Ensino fundamental de nove anos orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade

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Numa sociedade tão desigual como a brasileira, a língua também é um grande marcador social. A variedade de prestígio – a chamada língua padrão ou norma culta – se superpõe às outras variedades. É preciso deixar claro, no entanto, que nem mesmo os falantes de uma mesma variedade da língua a falam de forma homogênea – podemos dizer que há variação dentro da variação. Esse é um ponto que merece muita atenção na escola para que não se neguem as marcas de identidade cultural das crianças e dos adolescentes.

da racionalidade humana. As crianças de todos os lugares do mundo, de todas as culturas, de todas as classes sociais realizam isso de um e meio a três anos de idade. Isso é uma prova de inteligência. Toda criança aprende uma língua, e não fala um amontoado de sons. (grifo do autor) O letramento como horizonte para a organização do trabalho pedagógico, a relação língua orallíngua escrita e a aprendizagem da escrita

É no processo de interlocução que as crianças e os adolescentes se constituem como produtores de textos orais. A tendência da língua oral é ir-se Acertando e errando, ou meNão se pode afastando da linguagem escrita, lhor, acertando e tentando esperar que uma vez que essa última é alacertar, as crianças vão terada de forma muito lenta, todas as crianças buscando regularidades na enquanto a primeira está em aprendam tudo o língua, ao depreenderem permanente mudança. Embora que lhes é falado, suas normas. Assim, uma seja natural que as crianças, criança é capaz de falar ao mesmo tempo. no começo da aprendizagem, “fazi”, em vez de “fiz”, ou “di”, busquem estabelecer referências em vez de “deu”, e também usar entre a fala (que conhecem) e a escri“desvestir”, para expressar “tirar a ta (que querem conhecer), é importante ir roupa”, porque conhece “tampar/destammostrando às crianças que há vários modos de par”, “abotoar/desabotoar”, entre outras. falar, mas só há um modo de escrever, do ponto A criança e o jovem recriam a linguagem de vista ortográfico. Assim, por exemplo, as seguintes palavras podem ser faladas como está verbal oral falada à sua volta como forma de escrito (ainda que de modo grosseiro), ao lado participação na sociedade. A linguagem é da palavra convencionalmente escrita: recriada por meio dessa mesma participação – os outros, isto é, os seus interlocutores, têm MALDADE > maudadi, maudadji, mardadi, um papel muito importante no processo da madadi, maldadji, mardade criança e do jovem, mas quem refaz a linguaMESMO > mesmu, mermu, meijmo, mezmo, gem é a criança, é o jovem. É o seu trabalho, memu, mezmu agindo com a linguagem e sobre a linguagem, Aprender a escrever sem medo de “errar” é imque os torna seres falantes e participantes no portante. Os tropeços fazem parte de qualquer universo social. processo de aprendizagem. Isso não quer dizer que a professora não deva mostrar às crianças Cagliari (1985, p. 52) afirma que os problemas e os equívocos observados, leAprender a falar é, sem dúvida, a tarefa vando-as a compreender as motivações dos mais complexa que o homem realiza na problemas e equívocos encontrados. Pelo sua vida. É a manifestação mais elevada

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