Revista Amazônia Viva ed. 46 / junho de 2015

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FOTOS: PROJETO SAÚDE E ALEGRIA/ DIVULGAÇÃO

rede hidráulica em locais onde a água encanada, ainda mais em escala residencial, era privilégio ou ausência. Em 2013, a implantação de sistemas de abastecimento de água, ação tradicional do “Saúde e Alegria”, se uniu ao projeto Floresta Ativa, parceria da instituição com o Fundo Vale, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), Instituto Chico Mendes (ICMbio), Organização das Associações das Comunidades da Resex – Tapajoara e o Lateinamerika-Zentrum e.V. (LAZ). Em fevereiro, o projeto inaugurou o maior sistema de abastecimento já feito na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns. Com 10 km de extensão, ele alcança as comunidades de Capixauã, Novo Progresso, Vista Alegre de Capixauã (onde está a fonte do sistema) e Araçazal, que juntas somam cerca de 110 famílias. Para servir bem a todas elas, montou-se uma caixa d’água de 20 mil litros, abastecida por um poço de 55 metros de profundidade. Em paralelo às obras, os moradores recebem treinamento para operar o microssistema e participam de oficinas de autogestão. “Nós oferecemos o que temos, o conhecimento especializado, e as comunidades a disposição e o trabalho para ajudar a construir os sistemas de abastecimento de água”, explica Caetano. Com o envolvimento comunitário, o coordenador do Núcleo de Organização Comunitária do PSA, Carlos Dombroski, calcula que o custo para montar um sistema desses pode cair para menos de um terço do valor usual de projetos governamentais ou privados. “Investimos, entre R$ 50 mil e R$ 200 mil (dependendo do tamanho da comunidade) na compra de materiais e contratação de alguns serviços técnicos para fazer cada sistema, enquanto que normalmente o mesmo serviço sairia por R$ 320 mil. Trata-se de um modo de produção e de uma tecnologia econômicas, e bastante eficientes também”, afirma.

PUXIRUNS

Os mutirões para construção de microssistemas de abastecimento de água apoiados pelo Projeto Saúde e Alegria, no Baixo Amazonas, deram novo vigor às comunidades, que antes tinham dificuldades para usufruir de água de qualidade

Montada a infraestrutura, cada local decide qual a melhor maneira de cuidar do sistema. Um estatuto da água é formado, onde estão os direitos e deveres de cada usuário, a finalidade, e as taxas pagas por família para a manutenção do maquinário. Toda essa dinâmica é administrada por um grupo de gestores com membros de todas as comunidades envolvidas, arranjo que inclusive melhorou as relações entre elas. “Temos relatos de brigas históricas entre pessoas e localidades que foram superadas por causa da gestão da água”, conta Dombroski.

BENEFÍCIOS

Ter água na torneira e um poço artesiano no quintal de casa ou em algum ponto acessível de sua comunidade, em um cenário de fartura hídrica como a Amazônia, não é incongruência nem ostentação. É, sobretudo, uma prerrogativa para a saúde. A necessidade e o costume de beber a água dos rios, muitas vezes contaminados ou com dejetos da decomposição natural de matéria orgânica, ainda hoje é motivo de altas taxas de mortalidade infantil na região. Doenças de veiculação hídrica, como amebíase, giardíase e febre tifoide, de fácil tratamento no meio urbano, são fatais nos interiores de JUNHO DE 2015

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