Nº 375 Edição Brasil

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ÍNDICE DE EMPRESAS OS NÚMEROS REFEREM-SE À PRIMEIRA PÁGINA EM QUE AS EMPRESAS SÁO CITADAS. EXCLUI AS EMPRESAS QUE FIGURAM EM GRÁFICOS E RANKINGS

a-b

Eletronic Data Systems .............40

Minerva .....................................56

Satyam.......................................56

Atlântico Sul .............................34

EMC ..........................................33

Moody´s ....................................48

SembCorp .................................35

Banco do Espírito Santo............65

Empresas Navieiras ...................21

MRV ..........................................21

Servicios Portuários

Banco Fator ...............................21

Ernst & Young...........................43

NEC...........................................59

Integrados (SPI) ..................35

Banco Schahin ..........................65

Euromonitor International.........17

Noronha Advogados .................10

Shell ..........................................35

Beluga .......................................35

Fiat ............................................20

Novell ........................................33

Signals Telecom

Bertin.........................................56

First Data...................................40

o-p

Bilbao Vizcaya ..........................59

Fischer .......................................35

Odebrecht ..................................10

Simo ..........................................20

Burger King...............................19

Fitch Ratings .......................48, 56

Ollin Studio ...............................36

Southern Angels ........................39

c-d

g-h

Oracle ........................................33

Standard & Poor´s .....................48

Caixa Econômica Federal .........21

Gamboa Resort..........................58

PDG Realty ...............................21

Studio C ....................................36

Camargo Corrêa ........................35

Gávea Angels ............................39

PepsiCo .....................................43

STX ...........................................35

Cartellone ..................................21

Geodata .....................................21

Petrobras .............................25, 34

Sun Microsystems .....................33

Chevron .....................................35

GM ......................................40, 48

PJMR.........................................35

Tata Consultancy

Chile Global Angels..................39

Grupo ICT .................................40

Prefixa .......................................59

Services ...............................26

Cinesite .....................................36

Hamburg Süd ............................20

Puerto Lirquén ..........................56

Tenda (Gafisa) ...........................21

Cisco ...................................26, 33

i-j

q-r

Tezca Células Solares................19

Clarksons Research Services ....34

IBM .....................................33, 42

Queiroz Galvão .........................35

TNS ...........................................40

CMC By Camusso ....................18

InviSys ......................................59

Racsa .........................................18

Transpetro .................................34

Colliers International ................32

Itajaí ..........................................34

Randstad....................................47

u-v

Comsa .......................................21

Itaú/Unibanco............................10

Red Hat .....................................33

UPS .....................................37, 40

Corporación América ................21

JBS ............................................56

Redwood Shores .......................33

UTC...........................................35

Detroit .......................................35

m-n

Research in Motion (RIM) ........57

Vale ...........................................35

Devon ........................................35

Manpower .................................42

RGE Monitor ............................48

Volkswagen ...............................20

DHL ..........................................37

Marfrig ......................................56

Rio-Maguari ..............................35

w-z

Digital Vision Solutions ............59

Marine Harvest..........................59

Rodobens...................................21

Wilson, Sons .............................35

DreamWorks .............................36

Mauá .........................................34

s-t

WTorre ......................................35

e-f

Microsoft Research ...................58

Samsung ....................................57

Zheta Pricing .............................38

Eisa............................................34

Microsoft .............................33, 41

Santa Cruz .................................35

Zoon Night Club .......................47

8 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

Consulting ...........................18


ECONOMIZAR BILHÕES PELO RESFRIAMENTO DO EXCESSO DE CALOR PRODUZIDO POR DATA CENTERS PREVENINDO QUE ESSE EXCESSO OCORRA.

ISSO NUNCA FOI FEITO

ANTES

HV^WV bV^h Zb Emerson.com/EnergyLogic D ad\di^ed YV :bZghdc jbV BVgXV GZ\^higVYV Z jbV BVgXV YZ HZgk^ d YV :bZghdc :aZXig^X 8d# '%%. :bZghdc :aZXig^X 8d# TM


O S N E G Ó C I O S D A A M É R I C A L AT I N A O N L I N E

ODEBRECHT DE OLHO NA INFRAESTRUTURA DA AL A América Latina avançava antes da turbulência econômica global em velocidade que não era sustentável, pelo déficit de infraestrutura e mão-de-obra capacitada. Este foi um dos pontos levantados por Marcelo Odebrecht, presidente do grupo Odebrecht, durante o Fórum Econômico Mundial da AL, em abril. “Não estou nem falando de talentos, mas de mão-de-obra capacitada”, esclareceu.

RESPOSTAS LATINOAMERICANAS PARA A CRISE Durante o Fórum Econômico Mundial da América Latina, realizado em abril, no Rio de Janeiro, especialistas avaliaram que não há uma fórmula para amenizar os efeitos da crise econômica internacional na região. “Não é como as que estamos acostumados, não é uma crise política, de balança de pagamentos, de inadimplência ou de inflação. Também não temos o tipo de bolha de alavancagem que vemos noutras regiões e, por isso, não podemos buscar as mesmas soluções adotadas pelo G7”, disse o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Para Ricardo Marino, diretor do Itaú/Unibanco, não é uma questão de crise estrutural na AL, mas uma “contração cíclica exportada de fora”. Entre os temores manifestados no encontro está o crescimento do desemprego. “Estamos vendo ou veremos logo taxas de desemprego de dois dígitos”, alertou Felipe Larrain Bascuñán, professor de Economia da Universidade Católica do Chile.

A CHINA ESTÁ CONFIANTE NA RECUPERAÇÃO ECONÔMICA A crise trouxe grandes desafios à economia chinesa, como o declínio pronunciado nas exportações e capacidade ociosa nas indústrias. Contudo, ao falar no fórum asiático BOAO, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao (foto), mostrou-se otimista. De fato, argumenta em artigo Durval Noronha Goyos Jr., sócio do escritório Noronha Advogados e árbitro da Organização Mundial do Comércio, a China parece bem posicionada para ser o principal agente da retomada global.

GOVERNOS QUEREM PROMOVER A REGIÃO DE FORMA CONJUNTA Os governos sulamericanos estão reunindo esforços para promover a região de forma integrada. De acordo com Alessandro Teixeira, presidente da Apex, o primeiro evento com participação conjunta será a 7º edição do World Investment Conference, em junho, em La Baule, na França. A vantagem de promover a região em grupo, de acordo com Teixeira, é a possibilidade de diversificar a oferta.

AINDA NÃO RECEBE? LEIA O QUE ACONTECE NOS PRINCIPAIS SETORES DA ECONOMIA E DOS NEGÓCIOS REGIONAIS EM SEU E-MAIL. ASSINE. 10 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009



CARTAS e comentários

cartas@americaeconomia.com

latinoamericanos vão se defender. Ricardo Ramos Medellín, Colômbia

Nota do editor: Veja a pág. 52

Modelo amazônico

Fundos para multilatinas Muito interessante seu estudo sobre as empresas mais globais da América Latina (“Ranking Multilatinas”, AméricaEconomia N° 374, abril, 2009). É curioso ver como essas corporações foram estendendo seu domínio a novos mercados. É preocupante, porém, sua fragilidade financeira. Esperemos que os mercados de capitais da região possam, apesar da crise, prover financiamento para que estas e outras empresas mantenham suas campanhas internacionais. Alberto Pérez San José, Costa Rica.

História de uma crise I Li com atenção a análise 12 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

numérica sobre o impacto da crise (“História de uma crise”, AméricaEconomia N° 374, abril, 2009) e me pareceu espetacular. Não apenas por seu conteúdo, que mostra um trabalho sério e minucioso, mas pela clareza que oferece para visualizar a magnitude da crise na região. Parabéns e obrigado por nos manter informados. Edmundo Aguirre Quito, Equador

História de uma crise II Ao analisar as cifras (“História de uma crise”, AméricaEconomia N° 374, abril, 2009) é óbvio que temos um problema, e muito grande. A pergunta do milhão é quais medidas os governos mundiais vão tomar para combater esta crise e como os governos

Muito interessante a matéria sobre um modelo sustentável para a floresta amazônica (“Celeiro em risco”, AméricaEconomia N° 373, 15 de março, 2009). Financiar as famílias nativas para que não desmatem deve ser parte central do modelo. Tomara que no Peru se faça algo parecido ao que se está fazendo no Brasil. Em nosso país, as familias amazônicas sobrevivem graças à madeira e ao carvão que extraem de extensas áreas de florestas. Para que não o façam, alguém deve compensar o serviço que prestam ao não cortar as árvores. Luís Wong García Lima, Peru

Armas do Brasil Muito valente sua história sobre o problema do tráfico de armas dos EUA ao México (“Tiros da discórdia”, AméricaEconomia N° 373, 15 de março, 2009). A emenda maldita que provê armas locais aos cartéis do narcotráfico deve terminar urgentemente no governo de Barack Obama. Mais interessante, entretanto,

é a informação de que o Brasil se tornou o principal exportador de armas esportivas aos Estados Unidos, nos últimos anos. Nosso querido amigo sulamericano então se transformou indiretamente (apesar de que isso possivelmente não reflita ignorância) em um provedor dos cartéis de droga mexicanos. Mais um motivo para que o México olhe o crescimento brasileiro com receio. Mario Guerrero Cidade do México

Especial de energia Muito ilustrativo esse especial (“Luz no fim do túnel”, AméricaEconomia N° 373, 15 de março, 2009). Gostaria muito de saber mais sobre energia solar, na qual, segundo alguns especialistas, está depositado o futuro. Chegará a ser tão eficiente que tornará todas as demais formas de geração obsoletas? Chegará o dia em que pequenas unidades sejam instaladas em cada casa, tornando os cabos coisa do passado? A indústria se moverá em base a energia solar? Seria formidável saber a opinião dos especialistas. O perigo é que “filtrem” seus critérios através da lógica atual, e que isso não lhes permita “sonhar a solução e trabalhar para convertê-la em realidade”. Emilio Santa María S. Domingo, R. Dominicana


MEMO DIRETOR EDITORIAL Felipe Aldunate M. EDITOR ADJUNTO Rodrigo Lara DIRETOR DE ARTE Álvaro Araya Urquiza EDITORES-EXECUTIVOS Solange Monteiro, Juan Pablo Rioseco, Eduardo Thomson EDITOR BRASIL Dubes Sônego ASSISTENTE DE EDIÇÃO Sérgio Spagnuolo ESCRITÓRIO EDITORIAL BRASIL (55 11) 3063-2049 EDITOR MÉXICO Arly Faundes EDITOR MIAMI Antonio María Delgado EDITOR DE FOTOGRAFIA Miguel Candia REPÓRTERES Soledad Gómez, Matías Rodo Yuricevic (Santiago) CORRESPONDENTES•ARGENTINA Juan Pablo Dalmasso •COLÔMBIA Lucía Valdés •MÉXICO Carolina Solís •PERU Cecilia Niezen•URUGUAI Guillermo Pellegrino •VENEZUELA Dorothy Kronick •AMÉRICA CENTRAL Ricardo Castillo MIAMI Carlos Molina •WASHINGTON Antonieta Cádiz • COLUNISTAS•Susan Kaufman Purcell•Félix Peña •Abraham Lowenthal •John Edmunds •Javier Santiso DIAGRAMAÇÃO Riffka Schiro-kauer J., Sebastián Caro P.

•ILUSTRADORES Soledad Tirapegui, Rodrigo Díaz Carrizo REVISORA Adriana Casarotti

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE (estudos e projetos especiais) •DIRETOR Rodrigo Díaz •SUBDIRETOR Jaime Contreras •COORDENADORA DE ESTUDOS Daniela González •EDITORA Karin Hernández •ANALISTAS Paulina Saavedra, Andrea Medina AMÉRICAECONOMIA.COM

•EDITOR ESPANHOL Eduardo Coronado •EDITOR BRASIL Mel Bornstein •SUBEDITORMarcelo García •REPÓRTERES Marcelo Galli, Pablo Jamett, Alejandra Clavería

•REDATORES Patricia Zvaighaft, María paz Órdenes •TRADUTOR Juan Pardo •WEBMASTER José Fuentes DIRETORA COMERCIAL EUA Verónica Lizama • DIRETORA COMERCIAL MÉXICO Juliana Kollinger • VENDAS PUBLICIDADE Jannifer Price (Miami), Rafael Solís, Tanya Mejía Maya (Cidade do México •DIRETOR DE MARKETING Marcelo Silva Symmes• DIRETORA COMERCIAL CHILE María Alejandra Vigh • VENDAS CHILE Tibisay Campbell, Paz Lecea • DIRETORA COMERCIAL PERU Alejandra Bustamante •EXECUTIVA DE VENDAS PERU Maria Claudia Díaz-Dulanto • GERENTE DE PRODUÇÃO Constanza del Río Moreno •DIRETOR DE CIRCULAÇÃO Marcial Delcorto • GERENTE DE INFORMÁTICA E LOGÍSTICA Óscar Sánchez • BRASIL•HV2 Comercialização de Mídia •DIRETOR-GERAL Hélcio Vieira •GERENTE DE PUBLICIDADE Oscar da Silva Alves •GERENTES DE NEGÓCIOS Nícolas Cardoso Slamek •GERENTE DE MARKETING Denise Terranova Rua Cel. Arthur de Paula Ferreira, 59 - cj 111São Paulo - SP - Brasil CEP 04511-060 Tel.: 5511-3846-5588

ESCRITÓRIOS COMERCIAIS • EUA Tel: 305/648-9071 •MÉXICO Tel: 5255/5254-2400 Fax: 5254-7510 • ARGENTINA Claudia Dasso Tel: 5411/4383-8410 - 4383-8416 •CHILE Tel: 562/290-9400 Fax: 341-5687 • AMÉRICA CENTRAL Julio Lemus Tel-Fax: 502/2261-0278 • PANAMÁ Yadyra de Paz y Miño Tel: 507/271-5327 - 507/66787564 • PERU Patricia Anduaga 511-6107217, María Claudia Díaz-Dulanto 511-6107216 REPRESENTANTES INTERNACIONAIS • ALEMANHA 49211/887-2328 • ESCANDINÁVIA 4755/92-5192 Fax: 92-5190 • ESPANHA 3491/441-6266 Fax: 441-6549 • FRANÇA 331/4143-7057 • ITÁLIA 3902/670-73383 • REINO UNIDO 4420/7538-5811 • SUÍÇA 411/269-7070 REDAÇÕES • SANTIAGO 562/290-9400 • CIDADE DO MÉXICO 5255/52542400 • BUENOS AIRES 5411/4383-8410 • MIAMI 305/648-9071

CIDADES DO FUTURO MUITAS DAS GRANDES CIDADES latinoamericanas nasceram há quase cinco séculos. Com algumas variações e exceções, nossas capitais foram fundadas (ou refundadas) por conquistadores europeus que chegaram nas décadas seguintes ao descobrimento da América. Portanto, não são poucas as que estão no caminho de comemorar seu quinto centenário. Quando isso acontecer, como serão essas cidades? Uma pergunta que Bogotá já está respondendo. Na última década, a capital colombiana se transformou, e anualmente organiza a Bogotá 2.038, conferência destinada a discutir seus problemas e obter ideias concretas de melhorias. Isso porque, para ser competitiva, uma cidade tem que pensar em seu futuro constantemente. Esse é o chamado da nova edição do ranking Melhores Cidades para Fazer Negócios, elaborado por AméricaEconomia Intelligence que inclui novas variáveis relacionadas com a sustentabilidade ambiental das cidades. Além disso, nosso editor Rodrigo Lara preparou “As cidades do futuro”, uma provocadora matéria sobre os desafios urgentes de nossas grandes capitais. E não é só. Com a crise financeira, muitos indicadores de desempenho econômico estão em queda, enquanto o desemprego aumenta. Para evitar este círculo vicioso, alguns governos latinoamericanos estão desenvolvendo planos de estímulo para amortizar seus efeitos. Mas nem todos poderão fazê-lo SOLEDAD: A CRISE da mesma forma. “Os países meDOS ESTÍMULOS nores e mais pobres da região têm altos níveis de dívida e poucos recursos para levar um plano a cabo”, diz Soledad Gómez em “Todos ao resgate”, uma interessante análise numérica realizada com base na compilação de planos de estímulo que estão sendo desenvolvidos nos diferentes países da região e a capacidade dos mesmos de financiá-los. Uma tarefa complexa, pois trabalhar com o orçamento público na América Latina continua sendo um desafio mesmo para os economistas mais experientes. “Nem nos ministérios de finanças se tem claro o que se faz”, afirma Soledad, que viveu em San Francisco, Califórnia, e chegou à AméricaEconomia há seis meses, depois de trabalhar em algumas empresas financeiras do Chile. “Conseguir a informação”, diz, “é outra crise”.

AméricaEconomia é uma publicação mensal da Nanbei Ltd. •Impressa na Quebecor World Chile S.A. Publicação periódica•Registro PP09-0011 PRESIDENTE Nils Strandberg CHAIRMAN Robert R. Paradise

Certificado Licitud de Título Nº 4090 . Certificado Licitud de Contenido Nº 3346 . AméricaEconomía is a Nanbei Ltd. Monthly publication

Felipe Aldunate M. Diretor Editorial

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 13

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DIRETOR Elías Selman Carranza VICE-PRESIDENTE-EXECUTIVA Gloria Landabur


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EDITORIAL FOCO NOS EMERGENTES desigualdade mundial existe. Por isso, não é de estranhar que os governos de países industrializados tenham, inclusive em meio à crise, mecanismos para captar recursos e gerar planos de estímulo fiscal que compensem a contração econômica de alguma forma. A situação é diferente nos países mais pobres, que, por motivo de uma crise gerada no Primeiro Mundo, terão que suspender investimentos sociais importantes em saúde, educação e obras públicas básicas. A experiência histórica da América Latina e de outras regiões emergentes, como a asiática, nos mostra que, em períodos de crise, gerar política restritivas aprofunda o estancamento econômico, aumenta a pobreza e alimenta distúrbios sociais. Por isso, e como a

AFP

A

reativação global dos países emergentes deve ter um papel-chave, o foco das políticas de distribuição de recursos dos entes multilaterais deve ser os mais pobres. As palavras do presidente do Banco Mundial Robert Zoellick (à esquerda na foto) no encontro de ministros de Finanças em Washington, no final de abril, reafirma

esta ideia. Bem como a declaração final que ficou do encontro. O problema é que isso deve ser feito já, e com mecanismos eficientes. Apesar de a China ter mostrado alguns sinais de recuperação (não totalmente convincentes), na grande maioria dos países emergentes o desemprego está subindo no mesmo ritmo que sua economia

se debilita. Muitos países não estão preparados para receber recursos das multinacionais da mesma forma que se faz tradicionalmente, e por isso serão estas que terão que mudar para cumprir o objetivo de evitar que de uma crise financeira e econômica passemos a uma crise de desenvolvimento. Q

como prefeito. Foi uma decisão lógica. Mesmo que a acusação seja certa, o ódio e a pressão com a qual Hugo Chávez empurrava Rosales aos tribunais minaria a possibilidade de um julgamento justo. Não é segredo que instituições democráticas básicas, como a separação dos poderes do Estado e um sistema de balanço e monitoramento entre eles, estão se desmantelando na Venezuela. Em um sistema como esse, a perseguição política

pode facilmente tomar a forma de perseguição criminosa comum, ou a de um processo civil que poderia ser seguido de ofício público. A decisão peruana de respeitar o direito internacional em matéria de asilo político e invocar a tradição republicana que o país têm nesse sentido é um ato digno de replicar e que provavelmente mais nações latinoamericanas terão que seguir nos próximos meses, ainda que não gostem da ideia. Q

Asilo político

T

rata-se de um direito de longa tradição na América Latina. Presidentes e líderes de oposição de quase todos os países da região, de todas as cores, buscaram asilo político quando acharam que era necessário. Trata-se de um direito apoiado por diferentes convenções e declarações assinadas por países latinoamericanos. Portanto, o asilo não pode ser considerado um ato de covardia de quem o solicita, nem inimigo o país que o

concede. Trata-se de um recurso legítimo para quem se sente perseguido por motivos políticos, além de ser uma ferramenta que contribui para a estabilidade política interna. Apesar de tudo, não se deve aplaudir em excesso a decisão do Peru de respeitar esse direito e dar asilo político ao venezuelano Manuel Rosales, prefeito de Maracaibo, ex-candidato presidencial que lidera a oposição a Hugo Chávez e foi acusado de má administração de recursos,

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 15


SEGUINDO A PISTA NINGUÉM SE SALVA PUBLICAMOS:Desde janeiro de 2008, já são cerca de 120 os jornais que fecharam suas portas. A pergunta que fica é: fecha porque as pessoas migraram para a internet e já não os leem, ou porque os anunciantes já não compram espaços publicitários? (“A dupla crise da mídia”, AméricaEconomia, abril, 2009) O NOVO: Não é só para a internet – e para os meios – que a coisa tem sido difícil. O Google anunciou recentemente que este ano terá que desembolsar cerca de US$ 470 milhões pelo YouTube – sucesso entre os portais de vídeo online – devido à falta de receita publicitária. Para alguns analistas, o erro do Google nesse negócio foi ignorar o pedido de Hollywood para controlar os conteúdos sujeitos a direitos autorais que os usuários do site sobem à rede – e que hoje equivalem a um pagamento anual de cerca de US$ 160 milhões.

E O TREM NÃO CHEGA... PUBLICAMOS: O relatório da CG/LA identifica alguns dos principais projetos requeridos na região que, em alguns casos, continuam em fase de estudo, mas que são de vital importância para o desenvolvimento da região. Estes incluem o trem de alta velocidade entre Rio de Janeiro e São Paulo (US$ 11 bilhões). (“O top 10 de projetos de infraestrutura”, AméricaEconomia, 15 de dezembro, 2008). O NOVO: Parece haver surgido mais um motivo para o trem não partir. Fontes do setor declararam que, segundo um estudo técnico preparado pela inglesa Halcrow entregue ao ministério dos Transportes do Brasil, o Trem de Alta Velocidade (TAV) custaria um pouco mais que o previsto: US$ 14 bilhões – o que tornaria o apoio do governo ainda mais vital para a execução da obra. Mas em época de arrecadação em baixa, é difícil acreditar na capacidade financeira deste para levar esse projeto a cabo.

DESEQUILÍBRIO NA BALANÇA PUBLICAMOS: Em Cuba, a destruição das plantações deverá impulsionar a importação de alimentos, mas isso não é tão simples quando falta dinheiro. Os preços do níquel, uma das matérias-primas que exporta, caíram de US$ 50 mil a tonelada em 2007 a US$ 15 mil. (“A ressaca dos furacões”, AméricaEconomia, 15 de dezembro, 2008) O NOVO: Segundo o Escritório Nacional de Estadísticas de Cuba, o déficit comercial da Ilha em 2008 foi de US$ 10,7 bilhões, devido ao aumento de 41% nas importações. No ano passado, dos US$ 18,28 bilhões registrados como intercâmbio comercial, US$ 3,78 bi foram exportações e US$ 14,5 bi, importações.

16 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

Mais um na lista PUBLICAMOS: Quem está mais próximo de seguir os brasileiros com a portabilidade numérica é o México, que abriu consulta pública no final do ano passado e previa a regulamentação também para o primeiro semestre deste ano. “Outros países, como Colômbia e Chile, com uma curva de crescimento já em desaceleração, também estão maduros para que o governo avalie a possibilidade de impulsionar a concorrência através da portabilidade na telefonia”, afirma Wally Swain, vice-presidente sênior de Mercados Emergentes do Yankee Group. (“O dono do número”, AméricaEconomia, 7 de maio, 2007) O NOVO: A partir do segundo semestre de 2010, o Chile se somará aos países latinoamericanos com portabilidade numérica de telefonia fixa e móvel – México e Brasil. Essa é a previsão dada pelo ministro de Transportes e Telecomunicações do país, René Cortázar. Calcula-se que somente as empresas de telefonia móvel terão que investir conjuntamente mais de US$ 100 milhões na adaptação do sistema.


MOVIMENTOS

Bebidas contracíclicas clicass COMPRAR UMA PRODUTORA ORA e ser de cachaça no Brasil pode te um bom investimento neste onômomento. A contração econôdo os mica mundial está mudando padrões de consumo de quem as, gosta de bebidas alcoólicas, odufavorecendo destilados produzidos localmente ao invés de undo a produtos importados. Segundo monitor consultoria inglesa Euromonitor anhaInternacional, o grande ganhador na América Latina é a cervemo têm ja, cujos níveis de consumo aíses. aumentado em todos os países. esciA consultoria prevê um crescimento anual mais tímido, a partir deste ano - de 4,1% entre 2009 e dos de 2013, ante os 6% observados 2003 a 2008 - mas, ainda assim, nho e positivo. O consumo de vinho outras bebidas alcoólicas, por 9% outro lado, só crescerá 1,9% anualmente até 2013. EDUARDO THOMSON / SANTIAGO TIAGO

CONSUMO 2008 EM LITROS PER CAPITA PAÍS Argentina Brasil Chile Colômbia México Venezuela A.Latina

CERVEJA VINHO DESTILADOS 47,8 30,7 1,5 58,9 1,9 7,1 35,5 15,2 3,7 47,8 0,6 2,4 61,9 0,6 1,9 85,3 0,6 4,1 49,9 3,7 4,0

FONTE: EUROMONITOR INTERNACIONAL

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 17


MOVIMENTOS WiMAX em doses A TECNOLOGIA DE SINAL de banda larga através de microondas, WiMAX, se tornou um ator secundário no mercado. Segundo o estudo “Análise do modelo de negócio WiMAX na América Latina”, da Signals Telecom Consulting, entre 2009 e 2013 o WiMAX só representará 1,8% das conexões de banda larga na região. Segundo José Otero, da Signals, as velocidades ofertadas são baixas e os custos elevados. “A maioria das ofertas de WiMAX na América Latina e Caribe são de velocidades menores que 2MB. Dificilmente se observam ofertas de 4MB, como a da Racsa na Costa Rica, a um preço de US$ 244 por mês.” Otero assegura que o WiMAX serve aos provedores para crescer rapidamente em zonas sem rede fixa. “Uma vez que o operador alcance uma massa crítica de clientes que viabilize o retorno dos investimentos dentro de um prazo de tempo razoável, é viável substituir a rede WiMAX por infraestrutura de cabo”. SOLEDAD GÓMEZ / SANTIAGO

CAMUSSO: LUXO TIPO EXPORTAÇÃO

vai &

vem

EIKE BATISTA

A OGX, empresa do setor de petróleo e gás natural controlada pelo Grupo EBX, anunciou que o empresário Eike Batista será o novo presidente da companhia no lugar de Rodolfo Landim. Landim passará a ser assistente no desenvolvimento de novos negócios do Grupo EBX, cujo foco são projetos de infraestrutura em geral. A General Electric nomeou Lionel Ramírez como presidente da divisão de Iluminação e Industrial da América Latina. A cargo de 1,5 mil funcionários em 14 países, a GE vê boas oportunidades de crescimento na região. A Hitachi Data Systems indicou Sergio Serrenho como gerente de tecnologia na América do Sul. O executivo cuidará das atividades de consultoria profissional na Argentina, Chile, Peru, Equador, Paraguai, Uruguai e Bolívia.

Prata que brilha MENOS VALORIZADA NOS ÚLTIMOS anos, a prata ganha a preferência dos peruanos. E não tem brilhado apenas no negócio de jóias: também invadiu o segmento de acessórios como carteiras, correntes, lentes e garrafas de pisco, que recebem aplicações do metal nobre e se tornaram uma alternativa de presente exclusiva. A empresa de ourivesaria Camusso lançou a franquia de sua marca CMC By Camusso, com desenhos de vanguarda em acessórios de moda. “Hoje em dia os clientes exigem não apenas desenhos e boa qualidade, e sim marcas de prestígio”, diz Fabio Tonani, diretor-gerente da Camusso. A empresa já abriu sua primeira loja no exclusivo centro comercial Jockey Plaza e levará a marca, através de franquias, à Colômbia, Argentina, Dubai, Espanha e aos EUA. E já investiu cerca de US$ 400 mil na implantação de uma nova linha, orientada ao segmento juvenil. “Somos os primeiros produtores de prata, contudo, nossos produtos são ainda considerados artesanais”, diz Tonani. “Pouco a pouco, vê-se que muitas empresas do setor apostam em oferecer produtos de qualidade para os gostos mais exigentes”. NATALIA VERA / LIMA

18 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

Stelleo Tolda, responsável pelas operações do MercadoLivre. com no Brasil há quase dez anos, acaba de ser promovido a COO da companhia para a América Latina. A. Hernán Kazah, que ocupava o posto assumido por Tolda, será o novo CFO da companhia. A Avaya empossou Andrea Padilla como gerente de marketing para o Caribe e América Latina. Padilla alinhará os programas focados na consolidação do mercado corporativo e buscará aumentar o reconhecimento da marca na região.


MOVIMENTOS O hambúrguer búrguer córdia da discórdia

F Fotossíntese artificial a

A IDEIA ERA COMEMORAR MEMORAR a fusão entre a cozinha mexicana xicana e a do Texas. O resultado foi um m escândalo diplomático que obrigou a empresa de fastt food Burger King a retirar irar sua campanha de publiciblicidade para promover ver na Espanha seu novo produto, o “Texican Whopper”. m No comercial, um vaqueiro norteamemericano aparece junto unto a um lutador mexicaxicano de baixa estatura ura e vestido com uma ma máscara, o que foi oi interpretado como um m estereótipo ofensivo à nação mexicana. A campanha levou o embaixador mexicano na Espanha, Jorge Zermeño, a protestar pela mensagem ofensiva e, especialmente, pelo uso indevido da bandeira nacional. “A lei mexicana diz que a bandeira e o escudo nacionais podem ser usados unicamente para atos solenes ou representações”, afirmou Javier Urbano, acadêmico do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Iberoamericana. “Neste sentido, não é possível que um país possa permitir que uma empresa faça uso comercial da bandeira de outro país”.

OS DIAS DA ENERGIA solar cara parecem estar contados. A brasileira Tezca Células Solares, uma spin-off da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), patenteou sua própria tecnologia de células fotovoltaicas, com base em pigmentos que captam a energia solar como a fotossíntese nas plantas, projetando um custo de US$ 0,40 por watt, contra US$ 3 da tecnologia de silício. Embora a tecnologia brasileira consiga converter em eletricidade a apenas 8% da luz que recebe, contra 11% das células atuais, quem vê o copo meio cheio acredita que a porcentagem eventualmente será maior, após algumas provas de laboratório terem equiparado os níveis de eficácia. Prontamente, a Tezca já lançou um plano de investimento de US$ 5 milhões mirando o mercado latinoamericano. “Só no Brasil temos um mercado de 200 milhões de gadgets (portáteis), mais possíveis aplicações em sensores remotos, sistemas de rádio, iluminação, sinalização e edifícios”, explica o diretor da Tezca, Caio Bonilha.

LISIA GONZÁLEZ / CIDADE DO MÉXICO

JUAN PABLO DALMASSO / CÓRDOBA

A cotidiana informalidade

Mais de 50% do emprego na AL é informal FONTE: OCDE

AMÉRICA LATINA

Emprego Informal

58

6,2

57

6

56

5,8

55

5,6

54

5,4

53

5,2

52

5

51 50

1990-94

1995-99

Porcentagem do emprego informal no setor agrícola

2000-07

4,8

PIB per capita real

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 19

FERNANDO CARRASCO CRUCHAGA

SOLEDAD GÓMEZ / SANTIAGO

À MARGEM

PIB per capita real (mil US$)

A INFORMALIDADE É A NORMA e não a exceção. Segundo um estudo publicado recentemente pela OCDE, intitulado “É normal a informalidade”, o setor informal é responsável por mais de 50% dos empregos nos países em desenvolvimento e engloba 54,2% do trabalho agrícola na América Latina. Segundo o estudo, a crise golpeará estes países, nos quais a maioria dos trabalhadores não tem acesso a benefícios de previdência social, por não terem trabalho formal. Mais ainda, devido à crise deve aumentar o número de pessoas na informalidade. Como explica Juan Ramón de la Iglesia, economista do Centro de Desenvolvimento da OCDE e coautor do texto, “se se levar em conta o que aconteceu em crises anteriores de tamanho comparável, como a do sudeste asiático nos anos 1990 ou na Argentina, os primeiros que perdem o emprego são trabalhadores informais, o que mostra que, no começo, há uma redução da informalidade”. Obviamente, neste caso, o remédio (sob a forma de um desemprego maior), seria pior que a doença.


MOVIMENTOS Em ritmo de IPI

CARPINTEYRO NÃO REVELA SEU DESTINO PROFISSIONAL

O segredo de Puri ONDE ANDA PURIFICACIÓN Carpinteyro depois de sua ruidosa saída do cargo de subsecretária de Comunicações e Transporte do México em fevereiro passado? Na ocasião, Purificación alegou diferenças irreconciliáveis com o titular da pasta, Luis Téllez. “Naquele momento, a saída era o mais honroso de minha parte”, diz. Depois surgiram revelações de conversas telefônicas entre Téllez e ela. Logo, diferentes políticos terminaram provocando também a saída de Téllez da secretaria e uma onda críticas sobre Purificación. Hoje Téllez é o novo presidente da Bolsa Mexicana de Valores, enquanto Carpinteyro também desenha seus próximos passos. “Não me convém anunciar onde estou”, diz, enfaticamente. “Não estou morta; estou com vontade de continuar, e com projetos econômicos para conseguir que o México dê esse salto quantitativo para alcançar os países desenvolvidos em infraestrutura e serviço.” Com um extenso currículo em empresas e uma suposta proximidade com o magnata Carlos Slim, provavelmente ela voltará à iniciativa privada. “Ela é muito bemavaliada na indústria”, diz Luis Bermudes, diretor de conta da empresa de estudos de opinião pública Simo.

A DECISÃO DO GOVERNO brasileiro de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis não apenas ajudou a reativar as vendas do setor no país, em meio à crise. Também contribuiu para uma reviravolta no ranking de vendas. Embalada pelo lançamento da nova versão do mais popular de seus modelos, o Gol, em meados do ano passado, a Volkswagen acreditou no pacote do governo e manteve o ritmo de produção, enquanto sua principal rival, a Fiat, seguiu em sentido contrário, pisando no freio por temor de ficar com os pátios cheios. De acordo com os números mais recentes da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a diferença em fevereiro foi de pouco mais de 8 mil carros a favor da montadora alemã. Em janeiro, havia sido de pouco menos de 4 mil. Resta saber agora, com as duas acelerando, qual terminará o ano na liderança. DUBES SÔNEGO / SÃO PAULO

ARLY FAUNDES B. / CIDADE DO MÉXICO

Hamburg Süd aposta em Cartagena

CUÉLLAR: NOVO NÚCLEO DE OPERAÇÃO

20 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

A BELA ARQUITETURA colonial é o motivo pelo qual Cartagena das Índias foi declarada patrimônio da humanidade. Mas sua conveniente localização geográfica e amplas instalações justificam sua transformação em um dos maiores portos de carga da Colômbia, e a razão pela qual a empresa de carga marítima Hamburg Süd escolheu a cidade como

hub para concentrar todos os embarques provenientes do Caribe. “Agora, todos os nossos barcos passarão pelo porto de Cartagena”, diz o gerente geral da Hamburg Süd na Colômbia, Liborio Cuéllar. A decisão ocorre num momento em que os portos da região sofreram uma intensa concorrência com a intenção de atrair os grandes operadores

EDUARDO THOMSON / SANTIAGO

marítimos, oferecendo serviços integrados e ampliando sua capacidade para receber barcos de maior calado. “Mas o que nos convenceu de fazer o hub em Cartagena é que, além de movimentar muita carga internacional, o porto também move muita carga nacional, o que não se pode dizer de outros hubs, como, por exemplo, o Panamá”, diz o executivo.


MOVIMENTOS MAIS CASAS, MAIS EMPREGOS

Elixir habitacional AS RECENTES MEDIDAS ANUNCIADAS pelo governo brasileiro na área de habitação, encabeçadas pelo pacote “Minha casa, minha vida”, de R$ 34 bilhões em subsídios voltados às famílias de baixa renda, renovaram os ânimos do setor de construção, que andava desnorteado após o estouro da crise econômica. Reflexos são esperados em todos os elos da cadeia produtiva. A Caixa Econômica Federal, estima a geração de 3,5 milhões de empregos formais, em três anos, dos quais 800 mil em 2009. No mercado de ações, porém, os impactos deverão ser limitados. Pelo menos no curto prazo. “O foco do programa é a população com renda de até três salários mínimos, com preço unitário do imóvel de R$ 40 mil. Hoje, nenhuma incorporadora opera nesse segmento e possui esse tipo de produto”, afirma Eduardo Silveira, do Banco Fator. No médio prazo, entre as companhias listadas na BM&F Bovespa com maior potencial de se beneficiarem do pacote, o banco aponta Tenda (Gafisa), MRV, Rodobens e PDG Realty. DUBES SÔNEGO / SÃO PAULO

TRÊM BIOCEÂNICO: NOVOS SÓCIOS

Tatus andinos PASSO A PASSO VAI AVANÇANDO o projeto de construção do Corredor Bioceânico Central, um túnel de baixa estatura que unirá a Argentina e o Chile e exigirá US$ 3 bilhões para ser construído. A Corporación América, grupo por trás do projeto vinculado ao empresário argentino Eduardo Eurnekián, apresentou no fim de março os estudos de viabilidade aos governos de ambos os países com três alternativas possíveis. Ao mesmo tempo, está trabalhando na confirmação do consórcio que participaria do projeto. Hugo Eurnekián, vicepresidente da empresa, disse que já foram firmados acordos de entendimento com o consórcio chileno Empresas Navieiras, a argentina Cartellone, a holding espanhola Comsa e a consultoria italiana Geodata. Mas há espaço para mais sócios. “São necessárias empresas com grande capacidade. Também podem participar empresas chinesas, europeias e japonesas.” Eles estariam próximos de fechar acordo com empresas brasileiras e uruguaias, e em conversas com uma companhia chinesa. Ainda não há data para a estruturação final do consórcio, mas de acordo com o cronograma interno, uma posição final é esperada para o segundo semestre.

A vingança de Montezuma UMA DAS HISTÓRIAS POUCO conhecidas da miniguerra comercial entre México e EUA, desencadeada logo após Washington retirar a permissão dos caminhões mexicanos de transportar bens através da fronteira, é a de como o país asteca desenhou sua represália. Ou seja, como escolheu 90 produtos de produção orteamericana e aumentou tarifas *Mais de sobre eles. Um 80% do codos funcionámércio entre rios comerciais os EUA e o que participou se México da decisão condão por via ta que analisouterrestre se cuidadosamente a lista de senadores *O incremento que votaram con- de taxas afetará produtos agrícolas e tra a perde cerca industriais missão de de 40 estados dos EUA caminhoem aproximadaneiros memente US$ 2,4 xicanos. bilhões A partir daí, foram escolhidos os produtos de associações empresariais que financiaram suas campanhas, alguns produtos especialmente sensíveis em seus Estados. “Nós ríamos enquanto íamos elaborando a lista para selecionar os produtos que os afetavam”, disse o funcionário mexicano, que pediu para não ser identificado. “Mas o objetivo disto é que o Senado dos EUA se dê conta que muitas das decisões que toma quanto ao México podem ter efeitos diretos em sua realidade doméstica.” FELIPE ALDUNATE M.

PATRICIA ZVAIGHAFT / SANTIAGO

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 21



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Santiago

6,92

84.723

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77,7

71,9 -16,9

43,6

33,2

49,0 -10,1

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19,5

32,2 -30,4 100,0

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5,44 254.338 -2,28

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59,7 -27,1 44,3

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43,3

8,1

58,0 -36,9

77,8

54,7

4,6

54,0

54,3 -15,8

70,1

-13,0 -9,7

64,8

4

4 .mx C. do México

20,59 229.995

3,03

62,5

58,7 -21,8

54,3

37,1

48,2

12,2 48,6 -24,4

54,0

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5

5 .ar

Buenos Aires

12,65

154.741

5,54

51,4

50,9

6,9

51,6

21,6

38,1 -21,9

46,9

13,5

73,1

21,9

42,8

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6

8 .co

Bogotá

7,33

66.754

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64,6

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9,4

36,2

24,8

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9 .pe

Lima

8,59

40.182

7,81

62,0

54,0 -14,1 46,0

94,4

17,6 -43,8

42,6

34,1

58,0

42,5

28,1

13,5

60,9

8

14 .br

Belo Horizonte

2,45

18.224

7,08

58,6

59,6 -9,0

43,0

64,9

31,6

53,0

23,8

52,5

47,3

11,8

51,1

Montevidéu

1,48

15.735

9,45

64,3

62,8

6,6 48,3

114,1

13,3 -20,6

50,1 60,4

50,8 54,6

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55.876

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58,7 -21,8

82,6

9,9 -20,8

42,6

-0,7

45,3 58,6

9 20 .uy 10

6 .mx Monterrey

53,3

59,0

41,6 -18,1

69,9

55,7

51,9

43,8

17,0 -39,4

23,8

43,8

11,4 -15,0

34,2

-41,0

46,7

43,7

14,7

49,4 -20,9

67,3

43,4 42,3

33,2

11

11 .pa

C. do Panamá

1,36

15.697

9,20

65,1

59,2

31,7

21,2

43,9

81,7

32,2

31,4

58,1

-15,1

67,7

12

7 .br

Rio de Janeiro

11,95

101.450

-1,22

58,6

59,6 -9,0

25,9

-4,0

40,8

32,4

31,9

83,5

62,7 40,3

24,0

-4,0

50,4

23,0

62,5

41,7

13

17 .br

Brasília

2,49

51.564

3,41

58,6

59,6 -9,0 40,2

35,3

14,6

83,1

49,6

31,1

45,5

20,3

54,6

43,1

25,5

71,9

41,4 40,4

3,4 49,5

25,4

6,7 -46,5

51,0

14

12 .mx Querétaro

0,93

14.857

6,96

62,5

58,7 -21,8

46,1

73,0

14,2

17,5

39,3 -8,2

44,1 69,6 40,4

11,8

30,7

-31,3

72,2

15

13 .br

Porto Alegre

1,47

17.896

2,71

58,6

59,6 -9,0

29,6

10,9

37,7

53,3

42,7

78,6

45,1 56,6

10,8 -40,7

22,4

-53,4

76,4

39,7

16

10 .br

Curitiba

1,85

19.349

2,74

58,6

59,6 -9,0

31,5

17,6

17,7

39,7

50,2

20,6

50,7

51,8

13,9

6,8

42,8

-25,6

82,3

39,5

17

23 .mx Puebla

2,00

15.139

5,40

62,5

58,7 -21,8

39,9

123,3

12,6 -10,9

45,9

-9

44,2

80,1

11,6

51,6

34,6

186,5

59,3

39,3

18

- .cl

0,89

7.576

3,30

77,7

71,9 N.D.

24,9

N.D.

12,1

50,3 N.D.

47,3 N.D.

18,9

N.D.

23,9

N.D.

69,2

38,9

19

15 .mx Guadalajara

Valparaíso

N.D.

37.016

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39,9

118,9

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42,3

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47,6 65,9

12,2 -29,0

34,7 -46,6

65,2

38,9

Recife

1,54

11.275

5,62

58,6

59,6 -9,0

36,5

19,6

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72,5

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74,8

44,8

93,5

11,0

79,7

25,0

16,0

83,7

38,4

Florianópolis

0,85

4.052

2,68

58,6

59,6 -9,0 24,8

23,7

26,3

50,1

56,7

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50,7

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4,0

65,2

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57,5

37,5

0,77

7.105

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62,5

58,7 -21,8

37,7

23,0

7,2

-6,1

37,6 -18,1

42,2

73,4

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27,3

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36,7

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21

16 .br

22

18 .mx Chihuahua

23

19 .br

Fortaleza

2,50

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59,6 -9,0

30,7

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12,0

96,9

55,6

77,2

9,4

13,8

6,1

-13,5

70,2

36,6

24

- .cl

Concepción

0,68

5.635

1,10

77,7

71,9 N.D.

17,8

N.D.

21,5

N.D.

50,0 N.D.

45,0 N.D.

6,1

N.D.

9,6

N.D.

61,9

36,6

25

22 .co

Medellín

1,96

19.168

2,15

64,6

62,9

9,4 28,4

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12,3

2,4

38,4

45,7 80,9

13,7

51,3

29,9 -46,2

74,7

36,3

26

27 .mx León

4,47

7.610

7,01

62,5

58,7 -21,8 40,5 183,9

4,7

5,5

44,0 -8,5

48,8

49,3

2,3 -65,0

4,2 -63,4

74,7

36,0

50,0

29,2 42,1

27 28 .ec

Guayaquil

2,13

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5,95

45,2

53,0 -3,6

36,6

73,4

6,4 -36,4

40,2

28

Arequipa

0,88

5.213

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62,0

54,0 N.D. 44,9

N.D.

1,0

N.D.

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N.D.

19,9

N.D.

50,3

34,8 34,4

Cali

2,29

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24,9

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7,1

56,2

35,6

52,5 89,3

14,4

98,6

24,2

169,8

74,2

30

33 .mx Ciudad Juárez

1,67

14.211

5,75

62,5

58,7 -21,8

37,9

103,9

3,2

12,2

35,9 -18,1

46,0

69,1

6,4

36,6

4,3

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34,2

31

25 .cr

San José

1,58

10.874

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20,5

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47,6

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43,1

74,4

14,9

-34,1

29,1

-29,2

66,7

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32

37 .ec

Quito

2,45

10.440

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45,2

53,0 -3,6 28,6

112,5

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53,2 66,0

17,1

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36,5

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63,6

34,1

33

32 .mx Tijuana

1,28

16.286

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25,1

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63,6

N.D.

N.D.

59,5

33,8

79,4

40,0

20,1

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Salvador (Bahia)

2,80

14.542

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58,6

59,6 -9,0

27,2

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8,0

35

21 .pr

San Juan

1,70

40.534 -2,00

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64,7 -9,2

21,5

2,4

2,3 -42,4

36

31 .ar

Córdoba

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51,4

51,9

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30,2

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37 40 .gt

C. Guatemala

2,81

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Santo Domingo

2,01

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52,2

54,5

4,4 34,4

39

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Barranquilla

1,69

7.916

2,99

64,6

62,9 N.D.

40

- .pe

Trujillo

0,83

2.715

8,65

62,0

41 38 .py

Assunção

1,66

3.450

5,80

57,7

53,9

32,0

42 29 .ar

Rosario

1,42

12.673

2,53

51,4

51,9

43

Manaus

1,77

17.375

4,51

San Salvador

2,34

10.026

1,86

0,68

4.941

2,15

1,75

4.950

5,12

- .br

44 39 .sv 45

- .mx Aguascalientes

46

41 .bo

47

- .hn Tegucigalpa

Santa Cruz

59,5

52,7 46,0

15,5

26,0

2,2

-79,6

52,7

45,4 59,8

37,9

11,9

36,5 -39,4

4,2

143,7

69,0

33,2

43,7

15,8

43,5

49,7

2,3 -20,0

9,9

-52,7

67,0

32,8

14,5

11,4

89,0

7,6

59,0

30,3

39,7

42,0

51,1

6,1

-17,0

31,6

80,8

57,7

32,7

23,6

3,2 -17,9

40,4

79,8

43,1 45,8

7,7

-42,1

7,9

-12,4

61,7

32,6

25,1

N.D.

4,2

N.D.

24,5 N.D.

47,6 N.D.

6,1

N.D.

34,6

N.D.

71,4

32,6

54,0 N.D. 40,4

N.D.

1,0

N.D.

34,9 N.D.

42,5 N.D.

3,2

N.D.

N.D.

N.D.

50,4

32,5

27,6

41,9

5,4

-9,4

35,2 -0,2

42,7 99,4

1,6 383,3

32,6

358,2

47,4

31,5

8,9

26,1

-19,1

9,1

30,2

46,7

49,9

61,8

4,5

48,3

4,2

-75,4

62,5

31,4

58,6

59,6 N.D.

20,2

N.D.

N.D.

N.D.

50,4 N.D.

51,9 N.D.

8,8

N.D.

6,1

N.D.

73,6

31,1

72,3

68,1 44,3

21,5

34,4

4,1

20,3

25,9

38,6

4,6 -26,9

4,2

143,7

45,5

30,5

62,5

58,7 N.D.

25,8

N.D.

1,6

N.D.

35,7 N.D.

41,1 N.D.

1,2

N.D.

7,9

N.D.

70,5

30,1

50,9

44,7 10,8 30,6

136,4

2,0 -46,7

33,0 49,6

45,9 60,2

2,2 -39,6

30,4

91,3

64,2

29,3

9,9 37,1

51,9

1,35

5.512

3,95

57,2

54,8 N.D. 28,9

N.D.

0,6

N.D.

31,6 N.D.

40,2 N.D.

7,1

N.D.

2,2

N.D.

28,3

29,2

0,86

10.069

0,88

51,4

51,9

8,9 20,8 -40,4

6,7

20,1

47,9 -14,0

38,6 69,4

1,8

-11,6

7,9 286,4

71,2

28,8

Caracas

3,75

42.772

2,57

32,4

38,7

12,1

-14,2

10,7 -34,6

15,8 -24,7

34,2 -11,4

24,9

30,5

22,0

150,3

51,9

27,5

La Paz

1,85

3.807

4,11

50,9

44,7 10,8

27,0 163,8

5,1 -13,9

31,6

44,5

2,0

-37,2

2,2

-71,2

33,2

26,9

48 30 .ar

Mendoza

49 34 .ve 50 42 .bo

31,1

24,3

20,5

2 0 0 9

34 26 .br

47,7

97,4

42,7 N.D.

c i d a d e s

4,09

20 24 .br

29 36 .co

*Não inclui variação anual por ser avaliada pela primeira vez

Ci

0 Pa 8 ís

09

RK

RK

1 .br 3 .cl

R a n k i n g

1 2

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 23


Os governos municipais da região estão tomando medidas concretas em temas de sustentabilidade e meio ambiente, segundo a percepção dos moradores de Bogotá

ra as cidades que as hospedam. Ou seja, estas se tornam mais competitivas na medida em que melhoram sua gestão ambiental. Isso porque uma urbe pode ser vista como um centro de fornecimento de elementos imprescindíveis para a sobrevivência das empresas: espaço físico, recursos humanos, leis e regras, acesso a energia elétrica entre outros temas de infraestrutura. Prover esses elementos com uma gestão urbana sustentável será cada vez mais relevante para as cidades que desejam atrair investimentos - inclusive enquanto persistirem as companhias que optam por localizar-se em capitais com

4

Hoje em dia a conectividade não é definida por onde se está, mas até aonde se pode chegar. Um bom indicador disso é a oferta das linhas aéreas presentes em cada cidade

3

0

34 33 6 5 5

BELO HORIZONTE

5

ROSARIO

4 0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

DEIXE COM QUEM SABE

Áreas de negócios favoráveis a cada cidade FONTE: PESQUISA LEITORES AE INTELLIGENCE

30

2,5

2,4

2,3

2,1

1

33

PUEBLA

2,7

2

82

TRUJILLO

4,9

5

36

AREQUIPA

6,5

6

MIAMI

C. DO MÉXICO

8,2

7

FONTE: AE INTELLIGENCE

SÃO PAULO

FONTE: PESQUISA LEITORES AE INTELLIGENCE

8

Linhas aéreas presentes, por cidade

GUADALAJARA

Percepção da existência de iniciativas de sustentabilidade e despoluição (taxa de respostas afirmativas) - cidades selecionadas 9

VOA, VOA

SANTO DOMINGO

ESTAMOS TRABALHANDO PARA VOCÊ

BOGOTÁ

C.DO SÃO PAULO GUAYAQUIL MEDELLÍN MONTERREY SAN JOSÉ B. AIRES MÉXICO

fracas normas ambientais. Por isso, esta nova edição do ranking das Melhores Cidades para Fazer Negócios na América Latina inclui um índice de sustentabilidade ambiental. Para medi-lo, usamos uma combinação de atributos entre os quais se encontram as emissões de gases do efeito estufa, presença de áreas verdes, competitividade energética, bem como a percepção de seus habitantes sobre se se está ou não tomando medidas ambientais para preservar a cidade. Neste indicador, os primeiros lugares na América Latina ficaram com duas cidades brasileiras: Recife e Curitiba. Esta última é a cidade da América Latina com a maior superfície de áreas verdes por habitante de toda América Latina: tem 52 m2/habitante, enquanto o padrão recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de 10 m2/habitante. Em terceiro lugar dentro do indicador ambiental está Miami, Cada cidade tem competências específicas ou cidade norteamericana que, para vocações territoriais, o que efeito deste ranking consideradetermina que sejam mais mos latinoamericana por ser uma adequadas para alguns base importante para muitas setores que para outros. empresas que fazem negócios Aqui podemos ver as três na região, e que é reconhecida melhores por setor em diferentes estudos como

27,9

25

14,1 11,3

10,3

10

16,5

12,8

9,5

14,6 14,4 11,7

11,2

9,5

8,6

11,0

10,4 9,8

9,2

INDÚSTRIA

24 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

COMÉRCIO

TELECOM

ALTA TECNOLOGIA

TRANSPORTE E LOGÍSTICA

TURISMO

SAÚDE

FINANÇAS

C. DO MÉXICO

SANTIAGO

SÃO PAULO

SANTIAGO

B. AIRES

LIMA

C. DO MÉXICO

SÃO PAULO

MIAMI

SANTIAGO

SÃO PAULO

SÃO PAULO

C. DO MÉXICO

SANTIAGO

LIMA

SÃO PAULO

C. DO PANAMÁ

LIMA

MONTERREY

SÃO PAULO

C. DO MÉXICO

B. AIRES

SANTIAGO

CONSULT./SER.PROF.

RIO DE JANEIRO

5,9

5 0

16,6 16,1

16,5

14,7

13,2 12,2 12,0

B. AIRES

15

18,2

BOGOTÁ

19,0

SANTIAGO

20


A poluição ambiental continua sendo um dos principais problemas identificados na pesquisa em cada cidade, ganhando com ampla margem como principal problema urbano

VIVEMOS NESSA CONFUSÃO

Hierarquia de problemas urbanos (% de votos) FONTE: PESQUISA LEITORES AE INTELLIGENCE

70 66,0 60 50 40

37,1 29,9

30 20

15,7 10,8 9,8 7,8 3,3

10 0

POLUIÇÃO AMBIENTAL

BAIXOS SALÁRIOS

CONGES- INSEGURANÇA POUCO TIONAMENTO TEMPO VEICULAR LIVRE

VIOLÊNCIA

Atributos mais valorizados no momento de instalar um negócio FONTE: PESQUISA LEITORES AE INTELLIGENCE

QUALIDADE DE RH DISPONÍVEL 15,3%

QUALIDADE DE VIDA OFERECIDA A EXECUTIVOS 7,1% OUTROS 3,0%

MERCADO FINANCEIRO 26,2%

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA 22,7%

CUSTO DE VIDA 25,7%

COMO ESPUMA

Cidades com maior crescimento econômico (var. % PIB per capita 2003-2008) FONTE: AE INTELLIGENCE

.co .ar .uy .ar .ar .pe .ve .cl .pe .pe

M

CORRUPÇÃO DESEMPREGO

É COM ESSA QUE EU VOU

CAPITAL FINANCEIRA as este ranking de competitividade das cidades não mede apenas nossos centros urbanos do ponto de vista ambiental. De fato, a decisão de uma empresa sobre onde localizar um investimento é geralmente inspirada em um complexo emaranhado de atributos, critérios e emoções. Às vezes, para uma empresa, é tão importante a relação qualidade / custo de vida de uma cidade, a oferta de telecomunicações, e seu acesso a portos quanto a nacionalidade do gerente que deve tomar a decisão. O ranking das Melhores Cidades para Fazer Negócios, cuja síntese está na página 23, é desenvolvido a partir da coleta

11,8 11,8 12,9 8,1 8,8

15,6 10,9 10,3 10,9 10,6 6,9 7,3 6,59,0 8,26,6

SANTIAGO LIMA C. DO MÉXICO LIMA MONTEVIDÉU PUEBLA LIMA ASSUNÇÃO BOGOTÁ BOGOTÁ LIMA MEDELLÍN BOGOTÁ SÃO PAULO C. DO MÉXICO CARACAS C. DO MÉXICO B. AIRES SANTIAGO LIMA BOGOTÁ C. DO MÉXICO LIMA MONTERREY

uma das cidades mais limpas dos Estados Unidos. Trata-se de uma condição que seu prefeito Manny Díaz quer aprofundar através do “Energy Smart Miami”, um plano ambiental que busca gerar novos empregos e fomentar o uso de energias renováveis. O plano consiste em usar fundos federais do programa de estímulo econômico para avançar com um investimento de US$ 200 milhões em tecnologias de sistema elétrico inteligente (smart grid) e energia renovável durante os próximos dois anos. Desta forma, ele ajudará os consumidores a economizarem dinheiro e gerará empregos “verdes” através de sua implementação. Não obstante, nas grandes cidades latinoamericanas, as iniciativas A localização de uma ambientais levadas a cabo se oriempresa ou negócio ginam principalmente a partir das não é uma decisão demandas da sociedade civil, mais tomada ao acaso. Vários que por uma gestão urbana proafatores influenciam. O custo de vida e um mertiva. Esse é o caso, por exemplo, cado financeiro potente do movimento “Nossa São Paulo”, são determinantes na que conseguiu excluir a Petrobras escolha de uma cidade do Índice de Sustentabilidade para investir Ambiental (ISA) da Bovespa por não cumprir com uma norma de índice de enxofre nos combustíveis de acordo ao critério imposto pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). De fato, a pesquisa realizada por AméricaEconomia Intelligence entre executivos que faz parte deste estudo mostrou uma mudança na percepção de problemas. Aos executivos parece mais problemática a poluição, somada aos engarrafamentos, que os problemas de insegurança e Os tempos de crise violência que em anos anteriores também são épocas de figuravam como os principais prooportunidades. Assim tem sido pelo menos blemas urbanos identificados por para as cidades ao lado, eles. O fato é que, em temas de que aumentaram seu gestão ambiental, ainda estamos PIB per capita de forma engatinhando. importante

AREQUIPA

66,1

TRUJILLO

63,2

CONCEPCIÓN

52,1

CARACAS

51,0

LIMA

50,5

MENDOZA

48,8

CÓRDOBA MONTEVIDÉU

47,6 42,8

ROSARIO

BARRANQUILLA 0

41,0 40,1 25

50

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 25

75


A primeira imagem de uma cidade é formada pelos próprios habitantes, que nem sempre têm a melhor opinião do lugar onde vivem. O seguinte gráfico mostra os porcentuais de aceitação e reprovação de acordo aos moradores

IMAGEM É TUDO

Índices de percepção negativa e positiva, cidades selecionadas FONTE: PESQUISA LEITORES AE INTELLIGENCE

GUADALAJARA

-9,4

SAN JOSÉ

-15,6

MEDELLÍN

-14,7

QUERÉTARO

-13,8

QUITO

31,3 18,2 -7,4

7,1

-9,5

CALI

9,2

-20,9

PORTO ALEGRE

19,7

-22,9

21,2

PUEBLA

-9,5

VALPARAÍSO

7,1

-21,3

18,2

-25,7

21,2

C. GUATEMALA

-12,9

ASSUNÇÃO BELO HORIZONTE

9,2

-5,4

BARRANQUILLA

AREQUIPA

38,2 34,4

CHIHUAHUA

7,1

-11,8

4,9

-28,8

21,2

GUAYAQUIL

-23,4

CARACAS

-23,3

14,9 13,1

FLORIANÓPOLIS -30,3 SANTA CRUZ -40

19,7 -14,1

-30

-20

2,5 -10

-

10

20

30

40

50

DÁ GOSTO VIVER AQUI

Cidades com melhor qualidade de vida da região em 2009 - Nueva York=100 FONTE: AE INTELLIGENCE SOBRE A BASE DE DADOS MERCER

.mx .pa .ar .cl .ar .ar .ar .uy .pr .us

de informações de 60 grandes cidades da América Latina e sua organização a partir das principais dimensões que uma empresa considera ao escolher uma cidade. Essas dimensões são: tamanho e dinamismo econômico da cidade, qualidade do capital humano, qualidade dos serviços corporativos, serviços pessoais, conectividade física, poder de marca da cidade, bem como o já mencionado indicador de sustentabilidade. Estas dimensões são ingressadas em um modelo matemático cujo resultado é o Índice de Competitividade Urbana (Icur). (explicação detalhada em Metodologia, na pág. 29) São Paulo, a gigante financeira da região, mantém o primeiro lugar deste ranking. Pese o caos urbano e os engarrafamentos que minam a paciência de motoristas e pedestres, a capital paulista apresenta vantagens em relação ao restante das cidades. Sua estrutura de serviços corporativos cresce, bem como seu dinamismo ecoA qualidade de vida nômico. A capital paulista leva a é um dos princifrente na corrida por atrair sedes pais componentes da sustentabilidade. Miami, de multinacionais para a região, San Juan e Montevidéu uma vez que prova com medidas são, segundo a MERCER, as inovadoras, como a eliminação cidades que contam com de publicidade nas ruas. este importante capital Em segundo lugar está Santiago, a ordenada capital chilena, que perdeu parte das vantagens que lhe garantiram o primeiro lugar na edição passada do ranking. Ainda assim, companhias multinacionais como a Tata Consultancy Services ainda a preferem para instalar sua base regional. Em terceiro lugar está Miami. Apesar de registrar amplas vantagens em muitos dos indicadores observados, a cidade do sul da Flórida registrou queda devido ao forte impacto da crise financeira em seu dinamismo econômico e na solidez de seu sistema financeiro. E em quarto, mantendo a posição do ano anterior, está a Cidade do México.

MIAMI

96,0

SAN JUAN

91,0

MONTEVIDÉU

89,0

B. AIRES

88,8

ROSARIO

87,5

CÓRDOBA

86,6

VALPARAÍSO

86,5

MENDOZA

85,3

C.DO PANAMÁ

83,5

MONTERREY 50

83,0 60

70

80

90

O QUE VEM

CIDADES INTELIGENTES

C

omo a internet pode colaborar com o sistema de transporte público de uma cidade? Pode conectar um semáforo a uma câmara que contabilize o fluxo de carros? A conectividade e a capacidade de cômputo passam a estar a serviço da gestão urbana. Esse é o objetivo da aliança da empresa Cisco e a Metrópolis, associa-

26 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

ção que reúne mais de cem cidades ao redor do mundo e que na América Latina conta com 15 representantes, entre eles Brasília, Buenos Aires, Guadalajara, La Paz e Puebla. O objetivo dessa união é criar mecanismos para que no futuro as cidades sejam mais eficientes através da tecnologia; mecanismos que levem a um

desenvolvimento urbano sustentável. “É uma área totalmente nova, um campo novo para o desenvolvimento tecnológico”, diz Jaime Valles, presidente da Cisco para os mercados emergentes. “É uma grande oportunidade para que as cidades desenvolvam estratégias de sustentabilidade.”

100


A CRISE NAS CIDADES GLOBAIS

*Saskia Sassen, professora e membro do Comitê do Pensamento Global da Universidade de Columbia, Nova York

A

s grandes cidades prosperaram juntamente com seus mercados financeiros. Especialmente as cidades globais, aquelas que hoje são centros de conexão para várias indústrias mundiais, como Londres e Nova York, e em menor medida São Paulo, Santiago e Cidade do México. Mas isso tem efeitos secundários: o desenvolvimento de mercados financeiros gera muita desigualdade, e tende a afastar as companhias que não conseguem obter o altos níveis de lucro. Por isso, desde os anos 80, algumas cidades se concentraram excessivamente em serviços finan-

ceiros, deixando de lado um adequado nível de diversificação. Não foi uma boa ideia, porque a indústria financeira, pese a suas constantes inovações (e possivelmente devido a isso), está em uma crise permanente. A diversificação industrial é um obstáculo efetivo à propagação da crise, e políticas urbanas baseadas na especialização não são estratégias de desenvolvimento - observemos Detroit e sua excessiva dependência da indústria automobilística. Um elemento novo nesta crise é que ela

DE MAU A PIOR

O CUSTO DE VIDA SOBE OUTRA VEZ

FONTE: PESQUISA LEITORES AE INTELLIGENCE

CARACAS

20 15 10

10,5 6,3

5,9

5

4,2

ASSUNÇÃO

CARACAS

B. AIRES

3,1

C. DA GUATEMALA

LA PAZ

2,8

2,8

BOGOTÁ

As cidades mais caras da região em 2009 Nova York=100 FONTE: AE INTELLIGENCE SOBRE A BASE DE DADOS MERCER

.ar .co .pe .br .br .gt .pr .pa .us .ve

Percepção da existência de iniciativas de sustentabilidade e despoluição (taxa de respostas negativas), cidades selecionadas 25

SAN SALVADOR

16,3 13,2 10,2

MUITO IMPORTANTE

4,1

NADA IMPORTANTE

3,4 C. GUATEMALA

4,8

GUAYAQUIL

MONTEVIDÉU

SAN JUAN

CHIHUAHUA

SAN JOSÉ

SÃO PAULO

C. DE MÉXICO

BOGOTÁ

SANTIAGO

LIMA

0

5,4

4,3

MIAMI

10

.mx.ar .ni .co .br .mx.ec .br .co .co .mx.br .us .br .br

21,2

4,9

76,5

SAN JUAN

75,4

C. GUATEMALA

70,1

SÃO PAULO

67,9

RIO DE JANEIRO

66,7

LIMA

66,1

BARRANQUILLA

64,7

B. AIRES

62,6 60

70

80

90

100

110

FUENTE: AE INTELLIGENCE

20

4,9

C. PANAMÁ

Índice 2009 em base 100. Considera: registro de PM 10, percepção de avanços em temas ambientais e déficit de áreas verdes

FONTE: PESQUISA LEITORES AE INTELLIGENCE

25

6,8

82,0

CIDADES SUSTENTÁVEIS

Percepção de relevância dos temas ambientais nas políticas públicas

5

103,7

MIAMI

50

RELEVÂNCIA VERDE

15

foi gerada pelo uso ativo dos espaços urbanos. As hipotecas de terrenos e propriedades foram securitizadas, com o objetivo de gerar um tipo primitivo de sistema de acumulação, diferente do objetivo das finanças: financiar e criar capital. E se está pagando caro por isso. Não obstante, as cidades dedicadas às finanças possuem vantagens. Tal como aconteceu em Nova York, depois da crise de 1987, para resolver a crise, os especialistas em finanças deverão trabalhar nela. E não há melhor lugar para fazê-lo que nas cidades globais.

RECIFE CURITIBA 77,8 MIAMI PORTO ALEGRE 76,4 74,7 LEÓN MEDELLÍN 74,7 74,2 CALI MANAUS 73,6 72,5 GUAYAQUIL QUERÉTARO 72,2 71,9 BRASÍLIA BARRANQUILLA 71,4 71,2 MANÁGUA MENDOZA 71,2 AGUASCALIENTES 70,5 70 75 80

83,7 82,3

85

90

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 27


A VOZ DOS PREFEITOS LUIS CASTAÑEDA, LIMA “A cidade ideal não existe. As cidades são vivas e, como tais, evoluem constantemente, como as pessoas, que possuem suas diferenças e semelhanças. Os problemas são comuns a todas as urbes do mundo. Mas o mais importante é trabalhar pela qualidade de vida das pessoas.”

SAMUEL MORENO, BOGOTÁ “Nossa gestão se orientará em consolidar Bogotá como a Capital dos Direitos. Isso mediante uma agressiva política social, que se complementa com fortes investimentos em mobilidade e infraestrutura, e um forte impulso ao empreendimento e à atração de riqueza em uma economia de serviços.”

IGOR GARÁFULIC, REGIÃO METROPOLITANA DE SANTIAGO “A cidade ideal deve ter uma base produtiva inserida na economia mundial, com um modelo de desenvolvimento sustentável, que respeite o meio ambiente e o uso de energias renováveis não-poluentes, com um sistema de transporte público integrado que estimule o transporte não-motorizado.”

28 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

Cidades nas quais se percebe o maior déficit de áreas verdes FONTE: PESQUISA LEITORES AE INTELLIGENCE

60 53,8 50 40

39,6

39,0 38,3 37,0

30

33,4 33,0 31,6 30,8 30,7 30,0 25,6 20,4

20

MONTEVIDÉU

SANTA CRUZ

SAN JOSÉ

ASSUNÇÃO

C. DE PANAMÁ

MEDELLÍN

BOGOTÁ

MONTERREY

GUAYAQUIL

B. AIRES

0

QUITO

10

SANTIAGO

Se nesses primeiros lugares o que se vê é uma dança de cadeiras mais ou menos prevista, a partir da quinta posição, até a 25a, a disputa fica mais interessante. Empates quase técnicos ou margens de diferença que não superam o centésimo, tornando a análise mais saborosa. O que indica que qualquer iniciativa que se desenvolva nos próximos anos marcará a diferença e poderá definir a colocação dos países no seleto top 10. É o que demonstram Bogotá e Lima, na medida em que continuam brigando palmo a palmo. Entretanto, a maior surpresa está mais ao Sul: Montevidéu ganhou 11 posições graças a um excelente dinamismo econômico e à melhora de seus serviços corporativos, graças ao forte aumento da penetração dos serviços de telecomunicações. Já as cidades mexicanas estão em baixa, devido ao forte impacto da crise econômica gerada nos EUA e ao crescimento da violência. Apesar de terem se tornado mais baratas com a desvalorização da moeda mexicana, aumentaram as taxas de homicídio e a percepção de insegurança, que as castigaram especialmente na dimensão dos serviços pessoais. A inclusão de novas cidades no ranking também é a responsável pelas principais quedas evidenciadas na tabela

FALTAM ÁRVORES

LA PAZ

Um pulmão verde dentro da cidade não só oxigena o ar que se respira como também convida a passear. Por isso, o déficit de áreas verdes é importante para nossos leitores

INTENDÊNCIA METROPOLITANA

MANNY DÍAZ, MIAMI “A iniciativa Energy Smart Miami é um investimento no futuro de nossa cidade, que criará novos trabalhos verdes e uma economia de energia limpa. Esta iniciativa satisfaz as metas da administração de Obama de investir em energia alternativa e renovável, terminando assim nossa dependência do combustível estrangeiro.”

geral, como a das cidades argentinas de Rosário e Mendoza, afetadas negativamente ainda pelo mau resultado dos indicadores macro do país, principalmente no último ano. Q


O BOM É A GENTE

Principais virtudes de sua cidade FONTE: PESQUISA LEITORES AE INTELLIGENCE

HOSPITALIDADE DAS PESSOAS

21,0%

EXPECTATIVA DE CRESC.

20,4%

PATRIMÔNIO CULTURAL

15,2%

DIVERSÃO

11,0%

QUALIDADE DE VIDA

10,8%

ATRAÇÕES TURÍSTICAS

8,2%

ORDEM E BELEZA

7,2%

BAIXO CUSTO DE VIDA

6,1% 0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

METODOLOGIA DO RANKING E CÁLCULO DO ICUR O ICUR O Índice de Competitividade Urbana (Icur) busca sintetizar as variáveis que as empresas e os executivos observam na hora de se instalar em uma cidade para fazer negócios. Esse indicador é o resultado de uma metodologia desenhada especialmente para a elaboração do Ranking das Melhores Cidades para Fazer Negócios. A tese central tem base na oferta urbana das distintas urbes para fazer e atrair negócios, bem como na estrutura que o país de origem lhes oferece. O Icur constitui-se de um modelo de mais de 50 variáveis que se dividem em duas grandes dimensões: variáveis de contexto e diferenciais. As primeiras correspondem à plataforma que o país lhes outorga, que define sua escala. Estas variáveis se agrupam em dois indicadores: a estrutura macroeconômica e a político-social. Dentro delas se podem destacar a liberdade para fazer negócios, o índice de desenvolvimento humano e um indicador de governabilidade. A segunda dimensão se refere à oferta real que sustenta a competitividade própria das cidades e que determina as diferenças dentro do índice final. As variáveis diferenciais são compostas de cinco indicadores que correspondem ao tamanho e ao dinamismo econômico, os serviços corporativos que oferece às empresas, a oferta urbana de serviços pessoais (qualidade de vida, segurança e entretenimento) e o proveito que tira de sua conectividade física (definida pelo movimento portuário e aeroportuário, e-government e poder de marca) e o capital intelectual (criação e difusão de conhecimento). Além disso, considerou-se um indicador de sustentabilidade ambiental, construído sobre a base de informação de poluição e a pesquisa com a comunidade de leitores de AméricaEconomia, com 1,2 mil respostas. Fontes Organismos oficiais de cada país e cidade, como Bancos Centrais, Bolsas de Comércio, Institutos de Estatísticas, sites de cada participante e informações próprias de AméricaEconomia Intelli-

gence. Também se recorreu a organismos internacionais tais como Banco Mundial, ISI Web of Knowledge e PNUD, entre outros. Foram analisados e processados ainda dados provenientes de companhias e organismos internacionais como ACI Aero, Cisco, CB Richard Ellis, The Heritage Foundation, Cybermetrics Lab, Economática e Mercer. AméricaEconomia Intelligence estimou dados para 2008 nos casos em que estes se encontravam desatualizados. O poder de marca e alguns dos gráficos apresentados neste especial foram elaborados com base em nossa pesquisa com executivos, efetuada na primeira quinzena de março de 2009, que teve mais de 1,2 mil questionários respondidos por representantes de todos os países da região, . Padronização dos dados e resultados do ranking Dado que as variáveis se encontram em diferentes unidades, estas foram padronizadas em base 100, para dar maior valor às melhores práticas, de acordo à natureza da variável. Algumas variáveis foram sintetizadas em subíndices, através da média das variáveis padronizadas. Finalmente, a cada indicador foi dado um ponderador proposto pelo painel de especialistas e as duas dimensões do modelo, obtendo assim o Icur. Seleção de cidades Esta versão contou com o acréscimo de cidades que antes não haviam participado. Entre elas se encontram Valparaíso, Concepción, Manágua, Tegucigalpa, Aguascalientes, Manaus e São Luis. A seleção foi feita sob o critério de população e PIB. Agradecimentos Frank Holder, da Holder Internacional; Paula Fiszman, da Cisco; Nancy Gautier, do Airports Council International; José Esteves, do Instituto de Empresa; Jennifer Morgan, da Mercer; e a nosso painel de especialistas.

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 29


CIDADES DO FUTURO

PRÓXIMAS DE COMEMORAR 500 ANOS, AS URBES LATINOAMERICANAS VEEM O HORIZONTE COMPLICADO. MAS SE ELAS SÃO UM PROBLEMA, TAMBÉM FAZEM PARTE DA SOLUÇÃO RODRIGO LARA SERRANO

6 7

1

8

5

2 3 4 RODRIGO DÍAZ CARRIZO

1.- Posto para troca de baterias elétricas 2.- Postes de luz reguláveis de LED 3.- Posto de aluguel de bicicletas 4.- Edifício com horta para produção de alimentos

O

futuro chegou e, em se tratando de cidades, não é como prometeram os movimentos de esquerda latinoamericanos. Nem tampouco os de direita. Pelo menos não se levados em conta 77% dos paraguaios que vivem sem saneamento básico, 42% dos salvadorenhos sem água potável, 37% dos brasileiros que se viram sem hospitais nas favelas e 70% dos habitantes de Villa El Salvador, em Lima,

30 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

5.- Carros elétricos de longo alcance 6.- Ônibus e metrô suspensos 7.- Captura e depósito de águas da chuva 8.- Novos materiais de isolamento

todos menores de 25 anos, que não dispõem nem remotamente de transporte adequado para levá-los à escola. É verdade que as cidades da região cada vez mais contam com áreas de cobertura wi-fi e que a telefonia celular é universal. Jamais se pode contar com tantas estradas e metrôs, mas jamais os congestionamentos foram tão longos e permanentes como agora. E nunca houve tanta iluminação pública para acudir proporcionalmente tão pouca gente, que hoje tem medo de sair em seus bairros pobres ou está ensimesmada nos bairros ricos.


Mas, se hoje nenhuma é ideal, como seria a verdadeira cidade latinoamericana de um futuro melhor? “Seria uma em que as crianças pudessem andar de bicicleta em segurança por todas as partes”, responde preciso como um dardo Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, que revolucionou a capital colombiana com medidas audazes. Para Peñalosa, existe um mal entendido. O bem estar e o futuro urbano não se medem por enormes estradas ou edifícios de vidro, mas pelo encontro. “Temos que entender que, por exemplo, em termos de transporte, uma cidade avançada não é aquela que tem muitas avenidas e metrôs, mas aquela onde os cidadãos de alta e baixa renda se encontram como iguais no transporte público, nas ruas e andando de bicicleta”, diz. Se há uma cidade onde isso não se cumpre, esta é a capital peruana. “Lima ainda não conta com sistemas de transporte rápido massivo. E não é só. O transporte público cada vez se concentra mais em pequenos veículos informais”, diz Raúl Delgado, urbanista, especialista em transporte público. Lamentavelmente, afirma, “os projetos futuros, como o Metropolitano (de corredores segregados) e o Trem Elétrico Urbano, são esforços isolados”. Por quê? “Hoje os transportes perfazem cerca de 16 milhões de viagens, e a capacidade desses projetos é de cobrir apenas de 10% a 12% dessa demanda.” Para Delgado, “é preciso pensar em uma rede confiável de transporte público, como o metrô, para um futuro próximo”. Já Peñalosa discorda. Lembra que “é impossível resolver a necessidades de trânsito massivo com sistemas de trens subterrâneos: sua construção e posterior operação são muito custosas.” Assim, “a única possibilidade para cobrir toda uma cidade é com sistemas de ônibus.” Segundo ele, “nosso sistema Transmilenio (com princípios semelhantes aos de Curitiba, no Paraná), transporta mais passageiros por hora / percurso que 95% do metrô, e com velocidade similar”.

GIGANTES BONS. OU NÃO

L

ima também é exemplo de outra encruzilhada comum às cidades da região que desejam chegar aos 500 anos merecendo o carinho de seus habitantes: persistir no gigantismo, desalentá-lo ou transformá-lo. A região metropolitana de Lima produz quase 50% do PIB do país, o que “suscita perguntas muito sérias sobre a democracia, a distribuição da riqueza e os padrões de imigração dentro de uma nação”, diz Ricky Burdett, líder do Urban Age, programa de cidades da London School of Economics, um dos centros de pesquisa em urbanismo mais influentes do planeta. Ele diz que “de uma perspectiva puramente econômica, o tamanho absoluto das cidades tende a torná-las mais competitivas” e influir em sua posição na cena global das economias urbanas. Mas “como muitas cidades europeias o demonstraram, não é o tamanho de uma cidade o fato que a permite ter um papel-chave na economia global, mas sua capacidade de operar como parte de uma rede maior e, ao mesmo tempo, oferecer uma qualidade de vida mais alta que a de muitas megacidades”. E qualidade de vida também tem relação com disponibilidade de energia. É aí que Emil Osorio Schmied, mestre em Design Ambiental pela Universidade de Nottingham, vê um futuro di-

fícil para países como Peru, Chile e Argentina. “A tendência à concentração do consumo em um grande centro urbano não é benéfica para os países. Quando as frentes de recursos energéticos se esgotam no raio de grandes cidades, obrigam a busca de recursos disponíveis em áreas distantes, colocando em risco a independência energética de centros urbanos menores”, diz. Javier del Río, presidente honorário da Associação Chilena de Energia Solar (Acesol) e coordenador do mestrado em Arquitetura Sustentável da Universidade Nacional Andrés Bello, em Santiago, é pessimista quanto ao futuro. “A energia demandada nessas cidades será muito maior. São uma espécie de ‘buraco negro’, tragam tudo.” Em busca de soluções, Del Río destaca que uma parte destas pode chegar “evitando-se que se formem subcidades de diferentes categorias dentro delas. É preciso estar sempre observando (autoridades e associações civis) se todos os setores estão dotados equilibradamente de ferramentas (sociais, educacionais, culturais, de trabalho). Uma cidade grande pode ser boa sob essa premissa.” Burdett destaca um exemplo. “A rede de cidades colombianas lideradas por Bogotá, Medellín e Cali destacou as vantagens do desenvolvimento urbano multimodal.” E, no caso de Brasil e México, “cifras ascendentes estão indicando que as cidades regionais crescem mais rapidamente que as centrais.” Como em um jogo da memória (ou “jogo do mico”), o problema são as cidades e a solução são... as cidades. “Elas são atores de inovação decisivos para conquistar um futuro sustentável”, diz Burdett. Isso porque “o desenvolvimento urbano é fator crítico para qualquer estratégia focada em desvincular padrões de vida altos de grande consumo de recursos.”

PODER URBANO

N

esse ponto, inovar não significa criar novas tecnologias em máquinas, mas principalmente novas soluções administrativas. Ou seja, é o poder de reinvenção da sociedade. “Focar-se em um crescimento urbano inclusivo, juntamente com o desenvolvimento sustentável das cidades, é prioridade número 1”, diz Philipp Rode, diretor executivo da Urban Age. “E colocar os pobres em um gueto – mesmo quando tenham infraestrutura básica – nunca será um fator de sucesso para criar cidades mais inclusivas.” Segundo Rode, não há segredo: as brechas de desigualdade de renda se fecham se nas favelas e periferias existirem “escolas, parques, bibliotecas, lugares de descanso e transporte público acessível a todos os cidadãos”. Mas se isso é tão óbvio, por que são poucos os governos municipais que o fazem? Cegueira, preconceito, ignorância. “Em Lima, cada governo municipal trata de apagar qualquer vestígio da gestão anterior”, diz Alfredo Queirolo, arquiteto, empresário e escritor. Para ele, ainda colabora “a pouca ou nula vontade cívica” dos limenhos. Mas há outro elemento: a fragmentação das administrações urbanas. “Cada miniautoridade quer realizar uma obra, mas somente até o seu perímetro. É incrível. Muitas vezes, se um jardim ou parque é o limite entre dois distritos, vê-se uma parte melhor mantida que outra”, afirma. Assim, “o que faz falta é uma visão ‘macro’, um verdadeiro Instituto de Planejamento, mas com poder e autoridade. E não prefeituras que pareçam MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 31


A CIDADE NÃO PARA

PÉS-DE-CHUMBO

FONTE: URBAN AGE, CITIES PROGRAMME, THE LONDON SCHOOL OF ECONOMICS, SOUTH AMERICAN CITIES: SECURING AN URBAN FUTURE, REPORT

FONTE: URBAN AGE, CITIES PROGRAMME, THE LONDON SCHOOL OF ECONOMICS, SOUTH AMERICAN CITIES: SECURING AN URBAN FUTURE, REPORT.

35

2.334.038

19.097.819

21.427.559

RIO DE JANEIRO

2.950.238

11.890.040

13.413.254

BUENOS AIRES

5.097.612

12.901.465

13.767.514

630.315

7.969.462

9.600.119

1.065.888

8.139.667

9.599.648

10

20.628.241

5 0

LONDRES

8.360.847

8.585.818

8.617.842

XANGHAI

6.065.511

15.244.010

19.412.266

CIDADE DO MÉXICO

2.883.228

19.178.471

21.008.776

899.876

3.506.876

4.040.979

JOHANNESBURGO BERLIM

3.351.757

3.412.490

3.435.600

MUMBAI

2.857.359

19.348.649

26.385.026

latifúndios nos quais se vela pela região sem olhar além de seus limites”. Peñalosa concorda. “A irracionalidade de contar com muitos municípios em uma só área metropolitana cria ineficiências e desigualdades. Interesses egoístas e míopes mantêm as coisas assim, enquanto em sociedades como Canadá, Finlândia e Austrália tem sido realizadas importantes fusões de municípios.” Entre as empresas de construção também há consenso sobre a necessidade de mudanças. “É necessário planejamento, e para isso se requer uma visão de longo prazo, elemento estranho em nossos países. Temos que ser capazes de criar planos mestres de desenvolvimento urbano harmoniosos e respeitá-los; esse é o grande desafio”, diz Eric Rey de Castro, diretor-gerente da Colliers International, no Peru. Para ele, “a inovação deve vir pelo investimento no longo prazo, junto com as AFP`s, que precisam diversificar seus portfólios e orientar parte deles à infraestrutura e aos projetos imobiliários”. Se quisermos cidades do futuro que funcionem, “os poderes nacionais terão que ser mais descentralizados e, ao mesmo tempo, as cidades terão que assumir responsabilidades não apenas para o núcleo de seu território, mas pela maior aglomeração urbana que as rodeia”, diz Rode. Esses novos sistemas de governos metropolitanos também “terão enormes oportunidades de ajudar na execução das agendas nacionais para reduzir o consumo de energia e enfrentar as mudanças climáticas”.

FARÁ CALOR

I

sso porque, se o aumento da temperatura global não for contido, muitas cidades latinoamericanas poderão, inclusive, desaparecer nos próximos 50 anos. Com o aumento previsto do nível do mar, Gauyaquil, Cidade do Panamá e Buenos Aires seguirão o destino de Veneza. Lima e Santiago se transformarão em capitais com permanente seca. E a capital mexicana viverá à beira do colapso hídrico. Hoje, com 19 milhões de habitantes, a zona metropolitana 32 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

14,7

8,7

13,8 7,6

4,1

3,6

6,5

7,9 4,4

5,3

2,5

1,1 LONDRES INGLATERRA

19.181.849

12,1 13

XANGHAI CHINA

12.338.471

14,1 14 14 13,9

NOVA YORK EUA

NOVA YORK

15

LIMA PERU

LIMA

20

B. AIRES ARGENTINA

BOGOTÁ

25,5

25

MUMBAI ÍNDIA

SÃO PAULO

31,5 28,7

30

BERLIM ALEMANHA

2025

2 JOHAN. ÁFRICA DO SUL

2008

C. DO MÉXICO MÉXICO

1950

R. DE JANEIRO BRASIL

Cidade

Número de mortes em acidentes de trânsito por grupo de 100 mil habitantes

SÃO PAULO BRASIL

Projeção de crescimento da população nos principais centros urbanos

do vale do México tem seus aquíferos superexplorados. Verónica Martínez David, coordenadora de projetos do Conselho Consultivo de Águas, afirma que, com 30% da água sendo importada de zonas distantes, “é urgente planejar, desenvolver e implementar uma estratégia integral para o fornecimento de água para toda a população”. E, para chegar ao futuro com segurança no abastecimento, “é indispensável ampliar o saneamento de águas residuais urbanas e industriais e aumentar sua reutilização”. Del Río, no Chile, prognostica que, frente à seca, diferentes respostas mudarão a forma de viver nas cidades. Entre elas, recomenda “mudar o tipo de vegetação das áreas verdes, ter duas formas de adquirir água, ou duas contas (uma de água potável e outra de reciclada), e aumentar o preço desse insumo. A melhor forma de valorizá-la é, sobretudo, educando”. Em Buenos Aires, o arquiteto Fernando Couto propõe que as águas de chuva sejam guardadas obrigatoriamente em depósitos subterrâneos – nesse caso, não pelas secas, mas para evitar inundações com os temporais – em cada um dos edifícios da cidade. “Por ter a cordilheira tão perto e tantas áreas com desníveis, nos convém fazer reservatórios no alto. Além disso, é preciso tratar a água do mar, talvez só para irrigação, no início”, comenta Del Río sobre Santiago. Já o aumento do nível do mar pode golpear o Chile energicamente. “Curiosamente, aqui existem muitas centrais termoelétricas, associadas a portos de desembarque de matérias-primas, que fornecem energia ao sistema nacional em toda a sua extensão. O aumento do nível do mar reduziria a capacidade de abastecimento de tais centrais”, conta Osorio. E, ainda pior, “em alguns casos, obrigaria sua total paralisação por inundação”. Poderão nossas cidades resistir a tantos desafios simultâneos? Burdett lembra que o sucesso das cidades têm sido sua permanente reinvenção. “Dentre as transformações mais radicais das cidades, em um futuro próximo, poderemos ver a reintrodução da produção de alimentos, a agricultura urbana.” Nas próximas décadas, a profissão de urbanista poderá se tornar algo tão perigoso quanto apaixonante. Q Com Natalia Vera, Lima


NEGÓCIOS CÓDIGO ABERTO

Whitehurst: xxxxxx: Cabeçasxxxxxxxxxxxx. mais abertas.

O NEGÓCIO DE COOPERAR

Red Hat reforça atuação na região em meio a rumores de que estaria na mira da Oracle Rodrigo Lara Serrano

U

m telefone toca no meio da reunião. “É a Oracle”, diz Jim Whitehurst, CEO da Red Hat. Os sorrisos se multiplicam. Tal episódio aconteceu há poucos dias em

Puerto Madero, Buenos Aires, uma das paradas do executivo em sua passagem relâmpago por Brasil e Argentina. Poucas horas depois, a mídia especializada dos EUA afirmava que

o gigante de Redwood Shores, na Califórnia, preparava uma oferta para abocanhar o maior provedor de serviços e operação de código aberto do planeta. O fato é que a Red Hat é algo mais que “a única companhia rentável de open source do mundo”, como seu CEO se orgulha em afirmar. É uma empresa que cada vez registra mais lucro. O que, em tempos de recessão, vale muito. No quarto trimestre de 2008, a Red Hat registrou uma margem operacional de 23%, graças à qual ganhou US$ 39,8 milhões, com um total de US$ 148,4 milhões no ano todo, sobre um faturamento de US$ 653 milhões. Talvez por isso Whitehurst se permita afirmar que, atualmente, em seu setor, “a grande novidade é a crise econômica”. E se refere a isso como algo positivo. Por quê? “O código aberto é um mundo em desenvolvimento. É a inovação através da cooperação.” E a crise é o momento de aperfeiçoar produtos ou sistemas produtivos através dela, reduzindo custos e melhorando a produtividade. Por isso, diz, “nosso negócio é mudar a cabeça das pessoas”, porque “as pessoas demoram a entender” coisas como a cooperação que levaram a cabo com a Novell. “Desenvolvemos um serviço de mensagem e convidamos a Novell a participar. Eles lançaram um produto similar quase ao mesmo tempo. Podese pensar: ‘estão loucos?’, mas não é assim. Parte de nosso negócio é ensinar as pessoas a trabalhar em comunidade. Para Red Hat, essa visão é mais fácil de defender porque, diferentemente da Microsoft, não é uma empresa que venda um pacote de software. De fato, o núcleo de seu negócio é Linux, que se pode conse-

guir gratuitamente. “Nosso negócio é o suporte.” E, aí está o segredo: cobrar para dar suporte a um produto muito mais estável do que o que a concorrência oferece pode ser muito rentável. É como se uma empresa (Microsoft) vendesse carros e um serviço de manutenção, e outra (Red Hat) presenteasse um carro e cobrasse por adaptar esse carro às necessidades do comprador. Ou, inclusive, lhe dando um novo caso o velho quebre. Claro que é um negócio que funciona para quem necessita de uma frota de veículos submetidos a grandes esforços, e não um carro de passeio para ir visitar a família. E esse é o motivo pelo qual a empresa de Whitehurst está tão interessada no Brasil. Há pouco tempo abriu um escritório em Brasília para prestar serviço a vários órgãos do governo que migraram para Linux. Para a Red Hat, a América Latina é um lugar “onde temos muito que fazer” nos próximos anos. E, quando se trata de códigos abertos, iniciativas como o cloud computing (termo usado para descrever um ambiente de computação baseado em uma rede massiva de servidores, sejam virtuais ou físicos) não são uma oportunidade? Como ex-executivo de uma companhia aérea, Whitehurst é qualquer coisa, menos um sonhador. “Não estamos interessados no negócio do cloud computing. Não tenho ideia se funcionará ou não”, contesta. Mas, pragmático, apenas deixou a América do Sul, Whitehurst assinou – juntamente com IBM, Sun Microsystems, Cisco, Novell e EMC – o Manifesto Cloud Computing, que defende que os padrões do novo modelo sejam…open source. Q MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 33


NEGÓCIOS INDÚSTRIA NAVAL

Wilson,Sons: expansão em marcha

AO LARGO DA TORMENTA

Estaleiros brasileiros mantém planos de investimento escoltados pelo setor energético. E a Argentina vem a reboque Dubes Sônego e Sérgio Spagnuolo, São Paulo

N

o início dos anos 1990, a indústria naval brasileira tocou o fundo do poço. Do apogeu, no final da década de 1970, quando chegou a ocupar a segunda posição no ranking mundial (pelo critério de tonelagem de porte bruto TPB), recolheu-se à condição de coadjuvante, à atividade de reparo. A maré, porém, começaria a virar no final da década passada. Primeiro com a reformulação da legislação do setor de petróleo e a criação 34 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

da Transpetro, braço logístico da Petrobras. Logo depois, já transposto o milênio, com uma série de programas de compra de embarcações de estaleiros nacionais, parte de um plano estratégico estatal maior, natural em um país com mais de 8 mil km de costa. A novidade é que o modelo, que já vinha dando certo, é agora, em meio à crise, considerado a principal âncora do setor, num momento em que a demanda internacional parece à deriva.

De acordo com números da Clarksons Research Services, expostos no relatório do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) sobre o cenário da indústria naval no primeiro trimestre, em fevereiro havia em construção no mundo 9.650 navios, 298 a menos que nas previsões iniciais para 2009, publicadas em janeiro. No estudo há a ressalva de que 227 encomendas entre as não-concretizadas nem che-

garam a ter contrato assinado. Outras 44 foram canceladas de comum acordo entre armador e construtor e apenas 27 foram efetivamente contratos desfeitos. Mas o contraponto com a situação do mercado brasileiro é evidente. Enquanto novos pedidos encalharam lá fora, “no Brasil a crise não atinge a construção naval, blindada com financiamentos do Fundo da Marinha Mercante (FMM) - que no ano passado desembolsou R$ 1,36 bilhão - e encomendas da Petrobras e da Transpetro”, diz o mesmo relatório. Somente a Transpetro, através de seu Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), deverá encomendar 49 navios, até 2014. Na primeira fase do programa, batizada Promef I (2008-2013), há demanda por 26 navios petroleiros e gaseiros, totalizando US$ 2,5 bilhões em investimentos, apoiados pelo FMM. Nesta etapa já há contratos firmados com os estaleiros Eisa (RJ), Atlântico Sul (PE), Mauá (RJ) e Itajaí (SC). Pelo Promef II (2009-2014), esperase para este ano a contratação de mais 23 navios, 15 dos quais estão em análise de proposta e oito que ainda serão licitados para estaleiros nacionais. Como comparação, entre 1998 e 2008, o setor construiu ao todo 34 embarcações diversas, além de plataformas de petróleo. “Se você considerar só a metade das encomendas da Petrobras, já é um volume muito significativo”, diz Domingos D’Arco, presidente do estaleiro Mauá - com as encomendas do Promef I a empresa está voltando a construir navios, depois de um hiato de nove anos. Mas outras companhias do setor petrolífero, como Chevron,


Shell e Devon, estão ampliando investimentos no país e podem vir a esticar a demanda por navios na região. Não à toa, a indústria naval brasileira fechou 2008 com cerca de 42 mil empregos diretos. E somente a segunda fase do Promef deverá gerar outros 18 mil postos de trabalho, de acordo com estimativas da Transpetro. “Claramente, o impacto na América Latina foi menor que na Ásia”, diz Horacio Tettamanti, presidente da Associação Bonaerense da Indústria Naval (ABIN) e titular do estaleiro Servicios Portuarios Integrados (SPI). Até porque aqui não havia uma carga de trabalho tão significativa quanto na Coreia do Sul, na China e em países asiáticos onde, segundo Tettamanti, houve até uma bolha especulativa no setor de construção naval – a China é a maior produtora do mundo, com encomendas de mais de 3,5 mil navios, seguida da Coreia do Sul, com pouco menos de 2,5 mil navios e do Japão, com aproximadamente 1,5 mil embarcações encomendadas. “Por sorte”, continua o empresário e dirigente sindical argentino, “a indústria naval tem aspectos de territorialidade; dinâmicas econômicas e de serviços associadas às distâncias territoriais. Há mercados que permanecem cativos da região e esses estão dando suporte à indústria local”. Uma característica para a qual, afirma, contribui o programa de compras da Transpetro. “A Petrobras sustentou e sustenta a produção de barcos e o programa de ampliação de sua frota independentemente da crise. Essa exigência de territorialidade e os impulsos à atividade dados pela política industrial de Lula evitaram que o impacto fosse mais profundo”, diz. É uma situação singular

para a qual os estaleiros brasileiros vêm se preparando com investimentos em ampliação da capacidade instalada e modernização. Ainda que diga temer ter que demitir funcionários, caso se confirme um descompasso entre a entrada de novos contratos e a entrega de encomendas na casa, D’Arco, do estaleiro Mauá, garante que os planos de expansão permanecem. Serão R$ 178 milhões para dobrar a capacidade de produção anual de navios, de dois para até cinco. “Poderemos fazer mais e mais rápido”, diz. O grupo Wilson,Sons, outro exemplo, mantém seus projetos de ampliação da capacidade de seu estaleiro no Guarujá (SP) e espera iniciar a construção de uma nova unidade em Rio Grande (RS), para a produção de embarcações offshore , rebocadores e embarcações para terceiros. Os dois projetos são orçados em entre US$ 60 milhões e US$ 70 milhões. “A demanda por embarcações de apoio a plataformas de petróleo deve manter-se em crescimento, assim como por navios para cabotagem, embarcações de serviço e militares de patrulha”, afirma Arnaldo Calbucci, diretor de Rebocadores, Offshore e Estaleiros do grupo. Mas não são apenas as perspectivas positivas no campo da exploração e produção de petróleo que abastecem as esperanças da indústria naval brasileira, formada por 25 estaleiros, por trás dos quais estão grupos como Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, PJMR, UTC, WTorre, Fischer, STX e SembCorp. Segmentos do setor energético, como o de etanol, e os setores de mineração e siderurgia também abrem boas perspectivas. “O Brasil possui hoje vários projetos que podem fazer subir a de-

manda por navios”, diz Timo Bothmann, chartering broker da alemã Beluga, especializada em transporte de cargas pesadas e grande compradora de navios. Parte significativa desses projetos será abastecida por estaleiros estrangeiros, afirma o executivo. Mas, “os brasileiros também devem se mostrar ativos, especialmente pela demanda de companhias locais”, diz. A Vale, por exemplo, anunciou em janeiro que encomendaria 49 navios no Brasil, em contratos avaliados em R$ 398,6 milhões, com os estaleiros Detroit (SC), Santa Cruz (SE) e Rio-Maguari (PA). “Está comprovado que a indústria naval brasileira sempre conseguiu produzir os navios necessários por aqui.

acordo de parceria em segmentos nos quais a capacidade de produção brasileira é limitada. “Estamos propondo uma associação em engenharia naval, construção de cascos, painéis elétricos, engenharia elétrica, alojamentos, carpintaria e mobiliário interior. Áreas nas quais a Argentina tem experiência e qualidade de produção e que coincidem com a demanda brasileira”, diz. De acordo com o dirigente da Abin, que representa quatro estaleiros da província de Buenos Aires, apesar de se beneficiar em parte de encomendas feitas pela Transpetro, o setor no país deverá sofrer queda de 30% na demanda doméstica. Empregando cerca de 10 mil pessoas, a indústria naval argentina, que em 2008 faturou cerca de U$ 800 mi-

Somente a segunda fase do Promef, da Transpetro, deverá gerar 18 mil empregos. Capacidade não é o problema; o que houve foi um desequilíbrio na década de 1990, por conta da abertura à concorrência internacional. Estamos re-equilibrando”, diz Meton Soares Jr, diretor-tesoureiro da Federação Nacional das Empresas de Navegação Marítima, Fluvial, Lacustre e de Tráfego Portuário (Fenavega).

SOBRAS LUCRATIVAS Mas, parte do re-equilíbrio passa pela solução de gargalos, em especial em mão-de-obra. Algo que vêm abrindo oportunidades para países vizinhos, como a Argentina. Segundo Tettamanti, a indústria argentina está em negociação com a Câmara da Indústria Naval Brasileira para implantar um

lhões, é sensível a flutuações na demanda por transporte na hidrovia Paraná-Paraguai, rota de minério de ferro e potássio bastante afetada pela crise. “Não prevemos que vá haver um aumento nos próximos dois ou três anos”, afirma. “Estamos tratando de sustentar o ritmo de trabalho atual”. Ainda assim, Tettamanti afirma estar otimista: “na Argentina, temos experiência com este tipo de desequilíbrio econômico”. Além disso, no que diz respeito à demanda no setor de exploração de petróleo em alto mar, “é preciso lembrar que um de nossos clientes é a Petrobras”. Por supuesto. Q Com Maria Soledad Gómez, Santiago do Chile MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 35


NEGÓCIOS CINEMATOGRAFIA

ESTRELAS VIRTUAIS

A produção digital coloca empresas latinas na mira de Hollywood Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México

GILBERTO CONTRERAS

Q

uem assistiu ao filme O curioso caso de Benjamin Button certamente lembra da cena em que um dos velhinhos do asilo conta a Benjamin (Brad Pitt) sobre quando foi atingido por um raio. O relato se repete sete vezes, tornando-se parte da narração. O que talvez não saiba é que tal efeito especial – entre os 1,3 mil que tornaram o filme merecedor de um Oscar nessa categoria – nasceu no México. Ao todo, seis estúdios de efeitos visuais participaram do filme, mas a presença da Ollin Studio, que já trabalhou duas vezes com o diretor David Fincher, é exemplo de uma nova exportação não-tradicional da América Latina. “Tivemos que fazer o raio e conseguir o look de um filme antigo”, explica Alejandro Diego, diretor e fundador da empresa, juntamente com Charlie Iturriaga e Jorge Lizárraga. Ainda que nem todas cheguem ao Oscar, não falta espaço para as empresas latinoamericanas de criação digital dentro da globalizada indústria de Hollywood. “O cinema de Hollywood busca boa rentabilidade e necessita de imagens espetaculares”, diz Juan Mora, acadêmico 36 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

do Centro Universitário de Estudos Cinematográficos (Cuec) da Unam, na Cidade do México. Há três anos, a Ollin abriu um escritório em Hollywood, comandado pela Robin D’Arcy, produtora com experiência na indústria norteamericana. “Ajudou-nos muito a gerar confiança”, explica Diego. “Com a tecnologia crescendo e o mundo cada vez menor, trabalhar fora dos Estados Unidos se tornou uma opção real de fazer negócios em nossa indústria”, diz D’Arcy. “O México está a um vôo curto de distância e a diferença horária é mínima se comparada com a Grã-Bretanha ou a Índia.”

MAIS TALENTO A Guatemala também está dando o que falar em geração de efeitos. Tudo isso a cargo do nicaraguense Carlos Argüello, que aos 17 anos migrou para a costa oeste dos EUA para estudar design. Trabalhou em estúdios como o Pacific Data Images, que depois passou a ser DreamWorks, e no Cinesite, da Kodak. Como diretor criativo, esteve a cargo dos efeitos especiais de Armageddon e O Advogado do Diabo, além do videoclipe da música “Black or White”, de Michael Jackson.

Alejandro Diego, da Ollin: truques merecedores de Oscar

“Mas estava cansado e decidi ir embora”, lembra Argüello, que depois de 20 anos nos EUA voltou à Cidade da Guatemala, onde decidiu treinar jovens e formar a equipe de trabalho de sua empresa, a Studio C. Argüello não acha que a América Latina seja atraente apenas por seus custos. “Em Hollywood não lhes interessa isso, mas o talento”, diz. Com produções de US$ 100 milhões ou mais que destinam ao menos 20% a efeitos digitais, economizar alguns milhões de dólares, segundo ele, não chega a ser tão relevante. “O que lhes interessa é o talento, a criatividade e o estilo de trabalho”, enfatiza Argüello. A primeira produção na qual o Studio C participou foi As Crônicas de Riddick, para a qual seu diretor, David Twohy, solicitava trabalhos à

Guatemala. Mas a principal conquista da equipe foi a participação em As Crônicas de Narnia, de Andrew Adamson. Como os mexicanos de Ollin, o Studio C também foi indicado ao Oscar, em 2005, mas não ganhou. Mesmo assim, segundo Argüello, a candidatura foi chave para a expansão da empresa. “Foi a primeira vez que o trabalho de uma companhia latina recebeu indicação ao Oscar.” Como resultado, a Studio C abriu escritório no México e está em processo de expandirse à Costa Rica e à Colômbia. Já a Ollin está à espera de novas ofertas de Hollywood. Sem dúvida, o esboço de uma história latinoamericana que recém começa a se desenvolver, mas que pode ser tão bem-sucedida quanto seus efeitos especiais. Q


[FERRAMENTAS] PMES GLOBAIS APOIO EXTERNO

O que as companhias internacionais de logística estão fazendo pelas pequenas empresas latinoamericanas

MELHOR PROCESSO ALFANDEGÁRIO A empresa UPS divulgou um estudo com PMEs da região que aponta que, além dos problemas correntes como de crédito e capacitação, essas empresas consideram que o mau funcionamento das alfândegas, longo tempo de desembaraço e excesso de burocracia são complicadores de sua atividade – nesse caso, exportadora. Segundo Luis Acosta, presidente da UPS, “o custo logístico na região gira em torno de 8% a 12% do total da exportação, enquanto no resto do mundo é de 4% a 6%”. O estudo foi realizado com 905 empresas com menos de 250 empregados em oito países latinoamericanos, entre novembro e dezembro de 2008. Segundo Acosta, “naquele momento as empresas demonstraram que, mesmo menos otimistas num momento difícil da crise, ainda perseguiam a exportação para crescer, sobretudo para a Ásia. E que não pensavam em diminuir suas operações: todos estão buscando formas de serem eficientes tanto em mercados antigos quanto em novos”. A preocupação com os temas burocracia e alfândega, segundo Costa, não se verificou em outras regiões onde o estudo foi realizado. “Hoje, na América Latina, o uso da tecnologia está atrasado em relação a outras regiões. Mas a tecnologia é fundamental na medida em que os mercados vão amadurecendo no comércio internacional.” O executivo afirma que a UPS vem buscando conscientizar os governos da região a respeito das economias de escala geradas por uma melhor gestão do setor. “É preciso que parem o que estão fazendo hoje, que é ver o sistema apenas como uma fonte de receita. Um sistema de alfândegas eficiente é uma ferramenta de crescimento do país inteiro, que atrai investimento estrangeiro. E é esse paradigma que é preciso quebrar”, afirmou.

DIFICULDADES À VISTA Temas que afetaram o comércio internacional das pmes latinoamericanas nos últimos 5 anos (múltipla escolha)

%

Falta de confiança nos fornecedores/ sócios comerciais no exterior

66

Aumento da demora nas fronteiras

53

Aumento da burocracia nas alfândegas

52

PRINCIPAIS BARREIRAS À EXPANSÃO GLOBAL % Valorização cambial / divisas

28

Estrutura de impostos (sobre vendas, valor agregado, etc.)

17

Conhecimento limitado do mercado global

13

FONTE: UPS/ TNS GALLUP

Serviço para exportar Este ano a alemã DHL lançou um novo programa de apoio às PMEs exportadoras: o www.dhl-mundopyme. com. Segundo o vice-presidente de comércio eletrônico da DHL Express, Samuel Cuñado, a América Latina – mercado no qual as PMEs representam 80% dos clientes da companhia – é o continente que está estreando o projeto. Além de oferecer um banco de dados sobre serviços de exportação (como requisitos solicitados pelas alfândegas e links para sites de governo relacionados a exportação), a empresa oferece a possibilidade de participação gratuita temporária em um serviço de “páginas amarelas online” só de PMEs. A maior novidade, no entanto, é a oferta de abertura de conta em menos de 24 horas, acelerando o processo de envio de produtos ao exterior. “Em tempos como os atuais, o acesso a crédito de forma rápida resulta fundamental na hora de concretizar um negócio”, diz Cuñado. O portal da DHL já começou a operar em oito países (entre eles Brasil, Argentina, México, Colômbia e Venezuela) e a previsão é de que vários outros estreiem o serviço em maio (como Chile, Equador e República Dominicana). A empresa pretende fechar o ano com cobertura do site em 38 países latinoamericanos e caribenhos, além do Canadá. MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 37


PMES GLOBAIS

MIGUEL CANDIA

Bercovich: sócios com dinheiro e experiência

A CRISE LHE DÁ ASAS?

Momento econômico mundial faz investidores chilenos voltarem os olhos – e a carteira – para novos empreendimentos com alto potencial de crescimento. Mas a tendência não é geral Solange Monteiro

38 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

O

negócio do engenheiro chileno Tomás Bercovich é o sonho de muitos empreendedores. Em 2008, enquanto tocava seu primeiro projeto piloto, faturou 10 milhões de pesos (cerca de de US$ 17 mil). Este ano, porém, já prevê multiplicar esse número por dez, a 100 milhões, e para 2010 a estimativa é de ultrapassar os 300 milhões de pesos em vendas. O pulo do gato de sua empresa, a Zheta Pricing, é replicar nas redes de cinemas o mesmo conceito de venda antecipada de tíquetes usado na aviação comercial, garantindo preços mais baixos para os cinéfilos precavidos (1/3 do valor normal) e um aumento do índice de ocupação média. “Hoje a estrutura rígida de compras de entradas impede que uma família de menos recursos vá ao cinema; e, por outro lado, o nível médio de ocupação das salas é baixo, em torno dos 15% a 20%”, conta. “Em apenas oito meses, as salas que participam de nosso projeto piloto já registraram aumento de 5% só com venda de entradas e de 8% com venda de alimentos”, afirma, adiantando que também já está desenvolvendo esse conceito de revenue management para a área de fast food, a partir da segmentação de vendas por dia, hora e produto. Para conseguir aprimorar seu software e ganhar definitivamente esse mercado, entretanto, Bercovich necessitou de uma ajuda imprescindível: um aporte de US$ 300 mil em um prazo de três anos, feito por dois investidores que se tornaram sócios da empresa. “Desde o início, estava claro que necessitaríamos de uma injeção de dinheiro para impulsionar o crescimento.” Os


sócios – um grande empresário da capital chilena e um arquiteto – fazem parte de um ainda tímido grupo na América Latina chamado “investidoresanjos”, que preenchem um espaço fundamental na capitalização de uma empresa de rápido crescimento: a brecha entre o primeiro subsídio de baixo montante e a entrada de um fundo de investimento, sem o qual muitos negócios correm o risco de fenecer. “Em geral, esses investidores são empresários que possuem um rol mais passivo dentro da companhia que criaram, com um patrimônio líquido razoável e uma experiência interessante”, conta Ernesto Weber, da Gávea Angels, no Rio de Janeiro. “Sua intenção é ajudar e aproveitar o período de maior crescimento, entre três e cinco anos, e depois vender sua participação aos donos, a um fundo de investimento ou a um grande player”, diz María de los Ángeles Romo, da rede Southern Angels, em Santiago. Apesar de ainda ser um grupo incipiente na região, a crise não está minguando seu interesse. Pelo contrário. Segundo María de los Ángeles, para esses investidores “as instâncias que antes se viam mais seguras para investir, depois da crise passaram a ser mais voláteis”, e isso os fez rever seus planos e optar por alternativas nas quais eles teriam certa influência nas decisões. “Na Southern Angels, cerca de dois terços dos negócios concretizados em 2008 – que totalizaram US$ 1,5 milhão – se deram no último trimestre do ano, coincidindo com o destape da crise”, conta. Em três anos de atividade, a Southern Angels conseguiu ajudar na concretização de 15

associações entre investidores e empresas emergentes, totalizando US$ 5 milhões. Para ela, 2009 manterá essa tendência, o que a faz projetar que, apesar da crise do crédito em geral, a rede fechará negócios “em torno dos US$ 2 milhões”. Esse mesmo otimismo é revelado pela Chile Global Angels, criada no começo do ano. “Achamos que esse é um momento propício para fomentar mais investimentos”, diz Nils Galdo, gerente geral da instituição. Segundo Galdo, o foco da Chile Global é buscar investidores de fora do país, “sobretudo chilenos

de Buenos Aires conseguiu mediar o investimento em 19 empresas – de um total de 300 projetos avaliados –, que juntas receberam US$ 3 milhões. Apesar da contingência favorável, entretanto, Silvia aponta que na Argentina “atualmente influi muito a situação conjuntural do país, pois há insegurança quanto à possível mudança nas regras do jogo que alteram as perspectivas de rentabilidade dos projetos”, afirma. “Por isso, muitas vezes os projetos mais atraentes hoje são os que menos dependem do mercado interno e da conjuntura doméstica.”

NO ALVO DOS ANJOS

O que fazer para conseguir um investidor •

• •

certificar-se de que tem uma ideia inovadora e com alto potencial de crescimento, ou um produto já testado com o qual quer ganhar novos mercados. dedicar-se tempo integral ao projeto: trabalho parttime é lido pelo investidor como de maior risco. ter em conta que qualidade e empreendedorismo da equipe envolvida são fundamentais. “Para um investidor experiente, é mais fácil corrigir uma ideia medíocre que uma equipe medíocre”, alerta a argentina Silvia Carbonell, do IAE. ter processos claros, com indicadores de desempenho. E definir o que espera em termos de aporte de capital e inteligência do futuro investidor.

expatriados que buscam nesse tipo de investimento uma forma de ‘colocar um pé’ de novo no país.” “Evidentemente essa situação de instabilidade dos mercados mais maduros, sobretudo dos mercados de ações, é uma situação que pode ser vantajosa para atrair a atenção dos investidores-anjos”, concorda Silvia Carbonell, que lidera o Club de Business Angles do IAE, da Universidade Austral, na capital argentina. Criada em meados de 2004, a rede

No Brasil tampouco a crise parece ter refletido tão diretamente em um maior impulso aos investimentos-anjo. “Aqui há uma tendência à retração de investimentos. Vemos muitos se refugiando na renda fixa e não buscando oportunidades em empresas nascentes”, diz Weber, da Gávea Angels. Para a Gávea, entretanto, a experiência demonstra que no Brasil atrair esse tipo de investidor parece ser mais difícil. “Nos seis anos de atividade da rede conseguimos fechar quatro

negócios. Tivemos pelo menos 23 projetos muito bons, mas houve dificuldades na negociação. Muitas empresas acabavam não aceitando passar um percentual de participação pelo dinheiro oferecido”, conta. “Isso é um problema recorrente, pois custa ao empresário entender que às vezes é melhor ter um percentual menor de um patrimônio maior, que crescerá graças à experiência do investidor”, diz María de los Ángeles. No caso de Bercovich, da Zheta Pricing, ele diz que a participação dos sócios é menor que 30%, e que estes o têm ajudado muito. “Tenho apenas 26 anos, e está claro que me faltava muita experiência. Eles têm bons contatos no mercado, e dão ‘peso’ ao nosso cartão de visitas”, diz. De qualquer forma – e independentemente de qualquer empurrão que a crise possa dar – os especialistas concordam que o mercado latinoamericano ainda está se desenvolvendo e que ainda falta aos empresários aprenderem a posicionar-se. “Muitos não têm claro suas estratégias comerciais nem o que seria uma proposta atraente para um investidor”, diz María de los Ángeles. E, para a especialista, os incentivos a esses investidores poderiam ser ainda mais diversos. “Na Europa, por exemplo, há crédito tributário sobre o investimento que se materializa e sobre a perda que este registrou em determinado ano. E também há um fundo de apoio para cofinanciar o investimento com dinheiro do governo. Com isso, o risco que o investidor pode ter já não é tão crítico.” E, assim, multiplicam-se por dez a receita de novos empreendimentos carentes de um apoio de peso. Q MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 39


ESPECIAL

Mulheres Maria Fernanda Teixeira: questão de atitude

Mais é melhor

Executivas latinoamericanas de sucesso mostram a lição: não dar chance à inclusão de mulheres em todos os níveis das companhias pode significar desperdício de talentos Solange Monteiro

40 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

Q

uando embarcou à Argentina para uma reunião de negócios em abril, Maria Fernanda Teixeira, então recém-nomeada presidente para o Brasil e COO para a América Latina da norteamericana First Data, não eliminou a pausa para jantar em seu restaurante predileto da capital. Apesar de ainda ter fresco na mente o desafio recém-abraçado – de em dois anos quadruplicar no Brasil o tamanho da companhia norteamericana de serviço de processamento de pagamentos para comércio eletrônico, que em 2008 registrou faturamento global de US$ 8,8 bilhões –, manteve em pé sua máxima de equilibrar a sempre apertada agenda de trabalho. “Sempre é preciso buscar uma forma de que as coisas não se tornem uma carga”, afirma. Essa é a parte relaxante – mas não menos disciplinada – da filosofia que levou Maria Fernanda a desenhar um currículo invejável. Para entrar na First Data, abandonou outra presidência, à do Grupo ICT para a América Latina, onde chegou depois de ter ocupado a vice-presidência de Operações da América Latina de outra multinacional, a Electronic Data Systems (EDS). “Eu tinha um sonho de criança de ser uma executiva, que fui unindo à experiência profissional que desde o início foi em tecnologia”, conta, referindo-se a seu primeiro emprego formal, aos 17 anos, na área de processamento de dados da GM. “Nunca estou satisfeita com o que sei, e acho que isso abre oportunidades.” Mas essa administradora de empresas sabe que determinação ainda não é tudo dentro do reduzido universo de mulheres que chegam alto em sua trajetória profissional. Hoje, no Brasil, por exemplo, estatísticas apontam que as mulheres representam entre 18% e 20% dos postos de presidente, vice-presidente e diretores de grandes empresas; na Argentina, esse percentual é de 17%. E, dentro da realidade latinoamericana, os dois países não se configuram como os piores exemplos; ao contrário. Segundo o BMLA - Business Monitor Latin America 2009, realizado pela UPS e a TNS, o Brasil é um dos países da região que mais oferece capacitação a mulheres que voltam ao trabalho depois de terem filhos e o terceiro que mais adota políticas para promover a ascensão das mulheres em todos os níveis. Outro estudo, realizado pelo World Economic Forum, aponta que a Argentina é a nação latinoamericana mais bem-posicionada quando se trata de redução da diferença de gênero em geral (ver quadro), em 24º lugar dentro de um grupo de 130 países. Na verdade, com raras exceções, o estudo aponta que tais desigualdades, quando se trata de oportunidades econômicas e de participação política, ainda são marcantes em todo o mundo. Uma realidade vista com desânimo pelo acadêmico Carlos Arruda. Desde seu posto de coordenador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral, em Minas Gerais, há quatro anos decidiu colecionar estatísticas. “No curso mais básico que oferecemos, uma pós-graduação, as mulheres são maioria, entre 55% e 60%, e costumam ser os melhores alunos; já no nível seguinte, um MBA empresarial, voltado a cargos gerenciais e de diretoria, os homens são maioria”, conta. “E, daí para frente, a história muda drasticamente. No


ARGENTINA, A MAIS AVANÇADA A inclusão das mulheres na América Latina Os números representam a posição de cada país dentro de um ranking de 130 nações

País

Posição geral

Oport. econ.

Educação

Saúde

Força política

1 ARGENTINA

24

80

57

1

15

2 CUBA

25

77

25

71

19

3 COSTA RICA

32

86

51

1

20

4 PANAMÁ

34

49

54

1

38

5 EQUADOR

35

74

52

1

28

6 PERU

48

83

84

86

29

7 COLÔMBIA

50

37

32

1

79

8 URUGUAI

54

65

27

1

53

9 EL SALVADOR

58

97

78

1

32

10 VENEZUELA

59

71

31

1

57

11 CHILE

65

106

81

1

26

12 NICARÁGUA

71

117

1

62

23

13 R. DOMINICANA

72

82

1

1

69

14 BRASIL

73

59

1

1

110

15 BOLÍVIA

80

88

90

108

51

16 MÉXICO

97

112

86

1

55

17 PARAGUAI

100

111

38

1

89

18 GUATEMALA

112

114

103

1

113

Fonte: The Global Gender Gap Index 2008, WEF

Sandra Yachelini, da Microsoft: necessitamos de políticas sólidas que fomentem oportunidades.

A DIFERENÇA AINDA FAZ DIFERENÇA Quão (pouco) includentes somos Nesta tabela, 1 representa igualdade e 0, desigualdade

Participação econômica País

Profissionais técnicos

Mulheres no Congresso

0,3

1,18

0,67

0,3

BRASIL

0,52

1,08

0,1

0,13

CHILE

0,33

1,08

0,18

0,69

COLÔMBIA

0,61

1,0

0,09

0,3

MÉXICO

0,38

0,72

0,3

0,19

PERU

0,39

0,72

0,41

0,42

ARGENTINA

Com cargos executivos

Força política Em cargos ministeriais

Fonte: The Global Gender Gap Index 2008, WEF

programa sênior, focado em vice-presidentes e presidentes, há uma ou duas mulheres para um grupo de 40 alunos.” A primeira intenção de Arruda ao constatar a pouca evolução desses números foi convidar um grupo de estudantes da FDC para conversar sobre o fato. “E aí comecei a observar algo interessante: as mulheres não gostam de comentar esse assunto em geral. Poucas atenderam meu convite, e minhas colegas de trabalho, professoras e especialistas, não consideraram isso um tema relevante.”

Vista grossa ao já tão polemizado “teto de vidro” (glass ceiling phenomenon), ou preconceito que impede a ascensão das mulheres? “Acho que na verdade é uma mudança que está acontecendo paulatinamente, pois temos que levar em conta um universo no qual por séculos o homem predominou. Hoje em dia já é possível ver uma geração jovem de mulheres cada vez mais dispostas a assumir cargos de alta responsabilidade, e um ambiente mais positivo para isso”, diz Francisca Valdés, diretora do grupo Mujeres Empresarias, que agrupa 3,2 mil mulheres, entre executivas, empreendedoras e empresárias. Um otimismo compartilhado por Irene Natividad, presidente do Global Summit of Women, evento que anualmente congrega milhares de mulheres empreendedoras de todo o mundo, e que este ano será realizado em maio em Santiago do Chile. “Os bancos em todo o globo estão atentos às mulheres; pacotes de estímulo à economia voltados a elas, porque sua capacidade empreendedora hoje é reconhecida. E essa é a forma como elas estão ganhando poder político, pois este não chega sem o dinheiro”, diz. MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 41


ESPECIAL

Mulheres

Para Jonas Prising, da Manpower, boa cultura corporativa é o segredo para uma maior diversificação. Inclusão competitiva O fato é que, para alguns especialistas, esses avanços não demonstram acontecer na velocidade desejável, indicando que a falta de uma mudança de cultura tanto social quanto corporativa poderá travar um processo que se faz cada vez mais necessário. “Hoje 50% dos alunos universitários já são mulheres. Não lhes dar oportunidades é desperdiçar capital humano”, afirma Francisca. Para Jonas Prising, presidente para as Américas da empresa de recursos humanos Manpower, o desperdício de capacidades pode influir diretamente na competitividade das empresas e de uma sociedade. “De um lado, as empresas necessitam de ideias inovadoras. De outro, na perspectiva dos países, a queda demográfica nos mostra que a disponibilidade de talentos profissionais vai escasseando. Esses fatores apontam a uma necessidade real de fazer com que a mulher tenha um papel mais ativo dentro da força de trabalho”, diz Prising. E, para ele, o equilíbrio parte, antes de tudo, de uma boa cultura corporativa. “Basta ver que em países como a Suíça, e os escandinavos, como a Noruega, a participação laboral entre homem e mulher é equilibrada e os índices de natalidade aumentam; já na Itália e na Espanha, onde a participação da mulher no mercado de trabalho é menor que 38%, as taxas estão baixando. Ou seja, não é preciso sacrificar o papel de mãe para garantir um maior equilíbrio.” 42 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

Sandra Yachelini, diretora geral da Microsoft para Argentina e Uruguai, com 20 anos de experiência no mercado de tecnologia, defende a necessidade de políticas sólidas que favoreçam a criação de oportunidades. Mas alerta: “isso para uma inclusão que hoje não pode ser argumentada na igualdade, mas na diversidade como defesa do talento pessoal e das qualidades diferenciais de gênero”. Para ela, no caso do setor de tecnologia, essa é uma característica que deve estar presente na empresa desde seu DNA, “gerando espaços mais participativos, sensíveis a novos pontos de vista e com grande flexibilidade às mudanças”. “Está claro que hoje há muitas ferramentas que ajudam a adaptar o trabalho às necessidades das mulheres; mas tudo sempre depende de as empresas abraçarem essas políticas e desenvolvê-las efetivamente”, diz Adriana Souza, diretora de marketing da Lenovo no Brasil. De sua casa em São Paulo, de onde trabalhava remotamente para conciliar seu tempo com a resolução de temas pessoais, ela comenta que, além de flexibilidade e políticas de avaliação de performance profissional, a experiência de trabalhar em uma multinacional a fez ganhar uma postura que, segundo ela, às vezes falta às mulheres na conquista de seus objetivos de carreira. “Não é só o mercado e a sociedade; hoje elas estão se conscientizando que têm que aprender muito, que têm que absorver uma visão corporativa e correr atrás de seus objetivos”, diz. “Quando entrei na IBM (que foi adquirida pela Lenovo em 2008), vi que tinha que aprender a navegar nesse meio, aprender a necessidade do networking, não esperar que as coisas cheguem até você”, diz. Para Maria Fernanda, que também acumula experiências apenas em multinacionais e pondera o conceito do “teto de vidro”, o cálculo é simples. “Setenta por cento depende de você mesmo. Tem que partir de uma decisão e fazer a coisa acontecer”, afirma, combatendo qualquer atitude que invoque a auto-sabotagem. “Quando defini que queria ser uma alta executiva, não abri mão de ser mulher, ter filhos”, diz, contando que, no nascimento de sua primeira filha, há 20 anos, decidiu mudar-se de casa para estar próxima do trabalho e poder amamentar a cada três horas. “Mas é preciso ter discernimento, ver que há momentos em que é preciso dedicar-se mais, esquecer os fins de semana, e outros em que poderá equilibrar. E sempre entregar mais do que esperam de você, para mostrar que vale a pena ser flexível.” Palavra de presidente. Q


As mulheres falam Elas são líderes e apresentam seu ponto de vista de como a América Latina pode se fortalecer com a crise Pamela Cox, vice-presidente para AL e Caribe do Banco Mundial “A região hoje está mais resistente para enfrentar a crise que há 30 anos e tem fortalezas interessantes, entre elas os programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família no Brasil e mesmo as iniciativas relacionadas à mudança climática, que têm sido observadas por todo o mundo. Mas os governos precisam conversar muito mais com o setor privado para entender melhor que tipo de iniciativas ajudarão a recuperar postos de trabalho. E tomar muito cuidado com as políticas de subsídio e de incentivos.” Alicia Bárcena Ibarra, sec. exec. da Comissão Econômica para AL e Caribe (Cepal) “Nem o Estado nem a iniciativa privada resolvem tudo sozinhos. Agora a sociedade tem que ser o grande fiscalizador de ambos, para ver se esses pacotes lançados estão chegando à base, ao seu alvo. E para isso é preciso ter fluxo transparente de informação. Os governos de nossos países hoje estão realizando muitas ações com o dinheiro público. Mas a vigência dessas ações virá do setor privado e da sociedade. Por isso, se o governo está investindo em pacotes fiscais, em nível estrutural, em inovação, temos que escutar do outro lado quem está disposto a abraçar essa responsabilidade.” Darys Estrella, gerente-geral da Bolsa de Valores da República Dominicana “Em República Dominicana se tomaram medidas para controlar a inflação e não houve desvalorização forte. É um país politicamente estável, com rendimentos atraentes. Nossa lei não diferencia investimentos nacionais e estrangeiros. O desafio, entretanto, é o déficit fiscal. Nossas autoridades continuam gastando e sabemos o que acontece quando alguém se endivida muito. É preciso incentivar as economias, mas gastar de forma eficiente e produtiva.” Donna Hrinak, dir. de relações governamentais para AL da PepsiCo e ex-embaixadora dos EUA no Brasil “O Brasil está no caminho certo. Mas agora precisa focar-se em gastar bem o dinheiro público. Ou seja, tem que investi-lo, não somente gastá-lo. Sobretudo em medidas como melhorar a educação primária, que ainda deixa a desejar, bem como melhorar a infraestrutura necessária para o setor privado poder desenvolver-se. O foco agora é na qualidade do gasto, porque a partir do momento que desperdiçou, não investiu bem, esse dinheiro não volta mais.” Marisol Argueta de Barillas, ministra de Relações Exteriores de El Salvador “Os países centroamericanos têm que se unir para enfrentar a crise, e não ficar de fora das grandes decisões, como sobre o protecionismo. Estamos trabalhando intensamente para manter a abertura comercial. Também nos preocupa muito a queda das remessas familiares, já que temos um terço da população vivendo fora de El Salvador. Instauramos um serviço de informações em nossos consulados, apresentando opções de trabalho nos EUA para os desempregados. As portas do país estão sempre abertas, mas sabemos que também em El Salvador há a necessidade de criação de emprego.” Luz María Jaramillo, diretora-associada da Ernst & Young na Colômbia “Os governos na América Latina devem promover o empreendimento. Gerar espaços para criar, inventar, propor ideias de novos negócios. E, depois, ajudar com a burocracia. Os trâmites matam as ideias. Atualmente, são um dos principais inibidores para empreender: muitos documentos, registros e procedimentos que podem levar vários meses. Quantas projetos bons estaremos queimando no caminho porque falecem no meio desse esforço?”

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 43


DEBATES EMBARGO

AP

Visitar Cuba: um novo direito na terra do livre-arbítrio

TÃO PERTO, TÃO LONGE

Embora o clima entre Washington e Havana tenha melhorado, o fim do embargo parece uma meta distante. Antonieta Cádiz, Washington

A

o vivo e direto de Cuba, a voz de Miriam Espinoza, fundadora do grupo “Damas de Blanco”, era escutada em uma das salas do Capitólio. “O embargo e as restrições de viagem e envio de dinheiro têm sido o argumento perfeito para que o governo cubano justifique tudo o que está mal. Que se abram as portas, que uma pessoa venha, entre, fale, produza mudanças”, dizia firme e decidida, enquanto 11 legisladores da Câmara dos Deputados dos EUA, em uma sala repleta de jornalistas, a escutavam com atenção. 44 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

Miriam tem motivos para falar. Não apenas tem vivido a falta de liberdade de opinião e de imprensa impostas pelo governo cubano, como também passou pela dor de ter visto o marido, Oscar Espinoza, preso por conta de sua dissidência política. Os rostos de parlamentares como o democrata Bill Delahunt e o republicano Jeff Flakes pareciam concordar com as palavras desta cubana. Contudo, quando se falou no fim do embargo, o ambiente deixou de ser o mesmo. “Nós apoiamos a eliminação das restrições para viajar.

O embargo é outro tema, o caminho para isso ainda está longe de ser traçado”, disse Delahunt. O Senado parece ter a mesma posição, embora legisladores como Christopher Dodd tenham ido um pouco além. Dodd chegou a dizer que “o momento para iniciar um diálogo com Cuba está chegando”. As declarações e movimentos para uma maior abertura têm dominado o ambiente político e público em Washington nas últimas semanas. Primeiro com o anúncio no Senado do projeto S 428, que permitiria

a viagem de qualquer norteamericano a Cuba; depois, com a apresentação de uma proposta homóloga na Câmara, a HR 874. E, finalmente, com a declaração do presidente Barack Obama sobre o fim das restrições às viagens de familiares de cubanos e envio de remessas à ilha. Não obstante, o movimento político em torno de Havana começou a ser elaborado há certo tempo. Instituições sem fins lucrativos como a Human Rights Watch iniciaram diálogos no Congresso em dezembro de 2008. Em um memorando enviado à equipe de transição de Obama e a membros do Capitólio e da Casa Branca, a organização argumentou que “por cerca de quatro décadas a política de embargo se provou custosa e equivocada”. “Chegou o tempo para realizar uma avaliação cui-


dadosa do embargo. A administração deveria convocar uma comissão bipartidária para estudar por que a política dos Estados Unidos falhou em trazer mudança a Cuba e delinear recomendações para uma aproximação mais efetiva. Estas conclusões deveriam ser as bases para se criar uma estratégia multilateral que possa aplicar uma pressão mais focada sobre a ilha”. Por outro lado, o gabinete do republicano de mais alto cargo no comitê de relações exteriores do Senado, Richard Lugar, enviou seu assessor na América Latina, Carl Meacham, a Havana em janeiro de 2009. Em seu relatório apresentado no Senado, Meacham especificou que impedir a cooperação com a ilha em matérias de interesse mútuo, como migração e controle do narcotráfico, prejudicaria os interesses de segurança nacional do governo dos Estados Unidos. “A política baseada em sanções tem limitado significativamente a habilidade de Washington de influenciar políticas sobre Cuba e entender melhor os eventos que estão ocorrendo na ilha”, diz. O relatório menciona que o governo cubano continua tendo problemas sérios de escassez de recursos, ineficiência e corrupção. Pontos que não limitam o seu funcionamento.

O QUE HÁ DE NOVO? Não houve nada que Bill Richardson pudesse fazer para que o serviço secreto não destruísse os charutos cubanos que Fidel Castro enviou ao então presidente Bill Clinton. Não houve explicação que compensasse “os motivos de segurança” apesar de, naquele momento, Richardson ser o emissário entre a administração Clinton e Castro. Um

emissário antecedido por muitos outros. “Cada presidente, desde Kennedy a Clinton, tem explorado aberta e secretamente quais são as áreas comuns com a ilha. Os EUA tiveram um diálogo constante com Cuba sobre temas que afetavam a ambos, como imigração”, diz Peter Kornbluh, diretor do Projeto de Documentação sobre Cuba, dos Arquivos Nacionais. De fato, a possibilidade de retirar o embargo foi discutida no passado, mas não prosperou por conjunturas como a morte de Kennedy e gestos conflituosos de ambos os lados, diz o especialista. Contudo, ainda segundo Kornbluh, nunca se variou a consistência da posição cubana na hora de negociar. “Em todas estas conversações secretas, asseguraram que não transitarão sobre seu sistema interno, não receberão ordens de ninguém. Estiveram dispostos a discutir certos pontos, mas resistem a qualquer coisa que pareça um esforço imperialista para dizer-lhes o que têm que fazer”, explica. As especulações sobre uma nova relação entre Havana e Washington parecem, então, muito mais ligadas ao que ocorre nos EUA do que em Cuba. E às transformações que sofre a comunidade cubano-americana residente na Flórida e sua conexão com a Casa Branca. “Tem havido uma maturidade política, uma evolução em nossa comunidade”, diz a cubano-americana Silvia Wilhelm, diretora da entidade Puentes Cubanos e reconhecida ativista em temas relacionados à ilha. “As pessoas que tomaram a decisão de sair (de Havana) já não estão conosco. E as novas gerações possuem visões diferentes a respeito

da Cuba de hoje e de como relacionar-se com ela. Também temos milhares de imigrantes que chegaram nos últimos 10 anos, que deixaram família para trás e têm um compromisso muito sério com eles. Tudo isto criou uma comunidade diferente”, afirma. Entretanto, apesar de Obama não ter precisado se comprometer com a ala dura do movimento cubano-americano para ganhar na Flórida, este grupo ainda tem voz forte, conexões com ex-funcionários do governo e legisladores, como o democrata Robert Menédez

sing, diretora associada do Instituto de Pesquisa sobre Cuba, da Universidade da Flórida, que viveu 12 anos na ilha, concorda. “O embargo tem funcionado como a justificativa mais sofisticada para explicar qualquer problema interno. Usam isso todos os dias.” Mas o povo cubano continua sendo parte dessa equação. Atualmente a ilha possui cerca de 12 milhões de habitantes, dos quais 57% são menores de 35 anos. Pessoas que cresceram no sistema de república socialista, mas não lutaram

Qualquer mudança política na ilha deverá ser gerada internamente. (Nova Jersey) e o republicano Mel Martínez (Flórida).

E EM HAVANA? Outro tema são as mudanças no interior de Cuba. De um lado está a pergunta a respeito da disposição real do governo a dar boas-vindas aos gestos dos EUA. Embora as palavras de Raúl Castro, em meados de abril, tenham sido alentadoras quando indicou que está disposto a “discutir tudo, direitos humanos, liberdade de imprensa e presos políticos, em igualdade de condições”, vários colocam em dúvida suas afirmações. “Acho que o governo cubano se sente mais confiante do que nunca de não necessitar de uma mudança na política dos EUA, porque o resto da região lhe dá as boas-vindas. A mudança da política atual pode tomar muito mais tempo do que o estimado”, diz Kornbluh. A antropóloga Katrin Han-

por ela. Hansing vê os jovens como uma “bomba-relógio”. “Não lhes interessa o discurso oficial. Querem sair do país e, se não podem, buscam alternativas participando de gangues, buscando as drogas e o álcool”, diz. Na hora de falar de transformações, a analista assegura que uma variável importante é a convicção geral dos cubanos de que são uma nação soberana, sobretudo politicamente. “É muito perigoso pensar que a mudança na ilha virá de fora. Se for apresentada do exterior com muita pressão, a dinâmica entre ambos os países terá caráter muito negativo”, explica Hansing. O certo é que em Washington há grandes expectativas quanto à Cuba. Há avanços e o clima parece bom. Neste momento, habilidade política e paciência parecem ser a mescla perfeita na complexa equação entre ambos os países. Q MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 45


DEBATES ECONOMIA

A CRISE POR TRÁS DAS CRISES Recessão e gripe suína: 2009 promete ser ruim para o México. Mas no médio prazo seu modelo econômico pode ficar ainda pior. Lisia González e Eduardo Thomson

46 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009


H

que o normal. “No ano passado, a cada fim de semana chegavam 2.500 jovens ao clube. Em uma noite qualquer, um grupo de 10 a 12 amigos poderia beber cerca de quatro garrafas de uma boa marca de uísque. Havia uns 120 funcionários”, recorda Aguilar com nostalgia ao apagar seu terceiro cigarro dos últimos 20 minutos. “Agora, por conta da crise, as pessoas se divertem menos. Em vez de uísque, pedem rum, e não mais de duas garrafas. Tive que fechar um piso da boate e ficar com apenas 48 funcionários. Em uma boa noite agora vêm, quando muito, umas 800 pessoas”. O empresário foi obrigado a responder com seu próprio plano fiscal. “Estamos reduzindo ou eliminando o couvert, investindo em publicidade, tudo para que não caia o movimento mais do que já caiu”, diz Aguilar, o qual espera que com isso o negócio possa voltar a crescer quando o México se recuperar. “E isso

elking Aguilar está acostumado a trabalhar à noite. É uma condição inexorável quando se é dono de uma discoteca como a Zoon Night Club, um dos maiores clubes noturnos da zona Sul da Cidade do México. Mas desta vez suas olheiras de desgaste estão um pouco maiores do

crise está deixando claro uma vez mais os problemas estruturais da economia mexicana: a inabilidade sistêmica de poder amenizar sua dependência dos Estados Unidos, e ao mesmo tempo uma grande perda de competitividade que pode colocar em risco todo o modelo econômico do país. Quando a tormenta passar, o México pode encontrar novas nuvens carregadas no horizonte. “Por nossa situação geográfica, a dependência com os Estados Unidos é simplesmente inevitável, e isto não é algo que começou com a assinatura do TLCAN”, diz o economista e historiador Enrique Cárdenas, diretor geral do Centro de Estudos Espinosa Yglesias. “Tem sido sempre assim. A composição do comércio histórico com os EUA tem sido praticamente a mesma há quase um século”, afirmou. “Mas com a desvalorização do peso que temos visto nos últimos meses, poderíamos fazer um esforço para substituir a importação

Enrique Dussel, economista e acadêmico da Universidade Autônoma do México (UNAM). “Contudo, nos últimos anos se vê uma queda da participação dos Estados Unidos no comércio do México, de 81% em 2001 a 64% em 2008”. Para o economista, isto reflete uma diminuição muito significativa da importância dos EUA, mas não porque o país se abriu a novos canais comerciais e está olhando outros lados, e sim por uma crescente desintegração da região com a América do Norte. “Temos conflitos comerciais com nosso principal parceiro. Acabamos de impor tarifas a cerca de 90 produtos e isso um sócio comercial não pode fazer, especialmente se for uma economia manufatureira que depende das exportações”, acrescenta Dussel. Para o acadêmico, é desesperadora a falta de um diagnóstico claro por parte das autoridades sobre este problema. “O nível máximo de emprego alcançado

Problemas do setor de manufatura mexicano vão além da tormenta econômica.

AFP

Automóviles mexicanos: a merced de los problemas en EE.UU.

ocorrerá quando a economia dos Estados Unidos se recuperar”, salienta, confiando que seu vizinho ao norte, a maior economia do mundo, recupere logo o dinamismo. A esperança de Aguilar é compartilhada por empresários mexicanos em todos os setores. A maldição geográfica do país, que está levando o México a ser a nação latinoamericana com as piores projeções para este ano apesar de seu histórico nos últimos anos de disciplina fiscal e abertura comercial, passará a ser a benção que tirará o país do atoleiro. Contudo, não é tão fácil. A

de produtos que poderíamos produzir internamente, mesmo que muita gente veja isso como uma heresia imperdoável. Não temos tido uma política industrial que promova certos setores e isso é lamentável. Até agora se dizia que a melhor política industrial era a que não existia. E creio que esta ideia deveria mudar.” Mas nem todos estão completamente de acordo com a visão de que a dependência é irremediável. “É certo que, desde que existem estatísticas, os EUA sempre foram o principal parceiro comercial do México”, diz o mexicano

no setor de manufatura foi em outubro de 2000. Em março de 2009, o setor de manufatura perdeu 25% de seu emprego, ou seja, mais de um milhão de postos de trabalho. É um processo de perda de competitividade que não começou há poucos meses, e sim há oito ou nove anos”. É algo que pode ser visto em plena Avenida Insurgentes. Em um das mais movimentadas artérias da capital mexicana, a vitrine da agência de recrutamento Randstad mostra as últimas ofertas de trabalho. O interior está repleto de gente que tem entre 20 e 30 anos. MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 47


DEBATES ECONOMIA OS EUA PERDEM PESO

FONTE: MONITOR DE MANUFATURA DA UNAM, COM DADOS DO BANCO DO MÉXICO

100

80

60

40

América Estados Unidos

Participação no comércio total do México (importações + exportações)

União Europeia Ásia China

20

0

1993

1995

1997

1999

Todos levam seus currículos. “Antes, pouca gente entrava para ver os anúncios”, diz Ana Monge Ruiz, gerente de recrutamento e seleção. “Mas agora, o tráfego no local aumentou muito, eu diria que uns 40%, e isso indica que há mais pessoas nas ruas buscando emprego”. As demissões foram sentidas no país, e a taxa oficial de desemprego está no maior nível desde 2000. Além da crise financeira, o desemprego mexicano é produzido por sua perda de competitividade que fez o país perder investimentos frente à concorrência de outros países emergentes, como a China. O exemplo mais claro está no setor de automóveis, a principal exportação do México. O país produz 1,9 milhão de veículos por ano, muito atrás da China, que é o segundo maior produtor do mundo com nove milhões de veículos por ano. E enquanto a China cria, inclusive, marcas próprias de carros, no México são as marcas estrangeiras que possuem produção local, com o objetivo de exportar aos EUA. “A General Motors representa 25% de todos os automóveis produzidos no México”, co-

48 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

2001

2003

2005

2007

menta Dussel. “Se a empresa quebrar será um golpe muito forte em nossa indústria”. Para muitas pessoas, tratase simplesmente de um problema conjuntural. E o México ganhou nome de prestígio no mundo. Seu modelo de crescimento econômico baseado na liberdade econômica e na integração mundial foi louvado no passado por economistas e entidades multilaterais. Ninguém comenta que o país é uma “ditadura encoberta” unipartidarista, e sim que existe alternância de poder. Em meio a uma onda de violência produzida por enfrentamentos entre o exército e os cartéis de narcotráfico, não são poucos os que falam das fortalezas institucionais da segunda maior economia latinoamericana. O risco competitivo do México não é evidente no curto prazo. O grau de investimento do país, por exemplo, não corre risco. O México continua sendo um dos poucos países latinoamericanos com uma firme qualificação de BBB+ segundo a Standard & Poor’s e a Fitch Ratings, e de Baa1 segundo a Moody’s, em todos os casos três níveis

acima do mínimo para o grau de investimento. E de acordo com os analistas consultados, apesar das projeções negativas, de -5% para 2009 – é praticamente impossível que o país perca este selo de aprovação. A Fitch é a única agência de classificação que tem uma perspectiva negativa para a qualificação. “Existe probabilidade de 50% de que a qualificação dentro dos próximos 18 a 24 meses seja reduzida em um nível”, comenta a analista de dívida soberana da Fitch, Shelly Shetty. Por outro lado, a S&P tem uma perspectiva estável quanto ao país. “Antes de uma queda na qualificação geralmente haveria uma queda na perspectiva”, explica Joydeep Mukherji, analista de dívida soberana da S&P. “O país tem um nível de dívida semelhante a outros países com qualificações similares e tem um mercado financeiro sofisticado. O governo e as corporações podem obter dívida do mercado local”, acrescenta. “Daí a perder o grau de investimento, muito teria que ocorrer para que isso acontecesse”, acrescenta Shetty, da Fitch. Esse “muito” leva em conta que de certa forma a recuperação mundial começará no fim deste ano. “Por um lado, se não houver um ressurgimento na segunda metade, ou se os EUA se mantiverem em uma perspectiva de crise profunda na segunda metade do ano, isso poderá levar a uma taxa de retração econômica, segundo meu modelo, de -4,7% a -5,9% para o México”, comenta o economista Bertrand Delgado, analista para a América Latina da consultora RGE Monitor, em Nova York. Ou seja, as coisas poderiam piorar ainda mais.

E não há uma visão de que o grau de investimento esteja 100% salvo, pois ainda há o fator das eleições legislativas de meados do ano. “Teremos que ver o equilíbrio de poder nas eleições. As pesquisas indicam que o PRI obteria uma maioria relativa, seguido pelo PAN”, acrescenta Delgado. “Sob esta percepção, poderia imaginar-se que as reformas estruturais avançariam e seria difícil para o país perder o selo de investimento”. Contudo, segue a análise, “se por algum motivo o PAN ou o PRI não conseguirem o que se espera deles e o PRD obtiver a maioria, ou se acontecer qualquer outra mescla que inviabilize as reformas, creio que o risco de o país ter sua qualificação rebaixada e eventualmente perder o grau de investimento é maior”. As reformas estruturais às quais Delgado se refere são as trabalhistas, energéticas, educacionais e de infraestrutura que o governo tenta dar andamento, de uma forma ou de outra, e que buscam melhorar a competitividade do país. Uma competitividade que, na verdade, está sendo colocada à prova. Dussel acredita que a situação no México e a crise no setor manufatureiro também são um alerta para os riscos do modelo econômico predominante na América Latina. “A China está nos dizendo ‘você, México, o que vai fazer nos próximos 20 anos? Vai continuar se especializando na produção e no comércio de artigos fabricados com mão-de-obra barata? Eu tenho uma força de trabalho mais barata que a sua e vou continuar tendo por décadas. Se sua obsessão continuar sendo essa, pode se preparar, porque você vai se dar mal.” Q


DEBATES PANORÂMICA

Javier Santiso

A América Latina, a China e o G20 A RECENTE REUNIÃO DO G20 corroborou o que está sendo antecipado desde o começo da década: o auge e o crescente protagonismo dos países emergentes. Este auge é, sobretudo, da Ásia, com a China em primeiro lugar, mas também de outras regiões do mundo, incluindo a América Latina. De fato, nada menos que três países da região estiveram presentes na mesa do G20: México, Brasil e Argentina. Três grandes observações podem ser feitas desse evento. A primeira é, sem dúvida, o reconhecimento do G20 como espaço legítimo para lidar com a crise global. O fato de ter três países latinoamericanos neste fórum o torna também uma ocasião única para impulsionar a coordenação intrarregional e buscar mais peso nas decisões internacionais. A segunda observação é derivada do crescente protagonismo da China, que está se impondo como um dos principais atores do G20. Antes, pouco se discutia se a China poderia ou deveria juntar-se à Rússia na cúpula do G8. Como assinalou o ensaísta Timothy Garton Ash, há pouco tempo a política chinesa parecia ser modesta, como se o dragão fosse um lagarto. Mas, recentemente, o gigante despertou. Prova disso são as muitas viagens internacionais do presidente e do vice-presidente da China pela África, Ásia e pela América Latina. Na mais recente, em fevereiro de 2009, o vice-presidente Xi Jinping, possível herdeiro de Hu Jintao, atreveu-se a dar lições aos países ricos (aos EUA, particularmente), perante um público chinês na capital do México. Há vários meses, líderes chineses vêm multiplicando as ações e propostas para mudar o sistema internacional. Em um recente artigo, o governador do Banco Central chinês sugeriu a criação de uma divisa de reserva internacional acima do dólar e das demais moedas. No mesmo âmbito monetário, tal qual o Fed, o Banco Central chinês também concretizou acordos de currency swap, entre eles um com a Argentina. E, como se fosse pouco, a China agora está fechando seu terceiro acordo comercial com um país da América Latina, a Costa Rica, depois de ter assinado outros com o Chile e com o Peru. Na recente Cúpula do Banco Interamericano de Desenvolvimento, celebrada em Medellín no fim de março, a China estreou como novo membro deste

organismo. O fato de a América Latina estar no radar chinês é positivo. É verdade que a China representa um problema comercial para alguns países, mas também representa uma oportunidade. Não apenas porque absorve produtos de toda a América Latina (em 2008 de novo as importações chinesas da América Latina superarão os US$ 100 bilhões), mas porque desperta a reação dos EUA e da Europa. Desde que a China se interessou pela África, por exemplo, o interesse de Washington, Paris e Londres pelo continente aumentou. Uma consequência para a região deste auge é que o que ocorre com a China tem relevância central para as economias latinoamericanas. Há uma década, um espirro na China passava despercebido na América Latina. Em 2009 deixou de ser assim. Para alguns países, como o Chile, a Ásia já é a principal região de destino de suas exportações (35% das exportações chilenas vão para lá, mais do que para a América do Norte ou Europa). Para o Peru, a cifra é de 19%, e outros como Brasil ou Argentina também olham, cada vez mais, para além do Pacífico. Desde 1995, o intercâmbio comercial da América Latina e do Caribe com a China foi multiplicado por doze, passando de US$ 8,4 bilhões a mais de US$ 100 bilhões em 2007. Em 2008, a China tornou-se o segundo sócio comercial da região, logo após os EUA. Além disso, os preços das matérias-primas, que representam mais de 60% do total de exportações da América Latina, dependem em parte desta demanda asiática, com a China devorando petróleo, cobre, soja e outros produtos-chave da região. A última observação derivada do G20 de Londres é o novo protagonismo cobrado pelo FMI. Desde setembro de 2008, o Fundo emprestou mais de 50 bilhões de euros a países emergentes. Há pouco, o México negociou uma linha de 36 bilhões, em uma ação preventiva inédita, buscando blindar-se com um seguro a mais, algo que os mercados financeiros aplaudiram. O aumento dos recursos do Fundo, celebrado em Londres, que levará a capacidade financeira de 186 bilhões a 560 bilhões de euros, é sem dúvida uma boa notícia para os países emergentes. Todas as crises são injustas. Mas a atual implica um paradoxo e uma injustiça maiores: no mundo dos países emergentes, muitos fizeram seus deveres. As empresas emergentes, bem como às dos países da OCDE, conseguiram focar-se no exterior e converter-se em multinacionais. Os indicadores de pobreza melhoraram em muitos países. Deixar que este processo seja interrompido, ou pior, que retroceda, seria irresponsável. Por isso também deve ser celebrado o que foi decidido no G20. É hora de esperar que se cumpra o que foi acordado. O melhor que a América Latina pode fazer é seguir aumentando sua voz. O G20 oferece uma oportunidade única de fazer entender sua música neste concerto barroco das nações. Como no romance de Alejo Carpentier, presenciamos uma mudança de melodia, a música clássica de décadas anteriores delineando-se com ares mais exóticos. É de se esperar que alguns acordes sejam latinos. Q Diretor, Centro de Desenvolvimento da OCDE Chair da OECD Emerging Markets Network (EmNet)

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 49


NEGÓCIOS ARMAMENTO

PARA AS ARMAS NÃO HÁ CRISE Apesar da desaceleração econômica, com exceção da Argentina, os gastos militares seguem de vento em popa na região. E não há interesse de coordenar investimentos em comum para economizar Rodrigo Lara Serrano

S

uponhamos que um amigo tenha redução no salário e, paralelamente, decida gastar suas economias para melhorar a infraestrutura de sua casa. Quando o encontramos, ele se queixa da situação. Lembramos então a ele que há alguns anos ele vem renovando com entusiasmo sua coleção de armas, e lhe sugerimos que não gaste mais com elas, por 50 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

AFP

Os governos latinoamericanos continuam comprando

enquanto. Nosso amigo se irrita: há necessidade de se proteger de vizinhos, sempre instáveis ou belicosos, alega. Retrucamos que estes também estão ficando sem trabalho e sem reservas. Ele se exalta e vai direto à loja de armas, que está em outro bairro, para comprar mais armamento. Comparações à parte, esta é a situação na América Latina

hoje em dia: apesar de enfrentar a crise econômica global mais dura desde 1929, fora a Argentina, todos os países médios e grandes mantêm ou expandem seus gastos militares, que já vinham crescendo com rapidez nos últimos anos. Levando-se em conta esta realidade, não teria mais sentido conversar com os vizinhos para moderar um investimento militar em

comum ou, em último caso, entrar em acordo para criar uma loja de armas dentro do bairro, de forma que esse dinheiro fique por perto? “A região encontra-se presa neste jogo nulo. Nenhum país está disposto a reduzir substancialmente seus níveis de gasto militar, exceto a Argentina”, analisa Claudio Fuentes, diretor da ICSO no Chile. Frente


a este cenário, diz, “a única solução é a busca de acordos multilaterais e sub-regionais de redução de gastos. Isso implicaria uma etapa anterior: estabelecer políticas efetivas de transparência nos gastos associadas a acordos de limitação e redução”. O problema é que as “iniciativas de vigilância de fronteira, eliminação de determinados tipos de armas, e estabelecimento de medidas de controle e monitoramento são centrais neste sentido”, mas “o Brasil, que é o principal ator na América do Sul, não tem desempenhado um papel central para promover este tipo de política”. Segundo Juan Toklatián, especialista em assuntos internacionais da Universidade San Andrés, na Argentina, o ponto central é que o “Brasil quer jogar nas grandes ligas” e, antes de uma redução de gastos regional, seu plano estratégico “é que a região gire, eventualmente, em torno da indústria militar brasileira: é o objetivo de toda potência regional emergente”. Contudo, o restante dos países, novamente com a exceção da Argentina e também da Colômbia, não parecem ver vantagem alguma, nem de economia nem de autonomia, na pretensão brasileira. Cada uma das Forças Armadas da região vive presa em seus próprios sonhos. Ou pesadelos. No caso do Peru, por exemplo, as forças militares, “do ponto de vista de equipamentos, estão atrasadas, em uma situação precária”, diz Fernando Rospigliosi, ex-ministro do Interior e analista internacional, em Lima. Ele acrescenta que, “do ponto de vista das mudanças institucionais, elas se fecharam, seguem sendo tradicionalistas, conservadoras e pouco meritocráticas”. Além

disso, o bem-estar econômico recente do país “não teve muito impacto, por causa da perda de poder político dos militares. Por exemplo, os salários continuam muito baixos”.

VISÃO ESTRATÉGICA Os militares chilenos, por outro lado, “são os que têm o melhor olhar estratégico na região: querem consolidar sua posição no mundo andino. Buscam uma posição no Pacífico e na Antártida, mesmo que limitada”, disse Toklatián. No Chile, além das doutrinas, diz Fuentes, outros fatores impactam a manutenção dos gastos altos. Com a redução dos salários das Forças Armadas com o passar dos anos, agora o governo se preocupou em “aumentá-los, particularmente em áreas sensíveis como pilotos e engenheiros, que estão migrando para o setor privado”. Para Rosendo Fraga, titular do Centro de Estudos para uma Nova Maioria, em Buenos Aires, nem a Colômbia nem a Venezuela possuem interesse em coordenar gastos militares. No caso do segundo, “do ponto de vista político e ideológico, Chávez está projetando um novo modelo, no qual as Forças Armadas passam a fazer parte do projeto político-estatal, ainda que este projeto inclua milícias armadas paralelamente”. O México parece caminhar para o modelo da Colômbia, no qual as Forças Armadas, sob controle civil, se converteram em ferramenta para evitar a falência estatal frente ao crime organizado. E, como se sabe, quando o teto da casa está caindo, não há como economizar. E são aceitas até doações. Há poucas semanas, por exemplo, o Departamento de Defesa dos EUA incluiu o México na lista de fundos existentes sob a se-

ção “1033”, que corresponde à “Lei de Autorização de Defesa Nacional” destinada a financiar programas para combater o narcotráfico. Após relembrar que o México “nunca teve gastos militares onerosos”, Toklatián diz que nas forças mexicanas “a novidade é a resignação de serem convertidas em ferramenta na luta contra as drogas”. Rospigliosi estima que – assim como na Colômbia – esta mudança de objetivo das Forças Armadas mexicanas anuncia fracassos. “Não creio que terão êxito. Não se trata só de poder de fogo. A corrupção é uma arma decisiva do narcotráfico, e assim as Forças Armadas podem sucumbir. Tampouco possuem capacidade de investigação, como a polícia”. Ele reconhece, contudo, que “no México a corrupção policial

modernização das organizações”. Um exemplo de que pode haver avanços importantes em tempos de vacas magras são as Forças Armadas argentinas. “No último mês a Argentina reduziu em 304 milhões de pesos (US$ 83 milhões) os gastos de funcionamento, o que significa redução a menos da metade do nível anterior. Um caso extremo na região”, diz Fraga. No entanto, Fuentes indica que no país da pampa úmida “as políticas de reforma legal são significativas, ainda que o problema ali sejam algumas iniciativas legais que não tenham tido a mesma correlação em sua implantação. Mas, do ponto de vista normativo, é um dos países mais avançados”. O Chile, diz, começa a se modernizar neste sentido: “a

Modernização requer menos recursos, mas re-equipamento gera menos resistência. era tão profunda e o poder de fogo do narcotráfico tão grande, que não restou outra opção”. Mesmo com este panorama pouco alentador, as Forças Armadas poderiam impulsionar mudanças em suas capacidades. “A modernização das organizações militares requer menos recursos”, explica Fraga, “mas existe muita resistência pelo espírito burocrático e corporativo que frequentemente há nas Forças Armadas. Em contrapartida, o re-equipamento requer mais recursos, mas gera menos resistência. Uma diminuição dos recursos afeta mais o re-equipamento do que a

proposta de reforma do Ministério da Defesa do Chile é significativa e seria um marco na história da estrutura de defesa, embora dependa da aprovação do Congresso”, mas, “no geral, existe muito pouco avanço de reforma na região”. Além disso, o tema economizar está cada vez mais complexo. Segundo Fuentes, as Forças Armadas se ocupam agora de mais tarefas do que antes: “Na maioria dos casos há uma mescla de funções dos quatro âmbitos (antitráfico de drogas, defesa tradicional, desenvolvimento e operações de paz”. E, quanto mais se faz, menos se economiza. Q MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 51


DEBATES POLÍTICA FISCAL

TODOS AO RESGATE

Para melhorar a saúde das economias, recomenda-se gastar em profusão. Mas o tamanho da dose nem sempre é o indicado Soledad Gómez

QUEM DÁ MAIS? Os governos do mundo abrem a carteira

FONTE: BROOKINGS INSTITUTION

N US$ 30 bilhões –aproximadamente– serão investidos, em conjunto, por Brasil, Peru, Argentina, Chile e México

inguém pode se dar o luxo de ficar de braços cruzados, mas a crise também afeta a capacidade de resposta dos países latinoamericanos. “A maioria está tratando de abraçar as recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI), de estimular suas economias através de programas fiscais”, diz Mauricio Cárdenas, diretor da Latin American Initiative no The Brookings Institution. Mas a realidade é que poucos contam com reservas e somente alguns têm acesso aos mercados para financiar-se. Devido a isso, as maiores propostas contracíclicas são apresentadas pelos países

Valor em US$ bi

mais solventes do continente. Em toda a região surgem apostas para gerar empregos e crescimento econômico, mas nem todos os programas implicam um estímulo fiscal adicional. “Em muitos casos há medidas que já estavam no orçamento anterior e que ressurgem com a crise; há algumas que são anúncios, e outras que são medidas concretas”, diz Juan Pablo Jiménez, oficial de assuntos econômicos da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Cepal. Mas o sucesso dessas medidas depende tanto de sua originalidade quanto da rapidez com que serão implementadas.

4,4 ARGENTINA 19,3 AUSTRÁLIA 8,6 BRASIL 43,6 CANADÁ 4,0 CHILE 204,3 CHINA 20,5 FRANÇA 130,4 ALEMANHA 6,5 ÍNDIA 12,5 INDONÉSIA 7,0 ITÁLIA 104,4 JAPÃO 26,1 COREIA 11,4 MÉXICO 1,4 PERU 30,0 RÚSSIA 49,6 ARÁBIA SAUDITA 7,9 ÁFRICA DO SUL 75,3 ESPANHA 40,8 REINO UNIDO 841,2 EUA TOTAL MUNDIAL 2.180,6

CAPACIDADE DE REAÇÃO Planos fiscais como % do PIB 2008 FONTE: BROOKINGS INSTITUTION

10 9

LIVRE COMÉRCIO

8

Entre o protecionismo e a abertura

6

3 2

%

2 52 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

TOTAL MUNDIAL

EUA

REINO UNIDO

ESPANHA

ÁFRICA DO SUL

RÚSSIA

ARÁBIA SAUDITA

PERU

COREIA

MÉXICO

ITÁLIA

JAPÃO

ÍNDIA

INDONÉSIA

FRANÇA

ALEMANHA

CHILE

CHINA

BRASIL

CANADÁ

AUSTRÁLIA

0

ARGENTINA

1

do PIB é o que o FMI recomenda gastar nos programas de estímulo fiscal para conter a crise

ARG. BRA. EQU. MÉX. NIC. PAR. PER. URU.

Redução tarifária

Restrição a produtos específicos

4

Fomento à compra de produtos locais

FONTE: CEPAL

5

Aumento tarifário

% PIB 2008

7


TODOS VESTEM A CAMISA Medidas adotadas na América Latina FONTE: CEPAL

ARG. SISTEMA TRIBUTÁRIO ISR empresas/ Redução/ Desvalorização ISR Pessoas/ Deduções Impostos à exportação Impostos sobre bens e serviços Redução de contribuições sociais Outros GASTO PÚBLICO Investimento em Infraestrutura Moradia Apoio a PMEs ou produtores agrícolas Apoio a setores estratégicos Transferências diretas a famílias Outros

BOL.

BRA.

CHI.

COL. C.RICA

T T

T T

T

EQU

EL SAL. GUAT. HOND.

MÉX.

T T

NIC.

PAN.

PAR.

PER.

URU.

T

T

VEN.

T

T

T T

T T

* = MEDIDAS PERMANENTES T = MEDIDAS DE CARÁTER TRANSITÓRIO

T

CONTINENTE ENDIVIDADO Estados de conta

Dívida pública liq (% PIB 2008) Saldo fiscal (% PIB 2008)

FONTE: BROOKINGS INSTITUTION

80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0%

US$ 90

0,0%

PAR.

Trabalha- FamíApodores por lias de sentadepen- baixa dos renda dente

60

65

50

Números de países

Montante US$

VENEZUELA

URUGUAI

PERU

PARAGUAI

PANAMÁ

NICARÁGUA

MÉXICO

HONDURAS

GUATEMALA

EL SALVADOR

EQUADOR

REP. DOMINICANA

CUBA

COSTA RICA

COLÔMBIA

CHILE

EUA

• POLÍTICA FISCAL C) Redução de impostos/Aumento de subsídios D) Aumento e/ou antecipação do gasto (infraestrutura)

FONTE:CEPAL

FONTE: CEPAL

Beneficiários

CANADÁ

Políticas anticrise anunciadas na América Latina

Bônus diretos

CHI.

• POLÍTICA MONETÁRIA E FINANCEIRA A) Redução e/ou flexibilização de compulsório B) Provisão de liquidez

BATERIAS DE MEDIDAS

AJUDA EM DINHEIRO ARG.

BOLÍVIA

nará a financiar planos de infraestrutura na América Latina

BRASIL

-20,0%

ARGENTINA

bilhões - o BID desti-

-10,0%

15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

• POLÍTICA CAMBIAL E DE COMÉRCIO EXTERIOR E) Aumento de tarifas ou restrições às importações F) Redução tarifária G) Financiamento a exportadores H) Gestão de créditos com bancos multilaterais • POLÍTICA COM DESTINO ESPECÍFICO I) Programas habitacionais J) Apoio às Pmes K) Políticas setoriais

A B

C D

E F

G H

I

J

K

L

M

• POLÍTICA TRABALHISTA E SOCIAL L ) Estímulo ao emprego M) Programas sociais

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 53


DEBATES POLÍTICA FISCAL

MOSTRANDO A CARA

Argentina, Brasil, Chile, México e Peru já apresentaram planos de estímulo fiscal; entretanto, o gasto dos cinco países equivale a menos de 1% de seu PIB total MÉXICO: 1% PIB 2008

• INFRAESTRUTURA: US$ 6,91 bilhões adicionais para infraestrutura • AUMENTO DO FINANCIAMENTO: US$ 12,6 bilhões (US$9,9 bi de empréstimos e US$ 2,7 bi do Fundo Nacional de Infraestrutura) • APOIO A PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (PMES): 20% das compras federais serão destinadas a PMEs em 2009 Fideicomisso de US$ 380 milhões para PMEs fornecedoras do setor petrolífero. O programa México Empreende outorgará US$ 540 milhões para créditos • APOIO A SETORES ESPECÍFICOS: Controle de preços dos combustíveis. Redução de tarifas de energia elétrica. Revisão do plano de investimentos da Pemex. Apoio do Fundo de Infraestrutura ao Transporte Público. US$ 57 milhões para a compra de eletrodomésticos de baixo consumo. • MEDIDAS TRABALHISTAS E SOCIAIS: Ampliação do emprego temporário a US$ 170 milhões em 2009. US$ 150 milhões para preservar o emprego em empresas vulneráveis. Ampliação da capacidade de saque do fundo provisional em caso de desemprego. Ampliação do seguro social para desempregados.

BRASIL: 0,5% DO PIB

PERU: 1,1% PIB 2008

• INVESTIMENTO PÚBLICO: Aumento do gasto em infraestrutura Estabelecimento de um fundo com recursos públicos para infraestrutura • APOIO A PMES: Compras estatais de US$ 48 milhões Estabelecimento do Fundo de Garantia Empresarial para financiamento de micro, pequena e médias empresas • APOIO A SETORES ESPECÍFICOS: Exportações não-tradicionais Reforço do “Fondo Mi Vivienda” • MEDIDAS TRABALHISTAS E SOCIAIS: Incentivos à formalização do emprego Programa de reconversão trabalhista. Geração de emprego de emergência

CHILE: 2% PIB 2008

• INFRAESTRUTURA: US$ 7 bilhões em investimento público Orçamento de obras públicas alcançará os US$ 2,5 bilhões • PMES: Capitalização do BancoEstado de US$ 500 milhões para financiamento a Pmes Capitalização de US$ 500 milhões do Fundo de Garantias • MORADIA: Incremento de 10% reais de investimento em casas. Aumento transitório do subsídio habitacional Aumento da cobertura dos créditos com subsídio estatal de 80% a 90% do valor total da propriedade • APOIO A SETORES ESPECÍFICOS: US$ 1 bilhão à Codelco US$ 130 milhões à indústria do salmão Fundo de manutenção de preços para a pequena mineração • MEDIDAS TRABALHISTAS E SOCIAIS: Planos de emprego de contingência Subsídio à contratação de jovens entre 18 e 24 anos Ampliação do “Fondo Solidario de Cesantía”

54 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

• POLÍTICA FISCAL: Renúncia de cerca de R$ 2,5 bilhões com a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para pessoa física Corte temporário no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor automobilístico e de segmentos de setores como os de bens duráveis e construção civil Revisão do imposto de renda que beneficia salários inferiores a US$ 900 Liberação de parte das reservas internacionais para empréstimos à empresas em dificuldades Acelerada redução da taxa básica de juros • APOIO A SETORES ESPECÍFICOS: Antecipação de créditos agrícolas Autorização para que grandes bancos públicos adquiram instituições privadas menores sem a necessidade de licitação Liberação de mais de R$ 135 bilhões com a redução dos depósitos compulsórios para que grandes bancos possam adquirir bancos menores em dificuldades Criação de linhas de crédito extras para facilitar as exportações e financiar o consumo, através de bancos públicos como o BNDES, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil • MORADIA: Lançamento do pacote habitacional “Minha casa, minha vida”, que prevê a construção de 1 milhão de casas populares e investimento de R$ 34 bilhões

ARGENTINA: 1,3% DO PIB

• INFRAESTRUTURA: Plano de obras públicas de US$ 33,21 bilhões com a aceleração de concessões • APOIO A PMES: Criação de um Ministério de Produção e da Sub-secretaria da Pequena e Média Empresa e do Desenvolvimento Regional • APOIO A SETORES ESPECÍFICOS: Redução das retenções ao trigo, milho, frutas e hortaliças frescas. Reabertura das exportações de milho e trigo Criação de uma linha de crédito de US$ 3,95 bilhões para a compra de automóveis e bens industriais nacionais • MEDIDAS TRABALHISTAS E SOCIAIS: Subsídio de 10% do custo trabalhista por um ano, com 12 meses de prorrogação de 5% Regularização do emprego informal


FINANÇAS OPINIÃO

John C. Edmunds

Reativação temerária A REAÇÃO VISCERAL SERIA PROIBIR todos os “truques” financeiros possíveis. As pessoas estão reagindo com repulsa frente à balburdia em que se transformou o sistema financeiro mundial, e alguns chegam a dizer que ele deveria ser eliminado por completo. Contudo, à medida que os dias passam, as visões pragmáticas ganham cada vez mais importância já que se torna cada vez mais evidente que a recuperação econômica mundial não ocorrerá se o sistema financeiro não se recompuser. Os puristas do livre mercado acreditam que a recuperação da economia ocorrerá mesmo se deixarem à própria sorte todos os intermediários financeiros atualmente com problemas. E têm toda razão. A depressão levou a economia mundial a novas perdas, mas a recuperação subsequente será saudável. Não obstante, esse cenário de “destruição criativa” sairá muito caro. A economia financeira é demasiado grande em comparação à economia real e sua importância é muito maior do que foi em gerações anteriores. Na primeira metade de 2008, a economia financeira mundial chegou a cinco vezes o valor da economia real. Se fosse deixada à mercê, como ocorreu entre 1929 e 1932, o impacto de sua implosão seria muito maior do que o da Grande Depressão. O processo de pagamento de dívidas já tem sido bastante prejudicial, mas continuaria assim até destruir muitas das instituições de nossa sociedade. Uma queda ainda maior nos preços dos bônus e das ações teria efeitos que a teoria econômica clássica não levou em conta. Um colapso no valor dos ativos financeiros apagaria as economias acumuladas pela geração baby boomer (que nasceu no período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial), o que se converteria em um peso ainda maior para as gerações mais jovens. Os conservadores fiscais dizem que os déficits fiscais de hoje representarão um pesado fardo para as gerações futuras. Este argumento parece lógico, mas uma análise mais completa é complicada. Considere que no começo de 2008 a soma das economias para previdência e o valor dos bens imóveis no Japão, nos Estados Unidos e na Europa era de US$ 150 trilhões. Em março de 2009, esta cifra havia caído a US$ 90 trilhões. A perda em valor é maior que a soma de todos os planos de estímulo fiscal

anunciados até a presente data. Se os estímulos fiscais, junto com o “relaxamento quantitativo” da massa monetária, conseguirem elevar o valor de mercado dessas contas para pensão e outros ativos a seu nível prévio, então a geração baby boomer será um peso menor para as futuras gerações. A análise completa dos planos de estímulo fiscal e monetário indica que as gerações mais jovens enfrentarão uma maior carga tributária para cobrir o pagamento da crescente dívida pública, mas esta carga será ainda maior se forem acrescidos os requerimentos diários das gerações mais velhas. As magnitudes dos montantes envolvidos explicam por que as classes políticas estão preocupadas agora em primeiro reativar primeiro e depois reformar o sistema financeiro mundial. Isso pode parecer imprudente para alguns que clamam por reformas estruturais em primeiro lugar. Mas as magnitudes das contas simplesmente não permitem. O que chama a atenção é que a classe política está tratando de elevar os preços dos bônus e das ações ao mesmo tempo em que tenta reativar o fluxo dos créditos. Estes esforços para elevar os preços estão fora de sua área normal de intervenção e podem parecer temerários. Nossos instintos nos dizem que é mais prudente reativar a economia real e permitir que os preços das ações e dos bônus se recuperem por conta própria depois. Mas um simples cálculo demográfico nos mostra que, se esses valores não subirem rapidamente, no longo prazo os custos podem ser bem maiores. Isto se deve ao enorme número de nascimentos nos quinze anos posteriores à Segunda Guerra Mundial. Esta geração do pós-guerra deve ser capaz de pagar por sua própria aposentadoria. Caso contrário, votarão pela elevação dos pagamentos para fundos de pensões, que serão financiados com os impostos das gerações mais velhas. O melhor remédio, portanto, é que os preços das ações e dos bônus subam rápido, porque isso significará que os governos não deverão elevar impostos de forma abrupta no futuro. O que explica os políticos tentando impulsionar mercados e o porquê desta ajuda ocorrer antes da recuperação da economia real. Não há tempo para reformar o sistema antes da reativação, pois se os preços não se recuperarem prontamente, o efeito nas gerações velhas e jovens será ainda mais severo do que já está sendo. Q

O melhor remédio é que o preço das ações e bônus subam rápido, para que os governos não elevem impostos de forma abrupta no futuro

Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e coautor de Wealth by Association.

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 55


CAPITAL ABERTO http://blogs.americaeconomia.com/thomson/

MUNDO EM MUTAÇÃO

Mapa do avanço na adoção do IFRS FONTE: WWW.IASB.ORG (13 . 04. 09)

USAM O IFRS EM PROCESSO DE CONVERGÊNCIA OU ADOÇÃO DO IFRS

56 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

Financial Reporting Standards). A União Europeia adotou as novas normas imediatamente, e o restante do mundo (incluindo a América Latina) ainda as está adotando. Os EUA atualmente se encontram em processo de convergência aos IFRS. Com essas normas, os analistas financeiros contarão com mais detalhes para estudar. Mas devem ter cuidado ao comparar os principais indicadores com os valores históricos, já que podem existir grandes diferenças em relação aos valores obtidos sob as normas prévias. Ao aplicar o IFRS pela primeira vez, a chilena Puerto Lirquén viu seu ativo total aumentar de US$ 149 milhões para US$ 227 milhões. Por outro lado, antes de comparar seus indicadores com os de outras empresas do mesmo setor industrial, as empresas de-

vem estudar cuidadosamente os critérios usados por cada rival, e realizar as correções para que sejam comparáveis. A principal diferença é que com o IFRS há informação mais detalhada, e por isso fica mais fácil fazer os ajustes mencionados. Um recente estudo que analisou os efeitos da adoção das regras mais rígidas do IFRS na UE mostrou que a avaliação do mercado foi positiva. Durante os três dias seguintes a adoção do IFRS no continente, foram registradas rentabilidades mais altas no mercado europeu que no restante do mundo. O estudo indica ainda que o efeito foi maior sobre as empresas que previamente apresentavam informações de pior qualidade. Q Jorge Niño, Centro de Inovação Financeira, UAI

Valha a redundância, o setor de carnes do Brasil tem sido um matadouro. Desde setembro de 2008, pequenos produtores de carne que representam 25% da capacidade de abate do País se declararam quebrados. Segundo um recente relatório da Fitch Ratings, isso deixa os grandes produtores bem-posicionados no país, com capacidade de pagar em dinheiro pelo gado, AÇÕES SABOROSAS! FONTE: ECONOMÁTICA

160 140 120 100 80 60 40 20 00 17-04-09

EM JANEIRO, o gerente geral da empresa indiana Satyam renunciou depois de reconhecer que tinha adulterado cifras contábeis. Nesse dia, as ações caíram 78% em Mumbai e foram suspensas no Nyse. Quando reativadas, caíram outros 85%. A reação demonstra a importância dos balanços financeiros, sobre os quais se projetam os fluxos de dinheiro de uma instituição e o valor de suas ações. Se as informações são alteradas, alteram-se as projeções. A existência de múltiplas normas contábeis dificultava a compreensão dos balanços de outros países e a integração dos mercados mundiais. O que levou a criação, em 2001, do International Accounting Standards Board (IASB), que emitiu um conjunto de normas conhecidas como IFRS (International

27-02-09

balhar a contabilidade como afetará os mercados de capitais

SÓ PARA BOI BRAVO

02-01-09

BALANÇOS DE “CARA LIMPA” A introdução do IFRS não só mudará a forma de tra-

JBS IBOVESPA MARFRIG

além de controlar os canais de distribuição. Tais atores são JBS, Bertin, Marfrig e Minerva. A Fitch ainda acrescentou que espera que o fluxo livre de caixa para estas empresas se torne positivo em 2009, devido ao melhor manejo do capital de giro e acesso a créditos baratos. O governo brasileiro declarou que planeja destinar US$ 100 milhões em créditos preferenciais para o setor de alimentos.


CLICS & CHIPS [gadget]

Fotografia multiângulo

A Nikon D5000 chega ao mercado com um sensor de 12,3 megapixels, mas seu principal atrativo é a capacidade de gravação de vídeo em alta definição e uma tela LCD giratória de 2,7 polegadas, que facilita a tomada de fotografias de qualquer posição e ângulo. É voltada ao usuário básico, devido a suas funções automáticas. Custa US$ 850. www.nikon.com

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Tudo em um

Pensada para as pequenas e médias empresas ou aquelas pessoas que trabalham em casa, a HP Officejet J4660 reúne em um só dispositivo impressora, escaner, fotocopiadora e fax. Custa US$ 170. www.hp.com

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BlackBerry Store

Research in Motion (RIM), companhia que fabrica os telefones inteligentes BlackBerry, está seguindo o exemplo da Apple Store. A empresa lançou sua loja de serviços on-line, oferecendo todo tipo de programas, aparelhos e acessórios. Para ter acesso à loja, deve-se descarregar o programa gratuito BlackBerry App World. www.rim.com

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Fina definição

Com apenas 1,5 polegada de espessura, o modelo Blu-ray BD-P4600 da Samsung promete levar a alta definição aos lares. Tem botões táteis e, graças a seu estilo ultrafino, pode ser colocado na parede. Dispõe de conexão de rede Wi-Fi ou Ethernet para descarregar conteúdos da web. Tem Full HD e custa US$ 500. www.samsung.com MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 57


I-BIZ Graças ao barateamento da capacidade do computador, a vigilância pode instalar-se nas linhas de produção e nos espaços públicos. O problema será definir os limites aceitáveis dessa invasão Juan Pablo Dalmasso

o dia16 de maio de 2008, em meio à selva panamenha, um enxame de cientistas, técnicos, nerds e, talvez, gênios povoava o primeiro subsolo do Gamboa Resort. Acontecia ali o ato de encerramento da edição 2008 da Latin American Academic Summit, organizada pela Microsoft Research. E tudo deslumbrava os presentes: dos aplicativos de educação até o World Wide Telescope - produzido pela Microsoft -, passando por robôs submarinos. Entre as atrações mais disputadas estava a mostra do

N

Terceiro

Domingo Mery: Ensinando as máquinas a ver

58 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

jovem Andy Wilson, chefe da área de surface technologies da Microsoft, a mesma divisão que se tornou famosa por conta do dispositivo de mesa que responde ao movimento de mãos e objetos. A mesa não estava lá dessa vez, mas Wilson continuou o centro das atenções ao manipular e deixar que manipulassem um escritório virtual simplesmente projetado em uma parede. Qualquer semelhança com Tom Cruise administrando imagens no ar durante o filme Minority Report não é por acaso. Em contraste, a menos de 10 metros do show de surface, com apenas dois expositores e cartazes com imagens de tortilhas de milho e filés de salmão, a equipe da Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUC) parecia destoar do restante das exposições. Na realidade, a equipe chilena só

FERNANDO CARRASCO CRUCHAGA

olho


estava exibindo uma aplicação mais prosaica de um sistema de controle de qualidade por registro de imagens. “Isto, ou a identificação de um sorriso por parte da câmera fotográfica, são a explosão de uma tecnologia que tem mais de 30 anos graças ao barateamento da capacidade do computador e às melhorias nos algoritmos (lógica de processamento de uma informação)”, disse entusiasmado por telefone, em Santiago, Domingo Mery, chefe do departamento de computação da PUC e líder da equipe. “O que buscamos é um sistema de baixo custo para a indústria alimentícia latinoamericana”, acrescentou. O primeiro projeto de Mery e de sua equipe foi o Salmón Online (SOL), um sistema avaliado em US$ 25 mil que permitiu que empresas como a filial chilena da norueguesa Marine Harvest aumentassem a seleção de produtos de exportação em 100%, graças à sua capacidade de análise de 240 filés por minuto, bem superior a média de 30 a 40 do sistema tradicional. A diferença em relação à percepção humana tem sido de 2%, evitando custo de devolução. Para fazer isso, o computador capta e digitaliza imagens, analisando os zeros e uns que a compõem e que estão previamente correlacionados com parâmetros de qualidade determinados pelos programadores. “Há todo um processo de educação para estabelecer qual frequência corresponde a que cor, ou qual sintoma, algo que varia de produto a produto”, explica Mery. Além disso, o sistema permite traçar um histórico do aspecto dos salmões para aplicações estatísticas e para o uso integrado com sistemas de rastreamento das empresas.

Mas os projetos não param por aí. No ano passado, a PUC e o Instituto Politécnico Nacional do México, com o apoio da Microsoft Research, desenvolveram um sistema para trabalho por amostragem sobre as tortilhas de milho mexicanas que também poderá ser aplicado na análise de grãos. Este ano, eles conseguiram financiamento do governo chileno para finalizar o desenvolvimento do Salmón X, um equipamento com raio X para localizar espinhas ou pequenos resíduos nos filés do pescado, tarefa até então realizada manualmente. Depois de ensaiar diferentes formas de comercializar a tecnologia, Mery decidiu lançar seu próprio negócio: a Digital Vision Solutions. E não foi o único na região. O mexicano Miguel Arias e sua equipe de Ciências da Computação do Instituto Nacional de Astrofísica, Ótica e Eletrônica da Universidade de Puebla lançaram em 2005 a Prefixa, focada em controles de qualidade para a indústria metalúrgica e de plástico, que hoje possui escritórios no Vale do Silício e uma equipe de 15 pessoas, 70% delas com mestrado. “Enquanto pesquisávamos, identificamos a oportunidade. Um de meus orientandos, hoje membro da equipe, resolveu como conseguir uma análise tridimensional com apenas dois tons, graças à análise da luz branca, e isso nos deu uma grande vantagem competitiva”, diz Arias. Com sua descoberta patenteada e o manejo do processamento feito paralelamente, sua tecnologia pode fazer análises tridimensionais em tempo real, sem parar as linhas de montagem. “Há dois segmentos críticos, o de medicina e o aeroespacial, e, segundo os estudos, cada um representa um mercado de US$

600 milhões a US$ 800 milhões só nos EUA”, analisa. O olho do Big Brother No Brasil, os professores e pesquisadores de pós-graduação em informática da Universidade Católica do Paraná também seguiram esta linha em 2004, ao fundar a empresa InviSys, em Curitiba. Suas aplicações foram desenvolvidas com campos mais amplos em mente: a indústria alimentícia, classificando e controlando a qualidade de frutas e verduras; o controle de embalagens pelo fechamento, ausência de etiquetas ou códigos; a indústria eletrônica; as indústrias de papel, cerâmica, gráfica e metalmecânica. Contudo, a InviSys focou-se no setor eletrônico, com aparelhos biométricos

Vargas. “São aplicações que trabalham fundamentalmente em sistemas de segurança física, segurança pública, e a diferença está no algoritmo de reconhecimento e na funcionalidade em grandes bases de dado que agilizam o reconhecimento”, diz, exemplificando a rapidez com que foi resolvido o atentado de Atocha, na Espanha, em 2006. Além disso, a NEC tem desenvolvido para o Bilbao Vizcaya, no Chile, um sistema de leitura de impressões digitais para a validação de operações por parte dos clientes a partir da comodidade do lar ou do escritório, graças a pequenos scanners adquiridos pelo cliente, e que são um tanto mais complexos do que o previsto para os laptops executivos.

Arias, da Prefixa: mexicana com o pé no Vale do Silício. implantados em sistemas de segurança para leitura de impressões digitais, da palma da mão, da íris e do rosto. Desta forma, começou a competir com gigantes internacionais como a japonesa NEC, que a partir de seu centro de desenvolvimento em Buenos Aires oferece suas aplicações para mercado latinoamericano. “Há tecnologias como a leitura de impressões digitais que já têm 30 anos e nas quais a NEC é líder. Outras, como a detecção de rostos, são mais recentes por terem sofrido alterações ao longo dos anos. Contudo, temos conseguido uma eficácia de 96,5%”, aponta o gerente geral de marketing da NEC na Argentina, Jorge

Agora, e se, além de usar a tecnologia para segurança, as imagens fossem aproveitadas para fazer uma análise de mercado? Esta foi a ideia da InviSys, que acrescentou às câmeras de vigilância aplicações para a contagem de transeuntes e definição de itinerários, “o que pode ser muito útil para determinar a armação de gôndolas de supermercado, promoções ou o uso da longitude das prateleiras na fila do caixa”, diz Alceu de Souza, sócio-diretor. Qualquer semelhança com o “grande irmão” tampouco será coincidência e é preciso ver a reação da opinião pública. Por ora, sorria, você está sendo filmado. Q MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 59


SOCIAL O ABERTO MEXICANO TELCEL É CATEGORIA 500 O Aberto Mexicano Telcel, que foi disputado em Acapulco entre 23 e 28 de fevereiro, passou de ser categoria 250 a ser um evento de nível 500, número que corresponde aos pontos que o vencedor do torneio pode obter no ranking geral da ATP. Ao mesmo tempo, ampliou sua bolsa de prêmios de US$ 794 mil a US$ 1,22 milhão. O espanhol Nicolás Almagro foi campeão do torneio pelo segundo ano consecutivo. Mas nem tudo foi tênis: houve também espaço apra moda e entretenimento.

David Nalbandian.

Sergio y Kathia Olvera y Alejandra Castellano y Alejandro Aguilar.

Guillermo Crinton, Jaime Torres y Philippe Curuchet.

Alejandro Burillo, Davina Aryeh y Cacho Nicastro

Jeofrey Fernández y Lucero Lebrija

Jeofrey Fernández y Lucero Lebrija.


NEGÓCIO FECHADO >> ASARCO O Grupo México apresentou uma oferta de US$ 1,3 bilhão para obter novamente o controle da norteamericana Asarco, uma mineradora de cobre. O grupo busca, assim, bloquear a oferta de US$ 1,1 bilhão apresentada pela inglesa Vedanta. Tecnicamente, a Asarco é uma filial do Grupo México, mas tem estado sob controle de um diretório independente desde sua quebra em 2005.

INTELIG: ATENDE AO CHAMADO DA TIM

>> BRADESCO O banco brasileiro informou que sua filial de seguros, a Bradesco Seguros, adquiriu 20% da Integritas, holding que controla a empresa de seguros médicos Fleury Group, por US$ 160 milhões. O Bradesco disse que a compra é uma oportunidade de investimentos. >> VIGIUM A Chiltern Internacional, empresa de serviços de desenvolvimento clínico, anunciou a compra da brasileira Vigiun, com sede em São Paulo, por montante não identificado. A Chiltern dedica-se a prover materiais e recursos humanos para provas clínicas de produtos farmacêuticos na Europa, nas Américas e na Índia. >> CMPC O grupo papeleiro chileno informou que sua filial CMPC Tissue adquiriu por US% 55 milhões 100% da brasileira Melhoramentos Papéis, subsidiária da Melpaper. A Melhoramentos tem duas fábricas de produção em São Paulo com capacidade de produzir 75 mil toneladas anuais de papel tipo tissue. Suas vendas anuais são da ordem de US$ 190 milhões. >> DUBAL A empresa produtora de alumí-

nio dos Emirados Árabes Dubai Aluminum, ou Dubal, comprou uma participação de 19% na brasileira Companhia de Alumina do Pará, ou CAP, mineira de ferro da Vale. Após o acordo, a Vale manterá uma participação de 61% na CAP. >> GENOMMA LAB A empresa farmacêutica mexicana comprou 100% da compatriota Medicina e Medicamentos Nacionais, um produtor de analgésicos, remédios contra gripe, antifungos e suplementos multivitamínicos, por montante não revelado. >> GRAN SAPORE A empresa brasileira de serviços de catering, Gran Sapore, anunciou a compra da BQ Benefícios por cifra não revelada. A BQ fornece serviços de cartões de pagamento e vou-

>> INTELIG A companhia brasileira de telefonia móvel TIM Participações comprou a empresa de serviços de longa distância Intelig, uma manobra que permitirá redução de custos de rede ao mesmo tempo em que cria sua própria rede de fibra ótica. O valor da compra não foi divulgado, mas segundo fontes de mercado a TIM teria pagado aproximadamente US$ 320 milhões.

chers, e tem uma carteira de clientes com mais de 3.000 empresas. A Gran Sapore registrou vendas anuais de US$ 400 milhões. >> PESICO A empresa norteamericana de alimentos e bebidas comprou o produtor peruano de snacks Karinto, fabricante da principal marca de chips de milho do país, a Los Cuates. A Karinto, empresa fundada em Lima em 1968, tem duas fábricas em Lima. O valor da compra não foi divulgado. >> RADIO CENTRO O grupo Radio Centro, rede mexicana operadora de radioemissoras, chegou a um acordo para fornecer programação e eventualmente comprar a estação de rádio KMVNFM, em Los Angeles, Califórnia. O contrato inclui uma opção efetiva por sete anos para adquirir a KMVNFM por US$ 110 milhões, do grupo norteamericanoEmmis Communications. >> SANOFI-AVENTIS A farmacêutica francesa SanofiAventis anunciou a compra do

produtor brasileiro de remédios genéricos Medley por 500 milhões de euros, uma operação que fará da Sanofi a maior fabricante de medicamentos genéricos da América Latina. A compra também elevará a participação de mercado da empresa francesa no Brasil em 12%. Em 2008, a Medley teve receita de aproximadamente US$ 200 milhões. >> SINOHYDRO O governo equatoriano assinou um acordo de intenções com a empresa chinesa Sinohydro para a construção de usina de energia hídrica por um valor de US$ 1,5 bilhão, que será financiada por um banco chinês. >> UBS PACTUAL A suíça UBS saiu do Brasil ao vender por US$ 2,47 bilhões sua filial UBS Pactual ao grupo BTG. André Esteves, gerente-geral e um dos sócios que fundou o BTG em 2008, foi gerente-geral do Banco Pactual antes de sua venda ao UBS e também exerceu o cargo de gerente-geral da operação do UBS na América Latina. MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 61


Anytime. Anywhere. Experience CNN. www.cnn.com/international


VISÕES ANIMAL PETULANTE

Agudo, iconoclasta e certeiro, ensaísta ataca a fantasia humana de ser uma espécie superior ou privilegiada

o progresso? A resposta de John Gray é clara e firme: “Não”. E mais, garante ele: trata-se de uma ilusão que chegou a ser criminosa. Apesar de tal crença – aparentemente ultraconservadora –, este professor da London School of Economics está longe de ser um desses senhores que só não lamentam mais a irrupção da Revolução Francesa que o colapso da sua adorada Idade Média. Ele é mais ambicioso que isso. Volta ainda mais atrás e critica o cristianismo, que, por exemplo, “ao reivindicar a existência de uma única fé verdadeira, conferiu à verdade um valor supremo que nunca antes havia tido. Ao mesmo tempo, pela primeira vez tornou possível a incredulidade em relação ao divino”. A partir disso, “o efeito retardado da fé cristã foi uma idolatria da verdade que encontrou sua mais completa expressão no ateísmo: se vivemos em um mundo sem deuses, temos que agradecer isso ao cristianismo”. Com agudeza, Gray critica os ateus ao afirmar que “um mundo definido pela ausência do deus dos cristãos não deixa de ser um mundo cristão”. Para o autor, essa é uma discussão ociosa. Isso porque, em Cachorros de Palha, longe de reivindicar a conexão dos seres humanos com alguma essência transcendente, ou uma missão sociopolítica de Prometeu, ou da humanidade inteira, dedica-se a demolir todas as crenças que indicam que nossa espécie seja especial, melhor ou superior ao restante dos animais. Não satisfeito em menosprezar a fé ou o humanismo (“uma religião secular improvisada a partir dos restos em decomposição do mito cristão”), em sua marcha desmonta os pós-modernos, a ciência como esperança para o futuro,

Virginia Lasio Diretora Espae-Espol Equador

Estou lendo The Next Catastrophe, de Charles Perrow, que apresenta provocativas soluções para desastres naturais, industriais e os ocasionados por atos de terrorismo. O livro nos dá sugestões para prevenir crises globais como a atual: “a opção de melhorar as regulações tem uma maior probabilidade de sucesso que qualquer outra reforma.”

Fernanda Grasso

Gerente de marketing Meta4 Cono Sur Chile

os niilistas, o livre arbítrio, o socialismo, o liberalismo, a crença de que todos podemos ter uma identidade sólida, e ainda mais. Cachorros de Palha Depois de lembrar John Gray os fatos que resultam Record da maldade infinita 2005 que famílias e nações R$ 38 descentes realizaram, realizam ou provam sem nenhum remorso (na verdade, com alegre crueldade), e afirmar “que os humanos são animais que fabricam armas e possuem uma insaciável adicção a matar”, Gray solta sua marreta destruidora na moral. Ou, mais especificamente, nas várias “morais”, que considera “doenças específicas dos humanos”. Então, sobre o que se deve basear a vida frente a tal bombardeio? “O bem é uma disposição provisória da esperança e do desejo, não há uma verdade das coisas. Os valores não são mais que necessidades humanas, ou necessidades de outros animais, convertidas em abstrações”, responde. E propõe, em troca, o abandono da megalomania humana: “os demais animais não necessitam nenhum propósito em sua vida”, diz. “Por que, então, nos resulta tão inconcebível que o objetivo da vida seja simplesmente ver?” Q

Leio Fracasos Exitosos de Bernardo Stamateas, que fala sobre como podemos converter debilidades em fortalezas, ameaças em oportunidades e como os tempos de crise são os melhores momentos para inovar e dar um passo adiante. O livro indica que o fracasso é uma situação, não uma posição, e que é uma porta que nos leva a uma nova dimensão do triunfo.

Rodrigo Lara Serrano

Estou lendo The Black Swan: The Impact of the Highly Improbable, de Nassim Nicholas Taleb. Trata dos acontecimentos pouco prováveis e pouco previsíveis, mas de alto Marcelo Dabós impacto. Confronta o problema de indução Diretor de MBA ilustrado pela história Escola de Negócios do patinho feio e diz Universidade de que os eventos imBelgrano portantes continuam Argentina nos surpreendendo e achamos que sabemos mais do que realmente sabemos.

O que leem

Existe

MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 63


das melhores

ranking AméricaEconomia apresenta seu tradicional ranking das Melhores Escolas de Negócios da América Latina A edição 2009 contém uma análise completa das especialidades ligadas à Administração, incluindo as escolas mais sólidas em: O Finanças O Marketing O Economia O Estratégia O R.H. O Inovação O Empreendimento O Alta direção O O poder da marca: percepção de prestígio tanto regional quanto local dos programas de MBA segundo os mais importantes headhunters da América Latina. O Ranking de necessidades locais: as especialidades em negócios mais demandadas pelas empresas. O Ranking Global de Escolas: as melhores opções para um latinoamericano que deseja fazer seu master em negócios fora do continente. Fechamento: 18 de maio de 2009 Publicação: junho de 2009

www.americaeconomia.com.br


RAIO X [BRASIL]

LIMITE TÊNUE Isenção fiscal e investimentos ajudam a conter retração da economia. Mas gasto público preocupa Dubes Sônego

QUADRO MACROECONÔMICO BRASIL POPULAÇÃO (MILHÕES) PIB (VAR.% REAL)

2003

2004

2005

2006

178,99

181,59

184,18

186,77

1,1

5,7

3,2

4,0

552.239

663.552

881.754

1.072.357

PIB PER CAPITA (US$ CORR.)

3.085

3.654

4.787

5.742

PIB PC (PAR. POD. COMPRA)

7.698

8.231

8.603

9.081

8,17

6,57

4,53

2,54

PIB (MILHÕES US$ CORR.)

INFLAÇÃO DESEMPREGO (%) INV.EST.DIRETO (MILH. US$) INV. NO EXTERIOR (MILH. US$) SALDO COMERCIAL

12,3

11,5

9,8

10,0

10.144

18.146

15.066

18.782

249

9.807

2.517

28.202

24.877

33.842

44.929

46.456

FONTES: FMI, MECON, INDEC, UNCTAD. ESTIMATIVAS E PROJEÇÕES: AE INTELLIGENCE.

Daqui por diante, portanto, o governo terá que buscar o equilíbrio tênue entre investimentos e isenção fiscal, de um lado da balança, e a manutenção do superávit fiscal, de outro. Algo que seria facilitado pela normalização do ambiente econômico, avalia Serrano. Em termos palpáveis: o crédito precisa chegar às empresas; é necessária a reativação de segmentos sensíveis à situação internacional, e o retorno da confiança de consumidores e empresários. “É o que impede uma recuperação mais acelerada. Estímulos existem”, afirma. Resta saber se eles serão suficientes ou se o governo terminará encurralado por gastos crescentes e uma arrecadação decrescente. “A estrutura de gastos brasileira é muito engessada. É preciso que a economia siga crescendo para que esse modelo seja sustentável”, diz o economista. Ao contrário do que aconteceu em outras crises, a balança de pagamentos é uma preocupação descartada. Pelo menos por ora. Depois de um breve período de 2007 2008 09p forte fuga de dólares, no auge da 189,34 191,87 194,49 crise, a situação se estabilizou. E a perspectiva de investimentos 5,7 5,1 0,5 estrangeiros diretos é bastante 1.313.590 1.664.662 1.587.725 positiva, segundo Serrano: 6.938 8.676 8.164 “não é daí que vem o risco”. “O 9.695 10.298 10.690 Brasil não tem o mesmo espaço de manobra que a China, nem 4,38 6,4 3,6 condições macroeconômicas 9,4 9,8 11,0 como as do Chile. Mas está 34.585 38.000 N.D. bem-posicionado”, diz Neto, N.D. 20 457 N.D. do Schahin. Bastará fazer o dever de casa 40.039 24 836 40 328 para preservar tais avanços. Q MAIO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 65

SOLEDAD TIRAPEGUI

A

té agora, o governo brasileiro coleciona mais elogios que críticas na gestão dos impactos da crise econômica internacional no ambiente doméstico. A redução do IPI dos automóveis contribuiu para reverter a brusca queda nas vendas do último trimestre de 2008. E serviu de exemplo para que a isenção fosse estendida a outros setores sensíveis ao crédito, como o de eletrodomésticos da linha branca. Em infraestrutura, além da garantia de investimentos no PAC, foi anunciado um plano habitacional voltado à baixa renda. E a taxa básica de juros deve seguir em queda. “O governo parece interromper a retração econômica, ao contrário do que acontece em muitos outros países”, diz Flávio Serrano, economista sênior do Banco do Espírito Santo. “Quanto à desoneração, as medidas estão corretíssimas”, concorda Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin. A redução da meta de superávit fiscal, de 3,8% para 2,5% ao ano, em abril, porém, “acendeu uma luz amarela”, diz Serrano. “O governo não pode ceder nesse aspecto. É um dos principais pilares do crescimento econômico dos últimos anos”, afirma o economista. “Foram o superávit fiscal e as enormes reservas acumuladas que garantiram ao País o grau de investimento e deram impulso à expansão econômica. Se for algo momentâneo, tudo bem. Mas, à medida que a economia se recuperar, é preciso controlar os gastos.” Campos Neto, do Schahin, concorda. Para ele, o grande desafio é escapar de um contexto internacional negativo sem criar desequilíbrios para o futuro. “Em política monetária, ainda há margem para se fazer isso”, afirma. Já em relação à política fiscal, pondera, o governo tem aumentado os gastos, mas não a eficiência dos mesmos.


LINHA DIRETA [CIDADE DO MÉXICO]

ALERTA SUÍNO O

gel antibactericida está esgotado. Há três dias busco o produto nas farmácias e ouço o mesmo “volte outro dia”. Não é capricho: esse unguento que permite lavar as mãos sem usar água é um dos poucos tratamentos efetivos disponíveis no mercado para evitar o contágio do vírus da gripe suína. A doença foi batizada assim porque foi transmitida aos humanos pelos porcos, cerdos, chanchos, ou seja lá como for que chamem esse animal em seu país. O fato é que o tal vírus sofreu mutação e agora seu contágio se dá entre pessoas. Nesta última segunda-feira de abril já se contabilizam mais de 20 mortos na capital mexicana, e em todo o país já podem ser 149 os óbitos. São mais de 1,1 mil hospitalizados, e a cifra não para de subir. Já estive em meio a terremotos, eleições, crises financeiras, mas é a primeira vez que me vejo em uma epidemia sanitária com essas características. Aqui o contágio ocorre de pessoa a pessoa e apesar de não terem sido poucos os mexicanos que riram das recomendações iniciais – de não dar apertos de mão ao cumprimentar-se, e muito menos beijar-se – hoje são poucos os que se atrevem até a sair às ruas. Falando sério: os pedestres desapareceram da capital. Os que estão na rua caminham apressadamente e escondem a face com máscaras, encontradas à venda até por 50 pesos mexicanos, quando seu preço normal é de apenas 1 peso. As autoridades reagiram rápido. As aulas foram suspensas e os eventos de massa foram cancelados. Muitos restaurantes fecharam suas portas por sugestão da Secreta-

66 AMÉRICAECONOMIA / MAIO, 2009

ria de Saúde e as redes de cinema optaram por não operar. Não houve shows, e nos parques e museus viam-se poucas famílias. As missas foram transmitidas por rádio e várias partidas de futebol foram realizadas a portas fechadas, apenas com os próprios jogadores e comentaristas, mas sem torcida. A recomendação mais importante foi a de pedir assistência médica ao menor sintoma semelhante ao de uma gripe, com muito mais ênfase na febre acima de 39 graus Celsius. De fato, pode-se ver funcionários do sistema de saúde percorrendo o transporte público distribuindo máscaras, preocupados com a presença de pessoas com algum sintoma. Como tentar ter uma vida normal sob essa quarentena? Impossível até em pensamento. Apesar do trânsito continuar uma loucura, muitos optaram por trabalhar de casa, enquanto outros esperam que suas empresas se manifestem para saber como proceder. Suspenderam-se seminários, conferências, eventos, viagens e reuniões em todos os lados. O contato humano é uma ameaça. Enquanto isso, aqui estou eu, em plena Cidade do México, sentada na frente do computador, pendente das notícias, vendo como essa tragédia evolui e como se somam mais zonas geográficas afetadas pela epidemia. Já não são somente México e Estados Unidos. Pensei em sair novamente - com minha máscara - para buscar o tal gel. Mas meu marido chegou antes com esse troféu nas mãos. Conseguiu na empresa onde trabalha. Um pesadelo a menos nesta noite. Q Arly Faundes


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