ÍSIS SEM VÉU - VOL.III

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fazê-\o, sem distinção de castas ou riquezas, nas grandes verdades até então mantidas em segredo pela egoísta classe bramânica. Gautama Buddha foi o primeiro, na história humana, quem, movido pelo generoso sentimento, reúne toda a Humanidade num único amplexo, conüdando o "pobre", o "aleijado" e o "cego" à mesa do festival real, da qual excluiu aqueles que haviam até entâo se sentado a sós, em orgulhoso isolamento. Foi ele quem, com mão enérgica, abriu pela primeira vez apoÍta do santuiírio ao pária, ao decaído e a todos os "aflitos pelos homens" vestidos em ouro e púrpura, porém que eram amiúde mais dignos de piedade do que os proscritos a quem apontavam desdenhosamente o dedo. Tudo isso fez Siddhârtha seis séculos antes de outro reformador, tão nobre quanto bondoso, embora menos favorecido pela sorte, em outra terra. Se ambos, conscientes do grande perigo de fornecer a uma populaça inculta a espada de dois gumes do conhecimento qw dó poder, deixaram na mais profunda sombra o quadrante mais interno do santuário, quem, familiarizado com anattrÍeza humana, poderá censurá-los por isso? Mas, ao passo que um agiu por prudência, o outro foi forçado a adotar esse meio. GautaÍìa deixou intacta a parte esotérica e mais perigosa do "conhecimento secreto", e viveu até a idade avançada de oitenta anos, com acetteza de ter ensinado as verdades essenciais, e de a elas ter convertido um terço do mundo; Jesus prometeu a seus discípulos o conhecimento que confere ao homem o poder de produzir milagres ainda maiores do que aqueles que ele fzera, e molreu, deixando apenas uns poucos homens fiéis, a meio caminho do conhecimento, para lutarem com o mundo ao qual não podiam comunicar senão o que eles próprios conheciarn pela metade. Mais tarde, seus seguidores desfiguraram a verdade ainda mais do que eles próprios o haviam feito. Não é verdade que GautaÍrÌa nunca ensinou qualquer coisa a propósito da vida futura, ou que ele negou a imortalidade da alma. Perguntai a qualquer budista inteligente quais sáo suas idéias sobre o Nirvâna, e ele expressar-se-á como o fez o conhecido Wong Ching Foo, o orador chinês, agora em viagem a este país, numa recente conversa conosco sobre o Níepang (Nirvâna). "Esse estado", observou ele, "segundo todos entendemos, signif,ca uma reuniáo final com Deus, que coincide com a perfeição do espírito humano por sua libertação final da matéria. É exatamente o contrário da aniquilação pessoal".

O Nirvâna significa a ceÍÍeza da imortalidade pessoal no Espírito, r'ão na Alma, que, como uma emanação finita, deve certamente desintegrar suas partículas - um composto de sensações humanas, paixões e anseios por alguma espécie objetiva de existência - antes que o espírito imortal do Ego esteja completaÍìente liwe, e por conseguinte cefto de não mais sofrer qualquer forma de transmigração. E como pode o homem atingir esse estado, enquanto o Upiidâna, esse estado de anseio pelavída e mús vida, não desaparecer do ser senciente, do Ahamkarrz vestido, contudo, com um corpo sublimado? É o "Upâdâna", o intenso desejo, que produz a VONTADE, e é avontade que desenvolve aforça, e esta gera amatéia, ou qualquer objeto provido de forma. Assim, o .E6o desencarnado, moüdo por esse desejo imortal que nele reside, fornece inconscientemente as condições de suas sucessivas autoprocriações em várias formas, que dependem de seu estado mental e de seu karma, as boas e más ações de sua existência anterior, comumente chamadas de "mérito e demérito". Eis por que o "Mestre" recomendava a seus mendicantes o cultivo dos quatro graus de Dhyrâna, o nobre "Caminho das Quatro Verdades", i.e., essa aquisição gradual da indiferença em face da vida ou da morte; esse estado de autocontemplaçâo espiritual durante a qual o homem perde 277


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