Vox objetiva

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Agosto/14 • Edição 62 • Ano VI • Distribuição gratuita

NOVOS CONTORNOS : Com morte de Campos, Marina assume candidatura e assusta PT e PSDB

um tiro

no escuro

O dilema de proibir ou liberar a maconha. Um assunto dividido entre o preconceito e a polêmica

SINAL DOS TEMPOS Indústria editorial investe em tecnologia para atrair jovens leitores

RONALDINHO GAÚCHO Uma história de recomeço e triunfo no Atlético Mineiro

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“Mulher virtuosa, aonde encontrar...” - Provérbios. 31 2 | www.voxobjetiva.com.br


Rua Brumadinho, 210 Prado - BH/MG CEP: 30410-120 (31) 3786.0720

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Editorial Na dúvida, aprendemos

Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060

Os especialistas sabem que nada sob a face da terra se iguala à inconstância do comportamento humano. Estamos sujeitos a todo tipo de influência, desde as orgânicas até as de convivência ou de necessidades financeiras ligadas à sobrevivência. Estudos da psicanálise e da psiquiatria confirmam que ações e visões coletivas terminam quando a individualidade é exercitada nas experiências cotidianas. O chamado controle das massas deixa de existir quando as pessoas usam a inteligência para entender o que se passa com elas. Essa capacidade de aprendizado é um dos pontos mais importantes para o desenvolvimento e a sustentação de uma democracia. Votar bem ou mal leva o eleitor a se tornar mais exigente, menos confiante em promessas e mais ou menos propenso a ser conquistado por grupos estabelecidos no poder. Essa é a realidade do Brasil nas eleições deste ano. Temos um brasileiro insatisfeito, arredio com a política e disposto a mudar, caso seja convencido de que existe um projeto que garanta um futuro melhor e com menos corrupção. As primeiras pesquisas eleitorais que mostravam até 40% de indecisos corroboram essa ideia. Naturalmente esse não é um processo simples que se estenda a todos os 200 milhões de brasileiros. Quanto maior a capacidade de entender o mundo, mais rápida será a compreensão da importância de um voto. A morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos trouxe tristeza pela forma como tudo aconteceu. Por outro lado, a tragédia chamou a atenção para o futuro em jogo do país e retirou do marasmo a campanha política estruturada apenas em ataques pessoais ou partidários. A entrada de Marina Silva no jogo mudou por completo o desânimo instalado e provocou um reposicionamento dos candidatos tidos como favoritos. O fim da polarização PT x PSDB obriga discursos eleitorais mais criativos e propositivos. Marina pode vencer? Sim e não. Os números e as intenções de voto na ex-senadora refletem o impacto de uma chegada repentina que se juntou à insatisfação com os rumos do país. O destino de Marina vai depender de como ela vai estruturar o discurso e tentar convencer o eleitor de que pode governar bem. Se antes o jogo político era de completa indefinição, agora todas as tentativas de prever resultados com base em pesquisas será exercício de adivinhação. Vivemos um momento que podemos chamar de ‘insatisfação criativa’. Nada muda ou tudo pode mudar diante do que for proposto e definido como fundamental para a escolha de cada eleitor.

Editor adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Shutterstock Estagiária: Daniela Rebello l Reportagem: André Martins, Bárbara Caldeira, Cassio Teles, Daniela Rebello, Diane Duque, Haydêe Sant’Ana, Rodrigo Freitas, Tati Barros, Vinicius Grissi, | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br

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olhar bh

Ponto de encontro - Mercado Central: 85 anos Foto: Felipe Pereira |5


sUMÁRIO André Martins

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sxc.hu

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Ricardo Stuckert / PR

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HUMBERTO WERNECK Escritor mineiro fala sobre jornalismo, seus trabalhos e o homérico projeto de elaborar a biografia do poeta maior, Drummond

capa

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CENÁRIO DE INCERTEZAS A trágica morte de Eduardo Campos trouxe o fator ‘indefinição’ à corrida pelo Planalto. PT e PSDB veem Marina como ameaça

Salutaris

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NOVA DIREÇÃO BH Airport assume a administração do Aeroporto de Confins

ENTRE AMIGOS Conhecer o Brasil de forma espontânea e informal: possibilidade oferecida aos ‘gringos’ dispostos a encontrar amigos... de aluguel

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IMPASSE LEGAL A legalização da maconha poderia reduzir os impactos devastadores da guerra contra as drogas no Brasil?

O SOM DA SAÚDE Os benefícios da música para o desenvolvimento infantil e o combate aos efeitos do tempo sobre o corpo

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‘Uma vez até morrer’ R10 deixa o Clube Atlético Mineiro inspirado por mudar a história do Galo e de uma torcida de fanáticos


Bruno Cantini

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Divulgação

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DNA DO SUCESSO Grife mineira GIG conquista celebridades nacionais e internacionais

kultur

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MERCADO EXIGENTE Para atrair as atenções dos pequenos, indústria editorial sucumbe à tecnologia Com um show de efeitos visuais, filme faz um tributo à série Star Wars e a histórias em quadrinhos

IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira Os quóruns nas assembleias condominiais

justiça • Robson Sávio Mídia e eleições

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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci

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Meteorologia • Ruibran dos Reis

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GUARDIÕES DA GALÁXIA

Artigos

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Montanha russa

As condições do tempo e a história

crônica • Joanita Gontijo Ouvidos não têm tampas

Gastronomia

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RECEITA – Chef Fabio Pontes

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VINHOS – Nelton Fagundes

Lombo em crosta de castanha-baru Consumo de vinhos no Brasil |7


Maurilo Caureto

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“Literatura é sempre um voo cego” Fã de Carlos Drummond de Andrade, jornalista Humberto Werneck se inspira com o novo e mais audacioso projeto da carreira: dar vazão à vida e à obra do ‘poeta maior’ em forma de biografia Haydêe Sant’Ana

A

habilidade e a sutileza na construção do texto são marcas do ofício de Humberto Werneck. Mineiro radicado em São Paulo há mais de 40 anos, o jornalista tem mais de dez livros publicados. Já versou sobre grandes escritores mineiros em ‘O desatino da rapaziada’, o talento com marcas de genialidade de Chico Buarque em ‘Chico Buarque – letra e música’, sobre a vida comum na coletânea de crônicas ‘Esse inferno vai acabar’. Jornalista e escritor por vocação, Humberto Werneck formou-se em Direito. Mas não exerce a profissão. Começou a carreira escrevendo para o Suplemento Literário do jornal Minas Gerais a convite do escritor Murilo Rubião. Como jornalista, trabalhou nas redações de importantes jornais e revistas do país: Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, Veja, Isto é e Playboy.

segundo ano, faltando dois meses para terminar o curso, fui preso numa manifestação em Belo Horizonte. Fiquei preso 17 dias, fui absolvido, mas isso sujou a minha ficha. Eu continuei o curso de Direito, um pouco por pressão familiar, mas não queria ser advogado. Nessa época, o escritor Murilo Rubião tinha criado o Suplemento Literário do (jornal) Minas Gerais. Ele me chamou primeiro para colaborar e foi assim que comecei. Em maio de 1968, o Rubião me fazia a proposta para trabalhar na redação. Eu fui e tomei gosto.

‘Cada um tem um modo de ver diferente. Não existe um olhar unânime sobre a realidade’

Atualmente Werneck escreve crônicas para o Estadão, de São Paulo, enquanto desenvolve o projeto da biografia do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. Em entrevista exclusiva à Vox Objetiva, Werneck exibe, sem pedir nada para si, serenidade e inteligência ao falar sobre a carreira, os livros e sua relação com o jornalismo e a literatura.

Eu me formei em 1969. Na época havia um jornal revolucionário no Brasil: o Jornal da Tarde. Revolucionário na paginação e no texto. Era um must na imprensa brasileira trabalhar no Jornal da Tarde. Como a primeira redação foi montada com um time de Minas Gerais, muitos mineiros foram para lá. Quando o jornal precisava, eles chamavam mais pessoas. O jornal era produzido desde 1966. Eu fui para lá em maio de 1970. E por lá fiquei. Você tem uma relação muito forte com a literatura nos seus livros. Alguns dizem que seu trabalho se classifica como jornalismo literário. Como é trabalhar com essas duas vertentes?

Como você começou sua carreira no jornalismo? Foi uma coisa completamente acidental. Meu plano profissional era ser diplomata, como forma de viabilizar meu verdadeiro trabalho, que é a literatura. Enfim, comecei a cursar Direito. Só que no final do

Eu sou cada vez menos jornalista. Eu sou cronista semanal faz pouco mais de sete anos. O trabalho do cronista é muito bebido na subjetividade, na pessoalidade, tudo o que, segundo os manuais, o jornalismo não deve ser. Eu fiz, sim, jornalismo literário.


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André Martins

Eventualmente faço e farei. Para mim, jornalismo literário é, pela ordem, jornalismo; em segundo, literário. Jornalismo literário, por mais literário que seja, tem a obrigação de andar no caminho estrito da realidade verificada, apurada, sem nenhuma ficção. O jornalismo que fui fazendo nos dois lugares pelos quais passei era um jornalismo que buscava um ‘olhar’ meu. Eu nunca consegui fazer um jornalismo que fosse essa coisa seca, meio robótica, de olhar a realidade como se fosse uma entidade desprovida de emoções e de características pessoais. Existe uma frase do Drummond que explica isso: ‘Se eu morrer, e por certo que vou, morre comigo certo modo de ver’. Ninguém tem o seu modo de ver. Ninguém teve nem terá. Então o olhar é a coisa mais singular que existe. Eu acho que o leitor quer isso. Eu busco muito, quando leio um jornal, uma revista, o ‘olhar’ de quem escreveu aquilo, ainda que não conheça a pessoa.

Eu acho que o jornalista tem como obrigação a busca pela isenção, pela objetividade, mas ele não pode abdicar do seu ‘olhar’. O olhar pessoal é o seu modo de ver. Algumas pessoas confundem olhar pessoal com dar palpite, opinar, escrever na primeira pessoa. Não é isso. É o seu modo de ver. Cada um tem um modo de ver diferente. Não existe um olhar unânime sobre a realidade.

A característica do jornalista é ter um ‘olhar diferenciado’?

A ideia do livro partiu de você mesmo ou foi do Chico?

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Seu primeiro livro publicado foi sobre a vida e obra de Chico Buarque. Esse livro é uma biografia ou são histórias sobre a vida do Chico? Eu não chamo de biografia porque é um texto breve. O livro é de 1989, mas eu refiz esse livro (acho que em 2006), quando passou a se chamar ‘Tantas palavras’. O texto aumentou 75%, mas mesmo assim acho que ainda é pouco para se chamar de biografia. Ainda mais porque é uma coisa autorizada. Eu chamo de uma reportagem biográfica.


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A ideia não foi minha não; foi do Lúcio Soares, editor da Companhia das Letras. A ideia era publicar todas as letras do Chico. Mas queriam alguma coisa a mais. E me chamaram para poder escrever. Eu achei que seria ‘legal’ contar a história dele. É uma reportagem no limite de uma coisa atualizada dentro do jornalismo, mas acho que tem ali o tal ‘olhar’. Você chegou a retirar da gráfica o seu primeiro livro. Por quê? Quando eu fui trabalhar no Suplemento Literário, o Murilo Rubião passou a me incentivar a estrear em livro. Ele foi uma figura central na minha história. Foi meu padrinho na literatura e na vida. Então eu reuni alguns dos meus contos para publicar. Eu tinha uma ambição muito grande. Eu não queria ser nada menos que um superescritor. Mas desconfiei, logo de cara, que eu não era nada daquilo. Eu montei um livro com 11 contos. Chamava-se ‘Primeiro movimento’. O Murilo levou para a gráfica. Quando percebi que o livro ia rodar, eu pensei: ‘Puxa vida! Eu não sou Tolstói. Então eu não quero ser Humberto Werneck’. Foi um orgulho de jovem. Eu poderia ter publicado o livro porque, quando você entra em uma coisa importante, você deve completar o gesto. Quando eu fiz 60 anos, pensei em publicar. Eu peguei os contos e os reuni num livro que chamei de ‘Pequenos Fantasmas’. Ele teve uma edição de 500 exemplares numerados, sem edição extra.

“No jornalismo, a palavra é um meio de você dizer alguma coisa. Na literatura, a palavra é o fim em si”

Você acha que existe maturidade literária? Há um momento certo para começar a escrever? Existe uma maturidade, mas ela não cessa. Então, se você for esperar que ela se complete,... é como aquele negócio do Aníbal Machado: ‘Jamais serei, nunca serei inaugurado’. Então eu acho que é preciso escrever, escrever, escrever, porque a única maneira de avançar é fazendo. Eu acho que a maturidade é uma coisa conquistada. Como disse João Cabral (de Melo Neto): ‘Escrever jamais é sabido’. O fato de você ter escrito um poema, um livro, não resolve o problema de escrever o seguinte. Cada poema, cada livro é uma coisa nova. O livro ‘Desatino da rapaziada’ mostra como alguns escritores mineiros se renderam à paixão pelo jornalismo, fazendo o caminho de um para o outro. Você acredita que a mistura entre literatura e jornalismo seja uma fórmula de sucesso para criar grandes escritores? Não. Acho que não. O que existe em comum entre jornalismo e literatura é a palavra. Mas a maneira como você usa a palavra na literatura é completamente diferente da que você usa no jornalismo. No jornalismo, a palavra é um meio de você dizer alguma coisa. Na literatura, a palavra é o fim em si. O jornalista ou o ensaísta escreve porque sabe. Ele foi lá, olhou, entrevistou, pesquisou, batalhou. Ele escreve em cima de uma coisa que recolheu, processou, pensou. Na literatura, por mais que você programe o seu romance, livro, a literatura é sempre, em medida maior ou menor, um voo cego. Muitos escritores fugiram do jornalismo com medo de haver um contágio, não só da prosa jornalística, mas do olho jornalístico, que são coisas meio objetivas, impessoais. De onde surgiu o interesse em escrever a biografia de Jayme Ovalle, um poeta e compositor brasileiro não muito conhecido no cenário nacional? Olha, o Jayme Ovalle foi um poeta cujo nome eu via desde a adolescência nos livros, mas sempre na periferia da cultura brasileira. O que me interessou foi que eu o via como uma luz refletida na obra e na pessoa de vários artistas importantes. Então eu precisava achar a fonte dessa luz. Aí eu me aprofundei na vida dessa pessoa. Era uma figura absolutamente extraordinária e trágica porque era um cara cheio de arte, mas não tinha os meios para formalizar essa arte. Não basta ser um grande artista. Você tem que estar preparado para deixar vazar essa arte; para colocar isso para fora. | 11


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Por que o nome ‘O santo sujo’? Porque o Ovalle era um cara místico. Alguns amigos, como o Manuel Bandeira, referiam-se a ele como ‘o místico’. Ele tinha uma religiosidade muito pessoal que misturava cristianismo, umbanda, budismo e outras religiões. Ele era um homem, portanto, de muita fé religiosa; um cara muito místico. Ao mesmo tempo, era um cara do mundo, da carne. Morou na zona boêmia do Rio de Janeiro, no Bonfim. Então ele era sujo na medida em que se sujava na vida. Você é um mineiro radicado em São Paulo, mas continua trabalhando com temas recorrentes a Belo Horizonte em suas obras. Como é sua relação com a cidade? Você sente saudades de BH? A minha relação com Belo Horizonte era péssima quando eu saí. A cidade era um lugar moralmente abafado. Esse fechamento corresponde um pouco ao fechamento moral da sociedade mineira. A minha Belo Horizonte é uma; esta aqui é outra. É uma coisa completamente diferente. Eu não morro de saudades da outra. Quando vou a Belo Horizonte, a sensação que tenho é como se eu estivesse chegando a outro lugar erigido em cima das ruínas de coisas boas ou ruins. As pessoas acharam que meu último livro de crônicas tem um viés muito memorialístico. Eu não moro aqui há 44 anos. É gozado que à medida que aumenta o tempo de distância física, BH esteja mais presente nas coisas que eu escrevo hoje do que nas coisas que escrevi na minha juventude.

Não. Eu parei porque teria dificuldades para levar o projeto adiante. Depois eu enterrei de vez, quando surgiu a proposta de fazer a biografia de Drummond. O Manuel Bandeira é um superpoeta, mas o meu poeta mesmo é o Carlos Drummond. É um poeta que fala por mim. Eu penso no Drummond em circunstâncias da vida prática. Ele está no meu cotidiano mais como referência de vida do que como citação literária. Se eu conseguir fazer uma boa biografia dele, vou me dar por resolvido como biógrafo. Terei feito uma biografia de uma figura superconhecida, um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, e terei feito a biografia de uma pessoa que está em outro polo; um desconhecido: o Jayme Ovalle. 12 | www.voxobjetiva.com.br

André Martins

Você está trabalhando na biografia de Manuel Bandeira?


artigo

Kênio Pereira

Imobiliário

Os quóruns nas assembleias condominiais Para que as decisões tomadas em assembleia sejam válidas, é necessário que seja observada a presença de um número mínimo de condôminos que representem a coletividade. Essa quantidade de participantes é conhecida como quórum.

O quórum que exige maioria absoluta leva em consideração a totalidade do condomínio. São computados os presentes e ausentes na assembleia, ou seja, 50% mais um do número total dos condôminos.

A falta de conhecimento dos condôminos favorece o surgiA maioria simples é a que corresponde a mais da metade mento de tumultos nas assembleias. Durante as reuniões, a dos votantes que estão presentes, ou seja, 50% mais um dos falta de diálogo e a intolerância favorecem a aprovação de departicipantes da assembleia. A votação pela maioria simples liberações que ferem a lei. Esse cenário pode gerar transtoré utilizada, por exemplo, para eleição de síndico. É impornos. A título de curiosidade, os resultados tante implantar a assembleia de forma mais de uma assembleia condominial podem ampla na convenção, pois prestigia quem “A falta de ser anulados judicialmente ou por delibecomparece. Dar força aos ausentes atraparação em outra assembleia. conhecimento dos lha a condução do condomínio. Os quóruns são classificados como maioria qualificada, absoluta ou simples. As disposições gerais estão previstas nos artigos 1.352 e 1.353 do Código Civil. As demais matérias estão sujeitas ao quórum qualificado previsto em outros artigos ou na convenção.

condôminos favorece o surgimento de tumultos nas assembleias”

Para que a assembleia possa ser realizada, a primeira convocação deve reunir o número de condôminos correspondente ao da metade das frações ideais do condomínio. Se o voto for por unidade, o número deve equivaler a 50% do total dos votos. Se não for verificado esse quórum, deve haver a segunda convocação. As decisões dos assuntos previstos na pauta serão tomadas, em regra, pela maioria dos votos dos condôminos presentes na assembleia. No entanto, existem situações específicas, que exigem quóruns especiais no Código Civil ou na convenção. Estes devem ser observados cuidadosamente pelo condomínio em suas deliberações. Caso contrário, poderá o condômino que se sentir prejudicado contestar a validade da deliberação.

A maioria qualificada corresponde ao mínimo de votos estabelecido em relação ao total de membros de um condomínio. O número deve ser sempre superior ao da maioria absoluta. A maioria qualificada mais comum é a de dois terços ou três quartos, ou seja, sempre de forma fracionada. Cito como exemplo um edifício com 11 condôminos. O quórum de 2/3 será de 8 condôminos. Deve-se levar em consideração a totalidade dos presentes e ausentes que poderiam participar da assembleia de forma legítima. A aprovação de deliberação com o quórum irregular pode resultar na nulidade das decisões tomadas em assembleia. Para evitar conflitos, é importante que o condomínio atualize a convenção com uma assessoria jurídica especializada. Ela poderá estipular, de forma correta, os quóruns na convenção.

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br | 13


Alexandre Severo

podium

O sonho da terceira via

Herdeiro político de Miguel Arraes e querido por políticos da direita, Eduardo Campos seria a possível aposta de Lula para a Presidência da República em 2018 Rodrigo Freitas

A

inesperada queda do avião Cessna Citation 560X interrompeu a carreira de um promissor e jovem homem público do Brasil. Eduardo Henrique Accioly Campos, de 49 anos, morreu pregando a ‘nova política’. O acidente em Santos silenciou o neto do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e pôs uma interrogação sobre o projeto de poder do PSB. Herdeiro político de um dos líderes da esquerda do país, Campos se diferenciava pela personalidade própria. O político caminhava, como poucos, sobre o fio de uma navalha que separa a esquerda da direita. Em dois mandatos à frente do governo pernambucano, ele reduziu a oposição a pó ao lidar com desenvoltura entre as duas correntes. 14 | www.voxobjetiva.com.br

Pragmático, Campos pensava a política conforme as alianças que tecia. O pernambucano impulsionava os programas sociais e defendia uma economia mais liberal. Por causa disso, ele tinha facilidade para se relacionar com petistas e tucanos. Em vários estados e em cidades brasileiras, o PSB se aliou às duas legendas majoritárias neste pleito e no último. Entre a classe política, um pensamento é quase unânime: o país pode ter perdido o seu mais promissor político. Embora a vitória de Campos nas eleições de outubro deste ano fosse pouco provável, sua candidatura servia de laboratório e trampolim políticos para 2018. Havia quem apostasse no pernambucano


METROPOlis

como o candidato do ex-presidente Lula para a próxima eleição geral. Os dois romperam relações políticas no início do ano, mas eram amigos.

Aluísio Moreira / PSB

“O Lula sempre gostou do Eduardo Campos e via nele um sucessor. O pessebista era um político jovem e de personalidade própria. Engana-se quem acredita que o Lula deseja voltar em 2018. Ele sempre viu em Campos o nome ideal para a Presidência, embora não fosse do PT. Mesmo após o rompimento político entre eles, Lula manteve esse pensamento”, garante o sociólogo e cientista político Rudá Ricci, profundo conhecedor dos bastidores do poder. Outros petistas, como Fernando Pimentel, também guardavam respeito por Campos. “Nós perdemos um homem honrado que dedicou a vida ao povo pernambucano e ao país. A classe política brasileira está consternada. Eduardo deixou amigos e companheiros em vários setores da vida política e social do Brasil, independentemente de partidos”, ressaltou o candidato do PT ao governo de Minas. Segundo Pimentel, o pessebista foi uma “pessoa afável, inteligente e cordialíssima, além de um grande quadro político”. Na outra ponta da poder, os tucanos também lamentaram o fato de um político jovem ter sucumbido à vida precocemente. “Foi realmente uma tragédia. Eduardo Campos era um político moderno e um homem gentil e elegante nas posturas políticas que adotava. Trata-se de uma perda enorme para o país”, observou o candidato do PSDB ao governo de Minas, Pimenta da Veiga. “A última vez que nos encontramos foi em um aeroporto. O Eduardo fez questão de falar um pouco comigo. Eu achei muito interessante a conversa que tivemos. Nós tínhamos nos visto anteriormente em um hotel no exterior, por acaso. Conversar com o Eduardo era algo muito agradável porque ele foi um homem de muito conteúdo intelectual. Nós também tínhamos muitas afinidades”, acredita o tucano. O sentimento particular de inúmeros correligionários do PSB se misturou à sensação de perda política que teve o partido. Homem de confiança de Campos em Minas Gerais, o deputado federal Júlio Delgado chorou copiosamente ao saber da trágica morte do líder da legenda, ainda dentro da Câmara dos Deputados. O pai do parlamentar e candidato do PSB ao governo de Minas, Tarcísio Delgado, destacou a intervenção de Campos na disputa pela vaga no Palácio Tiradentes. “O Eduardo foi fundamental para a minha candidatura. No minuto final, ele decidiu que o partido precisava de alguém que carregasse a bandeira da legenda em Minas. A opção dele

Depoimento do repórter Eduardo Campos está para Pernambuco assim como Aécio Neves está para Minas Gerais. Os dois têm trajetórias parecidas e carregam a política no sangue. Eles foram governadores bastante reconhecidos em seus estados. Há exatamente um ano, este escriba perambulou pelo sertão pernambucano em busca de registros das obras de transposição do rio São Francisco. Tive a oportunidade de conversar com pessoas de diferentes classes sociais. O apoio ao trabalho feito por Eduardo Campos era praticamente unânime em Pernambuco: ia dos políticos aos sertanejos castigados pela seca. O esforço do ex-governador para construir escolas e hospitais e quadruplicar os investimentos no estado tinha reconhecimento nas cidades e no campo. Campos não resolveu todos os problemas de seu estado natal nem teria como fazê-lo. No entanto, o trabalho do socialista contribuiu consideravelmente para o desenvolvimento pernambucano. Em 2010, as urnas pareciam indicar o que os meus olhos constataram em 2013. Campos foi reeleito governador com 82% dos votos válidos. Recentemente, a comoção social causada em Pernambuco com a morte do socialista confirmou a minha observação.

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Rumo à presidência Eduardo Campos tinha a ambição de chegar ao Palácio do Planalto até 2018

Arquivo pessoal

Divulgação / PSB

1985

1995

Militância estudantil

Recorde nas urnas

Aos 20 anos, Eduardo se formou em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFP), local onde iniciou sua atuação política.

Em seu segundo pleito, Campos foi eleito o deputado federal mais votado de Pernambuco, com 133 mil votos.

1965

1990

1995

Um novo ‘Arraes’

Estreia eleitoral

Retorno a Pernambuco

Eduardo Henrique Accioly Campos nasceu no dia 10 de agosto, no Recife (PE). Ele era filho da advogada Ana Arraes com o escritor Maximiano Accioly Campos.

Eduardo Campos disputou sua primeira eleição e foi eleito deputado estadual em Pernambuco.

Abriu mão do mandato na Câmara dos Deputados para assumir a Secretaria de Fazenda de Pernambuco até 1998.

foi por mim. Nesse momento, senti que devia aceitar a indicação, mesmo não tendo traçado planos para ser o candidato”, confessa o socialista. A vida pessoal de Campos explica a sensibilidade do socialista no trato político. Pai de cinco filhos, o pernambucano fazia o possível para estar perto da família e ser um marido presente. Mesmo com as atribuições impostas pela responsabilidade política, o socialista mantinha um relacionamento de 32 anos com a esposa Renata Campos. O casal se conheceu ainda na infância, na casa do tio de Renata e falecido escritor Ariano Suassuna. Na adolescência, os dois se apaixonaram e começaram a namorar. O casamento veio naturalmente, assim como os filhos. O mais novo rebento, Miguel, tem apenas sete meses. Ele nasceu com síndrome de Down e recebeu esse nome em homenagem ao bisavô Miguel Arraes. A presença de Campos na família era proeminente. Não à toa, vários políticos, ao prestarem solidariedade aos entes do pessebista, lembravam-se dos filhos do casal e da ‘dona Renata’ – forma pela qual o socialista se referia à esposa. “Eduardo Campos era uma pessoa de bem, um pai de família e um cidadão que tinha muito a contribuir com a democracia brasileira”, ressalta o candidato do PSC à Presidência da República, Pastor Everaldo. A pre16 | www.voxobjetiva.com.br

sidente Dilma Rousseff fez coro às palavras do social cristão. “Ele foi um pai e um marido exemplar. Nesse momento de dor profunda, os meus sentimentos estão com os seus filhos amados e sua companheira de vida, Renata. Estou tristíssima”, confessa a petista. As opiniões divergentes de Dilma e Campos se tornaram pequenas perto da relação construída por eles ao longo dos anos. Afinal, foi-se um amigo que, ao seu modo, nunca desistiu do Brasil.

REVIRAVOLTAS E INDEFINIÇÕES A candidatura quase ‘forçada’ de Marina Silva à Presidência da República pelo PSB, formalizada após a trágica morte de Eduardo Campos, colocou uma pulga atrás da orelha de dirigentes do PT e do PSDB. Até então, ambos polarizavam a atenção do eleitorado. Desde o primeiro momento, os líderes partidários – que reverberam as opiniões dos candidatos Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) – perceberam que a eleição deste ano se tornou a mais imprevisível dos últimos tempos. Eles entendem que Marina carrega consigo um capital pessoal dos mais interessantes: ela tem uma história pessoal de luta que, em alguns momentos, assemelha-se à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Reprodução

2004

2006

2014

Jovem no Executivo

Chefe do Estado

Terceira Via

Eduardo Campos foi nomeado ministro da Ciência e Tecnologia pelo então presidente Lula e revisou o programa nuclear brasileiro.

O político foi eleito governador de Pernambuco no segundo turno, com 65% dos votos válidos.

O neto de Arraes deixou o governo de Pernambuco para se candidatar à presidência pelo PSB, tendo Marina Silva como vice.

2005

2010

Líder socialista

Renovação do poder

Campos foi escolhido como novo presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Eduardo Campos foi reeleito governador de Pernambuco com 82% dos votos válidos.

Diante dos gravadores e das câmeras, os líderes de PSDB e PT tentam mostrar que as candidaturas seguem inabaláveis e firmes. Mas, nos bastidores, a avaliação é bem diferente. As razões também são diversas. Dilma teme o que algumas pesquisas já mostraram: Marina é uma adversária fortíssima num eventual segundo turno. Até pesquisas internas do PT mostram isso. Marina abarcaria votos de indecisos e dos admiradores do PSDB. Do lado tucano, a maior preocupação de Aécio é não conseguir chegar nem ao segundo turno. O candidato vive uma incômoda dicotomia: ele tem de caminhar sobre uma navalha que pode tirá-lo da briga. Por um lado, ele precisa de Marina para que haja um segundo turno; por outro, ele pode ficar fora do tira-teima justamente por causa da força de sua nova rival. A situação também mostra um cenário que parecia pouco provável e pouco crível há cerca de um mês: Aécio e Dilma ‘unidos’ para criticar Marina. O tucano já afirmou que tem um ‘time mais qualificado’ para gerir o país do que Dilma. A petista, por sua vez, ironizou uma declaração de Marina de que ‘o Brasil não precisa de gerente’ e disse estar ‘estarrecida’ com a fala da socialista. “Neste momento, quem tem mais a perder é Aécio, sem sombra de dúvidas. Mas não é necessariamente porque a

José Cruz / ABr

Marina vai tirar votos dele. Marina já vinha apresentando índices superiores a 20% neste ano. Ela foi citada como principal candidata, ao lado de Lula e do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, entre manifestantes de junho de 2013. Embora Aécio seja o mais prejudicado, Dilma também não pode cochilar a essa altura do campeonato”, afirma o cientista político Rudá Ricci. Um dos fundadores da startup Projeto Brasil – site em que o eleitor pesquisa as propostas de seu candidato à Presidência –, o economista Lucas Marques afirma que a chegada efetiva de Marina à corrida presidencial já foi notada por sua equipe. “É possível perceber que há um interesse do eleitor sobre ela – sobretudo do eleitor mais jovem, mais identificado com o discurso de mudança que ela prega e, neste momento, parece representar”, avalia. Rival do PT há 20 anos, o PSDB teme – e muito – pelo futuro da candidatura presidencial de Aécio. A chegada de Marina e o fator comoção da morte de Campos deixaram a eleição imprevisível. A incerteza de um segundo turno foi trocada pelo medo de a sigla sequer chegar lá. E essa situação, na opinião dos tucanos, seria um tipo de catástrofe no partido, uma vez que o PSDB deixou o Planalto em 2002 e não conseguiu voltar. | 17


METROPOlis

Valter Campanato / ABr

Herdeiros - Marina Silva e Beto Albuquerque na oficializaçao da chapa presidencial da coligação Unidos pelo Brasil

“Estamos muito preocupados. É verdade que ainda falta um tempo para a eleição. Mas nós é que corremos maior risco. Se o PSDB não chegar ao segundo turno, nosso partido pode diminuir. Podemos perder o posto de partido que rivaliza com o PT. E perder isso seria um castigo muito grande. Por isso, é hora de o partido tentar, a todo custo, ao menos estar no segundo turno. É uma questão de sobrevivência política”, afirma um deputado federal do PSDB de São Paulo, que pediu anonimato. Próximo a Aloysio Nunes, candidato a vice na chapa de Aécio, o tucano paulista afirma que Aécio andou fazendo contato com seus correligionários em tom otimista para tentar diminuir o estrago do efeito Marina. “É o que se pode fazer neste momento”, afirma, resignado, o parlamentar. No PT, o maior medo é do que Marina representa no segundo turno. A primeira pesquisa Datafolha que saiu após a morte de Campos apontou vitória de Marina por 47% a 44% numa eventual segunda etapa. Embora os números representem um empate técnico por causa da margem de erro do levantamento, o sinal de alerta está aceso no Palácio do Planalto. Mas o problema não para por aí. Os petistas consideram difícil ‘bater’ em Marina. Afinal, grande parte da 18 | www.voxobjetiva.com.br

trajetória política dela foi construída justamente dentro do PT. “E ninguém ouviu falar de um caso de corrupção envolvendo a Marina. Fica complicado achar um contraponto nela como temos do Aécio, por exemplo, com a história do aeroporto em Cláudio”, diz um petista mineiro próximo à Dilma. A saída, talvez, seja apontar que Marina tem pouca experiência administrativa diante de Dilma, que foi ministra e é presidente da República. “Só assim. Porque a figura de Marina representa certa aura. E bater em aura é bem complicado. Que o digam os adversários de Lula, que também é uma figura mítica”, avalia o petista. A escolha do vice de Marina, Beto Albuquerque (PSB-RS), é outro ponto que, na opinião de petistas e tucanos, fortalece a candidatura. Bem relacionado com empresários e o agronegócio, ele está ajudando a quebrar a resistência dos setores econômicos em relação a Marina. Para Rudá Ricci, o fato de Albuquerque ter integrado governos petistas no Rio Grande do Sul – ele foi secretário de Estado nas gestões de Olívio Dutra e Tarso Genro – dificulta ainda mais que o PT parta para o ataque. “Não dá para dizer que ele é uma pessoa antiprogramas sociais lulistas. Ele estava dentro do governo. Por isso, é uma pessoa difícil de atacar”, acredita.


Artigo

Robson Sávio

Justiça

Mídia e eleições ‘Quarto poder’ é uma expressão criada para qualificar, de modo livre, o poder das mídias em alusão aos outros três poderes típicos do Estado democrático. A expressão se refere à capacidade dos meios de comunicação de manipular a opinião pública.

sileiros desacreditados. Numa democracia representativa, cujo suporte principal se dá no processo eleitoral, isso é uma luz amarela que deve preocupar as lideranças da política institucional, a sociedade civil, os poderes constituídos e os próprios veículos de comunicação que se julgam democratas. A quem interessa a demonização da política?

O filme Mad City discute o poder dos medias sobre a opinião pública, mostrando a manipulação exercida pela mídia para favorecer os interesses de terceiros; a sua capacidade de construir e destruir mitos; a sede por notícias e por aquilo que se diz ‘notícia’. A obra analisa também o sensacionalismo e o circo construído sobre determinados fatos.

Os países democráticos já conseguiram avançar em legislações de controle social da mídia. As poucas nações que não evoluíram buscam manter os privilégios dos grandes grupos econômicos dos meios de comunicação calcados em decisões do Poder Judiciário. Não é à toa que os togados representam, historicamente, o lado mais conservador No Brasil, o poder da grande mídia tem “Aos poucos separa- da sociedade. sido objeto de reflexões. Um dado impor-se o joio do trigo: A grande mídia, aliada de primeira hora tante a ser destacado é que a mídia já não exerce mais a influência que exerceu em segmentos da direita enrustida e raia opinião publicada dos campanhas eleitorais no passado, detervosa brasileira, não tolera que o ‘andar minando o curso da história. Lembremos, de baixo’ amplie sua autonomia. Além de não é a opinião por exemplo, da edição fraudulenta do demonstrar independência nas últimas Jornal Nacional na eleição de Collor de eleições municipais, o povo exibe a mespública” Mello, em 1989. Numa sociedade que se ma autonomia em relação à formação da democratiza a passos largos, o povo dá opinião pública. Em pesquisas recentes, evidentes mostras de sua autonomia. Ela o percentual dos que ‘confiam muito’ na já não se deixa manipular facilmente, como nos tempos imprensa tem ficado na faixa dos 22%. Aos poucos, sepados coronéis. ra-se o joio do trigo: a opinião publicada não é a opinião pública. E com o advento das redes sociais, a pluralidade e Nas eleições de 2012, um fato importante foi objeto de a liberdade, enfim, começam a democratizar a informação poucos comentários: os votos nulos, brancos e as abstenno Brasil. ‘Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!’ ções somaram quase um quarto do eleitorado. Em certa medida, essa pauta é altamente negativa sobre a política capitaneada pela mídia. E se for somada à propaganda incisiva do Tribunal Superior Eleitoral e de entidades da robson Sávio Reis Souza Filósofo e cientista social sociedade civil sobre a importância de um “voto limpo”, robsonsavio@yahoo.com.br reúne elementos que corroboram o contingente de bra| 19


METROPOlis

Infraero / Digulgação

Medida antigargalo BH-Airport assume administração do aeroporto de Confins projetando eficiência nos serviços e investimentos de R$ 1,5 bilhão Cassio Teles

e

vitar o caos aéreo e atender de forma adequada a crescente demanda por voos domésticos sempre foram pontos deficitários nas gestões dos principais aeroportos brasileiros. Para sanar o problema, desde 2011 o governo federal vem cedendo concessões à iniciativa privada. O primeiro leilão realizado foi o do Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande no Norte. Em 2012, foi a vez dos aeroportos internacionais de Brasília/DF, Guarulhos/SP e Viracopos/SP. Já no ano passado, saíram as concessões dos aeroportos do Galeão/RJ e de Confins/MG. Entretanto, foi somente em agosto deste ano que esses dois últimos terminais começaram a ser cedidos pela Infraero. Em Minas Gerais, caberá à BH-Airport a operação do Aeroporto Internacional Tancredo Neves pelos próximos 20 | www.voxobjetiva.com.br

30 anos. A empresa foi criada pelo consórcio Aero Brasil para a operação e administração do terminal. O consórcio é composto pela CCR, atuante na área de concessão de infraestrutura. Ela tem 75% da fatia destinada à iniciativa privada, enquanto a Zurich Airport ficou com os 25% restantes. O consórcio Aero Brasil foi o que apresentou o maior ágio no pregão, com valor 66% superior que o mínimo exigido para a concessão. A partir de agora, o aeroporto de Confins tem 51% do seu capital de fundo privado, embora a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) detenha ainda 49% do total. O órgão continua sendo responsável pelo terminal. O montante da concessionária equivale a R$ 1,82 bilhão, dos R$ 3,09 bilhões que perfazem o valor de mercado do aeroporto mineiro.


METROPOlis

Antes de assumir a operação do aeroporto, a CCR apresentou um Plano de Melhorias da Infraestrutura. As ações previstas devem elevar os serviços e a estrutura do terminal a padrões internacionais. Dentre as principais medidas anunciadas está a continuação da reforma do chamando ‘puxadinho’, que deve se tornar a área de apoio para desembarque, terminal de embarque e desembarque internacional. O espaço contará com mais balcões de check in e terá reconfigurados o sistema viário e as 23 pontes de embarque. Todas essas e as demais alterações previstas visam a duplicação da capacidade do terminal para atender mais de 20 milhões de passageiros por ano. As projeções são para um horizonte de dez anos com investimentos que somam mais R$ 1,5 bilhão. As concessões dos seis grandes aeroportos brasileiros indica uma tendência de que empresas de operação, que exijam manutenção constante da infraestrutura, possam ser gradativamente cedidas à iniciativa privada. O motivo: agilidade para realizar investimentos e aperfeiçoar os serviços. Para Rogério Coimbra, secretário de Política Regulatória de Aviação Civil, o robusto crescimento do transporte aéreo no Brasil exigiu novas políticas para acompanhar demandas crescentes. A Política Nacional de Aviação Civil, estabelecida em 2009 pelo governo federal, definiu diretrizes para o setor aéreo. Dentre elas, estão ações de incentivo ao investimento privado em infraestrutura e da concorrência no setor aeroportuário. “Os investimentos e a operação dos aeroportos não devem ser apenas do setor público ou do setor privado. É preciso uma soma dos esforços, aproveitando o que o setor público e a iniciativa privada podem oferecer de melhor para o processo”, conclui o secretário. O modelo de concessão sofreu críticas da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). Em carta à presidência da República e aos candidatos, o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz questionou o programa. Para ele, o modelo de concessão deveria contemplar a empresa que oferece menores tarifas pelos serviços e não aquela que faz o maior lance nos leilões. “É preciso um avanço e uma continuidade do programa de concessões dos aeroportos. Os resultados das cinco concessões feitas até agora foram expressivos, mas entendemos que é possível, em alguns casos, fazer a concessão por menor tarifa”, analisa Sanovicz. O Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina) se posicionou contra as concessões. No entendimento do sindicato, a Infraero tem condições para operar os

A aviação brasileira O Brasil é o 3º maior mercado de voos domésticos do mundo;

O setor aéreo brasileiro representa 1,7% do Produto Interno Bruto do país;

R$ 22 bilhões de reais são arrecadados em impostos anualmente;

111 milhões de passageiros viajaram de avião, no país, em 2013.

aeroportos sem ajuda do setor privado. Em resposta, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) explicou que o momento é de abertura de mercado para o setor aeroportuário. O órgão considera positiva a entrada de operadores privados no país, o que, segundo ela, tem diversificado a prestação do serviço e ativos nas mãos de mais concorrentes. De acordo com a Anac, as concessões já realizadas poderão servir de base para as futuras. A Secretaria da Aviação Civil, no entanto, prefere não revelar quais serão os próximos aeroportos a serem cedidos à iniciativa privada. De acordo com o secretário Coimbra, o momento é de avaliação das medidas tomadas. “Estamos fazendo a opção de dar um passo de cada vez, de forma a poder avaliar os resultados das ações tomadas, para verificar eventuais aperfeiçoamentos necessários antes de dar o próximo passo. Mas acredito que estamos no caminho certo”, avalia. | 21


METROPOlis podium

Christiean Haugen

Um negócio de amigo para amigo Empreendedora brasileira cria site para que turistas possam ‘alugar um amigo’ e usufruir da companhia de moradores locais durante as viagens Diane Duque

A

hospitalidade do povo brasileiro sempre foi exaltada como um valor nacional. Após a Copa do Mundo de Futebol no Brasil, esse atributo ficou ainda mais evidente. De acordo com o Ministério do Turismo, 98% dos estrangeiros que visitaram o país durante o evento elogiaram a receptividade local. Se a acolhida e o relacionamento com os ‘forasteiros’ foram boas, no campo empresarial a coisa é bem diferente. Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Relacionamento com o Cliente (IBRC) mostra que as cem maiores companhias nacionais pararam no tempo quando o assunto é atendimento ao consumidor. E o problema está, justamente, no relacionamento com o cliente. O levantamento organizado pelo IBRC, em parceria com a revista Exame, foi lançado em 2010. A média geral da última pesquisa foi a mesma apurada em 2011. Embora os números tenham apontado para a manutenção dos problemas de atendimento, os executivos das empresas envolvidas veem avanços nesse quesito, ano após ano. Para os gestores, o atendimento dessas companhias me-

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recem nota 9. Mas os pesquisadores do IBRC deram nota pouco superior a 7 para o quesito, enquanto o consumidor atribui nota 6,5. Com o advento das redes sociais na internet, o consumidor passou a ter outros canais de atendimento. No entanto, as companhias, na maioria das vezes, não se relacionam com o cliente por meio desses meios de interação. Cada vez mais exigente, o consumidor busca respostas rápidas aos seus problemas e soluções personalizadas. Afinal, quem não deseja receber exatamente aquilo que precisa? Pois é na mesma internet, vilã das grandes empresas, que surgem brechas para novos e criativos negócios. Quatro anos antes da Copa, a jornalista Alice Kuntz Moura, de 30 anos, criou a ‘Rent a Local Friend’. A empresa virtual oferece ao turista a oportunidade de desfrutar da autenticidade e da informalidade de um amigo mesmo sem ter um na cidade visitada. Como? Por meio da ‘amizade de aluguel’: a união criativa entre a hospitalidade e o


metropolis

relacionamento. “O projeto surgiu da minha experiência. Eu morei em Londres, uma cidade com pessoas de todos os lugares do mundo. Lá fiz amigos das mais variadas nacionalidades. Com o tempo, passei a visitar alguns deles em seus países de origem. Foi quando percebi que uma viagem é muito mais divertida e autêntica quando somos recebidos por um amigo”, observa Alice. A ideia despretensiosa se tornou um grande negócio. A empresa virou uma prestadora de serviços global, com mais de 3 mil local friends em 59 cidades espalhadas por 22 países. No Brasil, o serviço conta com 300 ‘amigos’ e abrange 24 cidades, sendo 11 que foram sedes da Copa do Mundo. A ideia ‘bombou’ durante o Mundial e fez a procura por local friends crescer 236% em relação aos meses de abril e maio. O sucesso também impulsionou as inscrições para ‘amigos de aluguel’. O número de candidatos subiu de 65, entre março e abril, para 137 inscritos entre maio e junho. Para ser um ‘amigo de aluguel’ é preciso se cadastrar no site da empresa, justificar o cadastro, informar os hobbies e as comodidades que o candidato pode oferecer ao visitante – como passeios de carro ou hospedagem. O interessado precisa ter inglês fluente, ser comunicativo, ter viajado para o exterior, ser um bom anfitrião e ter horários flexíveis. A seleção final é feita por Skype pela equipe do ‘Rent a Local Friend’. Nove funcionários e a CEO da empresa, Danielle Cunha, vêm aperfeiçoando o serviço. Para a executiva, engana-se quem pensa que o ‘amigo de aluguel’ se trata de uma forma de turismo convencional. “O guia turístico tem formação e conhecimento histórico. Ele vai levar as pessoas aos lugares tradicionais da cidade e vai informá-los sobre os dados técnicos de cada lugar. O ‘local friend’ vai fazer um passeio personalizado, mais livre e espontâneo, de acordo com o interesse do visitante”, explica Danielle.

20 turistas de diversas nacionalidades pelo Rio de Janeiro. Dentre os clientes de Laís estão alemães, franceses, australianos e norte-americanos. A advogada admite: ela aproveita as horas vagas para incrementar a renda. “É possível ganhar um bom dinheiro como local friend. Os turistas, especialmente os estrangeiros, querem um roteiro personalizado, montado de acordo com a idade e o tempo de viagem deles”, detalha Laís. Quem imagina que somente turistas solteiros procuram o serviço se engana. Em um dos passeios, Laís acompanhou uma família de quatro californianos animadíssimos em um curso de samba e forró. A advogada também lembra com carinho de uma tarde na companhia de um casal australiano em lua de mel. Eles pediram à Laís para visitar alguns pontos turísticos e três favelas no Rio de Janeiro. “O tempo deles era curto. Não dava para fazer tudo que foi planejado. Então montei um roteiro com vários pontos turísticos e duas favelas. Também dei dicas para eles irem sozinhos aos locais que não conseguimos ir juntos. Foi especial”, confessa a ‘amiga de aluguel’, que oferece experiências e, em troca, recebe recordações para uma vida.

A CEO da ‘Rent a Local Friend’ Danielle Cunha (de azul) e a local friend Laís Gonçalves atestam a funcionalidade dos serviços da empresa Diane Duque

O cliente tem a opção de selecionar o ‘amigo’ por meio de eixos temáticos, como o gosto pela gastronomia ou pela fotografia. Antes de fechar o negócio, o turista conversa com o ‘local friend’ para verificar se há afinidades entre eles. Durante o diálogo, eles negociam o preço e os locais a serem visitados. O site oferece um seguro que cobre danos morais e materiais, caso o visitante seja assaltado durante um dos passeios. O custo da companhia fica próximo de R$ 140 por até quatro horas e R$ 240 por até seis horas. Aos 38 anos, a advogada especializada em vistos e imigração Laís Gonçalves é uma ‘amiga de aluguel’ há nove meses. Nesse período, ela acompanhou mais de | 23


CAPA

Impasse verde

Especialistas em segurança pública acreditam que a regulamentação de uso, produção e venda da maconha no Brasil possa ser eficaz no combate à ‘falida’ guerra contra as drogas André Martins

o

dia 10 de dezembro de 2013 foi um divisor de águas para a saúde e a segurança pública mundiais. Nessa data, o Senado uruguaio deu parecer favorável a uma das mais ousadas e polêmicas leis da história republicana do país. Com o aval do presidente José Mujica, o Uruguai se tornou a primeira nação a regulamentar o mercado e a cadeia produtiva da Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha. A partir do próximo ano, as farmácias uruguaias licenciadas poderão vender até dez gramas da erva semanalmente por pessoa. O consumo, a produção e a venda da maconha serão restritos a uruguaios maiores de 18 anos e residentes permanentes cadastrados. A maconha aprovada pelo governo terá até 15% de tetraidrocanabinol (THC), substância causadora dos efeitos da erva. A produção caseira está liberada, sem restrição de variedade da erva. Cada casa pode ter, no máximo, seis mudas de maconha. Mas é ilegal comercializar a produção caseira. Após a aprovação da lei, o presidente Mujica ressaltou o pioneirismo da medida e tratou de tranquilizar a 24 | www.voxobjetiva.com.br

população. A autoridade uruguaia anunciou investimentos em políticas públicas culturais e sociais para garantir o controle da situação. Mas o discurso não surtiu muito efeito em uma população de descrentes. No início de dezembro do ano passado, o instituto de pesquisa Equipos Mori registrou 66% de desaprovação à lei e apenas 24% de uruguaios favoráveis à medida. O levantamento foi feito no auge do debate político e social sobre a maconha. Por ser uma experiência, a possibilidade de o ‘tiro sair pela culatra’ não é carta fora do baralho. A ideia é uma perigosa forma de o país combater o narcotráfico. Por isso, as autoridades admitem alterar a lei, caso seja preciso. A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para a necessidade de anos de análises para compreender os impactos da decisão. Com a regulamentação da Cannabis, o Uruguai espera alcançar resultados similares aos conseguidos na Holanda. Nesse país vigora uma política de tolerância ao uso da maconha desde a década de 70. Reconhecidas internacionalmente, as regras descriminalizaram o uso da erva e fizeram as taxas de viciados e de mortes associadas às drogas diminuírem.


Jefersson Bernardes - Vipcomm

Percurso da Cultura / Divulgação

Rio de Janeiro: durante a já conhecida Marcha da Maconha, manifestantes reivindicam a descriminalização do uso da erva

A jornalista e produtora cultural Maria do Socorro Araújo van Bavel reside na cidade de Breda há três anos. Ela esclarece as regras para o uso da Cannabis na Holanda. “Os únicos estabelecimentos que podem vender a maconha no país são coffee shops presentes a 350 metros ou mais das escolas. Cada loja pode ter até 500 gramas de maconha e comercializar diariamente 5 gramas da erva por cliente maior de 18 anos. O porte de até 30 gramas da droga não implica apenar o usuário. Em casa, as pessoas podem ter até cinco pés de maconha, desde que isso não incomode terceiros”, esmiúça. Conhecedora das realidades holandesa e brasileira, a jornalista acredita que o debate sobre a regulamentação da maconha no Brasil tenha muito a evoluir antes de chegar a uma decisão considerada responsável. “Não se pode liberar algo que, durante anos, foi estigmatizado e mal visto pela maior parte da população sem uma política prévia de orientação”, opina. A experiência uruguaia e dos estados norte-americanos do Colorado e de Washington reascendeu o debate sobre a droga no Brasil. Nos dois estados americanos, o consumo recreativo da maconha foi aprovado recentemente, em janeiro. No Brasil, a Comissão de Direitos Hu-

manos e Legislação Participativa do Senado (CDH) discute o assunto. Um projeto foi encaminhado em fevereiro ao órgão legislativo pelo portal e-Cidadania e recebeu mais de 20 mil assinaturas até então. O deputado Cristovam Buarque (PDT-DF), mediador dos debates a respeito dos prós e contras da legalização da erva, comprometeu-se a apresentar um projeto de lei sobre a pauta. “O Brasil está perdendo a guerra contra as drogas. Nós temos que procurar outro caminho para enfrentar essa batalha. Seja regulamentando o uso, não para permitir o consumo, mas para resolver o problema; seja criando mecanismos que nos façam ganhar essa guerra”, declarou à Agência Senado. A realidade social brasileira e a ausência de experiências com a descriminalização das drogas praticamente impossibilitam prognósticos sobre o impacto da medida no país. Em um cenário quase incerto, existem pessoas contrárias, mas há quem defenda uma possível regulamentação da maconha usando argumentos que, se não são totalmente pertinentes, contam com certa plausibilidade. Para a ala contrária à legalização, o principal temor é que o número de usuários de drogas e dependentes | 25


químicos cresça com o aumento da oferta da maconha. A medida levaria ao colapso um sistema de saúde pública que apresenta deficiências. Eles também argumentam que a droga representa um perigo para o desenvolvimento dos jovens, podendo acometê-los com doenças, como a esquizofrenia, e desencadear transtornos, como a ansiedade. A literatura médica aponta que o uso da erva altera os processos da mente e afeta a memória de curto prazo. A droga também causa prejuízo à memória de longo prazo ao dificultar sua formação a partir da repetição do que é apreendido pelos processos primários de registro. 26 | www.voxobjetiva.com.br

Os argumentos defendidos pela comunidade médica se somam aos da cultura brasileira, de forte influência cristã e de valores respaldados por escritos sagrados. Para o pastor Gervásio Agostinho Azevedo, o uso da maconha ou de qualquer substância entorpecente desrespeita os mandamentos de Deus. O religioso é coordenador de uma casa de recuperação de dependentes químicos na cidade de Moeda, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No contato com os internos atendidos pelo projeto, Azevedo teria comprovado a capacidade indutora da maconha. “Mais de 80 dependentes químicos estiveram conosco. Grande parte deles começou a se dro-


CAPA

Willian Dias / Agência Minas

Sapori acredita que o Brasil esteja maduro para discutir a questão, assim como Uruguai e alguns estados americanos fizeram

gar por meio da maconha. Em determinado momento, o corpo não se contenta apenas com essa erva. Embora a maconha seja uma substância menos invasiva, ela leva ao consumo de drogas devastadoras, como a cocaína e o crack”, revela. De acordo com o pastor, a clínica não recebe auxílio governamental e se mantêm com a ajuda de padrinhos financeiros. O projeto age também de forma filantrópica. “Algumas famílias pagam pelo tratamento, mas outras não podem arcar com os custos. Atendemos essas pessoas da mesma forma”, relata. Segundo Azevedo, o custo do tratamento de cada interno se aproxima de R$ 800 mensais, incluindo hospedagem, alimentação e acompanhamento psicológico. Em sentido contrário pensam os estudiosos da área da segurança pública ouvidos pela reportagem da Vox Objetiva. Eles são categóricos ao afirmar que a política de combate às drogas tem se provado inócua. Para esses especialistas, é necessária uma nova abordagem para o problema dos entorpecentes no Brasil. A cientista social Lúcia Lamounier Sena acredita que o país esteja maduro para discutir essa questão. Ela é professora e pesquisadora do Centro de Pesquisa em Segurança Pública (Cepesp) do curso de Ciências Sociais da PUC Minas. Segundo Lúcia, os reflexos sociais da descriminalização da maconha podem ser positivos, caso o Brasil conduza o processo como fez o Uruguai.

Quando questionada sobre os riscos sociais de uma decisão como a uruguaia, a cientista social é enfática ao assegurar que o panorama atual das drogas apresenta maior vulnerabilidade. “Corre-se mais risco quando se coloca um produto como a maconha na ilegalidade. Decisões como essa só fazem crescer o que está à margem dessa substância, como o tráfico de armas e a violência decorrente da disputa entre grupos ilegais que comercializam o produto”, entende Lúcia. O sociólogo e ex-secretário adjunto de Segurança Pública de Minas Gerais, Luis Flávio Sapori, acredita que seja hora de o Brasil considerar a discriminalização da maconha. Para Sapori, a guerra contra as drogas fez a violência se alastrar por causa do tráfico de substâncias ilegais. “O modelo atual de combate às drogas não conseguiu reduzir o consumo. Pelo contrário: essa política alimentou ainda mais a violência. No Brasil, a violência está associada ao tráfico de drogas. No exterior, há um contexto favorável à discussão da legalização da maconha. Segmentos da sociedade norte-americana, como o ‘The New York Times’, começam a inserir essa questão na pauta do debate público. Se os Estados Unidos deram início a uma discussão séria sobre a legalização da maconha, por que o Brasil não pode discutir o tema tranquilamente, sem alardes nem preconceitos? Seria apenas um debate público”, sugere. De acordo com Lúcia, não é difícil entender a razão pela qual o tema entra e sai da pauta política sem que se che| 27


CAPA

Felipe Pereira

Para Victor, a Cannabis está inserida na sociedade brasileira. O administrador enxerga como um contrassenso colocar a maconha na ilegalidade enquanto o álcool – uma droga aceita socialmente e estimulada pela TV – continua a ser a substância química que mais causa impacto social e faz vítimas no Brasil. Segundo ele, a maconha tem menor potencial para causar dependência se comparada ao álcool e ao tabaco. E o que favorece o envolvimento do usuário com outros tipos de substância é o local onde a erva pode ser encontrada. Aos 34 anos de idade, Victor diz ter uma vida normal e saudável. Ele é dono do primeiro head shop de Belo Horizonte, um estabelecimento voltado para usuários de maconha. “Eu nunca tive problemas por causa do uso de maconha. Tive problemas com a proibição da erva. É perigoso subir um morro, ir a uma boca de fumo e estabelecer vínculo com um traficante. Eu me sinto mal por, infelizmente, ajudar a financiar o tráfico de drogas”, desabafa.

Para Victor do Carmo, usuário da Cannabis desde os 14 anos de idade, os locais onde a erva pode ser encontrada favorecem o contato do usuário da maconha com drogas fortes, como o crack

gue à elaboração de medidas concretas. “O Brasil é signatário de alguns acordos internacionais que proíbem o uso de drogas. Essa postura diminui a autonomia do país. Há também uma série de argumentos morais que demonizam a maconha. A droga envolve diversos interesses, especialmente daqueles que ganham muito dinheiro com o seu comércio ilegal. Essas pessoas não são necessariamente os pobres”, alfineta. Usuário da Cannabis há 19 anos, o administrador Victor do Carmo, mais conhecido como ‘Victor Mujica’, acompanha o raciocínio de Sapori e Lúcia. Segundo o coordenador do Coletivo MEL (Movimento Erva Livre), a maconha tem de ser regulamentada e o governo brasileiro deve alertar a população para os riscos do consumo da droga, principalmente para adolescentes. “Não há perigo para adultos que fazem uso regular da maconha. A substância é perigosa para crianças e adolescentes, porque eles estão numa fase de formação”, opina o administrador, que revela ser usuário da droga desde os 14 anos. 28 | www.voxobjetiva.com.br

Nos últimos anos, até os médicos têm feito coro pelo afrouxamento da lei brasileira, que proíbe todo e qualquer composto da maconha. Para esses profissionais, algumas substâncias da Cannabis podem ser empregadas em terapias com pacientes diagnosticados com depressão, Aids, câncer, esclerose múltipla, Mal de Parkinson e transtornos neurológicos, como a epilepsia. Pesquisas realizadas mundo afora revelam a eficácia da maconha em abrir o apetite, alterar o humor, reduzir indisposições em pacientes que se submetem a tratamentos quimioterápicos, atenuar dores e ser capaz de diminuir a frequência de crises convulsivas. O especialista em Medicina Preventiva e Social Paulo Fleury é um dos defensores do uso de substâncias derivadas da maconha como alternativa para o tratamento. “As duas principais substâncias da maconha são o THC e o canabinol (CDB), sendo que há mais de 80 canabinóis presentes na Cannabis. Há muito que se estudar. É possível que todos os canabinóis venham a ter efeitos positivos para a saúde humana”, acredita o médico. Como a maconha é ilegal no Brasil, até mesmo os tratamentos à base de THC e CDB são considerados clandestinos. Para utilizar esses compostos ou outro medicamento sem registro no país, é necessário acionar a Justiça, fazer uma solicitação formal, protocolar o laudo médico e a prescrição do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Desde maio, o órgão analisa a liberação do canabidiol no país.


artigo

Maria Angélica Falci

Psicologia

Montanha russa A mera imaginação de estarmos prestes a ingressar em uma montanha russa é capaz de nos fazer projetar sensações que vão do prazer à aflição. O fisiológico se altera em questão de segundos.

gumas a serem evitadas. O nosso ‘amigo’ mental tenta sinalizar os riscos. A maturidade sugere maiores cuidados. Se isso não acontece, é necessário atenção. É possível que o indivíduo apresente algum transtorno de ordem mental.

As mudanças de humor são comuns a todos nós. Sofremos de É incrível quando jovens buscam maior controle emociocerta ‘bipolaridade de sentimentos’. Afinal de contas, estamos nal e o aplicam em seu cotidiano. A partir daí, passamos a vivos e propensos aos altos e baixos da vida. Experimentar es- perceber grandes transformações: aumentam a autoestima e ses sentimentos contrastantes é normal, autoconfiança, apresentam maior resisguardadas as devidas proporções. É ditência diante das frustrações, passam ferente do que vivenciam os diagnostia ser mais disciplinados, acentuam o cados com o transtorno bipolar. Neste senso de responsabilidade e respeito “Sofremos de certa artigo, quero me ater à nossa ‘montanha ao próximo e são mais tolerantes com ‘bipolaridade de russa emocional’ tida como normal. as diferenças. Tornam-se pessoas mais sensatas, diferentemente do que presentimentos’. Afinal de senciamos quando há o predomínio de Emoção é uma experiência de ordem subjetiva que está ligada ao nosso temuma geração que demonstra completa contas, estamos vivos peramento, à personalidade e à motivafalta de limites e de bom senso. ção. Podemos dizer que são as emoções e propensos aos altos e que nos motivam a transformar desejos Sempre costumo sugerir: ‘Vamos cuiem realidade. Elas são o combustível dar da nossa mola mestra?’ Pois é ela baixos da vida” que potencializa hormônios e inunda que faz pulsar a vida e organiza o nosso de sensações o nosso sistema límbico. fisiológico. A emoção bem-cuidada é um fator muito poderoso e transformaAs emoções podem ser diferenciadas dos resultados delas, dor das relações de que necessitamos para nos sentir amados pois cada pessoa se comporta e reage de acordo com a própria e valorizados. estrutura emocional. Vivemos muitas vezes numa montanha russa de sentimenSabemos que a chamada inteligência emocional tem sido tos, mas aprender a estabilizar traz benefícios gigantescos. Enmuito valorizada. Pessoas que apresentam controle e sabem tão, que tal? Vamos aprender a cuidar da nossa mola mestra? valorizar suas emoções são mais bem sucedidas e aceitas facilmente por determinados grupos. O controle emocional, que conduz à sonhada inteligência emocional, é, sim, um comportamento aprendido. O avanço da idade pode ser um fator natural de vivências positivas e al-

Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com | 29


Para ouvidos... e mentes Auxiliar no desenvolvimento infantil, a música tem o poder de curar e reduzir impactos causados pelo processo de envelhecimento Daniela Rebello

m

uitas teorias tentam explicar a origem da música. Acredita-se que o surgimento dela esteja relacionado com as primeiras organizações sociais em tribos primitivas na África. Em comunidades daquele continente, a música tem um valor que vai além da apreciação do som. Ela é essencial para a realização de rituais sociais e religiosos. No entanto, em qualquer lugar do mundo, a música tem a mesma função cultural, capaz de transpassar e expressar sentimentos. Mas estudos apontam o uso da música para outras finalidades. A prática musical pode servir de exercício cognitivo ao homem, trazendo benefícios duradouros e tornando-se uma alternativa medicinal. 30 | www.voxobjetiva.com.br

Uma pesquisa publicada no ‘The Journal of Neuroscience’, publicação oficial da Sociedade para Neurociência localizada em Washington, nos Estados Unidos, aponta que a dedicação aos estudos musicais na infância pode levar os indivíduos a colher bons frutos na velhice. Disfunções, como perda auditiva e distúrbios nas capacidades do sistema nervoso, podem ser atenuados, mesmo que a prática musical tenha sido interrompida durante um longo período da vida. Estudos como o apontado acima têm colaborado e estão abrindo caminho para pesquisas mais aprofundadas sobre o tema. A neurologia também acumula grande conhecimento no conceito de neuroplasticidade, uma capacidade que o cérebro apresenta de criar circuitos entre neurônios de diferentes áreas, cada vez mais eficientes de acordo com treino que se faz. A afirmação é da especialista em Neurologia Elizabeth Comini. “Um talentoso jogador de futebol pode criar circuitos cerebrais que se tornam cada vez mais ágeis no jogo da bola, o que o possibilita usar outras áreas cerebrais para planejar as jogadas e sair da defesa”, alega a doutora. Com a música não é diferente. Segundo Elizabeth, ela pode ser responsável por aumentar a capacidade de


Salutaris

concentração e memória. Ambas funcionam em várias áreas cerebrais e estimulam o desenvolvimento de novos circuitos durante toda a vida. “Hoje não se fala mais em localizações no cérebro, mas em quantidade e eficiência de circuitos formados entre as áreas cerebrais. Quanto mais treinado o indivíduo é em determinada atividade, mais eficientes ficam seus circuitos, como provou esse estudo em relação à sensibilidade auditiva”, explica.

Os alunos do projeto aprendem estilos de músicas que vão da Renascença ao período atual. Rodrigo acredita que essa seja uma maneira de promover a valorização da cultura e fazer com que o aluno obtenha um olhar mais amplo para a vida. “A música não é ofertada a eles apenas do ponto de vista sensorial. Não se lança um repertório sem uma base de conhecimento. Eles podem, inclusive, compará-las com o que estão vendo na escola. Se vou falar do período barroco, falo de tudo que o influenciou, fazendo uma conexão com o contexto social. Não tem como falar do estilo musical sem me ater aos senhores feudais, do que é a condição social que poderia influenciar diretamente e indiretamente na criação musical”, acredita o músico. Os participantes também são estimulados a cantar em diferentes línguas, como francês, italiano e alemão. “Eles não saem falando esses idiomas, mas esse contato torna possível a familiarização com o som e a musicalidade do idioma. Se eles quiserem se aperfeiçoar, já vai haver uma base”, completa Firpi. Kennedy Alves da Silva Souza, de 14 anos, é aluno da oficina de Canto Coral do Árvore da Vida. A história com os instrumentos começou desde criança. Aos três anos, ele já era visto pela casa carregando um cavaquinho. Desde 2011, o adolescente integra o programa aprendendo técnicas de canto e percussão. Ele conta que vê

A importância do contato com a música na infância tem levado à criação de iniciativas que possibilitam a aproximação de crianças e adolescentes com o mundo musical. É o caso do ‘Árvore da Vida’, programa social desenvolvido pela Fiat, no município de Betim, na comunidade de Jardim Teresópolis. O projeto foi criado há dez anos e possibilitou o contato de 1746 participantes com diferentes instrumentos e estilos musicais. Números comprovam o resultado do empenho. A porcentagem de alunos que permaneceram na escola saltou de 83% para 99% desde o início do projeto. O índice de aprovação escolar também subiu de 71% para 97% em uma década. Graduado em canto pela escola de música da UEMG, Rodrigo Firpi é professor da oficina de canto e coral do ‘Árvore da Vida’. Ele acredita que a música promova uma sensibilidade aos acontecimentos ao redor, além de fazer uma ligação retórica entre o que é expressado por meio da linguagem - como um poema – e o que é composto musicalmente. “De um ponto de vista um pouco mais sensorial, a música é sempre expressão de sentimentos. É uma forma de canalizar aquilo que a gente sente. Percebemos as dificuldades que os alunos estão passando, problemas que ocorrem em suas vidas, a partir do que eles cantam e expressam em sala de aula”, diz o professor. | 31


Salutaris

O projeto ‘Árvore da Vida’ estimula o contato de jovens com a música. Em uma década, o índice de aprovação escolar saltou de 71% para 97%

Árvore da Vida / Divulgação

o projeto como uma oportunidade. “Melhorei a minha timidez, tenho cumprido com minhas obrigações e feito muitos amigos. Antes eu ficava na rua e não tinha o que fazer. O projeto foi muito bom pra mim! Eu gosto muito de estar lá”, declara o aluno. Outro método que está sendo popularizado devido à comprovação de seus benefícios é a musicoterapia. Ela pode ajudar pessoas tímidas, como Kennedy, no processo de socialização. A terapia musical é utilizada pelos homens desde o período pré-histórico. Mas somente após a Segunda Guerra Mundial foi que o método ganhou relevância nos meios de pesquisa. Durante a guerra, músicos tocavam dentro de hospitais na tentativa de aliviar a dor de soldados feridos. Com essa atividade, pacientes apresentaram melhorias na recuperação, e o procedimento ganhou maior atenção de pesquisadores. A musicoterapia pode ser utilizada em diferentes situações, como na facilitação da comunicação e do aprendizado, no auxílio em tratamentos de deficiências mentais e motoras, além de promover uma melhora na qualidade de vida. A neurologista Gisele Sampaio, do Hospital Israelita Albert Einstein, afirma, em um vídeo publicado no site 32 | www.voxobjetiva.com.br

da instituição, que a música pode ajudar também na recuperação de pacientes com lesões neurológicas. “A música é interpretada por uma área do cérebro diferente da área nossa da linguagem. O fato de um paciente que teve um AVC, por exemplo, não poder falar, mas conseguir cantar, o estimula a tentar desenvolver uma área do cérebro que foi perdida”, relata a médica. Ela explica que o hemisfério direito do cérebro é responsável pela criatividade, emoção e música. “Acreditamos que quando a pessoa consegue criar uma música, por exemplo, ela tenha áreas do cérebro que sejam mais funcionais do que as pessoas que não têm essa capacidade”. Comprovadas as vantagens da música no meio da saúde e na educação, no dia 18 de agosto de 2008 foi sancionada uma lei que exige a obrigatoriedade do ensino musical nas escolas de educação básica. As instituições teriam até três anos para se adaptar ao novo ensino, porém, até hoje, muitas ainda não adotaram a prática. Com o novo ensino, espera-se que os alunos despertem interesse para uma prática capaz de alimentar a criatividade e levá-los a se beneficiar com o aprendizado musical.


ARTIGOS

Ruibran dos Reis

Meteorologia

As condições do tempo e a história As condições do tempo sempre foram importantes para a humanidade. Nesse artigo, quero apresentar alguns acontecimentos históricos e acidentes para os quais as condições do tempo foram determinantes para suas ocorrências. - Havia milhares de anos, o homem das cavernas demonstrava ter noção da importância de entender esses sinais. Ele percebera que se aproximar dos animais na direção contrária do vento aumentava o sucesso na caça. - Em 1492, ano do descobrimento da América, Cristóvão Colombo teve muita sorte ao navegar pelo oceano Atlântico numa área de formação e de ocorrência de furacões nos meses de maior incidência desse fenômeno, naquela região. Posteriormente, algumas caravelas afundaram ou foram danificadas durante outras três travessias do Atlântico promovidas pelo conquistador.

- Em 2009, a queda do avião da Air France, que ia do Rio de Janeiro para Paris, causou a morte de 228 pessoas. Ao passar pela Zona de Convergência do Atlântico Sul, o avião foi surpreendido por nuvens com grande quantidade de granizos. Decisões erradas do piloto e do copiloto levaram ao desastre. - Na tarde do dia 12 de julho de 2012, um avião de pequeno porte caiu nas proximidades do aeroporto de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. De acordo com informações, o local era atingido por fortes chuvas e rajadas de vento no momento do desastre. Uma frente fria passava pela região naquele dia.

‘“Durante a Segunda Guerra, mudanças bruscas nas condições do tempo foram importantes para mudar o rumo da história”

- Durante a Segunda Guerra, mudanças bruscas nas condições do tempo foram importantes para mudar o rumo da história. O avanço da tropa alemã na Rússia não obteve êxito devido às ocorrências das fortes nevascas de 1941. As estradas tornaram-se grandes lamaçais, e as temperaturas chegaram a 35 graus negativos, vitimando grande parte dos soldados germânicos.

- Aos 6 de agosto de 1945, data do lançamento da primeira bomba atômica sobre Hiroshima, aviões meteorológicos haviam atestado ótimas condições de visibilidade naquela cidade japonesa. Por essa razão, o bombardeiro B-29 aconteceu em Hiroshima às 8h15 do dia 6. Cerca de 140 mil pessoas morreram.

- No dia 28 de julho de 2012, uma aeronave particular caiu na cabeceira do aeroporto de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. A aeronave transportava o presidente da Vilma Alimentos, Domingos Costa, o filho dele, de 13 anos, e quatro funcionários da empresa além de piloto e copiloto. A principal causa do acidente foi a baixa visibilidade na hora da aterrissagem.

- Na manhã do dia 13 de agosto, a frente fria que estava chegando ao litoral de São Paulo, causando chuvas e ventos, teria contribuído para a baixa visibilidade e ventos que desestabilizaram e levaram à queda do avião que transportava o candidato Eduardo Campos (PSB). Segundo especialistas, o tempo instável foi o principal fator responsável pela arremetida da aeronave e sua consequente queda.

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com | 33


Paulo Cunh

receita

Lombo em crosta de castanha-baru Chef Fábio Pontes - diVino Restaurante

INGREDIENTES

MODO DE PREPARO

Lombo: 150 g de lombo; 5 g de castanha-baru descascada e processada grosseiramente Sal a gosto; Pimenta; Tomilho; Alecrim; Louro; 1 colher de sopa de manteiga.

Tempere o lombo com sal e pimenta-do-reino a gosto. Grelhe o lombo com a manteiga, o tomilho, o louro e o alecrim até que fique dourado. Coloque a castanha-baru sobre a fatia de lombo e leve ao forno a 180 graus e deixe de 7 a 9 minutos até que esteja assado ao ponto.

Aligot de batata-doce: 30 g de queijo-minas; 1 batata-doce média; ½ xícara de creme de leite fresco; Alecrim. Molho de quentão: 100 ml de molho roti (molho à base de carne); 1 pau de canela; 4 grãos de pimenta-da-jamaica masserada; 1 galho de alecrim; 100 ml de vinho tinto; 1 colher de sopa de manteiga. 34 | www.voxobjetiva.com.br

Para o preparo do aligot, cozinhe a batata-doce com a casca até ficar macia. Retire a casca e passe por uma peneira bem fina. Aqueça o creme de leite com o alecrim picado e a manteiga, acrescente a batata-doce e vá mexendo com a ajuda de um batedor de arame. Junte o queijo-canastra e continue mexendo até formar um purê elástico. Reserve. Agora o quentão. Leve ao fogo todos os ingredientes, exceto a manteiga. Deixe reduzir até tomar consistência de molho encorpado e aí, sim, acrescente a manteiga.

Montagem Coloque o molho de quentão já aquecido no prato. Disponha o lombo por cima, o aligot de batata-doce ao lado e sirva quente.


vINHOS

Consumo de vinhos no Brasil Nelton Fagundes Sommelier da Enoteca Decanter BH

Faço uma pergunta a você, caro leitor: quantos litros de vinho per capita são consumidos no Brasil? Você tem ideia? Na França, esse número chega a 45 litros; em Portugal, 42; na Itália, 37; no Chile, 18; e na Argentina, 23 litros por pessoa. Mas e no Brasil? Bem, antes da resposta, vamos a alguns dados e constatações.

verdade, mesmo para quem tem essa vontade, nem sempre é possível. No momento em que escrevia este artigo, por exemplo, estava bebendo um vinho que adoro: o Italiano Sangiovese Cardeto – Úmbria – Itália, que custa R$ 46. Creio que, pela qualidade e preço, esse rótulo tenha me proporcionado muito prazer na apreciação.

Na maior parte dos países europeus, o vinho é taxado como alimento. Por isso, os impostos incidentes são bem menores se for comparado com o que acontece no Brasil. Clima também não é problema. Quando está quente, o costume é a ingestão de vinhos brancos ou espumantes. Já no frio, a moda é a degustação do tinto. Não tem desculpa!

A questão da informação também é importante. Se você não tem costume na apreciação de vinhos e não tiver orientação, a tendência é beber sempre o mesmo vinho. Mas se temos tantos sabores diferentes para provar, por que não ampliar nossos horizontes? Eu os convido a buscar coisas novas, sem medo. E vale um alerta: nem sempre qualidade e preço andam juntos. Diga a um bom entendedor o que quer e, com certeza, você estará satisfeito.

No Brasil, ouço constantemente alguns amigos dizerem: ‘está quente demais’ para beber vinho. OK. Talvez para o tinto mais encorpado até seja razoável a queixa. Mas e os brancos e espumantes? Outra reclamação é a de que o vinho é caro. Entretanto, há outra forma de ver o cenário. Um casal consome, em média, uma garrafa em um jantar. Em um fim de semana, esse consumo chega a uma garrafa e meia. Considerando que os vinhos têm preços muito variados, é possível escolher um bom rótulo e jantar a um preço satisfatório. Em casa o custo cai ainda mais. Aqui temos também a falta de hábito. Por que não degustar uma taça de vinho diferente todo dia? Na

Com tantos pontos contrários, você já deve ter notado que o consumo per capita de vinho no Brasil não é lá essas coisas, né? Bom, pensando em vinho fino, feito de uvas apropriadas para a produção da bebida, e vinhos de uvas não viníferas, aquelas mais indicadas para produção de derivados e vinhos mais simples, nosso consumo chega a quase dois litros de vinho ao ano. Desses, um litro seria de vinho fino e outro de vinhos de carregação. Se levarmos em conta essa estatística, podemos dizer que o brasileiro bebe um litro de vinho a cada seis meses, o que - desculpe-me a franqueza - não é nada. Eu, que sou um sommelier apaixonado por vinho, estou fazendo de tudo para aumentar essa estatística, provando vinhos diariamente. E você? Um brinde e até breve! Shutterstock

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Bruno Cantini

podium

O ‘Furacão Gaúcho’ que mudou o Galo Passagem de Ronaldinho pelo Atlético Mineiro transformou a história de um clube centenário e a vida de um craque mundial Vinicius Grissi

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ia 4 de junho de 2012: alguns helicópteros sobrevoavam o Centro de Treinamento (CT) do Atlético Mineiro, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Dezenas de fotógrafos e cinegrafistas se aglomeravam na Cidade do Galo em busca da imagem de um jogador capaz de mudar os rumos da recente história alvinegra. Eles chegaram ao CT após o boato de que um campeão mundial de 2002 estava treinando no clube. Quatro dias antes, Ronaldinho Gaúcho saía de forma tensa do Flamengo. Sem tempo a perder, o então novo camisa 10 do Galo logo encontrou um novo lar para chamar de seu. Em meio aos novos companheiros, como um jogador qualquer, R10 fazia a primeira atividade com o uniforme atleticano.

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No dia anterior ao da chegada de Ronaldinho, uma pesquisa nacional indicava uma enorme rejeição ao jogador eleito duas vezes o melhor do mundo. Entre os torcedores atleticanos, só 32% queriam a contratação do meia-atacante. Esse seria um bom motivo para não investir na chegada do craque. Mas o presidente do clube, Alexandre Kalil, fez questão de ignorar a lógica. “Tenho fama de doido, mas não sou louco para rejeitar o Ronaldinho Gaúcho. Não cheguei a esse estado”, disse na época. Principal entusiasta da contratação de Ronaldinho, Cuca também teve méritos na rápida negociação. O ex-comandante alvinegro soube da rescisão do camisa


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Com R10, o Atlético conquistou a América e teve a oportunidade de disputar o primeiro Mundial da história do clube

firmou moradia em um condomínio de luxo em Lagoa Santa, na Região Metropolitana da capital mineira. Assim que chegou ao local, o craque adotou um estilo reservado, quase mineiro. Os vizinhos garantem que a convivência com o jogador sempre foi pacífica. O gaúcho fazia questão de tratar todos muito bem nos raros momentos em que era visto. Durante a passagem pelo Atlético, Ronaldo não foi mais flagrado em casas noturnas, embora não tenha deixado as festas de lado. “Quase sempre tinha movimentação e música alta na casa dele, mesmo quando ele não estava. Muita gente entrava e saía da residência”, contou um vizinho que não quis ser identificado. O perfil reservado de R10 também pôde ser notado no dia a dia do clube. Nesses momentos, poucas pessoas tiveram tanto contato com o jogador como Lúcio Fábio. Segurança do Atlético há 17 anos, ele foi designado para fazer a escolta individual de Ronaldinho. A escolha rendeu-lhe uma rotina de trabalho pesada. O funcionário tinha que conter o tumulto por causa da comoção pela presença do craque, principalmente nas viagens internacionais. “O Ronaldo queria atender todos os fãs. Mas, às vezes, era impossível. As pessoas não se contentam em chegar perto dele. Na última viagem, na Colômbia, a Polícia não esperava tanta gente no aeroporto. Na multidão, uma pessoa caiu e foi pisoteada. Ele disse que só sairia do local quando estivesse tudo bem com o rapaz”, relata o segurança, que ajudou a levantar o fã.

10 com o Flamengo e avisou Kalil sobre a decisão do jogador. O presidente atleticano estava no Rio de Janeiro tentando a vinda de Juninho Pernambucano para o alvinegro. Mas a ligação de Cuca mudou os planos do dirigente. “Alguns jogadores disseram na época: ‘deixa o Ronaldinho vir que a gente corre por ele’”, revela o auxiliar de campo Rubens Pinheiro, o Ligeirinho. Com quase 40 anos de casa, o funcionário guarda boas memórias do jogador e uma chuteira autografada, usada pelo craque no último jogo pelo Atlético. A vida de Ronaldinho também mudaria a partir daquele dia. Adepto às noites cariocas, o badalado meio-campista assumiu outro perfil no Atlético. O atleta

Os acasos da vida também aproximaram Ronaldinho e Lúcio Fábio. O padrasto do jogador morreu às vésperas do confronto do Atlético contra o Figueirense, no final de 2012. No dia seguinte, o meio-campista entrou em campo e fez o único hat-trick pelo clube, marcando três gols. A goleada de 6 a 0 contou com duas assistências do craque e foi, provavelmente, sua melhor atuação individual no Galo. Uma semana antes, Lúcio havia perdido o pai. A dor uniria ainda mais os dois colegas de clube. “O Ronaldinho é um grande parceiro. No dia dos pais seguinte à morte do meu pai e do padrasto dele, o Ronaldo veio conversar comigo e me consolar. Aquele ato me marcou muito”, revela. O perfil do jogador nem parece o de um astro do futebol mundial, capaz de alterar a rotina de quem fazia a cobertura diária do clube. “Pela projeção adquirida ao longo da carreira, o que o Ronaldinho fazia era notícia. O noticiário sempre reservava um espaço pra ele. | 37


Cantou de ‘Galo’

E isso interessava o torcedor”, admite Léo Gomide, repórter setorista do Galo. Em campo, o casamento com o Atlético foi quase perfeito. Com a camisa 49 ou com a tradicional camisa 10, não faltaram a Ronaldinho bons momentos com as cores alvinegras. A boa atuação na estreia contra o Palmeiras abriu caminho para o primeiro gol pelo Atlético. O craque fez a rede balançar na goleada de 5 a 1 contra o Náutico, na estreia dele na Arena Independência. E quem não se lembra do golaço no primeiro clássico contra o Cruzeiro? Ronaldinho fintou Lucas Silva e Marcelo Oliveira antes de tocar na saída do goleiro Fábio. Com R10 em campo, o Atlético e seus torcedores se sentiam invencíveis. E foram: pelo menos no Horto. Na ‘Casa do Galo’, o craque deixou o clube sem perder uma partida sequer. O vice-campeonato brasileiro nos primeiros meses e a renovação de contrato por um ano eram indícios de 38 | www.voxobjetiva.com.br

que a parceria havia funcionado. Mas o melhor estava por vir. A épica conquista da Copa Libertadores em 2013 colocou Ronaldinho de vez na história do Atlético e do futebol mundial. O craque se tornou o único jogador a vencer a Copa do Mundo, a Libertadores e a Liga dos Campeões da Europa e a ter sido eleito o melhor jogador do planeta. Mas o declínio técnico viria pouco depois. No final de setembro, uma grave lesão na coxa direita colocou uma interrogação no futuro do jogador. A contusão possivelmente deixaria R10 fora do Mundial de Clubes de 2013 e o distanciaria de uma vaga entre os convocados de Felipão para a Copa de 2014. A carreira de Ronaldinho parecia perto do fim. Ledo engano. “A forma como ele encarou a notícia sobre a lesão me marcou. O atleta normalmente se abate. O Ronaldo não. Ele passou muita confiança para a equipe”, relata o fisioterapeuta do Atlético, Rômulo Frank. “O prazo para


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a recuperação da lesão era de 12 semanas, mas ele sempre dizia que estaria pronto antes”. E o jogador conseguiu. Em dezembro, Ronaldinho voltou ao time na última rodada do Campeonato Brasileiro e fez os dois gols do empate contra o Vitória. Mas o esforço do craque não foi suficiente para evitar a derrota de 3 a 1 na semifinal do Mundial, contra o marroquino Raja Casablanca.

Bruno Cantini

O vexame no Mundial de Clubes ajudou a abreviar a passagem do jogador pelo futebol mineiro. O interesse de Ronaldinho parecia diminuir à medida que o seu desempenho em campo piorava. Em 2014, R10 jogou apenas 1241 minutos em campo e marcou um gol – de pênalti. “Jogador é número. O melhor jogador é aquele que está dentro da estatística”, observa o novo comandante atleticano, Levir Culpi. Na decisão da Recopa contra o Lanús, o Mineirão lotado e em festa com mais um título internacional parecia o palco perfeito para a despedida. Embora as partes negassem, o clima era de adeus. Após a saída de campo, o craque foi saudado pelos companheiros e recebeu abraços deles na volta olímpica. No dia seguinte, a assessoria do R10 postou um vídeo de agradecimento nas redes sociais. Eram sinais do final de um ciclo. Após a Recopa, Ronaldinho seria liberado definitivamente. A ausência no amistoso de despedida do amigo Deco, em Portugal, e no treinamento em Vespasiano escancarou um caminho sem volta.

Recordes de R10 Celebrada pela torcida, a chegada de Ronaldinho Gaúcho ao Atlético rendeu títulos e publicidade para o time mineiro

Uma semana depois, no dia 30 de julho, Alexandre Kalil e Ronaldinho Gaúcho davam fim ao contrato que iria até dezembro de 2014. “Conquistei títulos e muitas alegrias. Poucos tiveram o privilégio de sair de um clube com glórias. É assim que eu quero ser lembrado”, explicou o jogador na despedida, sentado ao lado do dirigente, como na chegada em 2012. Mas nenhuma frase resume melhor a vida de um jogador que se acostumou a falar pouco e jogar muito como a do ‘papai’, como ele chamava o presidente do Galo. “Essa união vai ficar marcada para sempre. Para nós, ele é o Ronaldinho Mineiro”. E quem há de dizer o contrário? | 39


femme

Requinte atemporal GIG se destaca por reinventar a técnica do tecer, criando modelos que exalam feminilidade Tati Barros

A moda mineira é reconhecida e elogiada pelos bordados primorosos, uma influência clara do estilo barroco que marca a arquitetura colonial mineira. Mas as roupas produzidas por aqui vão muito além desse elaborado trabalho handmade composto por pedrarias e outros elementos que valorizam ainda mais a sofisticada moda-festa. Entre as grifes que se destacam por apresentar a proposta de uma moda contemporânea, que circula livremente entre o casual e a festa, está a GIG. A marca encanta por seu trabalho diferenciado no tricô e por ter um DNA inconfundível. É uma missão fácil se deparar com um modelo e logo identificá-lo como pertencente à marca. Os méritos são da estilista Gina Guerra. Com maestria e habilidade, ela transformou a técnica do tricô em arte e assim vem criando modelos que esbanjam feminilidade, com um ar extremamente moderno e atemporal. A cada temporada, a GIG se reinventa e apresenta coleções que se tornam instantaneamente peças-desejo de quem admira modelos delicados e de uma sensualidade discreta, que foge do óbvio. Por essa razão, suas apresentações no Minas Trend geram grande expectativa. E como foi dito na última edição da semana de moda mineira, a GIG nunca decepciona! Por isso, é natural que a marca tenha caído no gosto de celebridades internacionais, como Christina Aguilera, Paris Hilton e Britney Spears. Para conhecer um pouco mais sobre a trajetória da grife que se tornou uma das mais conhecidas e prestigiadas do estado, a Vox conversou com a empresária Patrícia Schettino, que, ao lado da estilista Gina Guerra, comanda a GIG. Confira! A GIG tem pouco mais de uma década de existência. Como a grife surgiu e qual a razão da escolha pela dedicação ao tricô? Essa história começa na década de 80, quando a estilista Gina Guerra, ainda no início da adolescência, dava seus primeiros passos na moda. Naquele tempo, Gina não gostava do que via nas lojas e manifestava o desejo de criar o próprio estilo, sem encontrar muitas referências. A partir dessa inquietação, ela começou a comprar tecidos e a desenhar as próprias roupas com a ajuda de costureiras locais que a ensinaram técnicas de modelagem. Mais tarde, Gina se formou em moda. Quando estava trabalhando nesse ramo, ela foi visitar a fábrica de uma amiga e se encantou pela magia e as possibilidades do tricô. Foi nesse momento que ela percebeu que queria trabalhar com essa técnica. Como se deu essa entrada no mercado internacional?

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Esse foi um convite da TS Studio, da Terezinha Santos, idealizadora e organizadora da exposição. A criação partiu da nossa técnica. Queríamos mostrar as possibilidades do tricô. Escolhemos o body porque remete à sensualidade do povo brasileiro e é uma peça usada para a prática do esporte. Misturamos as linhas, comuns nas roupas esportivas, com os arabescos para dar um ar mais requintado e comemorativo. A GIG acaba de anunciar uma coleção cápsula com a apresentadora Isabella Fiorentino que marcou presença na fila A de um desfile da grife, no Minas Trend. Como surgiu essa parceria e o que os fãs da GIG podem esperar dos modelos dessa coleção? A parceria surgiu quando a Isabella veio ao Minas Trend assistir ao nosso desfile. Achamos que seria interessante unirmos os talentos da Gina e da Isabella e, realmente, deu supercerto. Surgiu uma linda coleção de rendados com quatro peças, sendo um cropped, uma saia, um vestido linha A e um vestido longo. Isso aconteceu com as feiras. Sempre tivemos a preocupação de participar de eventos internacionais, como a Famme Tullerie e Tranoi, em Paris, e de eventos como o Who is Next, que acontece em Dubai, e o Brazil Fashion Now, do Japão. Atualmente, a GIG mantém um showroom em Paris e participa regularmente do Minas Trend, em Belo Horizonte, e do Novo Showroom em São Paulo. Estamos em 70 pontos no Brasil e em 30 no exterior. Como foi a receptividade inicial a esse trabalho elaborado no tricô?

Vocês estão trabalhando em outro projeto que envolva o aumento da visibilidade da marca? Acabamos de nos mudar para uma fábrica de 900m². Já vínhamos sentindo essa necessidade e, com certeza, essa mudança vai nos permitir alçar outros voos, como ampliar nossa capacidade de produção e, consecutivamente, propiciar a entrada em outros mercados. Gina Guerra, a modelo Isabella Fiorentino e Patrícia Schettino

A GIG sempre chamou atenção pela exclusividade. É o trabalho elaborado que encanta e abre portas. Temos um produto diferenciado tanto no Brasil quanto lá fora.

Divulgação

Celebridades, como Britney Spears, Liv Tyler e, mais recentemente, Christina Aguilera, já fizeram aparições públicas usando GIG. Como se dá essa aproximação com grandes nomes do show business? Temos um acordo de exclusividade com a famosa cadeia INTERMIX, que conta com 32 lojas na América do Norte. Isso nos proporciona uma ótima visibilidade e permite que as celebridades conheçam e se encantem com a marca. Recentemente, a GIG foi uma das marcas brasileiras convidadas para desenvolver uma camisa com a temática da Copa para uma exposição que passou por Milão, São Paulo e Belo Horizonte. Como surgiu esse convite e como foi a elaboração daquele belíssimo modelo? | 41


kultur

Fernando Frazão / ABr

Um encontro possível Indústria de livros infantojuvenis se reinventa e aposta na tecnologia para atrair o público Bárbara Caldeira

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ra uma vez, em um reino não muito distante, um mercado que figurava entre os mais promissores da indústria editorial do país. A constatação se baseia em um levantamento feito na segunda metade de 2013 pelo portal PublishNews. Com 24% dos lançamentos nacionais, a extensa gama de livros para crianças e jovens se tornou a aposta de grande parte das editoras brasileiras. Em outra ponta, a tecnologia se firma como a esperança para o delicado desempenho dessa indústria. A pesquisa Fipe de Produção e Vendas do Setor Editorial mostra que o faturamento com vendas de e-books no Brasil cresceu 225% no ano passado. Mesmo assim, o mercado editorial permanece em crise. Enquanto isso, os ganhos com a venda de 42 | www.voxobjetiva.com.br

livros convencionais para o governo e o mercado foram de R$ 5,3 bilhões em 2013. Descontada a inflação do período, o incremento de 7,52% nos negócios cai para 1,52% na comparação com o ano 2012. Por isso, a fusão entre a demanda do público infantojuvenil e o frescor dos novos formatos despontam como alternativas viáveis. Escritor de livros infantojuvenis há 23 anos, o mineiro Leo Cunha tem muitos livros em versão eletrônica. Por enquanto, a vendagem deles é inferior à dos impressos. Mas ele confia que esse quadro venha se inverter aos poucos. “Sou apaixonado pelo objeto livro, pelo papel, pelo folhear, pelas páginas encadernadas


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e todas as variações possíveis no meio impresso. Mas acredito que vão surgir boas obras criadas especificamente para o meio eletrônico e suas especificidades”. Leo enxerga o mercado tateando essas possibilidades. Segundo o escritor, predominam as historinhas com atividades, que mais lembram revistas de entretenimento infantil, jogos e brincadeiras.

Flip / Divulgação

Com mais de cem livros publicados e os prêmios Jabuti e João de Barro no currículo, Leo Cunha começou a se envolver com o mundo das letras por influência materna. A mãe comandou a livraria de livros infantojuvenis Casa de Leitura e Livraria Miguilim de 1978 a 1992. Fascinado com as possibilidades dessas narrativas, o autor foi influenciado por grandes nomes desse nicho, como Sylvia Orthof, João Carlos Marinho, Ruth Rocha, Bartolomeu Campos de Queiroz, Edy Lima e Orígenes Lessa. Em seu processo criativo, tudo pode servir à criação. Os filhos de Leo inspiraram os livros ‘Dedé e os tubarões’, da editora Escarlate, e ‘Castelos, Princesas e Babás’, da editora Dimensão. Outras histórias partiram de cenas que ele viu ou ouviu alguém contar e de referências literárias diversas, como ‘Arca-de-Noé, uma história de amor’, da editora Nova Fronteira, e ‘Contos De Grin Golados’, da editora Dimensão. “No fundo, o escritor deve estar sempre atento ao que acontece ao seu redor, ao modo como as pessoas falam, gesticulam e se comportam”, argumenta. Autor de mais de cem livros infantis, Leo Cunha entende que a literatura infantojuvenil seja diversificada em formatos e conteúdos

“É preciso criar histórias que sejam divertidas, emocionantes e provocadoras sem se descuidar da linguagem, do ritmo e da sonoridade” Leo Cunha, Escritor

A observação constante e o olhar aguçado sobre o cotidiano são aliados dos escritores que enveredam pela literatura infantojuvenil. Cabe a eles o desafio de prender a atenção dos pequenos e das crianças na transição para a adolescência. “É preciso criar histórias que sejam divertidas, emocionantes e provocadoras sem se descuidar da linguagem, do ritmo e da sonoridade”, explica Cunha. De acordo com o escritor, o livro infantil é uma categoria ampla, que abarca qualquer livro voltado para a criança, seja ele informativo, livro-brinquedo, seja uma publicação literária. “A literatura infantil é mais específica porque abrange publicações que realmente se preocupam em exercitar a arte literária: a arte da palavra. Em prosa ou poesia, essas obras podem ser livros com texto bem curto e amplas imagens, chamados geralmente de picture books ou livros ilustrados, ou um material com bastante texto”, esclarece. Para Cunha, a principal função da literatura é o prazer e o encantamento, seja por meio do riso, seja do choro, do espanto ou da intriga. “O livro nos faz sentir, | 43


kultur

pensar e reordenar nossa relação com o mundo, com as pessoas e com a própria linguagem. A literatura, infantil ou não, é Arte, com A maiúsculo. Caso existam, as literaturas com função didática, moralizante e ´alfabetizante´ devem ser secundárias”, defende. Cercada pelo universo das letras, a mediadora de projetos educativos e culturais Muriel Ramalho Guimarães considera a leitura essencial para o enriquecimento do imaginário humano. A atividade é fundamental, ainda mais quando se fala de crianças: seres em formação. A leitura possibilita sensações, experiências e exercita a memória. Formada em Jornalismo, Muriel é professora de Comunicação Aplicada no projeto ‘Reiventando o Ensino Médio’, na Escola Estadual Professora Henriqueta Lisboa, na Região Nordeste da capital mineira. Ela usa literatura nas dinâmicas que desenvolve e vê a tecnologia como uma ferramenta potente para fomentar o interesse desse público pela cultura. “O que gera novos estímulos à leitura não é a tecnologia, mas as estratégias de leitura. Só é possível incentivá-la por meio da mediação: a aproximação entre o leitor e o texto”, salienta. Segundo Muriel, é necessário fazer com que crianças e jovens compreendam a importância do hábito de leitura e o torne uma prática constante. “A partir dessa compreensão, é possível incluir essas novas plataformas de leitura no dia a dia dos estudantes. Somente assim, a leitura – seja a experiência tátil, seja digital – vai ser proveitosa”. Uma pesquisa feita pelo Ibope Inteligência constatou que o brasileiro lê, em média, quatro livros por ano, mas finaliza apenas dois. Encomendado pelo Instituto Pró-Livro em 2013, o estudo também mostra que 75% da população não costuma frequentar as bibliotecas. Para Muriel, as deficiências na formação educacional e cultural brasileira tendem a desvalorizar ainda mais 44 | www.voxobjetiva.com.br

o hábito da leitura. Segundo a educadora, é preciso identificar e contextualizar os problemas e planejar ações para tornar prazeroso o contato com os livros. A percepção cotidiana faz Cunha ser mais esperançoso. “Ao visitar escolas e participar de eventos, percebo que as novas gerações estão lendo e curtindo mais os livros infantis”, relata. O incentivo à leitura em família trouxe benefícios para a filha da empresária Ana Carolina Moura Ataide, a pequena Maria Júlia, de 3 anos. “Começamos a ler histórias para a ela aos 6 meses de idade. A rotina foi mantida e fazemos isso todos os dias”, conta. A pequena não deixa os pais esquecerem e pede constantemente para que leiam em voz alta seus contos preferidos, como ‘Cachinhos Dourados’ e ‘João e Maria’. “Acredito que a leitura tenha ajudado a Maria Júlia principalmente na fala. Com pouco mais de 1 ano, ela não falava perfeitamente, mas se comunicava muito bem. A leitura também estimulou o desenvolvimento e a construção de raciocínio. Ela consegue, por exemplo, contar o que aconteceu no dia em ordem cronológica, assim como nas historinhas”. A tecnologia é utilizada com parcimônia pela família. Aplicativos com vídeos animados auxiliam a menina na materialização das histórias. Os livros também contribuíram no processo de sociabilização de Maria Júlia. Ela entrou para a escolinha aos 2 anos. “Temos uma coleção que fala sobre crianças especiais, com deficiência visual, paralisia e autismo. Ela adora saber se essas pessoas levam vidas normais. A Maria Júlia tem amigos assim na escola e gosta de brincar com eles. A leitura a ajudou a lidar com as diferenças com mais naturalidade”. Com um gesto simples, a menina prova que a leitura entre crianças e jovens faz a sociedade avançar alguns passos em direção ao sonhado ‘felizes para sempre’.


Terra Brasilis • literária

O museu da inocência Autor: Orhan Pamuk Editora: Companhia das Letras Páginas: 568 Preço: R$ 63,00

Reprodução

Em ‘O museu da inocência’ o Nobel de Literatura de 2006, Orhan Pamuk, traça o panorama da sociedade turca dos anos de 1970, período em que o país se dividia entre a preservação de suas tradições e a abertura ao Ocidente. A metáfora utilizada para o registro desse impasse social e moral é o triângulo amoroso vivido por Kemal, um jovem e promissor noivo de 30 anos que tem a vida abalada pelo reencontro com uma prima e antiga namorada. O título remete a um museu construído pelo personagem principal com objetos reunidos a partir dos encontros com o antigo affair.

Eu, Christiane F – A vida apesar de tudo Autor: Christiane V. Felscherinow Editora: Bertrand Brasil Páginas: 266 Preço: R$ 17,90 Trinta e cinco anos se passaram desde o lançamento da edição original do relato estarrecedor da adolescente Christiane F, menina alemã que começou a se drogar e prostituir aos 13 anos de idade. Em ‘Christiane F – A vida apesar de tudo’, o leitor tem acesso aos eventos que sucederam ao período de degradação física e emocional vivida por Christiane na adolescência e na juventude. No livro, a autora fala de desafios e conta o que mudou a partir do combate às drogas e da aparição de um ‘anjo da guarda’ em sua vida. Ela revela também os momentos de felicidade lado do filho Phillip. Reprodução

A vida secreta de Fidel Autor: Juan Reinaldo Sánchez Editora: Paralela Páginas: 224 Preço: R$ 34,90

Reprodução

Mais vendido

Guarda-costas de Fidel Castro por 17 anos, Juan Reinado Sánchez, em parceria com o Axel Gyden, repórter da revista francesa L’Express, revela os pormenores da vida política e privada do ex-presidente cubano. O livro traz revelações que deixaram o mundo chocado, o que inclui uma série de fotografias de Fidel e a família em passeios de iate e helicóptero e desfrutando de momentos de descanso em uma ilha paradisíaca. ‘A vida secreta de Fidel’ é o primeiro livro que conta com testemunhos de alguém que, durante muito tempo, esteve tão próximo do líder comunista. | 45


Terra Brasilis • agenda

Jean Fracuan

Divulgação

Diego Pisante

Universo Casuo Criado por Marcos Casuo, o espetáculo conta a história de um mundo mágico e diferente, onde tudo pode acontecer. Nesse universo encantado, Clown, um palhaço, observa que a Terra, o planeta azul, está perdendo a cor. Para salvar a Terra, Clown atravessa um portal para entrar no mundo dos terráqueos e trazer de volta sonhos e fantasias. ‘Universo Casuo’ já foi visto por mais de 1,4 milhão de pessoas em todo o país. O show promete agradar a distintos públicos por trazer uma combinação inusitada de acrobacias, com humor, poesia, design e uma trilha sonora inesquecível. Cine Theatro Brasil 20 e 21 de setembro Sábado, às 21h, Domingo às 20h De R$ 100 a 200 (inteira) compreingressos.com

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Viva a revolução

Aqueles dois

A banda de rock Capital Inicial volta aos palcos do Chevrollet Hall em Belo Horizonte para lançar o EP ‘Viva a Revolução’, inspirado nas manifestações do mês de junho do ano passado. O novo CD do grupo traz participações de artistas nacionais, como os da banda de rap Cone Crew Diretoria, do Rio de Janeiro, que ajudou a compor a faixa-título do álbum. Já as músicas ‘Coração Vazio’ e ‘Melhor do que Ontem’ são de Dinho e Alvin L. com Thiago Castanho, ex-guitarrista do Charlie Brown Jr. Outra parceria especial e fundamental foi a de Liminha, ex-baixista do grupo Mutantes, que atua como produtor musical.

A peça é uma adaptação do conto de mesmo nome do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu. O espetáculo diz respeito a Raul e Saul, dois homens jovens, bonitos e bem sucedidos que trabalham em uma repartição pública. Donos de histórias muito diferentes, esses personagens solitários vão estreitando os laços de amizade a ponto de levantar sérias suspeitas entre os colegas de trabalho. A indefinição sobre a natureza da relação estabelecida entre os dois suscita diferentes olhares e provoca o espectador a discutir seus possíveis preconceitos.

Chevrolet Hall 13 de setembro, às 22h De R$ 70 a 140 (inteira) chevrolethallbh.com.br

Teatro João Ceschiatti Palácio das Artes 5 a 12 de setembro Entrada franca fsc.mg.gov.br


Terra Brasilis • agenda

Guga Melgar

Marco von Scmuda

Tarja Turunen A cantora lírica e compositora finlandesa Tarja Turunen desembarca no Brasil para uma turnê de shows do seu terceiro álbum ‘Colors in The Dark’. Os shows acontecem em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Tarja ficou conhecida mundialmente por ter sido vocalista da banda de rock Nightwish. Após sua saída do grupo, em 2005, a cantora passou a se dedicar à carreira solo. Em 2013, ela iniciou a turnê ‘Colors in the Road’, com previsão de terminar somente em 2015. Music Hall 11 de setembro, às 22h De R$ 120 a 240 (inteira) centraldoseventos.com.br

Reprodução

Visões Centro Cultural Banco do Brasil - Belo Horizonte De 20 de agosto a 20 de outubro (todos os dias, exceto às terças-feiras) Entrada franca culturabancodobrasil.com.br

A exposição ‘Visões na Coleção Ludwig’ traz mais de 70 obras da coleção reunida pelo empresário alemão Peter Ludwig (19251996), um dos patronos da arte em seu país, e sediada no Museu Estatal Russo de São Petersburgo. A mostra de curadoria de Eugenia Petrova e Joseph Kiblitsky apresenta obras-primas de artistas renomados, como Pablo Picasso, Andy Warhol, Joseph Beuys, Anselm Kiefer, Jeff Koons, Gerhardt Richter, Michel Basquiat, dentre outros. A mostra ganha destaque com a exibição da tela ‘Cabeça de Criança’ (1991) de Gottfried Helnwein no pátio do CCBB.

Nada será como antes O premiado musical ‘Milton Nascimento - Nada será como Antes` homenageia os 50 anos de carreira e 70 anos de vida do artista Milton Nascimento, um dos maiores cantores e compositores da MPB. Com direção de Charles Möeller e Cláudio Botelho, o aclamado musical já passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. As canções interpretadas por artistas do cenário musical, como Cassia Raquel, Cláudio Lins, Wladimir Pinheiro e Pedro Sol, buscam trazer a atmosfera de música e da poesia vivenciadas por Milton durante os anos em que morou na capital mineira. Palácio das Artes 20 e 21 de setembro Sábado, às 20h, Domingo, às 19h De R$ 45 a 90 (inteira) fcs.mg.gov.br

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Terra Brasilis • Crítica

Na trilha do sucesso Guardiões da Galáxia aposta em releitura de quadrinhos clássicos e propõe crossover entre histórias Haydêe Sant’Ana

Ambientada no cenário espacial e formada por um time de heróis nada convencionais, a produção norte-americana Guardiões da Galáxia é sucesso de público no Brasil. Com orçamento de US$ 170 milhões, o filme levou 2,4 milhões de expectadores aos cinemas brasileiros até o fechamento desta edição. Assim como as demais produções da Marvel, o filme é baseado em histórias em quadrinhos e traz como coadjuvantes personagens encontrados em produções, como Defensores, Homem Aranha, Os vingadores e Thor. A primeira equipe dos Guardiões da Galáxia apareceu na revista “Marvel Super-Heroes” em janeiro de 1969. O grupo tinha como missão deter a invasão dos Badoon na Terra. Na década de 90, os personagens ganharam revista própria. Foram 62 edições que contaram com desenhos e enredos de Jim Valentino. No entanto, os protagonistas da versão cinematográfica não são aqueles das revistas das décadas de 60 e 90. O grupo que aparece na telona é o que surge no crossover Aniquilação, em 2008. Guardiões da Galáxia é centrado na vida de Peter Quill (Chris Pratt). Abduzido da Terra na infância e criado pela raça Ravagers, Peter, conhecido como “Senhor das Estrelas”, passa a ser perseguido após roubar uma das pedras do infinito, artefato cobiçado pelo vilão Ronan, da raça Kree. Ao tentar levar o objeto para o seu comprador, Quill se vê alvo de uma caçada. Nesse momento, ele encontra outros personagens que procuram pela pedra roubada: Gamora, uma alienígena da espécie Zen Whoberi; Groot, uma árvore humanóide; e Rocky Racum, um guaxinim. Sem entender a importância do objeto, Peter e o trio vão parar numa prisão espacial. Lá eles conhecem Drax, o destruidor, um humano que deseja se vingar de Thanos, homem que dizimou toda a sua família. Quando entende a significância da pedra roubada para o equilíbrio do cosmo, Peter e seus novos amigos 48 | www.voxobjetiva.com.br

se unem para proteger a galáxia. No entanto, a árdua tarefa de saber lidar com as diferenças de cada um acaba sendo um desafio para a equipe. Com diálogos simples, personagens bem entrosados e um roteiro bem-estruturado, o longa mistura, com maestria, a ficção científica e a aventura, além de boas pitadas de humor. A trilha sonora também encanta, trazendo clássicos dos anos 1970 e 1980, como “Hooked on a Feeling”, “Moonage Daydream”, “I Want You Back”, “I’m not in Love”. A produção de arte dá um show à parte ao criar cenários espaciais dignos de grandes batalhas recheadas de efeitos especiais. Tudo isso lembra muito a icônica série Star Wars. Guardiões da Galáxia estabelece também uma relação interessante com outra obra: Os vingadores (2013). Thanos aparece nos dois filmes. O olho azul brilhante do vilão nos créditos finais de Os vingadores sugere que o personagem tenha uma das joias do infinito. Em vídeo divulgado em agosto deste ano, a Marvel confirmou o crossover das histórias, mostrando que a ligação entre os filmes deve ser feita pelo personagem Thanos. Em entrevista ao site Empire Online, o diretor James Gunn, escalado para a continuação de Guardiões da Galáxia, esclareceu que Thanos não é a principal ameaça aos guardiões, podendo o vilão aparecer ou não no próximo longa. O roteiro de Os vingadores 2, com lançamento previsto para 2015, já está fechado. Dessa forma, a conexão entre os filmes só passa a ser possível no terceiro filme da franquia, que deve estrear somente em 2018. Até lá, os fãs de carteirinha da Marvel podem fazer suas apostas sobre o destino de Peter Quill e sua turma em Guardiões da Galáxia 2. A continuação do filme tem previsão de lançamento para 2017.


Terra Brasilis • critíca

Curiosidades do filme Chris Patt teve que perder quase 30 kg para interpretar Peter Quill; Vin Diesel, que dá voz a Groot, teve que gravar mais de mil vezes a frase: “Eu sou o Groot”, única coisa dita pelo personagem durante o filme; Dave Bautista, o Drax, chorou ao saber que interpretaria o personagem; Segundo os produtores, Rocket Racoon é fruto de um experimento, sendo meio guaxinim, meio máquina. O personagem teria recebido alguns implantes cibernéticos;

Zoe Saldana, que dá vida à Gamora, interferiu na construção de sua personagem. Por causa dela, recursos de maquiagem foram usados em vez de imagens geradas por computador ou pelo processo de captura de movimentos; Zoe Saldana quase quebrou as costelas de Chris Pratt durante a gravação de uma cena de luta. Os dois usavam equipamentos de proteção para poder lutar de verdade e imprimir veracidade às cenas. No entanto, em uma das tomadas, Chris Patt esqueceu de colocar a proteção. Saldana lhe deu um chute nas costas e o ator foi parar na lona.

Disney / Divulgação

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crÔnica

Joanita Gontijo

Comportamento

Ouvidos não têm tampas Tudo começou há dez anos. Falávamos alto, pronunciando as palavras claramente, esticando os “ás” e “ós”, mas meu pai ouvia com dificuldade. Quando a ginástica com a boca e o volume da voz não funcionavam mais, recorremos a um aparelho de audição. Um sucesso... até a última semana quando, de uma hora pra outra, as dificuldades ressurgiram. Meu pai voltou a não entender o que dizíamos. “- Vou abrir essa janela porque está muito calor.” E ele sorria antes de comentar: “Ah tá! Você também é o meu amor.” Como é difícil conversar com alguém que ouve o que a gente fala, mas não entende as palavras! No caso do meu pai, uma limpeza interna no ouvido desobstruiu o caminho para os sons e ele voltou a escutar bem. Mas e quanto ao resto do mundo? Sim! Eu, você, todos sofremos de um mal que se agrava a cada dia. A surdez voluntária.

“Sim! Eu, você, todos sofremos de um mal que se

Então, o que provoca diálogos cada vez mais desencontrados? Não é uma deficiência física. O subjetivo é que limita nossa audição. Ouvir, muitas vezes, é se abrir para o contraditório, para a crítica, para o que nos assombra: a revelação de que cometemos erros, magoamos, falhamos e nem sempre estamos certos.

agrava a cada dia.

Há quem se finja de surdo até para a voz que lá no fundo da alma tenta dizer que é preciso se colocar no lugar do outro para entender a dor provocada; é fundamental perdoar de verdade para seguir mais leve e é importante escutar com os ouvidos e o coração abertos. Fingir que presta atenção no interlocutor enquanto planeja mentalmente sua defesa não faz a conversa fluir. Se o problema é com a saúde, os médicos podem ajudar, mas se a tampa que fecha suas orelhas é a intolerância, ouça bem: o diálogo só vai se estabelecer se você quiser de verdade.

A surdez voluntária”

Entre os cinco sentidos do corpo humano, a audição é a mais debilitada e rebelde. Nossa visão obedece encantada aos estímulos e aos convites para olhar a TV, o computador, as ruas, a lua. E o paladar? Bom... Não posso falar por todo mundo, mas o meu paladar sucumbe facilmente às tentações da gula. Aromas (os bons... é claro!) costumam seduzir e emocionar. Dizem que o olfato é o atalho para as melhores lembranças. E quanto ao tato... Apesar do mundo virtual ter modificado a forma como as pessoas se tocam, beijam e se abraçam, tem muita gente “se pegando” por aí. Podemos fechar os olhos e a boca. O nariz não tem porta, mas prender a respiração nos protege de cheiros indesejados. Também controlamos o toque ou, pelo menos, 50 | www.voxobjetiva.com.br

deveríamos controlar. Pensando sobre a estrutura dos órgãos, fica ainda mais difícil entender a teimosia de ouvidos surdos. Afinal, por estarem sempre abertos, eles deveriam apenas acatar a inexorável recepção de sons, palavras e frases. Mas, ao contrário disso, selecionam cada letra, cada suspiro e até cada silêncio que será decodificado.

Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela”joanitagontijo@yahoo.com.br


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