Nº 374 Edição Brasil

Page 1

A NOVA AGENDA LATINOAMERICANA

MÍDIA À DERIVA PUBLICIDADE EM BAIXA

PROTECIONISMO O PONTO FRACO DE OBAMA

BRASIL www.americaeconomia.com.brr ABRIL, 2009

MULTILATINAS MULTINACIONAIS vs

DUELO DE EQUILÍBRIO EM MEIO À CRISE RANKING AS EMPRESAS MAIS GLOBAIS DA REGIÃO

Nº 374



NESTA EDIÇÃO

Nº 374 / ABRIL, 2009

SEÇÕES 4 Índice 6 Cartas 8 AE.com 10 Memo 12 Pistas 13 Editorial 14 Movimentos 59 Capital Aberto 63 Interfaces 64 Negócio Fechado 65 Raio X 66 Linha Direta

NEGÓCIOS 30 À deriva O investimento publicitário cai e mídias buscam novo modelo.

34 Irmãos Robin Hood Empresários mexicanos ajudam os desbancarizados a pagarem suas contas com cartão.

36 EPM não perde o fôlego Sem problemas de liquidez, a Empresas Públicas de Medellín foca-se em sua expansão internacional.

37 Visão verde O Wal-Mart do México não pensa em tempo feio e tira proveito da energia solar.

Ranking: R anking :

MULTILATINAS AS 60 EMPRESAS MAIS GLOBAIS

20

DA D AA AMÉRICA MÉRICA L LATINA ATINA

38 Opinião A crise é um chamado da natureza contra um nível de consumo insustentável, diz Rolando Arellano.

DEBATES 39 Opinião Félix Peña defende a necessidade de salvaguardas nos acordos comerciais.

40 Os protegidos

CAPA:OTHERIMAGES

O governo de Obama ganha matizes cada vez mais protecionistas.

42 Hernando De Soto Em entrevista, o economista peruano diz que crise econômica tem componente legal e estrutural.

44 Trabalho em dupla A autorregulação pode servir de base para uma melhor regulação externa.

46 Quinta Coluna O populismo financeiro é um risco, defende Susan Kaufman.

56 Matemática imprecisa Modelos de avaliação de risco só servem acompanhados do fator humano.

58 Opinião A recuperação começa... agora, diz John Edmunds.

ESPECIAL WEF

I-BIZ

47 A nova agenda

60 Replicantes

A cúpula do World Economic Forum atualiza a pauta de debates da região.

52 A crise em números Revise o impacto e a história da atual debacle econômica em cifras.

Pesquisa com células-tronco acabará com a escassez de órgãos.

62 Clics&Chips O notebook da Dell que é o mais fino do mercado. ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 3


ÍNDICE DE EMPRESAS OS NÚMEROS REFEREM-SE À PRIMEIRA PÁGINA EM QUE AS EMPRESAS SÁO CITADAS. EXCLUI AS EMPRESAS QUE FIGURAM EM GRÁFICOS E RANKINGS

a-b

D&S ..........................................29

Las Chivas de Guadalajara ........34

Saks Fifth Avenue .....................14

ABN-Amor .........................15, 57

Dell............................................62

LG .............................................62

Sam´s.........................................37

Accenture ..................................17

Deloitte......................................32

LVA Índices ...............................57

Santander Chile .........................18

Aerolíneas Argentinas ...............28

e-f

MAPS........................................57

Santander...................................15

AgraFNP ...................................27

Ecosecurities .............................59

Mastercard.................................34

Scot Consultoria ........................27

Airbus ........................................29

Elektra .......................................29

Match Consultores ....................65

Serious Games Interactive.........15

América Móvil ..........................14

Embraer .....................................28

Medra ........................................61

Siderca.......................................29

American Express .....................18

Empresas Públicas

MGM.........................................59

Smithfield ..................................26

Apple .........................................62

de Medellín .........................36

Mission Motor Co. ....................63

Sodimac.....................................29

Aracruz ......................................57

Falabella ....................................29

Monex .......................................14

Stern Cell Therapy Group .........61

Banamex....................................14

Ferrada Nehme ..........................45

Mpower Móbile.........................35

Strategika ..................................45

Banco do Brasil .........................18

Fitch Ratings .............................36

Mpower Ventures ......................34

Sudamericana de Vapores .........20

Banco Santander .......................56

g-h

MSCI Barra ...............................57

Swift Armour ............................26

Barclays.....................................59

G3..............................................37

n-o

Swift Food Company ................26

Bionest Partners ........................61

General Electric ..........................8

National Beef ......................21, 26

Tasman ......................................26

Bodega Aurrerá .........................37

Gerdau .......................................29

NeoGama/ BBH ........................32

Techint.......................................20

Boeing .......................................29

Google .......................................62

NetApp ......................................16

Telmex.......................................29

Bombardier ...............................29

Grupo Alfa ................................20

Netspend Corp ..........................34

Tenaris .................................20, 29

Bradesco....................................18

Grupo Bimbo ......................21, 29

Nokia .........................................17

The Boston

Brightstar...................................21

Grupo Carso ..............................14

Norberto Odebrecht ..................21

Bronco Dilling ..........................14

HomeDepot ...............................29

NovoPayment ............................35

Tyson .........................................26

Bulltick Capital .........................59

HSBC ........................................26

Nuevo Banco Comercial ...........15

u-v

c-d

i-j

Omnilife ....................................34

UNE ..........................................36

Capital One ...............................34

IBM ...........................................16

Orbitel .......................................36

Vale .....................................20, 29

Cargill........................................26

Ibope Mídia Brasil ....................32

OTPP .........................................36

Valmer .......................................57

Carrefour ...................................29

Inalca .........................................26

p-r

Vectrix .......................................63

Cemex .......................................20

Independência ...........................27

Pavco .........................................45

Visa ...........................................34

Centro Médico Nacional 20

Itaú ............................................15

Pollo Campero ..........................20

Vitro ..........................................29

Noviembre.................................61

Itaú-Unibanco ...........................18

Proteus Partners.........................61

Vodaphone.................................36

Cinco Telecom ..........................36

JBS-Friboi ...........................20, 26

Rev Latinoamerica ....................35

w-z

Citigroup ...................................14

JP Morgan .................................57

RiskMetrics ...............................57

Wal-Mart México ......................37

Comercial Mexicana .................57

l-m

s-t

Wal-Mart ...................................29

Creative Industry

Laboratório Pfizer .....................61

Sadia..........................................20

Water Capital.............................37

Lan ............................................20

Saesa .........................................36

Zero Motorcycles ......................63

Management........................17

4 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

Consulting Group ................34



CARTAS e comentários

cartas@americaeconomia.com

Futuro do Amazonas Excelente a reportagem sobre o Amazonas (“Celeiro em risco”, AméricaEconomia 373, 15 de março, 2009), sobre os riscos climáticos para toda a região. Acho que é preciso fazer com que a conservação da floresta seja uma atividade rentável não apenas na região do Amazonas, mas em todo o mundo (pelo menos a floresta nativa). Para isso, se poderia incluir a preservação da selva nativa no mercado de créditos de carbono. Mas que seja já, sem esperar até o substituto do Protocolo de Kyoto, em 2012. Os donos de florestas devem ser compensados economicamente pelos serviços ambientais. De outra forma, o desmatamento será inevitável.

Não à legalização

Sim à legalização

Sempre acompanho a sua revista porque me parece oferecer informação fundamental sobre os negócios na América Latina, com um ângulo que ninguém mais dá. Por isso mesmo queria expressar meu desacordo com seu editorial que defende a legalização das drogas (“Guerra perdida”, AméricaEconomia N°373, 15 de março, 2009). Acho que é uma solução duvidosa e cujas consequências podem ser prejudiciais.

Gostei de ler a defesa que a revista AméricaEconomia fez da possibilidade de legalizar as drogas e combater seu consumo através de mecanismos de saúde pública. Acho que é uma posição que deve ser defendida na América Latina, pois a região é claramente o principal campo de batalha de uma guerra civil que não está levando a lugar nenhum e que além disso só mostra perdedores, enquanto o consumo se mantém.

Nicolás Errázuriz B.

Frank Campbell

Santiago, Chile

Miami, EUA

6 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

Fernando José C. Córdoba, Argentina

Liderança do Brasil Sobre a entrevista ao historiador brasileiro Luiz Alberto Bandeira publicada em seu site (“EUA perderia influência na América Latina”, www.americaeconomia. com.br, março de 2009), o historiador – como muitos catedráticos – faz adivinhações no terreno das ciências políticas internacionais. Apesar de ser verdade que na mente dos grandes internacionalistas brasileiros, tenha existido a ideia da “tutelagem” sobre a

América do Sul, não menos certo é que, na prática, tal influência tem sido quase inexistente. O Brasil deu as costas ao continente, seja por concentrar-se em seu imenso território e em seus imensos problemas, seja porque a elite sempre preferiu espelhar-se na Europa ou nos Estados Unidos. Exercer influência implica compromisso, e hoje esse compromisso se dilui no pântano das ideologias e do darwinismo econômico. Lula tomou decisões interessantes em favor de aproximar-se do restante de seus vizinhos, mas o caminho é longo e os inimigos de sempre (pobreza, corrupção e desigualdade) não foram derrotados. Falar de integração em um continente fissurado por rancores históricos, pelas ideologias macilentas e pela corrupção em vez de estabelecer as bases mínimas para tornar o processo integrador de uma realidade é quase falar de conto de fadas. É certo que na Europa as dificuldades foram muitas e tornaram o processo unificador uma façanha. Mas em tal continente eles conseguiram superar os antagonismos históricos, as idiossincrasias adversas, as religiões opostas, os idiomas diferentes. Isso significou maturidade, a maturidade que na América Latina estamos condenados a nunca ter. Roberto Beaumont Lima, Peru



O S N E G Ó C I O S D A A M É R I C A L AT I N A O N L I N E

UMA CIDADE RENOVÁVEL NO MEIO DO DESERTO Primeira cidade que só poderá funcionar com energias renováveis, Masdar está sendo construída a milhares de quilômetros da América Latina. Nos Emirados Árabes, a cidade terá um centro ‘ecomagination’, criado pela General Electric, que desenvolverá soluções comerciais sustentáveis. O presidente da GE Chile, Alex Bottan, explicou que o centro contará com “produtos de energia eólica, solar e outras fontes de energias renováveis que vão alimentar a rede elétrica ‘inteligente’ da próxima geração e tecnologias de purificação de água e dispositivos de eficiência energética”. Tudo isso no meio do deserto.

BRASIL PELA TV DIGITAL A SUA FILIAL NO MAPA DO GRUPO? O principal concorrente do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) é o sistema europeu DVB – que tem um forte lobby nos países da região. Contudo, o Brasil não está deixando por menos e mantém negociações com o Equador, Chile, Venezuela, Peru, Cuba e Argentina, entre outros, para que seu sistema seja adotado, alegando maior integração da região. Em entrevista ao repórter Marcelo Galli, o ministro das Comunicações Hélio Costa afirmou que um fator que chamou atenção de peruanos e chilenos é a perspectiva de os empresários brasileiros instalarem fábricas para a montagem dos conversores, que custam por volta de R$ 300. O setor já está na torcida, de olho nas oportunidades de mercado nos países latinoamericanos.

Para que uma filial de uma companhia global seja bem-sucedida, a relação com a matriz deve se basear na atenção, no apoio e em recursos do núcleo corporativo. Embora isso possa parecer óbvio, muitas filiais enfrentam problemas nesse sentido. Cyril Bouquet, professor do Instituto de Mídia Digital, fez uma pesquisa com 283 companhias internacionalizadas. O estudo apontou que, para estas, alguns mercados são mais importantes e concentram o foco das companhias. Por isso, certas filiais acabam tendo que lutar por apoio e visibilidade. Leia o artigo completo no site.

ENQUETE 57% QUAL É A SUA

MENOS VALORIZADO

APOSTA PARA A COTAÇÃO DO DÓLAR DAQUI A SEIS MESES?

29%

MESMO PATAMAR ATUAL

14%

MAIS VALORIZADO

AINDA NÃO RECEBE? LEIA O QUE ACONTECE NOS PRINCIPAIS SETORES DA ECONOMIA E DOS NEGÓCIOS REGIONAIS EM SEU E-MAIL. ASSINE. 8 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009


MALAWI ZAMBIA ZIMBABWE

INFORME ESPECIAL MOÇAMBIQUE

MOZAMBIQUE

TSWANA MADAG SOUTH AFRICA

MOÇAMBIQUE: ESTREITANDO RELAÇÕES NEGÓCIOS

s atenções se voltam ao Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) na América Latina – realizado no Rio de Janeiro este mês –, e o presidente de Moçambique Armando Guezuba espera consolidar uma maior parceria com a região. Desde a assinatura do tratado de paz em 1992, pondo fim a 16 anos de conflito civil, o sudeste da república africana se tornou um pólo de atração de investimentos vindos de todo o globo. O presidente Armando Guezuba, que chegou ao poder em 2005, colaborou muito para incrementar a estabilidade e a democracia do país, classificando esta última de “um processo que nós temos que defender cuidadosamente”. O crescimento registrado pelo país tem sido alto – entre 7% e 10% nos últimos cinco anos –, e a futura expansão dependerá de mais investimento estrangeiro em agricultura, turismo e infraestrutura. Mais de 75% dos 21 milhões de habitantes economicamente ativos do país trabalham em agricultura de pequena escala, e 88% das terras produtivas ainda não estão cultivadas. Além disso, há o potencial lucrativo das reservas de titânio que ainda esperam para ser exploradas. “Nossa prioridade agora é atrair investimentos em estradas, energia, hospitais e escolas”, diz Guezuba. Mais além do WEF, que acontecerá no Brasil de 14 a 16 de abril, Guezuba explica que as relações entre seu país e América Latina já são excelentes. “O Brasil possui um grande número de companhias ativas em Moçambique, particularmente nos setores de construção e mineração, como Vale e Odebrecht. Também estão sendo desenvolvidos programas educacionais e de capacitação técnica. O Brasil está instalando um laboratório para produzir remédios para o combate à Aids, e estamos visando a sua experiência para quando comecemos a produzir etanol, num futuro próximo.” Guezuba também tem mantido conversações com a presidente do Chile Michelle Bachelet sobre potenciais parcerias. Moçambique mostra-se um país atrativo não só por sua política fiscal competitiva e por ter uma base industrial que está crescendo 6% ao ano. Sua localização geográfica como uma porta de entrada dos negócios latinoamericanos à Southern African Development Community – um free trade market de 200 milhões de consumidores potenciais – também o torna extremamente interessante. “Brasil e Moçambique falam o mesmo idioma e possuem muitas coisas em comum, o que constitui uma grande vantagem”, diz o ministro de Indústria e Comércio Antonio Fernando. “Estamos melhorando nossa infra-estrutura e nosso clima de negócios para atrair mais investimentos.”

A

Os 2,7 mil km da costa de Moçambique contam com extensos recifes de corais.

O embaixador do Brasil Antonio de Souza e Silva comemora que a empresa Vale esteja se posicionando no continente africano, sinalizando que irá “criar milhões de empregos e um intercâmbio de serviços, o que implica salários melhores e maior fortalecimento. E isso se refletirá em outros setores da economia, como o habitacional e de bens de consumo”. Também é preciso destacar as oportunidades na área de peixes e frutos do mar e processamento de cereais, castanha de caju, que ressurgiu no cenário do país. Filomena Maiópuê, do Instituto de Fomento do Caju (Incaju), conta que “o cajueiro foi eliminado devido à guerra e às pragas, mas desde então administramos uma produção de 90 mil toneladas de material não-processado. Há um imenso potencial de produção de alimentos com base nesse produto.” Atualmente exporta-se caju para Índia, Europa, EUA e África, e Maiópuè está negociando também com a associação de produtores no Brasil. O presidente Guebuza e o governo de Moçambique esperam conquistar um substancial progresso nas relações entre as duas regiões até o 2nd Africa-South America Summit, a ser realizado em 2010.

“Um free trade market de 200 milhões de consumidores potenciais.”

Armando Guebuza Presidente

Antonio Fernando Ministro de Indústria e Comércio

INSTITUTO DE FOMENTO DO CAJU

Instituto de Fomento do Cajú Rua da Resistência, 1746, 4º andar Maputo, Moçambique rafaela@incaju.co.mz www.incaju.gov.mz

[Este informe publicitário foi produzido pela ASAP Reports. AméricaEconomía não se responsabiliza pelo conteúdo desta seção.]

w w w. a s a p - r e p o r t s . n e t

1


MEMO

FERNANDO CARRASCO CRUCHAGA

SER GLOBAL EM UMA CRISE GLOBAL O DESENVOLVIMENTO empresarial na América Latina ganhou sua melhor cara nas multilatinas. É um conceito cunhado por AméricaEconomia nos anos 90, para descrever as empresas latinoamericanas que iniciavam processos de internacionalização e que pouco a pouco foram ocupando o espaço das multinacionais tradicionais vindas principalmente dos EUA e da Europa. As multilatinas cresceram ainda mais com o boom das matériasprimas que se estendeu desde 2002 a 2008. E muitas delas conquistaram mercados fora das fronteiras latinoamericanas. Hoje podemos encontrar empresas nascidas em nossos países operando na Europa, na África e no Sudeste Asiático em uma interessante corrida que atraiu investidores de todo o mundo. Aproveitando o interesse dos mercados, muitas delas se superendividaram. Outras apostaram em JAIME: ANÁLISE MULTILATINA opções e derivativos cambiais que lhes permitiriam aumentar sua receita financeira. As apostas lhes garantiram lucros inéditos. Mas a crise gerou uma mudança drástica para muitas. Isso significa que veremos um retrocesso de nossos campeões em nível global? “Não necessariamente: há multilatinas que optaram por uma gestão conservadora e que hoje gozam de posições financeiras mais sólidas que as multinacionais que lideram em seus setores”, diz Jaime Contreras, o engenheiro industrial que coordenou esta segunda edição do ranking das empresas latinoamericanas mais globais. Para analisar a capacidade dessas empresas para continuar se internacionalizando, decidimos observar como estavam em relação às multinacionais que tradicionalmente figuram como líderes em seus setores, e quão bem estavam para enfrentar essa crise. “Apesar de haver muitas multilatinas em situação desafiadora, há várias com capacidade de seguir ganhando terreno em relação às multinacionais.” Para estas, o tempo de crise é uma oportunidade que, aproveitada com bom olho e liquidez, pode se transformar em um momento histórico em suas vidas.

DIRETOR Elías Selman C. VICE-PRESIDENTE-EXECUTIVA Gloria Landabur DIRETOR EDITORIAL Felipe Aldunate M. EDITOR ADJUNTO Rodrigo Lara DIRETOR DE ARTE Álvaro Araya Urquiza EDITORES-EXECUTIVOS Solange Monteiro, Juan Pablo Rioseco, Eduardo Thomson EDITOR BRASIL Dubes Sônego ASSISTENTE DE EDIÇÃO Sérgio Spagnuolo ESCRITÓRIO EDITORIAL BRASIL (55 11) 3063-2049 EDITOR MÉXICO Arly Faundes EDITOR MIAMI Antonio María Delgado EDITOR DE FOTOGRAFIA Miguel Candia REPÓRTERES Soledad Gómez, Matías Rodo Yuricevic (Santiago) CORRESPONDENTES•ARGENTINA Juan Pablo Dalmasso •COLÔMBIA Lucía Valdés •MÉXICO Carolina Solís •PERU Cecilia Niezen•URUGUAI Guillermo Pellegrino •VENEZUELA Dorothy Kronick •AMÉRICA CENTRAL Ricardo Castillo •MIAMI Carlos Molina •WASHINGTON Antonieta Cádiz COLUNISTAS•Susan Kaufman Purcell•Félix Peña •Abraham Lowenthal •John Edmunds •Javier Santiso DIAGRAMAÇÃO Riffka Schiro-kauer J., Sebastián Caro P.

•ILUSTRADORES Soledad Tirapegui, Rodrigo Díaz Carrizo REVISORA Adriana Casarotti

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE (estudos e projetos especiais) •DIRETOR Rodrigo Díaz •SUBDIRETOR Jaime Contreras COORDENADORA DE ESTUDOS Daniela González • •EDITORA Karin Hernández •PESQUISADOR SÊNIOR Pablo Hernández AMÉRICAECONOMIA.COM

•EDITOR ESPANHOL Eduardo Coronado •EDITOR BRASIL Mel Bornstein •SUBEDITORMarcelo García •REPÓRTERES Marcelo Galli, Pablo Jamett, Alejandra Clavería

•REDATORES Patricia Zvaighaft, María paz ördenes •TRADUTOR Juan Pardo •WEBMASTER José Fuentes DIRETORA COMERCIAL EUA Verónica Lizama • DIRETORA COMERCIAL MÉXICO Juliana Kollinger • VENDAS PUBLICIDADE Jannifer Price (Miami), Rafael Solís, Tanya Mejía Maya (Cidade do México •DIRETOR DE MARKETING Marcelo Silva Symmes• DIRETORA COMERCIAL CHILE María Alejandra Vigh • VENDAS CHILE Tibisay Campbell, Paz Lecea • DIRETORA COMERCIAL PERU Alejandra Bustamante •EXECUTIVA DE VENDAS PERU Maria Claudia Díaz-Dulanto • GERENTE DE PRODUÇÃO Constanza del Río Moreno •DIRETOR DE CIRCULAÇÃO Marcial Delcorto • GERENTE DE INFORMÁTICA E LOGÍSTICA Óscar Sánchez BRASIL • •HV2 Comercialização de Mídia •DIRETOR-GERAL Hélcio Vieira •GERENTE DE PUBLICIDADE Oscar da Silva Alves •GERENTES DE NEGÓCIOS Nícolas Cardoso Slamek •GERENTE DE MARKETING Denise Terranova Rua Cel. Arthur de Paula Ferreira, 59 - cj 111São Paulo - SP - Brasil CEP 04511-060 Tel.: 5511-3846-5588

ESCRITÓRIOS COMERCIAIS • EUA Tel: 305/648-9071 •MÉXICO Tel: 5255/5254-2400 Fax: 5254-7510 • ARGENTINA Claudia Dasso Tel: 5411/4383-8410 - 4383-8416 •CHILE Tel: 562/290-9400 Fax: 341-5687 • AMÉRICA CENTRAL Julio Lemus Tel-Fax: 502/2261-0278 • PANAMÁ Yadyra de Paz y Miño Tel: 507/271-5327 - 507/66787564 • PERU Patricia Anduaga 511-6107217, María Claudia Díaz-Dulanto 511-6107216 REPRESENTANTES INTERNACIONAIS • ALEMANHA 49211/887-2328 • ESCANDINÁVIA 4755/92-5192 Fax: 92-5190 • ESPANHA 3491/441-6266 Fax: 441-6549 • FRANÇA 331/4143-7057 • ITÁLIA 3902/670-73383 • REINO UNIDO 4420/7538-5811 • SUÍÇA 411/269-7070 REDAÇÕES • SANTIAGO 562/290-9400 • CIDADE DO MÉXICO 5255/52542400 • BUENOS AIRES 5411/4383-8410 • MIAMI 305/648-9071 AméricaEconomia é uma publicação mensal da Nanbei Ltd. •Impressa na Quebecor World Chile S.A. Publicação periódica•Registro PP09-0011 PRESIDENTE Nils Strandberg CHAIRMAN Robert R. Paradise

Felipe Aldunate M. Diretor Editorial

10 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

Certificado Licitud de Título Nº 4090 . Certificado Licitud de Contenido Nº 3346 . AméricaEconomía is a Nanbei Ltd. Monthly publication



SEGUINDO A PISTA PASSO ATRÁS PUBLICAMOS: Oficialmente, o Citi preservará sua longa lista de bancos latinoamericanos. Tratam-se de ativos valiosos, mas a crise permitirá que a companhia fique com eles? (“O vaivém do gigante”, AméricaEconomia Nº 372, 21 de fevereiro, 2009)

MÁ CONDUTA PUBLICAMOS: A crise está levando novamente a Camargo Corrêa a buscar negócios com os órgãos públicos. Em 2005, somente 20% de seu negócio de engenharia e construção estavam vinculados a projetos estatais. Em 2008, esse percentual foi de 30%, e a tendência é de alta em 2009. (“Plano de obras”, AméricaEconomia Nº 373, 15 de março, 2009)

O NOVO: Até agora, a empresa conseguiu manter seus bancos (ainda que o Itaú Unibanco já tenha se mostrado disposto a abocanhar o Banamex), mas decidiu desfazer-se do controle da Redecard no Brasil para levantar capital. O Itaú Unibanco exerceu a opção de compra de cerca de 24 milhões de ações ordinárias, ficando com mais de 50% dos ativos da companhia, que processa transações com os cartões Mastercard e Diners. Com a operação, na qual foram vendidas 90 milhões de ações, o Citigroup levantou R$ 2,13 bilhões.

TOQUE DE MIDAS PUBLICAMOS: O braço de Eike no setor de energia, a MPX, nasceu na esteira do racionamento de energia de 2001 e hoje tem como meta se tornar a maior empresa privada em geração na América Latina, com capacidade instalada de 10 mil MW. (“Fator ‘X’ à prova”, AméricaEconomia Nº 362, 11 de agosto, 2008. O NOVO: Mais que energia, a empresa do Midas brasileiro está dando dinheiro. O lucro líquido consolidado da MPX no quarto trimestre de 2008 foi de R$ 121,56 milhões, equivalentes a um aumento de nada menos de 2.105% em relação ao período anterior. Segundo a empresa, tal desempenho é atribuído, principalmente, às aplicações financeiras de parte do valor captado na abertura de capital (IPO) e ao lançamento contábil referente à provisão de ganho com derivativos.

O NOVO: Indícios de que negócios da Camargo Corrêa com o Estado ultrapassavam a fronteira do ético colocaram a imagem da empresa em risco. Em meados de março, a Polícia Federal brasileira realizou uma operação (batizada de Castelo de Areia) com o objetivo de desarticular uma quadrilha de crimes financeiros e lavagem de dinheiro inserida na Camargo Corrêa. Dez pessoas foram presas – e depois libertadas – incluindo quatro diretores da companhia. Os principais crimes investigados são evasão de divisas, operação de instituição financeira sem autorização, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e fraude a licitações.

12 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

FONTE SECA PUBLICAMOS: No ano passado, a Venezuela importou US$ 56 bilhões em bens e serviços, e com o preço do barril de petróleo a US$ 40, o país registrará US$ 28 bilhões em exportações petrolíferas, diz Ricardo Hausmann, diretor do Centro de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard. O país não pode endividar-se nesse momento, e por isso, se manter o ritmo de gastos, não demorará muito até esgotar o dinheiro que tem guardado. (“Democrise”, AméricaEconomia Nº 372, 21 de fevereiro, 2009)

O NOVO: Em um comunicado, o presidente Hugo Chávez declarou no final de março que, devido às ações da Opep, deteve-se a queda do preço do petróleo e este se estabilizará até “alcançar um preço justo, que eu considero que deve se aproximar dos US$ 80 o barril”. O preço do petróleo, que até agora financiou os projetos de Chávez, já perdeu US$ 100 desde que chegou à máxima histórica em meados de 2008.


EDITORIAL

A

Cúpula do G-20 em Londres foi criticada por alguns dos partidários da globalização por não ter conseguido chegar a um consenso sobre um sistema de fiscalização financeira com soberania multinacional. Não obstante, há quem ache que o debate na capital do Reino Unido pode ser o começo de uma forma de governo econômico-planetária: “Continuo insistindo que o G-20 é muito pequeno. Se queremos que o G-20 seja um corpo de governo da globalização, necessitamos que some representantes dos países mais pobres”. O autor dessa frase não é Lula, mas Dominique Strauss-Khan, cabeça do FMI. Exultante pelo apoio dos governos que aumentaram os fundos da instituição em US$ 750 bilhões, o banqueiro é suficientemente audaz para argumentar que o Fundo voltou à vida, não unicamente como credor de última instância, mas “também como um criador de política econômica”. O que isso significa? Depois de aclarar que não espera que no G-20 “façam o que nós dissermos”, afirmou que agora “temos o direito de dizer qual classe de política se pode aplicar”. Sem dúvida o renascimento do FMI abrirá uma luta de poder para estabelecer quem e como se definirá sua linha de ação. Neste contexto, as piadas do presidente Lula sobre o impacto de um FMI forte e flexível podem ser essenciais para que a transição de uma economia global dominada pelos EUA a uma multipolar não seja um festival de crise permanente. ENCRUZILHADA EQUATORIANA A menos que haja uma surpresa, Rafael Correa será reeleito presidente do Equador. O atual mandatário ganhará no primeiro turno e conquistará ampla maioria, ao menos relativa, na nova Assembleia Nacional, na complexa eleição que será promovida no país no dia 26 de abril, que elegerá representantes para cerca de mil cargos públicos, entre governadores, prefeitos e congressistas. Ainda que não registre o mesmo resultado que no referendo constitucional, no qual obteve cerca de 80% dos votos, Correa conseguiu

AFP

DAS CINZAS manter boa distância dos candidatos da oposição Lucio Gutiérrez e Álvaro Noboa, com uma paradoxal campanha de reeleição focada na renovação da cara dos políticos – e apoiada por seu programa de TV semanal, que lhe tem valido várias críticas por parte da autoridade eleitoral equatoriana. A oposição deverá se conformar com a conquista de alguns postos-chave como o do governo de Guayaquil (possível reeleição do atual líder). Mas, apesar de sua vitória ser quase certa, não existe a mesma certeza sobre o futuro da economia do país. Quando se trata da gestão econômica, Correa tem sido generoso em ambiguidades. Mau sinal em um momento no qual os déficits do país se aprofundam na medida em que o preço do barril de petróleo cai e miguam as remessas dos imigrantes radicados nos EUA e Espanha. Apesar de ter sido claro em dizer que não se toca na dolarização do país, e ameaçar os que difundam rumores nesse sentido, as autoridades econômicas reconheceram que têm poucos recursos à mão para enfrentar a atual conjuntura internacional. Por enquanto, seu maior esforço esteve concentrado em restringir as importações, afetando principalmente seus sócios da comunidade andina. Tampouco o governo de Hugo Chávez poderá ser de muita ajuda econômica, num momento em que deverá enfrentar problemas semelhantes em nível doméstico. As promessas de revoluções em educação, saúde e moradia que encabeçam sua campanha ficarão vazias de recursos se não se realizar uma mudança de rota em sua gestão estadista, que provoca a desconfiança dos empresários locais – cujas preferências de voto hoje se dividem entre Noboa e Gutiérrez. Se não conseguir gerar vínculos e conquistar a confiança da comunidade de negócios local e levar a cabo reformas que verdadeiramente fomentem a participação privada em diferentes esferas, o professor de economia se verá sem recursos para concluir sua desejada revolução. Q

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 13


MOVIMENTOS O Magnata sai às compras

QUEM DUVIDA QUE AS crises são acompanhadas de oportunidades precisa revisar as notícias sobre Carlos Slim – o terceiro homem mais rico do mundo, com uma fortuna avaliada pela Forbes em US$ 35 bilhões. O mexicano não parece amedrontado pela situação atual. “Slim pode comprar tudo”, afirma Carlos Nuñez, analista da Monex Casa de Bolsa. Recentemente, ele tem anunciado vários investimentos que suas empresas realizarão: o Grupo Carso investirá cerca de US$ 2 bilhões na América Latina; já o braço de telefonia celular América Móvil, desembolsará US$ 3 bilhões. Slim também adquiriu 53 mil ações do provedor de serviços de perfuração norteamericano Bronco Drilling, aumentando sua participação nessa companhia para 15,67%. E, como se fosse pouco, concretizou a compra de 150 mil ações do norteamericano The New York Times, elevando para 7% sua fatia nesse grupo editorial. E alista não termina. O mexicano também decidiu aumentar em 18% sua participação na cadeira varejista de lojas de luxo Saks Fifth Avenue, e foi especulado como um dos principais compradores do Banamex caso o Citigroup decida vender a filial mexicana. “Está diversificado em tantos setores que pode participar em alguns mais”, conclui Nuñez. Quando se trata da capacidade de compra de Slim, tudo é possível. ARLY FAUNDES B. / CIDADE DO MÉXICO

AFP

SLIM: CARTEIRA RECHEADA

14 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009


MOVIMENTOS Problemas no Paraíso PARA OS 40 MIL CLIENTES NÃO-residentes no Uruguai que tenham contas em bancos com sede no país - como Itaú, Santander Nuevo Banco Comercial e ABN-Amro -, o paraíso de Montevidéu pode virar um purgatório. Isso se deve aos planos do pré-candidato presidencial José Mujica, do partido Frente Ampla, da situação, favorita nas pesquisas, de eliminar o sigilo bancário. “Este já cumpriu uma etapa e hoje não está no mesmo tom de uma política de integração”, diz. Sua porta-voz (e esposa), a também senadora Lucía Topolansky, acrescenta que “sabemos que há pessoas que evadem impostos na Argentina trazendo o dinheiro para cá”. Embora o governo tenha eliminado o uso de sociedades anônimas criadas para receber dinheiro vindo da Argentina e do Brasil, Mujica disse que o Uruguai está sob a mira da OCDE, assim como Panamá, Bahamas e Ilhas Caimán. Seu concorrente pela nomeação partidária, o ex-ministro da Economia Danilo Astori, se diz escandalizado. “Um requisito para fazer política seriamente não é semear alarmas com o sigilo bancário. Com isso não se joga”, disse. Há coisas que é melhor manter em segredo. RODRIGO LARA / BUENOS AIRES

Domínio .lat?

Da realidade à fantasia A EMPRESA DINAMARQUESA Serious Games Interactive inspirou-se em alguns dos conflitos vividos no continente para elaborar seu jogo Global Conflicts: Latin America. Os jogadores podem viajar à América Latina em seus computadores e virar jornalistas que investigam o ast sassinato de uma mulher na fronteira entre México sas e Estados Estad Unidos, a tentativa de homicídio de um político na Guatemala ou a misteriosa desaparição de uma criança Guatem na Bolívia, entre outros acontecimentos. Mikkel Lucas Overby, diretor comercial da Serious Games, explica que “os jogos são extremamente poderosos e podem ser usados principalmente para diversão. Contudo, a empresa está convencida que tem um grande potencial para comunicar mensagens específicas e defender objetivos”. Global Conflicts: Latin America busca destacar problemas reais da região, como corrupção, crime organizado, tráfico de pessoas, poluição, genocídio e conflitos migratórios na Bolívia, Guatemala e México, para que sejam levados em conta e possam ser solucionados “na realidade e na fantasia”. O jogo, lançado em novembro de 2008, foi destaque de vendas na Dinamarca, Suécia, Noruega, Grã-Bretanha e Alemanha.

TUDO COMEÇOU COM as .com, .net e .org. Logo depois, seguiram as .edu, .biz, .tv, E agora a América Latina busca operar o posto de correspondente do ciberespaço, assegurando a terminação .lat. A iniciativa, introduzida recentemente na reunião anual da ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers), se faz necessária perante o crescente número de usuários latinoamericanos que desejam registrar seus próprios domínios, mas que tem poucas opções de fazê-lo, diz Oscar Robles, diretor da NIC México, entidade que administra os domínios no país. A adoção da .lat ajudaria a resolver a severa escassez de nomes disponíveis para serem inscritos em espanhol, situação que, segundo Robles, é um dos principais motivos pelos quais, no México, só 1% dos usuários possuem domínios reservados, à diferença da taxa de 10% registrada em países desenvolvidos. O .lat não será de uso exclusivo de mexicanos. A terminação “será cultural, sem restrição para nenhum país”, conta o especialista. ARLY FAUNDES B. / CIDADE DO MÉXICO

LISIA GONZÁLEZ / CIDADE DO MÉXICO

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 15


MOVIMENTOS Mais no mesmo

vai&

NÃO SE TRATA APENAS de achar oportunidades em tempos de crise. Trata-se, antes de tudo, de identificar oportunidades dentro de mercados em crescimento, com ou sem a turbulência financeira global. A norteamericana NetApp, que fornece soluções de gerenciamento de dados em mais de 30 países, vê tal potencial no cenário brasileiro, onde planeja aumentar sua participação de mercado de 8% a 12% nos próximos três anos, um grande salto regional em um país que representa cerca de 2% do faturamento total da companhia. “Procuramos ativamente parcerias com distribuidores e integradores locais”, diz o CEO mundial da companhia, Dan Warmenhoven, em sua sétima passagem pelo Brasil. O executivo não reluta em dizer que os investimentos da NetApp no país “provavelmente” aumentarão, assim como a estrutura local, que conta com 25 pessoas. “O Brasil está no nosso Top 10 de oportunidades de crescimento, à medida que integra cada vez mais tecnologia e processamento de dados com redução de custos”, afirma. SÉRGIO SPAGNUOLO / SÃO PAULO

vem

ADRIANA NOREÑA

A siderúrgica indiana ArcelorMittal nomeou seu então vice-presidente, Gerson Alvez Menezes, CEO da ArcelorMittal Ações Longos. O executivo ficará responsável pelos negócios no Brasil, respondendo também por América Central e o restante da América do Sul. Ele substitui Paulo Geraldo de Sousa, que deixa o cargo este mês.

PERU: ESTACIONAMENTOS ETERNOS

AFP

Depois de 1.432 dias, Gonzalo Alonso deu adeus à Google para perseguir “outros sonhos”. A colombiana Adriana Noreña é a nova gerente geral para Chile, Argentina e Colômbia. A executiva já ocupou a direção de vendas e operações online do Google para o Brasil e para a América Latina.

Estoque até o pescoço A MAIORIA DOS REPRESENTANTES do setor automotivo do Peru anda com os nervos à flor da pele. O crescimento forte na venda de veículos nos últimos anos os levou a aumentar os pedidos das matrizes, mas os ventos econômicos mudaram radicalmente e tudo aponta a que milhares de veículos ficarão parados. Segundo as últimas estimativas da indústria, este ano serão vendidas 70 mil unidades, 50 mil a menos do que o previsto em meados de 2008. Agora, com estoques cheios e com barcos a caminho repletos de veículos provenientes da Europa, Ásia e América do Norte, as concessionárias quebram a cabeça para ver como colocar a maior quantidade de carros no mercado sem morrer na tentativa, disseram à AméricaEconomia dois representantes automotrizes que pediram anonimato. Os analistas acreditam que o Peru está no meio de uma feroz guerra de preços. E que a equação é muito simples: quanto menor o estoque, menores os gastos. FERNANDO CHEVARRÍA LEÓN / LIMA

16 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

Luís César Verdi foi escolhido para o cargo de presidente da SAP Brasil. Com 27 anos de mercado de TI e seis de companhia, o executivo ocupava anteriormente o cargo de vice-presidente sênior de vendas para grandes empresas na América Latina. Marcelo Silva, ex-presidente das Pernambucanas, é o novo superintendente da rede varejista brasileira Magazine Luiza. Ele ocupa o cargo deixado por Luiza Helena Trajano, que assumiu a recém-criada presidência da companhia. Ana Lucia Caltabiano é a nova diretora de recursos humanos da HP Brasil. A executiva está na empresa há cerca de dez anos e já ocupou posições na área em outras unidades na América Latina. Antes de atuar na HP, passou pela Procter & Gamble.


MOVIMENTOS Outro clássico sulamericano

BID/OSCAR GARCES

ROUTTI: P&D + P&D + P&D

É o conhecimento, estúpido! HÁ 15 ANOS, A FINLÂNDIA atravessou uma crise de proporções similares às atuais no mundo. O que foi feito para sair dela? “Triplicou-se o investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D)”, entre outras medidas, afirma Jorma Routti, ex-assessor do governo finlandês em temas de tecnologia e presidente executivo da Creative Industry Management (CIM). “Investimos nosso caminho para fora da recessão”. E este é o caminho que o especialista recomendou em um painel durante a última cúpula do BID, em Medellín, para ser um acelerador do crescimento na América Latina. Não que cada país tenha sua própria Nokia, mas sim que invista nos setores onde estão suas forças. Falta muito o que fazer. A região só investe 0,5% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, enquanto o montante na Finlândia é de 4%. Mas há alguns sinais de melhoras. “Estive em uma conferência sobre P&D, recentemente, no Uruguai, da qual o Presidente da República participou. Ele fez um discurso de 40 minutos. Há alguns anos eu não via isso acontecer”, comentou Routti. EDUARDO THOMSON / MEDELLÍN

QUANDO OS ESTUDANTES da Universidade de Buenos Aires (UBA) que concorrerão à final internacional de programação organizada pela Associação de Máquinas Computadoras (ACM) disseram que mais importante que ganhar é derrotar os brasileiros, o salão da Accenture, seu patrocinador, caiu na risada. Acontece que a rivalidade competitiva entre ambos os países agora se põe à prova em um novo campo. Há dez anos, as duas nações disputam palmo a palmo o título de Campeão da América Latina outorgado pelo evento. Seis para a Argentina, e quatro para o Brasil. O pódio mundial? Muito longe. Nos 32 eventos realizados os campeões são os Estados Unidos, com 17 títulos. CAMPEÕES DA AMÉRICA Mas, desde Últimos 10 mundiais de programação da ACM que o evenUniversidade to foi glo- Ano balizado, há 2008 U. de Buenos Aires (Ar) uma déca- 2007 P.U.C. do Rio de Janeiro (Br) da, as uni- 2006 Inst. Tec. Aeronáutica (Br) versidades 2005 Inst. Tec. Aeronáutica (Br) da Europa 2004 U. de Palermo (Ar) Oriental e 2003 U. de Buenos Aires (Ar) da China 2002 U. de Buenos Aires (Ar) dominam 2001 U. de São Paulo (Br) o primeiro 2000 U. de Buenos Aires (Ar) 1999 U. de Buenos Aires (Ar) lugar. JUAN PABLO DALMASSO / CÓRDOBA

Segurança “nota zero” MAIS DE 50% DOS POLICIAIS municipais do México “não estão qualificados para exercer eficientemente suas funções”, devido a baixos níveis de educação, problemas de sobrepeso e transtornos mentais. Segundo um estudo realizado pela Auditoria Superior da Federação (ASF), organismo da Câmara de Deputados que audita as contas públicas do país, apenas três de cada dez policiais possuem formação escolar superior ao nível básico. Além disso, poucos policiais se encontram em boas condições de saúde, apresentando um sobrepeso de dez quilos, e mais de 14% registraram algum transtorno psicológico, “o que significa um risco a seu entorno social, pessoal ou de trabalho”, diz o relatório. Pablo Monzalvo Pérez, acadêmico diplomado em segurança pública da Universidade Iberoamericana, diz que os dados do estudo não são nenhuma novidade, “a polícia municipal está no nível mais baixo no que se refere a capacitação intelectual ou acadêmica, porque os municípios não possuem dinheiro para academias. Os policiais são mal pagos, mal armados e mal capacitados”.

POLICIAIS: ÀS AULAS

LISIA GONZÁLEZ / CIDADE DO MÉXICO

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 17


MOVIMENTOS Bancos que não perdem

Voto com o dedo US$ 112 MILHÕES. Esse total será investido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil este ano na construção de urnas biométricas, um passo a mais para a modernização das votações que desde 1996 são feitas eletronicamente. A ideia é que 4 milhões de eleitores - de um total aproximado de130 milhões - possam usar o sistema de identificação por impressões digitais e foto em 2010. O uso pleno da biometria liberará cerca de 1,5 milhão de eleitores recrutados para trabalhar como mesários, já que o sistema requer apenas o trabalho dos funcionários do tribunal. Mas antes é preciso cumprir uma tarefa difícil: concretizar o Registro Único, que reúne em um só documento de identificação toda a sorte de papéis que os brasileiros devem portar: o RG, a carteira de motorista e o título de eleitor. SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO

ENQUANTO GRANDE PARTE dos bancos norteamericanos e europeus estava em chamas, os bancos latinoamericanos gozavam de boa saúde no fim do ano passado, especialmente os que operam no Brasil. Entre os mais rentáveis de todo o continente americano, os bancos Banco do Brasil, Itaú-Unibanco e Bradesco ocuparam os terceiro, quarto e quinto lugares no ranking da empresa de estudos Economática. O Banco do Brasl registrou ganhos de US$ 3,767 bilhões no ano, enquanto o Itaú-Unibanco divulgou US$ 3,339 bilhões e o Bradesco, US$ 3,261 bilhões. E quem acredita que as empresas estatais nunca são bem gerenciadas se surpreenderão ao saber que o Banco do Brasil mostra uma rentabilidade sobre o patrimônio de 32,5% em 2008, seguido de longe pelo Bradesco e pela American Express dos Estados Unidos, ambos com ROE de 23,6%. Os bancos latinoamericanos também chegaram aos quarto e quinto lugares (Santander Chile com 21,8% e Itaú-Unibanco com 21,5%). No ranking também aparecem outros nomes norteamericanos, em uma mostra de que no fim do ano passado nem todos as instituições financeiras do país estavam sendo sepultadas.

TOP TEN Posição

Empresa

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Do Brasil Bradesco American Express Banco Santander Itaú-Unibanco State Street Corp Northern Trust Santander Serfin US Bancorp BB&T

EDUARDO THOMSON / MEDELLÍN

Fiel da balança

HELADOS: SABORES QUE SAFADY: RINDEN FRUTOS. MENOS SUBJETIVIDADE

18 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

País

ROE% 2008

Brasil Brasil EUA Chile Brasil EUA EUA México EUA EUA

32,5 23,6 23,6 21,8 21,5 15,0 14,6 12,6 12,4 10,6

FONTE: ECONOMÁTICA

DUBES SÔNEGO / SÃO PAULO

EM UMA TENTATIVA de reduzir a subjetividade embutida na avaliação de corretores e outros tipos de especialistas, a Associação Brasileira de Fundos de Previdência Privada Complementar (Abrapp) está trabalhando na criação de um índice de referência para o setor imobiliário, batizado IBI-C, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas. “Sua finalidade será criar

uma referência que permita acompanhar a rentabilidade das carteiras imobiliárias”, diz Carla Safady, coordenadora da comissão técnica ad hoc de investimentos imobiliários da entidade. Inicialmente, o objetivo é cobrir apenas o mercado de empreendimentos comerciais. Mas futuramente, diz Carla, o índice poderá ser estendido aos mercados residencial e industrial. A medida

é considerada fundamental para que o setor possa se expandir transformando ativos imobiliários em fundos mobiliários, através da venda de cotas de fundos do gênero, da mesma forma que acontece em mercados mais líquidos e maduros. De acordo com as previsões da entidade, um piloto do índice deverá ficar pronto este ano, e sua versão final em 2010.


das melhores

ranking AméricaEconomia apresenta seu tradicional ranking das Melhores Escolas de Negócios da América Latina A edição 2009 contém uma análise completa das especialidades ligadas à Administração, incluindo as escolas mais sólidas em: O Finanças O Marketing O Economia O Estratégia O R.H. O Inovação O Empreendimento O Alta direção O O poder da marca: percepção de prestígio tanto regional quanto local dos programas de MBA segundo os mais importantes headhunters da América Latina. O Ranking de necessidades locais: as especialidades em negócios mais demandadas pelas empresas. O Ranking Global de Escolas: as melhores opções para um latinoamericano que deseja fazer seu master em negócios fora do continente. Fechamento: 18 de maio de 2009 Publicação: junho de 2009

www.americaeconomia.com.br


ESPECIAL MULTILATINAS

EM BUSCA DO EQUILÍBRIO A crise tem impacto na globalização das grandes multilatinas. No entanto, há aquelas que são capazes de contornar dificuldades e continuar a expansão para novos mercados

N

ão tem sido um ano fácil. Pergunte aos executivos da Cemex que tiveram de iniciar uma campanha de venda de ativos internacionais para cumprir com seus compromissos de financiamento. Ou aos chilenos da Sudamericana de Vapores, a empresa naval chilena, que procura compradores para uma de suas principais operações para fazer caixa. Ou ainda aos brasileiros da Sadia, o maior produtor de frangos, que por uma aposta equivocada em derivativos financeiros registrou perdas de US$ 890 milhões no quarto trimestre de 2008. Pode perguntar até mesmo para os mexicanos do diversificado Grupo Alfa. Repartir seus ovos nas cestas de autopeças, petroquímica, alimentos e telecomunicações não evitou que tivessem perdas de US$ 670 milhões em 2008, o que deve levar ao corte de 20% nos planos de investimentos para 2009. A crise financeira global está golpeando as principais corporações da região em diversas frentes: reduzindo preços e volumes de vendas, deteriorando mercados e restringindo um mercado financeiro que castiga especialmente as que mais se endividaram para se internacionalizar. Apesar de tudo, há empresas latinoamericanas que aproveitaram a crise para fortalecer ainda mais a posição global que mantêm em suas respectivas indústrias. Companhias como a aérea Lan, a guatemalteca Pollo Campero e as brasileiras Vale e JBS (Friboi) seguem com suas campanhas de extensão da cobertura geográfica. Por isso, esta segunda edição do Ranking Multilatinas, que busca descobrir quais as empresas mais globais da América Latina, está cheio de movimentos. Esta lista que este ano alcançou 60 empresas, determina o quão global é uma companhia levando em conta aspectos como a cobertura geográfica (medida pela quantidade de países e regiões em que está presente), a 20 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

OTHERIMAGES

Felipe Aldunate M. e AméricaEconomia Intelligence

importância dos mercados estrangeiros em seu negócio (medida pela proporção de vendas, ativos e empregados fora do país de origem) e o potencial de globalização, indicador criado a partir da solidez financeira da empresa, sua posição na indústria à qual pertence e operações de fusão e aquisição que realizou no último ano. Alguns desses indicadores e seus resultados ponderados podem ser vistos nas tabelas das páginas 22 e 23. Este ano, o primeiro lugar é da Tenaris. A empresa siderúrgica de origem argentina e que concentra as operações de tubos de aço sem costura do grupo Techint, estruturou o negócio mais global da América Latina. Trata-se de uma decisão corporativa que há anos busca concentrar seus ativos em mercados distintos da arriscada Argentina e que transformou a cultura organizacional da empresa. “Nós não nos sentimos latinoamericanos”, disse da Itália um dos porta-vozes do grupo que tem sua sede principal em Luxemburgo. Hoje, a companhia opera em 10 países e em cinco regiões geográficas diferentes. Além disso, a companhia diversifica suas fontes de financiamento. Suas ações são comercializadas nas bolsas de valores de Nova York, do México, da Itália e da Argentina, apesar da complexidade que significa estar em tantos mercados de capitais ao mesmo tempo. Quem aparece em segundo lugar é a já citada Cemex, a cimenteira que empreendeu o maior processo de internaciona-


ESPECIAL MULTILATINAS lização já realizado por uma companhia latinoamericana. Mas essa estratégia foi acompanhada de um forte endividamento. A companhia tem vivido um ciclo negativo principalmente devido aos maus resultados registrados nos Estados Unidos, na Espanha e na Inglaterra, suas operações internacionais mais importantes, mas também as mais afetadas pela crise. A companhia mexicana continua sendo a empresa latinoamericana com presença em maior número de países e regiões, mas perdeu o primeiro lugar no ranking devido ao fato de que sua presença mundial tende a diminuir ao longo deste ano. Em direção oposta aparece o terceiro colocado no ranking, o Grupo JBS, também conhecido como Friboi, e que após uma série de aquisições em distintas partes do mundo, hoje é o principal produtor mundial de carne bovina com presença em cinco regiões do globo. Apesar de ter uma ambiciosa estratégia de crescimento, a JBS terminou 2008 com melhores resultados que em 2007 e com menores níveis de endividamento. Recentemente a companhia anunciou o cancelamento da compra da norteamericana National Beef, por US$ 970 milhões, entre ações, dinheiro e dívidas. No entanto, a companhia continua com amplo capital disponível para empreender novos investimentos tanto no Brasil quanto em outros países, assim que a situação melhorar, como anunciou Joesley Batista, seu presidente. Também entre os Top 10 está a construtora brasileira Norberto Odebrecht, a companhia aérea chilena Lan e o Grupo Bimbo, a panificadora mexicana que quer ensinar os chineses a comer pão. Além disso, é preciso incluir a presença da empresa de telecomunicações sem fio Brightstar. Esta, apesar de baseada em Miami, consideramos latinoamericana por ser fundada por um boliviano, continuar a ter presença latinoamericana importante em seu capital e a uma origem estreitamente vinculada à região. O Brasil, com 26; o México, com 13; e o Chile, com 12, foram os países que mais multilatinas incluíram neste ranking.

BALANÇO CONTRA BALANÇO Indicadores de balanço da média de uma mostra de multilatinas e multinacionais Fonte: AméricaEconomia Intelligence

Multilatina Multinacional Liquidez corrente

1,28

Estrut. financiamento (Passivo/patr.)

0,62

1,92

Prazos de dívida (dívida cp/dívida lp)

0,89

0,68

1,04

Rentabilidade do capital (ROE)

21%

15%

Rentabilidade operacional (ebitda/patr)

42%

23%

A pergunta relevante, apesar de tudo, é quão bem-preparadas essas companhias estão para enfrentar a crise. Ou melhor dizendo, como estão em comparação com outros competidores globais. Para isso, comparamos os resultados obtidos pelas multilatinas

com uma mostra de multinacionais de outras regiões, que têm indústrias de setores comuns aos nossos. Comparar os resultados e a solidez financeira de nossos campeões corporativos com a mostra formada por tradicionais multinacionais da Europa e dos Estados Unidos dá resultados muito interessantes. Se levarmos em conta as variações nos resultados durante 2008, por exemplo, observamos que as multinacionais globais (ou só multinacionais), tiveram um melhor desempenho: suas vendas cresceram 11,6%, enquanto as vendas das multilatinas caíram 2,9%. Acontece algo similar, por exemplo, quando se comparam a variação anual dos lucros ou o crescimento dos ativos: em ambos os casos ganham as multinacionais. Parte dessa diferença se explica pelo atraso com que a crise está chegando à nossa região. Muitas multinacionais já haviam sofrido em 2007 os resultados da desaceleração dos mercados nos Estados Unidos e Europa, enquanto as multilatinas registravam recordes graças ao preço das commodities e condições favoráveis ao intercâmbio comercial na região. Apesar de tudo, também é correto afirmar que, de modo geral, as multinacionais estão mais diversificadas em territórios e zonas geográficas que as multilatinas, o que as permite contrabalançar eventuais perdas em alguns mercados com os ganhos em outros. De fato, quase todas as multilatinas observaram uma forte queda no faturamento e nos lucros no último trimestre de 2008, enquanto algumas multinacionais conseguiram minimizar as variações em seus resultados, mesmo nos momentos mais complicados da crise.

DÍVIDAS E ATIVOS

VENDA E LUCRO

CARA A CARA

Multinacionais versus multilatinas Variação de índices financeiros comparados

Multilatinas Multinacionais

Fonte: AméricaEconomia Intelligence

Multinacionais versus multilatinas Variação de índices financeiros comparados Fonte: AméricaEconomia Intelligence

Multilatinas Multinacionais

-2,9

-2,9

ATIVOS

VENDAS

3,0

11,9

13,8

-20,6

DÍVIDA

LUCRO

7,8

-20

0 Var.%

20

-40

-8,8

-20

0

20

Var.%

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 21


ESPECIAL MULTILATINAS COBERTURA GEOGRÁFICA

NOTA: (*) Vendas anualizadas a setembro de 2008

Rk 09 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60

Rk 08 6 1 19 4 12 9 7 17 3 15 24 40 10 5 11 55 13 8 20 37 23 48 22 30 31 28 42 34 16 20 36 47 41 14 39 56 43 19 54 58 74 38 32 35 58 53 61 26 18 50 21 51 29 46 62 45 33

Empresa TENARIS CEMEX GRUPO JBS (FRIBOI) VALE BRIGHTSTAR GERDAU GRUPO ALFA LAN CONST. NORBERTO ODEBRECHT PETROBRAS (*) AMÉRICA MÓVIL AJEGROUP GRUPO BIMBO SUDAMERICANA DE VAPORES PDVSA INTEROCEÁNICA CENCOSUD (*) EMBRAER (*) CAMARGO CORRÊA CIMENTOS TELMEX GRUPO CAMARGO CORRÊA MEXICHEM (*) WEG (*) POLLO CAMPERO VOTORANTIM CIMENTOS CMPC GRUPO MODELO MADECO (*) FEMSA ARCOR FALABELLA (*) SONDA (*) DUAS RODAS P.I. MABE GRUMA VIÑA CONCHA Y TORO (*) CELCO SABÓ IND. E COM. DE AUTOPEÇAS GRUPO TACA FASA (*) METALFRIO (*) LUPATECH (*) GRUPO ELEKTRA (*) GRUPO VITRO (*) TAM (*) ARACRUZ CELULOSE (*) GRUPO TELEVISA RIPLEY LABORATORIOS BAGÓ SADIA (*) MARCOPOLO (*) ANDRADE GUTIERREZ CIA. SIDERÚRGICA NACIONAL (*) GRUPO NAC. DE CHOCOLATES (*) BANCO ITAÚ ARTECOLA TIGRE (TUBOS DE CONEXÃO) TOTVS (*) GRUPO GLORIA NATURA

22 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

País ARG MÉX BRA BRA EUA BRA MÉX CHI BRA BRA MÉX PER MÉX CHI VEN CHI CHI BRA BRA MÉX BRA MÉX BRA GUA BRA CHI MÉX CHI MÉX ARG CHI CHI BRA MÉX MÉX CHI CHI BRA ELS CHI BRA BRA MÉX MÉX BRA BRA MÉX CHI ARG BRA BRA BRA BRA COL BRA BRA BRA BRA PER BRA

Setor Siderurgia Cimento Alimentos Mineração Telecom Siderurgia Autop./Petroq. Aviação Engenharia Petróleo Telecom Bebidas Alimentos Navieira Petróleo Navieira Varejo Aeroespacial Cimento Telecom Eng./Constr. Petroquímica Máquinas Alimentos Cimento Florestal Bebidas Florestal Bebidas Alimentos Varejo Tecnologia Alimentos Higiene Alimentos Bebidas Florestal/Celulose Autopeças Aviação Varejo Eletrodomésticos Engenharia Varejo Vidro Aviação Celulose Mídia Varejo Farmacêutico Alimentos Autopeças Eng./Const. Siderurgia Alimentos Financeiro Química Mat. de const. Tecnologia Alimentos Cosméticos

Vendas 2008 (US$ Milhões)

Var. Vendas %

Lucro (US$ Milhões)

Empregados

12.131,8 17.581,8 12.982,6 30.184,0 3.600,0 17.932,3 8.399,8 4.587,2 4.950,0 111.967,0 24.988,6 1.090,0 5.951,0 4.934,9 115.446,0 983,7 9.458,8 5.725,0 1.664,0 8.972,0 7.175,1 2.274,7 2.322,2 350,0 3.257,4 2.978,7 5.448,2 1.069,4 12.146,9 2.230,2 6.132,0 659,4 500,0 252,0 3.238,2 551,0 3.689,0 346,9 1.000,0 1.643,3 389,8 351,4 3.054,3 2.108,7 5.201,3 1.923,1 3.468,1 1.629,8 540,0 5.340,8 1.241,3 4.868,3 7.118,4 1.780,7 15.275,7 500,0 849,3 399,3 820,4 1.548,1

21 -19 63 -9 -16 4 -14 30 N.D. 28 -12 27 -12 19 20 35 14 17 N.D. -25 N.D. 8 10 4 N.D. -8 -68 -16 -10 21 7 22 N.D. -37 -1 3 3 N.D. 7 -5 N.D. N.D. -15 -18 22 N.D. N.D. -14 32 10 -42 N.D. 10 7 -11 N.D. N.D. N.D. -13 -11

2.124,8 164,7 11,1 9.105,5 N.D. 1.686,1 -670,0 339,7 N.D. 14.115,4 4.345,7 N.D. 312,3 -39,1 N.D. 18,3 254,5 183,5 N.D. 1.458,7 N.D. 10,2 239,8 N.D. N.D. 205,8 651,7 154,5 484,9 N.D. 321,1 38,5 N.D. N.D. -888,6 55,9 N.D. N.D. N.D. 1,2 -37,6 -37,4 673,9 N.D. -582 -1802,9 564,2 43,8 N.D. -1063,3 57,5 N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. 20,6 N.D. 221,7

23.873 50.000 55.361 62.490 3.500 46.000 50.922 15.797 54.000 74.240 43.000 10.000 96.800 7.321 75.585 2.000 95.000 N.D. N.D. 77.500 N.D. 10.500 2.187 4.500 N.D. 12.567 35.000 2.417 105.000 20.500 58.000 10.614 N.D. 3.500 17.850 551 35.000 N.D. 6.000 12.367 N.D. 2.800 37.121 24.442 23.871 N.D. 17.600 20.194 4.200 N.D. N.D. N.D. 16.000 21.100 108.027 N.D. N.D. N.D. 1.360 3.000

Países 10 33 11 27 38 14 16 14 34 27 17 12 16 6 9 4 5 5 4 9 14 15 47 11 3 6 6 5 9 16 4 6 24 5 12 22 3 8 5 3 5 3 8 9 11 5 8 2 17 7 8 15 3 4 4 6 5 19 6 9


ESPECIAL MULTILATINAS % OPERAÇÕES NO EXTERIOR

POTENCIAL DE CRESCIMENTO INTERNACIONAL

Zonas/ Regiões

Índice de Cobertura

% Vendas

% Invest.

% Trab.

Liquidez (At. Circulante/ Pas. Circulante)

Classificação Dívida Pública

Índice Posição Setorial

Potencial de Crescimento Internacional

Índice de Globalização

5 8 5 7 7 6 6 5 7 6 4 4 6 4 4 4 1 4 1 3 5 4 7 6 3 2 3 1 3 6 1 3 7 2 7 7 1 3 1 2 4 2 3 5 3 4 3 1 4 3 5 5 3 2 1 2 1 6 2 3

65,9 92,8 66,4 84,8 95,0 67,2 78,3 71,4 84,3 79,8 64,5 55,1 68,2 57,0 64,5 53,0 41,4 56,0 37,0 57,6 66,4 62,5 93,1 62,3 42,7 45,5 54,7 41,4 48,9 69,7 37,0 44,4 83,6 42,0 68,4 79,3 31,5 69,3 28,0 32,5 51,8 42,0 46,0 62,0 72,0 58,7 48,9 23,8 65,1 56,7 57,3 64,0 48,9 35,4 37,0 45,5 41,4 70,2 43,8 57,6

85,0 82,9 86,3 38,3 55,6 54,4 54,3 86,0 69,2 30,0 60,9 81,0 35,7 88,0 97,1 82,0 56,3 85,0 49,9 3,2 23,8 53,0 44,3 80,0 37,0 71,0 41,2 62,6 36,2 15,2 37,8 56,5 5,0 43,0 71,5 72,1 89,0 43,2 82,0 63,0 23,3 15,2 13,3 55,8 29,7 43,3 14,2 27,9 19,3 42,0 23,7 15,4 22,1 31,9 9,8 19,8 16,2 3,3 14,6 4,4

87,0 65,0 82,3 49,4 66,8 60,2 71,0 72,8 55,0 31,0 29,5 64,0 56,3 35,0 5,8 57,3 54,4 44,4 66,4 51,0 43,3 28,0 19,3 12,8 48,7 26,9 13,5 16,4 18,8 25,0 39,2 32,9 38,0 45,6 14,5 7,5 17,0 19,8 15,0 24,1 19,1 35,9 26,4 15,0 5,8 25,6 22,0 30,5 0,0 3,7 14,0 9,2 12,8 27,6 2,5 28,1 27,3 2,6 15,0 4,4

75,0 65,0 69,3 25,1 78,0 48,5 52,0 35,0 47,0 9,1 52,0 76,0 49,0 68,0 6,9 55,0 46,0 11,7 59,2 39,0 18,0 65,0 18,0 80,0 33,3 29,5 2,0 47,0 32,8 26,5 32,8 21,4 7,9 22,9 10,5 15,0 19,0 27,3 75,0 60,5 43,6 24,7 18,5 19,0 14,0 1,0 9,5 25,7 65,0 0,7 24,1 4,9 5,0 7,6 9,0 15,6 18,2 9,9 19,0 18,9

1,9 0,4 1,7 3,0 1,0 2,5 1,1 1,1 1,0 1,0 0,8 N.D. 1,1 1,8 1,2 1,1 1,0 1,5 1,0 1,3 1,0 1,0 1,7 1,0 1,0 2,1 4,1 4,0 0,9 1,6 1,1 2,4 1,0 1,0 0,8 1,5 2,4 1,0 1,0 0,8 2,6 2,2 1,5 1,1 1,6 0,9 2,2 2,4 1,0 1,3 1,5 1,6 1,5 1,5 1,1 1,0 1,0 2,1 1,7 1,4

B-/CWN/-B+/Negativa/-BBB+/Estável/-BBB-/CWN/-BB/Estável/-BBB/Estável/-BBB+/Positiva/-BBB/Negativa/-BB-/CWN/-BB-/Negativa/-AA BBB-/Estável/-BB/CWN/-BB/CWN/-BBB/Negativa/-A-/Negativa/-BBB+/Positiva/-AA B+/CWN/-AABBB+/Negativa/-BB-/Estável/-BB-/Negativa/-BB/CWP/-BBB+/Estável/-A+ BB/Negativa/-brA+/Estável/-BB+/Positiva/-BBB/Estável/A-3 -

70,2 90,0 70,0 75,0 90,0 62,5 57,0 70,0 60,0 70,0 51,2 70,0 60,0 65,0 35,0 35,0 44,3 60,0 43,2 65,0 38,8 38,2 39,0 45,0 36,1 45,0 85,0 50,0 70,0 80,0 45,0 50,0 40,0 45,0 60,0 50,0 33,9 31,0 40,0 25,0 33,6 32,3 70,0 25,0 30,2 28,6 29,8 20,0 40,0 60,0 27,2 26,9 26,5 26,4 60,0 25,4 40,0 24,6 23,9 50,0

51,1 56,1 51,4 95,0 31,9 65,0 35,5 30,5 28,6 80,7 65,5 25,9 31,2 34,9 75,1 16,3 34,2 33,5 18,6 39,4 28,8 19,0 24,0 16,4 20,4 29,0 55,2 38,6 44,3 31,1 28,8 27,3 15,7 16,2 24,0 21,4 29,9 13,6 16,7 13,8 25,1 22,0 30,3 16,6 27,4 15,6 27,8 23,5 15,7 31,3 17,9 25,8 29,4 18,8 49,6 12,7 16,4 19,5 17,8 22,4

70,6 69,7 68,9 66,6 61,9 61,3 58,2 57,4 53,6 53,4 52,7 50,0 48,4 48,0 47,5 46,4 45,1 44,2 43,8 42,8 39,1 38,4 37,9 37,2 36,3 35,9 35,9 35,8 35,6 35,0 34,9 34,7 34,1 33,5 33,4 33,2 31,2 30,9 30,8 30,7 30,3 29,8 29,4 29,4 28,7 28,5 27,1 26,3 26,2 26,1 25,8 25,3 25,1 24,9 24,9 24,9 24,8 22,0 22,0 21,9

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 23


jŶĂƐĞ Ă ůĂ ƌĞƵŶŝſŶ ƉƌĞŵŝĞƌ ĚĞ ŵƵũĞƌĞƐ ĚĞ ŶĞŐŽĐŝŽƐ ĚĞ ƚŽĚŽ Ğů ŵƵŶĚŽ͕ ĂŚŽƌĂ ĞŶ ƐƵ ĂŹŽ ϭϵ͊

/ƌĞŶĞ EĂƚŝǀŝĚĂĚ WƌĞƐŝĚĞŶƚĂ ƵŵďƌĞ 'ůŽďĂů ĚĞ

:ŽĚLJ tŝůůŝĂŵƐ WƌĞŵŝŽ EŽďĞů ĚĞ ůĂ WĂnj͕ ϭϵϵϳ

>ŝnj ůŝĐŝĂͲsĞůĞnj sŝĐĞƉƌĞƐŝĚĞŶƚĂ ũĞĐƵƚŝǀĂ͕ tĞƐƚĞƌŶ hŶŝŽŶ͕ >ĂƚŝŶŽĂŵĞƌŝĐĂ

: 'ŽŶnjĂůĞnjͲ DĞŶĚĞnj WƌĞƐŝĚĞŶƚĞ ĚĞ DĐ ŽŶĂůĚ͛Ɛ ƉĂƌĂ >ĂƚŝŶŽĂŵĞƌŝĐĂ

WƌŽƉŽŶŝĞŶĚŽ EƵĞǀŽƐ WĂƌĂĚŝŐŵĂƐ ƉĂƌĂ Ğů >ŝĚĞƌĂnjŐŽ WŽůşƚŝĐŽ LJ ŵƉƌĞƐĂƌŝĂů ^ĂŶƚŝĂŐŽ͕ ŚŝůĞ ϭϰ Ăů ϭϲ ĚĞ DĂLJŽ ϮϬϬϵ ^ĞĂ ƉĂƌƚĞ ĚĞů ͞ ĂǀŽƐ ĚĞ DƵũĞƌĞƐ͟ jŶĂƐĞ Ă ůĂ ƵŵďƌĞ ƉĂƌĂ͗ x WĂƌƚŝĐŝƉĂƌ ĞŶ ƵŶĂ ƌĞƵŶŝſŶ ŐůŽďĂů ĚĞ ŵƵũĞƌĞƐ ŝŶĨůƵLJĞŶƚĞƐ LJ ůşĚĞƌĞƐ ĚĞ ŐŽďŝĞƌŶŽ LJ ŶĞŐŽĐŝŽƐ͖ x ^Ğƌ ŝŶƐƉŝƌĂĚĂ ƉŽƌ ŵƵũĞƌĞƐ ĚĞ ƚŽĚŽƐ ůŽƐ ĐŽŶƚŝŶĞŶƚĞƐ LJ ĚĞ ƚŽĚĂƐ ůĂƐ ĄƌĞĂƐ ĚĞ ůŝĚĞƌĂnjŐŽ͖ x džƉĂŶĚŝƌ ƐƵ ƌĞĚ ŐůŽďĂů ĚĞ ŶĞŐŽĐŝŽƐ͖ LJ x WĂƌĂ ĂƉƌĞŶĚĞƌ LJ ĐŽŵƉĂƌƚŝƌ ĐŽŶ ƐƵƐ ŝŐƵĂůĞƐ ŵĂŶĞƌĂƐ ĚĞ ĐſŵŽ ŵĞũŽƌĂƌ ƐƵƐ ŶĞŐŽĐŝŽƐ͕ ƐƵ ĐĂƌƌĞƌĂ͕ ƐƵ ǀŝĚĂ LJ ůĂ ǀŝĚĂ ĚĞ ůŽƐ ŽƚƌŽƐ͘

>Ž ƋƵĞ ŽĨƌĞĐĞ ůĂ ƵŵďƌĞ͗ x hŶĂ ǀĞŶƚĂŶĂ ŚĂĐŝĂ ůĂ ĞĐŽŶŽŵşĂ ĐŚŝůĞŶĂ͕ ůĂƚŝŶŽĂŵĞƌŝĐĂŶĂ LJ ĐĂƌŝďĞŹĂ͖ x /ŶƚĞƌŝŽƌŝnjĂƌƐĞ ĞŶ Ğů ĐƌĞĐŝŵŝĞŶƚŽ ĚĞ ŶĞŐŽĐŝŽƐ ĐŽŶĚƵĐŝĚŽƐ ƉŽƌ ŵƵũĞƌĞƐ ĞŵƉƌĞƐĂƌŝĂƐ ĞŶ ĞƐƚĂ ƌĞŐŝſŶ͖ x ͞DĞũŽƌĞƐ WƌĄĐƚŝĐĂƐ͟ ĞŶ ůĂƐ ĂƐŽĐŝĂĐŝŽŶĞƐ ĞŶƚƌĞ ĞŵƉƌĞƐĂƐ LJ ŐŽďŝĞƌŶŽƐ ƉĂƌĂ Ğů ƉƌŽŐƌĞƐŽ ĚĞ ůĂ ŵƵũĞƌ LJ ƉĂƌĂ ƉƌŽŵŽǀĞƌ ŝŶŝĐŝĂƚŝǀĂƐ ͞ĞĐŽůſŐŝĐĂƐ͖͟ x /ŶĨŽƌŵĂĐŝſŶ ƐŽďƌĞ ĐŽŵŽ ŚĂĐĞƌ ŶĞŐŽĐŝŽƐ ĞŶ >ĂƚŝŶŽĂŵĠƌŝĐĂ LJ ĞŶ ŚŝůĞ͖ x z ǀĂƌŝĂƐ ƐĞƐŝŽŶĞƐ ƉĂƌĂ ĂLJƵĚĂƌůĞ Ă ŵĞũŽƌĂƌ ƐƵƐ ŚĂďŝůŝĚĂĚĞƐ ĚĞ ůŝĚĞƌĂnjŐŽ͕ ƐƵ ŶĞŐŽĐŝŽ LJ ƐƵƐ ƌĞĚĞƐ͘

DŝĐŚĞůůĞ ĂĐŚĞůĞƚ WƌĞƐŝĚĞŶƚĂ ŚŝůĞ

DŝĐŚĞůůĞ WŝĞƌƌĞͲ >ŽƵŝƐ WƌŝŵĞƌ DŝŶŝƐƚƌĂ ,Ăŝƚŝ

ŶĂ sŝůŵĂ ůͲ ďĂŶĞnj ĚĞ ƐĐŽďĂƌ sŝĐĞƉƌĞƐŝĚĞŶƚĂ ů ^ĂůǀĂĚŽƌ

EŐƵLJĞŶ dŚŝ ŽĂŶ sŝĐĞƉƌĞƐŝĚĞŶƚĂ sŝĞƚŶĂŵ

͞>Ă ƵŵďƌĞ ŵĞ ŝŵƉƌĞƐŝŽŶſ ƉŽƌ Ğů ĂůƚŽ ƉĞƌĨŝů ĚĞ ůŽƐ ƉĂƌƚŝĐŝƉĂŶƚĞƐ͕ Ğů ƉƌŽĨĞƐŝŽŶĂůŝƐŵŽ LJ Ğů ƚĂůĞŶƚŽ ĚĞ ůŽƐ ĞdžƉŽƐŝƚŽƌĞƐ͕ LJ ůĂ ĂƚŵſƐĨĞƌĂ ŵĂƌĂǀŝůůŽƐĂ ĚĞ ƌĞĚĞƐ ĚĞ ĂƉŽLJŽ Ă ƚƌĂǀĠƐ ĚĞ ůĂƐ ĨƌŽŶƚĞƌĂƐ͘͟ ͲͲ ,\URMGM\ !SIMODS\ 0DRRHS /VESHGRHU\RM\ FH 0R\E\LD )¾YMGD ĂŶŝĞůĂ ŝ &ŝŽƌŝ sŝĐĞƉƌĞƐŝĚĞŶƚĂ ĚĞ ƐƵŶƚŽƐ ŽƌƉŽƌĂƚŝǀŽƐ tĂůͲDĂƌƚ ƌĂƐŝů

>ĂƵƌĂ 'ŽŶnjĂůĞ DŽůĞƌŽ WƌĞƐŝĚĞŶƚĂ LJ ŝͲ ƌĞĐƚŽƌĂ 'ĞŶĞƌĂů͕ DĞƌĐŬ ƐƉĂŹĂ

WĂƌĂ ŵĄƐ ŝŶĨŽƌŵĂĐŝſŶ ǁǁǁ͘ŐůŽďĞǁŽŵĞŶ͘ŽƌŐ dĞůĠĨŽŶŽ͗ ϮϬϮͲϴϯϱͲϯϳϭϯ͖ &Ădž͗ ϮϬϮͲϰϲϲͲϲϭϵϱ

DĞĐŚƚŚŝůĚĞ DĞŝĞƌ DĂƌĐĞůĂ WĞƌĞnj ĚĞ EĂƚĂůŝĞ Ğ 'ƌĞŝĨĨ ŝƌĞĐƚŽƌĂ 'ĞŶͲ sŝĐĞƉƌĞƐŝĚĞŶƚĂ ĚĞ ůŽŶƐŽ ŝǀĞƌƐŝĚĂĚ ĚĞ sŝĐĞƉƌĞƐŝĚĞŶƚĂ ĞƌĂů͕ / D ŽůŽŵͲ ďŝĂ 'ƌƵƉŽ͕ ĞƵƚƐĐŚĞ ũĞĐƵƚŝǀĂ͕ ZĞĐƵƌͲ dĞůĞŬŽŵ ƐŽƐ ŚƵŵĂŶŽƐ͕ ,W

ZĂůŝƚƐĂ sĂƐƐŝůĞǀĂ͕ WƌĞƐĞŶƚĂĚŽƌĂ͕ EE /ŶƚĞƌŶĂͲ ƚŝŽŶĂů

DĂƌĚŝĂ ǀĂŶ ĚĞƌ DĂƌŝĂ ĞĂƚƌŝnj ^ƵŶŐ :ŽŽ <ŝŵ tĂůƚͲ<ŽƌƐƚĞŶ ZŽĚƌŝŐƵĞnj ŝƌĞĐƚŽƌĂ 'ĞŶͲ ŝƌĞĐƚŽƌĂ 'ĞŶͲ ŝƌĞĐƚŽƌĂ 'ĞŶĞƌĂů͕ ĞƌĂů͕ D D ĞƌĂů͕ dͲ^LJƐƚĞŵƐ͕ WƌŽĐƚĞƌ Θ 'ĂŵďůĞ ^ƵĚĂĨƌŝĐĂ ŽůŽŵďŝĂͶ ĐƵĂĚŽƌ

>ĂƵƌĂ ůďŽƌŶŽnj DŝŶŝƐƚƌĂ͕ ^ĞƌǀŝĐŝŽ EĂĐŝŽŶĂů ĚĞ ůĂ DƵũĞƌ͕ ŚŝůĞ

ƌĂŝŐ ,ĞƌŬĞƌƚ WƌĞƐŝĚĞŶƚĞ LJ ŝƌĞĐƚŽƌ ƉĂƌĂ ůĂƐ ŵĞƌŝĐĂƐ͕ tĂůͲDĂƌƚ


ESPECIAL MULTILATINAS FRENTE A FRENTE Comparação de indicadores financeiros de multilatinas e multinacionais selecionadas Fonte: AméricaEconomia Intelligence

Empresa DASSAULT

País

Setor

Fra

Aeroespacial

0,95

1,42

3,28

9,2%

N.D.

EMBRAER

Bra

Aeroespacial

1,50

-0,18

-8,13

8,2%

19,3%

SANTANDER

Esp

Financeiro

1,79

15,77

0,15

13,3%

26,6%

Bra

Financeiro

1,23

1,95

0,37

42,1%

69,5%

V/S

V/S

ITAÚ HOLCIM

Liquidez

ROE

Rent. EBITDA

Sui

Cimento

0,93

1,51

1,16

18,7%

29,7%

CEMEX S.A.

Méx

Cimento

0,40

1,28

0,70

1,2%

25,6%

SAP

V/S

Ale

TI

0,99

0,94

-13,36

26,0%

N.D.

SONDA

Chi

TI

0,99

0,94

0,84

26,0%

0,0%

IBERIA

Esp

Transporte

1,38

3,60

0,57

-1,2%

32,0%

Bra

Transporte

1,64

3,83

0,52

-0,7%

29,9%

V/S

V/S

TAM ANGLO AMERICAN

RU

Mineração

1,22

2,33

0,39

45,1%

59,9%

VALE

Bra

Mineração

3,00

0,21

0,91

22,1%

33,8%

SHELL

V/S

RU/Hol

Petróleo/Gás

1,10

2,19

0,69

20,4%

39,6%

PETROBRAS

Bra

Petróleo/Gás

1,00

0,34

1,34

23,8%

44,9%

MEARSK

V/S

Din

Transporte

0,98

1,17

2,54

11,1%

10,4%

CSVA

Chi

Transporte

1,40

0,29

2,38

-4,7%

-11,7%

AT&T

EUA

Telecom

0,53

1,75

0,58

13,4%

44,6%

Méx

Telecom

1,30

2,57

0,40

51,3%

146,7%

V/S

V/S

TELMEX

O relatório, no entanto, dá vantagem às multilatinas quando se analisa a solidez financeira. Tal como mostra o quadro “balanço contra balanço”, as latinoamericanas têm, em média, maior liquidez e melhor estrutura financeira, algo importante em meio a uma crise econômica cuja principal característica é justamente a falta de crédito. Quando comparamos as multilatinas com multinacionais do mesmo setor em termos de sanidade financeira, as nossas ganham muitas batalhas (quadro “frente a frente”). Algo que pode ser determinante, como disse Marcelo

NO QUADRILÁTERO Fonte: AméricaEconomia Intelligence

Multilatinas Multinacionais

100% 75% 50% 25% 0% 25% -50%

1,0

2,0 3,0 Liquidez Corrente

4,0

Bahia Odebrecht, CEO do grupo brasileiro Odebrecht. “Aquelas empresas que conseguirem manter sólidas posições financeiras e disponibilidade de caixa, terão uma grande oportunidade para incrementar sua participação no mercado mundial”, disse o brasileiro. “As companhias latinoamericanas devem ver isso como uma oportunidade única para se tornarem competidores-chave do mercado global, ainda que sempre com um olho na liquidez”. É que, nos próximos trimestres, o acesso a capital de giro será a principal vantagem competitiva no cenário mundial. Q

RANKING MULTILATINAS

Liquidez vs ROE em Multilatinas e Multinacionais

ROE

Pa.Tot/Patrim. Curto vs Longo

5,0

Para medir o grau de globalização das empresas latinoamericanas, consideramos cinco variáveis principais que conformaram o Índice de Globalização. As três primeiras se relacionam ao conceito “operações no exterior”, que incluem três itens. Em primeiro lugar, as exportações da matriz e as vendas das filiais, bem como o percentual que estas representaram no total da receita da companhia em dezembro de 2008. Em segundo lugar, o número de trabalhadores das filiais sobre o total de empregados da companhia. Depois consideramos o percentual de investimento ou ativos das companhias no exterior sobre o total de investimentos (ou ativos) em dezembro de 2008. Essas três variáveis tiveram peso de 50% no modelo final – respectivamente, 10%, 10% e 30%. A quarta variável é a cobertura geográfica, constituída a partir da análise de quão diversificadas são as operações da empresa no mundo. Foram consideradas oito zonas econômicas, às quais foram dadas uma ponderação segundo o grau de dificuldade que as multilatinas registram para chegar a cada uma. O indicador final teve um peso de 20%. Finalmente, incluiu-se uma variável chamada potencial de crescimento internacional, que teve peso de 30% e que foi constituída por três indicadores. O primeiro é o tamanho da companhia, com 60% de peso; o segundo, a liquidez da empresa, com 20%; e o último, um fator qualitativo (em base 100) de percepção que inclui planos de investimento, aquisições recentes e espaços que a empresa possui para crescer no mercado global segundo o setor de atuação, que tem uma ponderação de 20%. Mais informações sobre a metodologia do ranking Multilatinas em www.americaeconomia.com.br

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 25


ESPECIAL MULTILATINAS

DOMAR A CRISE Fechando um agressivo ciclo de internacionalização, a JBSFriboi desiste da National Beef e se apruma para enfrentar os solavancos do mercado Dubes Sônego, São Paulo

E

AP

m outro cenário econômico, seria uma verdadeira derrota. Depois de uma batalha judicial nos EUA, no final de fevereiro, a brasileira JBS-Friboi, maior produtora mundial de carne bovina, anunciou que desistiu da compra da norteamerica National Beef, acertada no início do ano anterior. Em meio a uma crise que vem derrubando mercados mundo afora desde o final de 2008, porém, a notícia soou mais como uma velha máxima popular: a de que há males que vêm pro bem. Adiantada em um até então exitoso processo de internacionalização, iniciado em 2005, a JBS-Friboi terá a disposição cerca de US$ 900 milhões extras em caixa. E poderá aproveitar novas oportunidades tão logo o mercado melhore. É algo de que o mercado não duvida. “Sua entrada nos EUA foi uma surpresa para todos, aconteceu de forma extremamente agressiva e inesperada, como nunca havia acontecido”, diz Jim Robb, economista e diretor do The Livestock Marketing Information Center (LMIC), entidade que analisa e faz projeções sobre o setor de frigoríficos dos Estados Unidos, desde 1955. “Eles não voltarão a adquirir outro grande frigorífico nos EUA, por questões regulatórias. Mas, não ficaria surpreso se anunciassem a compra de novas empresas na América do Sul, no México, Canadá ou Austrália. Há claramente uma visão de longo prazo”, diz. A JBS-Friboi é hoje a empresa brasileira mais internacionalizada e ocupa posição de liderança também entre as companhias mais globalizadas da América Latina, segundo estudo da AméricaEconomia Inteligence. Com 86,3% das vendas no mercado externo, 69,3% dos ativos no exterior e 19,5% de presença global, tornou-se em pouco mais de quatro anos a maior companhia de produtos a base de carne bovina do mundo e a terceira maior produtora de carne suína dos EUA. É uma história que surpreende pela velocidade dos acontecimentos e magnitude dos números. A movimentação da JBS no tabuleiro de xadrez do mercado internacional de carnes começou em 2005, com a compra da Swift Armour, na Argentina, por um 26 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

valor estimado em cerca de US$ 300 milhões. O investimento alçou a companhia ao posto de maior produtora mundial de carne industrializada e ampliou seu acesso à União Europeia, que impunha aos exportadores brasileiros cotas quase cinco vezes menores que as argentinas. Em 2007, embalada pela abertura de capital na BM&F Bovespa, a companhia deixou de lado os pudores e resolveu entrar no maior mercado mundial pela porta da frente. Por US$ 1,4 bilhão, adquiriu o controle de uma das maiores produtoras de carne bovina e suína do país, a Swift Food Company. E, no ano seguinte, já como maior produtora de carne bovina do mundo, adquiriu participação de 50% na italiana Inalca e o controle dos frigoríficos australiano Tasman, bem como o dos norteamericanos Smithfield e National Beef (este depois cancelado), ampliando sua posição em nível mundial e as sinergias e ganhos de escala no mercado dos EUA, dominado por Tyson e Cargill. A rápida internacionalização se refletiu nos números. De 2007 para 2008, a receita líquida da JBS saltou de R$ 14 bilhões para R$ 30 bilhões, com o abate de 10,5 milhões de cabeças JBS: os caubóis terão que esperar de gado, 12,6 milhões de cabeças de suínos e 1,8 milhões de animais de pequeno porte. Uma produção distribuída em 22 unidades no Brasil, seis na Argentina, 16 nos Estados Unidos, dez na Austrália e dez na Itália. “Eles hoje detêm uma plataforma internacional que os permite escolher entre várias unidades, em diferentes países, a que oferece as melhores condições de competitividade para cada cliente”, diz Pedro Herrera, analista do HSBC nos EUA. “É uma característica que garante flexibilidade e agilidade, além de acesso a mercados vetados ao Brasil por barreiras comerciais e sanitárias”. Opinião compartilhada pelo canadense James Henderson, professor de gerenciamento estratégico do Internacional Institute for Management Development (IMD). “Uma companhia global pode se beneficiar da transferência de melhores práticas


ESPECIAL MULTILATINAS O Independência é um caso de destaque. Mas não é o único. De acordo com estimativas de entidades representativas do setor, apenas os frigoríficos em situação jurídica semelhante teriam cerca NOVOS DESAFIOS de R$ 700 milhões em dívidas com pecuaristas. “Nas localidaA expansão, porém, trouxe novos desafios. Alguns deles agra- des onde concorrentes fechem unidades, com certeza será mais vados pela crise. “O mercado dos EUA ainda está abaixo do que fácil comprar gado”, diz Alcides de Moura Torres, engenheiro estava no mesmo período do ano passado, em preços e volumes. agrônomo e analista de mercado da Scot Consultoria. E os produtores não estão conseguindo repassar ao consumidor Isso em um momento em que a demanda por bois é mais o aumentos dos insumos”, diz Robb, da LMIC. É nos Estados alta que a oferta, afetada nos últimos anos por forte retração nos preços pagos aos pecuaristas. “O setor, no Brasil, é um oligopUnidos que a JBS tem hoje quase metade de suas vendas. Não à toa, em recente conferência de apresentação dos re- sônio. São poucos os grandes compradores de matéria-prima, e sultados ao mercado, Joesley Batista, presidente da companhia, muitos os fornecedores”, diz Gílson de Lima Garófalo, professor fez questão de frisar os avanços nas operações norteamericanas. de economia na PUC-SP. O que facilita a imposição de preços “Saímos de um Ebitda de US$ 84,5 milhões negativos (quarto muitas vezes nocivos à sustentabilidade da cadeia produtiva. trimestre de 2007) para um positivo de US$ 60,4 milhões (quarto Entre 2005 e 2006, considerado o fundo do poço no setor, a trimestre de 2008)”, afirmou o executivo, ressaltando dados como arroba do boi chegou a ser cotada a R$ 50. A queda estimulou a ampliação do mesmo indicador na Swift, de US$ 96 milhões, o abate de fêmeas, a redução do rebanho (hoje estimado em cerca de 170 milhões de cabeças) e a um alongamento do ciclo quando foi adquirida, para US$ 370 milhões, atualmente. Batista destacou ainda o fato de os processos de reestruturação reprodutivo. Agora, a escassez de matéria-prima tem levado a e integração das companhias adquiridas já estarem finalizados. um aumento nos preços da carne (pouco acima de R$ 75 a arroba E a redução da relação entre a dívida da JBS e seu Ebitda, de - ESALQ/BM&FBovespa) e os frigoríficos têm que arcar com o custo mais alto num momento em que não podem repassar a 4 vezes para 1,95. Mas nem todos os problemas se concentram no mercado conta ao consumidor final para não fragilizar a demanda já em norteamericano. Na Argentina, por exemplo, há o autoembar- queda. “Quando sobe a renda, as famílias incorporam carne à go às exportações de carne imposto pelo governo para evitar dieta. Quando cai, ela é substituída”, diz o professor Antônio o desabastecimento interno, Márcio Buainain, do Núcleo de que levou a JBS a perder Economia Agrícola do Instituto milhões de dólares no país. A de Economia da Unicamp. companhia vinha acumulando Por outro lado, com o mercaestoques e, quando veio a crido internacional desfavorável, a Dívida líquida – R$ 3,3 bilhões (1,95 X Ebitda) Receita líquida – R$ 30,3 bilhões se, não conseguiu desová-los, tendência é de acirramento na Ebitda - R$ 1,15 bilhão amargando a desvalorização disputa no mercado interno que, Lucro líquido – R$ 25,9 milhões da carne, cotada abaixo do segundo a Associação Brasileira Bois abatidos – 10,5 milhões preço de custo com a queda de Frigoríficos (Abrafrigo), é 70% Suínos abatidos – 12,6 milhões atendido por frigoríficos de pequena demanda. No geral, a siAbate de animais de pequeno porte - 1,8 milhão no e médio portes. “As grandes tuação fez com que aumenVendas mercado doméstico – 4.465 mil toneladas tasse o abate de matrizes e companhias estão redirecionado Vendas mercado externo – 1.666 mil toneladas provocou a queda do país da suas exportações para o mercado Países em que tem unidades de produção – Brasil, Argentina, EUA, terceira para a oitava colocainterno e, com isso, devem sentir Austrália e Itália. ção no ranking mundial de o peso de impostos como PIS e exportadores de carne bovina, Confins, que não incidem sobre as em dois anos, diz José Vicente Ferraz, diretor da consultoria exportações”, avalia Péricles Salazar, presidente da entidade. AgraFNP. “Tem que voltar aos trilhos. Senão, me mudo para a Mesmo com a reabertura de mercados como o chileno, granArgentina pra fazer funcionar”, disse Joesley, na apresentação de consumidor e re-exportador de carne, por conta de acordos bilaterais de comércio que mantém, e as perspectivas de retodo balanço de 2008. mada das vendas à União Europeia, há outros fatores que pesam INCÓGNITA DOMÉSTICA negativamente. A queda no preço do petróleo afetou fortemente No mercado brasileiro, há boas e más notícias para a empre- as encomendas de grandes clientes, como Venezuela, Rússia e sa. países do Oriente Médio. E muitos deles ainda nem pagaram No grupo das primeiras, estão a fragilização de boa parte dívidas anteriores à crise. dos rivais e o provável surgimento de pechinchas entre os Mas estes talvez sejam detalhes conjunturais menores para mais afetados. Muitos dos concorrentes da JBS-Friboi foram quem, como Joesley, já enxerga luz no fim do túnel: “Vamos pegos no contrapé da crise, com grandes dívidas em dólares, crescer muito mais do que imaginávamos, e de forma muito alta capacidade ociosa e pouco dinheiro em caixa. O exemplo mais barata. Todos os nossos movimentos são de preparação mais emblemático é o do frigorífico Independência, um dos interna para, quando for o momento, estarmos aptos a crescer e cinco maiores do País, que pediu recuperação judicial, vendeu cumprir o business plan”. Nada menos que participação mundial cinco unidades industriais e não descartava vender mais para acima de 25% em volume de abates. Uma meta que depende de domarem uma crise que já derrubou outros caubóis. Q levantar recursos. e tecnologias entre suas unidades em diferentes países”, diz o acadêmico.

Estância global

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 27


ESPECIAL MULTILATINAS

F

AFP

Lula e o primeiro-ministro português: pela internacionalização

COMO CRESCER História de multilatinas indica que o desafio para uma segunda geração de grandes internacionalizações entre empresas da região será maior Solange Monteiro 28 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

evereiro foi daqueles meses dignos de esquecer para a brasileira Embraer. Nesse período, teve que anunciar a demissão de 4,2 mil funcionários, 20% de sua força laboral, atiçando o ânimo da opinião pública e deixando o presidente Lula de cabelo em pé. Semanas depois, entretanto, anunciou o apoio do BNDES para a venda de aviões à Aerolineas Argentinas, aliviando o panorama de desistências e prorrogações de pedidos, previsível dentro de uma indústria que espera um 2009 magro. E, mesmo em condições delicadas de caixa, confirmou o anúncio feito em 2008 de investir 148 milhões de euros na construção de fábricas em Portugal, em um período de seis anos. Um contrassenso? Não. Nesse coquetel da Embraer pode-se encontrar elementos comuns a várias grandes multilatinas que hoje despontam no mercado como líderes. O fato de manter investimentos externos, por exemplo, é uma marca fundamental das empresas globalizadas, que aprenderam a pensar que perenidade, no caso delas, significa tomar decisões que extrapolam o contingente doméstico. “Nossa intenção hoje é ter foco na gestão financeira e concentrar os investimentos em projetos que nos trarão benefícios tecnológicos quanto a novos produtos para quando a situação do mercado voltar à normalidade”, diz Luís Carlos Siqueira, vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da empresa, lembrando ainda outra linha de montagem que está sendo desenvolvida pela Embraer no Sul da Flórida. E ter no governo a figura da mão que bate mas também afaga é uma característica que, de certa forma, relembra que a companhia, bem como outras multilatinas da região, tiveram no Estado total apoio para ganhar musculatura dominando o mercado doméstico sem concorrência externa – e, com isso, armando-se de um bom colchão financeiro para então sair a competir no exterior. “Atualmente, ainda que venha uma grande onda


ESPECIAL MULTILATINAS protecionista, dificilmente se repetirá o contexto da política de substituição de importações em que empresas como Siderca (Tenaris), Cemex e mesmo Embraer evoluíram”, diz Gabriel Basaluzzo, diretor do mestrado em Finanças da Universidade de San Andrés, em Buenos Aires. “Ainda que Hugo Chávez tente fazê-lo, esse marco de proteção não existe mais, pois é um mercado globalizado. E parece difícil ver uma segunda geração de multilatinas conseguir extrapolar segmentos de nicho e ganhar a escala conquistada por essas grandes.” Assim, lembra Basaluzzo, a Tenaris que hoje apresenta uma nacionalidade difusa, dividida entre domicílio fiscal em Luxemburgo e escritórios comerciais em Buenos Aires, México, Houston e Milão, teve como berço a demanda exclusiva do Estado argentino em suas obras de infraestrutura. “Até meados dos anos 70 tinha um produto ruim, só servia ao governo, até que começou a mudar de paradigma investindo em tecnologia”, conta. Isso foi fundamental, pois no início dos 80, com a crise do petróleo, a companhia pôde ocupar o lugar de muitos players que abandonaram o mercado. “E, logo nos anos 90, com a facilidade de acesso ao mercado de capitais, puderam começar uma onda de aquisições que lhe possibilitou ampliar o foco à prestação de serviços. Assim, com atenção ao cliente e tempo de entrega mínimo, não houve como competir com ela.” Gustavo Herrero, diretor executivo da Harvard Business School, também destaca o fato de algumas indústrias necessitarem mais do que outras da representação física para conquistar alcance global. “Tenaris, Gerdau, Vale, Elektra são casos que demandam essa presença física que suplanta a própria exportação.” No caso da Embraer, Andrea Goldstein, economista sênior do Centro de Desenvolvimento da OCDE, aponta uma vantagem que a então estatal teve nos anos 70: o fato de que, para entrar no Brasil e em outros países do sul, algumas empresas estrangeiras estiveram dispostas a outorgar licenças para utilizar sua tecnologia, já que se tratava de um mercado pequeno. “A Embraer focou sua atividade em relativamente poucas coisas – design, montagem, rede de abastecimento e serviço de pós-venda – e foi se diferenciando de companhias como a Bombardier por sua forte confiança em fornecedores que são seus parceiros e dividem o risco em projetos novos, além de outras alianças estratégicas, sem o que ela não estaria no lugar em que está”, diz. “Ter o parceiro desde o primeiro momento de configuração do projeto traz benefício em diversas dimensões. E o compartilhamento dos recursos financeiros ajuda no desenvolvimento, pois é um setor de capital intensivo, de investimento de longo prazo”, diz Siqueira, da Embraer. Goldstein ainda destaca que “o baixo nível de integração vertical que hoje está se tornando norma na indústria (incluindo rivais maiores como Airbus e Boeing) é devido ao sucesso da Embraer, e por isso sua influência tem sido substancial”, diz. Jaime Alonso Gómez, do Egade (Tec de Monterrey), conta que no México a formação de alianças com players internacionais também se constituiu em um componente-chave para a internacionalização das empresas locais. “Isso aportou management know-how, tecnologia dura para empresas

como Vitro, Bimbo, Cemex. Com isso elas fortaleceram sua posição no mercado doméstico e começaram a exportar.” O norteamericano John Bradford McBride Pitts, acadêmico do Itam, vive há 25 anos no México e diz ter podido observar o grande salto dado pelas multilatinas do país. Mas faz sua ressalva. “No México, o acesso de um novo competidor ao mercado interno é difícil. A Cemex o tem limitado através de distintos esforços; a Telmex cobra altas tarifas e tem grande fama por dificultar a entrada da concorrência. E isso permite o acúmulo de lucro e margens muito elevadas”, afirma. “E assim, quando o mercado se satura, essas empresas podem pegar o dinheiro e buscar outras praças.” O acadêmico admite, entretanto, que isso não seria possível sem a busca por competitividade e o alto nível de formação dos executivos de tais empresas. “Se de um lado é um mercado protegido, os mexicanos são duros na forma de negociar. Têm um nível de formação de pessoal elevado e por isso conseguem ser eficazes no exterior.” E se a tendência no México ainda é por uma indústria infante, no Chile a realidade parece ser diferente. Pelo menos para empresas como a varejista Falabella, que além de estar em um segmento de mais difícil internacionalização que outros como o siderúrgico, de telecomunicações ou bancário, já que trata de serviços ao consumidor e de cultura de consumo, teve que aprender com a concorrência internacional direta como melhor se posicionar fora. “No final dos anos 90, Falabella

As grandes multilatinas nasceram sob as asas do protecionismo e das compras estatais. Hoje, em um mundo globalizado, é difícil que surjam novas companhias com uma escala similar. realizou uma joint venture com a HomeDepot para concorrer com o local Sodimac. Perdeu dinheiro nos três anos em que essa aliança durou, mas ganhou aprendizagem em tecnologia de varejo que a permitiu sair mais competitiva”, conta a chilena Constanza Bianchi, pesquisadora da Queensland University of Technology, na Austrália. “A própria D&S antecipou-se à chegada do Carrefour, buscando os melhores pontos geográficos para estar frente a frente à rede francesa quando essa chegasse, competir e aprender com ela, mas acabou sendo comprada pelo Wal-Mart”, diz. Seja como for, o que os analistas concordam é que essas multilatinas guardam em seu DNA as vantagens de saírem de um continente com tantos desafios. “Sem dúvida elas possuem uma capacidade para redesenhar seus processos de dívida, pois vêm de países que servem de benchmarking para muitas consultorias internacionais”, diz Gómez, do Egade. “Outro elemento é a elasticidade no modelo de negócios para aumentar ou reduzir-se que tiveram que exercitar, depois de viver tantas crises econômicas, com seu patrimônio impactado, subindo e descendo.” Algo que Cemex e Embraer, por exemplo, agora terão que provar na prática que sabem fazer. E sair-se melhor que a concorrência. Q ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 29


RODRIGO DÍAZ CARRIZO

NEGÓCIOS PUBLICIDADE

30 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009


A DUPLA CRISE DA MÍDIA

Queda do investimento publicitário e bruscas mudanças nos hábitos da audiência. Os meios tradicionais buscam uma forma de sobreviver, ainda que sem saber muito bem como Rodrigo Lara Serrano

AS DISCREPÂNCIAS ENTRE OS NÚMEROS DE VENDAS OU INVESTIMENTOS PUBLICITÁRIOS DE ALGUNS QUADROS SE DEVE A QUE, EM CERTOS CASOS, ALGUMAS FONTES UTILIZAM OS PREÇOS DE TABELA E OUTRAS ESTIMAM OS PREÇOS REAIS, QUE COSTUMAM SOFRER DESCONTOS IMPORTANTES.

A

senhora da banca de jornal não titubeia ao responder a minha pergunta. “Vende-se menos jornais? Não. Diria até que vende-se um pouco mais.” Será que as pessoas querem informar-se sobre a crise? “Não sei. Acho que é mais porque estão em busca de emprego, sabe?” Na esquina da Jorge Luis Borges com a Honduras, em Buenos Aires, Argentina, a notícia da morte dos jornais e o ocaso das revistas é completamente exagerada. Onde não há exagero, entretanto, é na certeza de que o setor mídia e seu irmão gêmeo, o segmento publicitário, encontram-se no umbral de várias mudanças recheadas de incerteza. Desde como conquistar o “jovem digital” aos modelos de negócios na internet que hoje são experimentados, ninguém sabe muito bem a qual direção apontar. E a isso se soma a crise mundial, que aumentou brutalmente o caráter de urgência dessa busca, devido à queda no nível de anunciantes. Que os jornais podem su-

cumbir a qualquer momento, tal qual dinossauros, é um fenômeno inegável. Ao menos nos EUA já é fato. Desde janeiro de 2008, já são cerca de 120 os jornais que fecharam suas portas. A pergunta que

Pablo Maas, professor de Economia de Mídia da Universidade de Buenos Aires (UBA) descarta imediatamente uma das hipóteses. “A circulação global dos jornais está aumentando”, diz. É verdade

Na Argentina, um desses diários gratuitos, o La Prensa, tem tiragem diária de 100 mil exemplares. Seu concorrente El Argentino afirma distribuir entre 150 mil e 200 mil exemplares por dia. Em 2008

A circulação de jornais cai entre 2% e 3% ao ano devido à internet. E o impacto parece ser maior no rádio e na TV. fica é: fecha porque as pessoas migraram para a internet e já não os leem, ou porque os anunciantes já não compram espaços publicitários?

que “está caindo nos EUA e Europa, mas aumentou muito na Ásia”. Além disso, diz, “se multiplicam os jornais gratuitos”.

ainda foi lançado o jornal pago Crítica de la Argentina, cuja circulação oscila entre 50 mil e 60 mil exemplares. A situação do Brasil é

MENSAGEM AO CONSUMIDOR

Investimento publicitário na América Latina 2008 (US$ milhões)

FONTE: ESTIMATIVAS DA ASSOCIAÇÃO ARGENTINA DE AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE SOBRE A BASE MONITOR DE MEIOS PUBLICITÁRIOS, IBOPE MEDIA LATINOAMÉRICA (BRASIL) E ASSOCIAÇÃO MEXICANA DE AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE

SEGMENTO

ARGENTINA US$

BRASIL

% PARTIC.

US$

MÉXICO % PARTIC.

US$

% PARTIC.

TV

758,57

45,20

2.635,33

32,09

2.084,20

68,39

TV PAGA

125,57

7,48

598,19

7,28

221,46

7,27

JORNAIS

639,70

38,11

3.839,90

46,76

295,95

9,71

REVISTAS

96,85

5,77

1.011,69

12,32

139,53

4,58

RÁDIOS

57,70

3,44

127,11

1,55

306,27

10,05

TOTAL PAÍS

1.678,39

100

8.212,22

100

3.047,41

100

% DE PARTICIPAÇÃO ENTRE OS TRÊS PAÍSES

12,97

63,47

23,56

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 31


NEGÓCIOS PUBLICIDADE semelhante. O índice de penetração dos jornais (leitores entre 12 e 67 anos) se mantém estável (37%) se forem consideradas as medições 2002/03 e 2007/08. Mas não se trata de uma maturidade dourada. Dora Câmara, executiva do Ibope Mídia Brasil, afirma que essa estabilidade se explica pelo “surgimento de novos jornais de preços menores e outros gratuitos, o que garantiu os índices de leitura”. De fato, o investimento publicitário, apesar de ter se mantido quase igual entre 2007 e 2008 (R$ 14,8 milhões e R$ 14,9 milhões, respectivamente), em participação percentual registrou queda de 29% a 26%. Segundo Maas, é certo que à medida que emerge o consumo de internet, os jornais sentem o impacto: a queda de circulação por migração

SENHORA TV

PARTICIPAÇÃO PORCENTUAL DO GASTO PUBLICITÁRIO NO BRASIL, 2008 FONTE: PROJETO INTER-MEIOS (MEIO & MESAGEM / PRICEWATERHOUSECOOPERS) LISTAS E GUIAS

1,1% EXTERNA

2,9%

CINEMA

0,4%

TV PAGA

4,0%

RÁDIO

4,4%

INTERNET

4,4% REVISTAS

8,4%

TV ABERTA

60,5%

DIÁRIOS

13,9%

e aumentou em termos de faturamento. Luis M. Castro, presidente da Câmara Argentina de Anunciantes, estima que – frente a fenômenos semelhantes que podem ser vistos na Argentina

nhecer que “o público, e em especial os jovens, estão se afastando dos meios gráficos tradicionais”. E, com isso, a publicidade que acompanha essa audiência. Por enquanto, “os meios gráficos continuam

Jovens se afastam dos meios gráficos tradicionais, mas circulação de diários gratuítos é crescente. à internet é de 2% a 3% ao ano. Não obstante, o impacto parece ser maior nas rádios e, inclusive, na TV. Uma enquete da Deloitte com 9 mil pessoas em diversos países, das quais 1.022 eram brasileiros, descobriu que para 81% o PC era mais relevante que a TV quanto a entretenimento. Na mostra, que incluía participantes dos 14 aos 75 anos, os brasileiros afirmavam passar três vezes mais tempo na internet do que na TV. Entretanto, isso ainda não provoca mudanças visíveis na TV do País. A participação desta no investimento publicitário manteve-se estável (50% e 51% em 2007 e 2008) 32 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

– a contradição é só aparente. “Com atraso, estamos vendo as mesmas tendências gerais que no restante do mundo”, diz. “Apesar de os diferentes segmentos etários demonstrarem comportamentos distintos.” Para ele, cifras mais, cifras menos, é preciso reco-

MENTALIDADE TELEVISIVA Investimento publicitário no Uruguai, 2008, em US$ milhões FONTE: IBOPE URUGUAI

MEIO TV

US$ 860

sendo atraentes para um bom número de marcas e suas atividades”, mesmo que “pense que seja necessária uma revisão das estratégias de marketing dos meios gráficos”, no médio prazo.

VER E OUVIR

Investimento publicitário na Colômbia, 2008, em US$ milhões (%) FONTE: IBOPE MEDIOS, COLÔMBIA

TV NACIONAL

LISTAS E GUIAS

774

27,2

IMPRESSA

449

15,8

TV REGIONAL

207 145

2008

39,8

48,6

257,4

257,6

EXTERNA

279,6

322,3

INTERNET

277,70

414,80

7,3

TV PAGA

338,2

440,4

5,1

RÁDIO

403,4

497,7

REVISTAS

852,6

1.002,20

JORNAIS

1.630,50

1.893,50

TV ABERTA

5.919,70

6.943,20

DIÁRIOS

81

EXTERNA

54

1,9

EXTERNA

32

TV INTERNACIONAL

50

1,8

2.843

100

TOTAL

FONTE: PROJETO INTER-MEIOS (MEIO & MENSAGEM / PRICEWATERHOUSECOOPERS)

CINEMA

18

991

Faturamento bruto de publicidade no Brasil, em US$ milhões

40,9

REVISTAS

TOTAL

COQUETEL MIDIÁTICO

2007 1.161

RÁDIO

REVISTAS

Apesar de a queda das revistas ser mais pronunciada em casos individuais, os jornais estão mais à mercê da publicidade, diz Pablo Maas. “Os diários dependem entre 70% e 80% da receita publicitária, as revistas, 50% e a TV a cabo, 20%.” Não é estranho, então, que a atual crise golpeie especialmente os jornais e revistas. “A TV aberta, os jornais e as revistas podem ser os mais afetados. Os menos golpeados deverão ser a TV a cabo e as rádios com audiência cativa”, afirma Castro. “A queda real pode ser da ordem de 5%. Mas as expectativas podem mudar, porque é ano eleitoral na Argentina. Um menor investimento do setor privado poderia ser parcialmente compensado com mais publicidade oficial e dos partidos políticos.” Em São Paulo, Roberto Mesquita, presidente da NeoGama / BBH, afirma que a TV pode sair ganhando, porque “em período de crise sempre há um aumento da aversão ao risco por parte dos anunciantes.” E, em função disso, “os meios mais consolidados são os que mais se beneficiam, motivo pelo qual as redes de TV receberam mais investimentos no início deste ano: é

TOTAL

9.999,30 11.820,70


LEITURA OBRIGATÓRIA

PODER PRODUTIVO

Leitores de diários em Santiago do Chile, 2008

Investimento publicitário

FONTE: AMÉRICAECONOMIA, SOBRE A BASE DO RELATÓRIO DA KMR CHILE

CIRCULAÇÃO MÉDIA

LA CUARTA

CIRCULAÇÃO DOMINGO

FONTE: ASSOCIAÇÃO ARGENTINA DE AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE - INFORME OFICIAL DE INVESTIMENTO PUBLICITÁRIO LATINOAMERICANO 2008

PAÍS

2008

2007

2008

2007

530.000

511.000

535.000

575.000

ARGENTINA

INV. 2008 US$ MILHÕES

PIB 2008 US$ MILHÕES

INV. COMO % DO PIB

1.678,39

216.932

0,774

8.212,22

874.827

0,939

EL MERCURIO

386.000

363.000

554.000

590.000

BRASIL

LA TERCERA LAS ULTIMAS NOTICIAS PUBLIMETRO *

327.000

364.000

420.000

487.000

MÉXICO

3.047,41

852.844

0,357

TOTAIS

12.938,02

1.944.604

0,665

LA HORA *

368.000

403.000

363.000

575.000

367.000

381.000

Não circula

Não circula

280.000

279.000

Não circula

Não circula

LA SEGUNDA **

73.000

73.000

Não circula

Não circula

LA NACIÓN ***

29.000

30.000

39.000

Sem dados

2.360.000

2.404.000

1.911.000

2.227.000

TOTAIS

* GRATUITOS, ** VESPERTINO, *** ESTATAL. AS CIFRAS INFERIORES A MIL FORAM ARREDONDADAS

um meio que oferece resposta imediata”. Nesta crise, não acontece o mesmo com jornais e revistas. “Isso se deve à redução do número de grandes anunciantes, como o setor imobiliário”, diz. Nas revistas, a queda está ligada ao fato de que são um meio que se presta mais à campanhas de construção de imagem de marca, que são ações estratégicas. E hoje os anunciantes querem resultados de curto prazo, práticos. Aos meios cujo suporte é a internet, por outro lado, a novidade e o tamanho relativamente pequeno ajudam a abrir um espaço no orçamento das empresas. Também os empurram os que, por enquanto, não sabem se é uma mudança dramática ou uma maquiagem sobre o que já existe: o surgimento do “prosumer”, que vem da junção de consumidor e produtor. “Os paradigmas da publicidade estão mudando”, diz Castro, da Câmara Argentina de Anunciantes. Gradualmente, o consumidor se torna um prosumer”. Isto significa que se espera que a audiência publicitária deixe de ser um “sujeito passivo” para participar em novas fases

de criação da mensagem publicitária: “Esta é a revolução da web 2.0 que antecede a 3.0. O consumidor morreu, viva o prosumidor! Internet, telefonia móvel e todos os modelos intermediários têm de considerar um prosumer com atenção múltipla. Por isso são necessários muitos mais meios para transferir as mensagens das marcas”.

comerciais. É que “as reações são as tradicionais por parte das agências, das centrais e dos meios: reduzir custo fixo”, diz Castro. “E por parte do anunciante, tornando o processo de inovação mais lento, recorrendo a atividades táticas de baixo custo e reduzir também os custos fixos.” Por trás da sofisticação do debate, “em geral, o nervosismo de curto prazo ganha da estratégia”. E não são apenas os investidores em Wall Street que se deixam levar pelas ondas irracionais de pânico. Como costuma acontecer, o

na ferida ao afirmar que “as pessoas têm certa razão se não querem pagar pela informação publicada na internet: o custo marginal do produtor/ emissor para chegar a um leitor novo é zero”. O problema é que “colocar conteúdos de qualidade em qualquer meio é caro”. Então, “o que está em questão é: quem financia a indústria da informação?” Porque, neste momento, o modelo da publicidade não dá abasto. Isso é o central. Em São Paulo, Mesquita reconhece esse fato. “Todos estão buscando um novo modelo de negócios, mas

A venda de anúncios já não é suficiente para financiar a indústria da informação. O ponto em que não resta dúvida é que o mix de suportes para chegar às pessoas vai mudar. Tal mutação, entretanto, será protagonizada por aqueles que sobreviverem ao ajuste em curso. No Chile, os dois jornais dominantes, El Mercurio e La Tercera, juntos demitiram cerca de 300 empregados. O primeiro ainda desfez, sem aviso prévio, a rede de correspondentes internacionais que tinha criado em 1990. Na Argentina, o facão que atingiu a verba de investimento levou ao fechamento de várias produtoras de cinema especializadas na exportação de

urgente ofusca o importante. E o que é importante? A sustentabilidade dos modelos de negócio dos jornais, revistas, rádios e canais de TV pela internet. “Assim como a TV não é uma rádio onde se veem os locutores, a Internet não é uma TV no computador ou um diário colado em uma tela”, diz um analista de mídia em Buenos Aires, que pede para não ser identificado devido ao seu conhecimento sobre vários projetos. “O do Clarín, por exemplo, é um desastre: o jornal parece um blog sem hierarquia”. Pablo Maas coloca o dedo

ninguém sabe quais serão os modelos vencedores e os modelos perdedores.” Ainda assim, diz, há uma base firme para sobreviver à incerteza. “O que sabemos é que as marcas dos grandes meios de comunicação têm grande força junto ao público consumidor de informação.” Portanto, conclui, “a grande questão é saber se elas conseguirão replicar a força de suas marcas como meios específicos (TVs, jornais, revistas, etc) em uma plataforma mais ampla de canais de comunicação. Ou se serão superados pelas marcas emergentes no meio digital”. Q ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 33


NEGÓCIOS SERVIÇOS FINANCEIROS

Irmãos Sosa: Que os pobres paguem

ROBIN HOOD CAPITALISTA

Dois mexicanos criam empreendimento global com o qual buscam ficar ricos fornecendo meios de pagamento aos pobres Antonio María Delgado, Miami

O

mexicano Roy Sosa diz que o negócio tem encaixe perfeito. Dar um cartão com o logo da Visa a um cidadão que não tem acesso a serviços bancários – nem a cheques, nem a crédito.“Há uma grande massa de cidadãos que não tem acesso a serviços financeiros e que valorizam muito a possibilidade de tê-los”, diz Sosa. “É um potencial enorme.” Ele e seu irmão Bertrand calcularam a dimensão deste potencial. Em 1999, em meio à bolha das pontocom, criaram a Netspend Corp, empresa nos EUA que buscava entregar cartões pré-pagos e recarregáveis 34 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

a quem não possuía conta em banco mas queria comprar pela internet. Convenceram Visa e Mastercard a colocarem seus logotipos no plástico, para que fosse aceito no comércio, e a alguns bancos a receberem o dinheiro com o qual o usuário carregaria seu cartão. Isso, somado a uma distribuição em massa por milhares de pontosde-venda, permitiu criar um negócio que, em agosto de 2007, teve uma fatia vendida por US$ 700 milhões à financeira Capital One. Com esse dinheiro no bolso, os irmãos Sosa agora sobem a aposta: querem repetir a experi-

ência e massificar mecanismos como esse em escala global. “Não apenas falamos de cartões pré-pagos, mas de meios de pagamento por telefone celular e outros serviços financeiros que hoje só são usados por uma elite”, diz Roy. A Mpower Ventures é um fundo de investimento de US$ 50 milhões, aportados pelos dois irmãos e pelo empresário Enrique Vergara, conhecido por ser o dono da equipe de futebol Las Chivas de Guadalajara e dono da Omnilife, empresa de produtos de nutrição que possui uma enorme equipe de vendas diretas. Eles são donos de um

grupo de pequenas empresas distribuídas em diversas regiões geográficas e especializadas em aplicações distintas, como redes de cartões pré-pagos, uma unidade de serviços financeiros avançados e um banco móvel. Todas têm o mesmo objetivo: fazer dinheiro ao entregar ferramentas transacionais básicas a quem está fora do radar dos grandes bancos. O bolo é enorme. Segundo um estudo elaborado pelo The Boston Consulting Group, o número de transações com cartões no varejo latinoamericano deve mais que dobrar nos próximos oito anos, saindo dos 17,2 mi-


lhões de transações em 2008 a 33,2 milhões em 2015. Grande parte desta fatia ficará justamente com quem começar a operar com os sistemas pré-pagos. Por isso, as operadoras de cartões tradicionais não querem ficar de fora, e associaram sua marca aos cartões emitidos pelos Sosa. “Neste momento de maior reticência no crédito, há um importante crescimento na América Latina no uso de instrumentos de débito e de cartões pré-pagos”, diz Max Chion, vice-presidente sênior de produtos e soluções da Mastercard na América Latina. “Vemos nisto uma grande oportunidade para continuar crescendo na região e chegar a mais consumidores.” Não são poucos os que buscam explorar esse mesmo nicho. “Através do pré-pago, as pessoas conseguem obter uma identidade comercial”, afirma Anabel Pérez, co-fundadora, presidente e diretora executiva da NovoPayment, empresa que vem operando na Venezuela há quatro anos. “As pessoas que apenas manejam dinheiro, ou as que possuem renda regular, seja um pedreiro ou taxista, têm dificuldades em demonstrar quanto recebem todos os meses, e quanto gastam.”

A LÓGICA DO NEGÓCIO Por enquanto, o grupo Mpower concentra seu ataque através da Rev Latinoamerica, unidade de aliança com a Visa e a Mastercard que fornece os cartões pré-pagos para acesso ao caixa eletrônico ou às lojas que aceitam cartões bancários. A lógica do negócio não é de outro mundo: entregar um mecanismo de pagamento digital a quem só possui notas e moedas. A comodidade de um cartão ou a possibilidade de pagar com um telefone celular faz com que muitas pessoas

aceitem entregar seu dinheiro à companhia por pagamentos que farão no futuro. A Mpower recebe uma pequena comissão por essa transação, que a maioria das vezes é cobrada do comércio que faz a venda. Além disso, gera receita com a gestão do efetivo, com os juros da gestão destes recursos. Contudo, a chave para o negócio “está na informação que obtemos destas

informação e permitir que estas pessoas entrem no sistema financeiro. “Nosso negócio é sermos as chaves que vão abrir as portas às novas oportunidades”, conta Roy. Para que isso funcione, o importante é ter um grande número de clientes. É ai que entra Vergara, seu grupo Omnilife e as milhares de vendedoras do grupo. Grande parte destas recebe seus pagamentos da

O grupo Mpower A holding se divide em quatro áreas financiadas pela Mpower Ventures. Redes de pagamento: administram cartões pré-pagos. Distintas empresas por região: Rev Europa, Rev Latin America, Rev Asia Pacífico Serviços financeiros avançados: gera serviços financeiros como Fundos Mútuos para públicos grandes. Empresa: Gratio Capital (só nos Estados Unidos). Tecnologia de pagamento/Banco móvel: laboratório tecnológico que desenvolve tecnologias de pagamento, principalmente focadas em pagamentos móveis. Serve para o resto das companhias. Empresa: Mpower Mobile Serviços financeiros de detalhe: cadeias de lojas que fornecem serviços bancários básicos em supermercados. Empresa: Mango (só nos Estados Unidos)

pessoas. Sabemos o que consomem, onde compram, quando e como gastam... é um dado essencial para construir um histórico de crédito e montar uma companhia de seguros ou qualquer outro serviço financeiro mais sofisticado”, diz o mais velho dos irmãos. Ele afirma que não entrará diretamente no negócio de empréstimo de dinheiro, e que seu objetivo é criar uma plataforma que permita captar e entregar

Omnilife através das vendas de cartões Mpower. Os dois Sosa e o sócio Vergara já estão comprometidos em aumentar o capital da Mpower Ventures em outros US$ 50 milhões. E estão seguros de que há outras aplicações, como a possibilidade de vender fundos mútuos. “É um negócio de elite, que tem altos custos de transação”, explica Roy. “A ideia é baixar os custos com tecnologia e permitir que

as pessoas façam compras de fundos mútuos de US$ 50 a US$ 100.” Para isso, é fundamental a sua unidade Mpower Mobile, que busca transformar o telefone celular em dispositivo para realizar todo tipo de pagamento. “O celular é a única tecnologia que tem sido adotada pela grande maioria em todo o mundo. Mais que a TV e os computadores”, diz Sosa. “Já há 3 bilhões de telefones móveis no planeta e espera-se que para os próximos três ou quatro anos cheguemos a 5 bilhões”. Roy se emociona ao descrever as opções possíveis, como simplificar o envio de remessas internacionais: carregar um cartão pré-pago no México usando um celular nos EUA. Um obstáculo que cruzou o caminho foram problemas de demanda com a Netspend, empresa que eles mesmos criaram, por alguns considerarem que a Mpower estava competindo no mesmo negócio que eles e usando supostos segredos industriais que pertencem à companhia. “A Netspend só opera nos Estados Unidos e a Mpower chega a outros países. Além disso, somos sócios da Netspend, somos seus principais acionistas, não faríamos nada que fosse contra o negócio”. Por enquanto, o grupo está só começando. Possui 150 executivos trabalhando em distintas unidades. A divisão de cartões pré-pagos, contudo, já move transações de US$ 10 bilhões ao ano, mesmo que Roy não goste de falar quanto isso significa em receita. Não obstante, ele assegura estar no caminho correto e que, em uma reinterpretação do que faz Robin Hood, está certo de que pode ficar rico dando dinheiro de plástico aos pobres. Q ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 35


NEGÓCIOS SERVIÇOS PÚBLICOS

EPM: Potência internacional

CADA VEZ MAIOR

Para continuar a crescer no setor de energia, a Empresas Públicas de Medellín se vê obrigada a olhar além das fronteiras colombianas Por Soledad Gómez, Santiago

O

gerente-geral da Empresas Públicas de Medellín (EPM), Federico Restrepo, não sabe o que é problema de financiamento. Em janeiro, quando ainda não tinham anunciado os resultados de 2008 – e não se sabia que o lucro superaria os US$ 520 milhões – a EPM saiu ao mercado colombiano com uma emissão de títulos de 10 anos. A demanda, que chegou a US$ 258 milhões, convenceu os executivos a elevar a colocação de US$ 90 milhões a US$ 112,5 milhões. Além dos bônus, a EPM ainda recebeu um empréstimo de US$ 450 milhões do BID para o saneamento das águas do rio Medell ín. Segundo Restrepo, “os 36 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

investimentos em 2009 serão de 1,9 bilhão de pesos colombianos (cerca de US$ 800 milhões), mais do que o dobro do investido em 2008”. Entre os planos está desenvolver ao máximo, até 2015, seu principal negócio na Colômbia: a geração e distribuição de energia. Aí a empresa alcançará o limite regulatório de 30% de participação em geração e 25% em distribuição no interior do país. E, se quiserem ir adiante, terão que cruzar a fronteira. Algo que já estão fazendo. Depois de uma fracassada tentativa de entrar no Chile com a aquisição da distribuidora Saesa, que depois foi comprada pela canadense OTPP, Restrepo diz que agora analisa

oportunidades no Peru e no Panamá, onde está construindo uma central de 30 MW que começará a operar em 2011. “No México estamos buscando oportunidades em tratamento de águas residuais, mas o país ainda é muito fechado para receber investidores.” Também tem avaliado oportunidades no Brasil, onde “estão sendo vendidos projetos de geração muito grandes, sobretudo no estado de São Paulo”, diz. Os planos de internacionalização são bem vistos por analistas do setor. Segundo Lucas Aristizábal, da Fitch Ratings, a companhia está em uma boa posição para fazer compras este ano, pois seu nível de dívida é razoável. “Há uma alavancagem de 0,8

em relação ao Ebitda, o que é bastante baixo para uma companhia verticalmente integrada”, assegura. Mas isso não significa deixar de lado os projetos na Colômbia. O primeiro na lista é o Porce III, de 630 MW, que entrará em operação no fim de 2010. “Seguido pelo Porce IV, em operação em 2015, e o megaprojeto Pescadero Ituango, de 2,4 mil MW, para 2018, no qual a EPM possui 46%.” Para 2015, a empresa ainda aspira ser prestadora de serviços de telecomunicações para os latinos nos EUA e Espanha. Através da UNE, sua filial do setor, já mantém uma pequena operação nos EUA sob a marca Cinco Telecom e dentro de pouco tempo se lançará na Espanha. Por conta de uma aliança da Orbitel (filial da Une que não opera na Colômbia) com a Vodaphone, prestará também serviços de telefonia celular no país. Mas os serviços não são nada sem um consumidor. Por isso, em abril, vai ser iniciado em Medellín o plano piloto Pagamento Sob Medida. Usando a rede de telefones públicos da UNE, a empresa idealizou um sistema de abono na conta mensal, que permite fazer ligações para outros telefones com um código de usuário. “Assim, evita-se chegar ao fim do mês com uma conta onerosa que não se pode pagar”, diz Restrepo. É uma fórmula de responsabilidade social que voltará como suculento benefício, segundo Aristizábal, da Fitch Ratings. “A empresa tem um profundo conhecimento de seus consumidores e tem conseguido inovar para mantê-los conectados, por um lado, e receber pagamentos, por outro”, diz. Uma ajuda que será, sem dúvida, muito bem-vinda pelos usuários. Q


VISÃO VERDE afaundes@americaeconomia.com

COMÉRCIO SOLAR O Wal-Mart do México utiliza células fotovoltaicas nos tetos de algumas de suas lojas para gerar energia Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México

^h

c EV^ *+

&#%

;DCI: HDA6G 6 gZYZ YZ hjeZgbZgXVYdh LVa"BVgi Y{ hZjh eg^bZ^gdh eVhhdh Xdb egd_Zidh YZ ZcZg\ V hdaVg cVh ad_Vh YZ 6\jVhXVa^ZciZh Z 7V_V 8Va^[dgc^V

hdg

Zg dck

8

EZg dYd b{m^bd YZ gVY^V d/

'% -% :cZg\^V hdaVg

:aZig^X^YVYZ XdckZcX^dcVa

GZYj d/

&)%

IdcZaVYVh YZ 8D' edg Vcd

\V XVg

Ydg

Z Y

daV cig

8d

ih kda % && YVh V Idb

é a operação e manutenção do sistema”, diz Miguel Nieto, diretor-geral da G3. Por sua vez, o uso desta fonte alternativa de energia deixa de emitir 140 toneladas de dióxido de carbono ao ano, já que se evita a queima de combustível para geração de energia. Segundo a empresa, o projeto de células fotovoltaicas de Bodegas Aurrerá teve um custo de aproximadamente US$ 2 milhões. “É uma das tecnologias mais caras”, diz Ruiz. “Contudo, nós esta-

mos tratando de olhar para o futuro e para que possa ser uma fonte potencial de lucros”. Para o especialista em temas sustentáveis, todavia, falta maior apoio por parte do governo com incentivos, como benefícios fiscais que permitam tornar estes projetos mais rentáveis. “Agora, todo o esforço é privado, mas tudo parece indicar que os governos de muitos países vão ter que tomar isto em suas mãos para colocar mais ao alcance das empresas”, acrescenta o

VÍCTOR JAQUE

TODO DIA, ENTRE AS 11 e as 15 horas, a loja de uma cadeia de serviços mexicana Bodega Aurrerá, em Aguascalientes, olha para o sol. Entre estas horas, 95% da energia é obtida de células fotovoltaicas localizadas na cobertura do estabelecimento, o qual, segundo cálculos da matriz, o Wal-Mart do México, cobre 20% dos requerimentos de energia da loja ao longo de todo o ano. Este é o primeiro projeto de energia solar realizado pelo Wal-Mart em grande escala e seus resultados favoráveis têm dado fôlego para que, durante este ano, a empresa inaugure uma de suas lojas Sam’s em Cola de Ballena, Estado da Baixa Califórnia, com iguais características. “O México é uma zona privilegiada em radiação solar”, explica Juan Andrés Ruiz, subdiretor de sustentabilidade e eficiência energética do Wal-Mart. De fato, tanto Aguascalientes como Baixa Califórnia são os melhores lugares para isso, por conta da quantidade de raios solares que recebem durante o ano. Ambos os projetos são realizados pelo Wal-Mart em conjunto com a empresa de serviços ambientais G3, que, apoiada pelo fundo de capital mexicano Water Capital, fornece a infraestrutura e a tecnologia exigidas para a implantação do abastecimento de energia solar. “É um esquema de autoabastecimento, segundo as limitações legais no México, e o que vendemos

executivo do Wal-Mart. Obviamente, este projeto depende da intensidade do sol para poder funcionar e por isso há dias em que esta energia natural é mais potente do que em outros. Quanto maior a quantidade de células – painéis policristalinos – maior a opção de captar raios. No caso da Bodegas Aurrerá, as células ocupam a metade da cobertura – voltada para o sul – com 1.056 painéis colocados em 2.173 metros quadrados. As células captam raios solares e geram diretamente a energia, como se fosse uma bateria. Ela se transforma através de conversores utilizados pelo estabelecimento. “Estes dispositivos são sincronizados com a rede e injetam a energia no sistema central, para que seja usada como se queira”, explica Ruiz, do Wal-Mart. “A energia é usada no momento em que se produz, não é armazenada”. Usar a energia de maneira direta é muito mais econômico do que armazená-la para utilizá-la depois, já que não há exigência de equipamentos para conservar a força. “O retorno de investimento é muito lento”, enfatiza Ruiz. Uma solução para o problema de custos de energia solar seria aumentar a escala destes projetos para que, então, o custo fosse menor. É a mesma aspiração dos desenvolvedores do G3, que também buscam contratos de longo prazo, confiando que vão surgir mais e mais interessados em aproveitar o poder solar. Q ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 37


COLUNA / OPINIÃO

Ronaldo Arellano

Malthus volta ao ataque HÁ DUAS GRANDES CORRENTES de pensamento econômico quase esquecidas pelos economistas modernos. Uma, de Thomas Malthus, diz que a população humana cresce em progressão geométrica, enquanto os meios de subsistência crescem aritmeticamente. Outra, dos fisiocratas Quesnay e Turgot, afirma que a única riqueza válida é a produzida pela terra. A crise econômica de hoje nos mostra que não estavam tão equivocados, e que até podem nos ensinar que a saída à crise não é necessariamente pelo caminho que todos queremos ver. Malthus predisse um dia que a população não teria recursos suficientes para subsistir e desapareceria. Uma situação que não aconteceu tal qual como ele pensava porque a tecnologia permitiu produzir mais alimentos e reduziu a taxa de crescimento populacional. Por outro lado, a teoria fisiocrática sofreu um baque quando a revolução industrial criou muita riqueza independentemente da agricultura. Mas não esqueçamos que a defesa central de Malthus não está relacionada ao tamanho da população, mas à relação entre as necessidades dos habitantes e os recursos disponíveis. Portanto, é igualmente problemático que a população de um país passe de 1 mil a 2 mil habitantes, sendo que cada um consome 10 kW de energia, e que um país não altere sua população, mas seus habitantes aumentem o consumo de energia de 10 kW para 20 kW por cabeça. Não interpretamos Malthus corretamente. Ficamos tranquilos com o controle populacional e não com o crescimento do consumo. Não é exagerado que um europeu consuma 600% mais energia que um latinoamericano médio? E como entender que um norteamericano consuma o dobro que um europeu? Talvez a crise econômica de hoje não seja apenas um problema financeiro e bancário, mas uma defesa da natureza contra um nível de consumo insustentável. Não 38 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

bastando as advertências dos ambientalistas, do Nobel a Al Gore, as toneladas de lixo nas cidades ou o impressionante porcentual de obesos, parece que a natureza decidiu falar ao mundo em seu idioma atual, o da economia e das finanças. Isso ainda mostraria que os fisiocratas não estavam tão equivocados quando há 200 anos indicaram que tudo o que não criava riqueza natural era estéril para a sociedade. Se vivessem hoje, não estariam eles se referindo a Wall Street, aos bônus lixo e às pirâmides Ponzi? Não diriam que a base da crise atual é que o consumo dos países ricos se sustenta mais em uma riqueza teórica e especulativa que em sua verdadeira capacidade de gerar valor? Talvez por isso essa crise afete primeiro os países ricos (que são os que mais consomem), e de forma subsidiária os países pobres. Talvez por isso hoje os banqueiros e proprietários de papéis chorem mais que os produtores da agricultura de subsistência. Talvez isso também explique por que as classes emergentes da América Latina, apesar de golpeadas, resistem melhor que muitos grupos mais sofisticados de seus países. Enfim, tudo isso levaria a uma grande reflexão sobre a forma de superar esta crise. Pois o que hoje vemos é que a maioria espera que isso aconteça com a recuperação do consumo dos países ricos. Isso seria não entender que esta turbulência é basicamente uma fortíssima chamada de atenção da natureza, recordando-nos Malthus e os fisiocratas, nos dizendo que se o consumo exagerado de poucos continuar, as próximas crises já não serão de papel. Não seria o momento de levar isso em conta, aproveitar – para o seu próprio bem – e reduzir os excessos de uma parte da população? E, assim, de quebra, orientar os esforços das empresas para que a outra – essa que consome menos que o desejável por falta de oferta – incremente seu bem estar?. Q

Esta turbulência é uma chamada de atenção da natureza. Recorda-nos Malthus e os fisiocratas, nos dizendo que, se o consumo exagerado de poucos continuar, as próximas crises já não serão de papel.

Presidente da Arellano Marketing, Investigación y Consultoría para Economías Emergentes. Professor da Centrum Católica, Peru.


DEBATES OPINIÃO

Félix Peña

Salvaguardas nos acordos comerciais A FALTA DE FLEXIBILIDADE nos acordos comerciais internacionais pode não ser funcional para os países que a utilizam com o objetivo de encarar situações econômicas excepcionais. Geralmente, serve para alimentar tensões sobre falhas que conduzem à deterioração da eficácia das regras do jogo. A tensão entre o contratual e a realidade se intensifica em momentos críticos da economia global, como ocorre atualmente. A queda da atividade econômica e a perda de empregos geram pressões sociais que conduzem a um protecionismo aberto ou encoberto. Muitas vezes, ele se traduz em práticas que deixam vulneráveis os compromissos assumidos por um país sobre seu comércio de bens e serviços. Nos acordos comerciais preferenciais, nos de integração econômica e nos multilaterais globais, as válvulas de escape são geralmente introduzidas para gerar a flexibilidade que os países requerem em circunstâncias especiais. Podem ter distintas modalidades. Em geral, são conhecidas como medidas de salvaguarda. Elas podem ter três características: ser excepcionais, responder a critérios definidos em regras do acordo e demandar procedimentos especiais destinados a evitar abusos e comportamentos unilaterais. A profundidade da atual crise global e sua incerta evolução está instalando a necessidade de revisar a questão dos mecanismos de salvaguarda ao menos em dois âmbitos: da Organização Mundial do Comércio e do Mercosul. Nos dois estão sendo observados os inconvenientes que podem produzir a insuficiência ou, pior, a ausência de válvulas de escape que permitam aliviar pressões existentes, especialmente quando em um país a deterioração do comércio exterior tem impacto excepcional no nível de empregos ou quando a abertura comercial afeta objetivos de desenvolvimento de determinados setores produtivos. A relação entre diferentes sensibilidades à abertura dos mercados e às negociações comerciais foi colocada

em evidência na Rodada de Doha. A questão das salvaguardas especiais, em relação tanto ao comércio agrícola quanto ao de produtos manufaturados não-agrícolas, é precisamente um dos nós não-desatados nas atuais negociações multilaterais. Incluindo um mecanismo de salvaguarda previsto no GATT – o de seu artigo XVIII/C – em função dos requerimentos do desenvolvimento econômico, perdeu a eficácia prática por conta do alcance dos procedimentos estabelecidos. Desta forma, faz sentido considerar com atenção as propostas que têm avançado entre especialistas como Dani Rodrik e Richard Baldwin, orientadas a introduzir novas salvaguardas na OMC, seja em função dos efeitos da crise global ou das sensibilidades que possam existir em determinados setores, especialmente no caso dos países em desenvolvimento. Analisá-las deveria ser uma prioridade de todos os interessados em preservar a eficácia do sistema GATT-OMC. Por sua vez, a recorrência de conflitos comerciais entre os sócios do Mercosul, tais como os observados nos últimos meses e antes do período 1998-2002, mostra que a ausência de válvulas de escape contribui para gerar custos políticos que poderiam ser atenuados. Observa-se a crença de que uma união aduaneira não pode ter tais mecanismos excepcionais. É difícil encontrar um fundamento técnico no qual tal crença possa ser baseada. São conflitos comerciais que só têm afetado cerca de 5% do comércio recíproco. Mas o ruído que geram está prejudicando a eficácia de um processo de integração que tem alto valor político, apesar de suas imperfeições, inclusive para a estabilidade e governabilidade do espaço geográfico sulamericano. Analisar a questão de salvaguardas é, dessa forma, algo prioritário tanto para o bloco Mercosul quanto para a OMC. Q

O ruído que os conflitos comerciais entre os sócios do Mercosul geram está prejudicando a eficácia de um processo de integração que tem alto valor político, apesar de suas imperfeições, para a estabilidade desta região.

Diretor do Instituto de Comércio Internacional da Fundação Standard Bank e professor de Relações Comerciais Internacionais da Universidade Nacional de Tres de Febrero, Argentina.

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 39


DEBATES PROTECIONISMO

LIVRE COMÉRCIO NON GRATO

As vozes protecionistas voltam a soar com força. É a primeira grande prova para a economia globalizada Antonieta Cádiz, Washington

AP

Caminhões expulsos: carros mexicanos já não são bem-vindos

40 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

C

arla Hills parecia incomodada, não apenas pela seriedade com que falava frente às comunidades acadêmica e política no centro de estudos Diálogo Interamericano, mas também por seu tom, que subia com firmeza cada vez que pronunciava a palavra protecionismo. Hills tem motivos para irritar-se, pois, depois de todo o trabalho que a tornou a primeira negociadora do Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte), o acordo hoje está imerso em polêmicas, problemas de coordenação, brigas fronteiriças e, ainda, ameaças de revisão. “Precisamos combater o protecionismo, não podemos fechar os mercados. Desde novembro, 14 das 20 nações que participaram da reunião do G-20 levantaram barreiras protecionistas”, dizia Hills. Desde o fim de 2008, o Equador aumentou as tarifas de 940 produtos; a Argentina impôs licenças em artigos como peças automotivas, têxteis e couro. Enquanto isso, os EUA têm dado sinais ainda maiores, como o recente término do programa piloto que liberava a entrada de caminhões provenientes do México para cobrir trajetos amplos no interior do país. Além disso, em fevereiro deste ano, Washington promulgou um pacote de estímulo de US$ 787 bilhões que continha a cláusula “Buy American”, ordenando que as empresas usem aço e ferro dos EUA nos programas de reativação. Ambas as medidas foram tomadas no Capitólio. Para onde foram os veementes discursos do G-20 na capital dos Estados Unidos que pediam para rechaçar o protecionismo e defender o livre mercado? O fato é que a retórica e a prática estão hoje mais distantes do


que nunca. “Dado o clima global, o protecionismo na região e ao redor do mundo será um desafio político permanente para os países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Se a crise continuar durante 2010 e além – o que pode ocorrer –, o comércio será um tema quente e os líderes políticos deverão projetar uma imagem dura que proteja os trabalhadores nacionais”, explica Riordan Roett, diretor do programa de estudos latinoamericanos da Universidade John Hopkins. Contudo, há alguns países que parecem distanciar-se deste modelo, devido à extensa conexão comercial que já está estabelecida com os Estados Unidos e o resto do mundo. É o caso do Canadá. Seu ministro de Estado para as Américas, Peter Kent, não vacilou ao assegurar que seu país “é vulnerável à crise atual”. “Os EUA são nosso maior parceiro comercial e nos preocupamos muito quando escutamos vozes protecionistas saindo do Congresso. Temos falado muito diretamente e dissemos que isso é inaceitável. Quando o primeiro-ministro Harper recebeu o presidente Obama, este foi um dos temas de alto nível discutido. O protecionismo não fará mais do que aprofundar a crise econômica que enfrentamos hoje”, assegura. Outro exemplo é o Brasil. Durante sua visita a Washington, o presidente Lula chegou falando da eliminação das tarifas “absurdas” sobre as importações brasileiras de etanol, especificando que seu país “não quer lutar contra produtores de milho”, e sim formar uma aliança estratégica para elaborar biocombustíveis. “O protecionismo é uma droga que oferece fôlego temporário, mas que gera crises importantes”, disse o presidente

brasileiro, em uma tentativa difícil de explicação em um país acostumado a mensagens diretas como “Let’s Protect American Jobs” (protejamos o trabalho dos norteamericanos), promovido por grandes organizadores sindicais e ativistas.

PRESSÃO SINDICAL Durante os oito anos que o presidente George W. Bush esteve no poder, John Sweeney, presidente da organização sindical mais poderosa dos Estados Unidos (AFL-CIO) visitou a Casa Branca só uma vez. Contudo, desde a inauguração da presidência de Barack Obama, Sweeney está na lista de visitas semanais da sede do governo. A influência e longa relação dos democratas com sindicatos é amplamente conhecida. Durante a última campanha presidencial, a AFL-CIO destinou US$ 53 milhões em publicidade e outras atividades a fim de derrotar o republicano John McCain. Isto além da mobilização de cerca de 10 milhões de membros como voluntários de diversas iniciativas para ajudar a campanha democrata. De outro lado, o partido democrata é conhecido por sua férrea defesa dos direitos trabalhistas, tendência que foi demonstrada na coalizão liderada por Nancy Pelosi, quando ganhou a maioria no Capitólio e deteve a ratificação dos tratados de livre comércio com Panamá e Colômbia. “É interessante que muitos personagens a favor do livre comércio acreditem que a administração de Obama vá se comportar como a administração de Clinton nesta área”, diz Ted Carpenter, vice-presidente de defesa e política exterior do Instituto Cato. “O sentimento protecionista tem crescido substancialmente. Além disso, o próprio Bill Clinton demons-

trou muita coragem ao resistir a propostas de protecionismo em seu partido.” “Obama é um fraco defensor do livre comércio e não está disposto a gastar seu capital político nestas medidas”, acrescenta Carpenter. Vários analistas compartilham esta visão e veem com ceticismo medidas que possam favorecer a abertura de mercados, como a ressurreição da Rodada de Doha; uma discussão levantada como possível saída para superar a crise. “Todo mundo está falando

em seu último relatório. “Estas instituições precisam fazer muito mais para prover financiamento junto às lideranças analítica e política. Seus esforços devem ser agora mais inovadores que nunca. Enquanto as economias sofrem, é exigido um grande esforço por parte dos Estados Unidos e das nações mais ricas do mundo, para assegurar que estas instituições tenham o dinheiro e a flexibilidade operacional que necessitam”, diz o relatório. Um conselho que, ao que

À medida que a crise se aprofunda, as relações políticas se tornam mais complexas. de Doha, mas este será o melhor momento para trazer isto à tona? Os EUA vão acabar com os subsídios à agricultura em meio a uma forte crise econômica? Não, é completamente irreal”, assegura Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas. “Tivemos uma oportunidade em Cancún em 2005. Estávamos próximos de um acordo e tudo foi arruinado. Aquele era o momento adequado, agora é tarde. Quem no Capitólio vai votar para abrir o mercado a produtos estrangeiros, se ao mesmo tempo as pessoas perdem seus trabalhos?”, acrescenta. Outra das opções discutida em Washington como um esforço multilaterial para sair da crise é a expansão dos recursos e programas do Fundo Monetário Internacional e de outros bancos de desenvolvimento (BID, Banco Mundial, etc.), como o centro de estudos Diálogo Interamericano sugere

parece, será difícil de seguir para Washington, sobretudo quando o Congresso está questionando o manejo administrativo de instituições como o BID – que registrou perdas de aproximadamente US$ 2 bilhões em 2008 – bem como a viabilidade e a conveniência de uma ampliação substancial na carteira de crédito deste organismo, segundo contam fontes próximas ao banco. O concreto, contudo, e um ponto no qual todas as opiniões de analistas e especialistas na região confluem, é que se as medidas protecionistas continuarem, a crise econômica não tardará a ficar mais forte na América Latina e no mundo, enquanto as relações políticas se tornam cada vez mais complexas. Um cenário que coloca à prova o mundo “global” e “interconectado”, levantado com orgulho no começo dos anos 1990 e que agora mostrará quais são seus limites. Q ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 41


DEBATES ENTREVISTA

O olhar de Hernando De Soto

“ESTA É UMA CRISE GLOBAL E ESTRUTURAL” H

Quanto tempo acha que a crise econômica mundial vai durar? Em uma conferência em Moscou, eu e mais quatro expositores tivemos que responder sobre a crise. Pediu-se que levantassem a mão os que acreditassem que ela acabará em 12 meses: somente um de nós o fez. Eu e os demais levantamos a mão para a alternativa de 60 meses. A que se deve tal pessimismo? Considero que se trata de um fenômeno de ordem legal e estrutural. Se corrigido, a crise pode ser mais curta, mas os governos estão vendo isso somente como 42 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

um problema financeiro e o estão atacando somente com medidas monetário-fiscais. É necessário ampliar o círculo e entender que a solução não está nas mãos de pessoas que conhecem apenas de finanças, mas também de pessoas que entendem de propriedade. Pode explicar melhor? A economia global de mercado se desenvolve sobre papel. Você não compra e vende maçãs, mas compra e vende um contrato sobre maçãs; primeiro vem o documento, depois o produto. Essa documentação é a que tem garantido tanto sucesso à

economia de mercado, porque permite reconhecer riscos e negociar valores usando apenas fórmulas escritas. A maior parte do crédito não é monetária, pois vem com documentos de propriedade, e os documentos de propriedade não se financiam nem se controlam com políticas monetárias, mas com políticas de propriedade. E como a maior parte deles não está regida por direito de propriedade, os governos já não tem controle. Por isso, enquanto eu não ver que os governos se deram conta disso plenamente, continuarei considerando que

estarão tratando de resolver um problema que requer uma pá usando apenas um palito de dentes. Como medir a gravidade da crise? Até agora circularam no mundo, no que se refere a papel bancário e moeda, cerca de US$ 13 trilhões. No que se refere a papéis que estão atados a um bem, seja na forma de ações de bônus ou instrumentos financeiros, calcula-se que há aproximadamente US$ 170 trilhões em todo o mundo. Mas, nos últimos sete anos, criamos outro tipo de instrumento em papel que se chama

RAFAEL CORNEJO

ernando de Soto voa frequentemente a países dos cinco continentes como líder do Instituto Liberdade e Democracia (ILD), assessorando reformas legais de diferentes governos e dialogando com destacados líderes mundiais. A experiência acumulada junto com essa milhagem o convenceu de que a crise econômica mundial é, fundamentalmente, de ordem legal e estrutural, e que as respostas não podem se limitar ao aspecto financeiro. “Estão tratando de resolver com um palito de dentes um problema que requer uma pá”, diz, com preocupação, o economista mais famoso do Peru. De Soto conversou sobre a crise econômica mundial com Cecilia Niezen, correspondente de AméricaEconomia, em sua casa no distrito de Surco, em Lima.


derivativo, do qual acabamos de perceber a existência. Há aproximadamente US$ 600 trilhões em derivativos em circulação. Eles excedem tranquilamente a produção global e, entretanto, não sabemos quantos são nem onde estão... Esse é o centro do problema. A economia de mercado caiu em uma tremenda informalidade… Sim, no sentido de que há 200 anos a lei diz (ainda que não esteja escrita dessa forma) que não deve existir nenhum bem que não esteja registrado. Isso foi parte do contrato social quando se pôs fim ao feudalismo, com o patrimonialismo. As oligarquias não devem ter direitos que nós não conheçamos. Essa tem sido uma espécie de regra que se rompeu e isso trouxe uma paralisia ao crédito, um problema de credibilidade. Como se recupera a confiança? No fundo, nunca é uma questão de confiar no mercado. Primeiro é preciso confiar no papel com o qual você faz compras. Acreditar que as condições de valor do ativo são claras e corretas. Hoje não sabemos qual é a quantidade desses instrumentos financeiros derivativos e o fato de estarem mal-registrados dificulta determinar quantos são. O que sabemos agora é que há pelo menos US$ 600 trilhões de papéis sobre os quais não temos informação, salvo a que nos querem dar. E não temos forma de avaliar se a informação é correta ou não. O que os responsáveis pelas políticas econômicas devem fazer? Em primeiro lugar, todas as pessoas que possuem esses ativos devem registrá-los para que possam ser localizados, taxados, comparados e padronizados. Segundo, devem colocá-los em um contexto de direito, ou seja, devem registrá-

los sob determinados padrões, para que sejam comparáveis. Terceiro, as transações têm de estar reguladas sob regras uniformes, nas quais o ato de mentir, de não dizer a verdade, seja castigado. Que seus efeitos frente a terceiros sejam conhecidos. Não se trata de contratos onde o que importa é apenas a relação entre eu e você. São contratos que afetam uma terceira pessoa. Há interesses que impedem de fazê-lo? Como os governos veem a crise como um problema financeiro, ficam rodeados de pessoas que, de uma ou outra forma, têm interesses contrários à reforma. E o que pode acontecer? Acho que era inevitável chegar a esse ponto. Mas, quanto mais tempo demorar, piores ficarão as coisas. Inclusive muitos de nossos países que não têm nenhuma relação com os ativos tóxicos, estão sofrendo as consequências, e não temos nenhuma voz sobre a forma como se administra esse problema. Nesse sentido, acha que há um excesso de otimismo nos governos da região? Não sei se estão otimistas ou não, mas um dos deveres de um governo é administrar expectativas, criar confiança, que é parte importante da economia e que é uma disciplina muito psicológica. Você acha que as medidas que os governos da região estão tomando são insuficientes? A ideia de gastar mais e injetar dinheiro na economia é correta, mas se poderia fazer muito mais. No caso do Peru, os bancos têm uma regulamentação clara e não se meteram na compra de papéis tóxicos. Se alguém me pergunta onde invisto meu dinheiro, eu digo que é no Peru. O crescimento do Peru é orgânico, e cabe ao país afiançar isso. Agora que

se pode dar conta de que a debilidade do ocidente é legal. Por isso, considero que se pode fazer muito mais. Por exemplo? Há no mundo uma quantidade enorme de investidores que temem comprar papéis do Ocidente e que não sabem qual banco oferece bom dinheiro. Nós não temos esse problema. Este é um momento ideal para criar documentos e oportunidades de investimento, fazendo com que nosso papel seja cada vez mais seguro. Nossos países têm bons papéis. Mas boa parte não tem documentos de propriedade tão seguros. Este é o momento de investir fortemente nisso para que esse dinheiro, que não sabe aonde ir no Norte, venha para nossa parte do mundo. Temos recebido pedidos de governos no Instituto, que nos consultam para ver como podem começar a desenvolver bons títulos e atrair investimentos. Eles percebem que, até que se recupere a confiança nas indústrias do Norte, o que levará algum tempo, nossos países poderiam tirar proveito, o que significa aperfeiçoar nossos sistemas jurídicos, para que quem venha aqui sinta que está investindo com segurança. O grau de investimento continua sendo uma boa referência para atrair capitais? A maior segurança para qualquer investimento é o grau de segurança que a propriedade lhe outorga, pois essas avaliadoras que estabelecem qual o grau de investimento obviamente resultaram ineficazes. Todo esse mercado de derivativos em que alguém está dizendo que é triplo A ou duplo B foi muito menos informativo do que se houvesse existido um bom registro de propriedade que permitisse aceder à informação, de tal forma que se pudesse inferir

qual é o grau de segurança de um investimento. Para comprar a casa do meu vizinho, não trato de saber se ele tem grau de investimento, mas se tem um bom sistema de propriedade que possa indicar que há segurança no investimento. Fala-se hoje de mudança do modelo econômico e inclusive da morte do capitalismo. Qual a sua opinião? O fato de que o modelo vai mal não tem relação com o mercado em si. Deixaram que boa parte do mercado se informalizasse. A propriedade não é somente delimitação de posse; é também um sistema de informação. Quando tudo está registrado e em dia, você sabe o que possui. E hoje não se sabe. Pode-se identificar um modelo alternativo ao capitalismo? Coréia do Norte? Cuba? Não vejo modelo alternativo. Marx dizia claramente que, apesar de admirar o capitalismo, identificava contradições como a tendência à acumulação de capital e a concentração de riqueza. Mas dizia que isso eventualmente levaria à correção do modelo. Também dizia que, quando chegasse a antítese, o novo modelo seria claramente identificável porque seria facilmente descrito, e eu não vejo nenhum país do mundo que esteja propondo algo diferente. Estamos dizendo “castiguemos os banqueiros que nos levaram a isso, restrinjamos sua ação”, mas tudo sob o mesmo modelo. E mais controle… Todos reconhecem que as agências de Estado relaxaram demais, ou que não existem as necessárias. Mas já estão se dando conta de que a autoridade monetária não basta para controlar. Há um vazio regulatório, mas ainda não é possível determinar por onde fechar as brechas. Mas, que o Estado necessita readequar-se, é uma conclusão óbvia. Q ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 43


DEBATES ÉTICA CORPORATIVA

RODIRGO DÍAZ CARRIZO

PARA JOGAR LIMPO

Regulamentação pública e autorregulamentação empresarial não são excludentes, dizem especialistas. Precisamos de ambas Soledad Gómez

É

uma brincadeira, mas muito sem graça: “Não há remédio”, dizem hoje no Chile os vendedores de produtos farmacêuticos. O comentário se deve à recente descoberta de um acordo entre grandes redes de drogarias e os laboratórios farmacêuticos para subir os preços de mais de 200 medicamentos. Agora, deputados chilenos propuseram modificar a lei para que este tipo de conduta entre empresários termine na cadeia. Mas essa não foi a única proposta que brotou do es44 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

cândalo. Outra foi criar uma farmácia estatal onde o público possa comprar medicamentos a preços praticamente de custo. Assim, o delito cometido por essas empresas, que por anos têm dominado o comércio de fármacos a torto e a direito, poderá custar-lhes parte do mercado. Além da confiança dos clientes: roubar dinheiro de um doente é mais feio do que tirar doce de criança. Sabe-se que a indignação e a desconfiança do consumidor podem arruinar uma indústria. Por que, então, a história se

repete de tempos em tempos? O consenso é de que se trata de algo mais sistêmico: os incentivos, em posições oligárquicas, são muito suculentos para que os empresários resistam a cruzar o limite do ético. É por isso que ninguém mais acredita que se deva dar às empresas a autonomia para fixar as regras de concorrência em seu negócio. É certo que a autorregulamentação privada efetiva pode evitar a imposição de normas pesadas e punitivas da parte do Estado, mas isto só ocorre

quando há uma instituição suficientemente sólida e vigilante em ambas as partes. “O que vou lhe dizer é muito estranho”, conta o advogado colombiano e professor da Universidade dos Andes, Marino Tadeo Henao. “Mas a autorregulação funciona bem quando há uma boa regulamentação.” Parece paradoxal, mas não é. Isso acontece “porque as empresas estão dispostas a autorregularse quando sabem que, se não o fizerem, outro o fará”. E, diz o colombiano, quando há um vazio regulatório e as autori-


dades deixam de se preocupar, a iniciativa privada relaxa seus padrões. E é ai que aparecem as tentações. Foi o que ocorreu no mercado financeiro norteamericano, britânico e alemão nos últimos anos. Como exemplo, vale lembrar a amostra do CFA Institute, encarregado de outorgar o cobiçado título de Chartered Financial Analyst, que impõe a seus alunos e graduados um dos padrões éticos mais restritos do mundo financeiro. Como explica Rubén Dinamarca, para quem apresenta o título da CFA, “o Padrão de Ética Profissional inclui certas condutas que são exigíveis aos graduados e alunos”. As penalizações podem alcançar a perda do título. As instituições financeiras mais importantes do mundo são regidas por padrões que imitam os códigos da CFA. E, ainda assim, ocorreu o turbilhão. É que nem as mais estritas autorregulações funcionam quando a regulação não opera adequadamente. Segundo Dinamarca, um dos problemas que fez o mundo financeiro entrar em colapso é que, “tal como está estruturado o mercado de empréstimos hipotecários, os incentivos não eram os adequados para evitar o problema que se desatou. E, por outro lado, a regulamentação em vigor para os ativos subprime tampouco era a mais adequada”.

UM PASSO ADIANTE Mas em muitas atividades a regulamentação externa é deficiente ou tarda a chegar. Por que não prevenir? “Devese avançar na autorregulação porque ela se move no ritmo da regulação e permite melhorar ou assentar bases para uma nova”, diz a advogada Nicole Nehme, sócia-fundadora da Ferrada Nehme, especialista em questões de livre concor-

rência. Não se trata de deixar que as companhias imponham suas próprias regras, mas que os padrões do setor privado complementem as normas e regulamentações do Estado, explica. A advogada concorda com Henao que os empresários são quem melhor conhece sua atividade, bem como os vícios e más práticas que têm que controlar. Por isso, dentro das próprias associações é que surgem algumas das melhores medidas de supervisão. “A autorregulação efetiva pode adiantar-se e criar um bom marco de vigilância, com um órgão independente que seja mais efetivo que uma regulação difícil e pesada”, assegura Nehme. A resposta política pode ser evitada mediante uma efetiva autorregulação, seja para um setor ou uma só empresa. “O que as empresas mais querem evitar é que haja alguém mais que os regule, porque sempre há normas que podem prejudicá-los”, conta Henao. Mas este dano potencial não vem só de agentes políticos ou do Estado. A mudança de regras entre companhias poder ser igualmente nociva, e por isso as negociações entre empresas frequentemente são regidas por códigos de boas práticas. Existe, quase sempre, um obstáculo difícil no caminho autorregulatório: os que estão em uma posição de domínio geralmente optam pelo critério de curto prazo de não ceder poder. Por exemplo, a Associação de Indústrias Fornecedoras do Chile, a Agip, busca desde 2005 chegar a um acordo de autorregulação com as redes de supermercado. Segundo Vasco Costa, presidente da Agip, foi elaborado um documento que se baseia em práticas de nível internacional, “para dar um marco de maior flexibilidade e

livre concorrência”. Contudo, embora tenha aprovação de entidades antimonopólio e de mil empresas fornecedoras, os cinco operadores de serviços que concentram o mercado chileno ainda não adotaram essas regras. Mas Costa não dá trégua. “Insistiremos no acordo entre as empresas. Enquanto não conseguirmos, continuaremos recorrendo às autoridades nos casos em que houver abuso de poder”.

Um dos casos de maior êxito aponta justamente à livre concorrência e à transparência. “São proibidos subornos diretos e indiretos.” Assim está escrito no acordo firmado pelas empresas fabricantes de tubos na Colômbia, quando propuseram terminar com as práticas de corrupção em 2005. Em 20 páginas, as empresas agrupadas na Associação Colombiana de Engenharia Sanitária e Ambiental, a Aco-

Código de conduta dá credibilidade à iniciativa privada. “À medida que o mercado se torna mais complexo, há necessidade de respostas. De certa forma, ao criar um código de autorregulação, as indústrias se consolidam e ganham credibilidade”, diz Paul Venturino, sócio da agência de comunicação chilena Strategika. Enquanto há um lei que regulamenta a imprensa, há outra contra o uso de informação privilegiada; não há normas precisas sobre o comportamento das agências a respeito da informação de seus clientes. “Em geral, quando uma fala de autorregulação, outra se refere a âmbitos muito específicos, porque as leis ou autorregulações públicas cobrem parte importante dos mercados”, assegura Nehme. Já Venturino sabe que não será fácil conseguir um acordo, porque as agências não estão agrupadas em grêmios, e por isso iniciaram conversas com a Faculdade de Comunicações da Universidade Católica para legitimar a iniciativa.

TRANSPARÊNCIA Mas nem tudo é negativo na experiência latinoamericana.

dal, que representam mais de 90% das vendas do setor ao Estado, detalharam os vícios que pretendiam eliminar de seu negócio. O pacto, assessorado pela filial colombiana da Transparência Internacional, teve tanto sucesso que os membros da Acodal estão exportando os métodos. Pedro Nel González, gerente de contratos e licitações da Pavco, foi um de seus precursores. “Tivemos vários anos de trabalho, o implementamos na Argentina, também fui ao Equador para poder divulgá-lo lá e também o grupo Amanco está atualmente trabalhando no Brasil para poder implementar um pacto semelhante”, diz. Desde o começo do acordo os sócios contam com um comitê independente, que pode levar suas queixas diretamente à vice-presidência da República. “Isto tem gerado uma concorrência mais leal, mais aberta e preços mais baixos”, assegura Gonzáles. É o mesmo que dizer benefícios para todos. Ao contrário do que ocorre quando a autorregulação é ruim ou inexistente. Q ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 45


DEBATES 5a COLUNA

Susan Kaufman Purcell

Populismo norteamericano UMA DAS PRINCIPAIS DIFERENÇAS entre os sistemas políticos dos Estados Unidos e da América Latina é a maior institucionalização das distintas camadas democráticas nesse país. Muitos analistas culpam os problemas políticos na América Latina à insuficiente institucionalização de seus sistemas políticos, o que leva ao surgimento de movimentos populistas e à ausência de um consenso generalizado sobre as regras do jogo político. Isto explica porque os governos na América Latina repetidamente “mudam o modelo” – alternando entre um forte apoio ao papel do Estado na economia e uma sorte de laissez-faire capitalista. Contudo, nas últimas semanas, muitas das características destes sistemas políticos debilmente institucionalizados apareceram nos Estados Unidos, justamente quando o país sofre uma crise econômica e financeira sem precedentes. As instituições políticas sólidas enfrentam problemas de alta complexidade que requerem soluções rápidas. Como resposta à crise surgiram propostas claramente populistas, que abrangem uma sensação de injustiça e injúria generalizadas. Ao contrário do populismo latinoamericano, que geralmente inclui a mobilização de classes mais baixas, o populismo norteamericano sustenta-se na classe média. Sua ira aponta principalmente ao Governo Federal, o qual, segundo os afetados, estaria favorecendo pessoas cuja conduta temerária, e às vezes criminal, tenha causado a crise. Entre os acusados estão algumas instituições de Wall Street, como bancos e empresas de seguros. Também estão, contudo, milhões de pessoas que compraram casas que não podiam pagar e agora recebem ajuda do governo, enquanto quem se comportou responsavelmente talvez não receba ajuda nenhuma. A raiva populista também se explica porque a solução proposta pelo governo incluiria gastar bilhões de dólares aportados por contribuintes, criando um enorme déficit que terá que ser coberto por futuras gerações. O problema aumentou pela falta de transparência de parte do governo, que não revelou muitos detalhes sobre como o dinheiro será gasto. Além disso, percebeu-se que o governo apro-

46 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

veitou a crise para “mudar o modelo”, que de um capitalismo impulsionado pelo setor privado passou a um tipo de “socialismo europeu” – caracterizado por maior gasto governamental, burocracia, altos impostos, menor crescimento econômico e menor competitividade global. Como resposta ao populismo, o Congresso apresentou projetos de lei que, se aprovados, afetarão o Estado de Direito ao penalizar retroativamente um grupo específico: os executivos de alto cargo da seguradora AIG, que receberam enormes bônus, apesar de a empresa ter requisitado bilhões de dólares em fundos do governo e de muitos deles terem trabalhado em divisões da AIG que teriam causado os problemas em questão. Inicialmente as instituições políticas dos Estados Unidos se viram compelidas a conter estas “reações” tanto do público como de partes do governo. Mas, eventualmente, os vários contrapesos incluídos no sistema político norteamericano começaram a levar a uma conduta mais moderada. O presidente Obama – que inicialmente havia se oposto a bloquear o pagamento de bonificações aos executivos, já que eram completamente legais, e que depois se uniu à massa ensandecida ao dizer que os prêmios eram escandalosos – por fim tratou de apaziguar os ânimos e alcançar uma solução legal moderada. Ao mesmo tempo, o secretário do Tesouro, Tim Geithner, revelou um novo plano para solucionar o problema dos ativos tóxicos nos balanços dos bancos, que contribuíam para a falta de confiança no sistema financeiro e impediam um aumento na disponibilidade de crédito. E os membros mais moderados da bancada democrata no Congresso puseram em dúvida a sensatez de implantar leis punitivas retroativas. Além disso, começaram a revisar os enormes programas de gastos propostos pelo executivo – tanto nos planos de resgate como nos programas de educação, seguros de saúde e outras propostas do governo. E frente às críticas de que o governo estava fazendo coisas demais ao mesmo tempo, o que prolongava a crise, a administração respondeu ao atrasar algumas dessas coisas. Por fim, pode ser que saiam algumas reformas necessárias na crise, como uma maior regulação de instrumentos financeiros que pouca gente entende, menores salários e bonificações excessivas para executivos do setor privado e maior transparência do governo. Por outro lado, esta crise está longe de terminar. Tomara que as soluções propostas sirvam para fortalecer em vez de debilitar as aclamadas instituições políticas dos Estados Unidos. Q

Pode ser que saiam algumas reformas, como uma maior regulação de instrumentos financeiros que pouca gente entende.

Diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami.


ESPECIAL WEF

A nova agenda CRISE. POSSE DO NOVO PRESIDENTE NOS EUA. CHÁVEZ. VIOLÊNCIA. ELEIÇÕES. O ENCONTRO DO WORLD ECONOMIC FORUM NO BRASIL ATUALIZA OS TEMAS DA AGENDA POLÍTICA E ECONÔMICA DA AMÉRICA LATINA

A

crise mudou todas as prioridades. O sincronismo que marcou a queda dos mercados financeiros em todo o mundo, juntamente à forte contração do comércio global, colocaram economistas, políticos, empresários e líderes da região em busca de caminhos para neutralizar seu impacto na América Latina. Mas a incerteza se intensifica e o pulso econômico do globo deu sinais de piora. O capítulo latinoamericano do World

Economic Forum, que este ano é realizado no Rio de Janeiro, debaterá a natureza da crise, seu impacto na região, bem como outros temas centrais para estruturar um cenário que nos permita sair fortalecidos deste duro episódio. Em seguida, alguns dos participantes do WEF na América Latina nos adiantam os eixos de debate que protagonizarão este importante encontro empresarial.

U

m dos resultados desta crise será o redesenho do sistema financeiro global. Novas regras vão surgir para atender ao clamor de autoridades, legisladores e investidores, os grandes prejudicados por essa debacle que ainda não dá sinais de equilíbrio. Evidentemente, a regulamentação que derivar desse debate buscará cobrir as deficiência atuais e insuficiências claramente indicadas dos processos de autorregulamentação. Obviamente, abusos precisam ser coibidos. E é preciso também evitar que de uma legislação considerada por muitos como excessivamente liberal passemos ao outro extremo, o de regras que acabem por reprimir os mercados. O bom é que já sabemos alguns detalhes dessa nova regulamentação. Uma equipe formada por 30 pessoas, liderada por Paul Volcker (ex-presidente do Fed) e integrada também por Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central brasileiro, preparou uma lista com itens que deverão constar do novo marco do sistema financeiro mundial.

NOVAS REGRAS PARA 1 O MERCADO DE CAPITAIS 2 ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA, MEMBRO DO

CONSELHO DA SUL AMÉRICA

3 4

As atividades bancárias garantidas por seguros de depósito devem ser fiscalizadas por um único órgão regulador; Os fundos mútuos que desejem oferecer serviços bancários terão que se reorganizar como “bancos de propósito especial”. Dessa forma, serão supervisionados pelo órgão regulador e terão acesso às linhas de crédito de última instância dos bancos centrais; Administradores de hedge funds e private equity que usem recursos significativos com origem em empréstimos devem registrar sua atividade junto ao órgão regulador nacional; No caso dos fundos de tamanho potencialmente significativo do ponto de vista sistêmico, o regulador deverá ter autoridade para estabelecer padrões de capital, liquidez e gestão de risco;

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 47


ESPECIAL WEF

5 6 7 8 9 10

A jurisdição dos fundos deverá basear-se na localização primária dos administradores de fundos. Assim, se evita que os fundos de hedge e private equity localizados em paraísos fiscais e financeiros sejam inimputáveis e não se submetam à regulamentação ou supervisão de seus países de origem; Os bancos centrais devem ter autoridade para conceder crédito, em caráter de emergência, a instituições nãobancárias. Deverão atuar preventivamente para evitar/ minimizar crises e ter regras compatíveis; Os princípios e padrões contábeis devem ser reavaliados com o propósito de desenvolver parâmetros mais realistas para lidar com menos instrumentos líquidos e mercados em crise; Os reguladores devem exigir que as instituições financeiras assumam uma proporção significativa do risco de crédito que elas empacotam em produtos securitizados e em outros créditos estruturados; A regulamentação do mercado de securitização, produtos estruturados e derivativos deve ter, no mínimo, padrões regulatórios de transparência e de abertura do mercado de títulos públicos; Deverá ser criado um sistema formal para regulamentar e supervisionar as operações de derivativos negociados em mercados fora da bolsa (over-thecounter market).

Felipe Larraín, professor de Economia da Universidade Católica do Chile

O foco em P&D A

América Latina se encontra muito atrasada na revolução das tecnologias. A principal fonte de difusão tecnológica para as economias em desenvolvimento é o investimento estrangeiro direto (IED). A abertura comercial e a qualidade da infraestrutura existente são fundamentais para atraí-lo. Mas 48 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

3

Lord Peter Levene, presidente do conselho diretor do Lloyd’s na Inglaterra e co-presidente do World Economic Forum na América Latina

perguntas

A América Latina continuará a crescer mais que o mundo Como as economias da região estão sendo afetadas pela crise? Muito menos que as dos EUA, Europa e Ásia. Muitos dos países da região têm trabalhado duro para controlar suas finanças e a inflação, e têm alcançado altos superávits, o que lhes garantiu acumular reservas internacionais e reduzir a dívida. Além disso, limitaram sua exposição à crise, pois seus níveis de empréstimo a depósitos estão entre os mais baixos do mundo. Seus bancos tampouco necessitaram de resgates, estão bem capitalizados. Apesar de tudo, há países que não conseguiram escapar da crise. O México, por exemplo, tinha uma alta dependência dos Estados Unidos via Nafta, enquanto a Venezuela é altamente dependente do petróleo. O Brasil, ao contrário, crescerá um pouco menos de 2% este ano, mesmo sendo um país exportador de matérias-primas, graças ao dinamismo do consumo interno. Qual a sua projeção para as economias da região nos próximos anos? Em 2009, o PIB da região crescerá mais de 1%. Em 2010, superará os 2%. A região continuará a ter taxas de crescimento superiores à média mundial por estar bem refugiada da tormenta. Por ser rica em petróleo e matériasprimas, em geral, a região é dependente da demanda da Ásia e dos preços internacionais. No entanto, à medida que o ingresso de recursos for crescendo, a demanda doméstica se manterá forte e mitigará os impactos negativos. Que elementos o senhor acredita que impulsionarão o novo ciclo de desenvolvimento na América Latina? A disposição de abrir o mercado de trabalho à mão-deobra especializada estrangeira, investimentos significativos em educação e infraestrutura, reformas tributárias e fiscais e a redução da burocracia.

também é essencial fomentar a inovação, e os países da região gastam menos de 0,5% do PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&D), cifra muito abaixo da dos países desenvolvidos. Apesar de o porcentual ser um indicador-chave de inovação, a forma como esses gastos são financiados também é importante. Nos países desenvolvidos, os maiores investidores são privados. Também é importante observar em que áreas se concentram os recursos de P&D. A região privilegia as ciências básicas, quando a evidência empírica apoia a ideia de que a pesquisa aplicada favorece o crescimento econômico.


Company Profile

Perfil da FedEx Express SEDE: Memphis, Tennessee; Sede da América Latina: Miami, Flórida • Escritórios em 23 países na América Latina e o Caribe • Operações de serviços para 50 países na América Latina e o Caribe • Operações de serviços em mais de 220 países e territórios mundialmente Web site: www.fedex.com Contato: Juan N. Cento Telefone Número: 786-388-2600 Indústria: Transporte Produtos: Transporte, soluções de logística e consultoria comercial

Missão: A FedEx produzirá retornos financeiros superiores para os acionistas ao disponibilizar a rede de suprimento de valor agregado, transporte, serviços comerciais e informações relacionadas através de companhias operacionais focadas. Os requisitos do cliente serão atendidos com serviços da mais elevada qualidade, apropriada para cada segmento de mercado atendido. A FedEx se empenhará para desenvolver relacionamentos mutuamente compensadoras com seus funcionários, parceiros de negócios e fornecedores. A segurança será a primeira consideração em todas as operações. As atividades corporativas serão conduzidas com os mais elevados padrões éticos e profissionais.

Perfil: Com sede corporativa em Memphis, Tennessee, a FedEx é uma corporação pública de capital aberto (NYSE: FDX) que disponibiliza um portfólio global de transporte, e-commerce e serviços comerciais através de companhias competindo coletivamente, operando independentemente e gerenciadas em colaboração sob a respeitada marca FedEx. Estas companhias operacionais são principalmente representadas por: FedEx Express, FedEx Ground, FedEx Freight e FedEx Services. Estas companhias formam o núcleo dos nossos segmentos sujeitos a relatórios.

História da FedEx: Em 1965, Frederick W. Smith, um graduado da Yale University, produziu um trabalho de final de curso sobre os sistemas de rotas de passageiros utilizados pela maioria dos expedidores de frete aéreo, os quais ele via como economicamente inadequados. Smith

escreveu sobre as necessidades dos expedidores terem um sistema projetado especificamente para o frete aéreo que pudesse acomodar remessas urgentes, tais como medicamentos, peças de computador e produtos eletrônicos. Em agosto de 1971 após uma permanência em serviços militares, Smith adquiriu participação de controle na Arkansas Aviation Sales, localizada em Little Rock, Arkansas. Enquanto estava operando sua nova firma, Smith identificou a terrível dificuldade em conseguir que pacotes e outras cargas aéreas fossem entregues num prazo de um a dois dias. Este dilema o motivou a realizar a pesquisa necessária para resolver o ineficiente sistema de distribuição. Portanto, surgiu a idéia da Federal Express: uma companhia que revolucionou as práticas comerciais globais e agora define velocidade e confiabilidade. Hoje, a FedEx Corporation é a principal provedora de serviços de remessas e de informação em âmbito mundial e uma das marcas mais respeitadas mundialmente. A FedEx Express iniciou suas operações de serviços na América Latina e no Caribe em 1989. Receita Consolidada da FedEx: $38 bilhões

Número de Funcionários na LATAM: 3.450 CEO da FedEx: Frederick W. Smith, Chairman, Presidente e CEO da FedEx Corporation

Presidente da FedEx LAC: Juan N. Cento, Presidente Serviços LAC da FedEx: • • • • • • • • • •

FedEx Express Nacional (México) FedEx International Priority ® FedEx International Priority Direct ® FedEx International Economy Direct Distribution ® FedEx International Economy ® FedEx International Priority ® Freight FedEx International Express ® Freight FedEx International Economy Freight ® FedEx Dangerous Goods Service – (Serviço de Transporte de Materiais Perigosos) FedEx Transborder Distribution – (Distribuição Transfronteira)


ESPECIAL WEF

3 4 IDEIAS PARA UMA RELAÇÃO NOVA E AREJADA ENTRE EUA E AMÉRICA LATINA PETER HAKIM,

PRESIDENTE DO DIÁLOGO INTERAMERICANO

A

eleição do presidente Obama abre uma oportunidade para que os EUA se relacionem de uma forma diferente com a América Latina. Os governos da região continuam a desconfiar de Washington e são ambivalentes quanto ao papel hemisférico que os EUA deveriam ter. No entanto, hoje há excelentes condições para a construção de uma robusta aliança EUA-América Latina. Propomos uma agenda de dez pontos pragmáticos aos EUA para ser seguida em sua política regional.

1 2

5 6 7 8

ECONOMIA : O melhor que os EUA podem fazer é reviver sua própria economia, sem protecionismo. A América Latina seria ainda mais prejudicada se fosse fechado o acesso a seu mercado e aos investimentos. Os EUA devem influenciar para que as instituições mulilaterais de crédito tenham recursos para financiar pacotes de estímulo.

9

CUBA : Isolar e sancionar Cuba é hoje um anacronismo que apenas isola os EUA do restante do Hemisfério. Reformular sua política sobre a Ilha abrirá à colaboração com a América Latina em muitos outros temas. Não há nenhum gesto tão convincente para mostrar que os EUA terão uma nova maneira de abordar a região.

10

50 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

MÉXICO : O vizinho será provavelmente o maior desafio político para seu Departamento de Estado se a violência seguir crescendo e ameaçando a segurança nacional. Os EUA devem estender substancialmente sua cooperação em segurança com o governo do México, que está disposto a trabalhar junto a Washington. É a hora de criar uma autoridade fronteiriça conjunta, de maneira a coordenar melhor as atividades de segurança. CRIMES : Muitos são os países da região que buscam apoio dos EUA para enfrentar a crescente violência. Washington deve atuar. Iniciativas nesta área devem incluir a extensão dos programas de assistência dos Estados Unidos, o controle efetivo do tráfico de armas, a revisão de políticas sobre a deportação de criminosos, bem como a estratégia antidrogas desenvolvida conjuntamente com uma série de governos da região. IMIGRAÇÃO : É urgente uma reforma compreensiva que inclua atenção a programas que se ajustem às demandas trabalhistas dos EUA; o status legal a 12 milhões de imigrantes sem documentos; e inibir a imigração ilegal com incentivos corretos. Deve-se evitar a construção do muro na fronteira México-EUA e melhorar a proteção aos direitos dos imigrantes ilegais. COMÉRCIO : A administração Obama herdou uma agenda comercial que deve ser completada. O mais urgente é ratificar os Tratados de Livre Comércio com Colômbia e Panamá, restaurar as preferências tarifárias para a Bolívia e considerar preferências para o Paraguai. BRASIL : Não parecem estar prontos para formar uma aliança estratégica de longo prazo. Mas Brasil e EUA devem colaborar em temas de alta importância como mudança climática e desenvolvimento energético. VENEZUELA : A queda do preço do petróleo eliminou a urgência para conter a insistente campanha anti-EUA do presidente Hugo Chávez. Contudo, é possível reduzir a tensão bilateral com a volta do embaixador norteamericano a Caracas. Ainda, a melhor via para conter as atividades da Venezuela na região é melhorando a cooperação com outros países da América Latina. DEMOCRACIA: Os EUA devem reconstruir sua credibilidade. A eleição de Obama ajudou. Também suas decisões de fechar Guantânamo e acabar com a tortura nos interrogatórios. É essencial que a política dos EUA em segurança internacional respeite os direitos humanos e civis. E deve-se ajudar a fortalecer o rol da OEA. HAITI: Os próximos anos serão duros para a mais debilitada nação da região. Os EUA poderiam suspender a deportação de haitianos sem documentos, estender a ajuda internacional e influenciar os bancos internacionais para que perdoem a dívida do país.


E Enfrentando a iinequidade

A

pobreza e o baixo desempenho econômico estão interconectados através de um círculo vicioso em que um Pamela Cox baixo ritmo de crescimento produz Vice-presidente do Banco Mundial para América Latina pobreza e a pobreza desemboca em um baixo ritmo de crescimento. e Caribe, EUA Para mudar essa situação, os investimentos em capital humano devem ser realizados com esforços integrados. Por exemplo, a educação rural deve ser acompanhada de melhoras de infraestrutura, para atrair empresas que possam contratar os beneficiários da melhor instrução. As políticas que prestam atenção a este tipo de iniciativa têm demonstrado ser mais efetivas. A ênfase deve recair sobre a igualdade de oportunidades. Desenvolvemos o Índice de Oportunidade Humana para medir o papel de circunstâncias pessoais no acesso a serviços básicos para se ter uma vida produtiva. Ferramentas como estas permitem identificar as áreas nas quais o investimento teria um impacto maior.

Pela competitividade

É

impossível ser competitivo sem ser produtivo, e os níveis de produção do trabalhador latinoamericano têm se mantido em Mauricio Cárdenas 25% do nível do empregado norDiretor da Iniciativa Latinoameteamericano nos últimos 30 anos. ricana, The Brookings InstituUma das teorias mais promissoras tion, EUA que explicam isso tem a ver com o alto grau de informalidade das economias, situação que sobrecarrega impositivamente as companhias que cumprem com as leis e que, unida às tradicionais cargas burocráticas, termina por desestimular a eficiência. Uma solução seria uma reforma fiscal que elevasse os impostos à renda pessoal em até 40%, a fim de reduzir os corporativos, levando a uma queda da evasão e da informalidade, especialmente se for acompanhada de iniciativas que modifiquem o equilíbrio da relação custo-benefício da formalidade.

A aposta verde

O

Luis A. Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

aumento dos preços do petróleo, a experiência brasileira com o etanol e o fato de a cana-de-açúcar ser cultivada em praticamente todos os países da América Latina fizeram com que a região se interessasse pela alternativa de explorar os biocombustíveis. O etanol que se

3

ESPECIAL WEF Marcelo Bahia Odebrecht, presidente da Odebrecht e co-presidente do World Economic Forum na América Latina

perguntas

Precisamos de líderes otimistas e visionários

Como vê região e a crise econômica? A região viveu um boom nos últimos quatro anos que não se deveu apenas ao preço das commodities, mas também ao fato de termos feito o dever de casa nos setores público e privado para melhorar nosso perfil de risco. Isso ajudou a estar menos exposto à crise que as economias do mundo desenvolvido. No sistema bancário, por exemplo, temos melhores políticas de gestão de risco (mais regulamentação, balanços menos endividados, políticas fiscais mais restritivas e sólidas reservas internacionais). Além disso, todos os países da região têm enormes demandas sociais e de infraestrutura, que podem ser vistas como oportunidades para fazer com que a economia cresça. Como as companhias latinoamericanas podem aproveitar essas mudanças para obter vantagens competitivas? As companhias da região com estratégias de crescimento sustentáveis e gestão de risco apropriada resistirão à crise melhor do que aquelas que sofrem de demasiada exposição ao risco. As menos afetadas terão mais capacidade de incrementar sua participação no mercado global através de aquisições ou crescimento orgânico, graças à sua disponibilidade de caixa e melhor condição financeira. Isso dependerá de como e em que condições o mercado global irá se recuperar após a crise. As empresas da região devem ver esta crise como uma oportunidade única para se tornarem competidores globais, mas mantendo sempre um olho na própria liquidez. Quais as características e valores pessoais necessários hoje aos que desejam assumir posições de liderança? Agora, mais do que nunca, precisamos de líderes que sejam otimistas e suficientemente visionários para aproveitar as vantagens oferecidas pelas atuais oportunidades de crescimento futuro e perpetuação, enfocando a gestão de caixa e a produtividade para assegurar a sobrevivência.

produz na região, ao contrário do norteamericano, provém da cana-de-açúcar. Este apresenta uma produtividade maior que o milho e um menor risco à segurança alimentar. A região tem um alto potencial em biocombustíveis, e quando estes são produzidos de forma sustentável podem oferecer, além de uma alternativa econômica à gasolina e ao diesel, também uma importante redução na emissão dos gases que provocam o efeito estufa. A decisão a ser tomada pelos países da região não é ser a favor ou contra os biocombustíveis. A escolha é entre os biocombustíveis sustentáveis e aqueles que não o são. ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 51


DEBATES ECONOMIA

HISTÓRIA DE UMA CRISE

As cifras contam histórias. As tendências que os números refletem e as curvas que desenham são mais convincentes que o melhor narrador. Aqui, apresentamos uma interpretação do impacto da crise na região a partir delas Soledad Gómez e Felipe Aldunate M. LAMENTAVELMENTE, A REGIÃO NÃO PASSOU ILESA PELA DEBACLE ECONÔMICA DOS EUA Crescimento do PIB da América Latina e EUA FONTE: J.P MORGAN

A. LATINA EUA

8

-0,3

%

É a contração do PIB da região prevista para 2009,

6 4

segundo a Cepal. A esti-

2

mativa anterior era de alta de 1,9%

0 2 4 6 1T94 1T95 1T96 1T97 1T98 1T99 1T00 1T01 1T02 1T03 1T04 1T05 1T06 1T07 1T08 1T09 1T10

O INVESTIMENTO ESTRANGEIRO SE REDUZ MONTANTE ANUAL DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO FONTE: SERVIÇOS DE ESTATÍSTICAS NACIONAIS E JP MORGAN

A CRISE FEZ AS REMESSAS CAÍREM

Evolução das remessas à América Latina e ao Caribe

6.000

1.000

2.000

BRASIL

38.000

20.000

28.000

CHILE

16.000

8.000

11.000

COLÔMBIA

9.500

6.000

7.500

EQUADOR

500

300

500

ARGENTINA

30%

5.0

25%

4.0

20%

3.0

15%

2.0

10%

1.0

5%

0.0

0%

FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

20010

6.0

FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

2009

US$ BILHÕES

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO (US$ MILHÕES) 2008

Remessas mensais à A. Latina Crescimento % das remessas

FONTE: BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO

16.600

15.000

24.000

-1.0

PERU

7.500

5.000

6.500

-2.0

-10%

VENEZUELA

1.700

500

1.000

-3.0

-15%

A. LATINA

97.900

55.800

80.500

MÉXICO

-9

%

Foi a queda das remessas à América Central durante os dois primeiros meses de 2009

52 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

2007

2008

-57%

-5%

É a contração estimada dos fluxos de capital para a região em 2009, que totalizariam apenas US$ 34 bilhões, segundo o IIF.


...BEM COMO A CONSTRUÇÃO E O USO DE CIMENTO...

-11,5%

É a queda da produção industrial do

Variação porcentual do consumo doméstico de cimento

quinto mês consecutivo de resultado negativo

FONTE: CÂMARAS DE CIMENTO OU DE CONSTRUÇÃO DE CADA PAÍS

Chile em fevereiro. Foi o

25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% -6,00% -10,00% -15,00% -20,00% -25,00%

A PRODUÇÃO INDUSTRIAL DA REGIÃO SOFREU FORTE QUEDA... Evolução da produção industrial na América Latina FONTE: JP MORGAN

15

BRASIL

CHILE

1T08 2T08 3T08

COLÔMBIA

ARGENTINA

4T08 Jan 09 Fev 09

PERU

10

... E A COMPRA DE CARROS NOVOS

05

Venda anual de automóveis FONTE: CÂMARAS SETORIAIS DE CADA PAÍS

0

Total 2007 Total 2008 Projeção2009

1.093.293

-5

1.022.925

1.200.000

-10

943.732 1.000.000

-15 579.431 615.588 475.000

800.000

-20 JAN 06

JUL 06

JAN 07

JUL 07

JAN 08

JUL 08

600.000

JAN 09

400.000

1,8%

Foi o aumento da produção industrial no Brasil durante fevereiro

200.000

300.292 217.300 190.000

227.743 239.835 130.000

92.539 51.017 70.000

0 PERU

COLÔMBIA

CHILE

9%

O DESEMPREGO COMEÇOU A SUBIR, DEPOIS DE TER REGISTRADO QUEDA NOS ÚLTIMOS ANOS Desemprego na A. Latina (média ponderada por PIB)

É a taxa média de desemprego segundo a Cepal. Em 2008, foi de 7,5%

FONTE: JP MORGAN

CESSSANTES

Desemprego em fevereiro (ou último mês disponível) FONTE: MERRILL LYNCH

12

% DESEMPREGO

11.5 11 10.5 10 9.5 9 8.5 8 7.5 7 2001

6

201 2010 2002

2003

MILHÕES

2004

2005

2006

2007

2008

2009

É a quantidade de novos pobres que a crise

pode gerar durante 2009, segundo o Sela

ARGENTINA

7,3

BRASIL

8,5

CHILE

8

COLÔMBIA

14,9

EQUADOR

8,7

MÉXICO

5,3

PERU

9,3

URUGUAI

6,8

VENEZUELA

7,4

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 53


DEBATES ECONOMIA OS MERCADOS EXTERNOS COMPRAM MENOS DA GENTE Crescimento de exportações da A. Latina por destino FONTE: BANK OF AMERICA SECURITIES-MERRILL LYNCH

FEV 09 JAN 09 DEZ 08 MÉDIA

20% 10%

E TAMBÉM COMPRAMOS MENOS DELES

Crescimento de importações da A. Latina por mercado de origem

0%

FONTE: BANK OF AMERICA SECURITIES / MERRILL LYNCH

FEV 09 JAN 09 DEZ 08 MÉDIA

30%

-10%

20% -20%

10%

-30%

0%

-40%

-10% ÁSIA

-50%

JAPÃO

CHINA

EUA

LATAM

EUROPA

-20% -30%

O COMÉRCIO EXTERIOR SE CONTRAI, BEM COMO O SUPERÁVIT REGIONAL Bal. Com. (em US$) Evolução do comércio exterior e montante balança comercial

80

30%

70

20%

JAPÃO

EUA

EUROPA

LATAM

Variações do PIB

FONTE: SERVIÇOS DE ESTATÍSTICAS NACIONAIS E PROJEÇÕES JP MORGAN

40

-10%

30

-20% -30%

20

-40%

10

US$ BILHÕES

50

0%

VAR. % PIB REAL 2008 III TRIM

2009 IV TRIM

I TRIM

II TRIM

2,9

-1

-0,5

0,5

EQUADOR

4,8

-1

-3,5

-3,5

MÉXICO

1,6

-10,3

-8,5

-3

PERU

8,8

0,7

2,4

3,8

de janeiro a fevereiro de 2009. Somaram apenas US$ 34 bilhões. As importações durante o mesmo período foram de US$ 33,40 bilhões, uma queda de 30,4%.

VENEZUELA

0,6

3,8

-5

-5

A. LATINA

4

-8,4

-5,9

-0,7

AGO 07

FEV09

-30,5 Foi a queda das exportações mexi-

COLÔMBIA

DEZ08

0

OUT 08

-4

JUN 08

-4

AGO 08

-0,2

ABR 08

CHILE

FEV 08

3,8

DEZ 07

-6,0

-4,1

OUT7

-10,0

-13,6

JUN 07

-1,2

6,9

ABR 07

6,3

BRASIL

FEV 07

ARGENTINA

%

canas

MAS A AMÉRICA LATINA ENFRENTA ESTA CRISE EM MELHORES CONDIÇÕES QUE NO PASSADO: RECORDE EM RESERVAS E DÍVIDA EXTERNA MENOR...

ALGUNS SÃO MAIS AFETADOS QUE OUTROS Variação % anual do PIB por sub-região FONTE: JPMORGAN

Reservas internacionais e dívida externa como % do PIB FONTE: JP MORGAN

8.0 6,2 4,5

3,7

3,4

4,0

6,9

6,5 4,6 4,3

Reservas externas Dívida externa (PIB/rhs)

Caribe América Central A. Latina

9,4

10.0

2.0

CHINA

RESULTADO? PROJEÇÕES DE CRESCIMENTO DESABAM

60

10%

4.0

ÁSIA

90

40%

6.0

-50%

Cresc. Import (%) Cresc. Export (%)

FONTE: BANK OF AMERICA SECURITIES / MERRILL LYNCH

50%

-40%

5,3

6,3

%PIB 60

450

7,2

400

5,3 3,7

4,3 3,9

50

350 2,5 2,33,0

1,8

300

40

250

30

200

0.0

-0,4 -0,6 -2,2

-2.0

150

20

100

-4.0

10

50 2003

2004

2005

2006

*Neste gráfico, América Latina não inclui a América Central

54 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

2007

2008F

2009F

2010F

0 1981

1984

1987

1990

1993

1996

1999

2002

2005

0 2008


A QUEDA NA CIRCULAÇÃO DO DINHEIRO E O CUSTO MAIS BAIXO DAS MATÉRIASPRIMAS AJUDARAM A CONTROLAR A INFLAÇÃO...

ALTOS E BAIXOS

Evolução inflação A. Latina (com e sem Argentina e Venezuela) FONTE: JP MORGAN

Inflação anual em fevereiro de 2009

LATAM Sem Argentina e Venezuela

10

FONTE: MERRILL LYNCH E AMÉRICAECONOMIA

% INFLAÇÃO

9 8

ARGENTINA

7 6

16,2

BRASIL

5,9

CHILE

5,5

COLÔMBIA

6,5

EQUADOR

7,9

MÉXICO

6,2

PERU

5,5

URUGUAI

7,9

5 4 3

-2,01

1Q06 2Q06 3Q06 4Q06 1Q07 3Q07 4Q07 1Q08 2Q08 3Q08 4Q08 1Q09 2Q09 3Q09 4Q09

Foi a queda da produção de minério e de pretróleo no Peru durante fevereiro

... E MUITOS GOVERNOS PASSARAM A SER CREDORES, O QUE LHES DÁ FLEXIBILIDADE PARA ATUAR

Dívida pública líquida estatal de países selecionados Brasil México Venezuela Peru

100 60

29,5

E OS BANCOS CENTRAIS REDUZIRAM AS TAXAS DE JUROS TRANSFERINDO O FOCO DO CONTROLE DA INFLAÇÃO AO CRESCIMENTO

FONTE: IBGE, BANXICO, BCV AND J.P. MORGAN

BRASIL, MÉXICO, PERU E VENEZUELA: NET EXTERNAL DEBT

VENEZUELA

Chile Colômbia México Peru EUA Brasil (rhs)

Política de taxas de referência nos bancos centrais

20

FONTE: JP MORGAN

-20 12

21

10

18

-60 -100

15

8 -140 -180

12

6

9 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

4

E APESAR DA QUEDA, PREÇO DAS MATÉRIAS-PRIMAS AINDA ESTÁ ACIMA DO MÍNIMO HISTÓRICO Índice de preços de commodities em mercados selecionados FONTE: J.P MORGAN

250

Argentina Colômbia Brasil Peru Chile Média2005

230 210 190

6

2 0 2006

3 0 2007

2008

2009

4ºT-2009 Em um cenário otimista, a América Latina poderia começar a recuperar-se nos últimos três meses deste ano, segundo o Banco Mundial. Em um pessimista, a região só começará a mostrar sinais de recuperação no segundo trimestre de 2010.

170 150 130 110 90 70 50 JAN04

JUL 04

JAN 05

JUL 05

JAN06

JUL 06

JAN07

JUL 07

JAN 08

JUL 08

JAN 09

FIM (ESPERAMOS) ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 55


FINANÇAS RISCO

PASSADO REDENTOR

RODRIGO DÍAZ CARRIZO

Antigas crises ensinaram aos administradores de risco latinoamericanos como evitar os males que afligem os bancos dos EUA e Europa Eduardo Thomson

56 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

O

svaldo Álvarez chega ao trabalho sempre às oito da manhã. Sobe até o 18º andar do edifício corporativo do Banco Santander, em Santiago do Chile. E a primeira coisa que faz como gerente da área de riscos financeiros do banco é revisar a situação nos mercados europeus, uma indicação de como estará o mercado em geral. Se dá tempo, termina alguma tarefa que sobrou do dia anterior “com a cabeça arejada depois de algumas horas de sono” e por volta das oito e meia se reúne com a equipe comercial do banco, para discutir quais operações de mercado fazer, quais instrumentos comprar, quais posições são excessivas e devem ser desfeitas. Depois, reúne-se com sua equipe. “Fazemos os cálculos das medidas de risco, ou VAR (Value at Risk), medimos a sensibilidade, a liquidez”, todos com avançados modelos idealizados por matemáticos, engenheiros e especialistas de informática. No jargão do setor, são conhecidos como “quants”, uma derivação de “quantify”, ou, em português, quantificar. A tarefa de sua equipe é reduzir ao máximo possível a exposição a riscos como o de mercado (quando o valor de um instrumento despenca) ou de crédito (de que uma parte não tenha capacidade de pagar suas obrigações). Incluindo se isso significa dirigir-se a um trader do banco e dizer “este não pode” ou “desfaçase deste outro”. Álvarez sabe que é um muro de contenção, que sua tarefa é vital em um banco. Mas também sabe que alguns destes modelos que ele e sua equipe usam caíram em desprestígio. Nos jornais e fóruns em todo o mundo há críticas aos administradores de risco. Muita gente exige


saber como foi possível que bancos tão grandes em Wall Street tenham registrado perdas enormes e colocado em xeque o sistema econômico mundial, na medida em que tantos especialistas deveriam ter previsto isso. Para que tantos modelos se não conseguem medir o risco de verdade? Os especialistas na América Latina e no resto do mundo defendem-se dizendo que, sem as fórmulas ou modelos matemáticos, gerenciar um banco atualmente seria o equivalente a pilotar um 747 sem altímetro ou mesmo sem janela. Uma das fórmulas mais criticadas é o VAR, modelo que trata de medir o risco de perdas de uma carteira de instrumentos. Em poucas palavras, para uma carteira, probabilidade e horizonte de tempo, o VAR é o valor limite tal que a probabilidade de perda de mercado no horizonte de tempo especificado exceda este valor. Para ser mais simples, se uma carteira de ações tem um VAR – considerando um horizonte de tempo de um dia e porcentagem prefixada de 5% – de US$ 1 milhão, existe 5% de probabilidade de que o valor da carteira caia mais de US$ 1 milhão em um dia qualquer, ou que ao passar de 20 dias, em um destes dias, tenha havido uma perda maior que este valor. O VAR foi popularizado pelo banco norteamericano JP Morgan e rapidamente foi incorporado por todas as grandes instituições do mundo. O JP Morgan depois decidiu ascender a divisão que popularizou o VAR do banco e deu vida à empresa de assessoria em administração de risco RiskMetrics. Contudo, o modelo gera críticas. Uma das principais vozes tem sido Nassim Taleb, autor do best-

seller O Cisne Negro, que acusou o modelo de dar uma falsa sensação de confiança aos investidores. Para ele, o modelo trata de medir feitos pouco prováveis, que não são nem mensuráveis. Outra crítica é que a aplicação dos modelos é tendenciosa: são usados para maximizar ganhos de curto prazo, o que permite aos administradores pedir bônus maiores, ocultando os grandes riscos de longo prazo. Mas os especialistas se defendem. “Têm que administrar o risco por meio de modelos, como por exemplo, o VAR”, comenta Chris Finger, diretor de pesquisa da RiskMetrics. “Os mercados são simplesmente muito complicados e ver uma instituição e todos os tipos de exposições que ela possui, não ter algum tipo de modelo é simplesmente pouco realista. Contudo, ao mesmo tempo, todos os modelos são imperfeitos. É preciso assumir coisas nos modelos. E, se esquecer deste detalhe, então temos problemas”. Ou seja, o importante é a interpretação feita pela pessoa da cifra originada do modelo, e não apenas apostar no modelo.

EX POST São duas e meia da tarde e o mercado de valores do Chile é encerrado. Neste momento, a equipe de Osvaldo Álvarez no Santander começa a fazer novos cálculos. “Todos os instrumentos comprados, mais o estoque de carteira, foram valorizados pela gente”, comenta. Com a nova informação que possuem, voltam a calcular os níveis de risco do banco e como têm variado. Não há como fazer isto até que o mercado feche. Mas há quem critique que muitos administradores de risco simplesmente fazem um trabalho ‘posterior’. “Em

grande medida o trabalho dos administradores de risco é reportar depois que ocorrem as transações e monitorar, mas com muito pouca influência na estratégia de investimento”, comenta Frank Nielsen, chefe de pesquisa da MSCI Barra, uma empresa de assessoria de riscos. Mas também há aqueles que dizem que isto está começando a mudar e que os administradores de risco, os “quants” em todo o mundo, incluindo na América Latina, estão começando a participar ativamente das decisões, qualificando de antemão o que se pode comprar e aquilo que é “tóxico” e não deve ser tocado. Para o mexicano Gerardo Gamboa, diretor geral da Valmer, uma empresa que

De todo modo, a administração de risco é uma tarefa árdua, que requer profundos conhecimentos técnicos e enfrenta a difícil tarefa de fazer entender conceitos complicados a superiores que às vezes não dominam os conceitos técnicos necessários para isso. “Surpreende-me ver pessoas em cargos importantes que acreditam que, pelo fato de terem um VAR de um milhão, correm o risco de só perder este montante”, explica Gregório González, gerente geral da empresa de informações financeiras e assessoria LVA Índices. “E então tenho que explicar que é o mínimo que se pode perder em um dia, mas na prática se pode perder muito mais que isso”. O bom é que todos os

Modelos como o VAR são acusados de dar uma falsa sensação de confiança. faz, entre outras coisas, outsourcing de administração de risco, a tendência voltou particularmente forte nos últimos seis meses. “As áreas de risco estão destinando mais tempo a serem proativas para participar de forma mais efetiva nas decisões de compra e venda de valores ou de onde estão canalizados os recursos das entidades”, comenta. Há quem diga que isto é antigo, como Afonso de Campos Pinto, no Brasil, sócio da consultora de risco de mercado MAPS, que diz ter participado em estratégias de investimento durante sua passagem pelo banco ABN Amro. Álvarez, do Santander, explica que participa em várias avaliações ao longo do ano para fixar estratégias no banco espanhol.

administradores de risco consultados concordam que a América Latina, graças às numerosas crises passadas, possui regulamentações e reguladores qualificados para supervisionar os departamentos de risco, a fim de não cair em situações como a dos países desenvolvidos. De fato, as empresas da região que sofreram fortes perdas pela exposição de derivativos de 2008, como a Aracruz ou a Comercial Mexicana, fariam bem em submeter-se aos mesmos reguladores que supervisionam os setores financeiros latinoamericanos. Todavia, deve fazer falta não ter alguns “quants” com doutorado em matemática em sua equipe para lhes salvar. Q ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 57


FINANÇAS OPINIÃO

John C. Edmunds

Diga-me quando QUANDO A ECONOMIA DOS ESTADOS UNIDOS vai se recuperar? Esta é a pergunta do milhão de dólares, que todos os economistas tentam responder. Eu tenho uma notícia: começará agora. E será impulsionada por uma série de refinanciamentos de hipotecas. Senhoras e senhores, a deflação chegará a seu fim e os preços das casas se estabilizarão, para logo subir. O governo dos Estados Unidos anunciou recentemente duas medidas que darão o empurrão necessário ao refinanciamento de hipotecas e à reativação do setor habitacional: primeiro, o Congresso deu aos tribunais o direito de modificar as condições de uma hipoteca, ou seja, os juízes podem reduzir o montante de uma dívida e, além disso, reduzir a taxa de juros. Segundo, o Fed anunciou que comprará US$ 750 bilhões em empréstimos hipotecários e instrumentos respaldados pelas casas de hipotecas Freddie Mac e Fannie Mae, entidades controladas pelo Governo Federal que detêm aproximadamente a metade dos créditos hipotecários no país. Como parte do anúncio, o Fed também divulgou que comprará cerca de US$ 300 bilhões em títulos do Tesouro de longo prazo. Como resultado, o rendimento do título do Tesouro de 10 anos caiu no mercado secundário, de 3% a 2,5%, e as taxas de juros para créditos hipotecários de 30 anos com taxa fixa caiu de 5,1% a 4,79% em um só dia. Uma semana antes, o governo havia anunciado que parte dos fundos que o Congresso havia outorgado ao Tesouro seria usada para compensar os titulares de créditos hipotecários pelas perdas que sofrerão ao reduzir o montante total e as taxas de juros devidas pelos donos das casas. Estas iniciativas nos forçam a modificar todos os cálculos de oferta e demanda de moradias. Antes, o razoável para um potencial comprador era esperar que os preços deixassem de cair. O livre mercado teria eventualmente limpado o mercado. Contudo, o governo interveio porque a queda nos preços estava mostrando nocivos efeitos secundários sobre o sistema financeiro, de modo geral, sobre outros setores da economia e a economia mundial. Assim, o razoável para um comprador – em algumas partes do país – será adquirir agora, bem como o razoável para os credores será ser mais gentil com os que estão atrasados em seus pagamentos. Os preços das moradias provavelmen-

58 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

te começarão a subir porque agora será mais fácil comprar, e será mais fácil para os donos manterem suas casas porque os credores hipotecários esperarão antes de forçar uma venda. Antes, quando os preços baixavam, esperar significava perder mais dinheiro. Agora não. Os donos que pagam apenas parte de suas cotas mensais poderão obter um crédito novo com melhores termos. As medidas também dissiparam o espectro da deflação e retomaram os temores sobre uma maior inflação. Como resultado, os preços do ouro, petróleo bruto, cobre e outros bens básicos subiram após o Fed ter feito os anúncios. Os dados ainda não revelam todos os efeitos destas iniciativas, mas as solicitações para refinanciar hipotecas foram elevadas em 29,6% na semana de 18 de março. Os jornais também informaram em 20 de março que as centrais telefônicas dos principais bancos e casas de empréstimos entraram em colapso por conta da avalanche de chamadas de gente buscando renegociar suas dívidas. Que efeito terão estas medidas nas economias latinoamericanas? Já podemos ver uma apreciação nas moedas da região e uma leve alta nos mercados acionários. Os investidores de carteira estão voltando timidamente aos mercados de maior liquidez na região, mas não se pode falar de retorno em massa. Ainda resta ver os efeitos principais. Aguardamos sinais mais claros de que, por fim, o gigante americano encontrou as medidas apropriadas para tratar seu agonizante mercado imobiliário. Se tiver sucesso e os preços das casas deixarem de cair, a recuperação começará a estender-se rapidamente. Os intermediários financeiros nos EUA voltarão a ficar saudáveis porque sua base de clientes já não estará na fronteira da insolvência. O resto do mundo poderá respirar com tranquilidade. Contudo, ainda não é hora de cantar vitória. Ninguém conhece a ciência certa para medir se as medidas são suficientes ou não. As compras de casas, por exemplo, ainda não subiram muito. Para a semana de 18 de março, tinham crescido 1,5% frente à semana anterior e estavam 30% abaixo dos níveis da mesma data do ano anterior. O governo tem implementado valentes medidas e evitado que a recessão se converta em uma depressão, e tudo indica que seguirá com este tipo de medidas pelo tempo que for necessário para reativar o mercado de habitações e o de trabalho. No entanto, o dólar seguirá em depreciação, os preços das commodities seguirão subindo e as moedas e economias da América Latina, ao menos aquelas que são conservadoras, se fortalecerão. Q

O governo dos EUA tem implementado valentes medidas e evitado que a recessão se converta em depressão.

Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e co-autor de Wealth by Association.


CAPITAL ABERTO http://blogs.americaeconomia.com/thomson/

teto nos 15 euros. Outro motivo que impulsionou uma queda na demanda por créditos de carbono ou Certificados de Redução de Emissões é que esses instrumentos concorrem com os “Certificados de Emissão”, documentos entregues pelos governos às empresas na Europa e que são equivalentes à quantidade de emissões poluentes à atmosfera que podem gerar. “Se o setor de cimento, por exemplo, tem seus compromissos de redução de emissões cobertos devido à queda na atividade econômica, pode ir ao mercado e vender seus certificados”, explica Eduardo Piquero, diretor comercial para a América Latina da consultoria ambiental MGM. Segundo o especialista, muitas empresas europeias preferem comprar esses instrumentos porque estão baratos e são considerados de “menor risco” porque são gerados e negociados na própria Europa. Piquero explica que o recen-

te rebote nos preços se deve a que a ONU realizou mudanças nas regulamentações para aprovar os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) – que geram a redução de poluentes e créditos de carbono – o que implicou menos projetos e portanto uma menor oferta desses instrumentos. E como se vê o futuro? Com um preço médio de 15 euros, deverá manter-se em bom estado, sobretudo para a América Latina, que já possui um mercado de emissão de créditos de carbono maduro. “Brasil, México, Chile e Colômbia estão entre os primeiros países que deram seus passos nesse mercado, antes mesmo que Índia, China e Rússia”, diz Piquero. “Então, para um comprador, é mais interessante lidar com projetos na região do que na China.” Um bom antecedente para uma economia que, por mais verde que seja, também tem algo negro. Q Arly Faundes Berkhoff

CARBONO BARATO Evolução dos preços dos certificados de redução de emissões (CER), em euros FONTE: POINTCARBON

30 25 20 15 10 5

07

08

09 10 2007

SCER PRICE 2009-2012

11

12

01

02

03

04

05

06 2008

07

08

09

10

11

12

01

02 2009

03

VENDAS DE CASAS NOVAS FONTE: DEPARTAMENTO DE COMÉRCIO DOS EUA

700000 600000 500000 400000 300000 200000 100000 0

02-09

A CRISE ECONÔMICA não poupa sequer os créditos de carbono que as empresas dos países industrializados compram para paliar suas emissões de poluentes. A redução da atividade econômica supõe menos uso de combustível e menos poluição ambiental. “Se há uma crise que lhe leva a uma menor atividade e menos emissões, então se assume que a demanda por créditos de carbono será menor”, diz Arturo Errázuriz, diretor para a região andina da Ecosecurities, empresa que desenvolve projetos de redução de poluentes. “A desaceleração da atividade gera uma menor necessidade de contar com essas reduções nos países industrializados.” Assim, o preço desses instrumentos financeiros, que alcançou os 25 euros por tonelada em julho passado, caiu em fevereiro para apenas 7 euros. Em março, houve uma leve alta, para 12 euros, mas os especialistas acham que essa recuperação poderia ter seu

É preciso encontrar forças na debilidade. Segundo o departamento de estudos do banco inglês Barclays o mercado asiático emergente está mostrando sinais de recuperação. Por isso, a instituição recomenda a tomada de posições agressivas em algumas regiões e classes de ativos. Em um informe, o Barclays indica que a recuperação já começou na Ásia emergente e levará a um período de seis a nove meses no qual a maioria

07-08

celeração econômica mundial

FUNDOS À VISTA

01-08

ECOLOGIA POUCO RENTÁVEL Os créditos de carbono também sofrem com a desa-

das economias do mundo tocarão o fundo e começarão a recuperar-se. A região seguinte seria os Estados Unidos. O banco recomenda avaliar os bônus com grau de investimento, especialmente os do setor bancário, ações pró-cíclicas e algumas moedas pró-cíclicas, como o dólar australiano. Outro setor que estaria pronto a tocar o fundo é o imobiliário nos EUA, segundo o banco de investimentos Bulltick Capital. As vendas mês a mês registraram uma recuperação de 4,7% em fevereiro, enquanto os pedidos de hipotecas aumentaram 32% no mês, frente a 21% no mês anterior. As vendas seriam impulsionadas pelos remates de casas com hipotecas executadas. Será a luz no fim do túnel?

SCER PRICE 2009

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 59


I-BIZ

A mãe de

todas as

células

As terapias celulares, baseadas em células-tronco, já são uma realidade na América Latina. Mas ainda não se sabe que rumos essa revolução no setor da saúde tomará Juan Pablo Dalmasso

GILBERTO CONTRERAS

E

Sánchez: recuperando corações

60 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

m março, Barack Obama liberou o financiamento federal para as pesquisas sobre células-tronco com embriões humanos nos EUA. Felizmente, o mexicano Rubén Argüero Sánchez não teve que esperar essa autorização para dar início a suas próprias pesquisas com essas células, que têm a peculiar capacidade de autorrenovar-se e inclusive renovar tecidos humanos de acordo com uma programação. Nacionalmente famoso desde 1988, quando realizou o primeiro transplante de coração em seu país, Sánchez buscou nas células-tronco uma alternativa para solucionar o eterno problema dos transplantes de órgãos: a oferta muito abaixo da demanda. Depois de muita pesquisa, em 2004 Sánchez e a equipe do Hospital Nacional del Siglo XXI do Instituto Mexicano de Seguro Social (IMSS) foram os primeiros no México a aplicar e patentear um

procedimento de células-tronco para recuperar um coração. Suas primeiras pesquisas envolviam células-tronco obtidas da mesma medula óssea do paciente, de onde tirou uma variedade determinada de célula, a CD34, para semeá-la diretamente no músculo cardíaco com injeções. Com o passar dos meses, o coração debilitado tinha se recuperado e o doente conseguiu manter uma vida medianamente normal. Sánchez realizou esse procedimento em cem pacientes, com resultados surpreendentes: somente sete deles morreram no primeiro ano depois da intervenção, enquanto nos procedimentos tradicionais o índice de mortalidade é de 68%. E a vantagem não foi apenas terapêutica: os custos desse procedimento representam a quarta parte dos de um transplante, e sem as consequências pós-operatórias deste, como diabetes adquiridas ou infec-


ções severas devido ao uso de imunossupressores. “As células CD34 são muito adaptáveis e o próprio miocárdio converteuse em uma plataforma de informação genética que as reprogramou e permitiu a regeneração”, diz Sánchez. “Usamos células adultas multipotenciais (que se adaptam a múltiplos tecidos) que podem funcionar em órgãos privilegiados como o coração, os pulmões, o fígado, o pâncreas, os rins e o cérebro. E a utilização de células totipotenciais (que adotam qualquer forma), como as do cordão umbilical, permitiria gerar órgãos inteiros”, conta. Segundo Lee Buckler, da consultoria canadense Stem Cell Therapy Group, atualmente há cerca de 700 empresas, 250 terapias desenvolvidas e 65 empresas com 68 produtos envolvidos na euforia celular mundial. As estimativas do mercado potencial rondam os US$ 25 bilhões, com projeções de crescimento anual que superam os 25%, segundo os fundos de risco Bionest Partners e Proteus Partners. Sánchez é um exemplo que demonstra que a América Latina faz parte dessa onda de pesquisa médica. Alguns países como México e Brasil deram seu especial apoio aprovando explicitamente as pesquisas com embriões humanos resultantes de fertilizações in vitro em seus primeiros dias de gestação. E recentemente o governo argentino preocupou-se em difundir que a lei não proíbe tal atividade. “Isso significa abrir caminho para a busca de soluções a doenças crônico-degenerativas responsáveis por dois terços do gasto global em saúde, caso se logrem soluções satisfatórias”, diz José Krieger, diretor do laboratório de cardiologia

genética e molecular dependente da Universidade de São Paulo (USP). Suas pesquisas comprovaram que um embrião pode gerar células cardíacas. Agora, o desafio está em “como programá-las”, diz. No centro de genômica da USP, já se experimentou em animais a recuperação de músculos a partir de células-tronco encontradas na gordura, que não apenas serve para atender a distrofia muscular humana como também para utilizar um recurso que até agora era descartado: a gordura das lipoaspirações. Na Argentina, as aplicações no miocárdio realizadas no hospital público de Avellaneda são contemporâneas à experiência mexicana, com especial interesse nos afetados pelo Mal de Chagas, pandemia regional que afeta 6,5 milhões de pessoas no Cone Sul, e na Argentina absorve US$ 221 milhões ao ano. Ao mesmo tempo, experimentou-se com a implantação de células-tronco no pâncreas, conseguindo melhorias na produção de insulina entre 50% e 80%, dependendo da variedade da doença. A lista não é exaustiva e o fenômeno, na verdade, vai além dos possíveis desenvolvimentos nos laboratórios e centros de pesquisa. Como tecnologia emergente, as células-tronco requerem uma nova cadeia de valor e serviços. Os primeiros da lista são os bancos de cordão umbilical que surgiram em todos os países da região para armazenar o material em sistemas refrigerados para uma potencial aplicação quando o recém-nascido o demande e a tecnologia esteja disponível. As tarifas normalmente são de um valor inicial que varia de US$ 500 a US$ 1 mil, além de mensalidades de cerca de 10% desse valor. Um negócio

crio-imobiliário mas que sobre o qual nem todos estão de acordo. “A possibilidade de que uma pessoa aproveite seu próprio cordão é uma em 100 mil”, diz o mexicano Saúl Cano, pesquisador do laboratório de cultivo, transplante celular e medicina genômica do Centro Médico Nacional 20 Noviembre, da Cidade do México.

A nova tecnologia reduzirá os gastos em medicamentos e serviços apresentando a cura às doenças que mais os demandam? “Os protagonistas serão as ofertas terapêuticas, aquelas clínicas e serviços que tenham protocolos (métodos sistematizados segundo parâmetros reconhecidos)”, aposta Saúl Cano. “O desafio que

Cientista quer garantir maior oferta com menor custo. Nesse sentido, os sistemas de saúde já estão realizando consideráveis investimentos em infraestrutura de bancos, que operam em redes internacionais como as que existem para doação de órgãos. Os especialistas concordam em lançar alertas frente ao surgimento de ofertas terapêuticas milagrosas, quando a maioria dos tratamentos ainda estão em fase experimental. As principais suspeitas são as famosas clínicas de turismo de saúde e os serviços de celuloterapia off shore . O tema ganhou força quando a revista Nature denunciou ofertas como a da Medra, clínica dirigida pelo doutor William Rader da Califórnia e com instalações em Santo Domingo, por operar no exterior para eludir as regulações norteamericanas. A empresa oferece cura a um cardápio de doenças crônicas com base em células fetais frutos de abortos realizados no Leste Europeu. Mas, além de casos particulares, a pergunta é: quem dominará os gastos de saúde?

temos é passar da pesquisa à oferta de mercado.” Alguns aspectos reforçam tal posição. Se as terapias tendem a ser personalizadas e com base em doações autólogas, ou seja, do próprio paciente, torna-se difícil imaginar uma economia de produtos. Por isso, chama a atenção que os laboratórios farmacêuticos, grandes investidores em pesquisa e desenvolvimento, mantenham a cautela quando o assunto são células-tronco, tal como aponta Ruth Mckernan, encarregada de medicina regenerativa do Laboratório Pfizer, um dos que seriam mais afetados. Hoje Ruth garante estudar como essas células funcionam para identificar seu estímulo e controle. Para outros, ainda não está definido se a tecnologia levará à oferta de produtos e serviços. Mas, o que gera menos dúvidas, se tal tecnologia cumprir suas expectativas, é que os que vão necessitar de terapia intensiva são os sistemas de previdência, que verão muita gente aumentando sua expectativa de vida. Q ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 61


CLICS & CHIPS [gadget]

O iPod que fala

A Apple introduziu um novo iPod Shuffle, seu menor reprodutor eprodutor de rramenta VoiceOmúsica digital. E, ainda que não acredite, ele fala. A ferramenta anções, artistas e ver permite que o dispositivo diga os títulos de suas canções, nomes de listas de reprodução. Tem capacidade de 4GB e custa US$ 79. www.apple.com

[.com]

Economize em tempos de crise

Tip Jar é um site criado pelo Google no qual se pode agregar e consultar conselhos sobre como economizar dinheiro, principalmente nesta época de retração econômica. O objetivo é oferecer aos usuários a oportunidade de encontrar informação útil em um site focado em como melhorar a gestão financeira. http://moderator.appspot.com/#16/e=3cfc

[gadget]

O regresso de Scarlet

A companhia coreana LG lançou um novo modelo dentro de sua série de TVs Scarlet. Trata-se do LCD LH70, que se destaca pela incorporação de Bluetooth, raio de contraste dinâmico de 100.000:1 e um tempo de resposta de apenas 2 milissegundos. Inclui um sensor de luz ambiental e botão tátil para ligar o aparelho. O modelo de 42” custa US$ 1.750. www.lge.com

[gadget]

Peso ligeiro

A Dell conseguiu tirar o título do MacBook Air, portátil mais fino do mercado. Seu modelo Adamo é feito em uma só peça de alumínio, o que o torna muito leve (pesa 1,8 kg) e resistente. Tem 1,65 cm de altura, tela de 13,4’’, câmara de 1,3 megapixels; 3 portas USB e bluetooth. Sua bateria tem autonomia de 5 horas. Custa US$ 1.999. www.dell.com

62 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009


INTERFACES A LOUCA VIDA COTIDIANA COM AS MÁQUINAS INTELIGENTES.

VELOZES E SILENCIOSAS É

bastante mais humilde que a Lei de Moore: apenas 8% de aumento anual. Só que neste caso não se trata de capacidade de processamento, mas de armazenamento de energia sobre a mesma unidade de volume/peso. Sim, falamos de baterias elétricas. Para Forrest North, criador da Mission Motor Co., uma start up de San Francisco, EUA, essa taxa de melhoria é o Santo Graal: está a ponto de tornar possível a explosão massiva de um novo tipo de veículo: as motos elétricas de alta performance. Durante muitos anos, as motos elétricas foram como a lua: algo que provoca ternura e simpatia, mas que não tenta as pessoas a fazer algo mais que observá-la. Isso está por mudar. De fato, também nos Estados Unidos, a Vectrix e a Zero Motorcycles fabricam e vendem motos elétricas desde 2007. O ponto é que são muito caras para massificar-se. Nos próximos meses, a Vectrix dará um giro: oferecerá seu novo modelo (a scooter VX-2), por US$ 5.195. Bem abaixo dos US$ 11 mil que seu primeiro modelo custava. Mas para os fanáticos da velocidade, pode resultar decepcionante: sua velocidade máxima será de 55 km/h, com autonomia de 200 km. Mesmo que a moto da Mission só comece a ser fabricada massivamente no ano que vem, e que vá custar US$ 68 mil, será estimulante vê-la em junho competindo no primeiro Grand Prix para Motos Livres de Emissões Poluentes, que se realizará na mitológica ilha de Man, localizada entre Inglaterra e Irlanda. Dentre as 50 equipes inscritas, até o momento o favorito para levar o troféu é o criador da TTX01. Construída por engenheiros sobre um chassi de Suzuki, trata-se de uma moto de nada menos que 86 cavalos de força, equivalentes a uma máquina convencional de 600

cc. O motor elétrico de marca Agni é alimentado por duas baterias. Esse conjunto de características lhe permite acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 3,5 segundos. Não deixa de ser impressionante. A TTX01 começará a ser produzida no final deste ano. Azar Hussain, um dos envolvidos no projeto, antecipou que a carroceria será fabricada em fibra de carbono, o que nos leva a um dado interessante. Os motores a explosão, nas motos, demandam uma armadura muito forte dada à violência da operação dos pistões, e nos motores elétricos isso não acontece. Tampouco é necessário um sistema de injeção de combustível, bombeio de óleo ou radiadores. Hussain afirma que tais ausências permitirão mudar o design das próprias motos com o uso de materiais mais leves. Entre outras novidades, a moto inglesa possuirá freios regenerativos, nos quais um sistema de dínamo armazenará parte da energia que habitualmente se dissipa com as freadas. Apesar de tão bons augúrios, como saber se não se trata de uma nova partida falsa nos sonhos de um mundo de veículos elétricos? Para aqueles que apostam que não será assim, a melhoria na capacidade das baterias é a linha que divide o possível do impossível. Caso seja ultrapassada, as motos elétricas contarão com uma vantagem notável frente a motos de hidrogênio ou biocombustível, porque sua rede de abastecimento já existe e é universal: qualquer tomada. Mas as motos elétricas de alta velocidade possuem um problema que seria nada mais que ridículo se não apresentasse implicâncias letais: quase não emitem ruído. Por isso, o debate se concentra em dotá-las de um sistema artificial de ruído ou esperar que as pessoas sejam mais cuidadosas na hora de atravessar a rua. Q

SOLEDAD TIRAPEGUI

ADOLFO WATERHOUSE

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 63


NEGÓCIO FECHADO Conosur, que opera 150 postos de gasolina sob a marca Sol Petróleo. A PDVSA, que já controla 46% das ações da Conosur, também anunciou que pensa em adquirir os 36% de participação no negócio atualmente controlados pela uruguaia Ancsol.

AEROLÍNEAS: INJEÇÃO DE LIQUIDEZ

>> REPSOL YPF A Repsol YPF Ecuador comprou os ativos petrolíferos da norteamericana Murphy Oil Corporation no Equador. A negociação foi fechada em US$ 87 milhões, além do compromisso da Repsol de se encarregar de impostos e outras dívidas. Os ativos comprados incluem reservas estimadas em 4,8 milhões de barris de petróleo.

>> ANDES ENERGY Mais de 400MW de energia renovável é a capacidade de geração da joint venture da Andes Energy com a Mainstream Renewable Power, empresa irlandesa que investirá mais de US$ 1 bilhão na instalação de vários projetos de energia eólica. A nova plataforma de geração é o maior investimento de capitais irlandeses da história do Chile. O primeiro desses parques estará em Laguna Verde, na V Região, e vai gerar 36MW. >> ECOPETROL A estatal colombiana negociou a compra da participação da canadense Enbridge Inc. na Oleoducto Central S.A., Ocensa, por US$ 417,8 milhões. Com esta operação, a Ecopetrol aumenta sua participação de 35,3% para 60%, fortalecendo sua posição no mais importante sistema de transporte petrolífero do país, com capacidade de transporte de 650 barris de petróleo por dia. >> EMBRATEL A operadora de telefonia Empresa Brasileira de Telecomunicações S.A. 64 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

recebeu US$ 200 milhões do Nordic Investment Bank para financiar sua infraestrutura de banda larga. Controlada pela Telmex, a Embratel anunciou em dezembro o lançamento comercial de serviços WiMAX em 12 cidades brasileiras, depois de um investimento de US$ 600 milhões. >> FARMATODO Com a compra de 12 unidades da rede Farmacity, a venezuelana Farmatodo entra no mercado colombiano. A rede planeja uma expansão que a leve a somar 50 pontos-de-venda na Colômbia, com um investimento de US$ 100 milhões. A Farmatodo opera 132 lojas na Venezuela e emprega 6 mil pessoas. >> FISCHER AMERICAFALA! As agências de publicidade Fala! e Fischer America anunciaram seu processo de fusão como parte da reestruturação do grupo Totalcom. A queda na rentabilidade das agências, que se viram golpeadas pela crise, motivou a holding a buscar um novo modelo para seu negócio. A fusão

de Fischer America e Fala! cria uma empresa com lucro de cerca de US$ 500 milhões, que a posiciona entre as top 10 do Brasil. >> ICA A construtora mexicana Empresas ICA anunciou que conseguiu ganhar uma licitação do Governo Federal para construir e operar um bypass rodoviário de 21 km, bem como para melhorar dois trechos – de 7 km e 39 km – por US$ 132 milhões. As obras levarão 22 meses para ser concluídas e contarão com financiamento do Banco Santander. >> PDVSA A estatal venezuelana aumentou sua participação na propriedade da companhia argentina Petrolera del

>> SANTELISA VALE O segundo maior produtor sucroalcooleiro do Brasil negociou sua fusão com a operação do grupo francês Louis Dreyfus no País. O valor final da transação dependerá de como a Santelisa concluirá a negociação de suas dívidas, de cerca de R$ 3 bilhões. Ela foi uma das vítimas de apostas em derivativos cambiais. >> VALE A mineradora brasileira Vale se integrou a uma joint venture com a canadense Teal Exploration & Mining e a sulafricana African Rainbow Minerals, ARM, para realizar uma exploração de cobre, ouro e cobalto na África. A brasileira pagou US$ 65,8 milhões por uma participação de 50% nas filiais da Teal. A ARM constituirá uma joint venture em partes iguais com a Vale para explorar ativos na Zâmbia, República Democrática do Congo e Namíbia.

>> AEROLÍNEAS ARGENTINAS A Câmara de Comércio Exterior, do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, autorizou uma operação de financiamento de US$ 700 milhões do BNDES à Aerolíneas Argentinas para a compra de 20 aviões modelo EMB190 da Embraer. O dinheiro será desembolsado ao longo de cinco anos e terá prazo de pagamento de 12 anos.


RAIO X [EL SALVADOR]

EMauricio AÍ, Funes PRESIDENTE? toma posse no país

centroamericano em meio à desconfiança do setor empresarial Arly Faundes Berkhoff

EXPORTAÇÕES E REMESSAS EM QUEDA 2003

2004

2005

POPULAÇÃO (MILHÕES)

6,64

6,77

6,89

7,01

PIB (VAR.%)

2,30

1,90

3,10

4,20

15.047

15.798

17.070

18.654

2.266

2.335

2.479

2.661

INFLAÇÃO (%)

2,52

5,37

4,26

4,88

DESEMPREGO (%)

6,92

6,78

7,22

6,57

EXPORT. (MILH.US$)

3.128

3.305

3.418

3.706

IMPORT. (MILH.US$)

5.754

6.329

6.690

7.663

REMESSAS (MILH.US$)

2.105

2.548

3.017

3.471

-2.626

-3.024

-3.272

-3.957

PIB (MILH. US$) PIB PER CAPITA (US$)

SALDO COMERCIAL (MILH.US$)

FONTES: FMI, CEPAL, BANCO CENTRAL DE EL SALVADOR. ESTIMATIVAS E PROJEÇÕES: AMERICAECONOMIA INTELIGENCE

2006

do setor têxtil, um mercado que foi fortemente afetado. Contudo, para Chévez, esta pode ser uma boa oportunidade para que El Salvador potencialize tratados de livre comércio – com o Panamá e o Chile, por exemplo – que não havia explorado por olhar somente para os EUA. Além disso, devem crescer as relações comerciais com o Brasil, país que foi o primeiro a visitar Funes após a eleição, e o qual ele mesmo apontou como “referência de exercício democrático de um governo de esquerda que pode mandar sinais de confiança aos investidores estrangeiros e também aos investidores nacionais”. Uma mensagem que deveria tranquilizar o setor privado. Segundo o estudo “El Salvador, o tigre centroamericano?”, do The Cato Institute, tanto a dolarização quanto a privatização do sistema financeiro e a abertura comercial fazem de El Salvador um exemplo para a região. De fato, o país se vê fortalecido por não viver aumentos nos preços de produtos importados. E sua inflação interna não se disparou como em outros países da América Latina. Segundo os 2007 2008 09p Bancos Centrais e Institutos de 7,13 7,25 7,34 Estatísticas da América Central, em novembro de 2008 a inflação 4,70 2,13 0,50 chegou a 5,3% em El Salvador, 20.373 22.284 22.481 enquanto na Nicarágua atingiu 2.857 3.074 3.063 15,4%. 4,86 5,48 3,20 Talvez este mesmo temor de parte do empresariado, de que 6,62 7,10 8,25 Funes mude as reformas estabe3.984 4.549 3.867 lecidas nos últimos 20 anos, seja 8.712 9.755 8.047 infundado. Contudo, ele terá que 3.695 3.788 2.650 ficar atento em suas declarações até que tome posse, dentro de -4.728 -5.205 -4.181 alguns meses. Q ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 65

SOLEDAD TIRAPEGUI

E

m 1º de junho, Mauricio Funes assumirá a presidência de El Salvador. Ex-jornalista e apresentador de TV, o membro da Frente Farabundo Martí para a Liberação Nacional (FMLN) é o primeiro político de esquerda a vencer as eleições presidenciais, após mais de 20 anos de governos de direita. Funes ganhou por apenas 68 mil votos, 52% do total. Por isso, além de enfrentar os problemas atuais da crise econômica, deverá combater o receio do setor empresarial, que olha com prudência os governos de esquerda latinoamericanos à semelhança de Hugo Chávez. “Acredita-se em uma incerteza de nível empresarial e o governo vai ter que criar confiança”, diz Miguel Chévez, presidente da Match Consultores em El Salvador. Os desafios de Funes não são poucos. Por volta de 17% do Produto Interno Bruto do país centroamericano chegam de remessas enviadas dos Estados Unidos por compatriotas. E se nos últimos anos essas remessas cresciam a taxas de 18% a 20%, em 2008 aumentaram apenas 2%. Em janeiro deste ano, caíram 8%, e em fevereiro, 12%. O país registra uma queda na arrecadação por IVA, produto de uma desaceleração do consumo. Em janeiro, a receita advinda deste tributo caiu US$ 32,2 milhões, 24,6% menos que no mesmo mês de 2008. O governo contará com menos dinheiro para financiar seus projetos e subsídios à população, como em transporte, gás e energia elétrica. As exportações também estão caindo. Desde 2002 vinham registrando crescimento constante, mas no fim de 2008, frearam por conta da crise. Dos US$ 4,54 bilhões das exportações, US$ 2,18 bilhões correspondem a vendas aos EUA, em sua maioria


LINHA DIRETA [MEDELLÍN]

PAISA NA BANDEJA A

bandeja paisa (nome que indica tudo que vem da região de Antioquia) é o prato típico de Medellín. Leva carne moída, arroz, feijão, torresmo, ovo, banana, linguiça, arepas (tipo de pão feito com farinha de milho), hogao (molho com base em tomate e cebola), morcilhas, abacate e chilli. Não conhece? Então junte todos esses elementos que mencionei em um prato, em quantidades generosas, e aí está. Prová-lo é uma obrigação para o turista, e é mais indicado para a hora do almoço, já que para o jantar pode ser um pouco pesado. Esse foi o conselho que ouvi de três colombianos, jovens sócios de uma empresa de consultoria de serviços empresariais e financeiros, que me acompanharam para almoçar. E, como todo colombiano que conheci, se esforçaram de forma sobre-humana para tratar bem ao visitante. Em um momento, para aquecer o debate, lhes pergunto sobre o presidente Álvaro Uribe: “E a reeleição...”. Sequer consigo terminar a pergunta. A resposta vem em uníssono: “Uribe! Uribe! Que continue!” Quando lhes comento o estranho que parece, do ponto de vista de um estrangeiro, que o presidente se candidate para um terceiro mandato, não me dão muito espaço para o debate. E como uma bandeja de paisa não é o melhor acompanhamento para uma discussão sobre política, resolvo mudar de tema. Mais tarde, é um taxista que retoma o assunto. “O que pensa de nosso presidente?” “Penso que...” E novamente não consigo terminar a frase. “Tem feito um bom trabalho. Antes, não se podia sair de casa depois das onze da noite. Temos que continuar com ele.” Medellín está em festa. Abriga a cúpula anual do BID e todos estão conscientes de que poucos anos atrás sugerir o nome da cidade para tal evento seria considerado piada de mau gosto. Mas agora a segurança é extrema. Enquanto pego uma fila de quase uma hora para ver o “rockstar” do momento (não, não é Juanes; é Bill Clinton), pergunto a um jornalista de um diário “paisa”, historicamente vinculado aos liberais (agora na oposição) se é normal a concentração de 66 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

tantos policiais e soldados. “É pela conferência.” “Ou seja, nenhuma relação com o Plan Colombia?” Ele me olha com cara de espanto. “Nada. Isso é um plano para comprar armas e fumigar campos. Não é algo que tenha relação com a segurança nas cidades.” E afirmou que não se ofendia com minha ignorância, ainda que em sua voz se notava certa surpresa, ou desilusão, por eu não saber que essa é uma conquista que a Colômbia, e Medellín, conseguiram por conta própria. “E se o plano acabar?”, disparo. “Não necessitamos dele. O próprio vice-presidente (Francisco) ‘Pachito’ Santos afirmou que não necessitamos do plano para continuar a guerra contra as drogas. E, rapidamente, Uribe, em seu estilo tão de coronel, o mandou calar.” É a primeira vez que vejo um sinal de oposição ou crítica ao presidente. Mas logo o mesmo jornalista destaca que Uribe “fez coisas muito boas e que a possibilidade de que surja outro candidato forte é mínima”. No dia seguinte, em outro evento, Álvaro Uribe é o keynote speaker do almoço. Leva algum tempo para chegar à mesa, pois cumprimenta muitas pessoas individualmente, com um aperto de mão, para terror de sua equipe de segurança. “Como está sua saúde?”, consigo escutá-lo perguntando a uma mulher. “Já fechou seu próximo fundo de investimento?”, pergunta a um ator do mundo do private equity. Dita um discurso totalmente de memória, cita dezenas e dezenas de cifras de taxas de crescimento (ou reduções de indicadores negativos) até o segundo decimal. Não se escuta nem uma mosca. Todos o aplaudem de pé no final. Outro colombiano comenta que Uribe se mantém à margem do debate da necessária reforma constitucional para um terceiro mandato. Alguns indicam que essa agenda parece tomar cada vez mais corpo. E, como as coisas parecem caminhar, o mais famoso de todos os “paisas” terá a presidência na bandeja. Q

Eduardo Thomson


Gateway to World Markets

0/24 /& (/534/. !54(/2)49 Superior Container, Steel, Breakbulk and Project Cargo Experience s Largest container terminal on the U.S. Gulf Coast s Cargo units up to 630 tons directly discharged from vessel to rail car

Superior Facilities – and lots of them! s 57 general cargo and heavy lift docks with concrete backup areas s 8 container docks with 340 acres of paved yard, and growing!

Motivated and innovative Customer Service Team s We speak “High, Wide and Heavy” fluently s Flexible gate and crane hours available

Accessibility s Direct all-water service connects PHA to the world s Served by both major western railroads – UP and BNSF s Direct interstate highway access

Abundant Skilled Labor “Partners” s Continuous workforce stability – decades without labor interruptions s Trucking, railroads, warehouses, freight forwarders and the largest project cargo port in the United States

The Port of Houston Authority offers superior container, steel and break bulk facilities. PHA has the capacity to allow discharge of break bulk cargo units of up to 630 tons directly between vessel and rail. Its state-of-the-art container facilities are among the most modern and efficient in the world. Contact PHA today for your cargo needs.

Port of Houston Authority | 800-688-DOCK (3625 | www.portofhouston.com


Este relógio anda tanto como você. Só que mais sete dias.

Não desista!

Portuguesa Automático. Ref. 5001: Basta mover o seu pulso e o maior mecanismo automático mecânico do mundo da IWC por-se-á em movimento. Observe através do vidro safira e verá como a corda Pellaton com trinco acumula a reserva de marcha para sete dias em pouco tempo. A leitura pode ser feita no indicador da reserva de marcha. Há uma alavanca que pára mecanicamente o mecanismo de relógio, quando este não é usado durante 168 horas consecutivas. Mas, porque é que havia de não o usar tanto tempo? IWC. Engineered for men.

www.natan.com.br | 0800 253515

Mecanismo de relógio mecânico IWC feito à mão | Corda automática Pellaton (figura) | Autonomia de marcha para 7 dias | Indicador da reserva de marcha | Data | Massa do volante com medalhão de ouro amarelo de 18 quilates | Vidro safira anti-reflexo | Fundo de vidro safira | Resistente à água até 3 bárias | Aço inoxidável

São Paulo Oscar Freire, 672 | Tel: 11 3088 2233 Shopping Iguatemi, 2o poso | Tel: 11 3031 0333 Rio De Janeiro | Belo Horizonte | Brasilia | Curitiba | Porto Alegre Recife


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.