ÍSIS SEM VÉU - VOL.III

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Um padre cristão não estava mais ao abrigo de tun acidente do que

um

Mríorris pagão. Se durante os aponheta, ou arcanos preliminares, existiam algumas práticas que devem ter chocado a pudicícia de um convertido cristão - embora possamos duvidar da sua sinceridade a esse respeito -, o seu simbotsmo místico era suficiente para eliminar da representação toda carga de licenciosidade. Mesmo o episódro da Matrona Baubo - cujo modo excêntrico de consolaçáo foi imortilizado nos mistérios menores - é explicado de uma maneira muito natural pelos mistagogos imparciais. Ceres-Deméter e as suas peregrinaçóes terrestres à procura de sua filha são as representações evemerizadas de um dos assuntos mais metafísico-psicológicos jamais tratados pela mente humana. É uma máscara para a narrativa transcendente dos videntes iniciados; a visão celestial da alma liberada do novo iniciado descrevendo o processo pelo qual a alma que ainda não encarnou desce pela primeira vez à matéia. "Bem-aventurado aquele que viu essas coisas comuns do mundo inferior; ele conhece tanto o fim da üda quanto a sua origem divina em Júpiter", diz Píndaro12a. Taylor demonstra, com base em mais de um iniciado, que os "espetáculos dramáticos dos mistérios menores eram destinados pelos antigos teólogos, os seus autores, a representar de wa maneíra oculta a condição da alma impura investida de um corpo terrestre e envolvida por uma forma de naÍuÍeza material e física (. . .) que, na verdade, a alma, até ser purificada pela f,losofìa, morre após unir-se ao corpo (. . .)"12s. O corpo é o sepulcro, a prisão da alma, e muitos padres cristãos admitiam com Piatáo que a alma é punida por sua união com o corpo. Esta é a doutrina fundamental dos budistas e de mútos brâmanes também. Quando Plotino observa que "quando a alma desceu para a geração [da sua condição semidivinaf, ela participa do mal e é levada para muito longe, num estado oposto à sua pureza e integridade primitivas, para ser completamente imersa em algo que nada mais é do que uma queda num lamaçal"tza, ele está apenas repetindo os ensinamentos de Gautama Buddha. Se devemos acreditar nos iniciados antigos, devemos aceitar a sua interpretação dos símbolos. E se, além disso, vemo-los coincidir perfeitamente com os ensinamentos dos maiores filósofos e se vemos que o que sabemos simboliza o mesmo signihcado nos mistérios modernos do Oriente, entáo devemos acreditar que eles têm razão. Se Deméter era úda como a alma intelectual, ou antes a alÍna astral, metade emanação do espírito e metade corrompida pela matéria por uma sucessáo de evoluções espirituais - podemos compreender facilmente a significaçáo da Matrona Baubo, a Encantadora, que, antes de conseguir reconciliar a alma, Deméter, com a sua nova posição, viu-se obrigada a assumir as formas sexuais de uma criança. Baubo é a ftntéria, o corpo físico; e a alma astral intelectual, ainda pura, não pode ser atirada em sua nova prisão terrestre a não ser que se apresente sob a forma de uma criança

inocente. Até este momento, Deméter, ov Magna-moter, a AIma, vaga e hesita e sofre; mas, tendo bebido da poçáo mágica preparada por Baubo, esquece as suas penas; por um certo tempo ela se separa dessa consciência inteligente mais elevada que possuía antes de entrar no corpo de uma criança. A partir desse momento ela tentará reencontrá-la; e quando a idade da razão chega a uma criança, a luta - esquecida durante os anos de infância - recomeça. A alma astral está colocada entre a matéria (o corpo) e o intelecto superior (o seu espírito imortal ot nous). Qual dos dois ela conquistará? O resultado da batalha da vida reside na Tríade. É uma questão de alguns anos de desfrute físico na Terra e - se ela cometeu abusos - de dissolução do 102


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