A Doçaria Florestal (A água mata a fome - 1º ano)

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AUTORES TEXTO: Alunos do 1º ano 1ª parte - EB1 Belide (Prof. Nelson) 2ª parte - EB1 Ega (Prof. Jorge) 3ª parte - EB1 Anobra (Prof. Sara) 4ª parte - EB1 Sebal (Prof. Regina) ILUSTRAÇÃO: JI do Avenal (Educadora Maria Inês Silva)


Eram nove horas daquela fresca manhã de outono. Jeremias e o seu filho, o burrito Júnior, corriam apressadamente por um caminho cheio de pedras e ladeado por verdes colinas. Lá em cima, viam-se brancos moinhos cujas velas rodavam ao sabor do vento. Do lado direito do caminho, as águas frias e transparentes do rio corriam alegremente. Aquele era o único caminho para a escola que Júnior frequentava.

- Apressa-te, filho! Estamos atrasados! - Pai, não me apetece ir à escola! Todos os meus colegas gozam comigo por causa da cor do meu pelo.


Júnior tinha nascido com uma cor diferente. Não era cinzento, nem castanho como os outros burros mas preto como as azeitonas. O pai costumava dizer-lhe: - Júnior, o que importa não é a cor do nosso pelo, mas o nosso mérito enquanto burros. Olha o meu exemplo! Todos os dias carrego às minhas costas a farinha para os moinhos. Corro estas serranias, diariamente, para baixo e para cima. Levo o trigo e trago a farinha dos moinhos para que todos os humanos possam cozer o pão e fazer as suas doces escarpiadas.


- Pai, eu não quero ser como tu! Quero ser futebolista como o Cristiano Ronaldo. - Filho, para seres futebolista tens de estudar... Olha o Cristiano…. Mas Júnior estava farto daquele discurso que lhe martelava constantemente a cabeça. Todos achavam que se portava mal. Na escola, estava sempre bastante irrequieto. O professor estava sempre a chamar-lhe a atenção, pois nunca conseguia estar quieto e sentado.

Júnior ia nos seus pensamentos quando, repentinamente, parou junto às margens do rio. Aquela apressada e cansativa caminhada tinha-lhe dado uma imensa fome. A água, fonte de vida, matava a sede mas também a fome como dizia o pai Jeremias. Júnior aproximou-se das águas calmas e límpidas das margens. Viu refletida a sua figura negra e o seu coração experimentou uma enorme tristeza. Ao seu pensamento vieram os outros burros… Como o achavam feio! Aproximou-se mais e mais…Reparou que algo brilhava no fundo. Com as suas longas e peludas patas esfregou os olhos abrindo a sua boca de espanto: - Pai, anda cá! Não posso acreditar… ! 1ª parte - EB1 Belide (Prof. Nelson)


-Que se passa filho? -Vem ver! -Parece um baú! -Tira-o, depressa! Então os dois, com muito cuidado, retiraram o baú da água, afastaram os limos que o cobriam e abriram-no cuidadosamente. -Que é isso pai? -Ainda não sei filho, deixa-me tirar todos estes plásticos… parece um livro! -Um livro pai! Será um livro de um tesouro! -Calma filho, vamos abrir e ver!


Qual não foi o espanto, quando repararam, que se tratava de um livro de receitas muito antigo. -Para que serve isso pai? -Tanta pergunta, tem calma rapaz, deixa-me ver melhor! Muito interessante! Uau!!! -Então pai diz! -Este livro mostra como se fazem doçarias muito antigas! -O que são doçarias pai? -São doces, bolos, guloseimas… coisas assim. -Vamos fazê-los todos, papá! -Escolhemos um de entre estes todos. -Vamos pedir ajuda aos animais da floresta! Partiram de imediato para a floresta para mostrar a famosa descoberta. Reuniram todos os animais e mostraram o livro de receitas. De entre todas as doçarias decidiram fazer um tal bolo de nome escarpiada que nem imaginavam como iria sair nem como iria saber. Depois de juntarem todos os ingredientes puseram mãos à obra… Passado uma horas, todos estavam ansiosos! -Vamos provar? - Diziam os animais em coro. Assim que colocaram a escarpiada em cima de um pequeno tronco foi num ápice que desapareceu. -Que delícia! Vamos fazer mais! - Diziam todos juntos. Foi assim que Jeremias e o burrito Júnior tiveram uma ideia. -Vamos abrir uma pastelaria!? Que tal?


-Vamos a isso! - Responderam prontamente os animais. Passado um mês, estava de pé, uma pastelaria, bem no meio da floresta, com o nome de Doçaria Florestal. 2ª parte - EB1 Ega (Prof. Jorge)

O dia da inauguração tinha chegado e estava tudo a postos para receberem os animais da floresta. O Júnior tinha convidado os seus colegas de turma e o professor, por isso, estava um pouco ansioso, pois, não tinha a certeza se iriam aceitar o seu convite. Mas a certa altura…


-Júnior, Júnior, estamos aqui! - Disseram alguns colegas em coro. -Que bom que vieram!- respondeu Júnior com um enorme sorriso na boca. -Não podíamos deixar de vir provar as tuas escarpiadas, Júnior! Respondeu o professor. -Vou imediatamente buscar um tabuleiro delas só para vocês! Após as primeiras dentadas os comentários dos colegas não se fizeram esperar: -Isto é mesmo bom! -Que delícia! -Tu e o teu pai estão de parabéns! Júnior, queres explicar aos teus colegas como se fazem as escarpiadas? - Pediu o professor. -É com muito gosto! As escarpiadas são feitas com farinha, açúcar, manteiga, fermento sal e água. O recheio leva uma mistura de açúcar, canela e azeite. A diferença e o segredo das nossas escarpiadas está na qualidade da farinha, pois, somos nós que a produzimos, com a ajuda do moinho de água. -Moinho de água? O que é isso? - Perguntou o Jericó que era o mais curioso da turma. -Eu também nunca vi nenhum. - Acrescentou outro colega da turma. -Professor, se quiserem eu posso levar-vos a visitarem o nosso moinho, não é muito longe daqui…


-Acho que seria muito interessante. Vamos? O Júnior estava satisfeitíssimo com o interesse dos colegas e com o facto de estar a mostrar os seus conhecimentos. Rapidamente chegaram ao local do moinho e, a pedido do professor, o Júnior encarregou-se de explicar o funcionamento do moinho.

-Colegas, reparem bem na passagem da água pelo moinho. Estão a ver? Isto são os rodízios de madeira que estão ligados a uma mó… -O que é uma mó, Júnior? -Uma mó é uma pedra redonda e muito pesada e é ela que mói o trigo e


transforma-o na farinha com que fazemos as escarpiadas. -Que espetáculo! Tu sabes tantas coisas! - Exclamou o Jericó. -Muito bem, Júnior! Adorei a forma como tu explicaste tudo aos teus colegas.

-Nós também gostámos muito desta tarde. -Bom, está na hora de regressarmos. 3ª parte - EB1 Anobra (Prof. Sara)


Após a despedida dos colegas do Júnior, o seu pai acorreu ao moinho muito preocupado.

-O que se passa pai? – Perguntou o Júnior ao ver burro Jeremias a examinar o stock de cereal e a dizer: -Não vamos ter trigo suficiente para responder a tanta encomenda… -Então pai, temos muita encomenda de quê? -De tudo meu filho. Temos muitas encomendas de escarpiadas para as festas do Senhor dos Passos que se realizam por esta altura no concelho de Condeixa e, como a fama da nossa farinha já chegou a outras


pastelarias e padarias, esta semana recebemos imensas encomendas de farinha de trigo. -Temos de pensar numa solução para satisfazer os nossos clientes, pai. Se for necessário contratamos mais pessoal para as nossas “pequenas indústrias artesanais”. Sabes, lá na escola a minha coleguinha Carlota era muito jeitosa a fazer bolos, é capaz de ser uma boa ajuda. -Está bem, meu filho, amanhã falas com ela quando saírem da escola, pode ser que ela queira fazer um part-time lá na nossa pastelaria, pelo menos durante esta quadra festiva, até à Páscoa. -E a matéria-prima? Como vamos conseguir mais trigo? Os nossos fornecedores já têm as arcas quase vazias e a nova colheita só se faz lá para o mês de S. João… -Tens razão Júnior, este é um problema grave, que vamos ter que resolver… O nosso amigo Jeremias já andava um pouco abatido com medo de não ter trigo para entregar a sua famosa farinha aos seus clientes que cada vez eram mais. Já mal comia, e de noite nem pregava olho a pensar numa solução. Foi precisamente numa noite de insónias que teve uma ideia brilhante! Lembrouse dos tempos em que andava pelas serranias a acarretar os taleigos de trigo e a levar a boa farinha. Conhecia nas aldeias mais serranas, alguns produtores de trigo… Nessa manhã levantou-se mais cedo do que o habitual e foi chamar o seu filhote que dormia como um verdadeiro burro.


-Júnior, levanta-te! Hoje vais ter de ficar a tomar conta do moinho, eu vou calcorrear as aldeias da serra à procura do melhor trigo. Conheço alguns produtores do tempo em que por lá andava no carreto. -Excelente ideia, pai! Vai descansado que eu trato de tudo. O burro Jeremias, lá partiu, esperançoso, pelas serras fora com os alforges no dorso para trazer carregadinhos do famoso cereal. Correu imensas aldeias, bateu à porta de muitos antigos lavradores, mas uns já tinham deixado de cultivar porque a idade avançada já não lhes permitia tal trabalho, outros tinham ido viver para as cidades porque a vida ali nas serranias era dura e difícil. Trabalhavam do nascer da aurora até o Sol se pôr e tinham uma vida miserável, por vezes nem tinham a quem vender o trigo. O que lhes valia é que era o seu sustento, pois as suas mulheres coziam grandes fornadas de pão que lhes matava a fome.


Já um pouco desanimado e bastante cansado, o nosso amigo Jeremias dirigiuse à aldeia de Vale de Janes, onde havia um monumental moinho de vento, que já pouco laborava, devido à desertificação daquelas terras. Foi então que encontrou o velho moleiro, que ao vê-lo lhe fez uma grande festa e lhe perguntou por onde tinha andado, pois já há muito tempo que não lhe punha a vista em cima.

Jeremias contou-lhe então toda a sua história. O dono do moinho disse-lhe por fim: -Anda daí, Jeremias, vou dispensar-te algum do trigo que tenho no meu celeiro, e vai descansado que é do melhor que se cultiva por estas bandas.


Carregaram os alforges do Jeremias e justaram contas. O nosso jerico troteou serra abaixo, carregado, mas feliz por poder honrar os compromissos com os seus clientes. Mas como era um burro muito empreendedor pensou: -Vou arrendar uma quinta abandonada e no próximo outono vou eu próprio, com a ajuda dos meus empregados e colaboradores semear o trigo para que não mais me falte a matéria-prima.

Ao chegar ao moinho, o Jeremias vinha estafado. O seu filho Júnior também tinha trabalhado imenso, mas ainda teve tempo para lhe preparar uma bela manjedoura com sêmea de trigo e um grande balde de água fresquinha.


Depois de saciar a fome e a sede, Jeremias contou o seu plano ao filho que zurrou de alegria e exclamou: -Perfeito, pai, assim dominaremos o ciclo de produção “ Do grão ao pão!”

4ª parte - EB1 Sebal (Prof. Regina)

Trabalho elaborado no âmbito do projeto 30 dias 30 livros com o apoio da Rede de Bibliotecas de Condeixa Professoras Bibliotecárias Ana Rita Amorim Anabela Costa Técnicas da Biblioteca Municipal Inês Rodrigues Connie Coutinho


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