Crise de valores

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Disciplina: Filosofia – 10º Ano O que é uma «crise de valores»? «Por meio da expressão ‘crise de valores’ lamentamos, por exemplo, a confusão de valores; em lugar da honestidade no trabalho, a procura do dinheiro a qualquer preço torna-se o ideal de vida ou o valor supremo, basta o exemplo das vedetas dos estádios ou dos estúdios de televisão; confundimos a astúcia e o desembaraço com a virtude essencial das relações humanas. Mas podemos também lamentar o desabar de valores como a honestidade, o gosto pelo trabalho bem feito, a fidelidade no amor, o sentido do dever, isto é, já não a substituição de um valor falso por um outro considerado verdadeiro, mas o desaparecimento, o aluimento ou a desvalorização das referências últimas: rimo-nos do homem honesto, fazemos troça da fidelidade conjugal, chamamos idiotas aos que não praticam atos fraudulentos. Com Alan Bloom, podemos mesmo chegar ao ponto de afirmar que ‘já não somos capazes de falar com a menor convicção do bem e do mal’. (...) Estes excessos mostram, aliás, que a inquietação está nos espíritos, e sobretudo nos dos denunciadores, já que eles próprios não imaginam que, ao especular sobre uma confusão real do termo valor, não fazem senão agravar a confusão e a famosa ‘crise’, ao considerá-la como adquirida.» Paul Valadier, A Anarquia dos Valores, Ed. Instituto Piaget, Lisboa, p.18

Vivemos uma crise de valores? «Todas as sociedades conheceram crises de valores, pela simples razão de que uma sociedade evolui porque novos problemas surgem e as mentalidades mudam. Assim, nunca podemos voltar aos valores de outrora. Vamos dizer crise de valores porque os valores de hoje não são mais os de ontem. Tomemos o exemplo de um valor muito marcante, a poupança. Hoje já não tem a importância capital que teve nas sociedades rurais agrícolas. Hoje, com a Segurança Social, os seguros, o tipo de capitalismo em que vivemos, a poupança perdeu o seu sentido. É um valor que soçobra. Ora isto não quer dizer que outros valores não tenham surgido. ‘Crise de valores’ seria, assim, uma expressão excessiva, como se o conjunto do edifício dos valores se desmoronasse e nos encontrássemos perante um monte de ruínas. Existem outros valores que surgem. Sou sensível ao valor solidariedade (...). Existem, também, valores de relação afetiva, entre o homem e a mulher, que não existiam e que não podiam existir na sociedade agrícola de outrora. É um valor que tem a sua força e a sua fraqueza mas, no entanto, é um valor positivo. (...) A ideia de anarquia dos valores é a ideia de que os valores não respondem a um princípio único, que são contraditórios. Existe uma anarquia de valores dentro da qual nos temos de reencontrar e dar-lhe um pouco de ordem. (...) É necessário acolher os estrangeiros e, ao mesmo tempo, conseguir manter a coesão social e nacional. Nota-se aqui, efetivamente, uma contradição.» Paul Valadier, in A Anarquia dos Valores, Ed. Instituto Piaget, Lisboa


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