Perfil - Computer Arts Brasil #70

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48 de estamparia Projeto

que o estĂşdio AP303, comandado por Dandara Almeida e Bruno Biano, criou para a marca Gabriella Negromonte

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Perfil 49 AP303 AP303 Dandara Almeida, formada em Design Gráfico pela Unifacs, e Bruno Biano, que é autodidata, fundaram juntos o estúdio multidisciplinar AP303 há quatro anos. www.cargocollective. com/ap303

O design que é massa O estúdio AP303, do casal Dandara Almeida e Bruno Biano, respira as particularidades de Salvador, na Bahia. As cores intensas espalhadas pela cidade e o mar gigante oferecem uma vista fantástica que reflete na arte de quem vê esses elementos todos os dias. Além disso, a riqueza cultural e a arquitetura da cidade também agregam conteúdo: “Estúdios de outros estados podem gostar de Glauber Rocha ou Caetano Veloso, mas não terão as mesmas referências de quem está em Salvador. Trazemos coisas que são culturais da nossa região e referências que vão além”, fala Biano. Estar distante do eixo Rio-São Paulo é o que apontam como um dos diferenciais: “Mesmo fora do eixo tradicional, conseguimos fazer um trabalho tão bom quanto quem está em São Paulo”. O aparecimento de outros estúdios, em estados diferentes, fez o duo do AP303 acreditar que era possível montar um lugar próprio: “Começamos a ver surgir estúdios em outras regiões do país, como Firmorama, Estúdio Alice e Pianofuzz e vimos que os problemas são sempre os mesmos – prazos curtos, clientes que não entendem a profissão –, a diferença é a velocidade em que as coisas acontecem em São Paulo”, lembra Dandara. Outra qualidade do estúdio é apostar em criações multidisciplinares, que não tenham limites para explorar as técnicas de design. É assim desde a inauguração do AP303, há quatro anos, quando a dupla se arriscou a trabalhar com o espaço que se tinha, na época, para o design em Salvador.

Texto: Marcela Gava//Caio Narezzi

A dupla do AP303 conversou com a equipe da Computer Arts Brasil sobre design e novas plataformas

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01 Projeto que o estúdio AP303 desenvolveu para a marca de canecas Ilustríssima, que adapta boas ilustrações em um suporte diferenciado

02 A convite da produtora Plastilina, do Peru, a dupla do AP303 criou um stop motion para a marca Ajinomoto

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No começo, quando se juntaram, atuavam como freelancers em projetos pequenos. Ao decidirem focar no estúdio, abandonaram o trabalho em agências e escolheram o nome AP303, número do apartamento em que moravam e, naquele momento, também trabalhavam. A estrutura do estúdio começou a ser montada quando a dupla passou a dividir uma sala com uma produtora de amigos em um prédio de três andares, fora do movimento intenso do centro de Salvador. O edifício é um ponto cultural da cidade, revitalizado por um cineasta francês que queria envolver empresas

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de comunicação dentro de um mesmo espaço. Além de ser inspirador, com terraço com vista para mar, é ótimo para estabelecer contatos com outras empresas do ramo cultural. No início, e ainda hoje, conquistaram muitos clientes por meio do lugar. Entre eles, trabalhos gráficos para uma série de videoclipes para o cantor Seu Jorge. Especificamente para esse projeto, o foco principal era a tipografia, coisa que a dupla ressalta tomar bastante cuidado em trabalhos. “Em cada projeto, fazemos pesquisa imagética e de tipográfica. É uma busca intensa pela tipografia perfeita”,

acrescenta Biano. “Somos muito chatinhos com tipografia. Tem hora que temos que dar aula para explicar ao cliente porque comprar determinada tipografia”, conta Dandara. Por isso, comprar fontes é uma forma de investimento, mesmo que o projeto para o qual compraram não seja viabilizado. O espírito de evitar se restringir a um suporte é o que dá liberdade de construir materiais inusitados. “Criamos um stop motion e foi uma descoberta, pois tivemos de fazer direção de arte, roteiro e a parte de direção. Sempre fazemos um


Perfil 51 AP303 03 Animação que criaram junto com o Animatório e a Vetor Zero, para uma campanha da Claro. Eles ficaram responsáveis pelo concept, design de personagens e ilustrações

04 Projeto digital e impresso de uma cartilha de instruções feito para ANEEL e a empresa alemã Giz: "No site usamos RGB com tranquilidade e no impresso usamos Pantone", conta Dandara

05 Identidade visual e revista que criaram para o evento Criativos Dissonantes, que discute áreas multidisciplinares no mercado criativo

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trabalho diferente do outro para explorar mais áreas”, explica Biano. O stop motion autoral foi feito sem verba nenhuma e apresentado como ideia para o cliente, que topou. Mais tarde, esse trabalho foi publicado no Vimeo e, por meio dele, a produtora Plastilina, do Peru, adorou o resultado e os convidou para outro trabalho. A iniciativa de se aventurar em campos novos já os levou a testar técnicas de xilogravura, montagem de papel, trabalhar com internet, identidade visual e estamparia. Por isso, o AP303 pode se vangloriar de que tudo o que mostram no portfólio é

o que realmente fazem. “Os clientes precisam ver que você faz aquilo. Às vezes, você realiza tanta coisa e o cliente não sabe tudo o que você faz. Ele vem com uma indicação de site e acha que você só trabalha com web”, afirma Dandara. Mas, mesmo que haja alguns desafios em trabalhar com várias áreas, por outro lado, os aspectos positivos compensam o esforço. Um deles é a possibilidade de se adaptar à demanda: “O mercado sempre está aquecido e em baixa, o que depende muito da área. Quando abrimos o estúdio, era a época da ilustração. Hoje

esse mercado não está aquecido, mas, em compensação, a parte de web está muito mais”, aponta Dandara. Conseguem trabalhar em várias áreas por acharem que a transição entre impresso e digital possui forma de pensar semelhante. “Costumamos fazer pesquisa na área editorial porque achamos a diagramação e o grid das peças impressas mais interessantes”, explica Biano. Em um projeto recente para uma empresa alemã, em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica, eles tiveram que criar uma cartilha de instruções, impressa e digital, para

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Perfil 53 AP303 07-09 Stop motion que desenvolveram para expandir os limites de criação do estúdio. No fim, o projeto acabou rendendo outro trabalho fora do país

11 Em abril de 2011, foram responsáveis por criar a capa da Computer Arts Brasil e a fizeram toda em papel recortado

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mostrar como as pessoas poderiam ter energia solar em casa. “Fizemos a mesma ideia para os dois processos. O que teve de diferente era ajuste de formato e cor. Mas, enquanto conceito, partimos de um mesmo caminho”, exemplifica Dandara. A dupla admite que ficar na frente do computador cansa e que Biano sente falta de tomar as ruas. “Estamos muito acostumados a criar a gente, o computador e o cliente”, opina Dandara. E é por isso que a dupla sente necessidade de “pegar o pincel e o lápis e fazer algo na rua”, como acrescenta Bruno. O contato com o

publico é algo que fortalece o trabalho e alimenta novas abordagens. Por isso, acreditam que a colaboração de outros parceiros e estúdios só acrescenta. “Somos em quatro, mas já chegamos a montar equipe de 20 pessoas. Queremos ter controle e não virar atendimento", coloca Dandara. O que achava impossível quatro anos atrás se tornou realidade. E o boom atual do design é bom, não apenas para se estabelecerem no mercado, mas para o indivíduo comum: “Design não é só uma marca, é o que acontece ao seu redor. Seu celular tem

design, sua escova de dentes também. Se torna algo tão presente que não é preciso dizer ‘Isso é design’", diz Biano. “Estamos felizes com a realidade que conseguimos. O que a gente luta todo dia aqui é para tentar fazer o melhor, porque rico a gente não vai ficar mesmo [risos]”, fala Dandara. Com tanto trabalho, o próximo passo, quem sabe, é fechar o estúdio para tirar um ano sabático: “Seria o máximo”, brincam.

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