutura”, o astrónomo Derek Fox, da Pennsylvania State University escreveu em um email enviado para LiveScience. Além disso, os neutrinos são produzidos nas reações de fusão nas estrelas, por isso, se essas partículas se comportam de maneira diferente do que se pensava, os modelos dos mecanismos relativamente às estrelas poderão ter que ser revistos. Traduzido e Adaptado de LiveScience, de várias ideias trocadas no mural da astroPT e de emails no facebook. “And god said let there be neutrinos, but there were already neutrinos.” Tom Dykes José Gonçalves


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3 dias de escuridão O cometa Elenin desintegrou-se. Infelizmente, aos pseudos não lhes aconteceu o mesmo. Vai daí, a última novidade deles é de que o cometa Elenin é o Nibiru que vai provocar o efeito Bíblico de 3 dias de escuridão. Os dias do fim-do-mundo serão a 26, 27, e 28 de Setembro. Note-se que esta “profecia” deve-se a que neste dia o cometa Elenin (que já nem existe) vai passar perto do Sol. Não vai passar pela frente do Sol, mas os vigaristas trocam tudo. E mesmo que passasse, era uma pulga a passar à frente de um elefante – nunca levaria a um eclipse do Sol! A verdade é que, na nossa linha de visão, o cometa (que já nem existe) não irá passar à frente do Sol. Logo, imaginar 3 dias de escuridão por uma pulga passar a quilómetros de um elefante é uma total e completa parvoíce.

Crédito: Bob King, em astrobob

Os pseudos têm a memória tão curta que nem notam que isto é a mesma coisa que era dita em 1997. Supostamente, os extraterrestres tinham dito telepaticamente a Nostradamus que o cometa Hale-Bopp nos iria eclipsar, levando a 3 dias de escuridão. Daí as profecias de Nostradamus que supostamente provavam que o mundo iria acabar em 1997. Obviamente, nada disso se passou, tal como os cientistas tinham dito que isso era um disparate. Agora, os sites de conspirações dizem a mesma coisa, só mudando o ano, para continuar com as Página 13

mesmas histerias. Alguns pseudos são tão parvos que continuam a imaginar que o minúsculo e desintegrado cometa Elenin é um planeta enorme que irá aparecer no céu “de repente”. Não notam sequer várias coisas básicas: - os planetas não aparecem de repente no céu, mas teriam que ser vistos com vários anos de antecedência. - esta estupidez é a mesma do que se diz todos os anos sobre Marte. - o Nibiru não existe. O planeta Nibiru foi uma invenção do Sitchin, que depois foi continuada pela Lieder, que diz que comunica telepaticamen-


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Crédito: Bob King, em astrobob

te com extraterrestres, e que já profetizou o fimdo-mundo em 1995, 1997, e 2003, devido à colisão com o Nibiru, ficando com isso rica à custa dos parolos dos crentes que continuam a acreditar nela. Lembremo-nos que já em 1997, ela dizia que o cometa Hale-Bopp era uma fraude dos cientistas (qualquer pessoa podia ver o cometa nos céus, mas para ela quem tinha razão eram os supostos extraterrestres). - se o Nibiru viesse aí, já teria enviado Saturno para outra órbita, o que não aconteceu – qualquer pessoa pode ir lá fora e olhar para Saturno e ver que ele está onde deveria estar. - se o Nibiru estivesse assim tão perto, já o veríamos por todo o céu há muito tempo. Alguns pseudos dizem que o cometa Elenin vai bater na Terra hoje. Isto é pura idiotice, bastando para isso ver a órbita do Elenin, e percebe-se que está muito longe da Terra (assumindo que o cometa Elenin ainda existe, o que já nem parece ser o caso). Mas a maior parte dos vigaristas dizem que nesta data vai haver um alinhamento da Terra com o Sol e com o cometa Elenin (que para eles, é o Nibiru – nem sequer percebem que um minúsculo cometa nunca poderia ser um enorme planeta). Para dizerem que existirá este alinhamento, baseiam-se nestas imagens (ver coluna ao lado). Supostamente, os pseudos utilizam a linha a amarelo para “provar” esse alinhamento. Página 14

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No entanto, qualquer pessoa com 2 olhos percebe que a linha amarela não atravessa os objectos em causa. 1 milímetro nessa imagem são muitas centenas de kms no espaço. Concluindo, a própria imagem utilizada pelos pseudos prova que os objectos NÃO estão alinhados. Mesmo que existisse esse alinhamento (e não existe!), não haveria qualquer problema. Existem dezenas de alinhamentos todos os anos com diferentes planetas. Por vezes até existem 4 e 5 planetas alinhados.

Planetas são muito maiores que cometas, logo se os alinhamentos fossem importantes, teríamos problemas todos os anos. Mas o facto é que não morremos nos últimos 30 anos 50 vezes devido aos alinhamentos. Os alinhamentos são absolutamente irrelevantes, independentemente do misticismo inerente a eles.

Ou seja, não há qualquer alinhamento, mas mes-


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mo que houvesse, não haveria qualquer problema. Mas os pseudos ignoram o conhecimento. Daí que dizem que, devido ao alinhamento (o tal inexistente), o maior tremor de terra de toda a história será no dia 26 de Setembro – hoje -, e que levará a 3 dias de escuridão (não, nem é devido a vulcões, mas dizem os pseudos que o alinhamento fará com que o Nibiru se coloque entre nós e o Sol). O maior terramoto de sempre foi no Chile, em 1960. Teve uma magnitude de 9.5 Sendo assim, o terramoto de hoje terá que ser superior a 9.5 Para que isto aconteça, os pseudos baseiam-se em profecias, no alinhamento da Terra com o cometa, no Mensur Omerbashich, e no Obama estar em Denver. Vamos por partes: 1 – Profecias são puras mentiras utilizadas pelos pseudos para vigarizarem as pessoas. Só no último século foram profetizados milhares de fins-do -mundo pelos pseudos. TODAS as profecias eram mentira. As únicas profecias que se concretizam são as da ciência. E comprovamos essas “profecias” milhares de vezes ao dia. 2 – Alinhamento não existe, mas mesmo que existisse não haveria qualquer problema. Todos os anos estamos alinhados com várias coisas e nada acontece. Quem quiser saber mais, que estude a gravidade. 3 – Obama vai estar em Denver. Isto é um Red Herring, porque nada tem a ver com o assunto, mas que os pseudos utilizam para confundir os crédulos. O presidente Obama está a tentar “vender” a sua lei do trabalho (para baixar o desemprego), por isso vai fazer um périplo por todos os EUA. No final da semana, por exemplo, já estará noutro lado. O facto de passar por Denver é normal, tal Página 15

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como vai passar por outros lados. Mas para os pseudos, Denver é um enorme bunker para onde o Obama se irá esconder. Os pseudos ignoram que a agenda do Obama não tem nada de extraordinário: ontem esteve em Seattle, hoje estará na Califórnia, amanhã em Denver, e no dia 28 estará de volta a Washington, DC. Os pseudos ignoram os factos. Ignoram por exemplo que já se sabe onde Obama estará dia 28, e não é em Denver nem em qualquer bunker. Ignoram também que a própria Casa Branca tem um bunker, por isso o Obama não precisaria ir para Denver para isso. Ou seja, imaginar-se fins-do-mundo só por o Obama ir a Denver, além de Red Herring, é uma perfeita estupidez. Eu estou em Washington DC neste momento (este post está agendado para sair agora, mas eu não estou na net). Será que os vigaristas vão dizer que por eu estar em Washington DC, quer isso dizer que me vou esconder do fim-do-mundo dentro da Casa Branca? Enfim… 4 – Terramotos acontecem todos os dias. E todos os dias há alguns terramotos fortes nalguma parte do mundo. Ainda na semana passada houve um forte na Índia, e outro forte nos Açores. O facto é que todos os dias existem terramotos. Não têm nada a ver com alinhamentos ou cometas. Quem tiver dúvidas, consulte regularmente este site. Daí que prever um terramoto para dia X, é como prever que o Sol irá nascer no dia X. Não é qualquer previsão, porque é um facto que irá acontecer de certeza. O objectivo é simplesmente vigarizar as pessoas – fazê-las imaginar que se está a prever algo incrível, quando a verdade é que é algo que acontece todos os dias. 5 – O Mensur Omerbashich é um conspirador. Afinal, só pode mesmo ser conspirador quem “profetiza” terramotos devidos a cometas… nem


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sequer sabendo que há dezenas de terramotos TODOS os dias, mesmo quando não há qualquer “alinhamento” ou cometa no céu. Já falei dele neste comentário, onde deixei a minha previsão: “Vou fazer como o Mensur: amanhã vai haver um terramoto na Califórnia, devido ao nariz do Rodolfo, a rena voadora do Pai Natal, estar alinhado com a estrela Vega.” Dois dias depois, fui ao site de terramotos, e percebi que no dia anterior tinham havido 52 terramotos na Califórnia!!!!! A conclusão, usando a lógica dos vigaristas, só poderia ser que ficou provado que o Pai Natal existe, e que Rodolfo, uma das renas do Pai Natal, passou pela Califórnia 52 vezes! O alinhamento do nariz do Rodolfo levou a todos esses terramotos! Como se percebe, sou muito melhor profeta do que alguma vez o Mensur será.

Concluindo: - o Elenin não é o Nibiru. - não há qualquer alinhamento. - alinhamentos não provocam terramotos. - onde o Obama vai estar é totalmente irrelevante. - o Mensur nunca acertou em nada. Claro que cada um é livre de seguir aquilo que quiser. Neste caso, os caminhos são claros: - um caminho é a crença em vigaristas que ignoram o conhecimento e que fazem profecias que, invariavelmente, estão sempre erradas. - o outro caminho é o do conhecimento científico, que, invariavelmente, nos dá as previsões sempre correctas. Assinado: Carlos Oliveira, o verdadeiro profeta. Carlos Oliveira

Cometa Elenin desaparece… Há 10 dias atrás, neste post, mostramos que o cometa estaria a desintegrar-se. Como se vê nas fotos, o cometa perde consideravelmente brilho:

As fotos mais recentes feitas pelo Michael Mattiazzo mostram que o cometa praticamente desapareceu.

Como sempre dissemos aqui no blog, o fim-domundo vai ter que esperar… como sempre. Os vigaristas vão ter que se entreter com outra coisa, já que o cometa Elenin deixou-nos.

Estas são as fotos dos dias 11 e 14 de Setembro:

Carlos Oliveira

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TERRA

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23 de Setembro de 2011 – o dia fatídico 23 de Setembro de 2011 parece ser um dia fatídico – em que várias coisas vão acontecer. Nesse dia, entrará o Outono. Como os pseudos imaginam que no fim de cada ciclo, o mundo acaba, então nesse dia dar-se-à o fim do Verão, o que, obviamente, provocará terramotos, tsunamis, e demais parvoíces que os pseudos se lembrem de inventar. Nesse dia/noite irá haver a Noite Europeia dos Investigadores. Obviamente que os cientistas irão acabar com o mundo, com os seus teatros e experiências. Nesse dia, o telescópio espacial SoHO tirará fotografias ao cometa Elenin.

O Elenin estará a desintegrar-se e até já terá “desaparecido“. No entanto, para os pseudos esse será o dia em que se verá que o Elenin é uma nave extraterrestre, ou o Nibiru, ou uma anã castanha, ou o Pai Natal de pantufas. Nesse dia, cairá um satélite na Terra. O UARS, um satélite de 6 toneladas, irá cair na Terra. Ainda não se sabe onde cairá, mas estima-se que deverá cair nesse dia. Concluindo: marquem esse dia no vosso calendário, façam desde já as malas… e fujam!!! Antes de partirem, lembrem-se que no Além não precisam de $$. Por isso, transfiram imediatamente o $$ para a nossa conta . :D Carlos Oliveira

UARS caíu sobre o Pacífico A NASA já confirmou, o satélite UARS despenhou-se sobre o Pacífico. O local e a hora exactas ainda não são conhecidos. Há ainda notícias no Twitter não confirmadas de que destroços poderão ter caído na cidade de Okotoks, uma cidade a sul de Calgary, no Canada. Poderão ler mais pormenores no site da BBC, aqui e aqui. Pedro Seixas *N.R.: vejam o vídeo aqui] Página 17


Setembro 2011

TERRA

Outro satélite a caminho: ROSAT ! Todos os dias caem coisas do céu. A maior parte dessas coisas são pequenas pedras, que se transformam em bólides a rasgar os nossos céus. A grande maioria das vezes nem vemos estes bólides, porque a Terra é muito grande e os Humanos vivem aglomerados em pequenas partes do planeta. Mas o facto de não vermos a maioria do planeta, não quer dizer que essas coisas não aconteçam (bólides a cair do céu).

A

partir do século XX, além de objectos naturais, passamos a ter objectos artificiais a cair do céu: os nossos satélites. Actualmente, temos um grande problema no nossos céus, chamado Lixo Espacial. Página 18

Esse lixo é devido a satélites e outros objectos (luvas, chave de fendas, etc) que vamos deixando ao redor da Terra. Esse lixo eventualmente irá cair, e algum dele poderá acertar em alguém.


TERRA

Volume 1, Edição 9

A notícia

fico, longe de olhos

desta

humanos, e não afec-

semana

tou ninguém.

foi

O perigo do UARS

o satélite UARS. O UARS deixou de funcionar em 2005,

acabou, mas já há outro satélite perigoso. O satélite alemão Rosat estudou estrelas, nebulosas e galáxias, entre 1990 e 1998. O satélite tem 2.400 kgs. Apesar de ser mais leve que o UARS, o certo é

e finalmente caiu na Terra. Este satélite tinha 6 toneladas, prevendo-se que

que deverá resistir melhor à passagem pela atmosfera, devido aos painéis solares.

iria se partir em 26 grandes pedaços, com os

Sendo assim, deverá ter pedaços de 400 kgs a

maiores tendo 150 kgs. A probabilidade deste

atingir a Terra (ou seja, pior que o UARS).

satélite atingir um ser humano era de 1 em 3.200.

A probabilidade deste satélite atingir um ser

Tal como outros no passado, caiu no Oceano Pací-

humano é de 1 em 2.000 (mais provável que o UARS). Este satélite deverá cair em Novembro de 2011. Carlos Oliveira

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COSMOLOGIA

Setembro 2011

Formação de Estruturas: Matéria Escura Quente e Fria Crescimento de Perturbações Ao considerarmos um universo em expansão, a competição entre efeitos de gravitação e pressão na evolução das perturbações anulam-se quando o comprimento de onda é igual ao comprimento de Jeans. Quando o comprimento de onda é inferior ao comprimento de Jeans a pressão domina. O resultado será uma onda de compressão em que a amplitude decresce devido à expansão do universo. Se o comprimento de onda é superior ao comprimento de Jean, então a gravitação domina e a amplitude da perturbação aumenta. Flutuações Primordiais “Como as perturbações dos bariões só podem crescer após recombinação, o crescimento será de factor 103”. As observações apontam para uma fase não linear. Existe uma contradição entre a teoria e a observação das flutuações de temperatura da radiação cósmica de fundo, que é da ordem de 10-5. Contudo este é um problema que pode ser resolvido ao inserir uma componente não bariónica nas equações para que a teoria seja correspodente às observações. Estou a referir-me à matéria escura e pode ser de dois tipos: Página 20

1 – Matéria Escura fria (CDM) 2 – Matéria Escura quente (HDM) A distribuição destas duas componentes da matéria escura depende da massa das partículas. Para HDM a massa deve ser muito menor que a temperatura do universo no momento do desacoplamento da partícula de massa – mp. Segundo Peebles, 1993, mpc2 << kTD. Se ΩM for aproximadamente 1 e se a massa for apenas devida à HDM, então temos partículas com massa de 100 eV. Para ter uma ideia, o electrão tem uma massa de 511keV. Existe um candidato a ser esta partícula: o neutrino. Os neutrinos formam um fundo semelhante à radiação cósmica de fundo. Hoje, a densidade de neutrinos é de 3×56 neutrinos/cm3 (sendo que o 3 deve-se às 3 famílias de neutrinos: electrão, muão e tau). O SNO sugere que o somatório das três famílias esteja entre os 0,05eV e 8,4eV, valores que contribuem para 0,001 a 0,18 da ΩM (SNO, 2001). No caso da CDM, a massa terá de ser muito superior à temperatura. Segundo Peebles, 1993, mpc2 >> kTD. Dário S. Cardina Codinha


PSEUDOCIÊNCIA

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Fantasia planetária – Nibiru Uma página muito interessante na Super-Interessante: “A internet converteu Nibiru num fenómeno de massas: os milhões de seguidores deste planeta inexistente, nascido da fértil imaginação do escritor pseudo-científico Zecharia Sitchin e suposto lar da poderosa raça alienígena dos Anunnaki, estão convencidos de que ele chocará com a Terra em 2012. O astrónomo David Morrison, do Instituto de Astrobiologia da NASA, estima que haja uns dois milhões de páginas da internet dedicadas quase exclusivamente a discutir este assunto. Todos os dias, ele próprio recebe mais de cinco mensagens de correio electrónico com perguntas diversas sobre o hipotético e apoteótico fim do mundo. Além de Sitchin, temos de agradecer a Nancy Lieder, uma mulher que diz estar em contacto com extraterrestres (os zetas), graças a implantes que aqueles lhe colocaram no cérebro, e que anunciou a terrível notícia em 2004. Na realidade, a ideia nem sequer é muito original. Há umas décadas, o colombiano Joa-quín Amortegui Valbuena, mais conhecido como V.M. Rabolú, já sustentava que o enorme planeta Hercólubus (tão fictício como Nibiru) se aproximaria catastroficamente do nosso, com o objectivo de depurar a aura terrestre, seja lá isso o que for.” Neste post sobre o cometa Elenin, eu já tinha falado do Nibiru. Estas foram as minhas palavras: O chamado planeta Nibiru foi imaginado por Zecharia Sitchin, que nada percebendo de ciência (incluindo astronomia), decidiu dizer que há um planeta gigante que passa por aqui periodicamente e que traz uma raça de extraterrestres chamaPágina 21

da Anunnaki. Podia dizer que era o Pai Natal, mas decidiu simplesmente mudar o nome e chamou-lhe planeta Nibiru. A crença é a mesma, o disparate é o mesmo, só muda o rótulo. Qualquer pessoa minimamente inteligente perceberia que esta pessoa, das duas uma: acredita naquilo que imagina e por isso deveria ser internado (como qualquer outra pessoa com problemas mentais e que imagina ser o Napoleão, etc), ou não acredita mas decide vigarizar as pessoas de modo a fazer montes de dinheiro. Tendo em conta a quantidade de livros que ele vendeu, então penso que se percebe que ele simplesmente gosta de vigarizar os crentes que de forma acéfala aceitam qualquer conspiração disparatada que lhes seja apresentada. Note-se que para Sitchin, esse enorme planeta viria perto da Terra (sem afectar os outros planetas), mas não colidiria com o nosso. Daí que os supostos extraterrestres saltavam do planeta deles para o nosso. No entanto, em 1995, Nancy Lieder – mais uma pessoa com problemas psiquiátricos que só não está internada porque há outros muitos piores que ela que acreditam nela – disse que recebe comunicações telepáticas de extraterrestres de Zeta Reticuli, e estes disseram-lhe que o Nibiru vai colidir com a Terra. Em 1997, ela ficou famosa por dizer que os extraterrestres tinham-lhe dito que o cometa Hale-Bopp era afinal o planeta Nibiru que iria colidir com a Terra nesse ano. Muitos crentes acéfalos acreditaram nela e seguiam-na como se ela fosse uma profeta. No entanto, claro que ela só dizia disparates, e como se viu, o cometa HaleBopp era realmente um come-

ta, que veio e passou, e nada aconteceu – como sempre disseram os cientistas que iria acontecer. Como entretanto perdeu aderentes, em 2003 tornou a divulgar a mesma mentira. Os extraterrestres disseram-lhe que o Nibiru iria bater na Terra nesse ano e destruir a Humanidade. Mais uma vez, houve acéfalos que tornaram a cair na mesma mentira e acreditaram nela. Como nada aconteceu, mais uma vez ela foi temporariamente votada ao esquecimento. Mas as mentiras dão dinheiro. Daí que estes vigaristas não desistem, porque à conta disto, ficam ricos à custa dos crentes em conspirações. Por isso, cá anda ela novamente. Resolveu disseminar a ideia – que, segundo ela, lhe foi comunicada telepaticamente pelos extraterrestres – que o Nibiru vai bater na Terra em Dezembro de 2012, e que o Elenin é na verdade o Nibiru disfarçado. O facto de que o Elenin vai andar por estes lados em 2011 e não em 2012 não interessa para ela. O que interessa é dizer sempre os mesmos disparates de modo a vigarizar os crentes em conspirações. Sendo que estes disparates são periodicamente transmitidos por este tipo de pessoas – são sempre as mesmas vigarices, repetidas em anos diferentes -, então qualquer pessoa minimamente inteligente percebe que tudo isto é pura treta para enganar papalvos. Infelizmente, os crentes em conspirações não têm esse filtro, e por isso não conseguem separar factos de mentiras imaginadas por vigaristas. Carlos Oliveira


SISTEMA SOLAR

Setembro 2011

MESSENGER observa surpreendentes evidências de actividade geológica recente em Mercúrio A equipa científica da missão MESSENGER publicou ontem um conjunto de sete artigos numa secção especial da conceituada revista Science dedicada a Mercúrio. Os trabalhos reúnem análises detalhadas aos mais importantes dados obtidos pela missão durante os primeiros 6 meses na órbita do pequeno planeta, e incluem, entre outros aspectos, a observação de novas evidências da presença de actividade geológica recente na superfície mercuriana. Num dos artigos, a equipa relata a descoberta de grandes planícies vulcânicas na região do pólo norte de Mercúrio, que se estendem por uma área total superior a 6% da superfície do planeta! De acordo com os autores, as planícies foram formadas por espessos depósitos vulcânicos que cobriram crateras e outros acidentes geológicos, incluindo os locais de erupção. Os depósitos aparentam ser posteriores ao impacto que deu origem à grande bacia de Caloris, o que demonstra que o vulcanismo esteve presente em Mercúrio enquanto processo geológico global, muito depois do “Grande Bombardeamento Tardio”.

encontram-se associadas a rochas formadas em profundidade e expostas na superfície por violentos impactos, o que leva os autores do artigo a associar a sua génese à libertação de compostos voláteis através de diversos processos que poderão incluir vulcanismo piroclástico, sublimação ou violentas erupções gasosas. A estimativa da taxa de crescimento destas estruturas revela ainda outro aspecto surpreendente: muitas “cavidades” poderão estar ainda em actividade, o que sugere a presença de processos geológicos actuais em Mercúrio – uma imagem radicalmente diferente daquela que emergiu das passagens da sonda Mariner 10 pelo planeta nos anos 70.

Noutro artigo, membros da equipa dão a conhecer um conjunto de curiosas formações que denunciam a presença de processos geológicos Sérgio Paulino anteriormente desconhecidos em Mercúrio. Apelidadas de “cavidades”, estas estruturas são depressões com dezenas de metros a alguns quilómetros de diâmetro, vulgarmente encontradas em grupo no interior de várias crateras por todo o planeta. Muitas apresentam interiores cobertos por depósitos muito brilhantes que aparenA bacia de impacto Raditladi e o seu anel concêntrico brilhante temente não acumularam pequenas crate- (indicado com uma seta na imagem em cores falsas). ras de impacto, o que indicia uma formaCrédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington. ção muito recente. Imagens em alta resolução obtidas pela sonda MESSENGER mostram que as “cavidades” Página 22


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SISTEMA SOLAR

Ilustração do hemisfério norte de Mercúrio centrada no pólo norte. Estão representadas a vermelho a localização de crateras de impacto com mais de 20 km de diâmetro. As extensas planícies vulcânicas descobertas pelos cientistas da missão encontram-se delimitadas por uma linha preta, e cobrem o correspondente a 4,7 milhões de km2 de superfície. Reparem que o número de crateras no interior das planícies é muito inferior ao das regiões envolventes, o que indica uma formação relativamente recente. Crédito: Science/AAAS/ Brown University.

Imagens de porções do interior da bacia de impacto Raditladi mostrando “cavidades” nas montanhas do anel concêntrico (setas amarelas) e no chão da depressão (setas brancas). Estas estruturas surgem nas imagens com baixa resolução (em cima) como formações brilhantes e relativamente azuladas em comparação com o terreno envolvente. Crédito: Science/AAAS/NASA. Os cientistas estimaram nalguns locais das planícies vulcânicas uma espessura dos depósitos de lava superior a 1 km! Este valor resultou da estimativa da altura das vertentes de crateras fantasma, crateras pré-existentes subterradas pelos depósitos. Podem observar à direita uma estrutura circular com 90 km de diâmetro formada pelo fino contorno de uma dessas crateras. À esquerda encontra-se a cratera Hokusai (114 km de diâmetro) com a sua estrutura conservada, o que permite a medição directa da altura das suas vertentes.

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SISTEMA SOLAR

Setembro 2011

Novas imagens dos locais de alunagem das missões Apollo A NASA divulgou há pouco imagens impressionantes dos locais de alunagem das missões Apollo 12, 14 e 17. As novas imagens foram obtidas durante o mês de Agosto pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter, a uma altitude média de apenas 21 quilómetros (cerca de metade da altitude habitual), o que permitiu uma melhoria considerável na resolução dos diversos artefactos deixados pelos astronautas há 40 anos. Cliquem nas figuras embaixo para as observarem na sua máxima resolução. Sérgio Paulino

Artefactos no local de alunagem da Apollo 12 vistos pela LRO no passado mês de Agosto. São visíveis os rastos de pegadas deixados pelos astronautas Pete Conrad e Alan Bean nas suas deambulações entre o módulo lunar Intrepid, o conjunto de instrumentos científicos Apollo Lunar Surface Experiment Package (ALSEP), a sonda Surveyor 3 e as quatro crateras Head, Surveyor, Bench e Sharp. Crédito: NASA/GSFC/ASU. Página 24


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SISTEMA SOLAR

O local de alunagem da Apollo 14 visto pela LRO no passado mês de Agosto. Para além dos trilhos deixados pelos astronautas americanos Alan Shepard and Edgar Mitchell, são visíveis a parte inferior do módulo Antares e o conjunto de instrumentos científicos ALSEP. Crédito: NASA/GSFC/ASU. Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/ Carnegie Institution of Washington.

Uma nova visão do local de alunagem da última missão Apollo na Lua. São claramente visíveis na imagem os rastos deixados pelas rodas do lunar rover (LRV) junto das pegadas dos astronautas Eugene Cernan e Harrison Schmitt. Crédito: NASA/GSFC/ ASU.

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Setembro 2011

ASTRONÁUTICA

China lança TianGong-1 Após se afirmar como a terceira potência mundial no campo do voo espacial tripulado com o lançamento das cápsulas Shenzhou e com a realização de uma actividade extraveícular, a China torna-se na terceira nação a colocar em um laboratório espacial em órbita terrestre. O TianGong -1 representa mais uma ambiciosa fase na carreira espacial da China que em 2020 pretende colocar em órbita uma estação espacial modular semelhante à estação espacial russa Mir. O lançamento do módulo TG-1 TianGong-1 teve lugar às 1306:03,7UTC do dia 29 de Setembro de 2011 e foi levado a cabo por um foguetão CZ-2F/ G Chang Zheng-2F/G (T1) a partir da Plataforma de Lançamento 921 (SLS-2) do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan. O módulo espacial TG-1 TianGong-1 (天宫一号) O módulo espacial TG-1 TianGong-1 (tiān gōng yí hào) é um módulo espacial experimental que será principalmente utilizado para a realização de ensaios de aproximação e acoplagem, bem como para o aperfeiçoamento das tecnologias relacionadas com o encontro e a acoplagem em órbita e para acumular experiência na construção, gestão e operação de uma estação espacial. O módulo tinha uma massa de 8.506 kg no lançamento e tem um comprimento de 10,40 metros. É composto por dois módulos cilíndricos com um mecanismo de acoplagem na parte frontal. Os dois módulos são o módulo experimental e o módulo de serviço. O módulo experimental tem um diâmetro máximo de 3,35 metros e é composPágina 26

to de uma secção frontal cónica, uma secção cilíndrica e uma secção cónica posterior que faz a ligação com o módulo de serviço. Na parte frontal do módulo existem um mecanismo de acoplagem com uma escotilha de 0,8 metros de diâmetro, e equipamento de medição e de comunicações que será utilizado para apoiar as manobras de encontro e acoplagem. É no módulo de serviço onde os taikonautas irão viver e trabalhar, tendo um volume habitável de 15 m3. Esta secção está também equipada com duas zonas para dormir com sistemas de iluminação ajustáveis, equipamento de exercício, sistemas de entretenimento, dispositivos de comunicação visual e sistemas de controlo. Um esquema de cores irá auxiliar os taikonautas a manterem a orientação. As paredes interiores do módulo têm duas cores, sendo uma comummente associada ao céu e outra à terra. O módulo de serviço tem um diâmetro de 2,8 metros e tem como função fornecer a energia necessária para o funcionamento do módulo espacial, contendo também dois painéis solares, tanques de propolente, e outros sistemas. Após um período de testes e verificações do TianGong-1, os especialistas espaciais chineses estarão prontos para o lançamento da cápsula espacial não tripulada SZ-8 Shenzhou-8. O lançamento será levado a cabo pelo foguetão CZ-2F Chang Zheng-2F (Y8) e está previsto para o dia 1 de Novembro. A acoplagem terá lugar após a verificação dos sistemas dos dois veículos. O TG-1 TianGong-1 deverá permanecer operacional durante dois anos e deverá realizar manobras


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ASTRONÁUTICA

de encontro e acoplagem com três veículos. Para além da Shenzhou-8, o TianGong-1 irá acoplar com a SZ-9 Shenzhou-9 e com a SZ-10 Shenzhou10 que realizarão missões similares e pelo menos um destes veículos irá transportar uma tripulação. Os taikonautas deverão permanecer um máximo de duas semanas a bordo do módulo, porém antes de ingressarem a bordo as condições no interior do módulo experimental serão ajustadas para garantir que a tripulação possa viver num ambiente que contenha oxigénio suficiente, além do nível seguro de humidade e de calor.

experiências científicas e pesquisas mais sofisticadas.

Após o lançamento, o TG-1 é colocado numa órbita quase circular com uma altitude média de 350 km após duas manobras orbitais. Antes do lançamento da Shenzhou-8, a sua órbita será baixada para os 343 km. Dois dias após o seu lançamento, terá lugar a acoplagem entre os dois veículos. O TianGong-1 e a Shenzhou-8 permanecem acoplados durante 12 dias, separando-se depois para que possam repetir as manobras de aproximação e realizar uma segunda acoplagem. Após um novo período de junção em órbita, os dois veículos separam-se definitivamente e a cápsula não tripulada regressa à Terra após um curto voo autónomo.

Este lançador, desenvolvido pela Academia Chinesa de Tecnologia de Veículos Lançadores sobre coordenação da Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China, é diferente da versão original Shenjian (Seta Mágica) que foi desenvolvida a partir do foguetão CZ-2E Chang Zheng-2E que por sua vez foi baseado na tecnologia matura do lançador CZ-2C Chang Zheng-2C. O desenho conceptual do Chang Zheng-2E foi iniciado em 1986, com o veículo a ser colocado no mercado mundial de lançadores após um voo de teste em Julho de 1990.

No futuro os módulos TianGong serão melhorados para se transformarem num veículo de carga para a estação espacial da classe Mir. Entretanto, a China deverá lançar o módulo TG-2 TianGong-2 em 2014 com o objectivo de desenvolver as tecnologias necessárias para a regeneração de água e de oxigénio necessária para estadias de curta duração e para levar a cabo algumas experiências científicas. No período de 2015 / 2016, será colocado em órbita o laboratório TG-3 TianGong-3 que provavelmente será dotado de dois mecanismos de acoplagem (sendo uma estação da classe Salyut-6/7). Estes dois mecanismos poderão permitir uma ocupação permanente do laboratório que será utilizado para o desenvolvimento das tecnologias necessárias para estadias de médio e longo prazo em órbita e para a realização de Página 27

O foguetão CZ-2F/G Chang Zheng-2F/G O módulo espacial TG-1 TianGong-1 utilizou o primeiro foguetão CZ-2F/G Chang Zheng-2F/G, uma versão do foguetão lançador CZ-2F Chanf Zheng2F utilizado no programa espacial tripulado Shenzhou (Projecto 921). Este lançador também pode ser designado como CZ-2F Chang Zheng-2G ‘Fase Um’.

Para satisfazer os requisitos da missão de encontro e acoplagem, o Chang Zheng-2F sofreu mais de 170 modificações e utilizou cinco novas tecnologias. O foguetão chegou a Jiuquan a 23 de Julho e desde esse dia foi submetido a diferentes testes de preparação para o lançamento. Este veículo será utilizado para o lançamento do TianGong-1 e dos futuros veículos de carga até um lançador mais potente estar disponível, no caso o CZ-7 Chang Zheng-7. Uma diferença substancial no CZ-2F/G é a ausência do sistema de emergência no topo do lançador, uma carenagem mais larga e uma sequência de separação melhorada. Outras características desta versão são o facto de ser capaz de uma maior precisão na inserção orbital. Isto é possível com a introdução de sistemas de navegação melhorados e complexos sistemas de orientação com a obtenção de dados em tempo real e utilização de dados de


ASTRONÁUTICA

GPS nos parâmetros de correcção para se conseguir uma dupla redundância. Por outro lado, mais propolente é abastecido nos propulsores e no lançador, aumentando assim o tempo de ignição. Tal como o CZ-2F, o CZ-2F/G Chang Zheng-2F/G é um lançador a dois estágios auxiliado por quatro propulsores laterais de combustível líquido durante a ignição do primeiro estágio. O comprimento total do CZ-2F/G é de 52,0 metros com um estágio central de 3,35 metros de diâmetro e um diâmetro máximo de 8,45 metros na base e contando com os propulsores laterais. No lançamento a sua massa é de 493.000 kg, sendo capaz de colocar numa órbita baixa uma carga de 8.600 kg. No foguetão Chang Zheng-2F, os propulsores laterais LB-40 têm um comprimento de 15,326 metros, 2,25 metros de diâmetro, um peso bruto de 40.750 kg e uma massa de 3.000 kg sem propolente. Cada propulsor está equipado com um motor YF-20B de escape fixo que consome UDMH/N2O4 desenvolvendo uma força de 740,4 kN ao nível do mar. o seu tempo de queima é de 127,26 segundos (será de 137 segundos para o CZ -2F/G). O primeiro estágio L-180 tem um comprimento de 28,465 metros, diâmetro de 3,35 metros, peso bruto de 198.830 kg e uma massa de 12.550 kg sem propolentes. Está equipado com um motor YF-21B composto de quatro motores YF-20B que desenvolvem 2.961,6 kN ao nível do mar. Os motores consomem UDMH/N2O4. O seu tempo de queima é de 160,00 segundos (poderá ser superior na versão CZ-2F/G). O segundo estágio L-90 tem 14,223 metros de comprimento, 3,35 metros de diâmetro, uma massa bruta de 91.414 kg e uma massa de 4.955 kg sem propolente. Está equipado com um motor YF-24B composto de um motor YF-22B de escape fixo e por quatro motores vernier de escape amovível YF-23B. Os motores consomem UDMH/ N2O4desenvolvendo 738,4 kN (motor principal) e 47,04 kN (motores vernier) de força em vácuo. O Página 28

Setembro 2011

tempo total de queima é de 414,68 segundos (motor principal) e de 301,18 segundos (motores vernier). O lançamento do TG-1 TianGong-1 constituiu o 147º lançamento orbital bem sucedido da China, sendo o 147º lançamento orbital bem sucedido da família de lançadores Chang Zheng, o 49º lançamento orbital bem sucedido desde o Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan e o 10º lançamento bem sucedido por parte da China em 2011. O Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan Também conhecido como Shuang Cheng Tse, o Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan foi o primeiro local na China a partir do qual se procedeu ao teste e lançamento de vários tipos de mísseis e dos primeiros lançadores espaciais Chang Zheng e Feng Bao. O centro inclui um Centro Técnico, dois complexos de lançamento, um Centro de Comando e Controlo, um Centro de Controlo de Lançamento, sistemas de abastecimento, sistemas de previsão meteorológica, e sistemas de suporte logístico. Jiuquan foi originalmente utilizado para o lançamento de satélites científicos e de satélites recuperáveis para órbitas terrestres baixas ou de média altitude com altas inclinações. O programa espacial tripulado utiliza a Plataforma de Lançamento 921 situada no Complexo de Lançamento Sul. Este foi construído na segunda metade dos anos 90 e mais tarde foi-lhe acrescentada a Plataforma de Lançamento 603 para lançamentos não tripulados. Para além das plataformas de lançamento, o complexo de lançamento está dotado de um centro técnico onde decorrem os preparativos do foguetão lançador e das suas cargas. O Centro Técnico é composto de instalações de processamento e de montagem vertical do lançador, edifícios de processamento de cargas, edifício de processa-


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Volume 1, Edição 9

mento dos propulsores sólidos, edifício de armazenamento de propolentes hipergólicos e o centro de controlo de lançamento. Para o lançamento do TianGong-1 o complexo foi equipado com um centro computacional melhorado, sistemas de monitorização e comando, e uma capacidade aumentada para se adaptar às alterações nas condições das missões, bem como os recursos necessários para lidar com as tarefas do lançamento e de comando. Um sistema integrado de treino para os lançamentos espaciais foi também desenvolvido para esta missão. Os engenheiros também levaram a cabo uma verificação técnica intensiva de dois meses no equipamento entre Março e Maio de 2011. A segurança e a fiabilidade dos instrumentos foram significativamente melhoradas. Os lançamentos orbitais desde Jiuquan são supervisionados desde o Centro de Comando e Controlo situada na cidade espacial de Dongfeng, 60 km a sudoeste do centro de lançamento. A torre umbilical do complexo 921 é composta por uma estrutura fixa e um par de seis plataformas rotativas. Uma vez chagado à plataforma de lançamento, as plataformas rotativas são colocadas em torno do foguetão para permitir o seu abastecimento e para que os técnicos tenham acesso às suas diferentes zonas para realizarem

os procedimentos finais de verificação. A torre umbilical também contém uma área protegida e de ambiente controlado para permitir o acesso dos taikonautas ao interior dos veículos. As plataformas rotativas são removidas uma hora antes do lançamento, enquanto que quatro braços móveis proporcionam ligações para o fornecimento de electricidade, gases e fluidos para o lançador. Estes braços são removidos minutos antes do lançamento. O foguetão lançador é transportado sobre uma plataforma móvel de lançamento desde o edifício de integração vertical para a plataforma de lançamento. A plataforma móvel move-se num sistema de carris separados 20 metros e atinge uma velocidade máxima de 25 metros/minuto. A plataforma tem um comprimento de 24,4 metros, largura de 21,7 metros e uma altura de 8,34 metros, tendo um peso de 750.000 kg. A viagem entre o edifício de montagem e a plataforma de lançamento demora 60 minutos estando afastados 1,5 km. O primeiro lançamento orbital desde Jiuquan teve lugar a 24 de Abril de 1970 quando um foguetão CZ-1 Chang Zheng-1 colocou em órbita o primeiro satélite artificial da China, o Dong Fang Hong-1 (04382 1970-034A). Rui Barbosa

Japão lança satélite espião O Japão levou a cabo o lançamento de um novo satélite espião cuja principal função será a de observar as actividades militares da Coreia do Norte. O lançamento teve lugar às 0436:50UTC do dia 23 de Setembro de 2011 e foi levado a cabo por um foguetão H-2A/202 a partir da Plataforma de Lançamento LP-1 do Complexo de Lançamento Yoshinobu do Centro Espacial de Tanegashima. O satélite IGS-6A (Optical-4) terá uma resolução

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de 0,60 metros. Em 2011 estará previsto o lançamento de um satélite radar. Rui Barbosa


EXOPLANETAS

Setembro 2011

Dilúvio de Exoplanetas na ESS II “The HARPS search for southern extra-solar planets XXXIV. Occurrence, mass distribution and orbital properties of super-Earths and Neptunemass planets” (Mayor et al., 2011) (41 planetas)

A cúpula do telescópio de 3.6 metros do ESO, no Observatório de La Silla, Chile.

O

primeiro dia da conferência Extreme Solar Systems II, a ter lugar em Jackson Hole, Wyoming, nos Estados Unidos, foi simplesmente fantástico. O primeiro anúncio do dia veio da equipa do Observatório de Genebra, liderada por Michel Mayor, e consistia na descoberta de 50 novos planetas em torno de algumas das 376 estrelas do programa de observação GTO (Guaranteed Time Observations) do HARPS (High Accuracy Radial velocity Planetary Search project). Em conformidade com a notícia na página do ESO (European Southern Observatory) parecem ter sido contabilizados os planetas descritos nos seguintes artigos: “The HARPS search for Earth-like planets in the habitable zone, I — Very low-mass planets around HD20794, HD85512, HD192310” (Pepe et al., 2011) (5 planetas) Página 30

“The HARPS search for southern extra-solar planets. XXX. Planetary systems around stars with solar-like magnetic cycles and short-term activity variation” (Dumusque et al., 2011) (4 planetas) Digno de nota, a maoiria dos planetas agora anunciados são Super-Terras e Neptunos: 16 dos 50 planetas anunciados são Super-Terras e os restantes são quase todos Neptunos. A abundância destes planetas permitiu à equipa de Mayor determinar que 40% das estrelas do tipo solar (anãs de tipo espectral F tardio, G e K) têm pelo menos um planeta mais pequeno que Saturno. Os artigos estão repletos de sistemas muito interessantes, vários deles duplos e triplos contendo Super-Terras e Neptunos. Destaco, por exemplo, o HD1461c que constitui a confirmação de uma segunda Super-Terra no sistema. A primeira, HD1461b, tinha sido descoberta pela equipa do AAPS (Anglo Australian Planet Search) em Dezembro de 2009 e na altura havia já indícios de mais dois planetas no sistema. Outro planeta importante é, claro, o HD85512b, já aqui referido várias vezes no AstroPT. Finalmente, um outro favorito meu, 82 Eridani (HD20794), um sistema com 3 Super-Terras bem próximo de nós. Tenho de confessar que sou um fã do HARPS. Tra-


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ta-se de um instrumento com uma performance absolutamente impressionante, conseguindo actualmente uma precisão de 0.5 m/s (1.8 km/h !) na medição da velocidade radial de uma estrela. A produtividade científica que originou é igualmente digna de registo. Veja-se a seguinte lista de planetas detectados pelo HARPS.

Os planetas detectados pelo HARPS no programa GTO e na sua sucessão. Adaptado de Mayor et al., 2011

Nem todos estes planetas foram descobertos pelo HARPS, alguns foram descobertos por outras equipas. No entanto o HARPS desempenhou mesPágina 31


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mo aí um papel essencial em ciência, o de verificação independente dos resultados obtidos por outras equipas e refinamento das órbitas planetárias. É por isso com grande espectativa que aguardo a primeira luz, em 2012, do HARPS-North, uma versão mais sofisticada do HARPS que

O telescópio de 3.6 metros do ESO.

será instalada no Telescopio Nazionale Galileo (TNG), de 3.5 metros, no Observatório de Roque los Muchachos, nas Canárias. Este “clone” do HARPS será absolutamente fundamental para o seguimento e caracterização dos planetas descobertos pela missão Kepler. Finalmente, a equipa de Genebra revelou também que não conseguiu detectar os planetas Gliese 581f e Gliese 581g, previamente detectados pela equipa de Paul Butler e Stephen Vogt. A detecção do planeta Gliese 581g era particularmente relevante pois encontrar-se-ia na zona habitável da estrela Gliese 581. Na altura o anúncio de Butler e Vogt gerou alguma polémica na comunidade. Depois deste início arrasador do HARPS, seguiu-se a resposta da equipa da missão Kepler, com menos dados concretos mas com algumas revelações impressionantes. A análise das curvas de luz Página 32

obtidas pelo telescópio Kepler permitiu subir o número de candidatos a planetas de uns prévios 1235 para 1781. Destes estão confirmados pela velocidade radial apenas 27, mas existem vários candidatos a serem observados que devem ser confirmados em breve. De referir que um estudo recente mostrou que a frequência de falsos positivos nos dados do Kepler é baixa, na ordem dos 5%, portanto a grande maioria destes candidatos são realmente planetas ! Outras estatísticas curiosas: dos 1781 candidatos, 123 têm um raio estimado inferior a 1.25 vezes o da Terra, 121 encontram-se na zona habitável da sua estrela hospedeira e um quarto são Super-Terras ! O número de sistemas múltiplos é também excepcional com 218 sistemas com dois planetas detectados, 73 com 3 planetas, 25 com 4, 8 com 5, e 2 com 6 !. Por falar em sistemas múltiplos, um dos sistemas discutidos foi o KOI-730, um sistema compacto com 4 Super-Terras com períodos de 7.4, 9.8, 14.8 e 19.7 dias e raios de 1.8, 2.1, 2.8 e


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A equipa do projecto Eta-Earth anunciou também a descoberta de mais uma Super-Terra próxima do Sol que realiza trânsitos, a HD97658b. O planeta foi descoberto em 2010 pela equipa do projecto Eta-Earth liderado por Geoff Marcy e orbita uma anã de tipo espectral K1V com um período de 9.5 dias. Observações pormenorizadas da velocidade radial do sistema permitiram calcular com precisão suficiente a data e hora em que o planeta poderia, se o alinhamento fosse adequado, efectuar um trânsito. Observações fotométricas realizadas nessas ocasiões permitiram detectar, com dificuldade, partes do trânsito do planeta. A novidade principal nesta descoberta é o facto de ter sido feita com fotometria obtida a partir da Terra para um planeta tão pequeno. A realidade dos trânsitos irá certamente ser verificada com observações realizadas a partir do espaço. Entretanto, uma análise preliminar dos dados permite concluir que o planeta, com massa de 6.4Mt e raio de 2.9Rt (Mt/Rt = massa/raio da Terra), tem uma densidade de 1.4 g/cm3, demasiado baixa para uma Super-Terra. O planeta deverá ser antes um “sub-Neptuno” com quantidades importantes de hidrogénio, hélio e vapor de água na atmosfePágina 33

ra. O artigo é: “Detection of a Transiting Low-Density SuperEarth” (Henry et al., 2011) Já hoje, a equipa do projecto Super-WASP não quis ficar atrás e decidiu provocar sensação ao anunciar a descoberta de 23 novos planetas: WASP-20, WASP-42, WASP-47, WASP-49 e WASP52 até WASP-70. Todos Júpiteres Quentes. Ontem foi realmente um dia notável para a astronomia e para os entusiastas dos exoplanetas ! Luís Lopes

Mesmo no limite de detecção: 5 trânsitos de HD97658b. Adaptado de Henry et al., 2011

2.4, respectivamente (raio da Terra = 1). Este sistema é particularmente curioso pois apresenta órbitas ressonantes, i.e. os períodos orbitais dos planetas estão relacionados por factores inteiros (no caso, uma ressonância 3:4:6:8, i.e. 8*7.4 ~ 6*9.8 ~ 4*14.8 ~ 3*19.7). Pensava-se que este sistema tinha o primeiro exemplo de planetas em órbitas troianas, como noticiamos aqui. Houve ainda tempo para referir a descoberta de um sistema pouco usual, o KOI-254, uma anã vermelha, de tipo espectral M0V e rica em metais, com um Júpiter Quente numa órbita de apenas 2.5 dias. A estrela tem uma magnitude visual de 16.9 (!) o que exemplifica algumas das dificuldades no seguimento dos candidatos planetários do Kepler. Devido ao pequeno tamanho da estrela hospedeira, os trânsitos provocam uma diminuição significativa, cerca de 3.6%, no brilho da estrela.


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Planeta HD 85512b é habitável

Há 3 semanas atrás, o Luís Lopes já tinha dado a conhecer esta descoberta, neste post. Agora, 3 semanas depois, a descoberta está a chegar aos serviços noticiosos, mas ainda timidamente. Os jornais ainda nem falaram da descoberta. Ou seja, o astroPT foi o primeiro a falar desta descoberta, e agora voltamos a ela para sublinhar os resultados. HD 85512 ou Gliese 370 é uma estrela que se encontra a 36 anos-luz de distância. Tem um tipo espectral K, por isso é um pouco menos luminosa, menos massiva, mais fria, um pouco mais velha, e Página 34

mais pequena que o Sol. É uma anã alaranjada. Foi encontrado um planeta à volta dessa estrela que é uma Super-Terra. O planeta orbita a estrela a 0.26 UA, ou seja 1/4 da distância da Terra ao Sol


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– mas como a estrela é mais pequena então em termos relativos ele está para a estrela-mãe como Vénus está para o Sol. Poderá estar na parte interior da zona habitável da estrela. Outra informação relevante é que a órbita é quase circular, o que faz com que a temperatura esteja estabilizada. HD 85512b é 3,6 mais massivo que a Terra, deverá ser rochoso, e terá uma temperatura à superfície de cerca de 25ºC. O planeta poderá ter uma atmosfera com vapor de água, dióxido de carbono, e azoto (nitrogénio). Se o planeta tiver uma atmosfera com nuvens, então é provável que tenha água no estado líquido à superfície do planeta (lagos, rios, e oceanos). Ser habitável é diferente de ser habitado. Habitado quer dizer que tem vida. Ser habitável quer dizer que pode ter condições para ter vida tal como a conhecemos. É o exoplaneta menos massivo encontrado na

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zona habitável, e é, neste momento, o melhor candidato para ter vida (juntamente com Gliese 581d).

Leiam o artigo científico, aqui e aqui. No dia 12 de Setembro, este planeta foi anunciado na conferência internacional Extreme Solar Systems II, juntamente com a descoberta de 50 exoplanetas, 16 dos quais são super-terras. Leiam no astroPT, aqui. Carlos Oliveira


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Encontrado o planeta Tatooine, de Star Wars!

Tatooine é um enorme planeta deserto que foi colonizado por mineiros e fazendeiros. É um planeta que orbita um sistema duplo de estrelas (“2 sóis”). É um planeta fictício, do universo de Star Wars (Guerra das Estrelas), e que é a casa de Luke Skywalker. *N.R.: Veja o vídeo aqui] O Luís Lopes já tinha profetizado que hoje na conferência de imprensa da NASA, talvez fosse divulgada a descoberta de um planeta deste género, já que constava uma pessoa ligada a Star Wars. Hoje, numa conferência simplesmente fenomenal, essa descoberta foi revelada! O planeta chama-se Kepler-16b , mas o apelido já está dado mundialmente: Tatooine! Nunca ninguém tinha alguma vez visto um planePágina 36

ta deste género (a orbitar e fazer trânsitos em ambas as estrelas)… a não ser em Star Wars! Como disse o Alan Boss: “O que era ficção científica, tornou-se realidade!” O planeta encontra-se a 200 anos-luz de distância e orbita ambas as estrelas. A órbita (ano) demora 229 dias, o que é similar a Vénus (225 dias). O sistema é estável, pelo menos durante vários milhares de milhões de anos. Vejam os gráficos, aqui. O planeta tem massa e tamanho semelhantes a Saturno e dista 104 milhões de kms das estrelas, que são menos massivas (uma estrela tem 69% da massa do Sol, e a outra tem 20% da massa do Sol), mais pequenas e mais frias que o nosso Sol, por isso o planeta deve ser frio. Talvez com temperaturas de -100º C.


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É um planeta gasoso semelhante a Saturno. Os cientistas dizem que é muito provável haver planetas rochosos nesse sistema, mas ainda não foram detectados. Eles disseram inclusivé que a Missão Kepler irá detectar esses planetas num futuro próximo. Também referiram que, devido a orbitar 2 estrelas, a ideia de zona habitável não é estática, mas tem um dinamismo que nunca se tinha visto antes. Os planetas rochosos terão uma maior probabilidade de ter vida como a conhecemos, e se existirem em órbita destas estrelas, então sem dúvida que se terá descoberto uma nova classe de sistemas planetários que poderão ter vida. E tendo em conta que a maior parte das estrelas no Universo são binárias (2 estrelas), então as oportunidades para haver vida aumentaram vertiginosamente. Por outro lado, apesar do Kepler-16b estar um pouco fora da zona habitável, a equipa de cientistas mencionou que o planeta poderá ter luas… e quiçá poderão ser como Europa ou Titã (que estão fora da zona habitável, mas podem ter vida). Os cientistas também disseram que se pode ver a estrela com binóculos, e que os astrónomos amadores poderão seguir o transito do planeta em 2012. Por fim, a conferência de imprensa acabou, com o “apresentador” a dizer: May the Force be with You O Luís Lopes também escreveu sobre esta espantosa descoberta: Página 37

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As suspeitas confirmaram-se. A equipa da missão Kepler anunciou, há poucas horas, a descoberta do primeiro planeta que orbita duas estrelas que formam um sistema binário. O planeta, designado de Kepler-16b (o sistema Kepler-16 também tem estas designações: KOI-1611, 2MASS 19161817+5145267), foi detectado pelo método dos trânsitos e situa-se a cerca de 200 anos-luz de distância. Trata-se de um planeta com características físicas muito parecidas às de Saturno: 105 vezes a massa da Terra (um terço da massa de Júpiter) e uma densidade de 0.96 g/cm3, portanto idêntica à da água (considerando as margens de erro). Com esta densidade, deverá ser constituído em partes iguais por rocha e gás. A arquitectura do sistema é muito interessante. As duas estrelas formam um sistema binário, isto é, orbitam um centro de massa comum, com um período de 41 dias. À distância, o Kepler-16b orbita o referido centro de massa das estrelas com um período de 229 dias, semelhante ao período orbital de Vénus em torno do Sol (225 dias). As estrelas são ambas mais pequenas, menos maciças e menos luminosas que o Sol, mas mais activas. A estrela primária tem 69% da massa e 65% do raio do Sol, ao passo que a secundária tem apenas 20% da massa e 22% do raio do Sol. Os tipos espectrais serão algo como K5V (uma anã laranja) e M5V (uma anã vermelha), respectivamente. Deste facto resulta que o Kepler-16b está para lá da Zona Habitável associada às duas estre-


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las e deverá portanto ser um mundo frio e inóspito. Podem ter uma ideia mais clara da estrutura do sistema através da figura e vídeo seguintes. O sistema é espectacular também devido à forma como as duas estrelas e o planeta estão perfeitamente alinhados com a nossa linha de visão. De facto, o alinhamento é tal que o Kepler observa a estrela mais pequena a passar em frente da maior (eclipse primário), a estrela maior a passar em frente da estrela mais pequena (eclipse secundário). Se apenas existissem as estrelas, o sistema teria uma curva de luz semelhante à representada na figura seguinte.

Mas o Kepler viu mais. Viu os trânsitos do planeta pelo disco da estrela maior, pelo disco da estrela mais pequena e, em algumas ocasiões, simultaneamente pelos discos de ambas. Esta última situação ocorre quando o trânsito do planeta coincide com o eclipse primário do sistema binário. Esta complexa sucessão de eventos dá origem a uma curva de luz espectacular que podemos ver nas figuras seguintes (direita). Os sistemas binários de estrelas são importantíssimos em astrofísica pois constituem das poucas oportunidades que os astrónomos têm de medir directamente a massa e a dimensão das estrelas, observando o seu movimento orbital e aplicando a Terceira Lei de Kepler. Desta forma foi possível calcular com grande precisão os ditos parâmetros Página 38

para as estrelas deste sistema. Para calcular a massa do planeta, os astrónomos utilizaram um efeito mais subtil. O movimento orbital do planeta provoca ligeiros atrasos ou avanços nos instantes em que ocorrem os eclipses do sistema binário. A amplitude deste efeito, no caso pouco mais de 1 minuto (!), permitiu calcular a massa do planeta, um belo exemplo de aplicação da técnica designada de TTV (Transit Timming Variations). Nas palavras de Bill Borucki, o investigador principal da missão, “Esta descoberta confirma a exstência de uma nova classe de sistemas planetários que podem suportar vida. Dado que a maior parte das estrelas na nossa galáxia fazem parte de sistemas binários, esta descoberta significa que as oportunidades para o desenvolvimento da vida são muito maiores do que se os planetas se formassem apenas em torno de estrelas singulares. Esta descoberta demonstra finalmente que os planetas podem formar-se em torno de estrelas em sistemas binários, uma hipótese que os cientistas consideraram durante décadas.”


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A descoberta foi publicada na revista Science. Podem ver a notícia original aqui. Todas as imagens são crédito da missão Kepler. A tradução livre das palavras de Bill Borucki é da minha inteira responsabilidade.

Leiam aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui. Que fantástica descoberta!!!! Carlos Oliveira

CoRoT-20b, um Júpiter Quente com a Densidade do Cobre Uma equipa de astrónomos liderada por Magali Deleuil, do Laboratoire d’Astrophysique de Marseille, disponibilizou um artigo em que descreve a descoberta do CoRoT-20b, um Júpiter Quente muito maciço e denso. A estrela hospedeira, CoRoT-20, situada a cerca de 4 mil anos-luz na direcção da constelação do Unicórnio, de tipo espectral G2V, é quase uma cópia do Sol no que diz respeito às suas características físicas, mas é muito mais jovem e activa, com uma idade estimada em apenas 100 milhões de anos. O período orbital do planeta é de apenas 9.24 dias. Ao contrário da maioria dos Júpiteres Quentes, que têm órbitas circulares ou quase, o CoRoT20b tem uma órbita elíptica bastante alongada, com uma excentricidade de 0.56. Este facto faz com que, no seu ponto de maior aproximação à estrela (periastro), o planeta diste da estrela 5.9 milhões de quilómetros, ao passo que, no ponto de maior afastamento (apoastro), a distância é de 21.1 milhões de quilómetros. Esta variação periódica na distância do CoRoT-20b à estrela tem implicações na temperatura estimada do planeta que varia entre os 760 Kelvin, no apoastro, e os 1440 Kelvin, no periastro, em apenas 4.6 dias. Planetas com estas variações drásticas de temperatura têm atmosferas muito activas com tempestaPágina 39

des violentas de ventos supersónicos, como foi demonstrado espectacularmente para o HD80606b em 2009. As características físicas do planeta são também muito interessantes. O CoRoT-20b é muito maciço e denso. Com cerca de 4.2 vezes a massa e 0.8 vezes o raio de Júpiter, a sua densidade média de 8.8 g/cm3 é muito elevada, comparável à de metais como o Cobalto, o Cobre e o Níquel. Um planeta tão denso tem forçosamente de conter uma grande quantidade de “metais”, elementos mais pesados que o hidrogénio e o hélio. De facto, simulações preliminares levadas a cabo pelos autores apontam para um núcleo interno do planeta com uma massa incrível de cerca de 800 vezes a massa da Terra (2.5 vezes a massa de Júpiter) composto por elementos pesados. Podem ver o artigo aqui. Luís Lopes Imagem: Os trân-

sitos do CoRoT20b sobrepostos numa única figura. Crédito: Deleuil et al.


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Kepler Mostra Planeta Orbitando Duas Estrelas Já era especulado e agora foi observado. Muita coisa é assim na Astronomia, primeiro especula-se a existência, com ou sem um apoio da matemática, e depois observa-se. Foi assim com a expansão do Universo e foi assim com a existência de planetas orbitando um sistema duplo de estrelas. var planetas de tamanho e massa comparáveis aos de Júpiter. Kepler é um telescópio espacial, que gira em torno do Sol em uma órbita quase idêntica à da Terra. Em uma de suas descobertas mais interessantes, a missão revelou um planeta orbitando um sistema duplo de estrelas.

Concepção artística do sistema Kepler-16, mostrando o planeta Kepler-16b e o sistema binário que orbita.

A

missão Kepler tem por objetivo descobrir planetas extrassolares, e sua acuidade permite observar planetas do tamanho da Terra. Antes da missão, só conseguíamos obser-

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Essa observação mostra que, de fato, é possível planetas se formarem em torno de sistemas duplo. E, como a maioria das estrelas em nossa galáxia pertencem a sistemas duplos, saber disso é bastante animador na procura de possíveis planetas habitados. O planeta, que recebeu o nome de catálogo Kepler-16b, orbita o sistema Kepler-16, e está a cerca de 200 anos-luz de nós. A distância foi inferida por análise de magnitude da estrela mais


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Comparação entre o tamanho estimado de Kepler-16 e o Sol, e entre o tamanho estimado de Kepler-16b, a Terra e Júpiter (editado de http://kepler.nasa.gov/Mission/discoveries/kepler16b/).

brilhante. A descoberta do planeta foi feita observando variações de brilho do sistema, num gráfico que chamamos de Curva de Luz, que mostra variação de brilho em função do tempo. Esse tipo de gráfico é extensamente usado na Astronomia. A figura abaixo mostra a curva de luz de Kepler-16. A estrela mais brilhante é a Estrela A, a menos brilhante é a Estrela B, e o planeta foi chamado de Planeta b – a diferença entre a estrela Kepler16B e o planeta Kepler-16b é o “b” maiúsculo para a estrela e minúsculo para o planeta. O número 1 no eixo vertical dos gráficos indica o brilho do sistema sem nenhum eclipse ou trânsito. Clique na imagem para vê-la ampliada em outra janela ou aba (dependendo da configuração do seu navegador da internet) (imagem lado direito) Quando a Estrela B, passa na frente da Estrela A, o brilho do sistema diminui, caindo de 1 para cerca de 0,84, como mostra o primeiro gráfico da Página 41

parte de baixo da figura. Quando ocorre o inverso, e a Estrela A passa na frente da Estrela B, o brilho cai menos, saindo de 1 para cerca de 0,985 como mostra o segundo dos gráficos, em amarelo. Os trânsitos do planeta nas duas estrelas produzem variações de brilho ainda mais sutis, fazendo o brilho do sistema cair para cerca de 0,987 quando passa na frente da Estrela A, e para cerca de 0,999 quando passa na frente daEstrela B.

O Keple-16b completa uma volta em torno de suas duas estrelas em cerca de 229 dias e é um pouco menor que Júpiter, tendo massa parecida com a de Saturno. Esse tamanho de planeta é bem superior ao tamanho que a missão Kepler pode identificar, mas essa descoberta é importante por mostrar que existem planetas ao redor de sistemas binários. Kepler-16b tem sido chamado informalmente pelos astrônomos de Tatooine, o planeta onde cresceu Luke Skywalker e onde nasceu Anakin Skywalker, personagens da saga Guerra nas Estrelas. Num dos filmes da série, é mostrado uma paisagem de Tatooine, durante o dia, com duas grandes estrelas, como dois sóis, no céu. Ficção científica e ciência andam sempre de mãos dadas! Leandro Guedes


astroPT

Recordes continuam a surgir

No dia 15 de Junho de 2011, dia de eclipse lunar, tivemos 22.818 visitas. A 3ª Semana (19 a 25) de Setembro de 2011 teve 38.529 visitas, o que dá uma média de 5.504 visitas diárias. Endereço da actividade Linha de endereço 2 Linha de endereço 3 Linha de endereço 4

ESTAMOS NA WEB! http://astropt.org Tel: 219-235-401 Fax: 219-235-401 Correio electrónico: alguem@example.com

Em Setembro de 2011 tivemos 142.683 visitas, o que dá uma média de 4.756 visitas diárias.

Carlos OIiveira

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O astroPT, em pleno mês de setembro, obteve novo record: mais de 142000 visitas.

astroPT magazine, revista mensal da astroPT Textos dos autores, Design: José Gonçalves

Na APOD de 23 de setembro, esta foto foi feita no início deste mês. Em primeiro plano temos o Hidden Lake Territorial Park Parque Territorial Hidden Lake em Yellowknife, Canadá.

Conceição Monteiro


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