Especial suframa 50 anos

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| ESPECIAL |

DE ZONA Não pode ser vendida separadamente

FRANCA E DESENVOLVIMENTO

| ANO XXIX � N.º 9.400





| EDITORIAL |

Zona Franca de Manaus chega aos 50 anos: e agora? Futuro da Zona Franca de Manaus é uma das principais preocupações do AM

| DIVULGAÇÃO

ESPECIAL

Os desafios para manter um modelo de sucesso até 2073 Págs. 28 a 33

Índice

A implantação do principal modelo econômico de desenvolvimento da região completa, em 2017, o seu cinquentenário. Além das comemorações habituais, os 50 anos da Zona Franca de Manaus (ZFM) e da Suframa despertam também questionamentos, não só sobre o polo industrial, mas também sobre a economia do Estado como um todo. Afinal, e agora? Qual será a política de desenvolvimento econômico que o Amazonas vai adotar para as próximas cinco décadas? As propostas são variadas, com destaque para a diversificação da atividade econômica, com foco na biodiversidade e na conciliação entre indústria, comércio e agropecuária. Esse tema, entre outros, domina a revista que o EM TEMPO preparou para comemorar os 50 anos da ZFM e da Suframa. Boa leitura!

INVESTIMENTOS

Polo de duas rodas mantém as apostas no distrito Págs. 8 a 10

ENTREVISTA

Governador José Melo fala sobre o futuro da ZFM Págs. 34 a 36

Motocicletas são produzidas no PIM

| AET

LIDERANÇA

| FOTO DE CAPA: IONE MORENO

Amazonenses conquistam cargos de executivos no PIM Págs. 22 a 24

| EXPEDIENTE | Presidente: Otávio Raman Neves Vice-Presidente: Otávio Raman Neves Júnior Diretor-Executivo: João Bosco Araújo Diretor Administrativo: Leandro Nunes Gestor Comercial: Hany Hauache Junior

Edição: Anwar Assi

Revisão: João Alves

Reportagens: Alyne Araújo Cristiane Silveira Joandres Xavier Luana Gomes

Diagramação: Mario Henrique Tratamento de imagens: Kleuton Silva Klinger Santiago

ESPECIAL | SUFRAMA - 50 ANOS | EM TEMPO

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Rebecca Garcia

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Zona Franca de Manaus (ZFM) continua atrativa para receber novos investidores, porém é preciso revisar os incentivos fiscais estaduais para se manter competitiva. A avaliação é da titular da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Rebecca Garcia. Para Rebecca, é importante também repensar o futuro do principal modelo de desenvolvimento da região, que, na visão dela, está na bioindústria. “Se o mundo inteiro vive a quarta revolução industrial, penso que estaremos vivendo a quinta ou a sexta revolução bioindustrial”, avalia a superintendente da Suframa.

EM TEMPO - A senhora acredita que o atual modelo da ZFM é atrativo para que novas empresas venham a se instalar no Amazonas? REBECCA GARCIA – O Polo Industrial de Manaus (PIM) é muito atrativo. Quando você apresenta para o investidor o pacote de incentivos federais e estaduais, é, definitivamente, vantajoso. Daí é preciso ser vantajoso, porque a nossa situação geográfica é de grande desvantagem. Precisamos ter essa compensação, para caminhar de igual para igual com o resto do país. E temos um fato que pode ser prejudicial para os outros Estados brasileiros e que pode vir a ajudar a Suframa, que é a OMC (Organização Mundial do Comércio) questionando a Lei de Informática. Se essa situação não for revertida, o caminho natural dessas empresas é a ZFM. Por isso é que o Brasil precisa caminhar nesse sentido, porque se não corre o risco dessas empresas irem para outros países.

| DESENVOLVIMENTO | VISÃO |

‘O futuro da ZFM está na bioindústria’ Para a superintendente da Suframa, Rebecca Garcia, a Zona Franca deve focar na revolução bioindustrial EM TEMPO - Como a senhora vê a proposta de revisão dos incentivos fiscais estaduais, que visa otimizar a arrecadação do Estado e ser mais um atrativo para os novos setores produtivos? RG – Quando tivemos conhecimento dessa revisão, pedimos imediatamente que a Suframa fosse inserida nessa discussão. Até para que a gente “case” os incentivos federais com os estaduais, viabilizando um pacote a ser apresentado aos investidores. É uma medida do governo do Estado. Ainda não tivemos a

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primeira reunião. Mas penso que é uma bela oportunidade para se repensar os incentivos, oferecendo algo mais atrativo do que já temos atualmente. EM TEMPO - O ministro da Indústria, Marcos Pereira, disse que estudava pleitear o descontingenciamento de recursos da Suframa. O volume de devolução previsto representa 7,1% do total contingenciado. Como está essa questão? Quais os prejuízos desse contingenciamento para a região?


do Amazonas quanto com o governo do Estado para que seja respeitado o prazo regimental, que é de 120 dias, e que hoje não está sendo cumprido.

Rebecca Garcia é a superintendente da Suframa

RG – De fato, o prejuízo é para toda a Amazônia Ocidental e mais o Amapá. A missão da Suframa é administrar incentivos fiscais e o desenvolvimento regional. Deixamos de fazer o desenvolvimento regional, uma vez que nos tiram o recurso para isso, que é o contingenciado. Retornam recursos somente para pagar os custos da instituição. O que temos tentado fazer para resolver essa questão do contingenciamento é lutar pela aprovação do artigo 15 da medida provisória 757/2016, que está no Congresso Nacional e que institui a Taxa de Controle de Incentivos Fiscais e a Taxa de Serviços em favor da Suframa. Nesse artigo, definimos que os recursos servem para as despesas da Suframa e sua atividade fim,

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que é o desenvolvimento da região. Se aprovarmos com o texto original, esses recursos passam a ser usados para essa finalidade. EM TEMPO - Sabemos que vários Projetos Produtivos Básicos (PPBs) aprovados ficam travados no Mdic, alguns até por anos. Esse fluxo melhorou? Ainda temos pendências de PPBs estratégicos para o Estado? RG – Esse fluxo melhorou bastante. No ano de 2016, conseguimos aprovar mais de 50 PPBs que estavam parados. Hoje, a demanda já é menor, mas ainda há demanda reprimida. Mas percebemos que ela existe por conta de interesses que não são os nossos, mas da ZFM. Por isso, trabalhamos numa ação política tanto com a bancada

EM TEMPO - Quais os projetos da Suframa para o Distrito Agropecuário? RG – Existem vários projetos a caminho sendo apresentados, como na área de piscicultura. Temos também um projeto interessante com o babaçu. Mas, neste momento, a Suframa trabalha para a regularização fundiária das áreas do Distrito Agropecuário. Tem a medida provisória 759, do presidente Michel Temer, que trata de parte da questão fundiária do país. Já tivemos conhecimento de algumas emendas a essa medida para organizar ao menos de 70% a 80% das situações que não estão regularizadas. Temos situações nesse distrito que são anteriores à ZFM. Então, é um absurdo uma pessoa que está lá todo esse tempo produzindo e não regularizada. Mas daqui a algum tempo teremos soluções a essas questões. Além disso, estamos com o georreferenciamento do Distrito Agropecuário, um sistema de coordenadas de terreno ao banco de dados que irá ajudar. EM TEMPO - Como a senhora vê a proposta do governo do Estado de desenvolvimento da nova matriz econômica ambiental? RG - Uma política importante e fundamental. Ela vai ao encontro do plano diretor industrial da Suframa, que demonstra as potencialidades da nossa região, fora o PIM. Há um foco grande nessa matriz para a mineração, bem como a piscicultura e os fármacos. Tem uma série de insumos que têm um grande potencial a ser agregado, mas

que precisa de uma política pública que direcione essa questão. Nesse sentido, é importante olharmos para esse outro segmento e não nos basearmos só nesse único modelo econômico dos últimos 50 anos. Como está a atual situação do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA)? RG – Foi constituído um TED (Termo de Ajuste de Conduta) entre a Suframa, o Ministério da Indústria e Comércio e o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que é hoje o responsável pela administração dos laboratórios. A função da Suframa é administrar incentivos fiscais e não laboratórios e o CBA é uma unidade de laboratórios. Por isso, precisava de um responsável nesse sentido. Já tivemos uma reunião sobre a possibilidade de colocarmos dentro do CBA a validação de alguns produtos de pequeno porte. São ações sendo construídas. Mas os processos do serviço público são lentos precisam passar por algumas procuradorias, para que dê transparência e legalidade, e evitar que mais na frente se questione a maneira com que essa questão está sendo administrada. Mas o processo legal está sendo resguardado, para quando o CBA estiver de fato servindo à sociedade, tirando a pesquisa da prateleira e transformando em produto. EM TEMPO - Como vê a ZFM daqui a 50 anos? RG – Eu vejo a Zona Franca de Manaus com um grande potencial na bioindústria, que considero o futuro do nosso modelo. Se o mundo inteiro vive a quarta revolução industrial, penso que estaremos vivendo a quinta ou a sexta revolução bioindustrial.

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| CONFIANÇA | MERCADO |

Investimentos

Polo de duas rodas mantém o ‘pé firme’ na Zona Franca Mesmo com a “turbulência” econômica que afeta o país, empresas que produzem motocicletas continuam a investir no parque industrial do AM

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parque industrial de Manaus concentra o único polo de duas rodas do Brasil, que produz praticamente todas as marcas de motocicletas disponíveis no mercado brasileiro. São 14 fábricas de bem final de motocicletas, ciclomotores e motonetas e quatro fábricas de bicicletas, inclusive elétricas. Apesar de ter sido bastante impactado nos últimos anos pelas dificuldades de acesso ao crédito para a compra de motocicletas no Brasil e ter apresentado números decrescentes com relação a sua produção e faturamento (dados de janeiro a novembro de 2016 mostram uma queda de 24% em relação ao mesmo período de 2015), o polo de duas rodas ainda é o terceiro maior do Polo Industrial de Manaus (PIM), perdendo apenas para o de eletroeletrônico e o de informática, de acor-

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EM TEMPO | SUFRAMA - 50 ANOS | ESPECIAL

do com a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), embora concentre o maior adensamento da cadeia produtiva. Além das empresas de bem final, existem quase 70 fabricantes componentistas no PIM, que também geram emprego e renda agregada ao setor. Etapas como fundição, estamparia, usinagem, solda, pintura e injeção plástica são todas feitas em Manaus. Historicamente, 75% dos componentes utilizados nas motos são nacionais, dos quais quase 50% são regionais. Alguns modelos chegam a ter 93% de suas peças fabricadas no Brasil, conforme informações da Suframa. A primeira fábrica A Moto Honda da Amazônia foi a primeira empresa de motocicletas a se instalar no PIM. Foi registrada em

Honda foi uma das pioneiras na produção de motocicletas no parque fabril de Manaus. Multinacional está há 42 anos na região | ARQUIVO EM TEMPO

1975 e iniciou a produção em 1976, segundo dados do Anuário da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). Já são 40 anos produzindo motocicletas para o mercado brasileiro, com mais de 22 milhões de produtos fabricados e o título de maior fábrica de motos Honda do mundo. Atualmente, a unidade manauense é responsável pela fabricação de 26 modelos de 110 a 1.000 cilindradas, além de quadriciclos e mo-


tores estacionários. A fabricante ainda abriga um complexo sistema de produção que contempla o desenvolvimento de ferramentas e dispositivos necessários para a fabricação de veículos duas rodas. Por conta disso, a cada 15 segundos, uma motocicleta deixa a linha de produção da marca japonesa. Constam ainda na história de sucesso da empresa a produção da primeira moto “made in Brazil” - a Honda CG 125, em 1976 , o nascimento da primeira motocicleta bicombustível do mundo - também uma Honda CG 150 Titan, em 2009 -, e a Honda CG 150 Titan CBS 2015 - que torna-se modelo pioneiro no mundo a utilizar sistema de freios CBS, equipamento que traz mais segurança de frenagem em situações adversas, em 2014. Liderança A empresa afirma possuir hoje a liderança absoluta no segmento de motocicletas, com 80% do

mercado nacional. O diretor executivo da Moto Honda, Paulo Takeuchi, explica que essa trajetória de sucesso da multinacional japonesa é fruto de um trabalho baseado no compromisso com a qualidade, segurança, meio ambiente e com a sociedade local. “Para isso, também contamos com a importante parceria da Suframa, que nos dá suporte desde a instalação da Moto Honda, para a melhoria contínua da política de desenvolvimento do Polo Industrial de Manaus. Nossa atuação seguirá baseada nesse princípio de desenvolvimento para que possamos continuar contribuindo para o futuro promissor da região”, enfatiza o diretor executivo da Moto Honda.

Qualificação da mão de obra tem sido uma preocupação para as empresas do polo de duas rodas do PIM | ARQUIVO EM TEMPO

Fabricantes ‘driblam’ os desafios com a mão de obra A Yamaha passou a produzir motocicletas no PIM em 1985, motivada pelos incentivos fiscais concedidos no âmbito federal e estadual. O grande desafio foi formar mão de obra para fabricar motocicletas, pois a vocação inicial da ZFM era voltada para o segmento eletroeletrônico. Por conta disso, a Yamaha até hoje mantém programas de formação profissional, em parceria com entidades como o Serviço Nacional da Indústria (Senai) e o Instituto Pró Menor Dom Bosco, que se notabilizam pela qualificação de mão de obra específica para o mercado de motocicletas e de motores de popa. Inicialmente, em vista do critério de nacionalização, a produção era altamente verticalizada, o que impôs investimentos elevados em máquinas e equipamentos para fundição, usinagem, tratamento térmico, estamparia, solda, pintura, além da formação da mão de obra. Com o passar do tempo, em razão da alteração do regime

de reciprocidade para o PPB (Processo Produtivo Básico), permitiu-se a terceirização da fabricação de peças e componentes para empresas sediadas no PIM e em outras partes do país, disseminando tecnologia e know how e desenvolvendo o parque industrial brasileiro. Assim, hoje, todos os modelos de motocicleta da Yamaha fabricados atualmente no Brasil contemplam itens de alta tecnologia, como injeção eletrônica e freios de última geração. Conforme a assessoria de comunicação, os modelos da Yamaha são considerados de vanguarda, em total alinhamento com os principais mercados internacionais e sempre dita tendências de cores e novas tecnologias. Por exemplo: a primeira motocicleta equipada com injeção eletrônica no Brasil foi a XT660R, a primeira de baixa cilindrada foi a Fazer 250, a primeira motocicleta totalmente flexível foi a Fazer 250 Blueflex, o primeiro scooter com ABS nas duas rodas foi a NMax. A linha de produtos que a Yamaha oferece é extensa. São 28 motocicletas, em diversas versões. Produção Em 2016, a Yamaha produziu 96 mil motocicletas, mas a capacidade instalada é para 350 mil motos por ano. “O consumidor brasileiro é exigente e tem gosto bastante variado. Os modelos de baixa cilindrada, de 125 a 250 cc, fazem sucesso, são as mais equipadas do mercado, com faróis de LED, mostradores digitais completos, e representam o maior volume de produção. Já as motocicletas acima de 250 cc são líderes em seus segmentos de participação”, diz a assessoria.

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BMW é reconhecida pela inovação tecnológica Inovação O diretor de produção da fábrica de motocicletas do BMW Group em Manaus, Peter Vogel, conta que a cidade é o local favorito para a produção de motos no Brasil por oferecer as melhores condições para toda a indústria de duas rodas. A BMW Motorrad produz, em parceria com a Dafra, motocicletas em Manaus desde 2009. “Como o polo de duas rodas na cidade é um dos mais importantes do mundo, a permanência da empresa foi importante para os seus objetivos, já que o mercado brasileiro é estratégico de motocicletas para o BMW Group. Estamos focados no crescimento de nossas vendas no país com um plano de médio e longo prazo”, declara Vogel. O BMW Group é reconhecido pela inovação e alta tecnologia utilizada em seus produtos, o que só é possível devido à longa história de excelência em engenharia, que vai desde a concepção e gestão de um projeto, investimento em pesquisa e desenvolvimento, passando pela administração de vendas e pósvenda até a produção em linhas de montagem. Nove modelos são produzidos em Manaus: F 700 GS, F 800 GS, F 800 GS Aventura, F 800 R, R 1200 GS, R 1200 GS Aventura, S 1000 R, S 1000 RR, S 1000 XR. A linha de motocicletas BMW é conhecida e apreciada entre os brasileiros, especialmente, os modelos “big trail” - R 1200 GS e R 1200 GS Adventure.

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Adelino Cardoso é diretor de Operações da Harley Davidson | ÉRICO XAVIER

“Como uma regra da empresa, não fazemos previsões sobre os números de mercado, mas posso dizer que queremos aumentar nossa participação no país. A BMW Motorrad terminou em 2016 liderando o segmento premium do Brasil”, comemora Vogel. O diretor acredita que deve haver um volume de produção consideravelmente maior com a nova demanda, que deve ser gerada pela BMW G 310 R, marcando a estreia da BMW Motorrad em uma nova categoria, abaixo de 500 cc. “É por ese motivo que decidimos criar nossa própria estrutura dedicada à produção de motocicletas no Brasil. O investimento em máquinas, terreno, construção e bens afins é de 10,5 milhões de euros. Esse investimento provém dos nossos próprios recursos”, afirma Vogel. Harley-Davidson Em 1998, a fábrica da Harley-Davidson de Manaus foi a primeira unidade fabril a ser ins-

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talada fora dos Estados Unidos. Hoje, além do Brasil, só há fábrica na Índia em algum outro país estrangeiro. A nova fábrica instalada em Manaus, no fim de 2011, explica o diretor de Operações, Adelino Cardoso, foi extremamente importante para atender de forma ágil e flexível à demanda do mercado nacional, após a empresa assumir o controle das operações comerciais no Brasil. Diversos modelos até então não produzidos ou comercializados no país passaram a ser montados localmente, a fim de suportar diretamente a expansão da marca, que teve 22 novas concessionárias abertas desde fevereiro de 2011. De forma a otimizar a qualidade da operação e o prazo de entrega das roupas, peças e acessórios para os clientes, em 2011, foi inaugurado o BDC (Centro de Distribuição Brasileiro, em português), outro grande marco da história da empresa no território brasileiro. “Junto com a implantação do BDC, trabalhamos continuamente nas melhorias de

ferramentas e processos que possibilitem garantir que a experiência do cliente com a marca seja sempre premium e exclusiva”, afirma Adelino, ao destacar que a marca é sinônimo de estilo de vida. Ao longo dos anos, a Harley atualizou a tecnologia utilizada e em alguns aspectos, de acordo com o diretor, vem demonstrando liderança no setor. Desde 2014, 100% da produção está equipada com sistema de freios ABS; desde 2010, 100% das motocicletas possuem sistema de alarme e, atualmente, todos os modelos possuem sistema elétrico HD LAN, que é o sistema eletrônico de controle da motocicleta. Além disso, incrementou sua linha de modelos ofertadas ao mercado nacional, saindo da produção de dois modelos em 1999 para mais de 20 modelos em 2016. “Consequentemente, a fábrica vem se adaptando para atender às demandas do mercado, tanto para a oferta de produtos quanto às tecnologias envolvidas em sua fabricação”, afirma Adelino.


Motocicletas despertam a paixão nos amazonenses

do campanhas do poder público e participando de mutirões de atendimento de instituições.

Apaixonado por motocicletas, o advogado Alyssonn Karrer, 40, conta que sua relação com os veículos de duas rodas começou ainda criança, com uma bicicleta Monark BMX. Aos 12 anos, passou a pilotar uma mobilete Caloi, depois passou a pilotar uma motocicleta Trak, após um tempo, uma Honda Dream e uma Suzuki Intruder 1.400, Honda Sahara (teve três somente desse modelo). Ainda teve uma Honda CB 500, uma Honda Falcon 400 (possui até hoje), uma Honda Shadow 750, uma Harley-Davidson Fat Boy (custom) e uma BMW GS 1200 Adventure (big trail). “Andar de moto é liberdade. É voar. A diferença é que você está sobre duas rodas, passando a fazer parte dos cenários das estradas, junto com a natureza”, diz ele, ao frisar que o motociclista profissional é sempre companheiro e solidário, tentando ajudar outro motociclista que es-

Relação A relação paixão e velocidade é, sim, uma realidade comum entre os motociclistas. Porém, Alysson ressalta que sempre orienta os membros do clube em viagens para terem os cuidados devidos, revisando a moto regularmente, a calibragem dos pneus, o nível do óleo, as luvas e o capacete, verificando a validade. Questionado se é um aficionado por motos, ele dispara: “O aficionado não admite ser assim. Acha normal e pensa também que todos amam como ele ama. Por isso, nos lugares que frequenta, o papo é motociclismo. Já fiz loucuras na moto, pilotando um pouco mais forte, testando a potência, mas sempre com segurança”.

tiver na estrada com alguma dificuldade. “É como se fosse uma lei, porém, escrita na alma”. Clube Atualmente, Alysson é presidente do Clube Almas Livres, fundado em 1984 e que reúne 35 apaixonados por motociclismo, dentre eles médicos, advogados, engenheiros, funcionários públicos federais e estaduais, empresários, comerciantes, militares e aposentados. As motos são de vários modelos e cilindradas. “Estou no clube desde 2009 e não fazemos distinção de motos e nem de cilindradas, porém, avaliamos o candidato a membro durante um ano. Somos um motoclube família e, no mínimo, precisa haver a paixão por motos e se identificar com a família Almas Livres”, explica. Ele afirma que mantém sempre a filosofia do clube, que tem seu lado solidário, com ações sociais, apoian-

Alysson Karrer é apaixonado por motocicletas e já teve vários modelos desde a infância até os dias atuais | ÉRICO XAVIER

Produção de bicicletas no PIM ‘pedala’ contra a crise A primeira empresa a iniciar a produção de bicicletas no PIM foi a Caloi, em 1975, de acordo com o anuário da Abraciclo. Mesmo em um período de forte recessão, a produção tem mostrado crescimento, chegando a um aumento do faturamento no ano passado de 125% em relação a 2015, de acordo com os Indicadores de Desempenho do PIM. Com mais de 115 anos de tradição no Brasil, a Caloi veio atraída para a ZFM também por conta dos incentivos fiscais, algo atrativo até os dias de hoje. É líder no mercado nacional de bicicletas e atua em diferentes segmentos de produtos, desde mountain bike até mobiletes, incluindo bicicletas de crianças. Atualmente, a fábrica conta com 550 colaboradores e produz quase 600 mil bicicletas/ano. Comércio O gerente Carlos Eduardo Nunes, da loja O Ciclista Elétrico, localizada no bairro do São Jorge, explica que há bicicletas para todos os gostos, bolsos e atividades. “Temos bikes que custam de R$ 1,6 mil a R$ 32 mil. São bicicletas de boa qualidade, com bons componentes, com sistema de marcha, de freio a disco, pódio do quadro diferenciado e disponibilidade de tamanho, de acordo com a estatura da pessoa. Até o tamanho das rodas podem ser diferentes. Já as tops de linha são de fibra de carbono e chegam a ter sistema de suspensão inteligente, freio hidráulico, tipo de cela diferenciada, também de acordo com o tamanho do quadril”, frisa.

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Arthur Virgílio Neto

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pesar de todo o risco que corre o modelo Zona Franca de Manaus (ZFM), seja por parte do enfraquecimento de mercado nos últimos 2 anos ou pela sondagem de outros Estados para levar o modelo de Manaus, o prefeito da capital amazonense, Arthur Virgílio Neto (PSDB), afirma que “a ZFM chega aos seus 50 anos ainda como principal sustentáculo da economia amazonense”. Reeleito recentemente para a prefeitura, Arthur foi um dos principais defensores da Zona Franca no Senado, em seus dois mandatos. Não à toa, destaca o seu trabalho no Congresso Nacional pela prorrogação dos incentivos fiscais, em um período anterior à desestruturação da economia do Amazonas pela crise econômica. “Fiz da defesa da ZFM o norte de meus mandatos. Só sosseguei quando consegui”, reforça. O prefeito diz que, após metade de um século do surgimento da Zona Franca, nos moldes do decreto-lei nº 288, é chegada a hora de corrigir os rumos. Como exemplo, cita o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), que precisa deixar de ser um “elefante branco”, em suas palavras, símbolo do descaso com o potencial biotecnológico da mais importante floresta tropical do planeta. Em outro ponto, Arthur Neto parabeniza o atual senador pelo Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), que fez parte da última força-tarefa em defesa da Zona Franca, em 2014, e seu vice-prefeito, Marcos Rotta (PMDB), pelo empenho de ambos na obtenção do aporte de R$ 152 milhões que serão usados para a recuperação das

Para o prefeito de Manaus, Arthur Neto, a ZFM ainda é o principal motor de desenvolvimento da economia do Amazonas | MÁRCIO MELO

| ESTRATÉGIAS | AMADURECIMENTO |

‘É chegada a hora de corrigir os rumos’ Prefeito de Manaus afirma que a ZFM ainda permanece como principal sustentáculo da economia amazonense ruas do Distrito Industrial, no que ele classifica como “um gesto de ousadia e uma proeza parlamentar”, ressaltando que será feito “o melhor uso desses recursos”. Arthur finaliza para-

Como membro do Congresso Nacional, Arthur fez da defesa da ZFM o norte de seus dois mandatos | GERALDO MAGELA/ AG. SENADO

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benizando a ZFM. “Que venham outros 50 anos e que nossas futuras gerações encontrem um Amazonas maduro para aproveitar os incentivos da ZFM e auferir mais qualidade de vida para nosso povo”, assevera.

Homenagens Antes mesmo do dia 28 de fevereiro, as comemorações se estenderam por toda parte, inclusive na casa parlamentar ligada à administração de Arthur, a Câmara Municipal de Manaus (CMM). Na manhã do dia 16 de fevereiro, em sessão solene, o vereador Wilker Barreto (PHS) ressaltou que vê na ZFM um dos modelos ambientais de maior sucesso do mundo. “É só olhar para a preservação da floresta”. Na mesma oportunidade, a titular da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Rebecca Garcia, recebeu das mãos do presidente da casa legislativa a placa de homenagem pelos 50 anos do modelo.



Terceirizados

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esponsável pela geração de mais de 85 mil empregos diretos e por ser a fonte principal de arrecadação estadual, o Polo Industrial de Manaus (PIM) abre espaço para vários tipos de serviços terceirizados, permitindo até que seus ex-funcionários continuem a atuar no Distrito Industrial, só que desta vez como prestadores de serviço. É o PIM desenvolvendo laços para uma vida inteira! Com 10 anos atuando como funcionário do Distrito Industrial, 23 anos como consultor econômico das empresas do PIM e mais 6 como parlamentar, tendo a Zona Franca de Manaus (ZFM) como pauta presente de seus debates políticos, o economista, advogado e, hoje, deputado estadual José Ricardo Wendling (PT), 52, é um exemplo de quem nunca se desligou do parque fabril, mesmo não trabalhando diretamente em alguma empresa do PIM. Ele começou a sua trajetória no parque fabril aos 15 anos de idade, na empresa Sharp, primeiro como uma espécie de “mensageiro interno”, passando pela reprografia e depois pelo departamento pessoal. “Foi a minha primeira experiência de trabalho formal (antes, já havia sido picolezeiro e camelô). Foram 5 anos e meio de aprendizado e oportunidades. Na reprografia, por exemplo, utilizava a cota de xerox liberada aos funcionários para reproduzir as apostilas do cursinho prévestibular mais famoso da época e estudava sozinho nos meus horários de almoço e folga. Não tinha dinheiro para pagar cursos. E foi assim que passei no vestibular da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) para o curso de economia”, conta. Depois, Wendling foi tra-

| OPORTUNIDADE | NEGÓCIOS |

Ex-funcionários ainda vivem do PIM Mesmo sem atuar diretamente nas fábricas, eles continuam ligados ao polo fabril, onde prestam serviços para as empresas

Há quase 40 anos, José Ricardo Wendling trabalha, direta e indiretamente, com as empresas do Distrito Industrial | ÉRICO XAVIER

balhar na empresa Sanyo, fazendo parte da equipe da gerência de importação e exportação por três anos. Foi quando essa empresa firmou parceria com a Ava Industrial e Electra Industrial, tendo sido convidado a ocupar o cargo de gerente administrativo das duas fábricas, função que exerceu durante um ano e meio. “Saí do distrito já como economista. Pouco tempo depois, fui convidado a entrar como sócio na empresa Objetiva Consultoria, que tinha só seis meses de existência (fundada em 1989), local onde atuei como consultor econômico por 23 anos. Ao longo desse tempo, ajudei a aprovar mais de 400 projetos para as empresas do PIM, entre os de instalação, de expansão e

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de diversificação”. Para o economista, o fato de ter sido funcionário do Distrito Industrial facilitou o início da sua carreira como empreendedor e prestador de serviço, por conhecer o funcionamento do PIM, as necessidades das empresas e as legislações vigentes. “Nos primeiros anos, tivemos dificuldades em captar projetos, mas aos poucos fomos ganhando a confiança no mercado local. Também tivemos um fator importante a nosso favor. A Zona Franca sempre esteve em expansão, com novas empresas se instalando no Estado, diversificando produtos e a capacidade produtiva”, frisa, ao ressaltar que, em 2011, quando assumiu como deputado estadual, descompatibilizou-se


da empresa para ter total dedicação ao mandato. “Porém, sempre procuro debater esse tema no parlamento, como a legislação, os incentivos fiscais, a geração de emprego e renda, as alternativas econômicas para o Amazonas, além da Zona Franca. Quando terminar o meu mandato, volto a atuar como consultor, uma área em que me dediquei por mais de duas décadas”, destaca. Empreendedorismo Proprietário da empresa Viana Representação e Automação Ltda., o tecnólogo mecânico e técnico em eletrônica Luiz Viana, 43, também soube aproveitar as oportunidades que teve no Distrito Industrial para continuar a “ganhar a vida” junto às empresas do PIM, mesmo como ex-funcionário. Ele começou nas fábricas aos 20 anos, como estagiário na empresa Sanyo, na área de manutenção de jigs (dispositivos de teste para placas de TVs), função que exerceu por seis meses. Depois trabalhou 3 anos na área de inserção automática na Samsung Eletrônica e mais 3 anos e meio na Samsung Display, na parte da engenharia dos tubos de imagem. Ele ainda passou pela Intersys Metagal, empresa americana que também produzia para a Nokia, onde foi líder da manutenção por 4 anos, e pela Foxcon, onde chegou a coordenar por 4 anos e meio a área de manutenção e teve a oportunidade de viajar para o exterior em treinamento (Japão e China). “Foi quando abri meus horizontes, de que era possível novas oportunidades para empreender. Um tempo depois, passamos por uma reestruturação na empresa. Nesse remanejo, eu saí. Como tinha pós em automação industrial e MBA em gerenciamento de projetos, em 2009, decidi abrir a minha própria empresa, sendo o representante da Star Seiki em Manaus (pioneira

e líder mundial na automatização de máquinas injetoras de plástico), atendendo 17 empresas do polo industrial”, relata ele, que já teve proposta para trabalhar em outras empresas, mas que não pensa em largar o próprio negócio, principalmente, por fazer o seu tempo de trabalho e estar mais próximo da família. Viana acrescenta que a atual situação econômica do país levou várias empresas de pequeno e médio porte a fechar as portas, porém, com muito esforço, ele está conseguindo manter os negócios. “Tivemos uma redução de 30% nas vendas. Mas, enquanto eu puder continuar, vou tentar. Estou confiante neste ano de 2017, com boas expectativas de novos projetos. Essa área é a que eu conheço e aprendi a fazer. Graças também ao polo industrial, que me proporcionou ótimas experiências”, diz. Luiz Viana começou como funcionário em uma empresa do PIM e, hoje, presta serviço para várias fábricas do parque industrial | ÉRICO XAVIER

Trabalho com desembaraço de cargas rende um bom lucro A empresa Sanyo da Amazônia S/A também foi a porta de entrada para o empresário Marcus Mendes, 59, no PIM. Aos 26 anos, ele entrou na empresa como auxiliar de importação, 3 anos depois foi promovido a chefe de seção e com mais 3 anos, a chefe do departamento de importação. Mendes conta que, nessa época, entrava na fábrica às 7h e só saía de madrugada. Ele trabalhava com todo o desembaraço aduaneiro das mercadorias importadas pela empresa, como também com a comunicação direta com todas as plantas da fábrica na Ásia (12 horas a mais no fuso horário local), na programação de embarques originados nas respectivas plantas. A empresa importava insumos do Japão, da Indonésia, da Malásia, Singapura e China. “Durante o dia, a rotina era sempre a mesma de todos os dias. Ia à Suframa (Superintendência da Zona

Franca de Manaus), Receita Federal, Banco do Brasil (Decex). Porque, antigamente, conseguir tanto a licença de importação (LI) quanto a Declaração de Importação (DI) eram verdadeiros trabalhos braçal. Hoje, resolvemos quase tudo por meio de sistemas linkados com os principais órgãos e por emails. Mas gostava desse trabalho. Era uma aventura acompanhar a chegada dos navios nas madrugadas, porque a empresa não parava”, relembra. Em 1996, quando completou 40 anos de idade, ele resolveu montar seu próprio negócio. Tinha uma meta estipulada. “Saí da empresa, mas ela continuou depois como nossa cliente. Convidei meu ex-patrão para fazer sociedade comigo nesse projeto, mas acabou ficando o filho dele no nosso empreendimento, que tem hoje 13 funcionários (antes da crise tivemos 23), atuando com quase 20 empresas do distrito, por meio da Moraes Serviços Aduaneiros Ltda”, conta Mendes. Funcionamento A empresa completou em setembro do ano passado 20 anos de funcionamento, atuando no desembaraço aduaneiro de mercadorias importadas/exportadas, desenvolvendo toda a metodologia na regulamentação técnica e documental, de acordo com a legislação aduaneira, para que a liberação das mercadorias tanto na entrada quanto na saída da Zona Franca de Manaus possa transcorrer com toda normalidade e segurança possível.

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Competitividade

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e o faturamento do Polo Industrial de Manaus (PIM) fosse um bolo, com certeza, o segmento eletroeletrônico ficaria com a maior fatia. Responsável por 26,34% dos investimentos produtivos do ano anterior, conforme indicadores da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) até novembro, o segmento responde por R$ 18,5 bilhões do faturamento registrado pelas indústrias do modelo durante os 11 meses de 2016, representando 27,33% do total de R$ 67,9 bilhões. Mesmo diante das oscilações da economia, as indústrias que pertencem ao setor confirmam seu interesse no modelo. É o caso da Springer, a segunda indústria a ocupar espaço no polo (depois da CIA Companhia Industrial Amazonense, que se instalou em 1972) e a primeira do segmento. Em funcionamento desde 1974, tendo iniciado como fábrica da Springer, a unidade compõe desde 2011 uma das marcas da joint-venture Midea Carrier. Há 43 anos, a fábrica contava com uma planta de 13 mil metros quadrados de área, tendo como atividade principal a produção de condicionadores de ar para veículos. Atualmente, esse terreno passou para 200 mil metros quadrados, sendo dedicado, no Brasil, à fabricação de todas as linhas de climatização residenciais e comerciais leves, e de fornos de micro-ondas. Em território nacional, a joint-venture também conta com fábrica em Canoas (RS), onde são produzidos os equipamentos para climatização comercial. Pertencente à joint-venture formada pela chinesa Midea e pela norteamericana Carrier, a unidade concluiu sua mais recente atualização em 2014,

| OTIMISMO | INTERESSE |

Eletroeletrônicas estão confiantes Gigantes do segmento, como Midea Carrier, Samsung e LG, investem na região “de olho” nos incentivos da ZFM com investimento de R$ 60 milhões para ampliar a capacidade de produção. “A empresa passou por inúmeras reformulações na sua história em Manaus, adequando-se aos modelos de negócio exigidos pelo mercado e regulamentações. Porém, em todas as mudanças, sempre tivemos como objetivo aprimorar nossos processos de produção para obter produtos com a mais alta qualidade”, diz o gerente industrial da Midea Carrier em Manaus, Claudio Lago. Com esta última alteração, a capacidade produtiva da fábrica em Manaus passou para 2 milhões de unidades por ano. Segundo Lago, a avaliação do grupo sobre a ZFM é extremamente positiva, por isso não há qualquer estudo ou discussão para transferir a fábrica para outra região. Em relação à crise de consumo que assolou o país, o diretor comenta que houve necessidade de adequar a produção à demanda do mercado. “Procuramos utilizar todos os recursos legais disponíveis para evitar uma redução de quadro, ou seja, férias coletivas, Programa FAT (Bolsa Qualificação) e redução de jornada, e por fim, a reestruturação. Todos os programas adotados foram discutidos e aprovados com os trabalhadores”, pontua.

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Atualmente, a fábrica manauense conta com mil colaboradores. Conforme o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam) e diretor do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos e Eletrônicos e Similares de Manaus (Sinaees), Wilson Périco, é necessário preparar condições que atraiam novos investimentos, garantindo retorno aos empresários, principalmente neste momento que se faz a revisão dos incentivos estadu-

ais. “Não podemos pensar no imediatismo, em querer aumentar a arrecadação agora. Esta revisão deve deixar um legado competitivo no futuro próximo”, avalia. Périco também comenta que é preciso encontrar solução para o engavetamento de Processos Produtivos Básicos (PPBs), um entrave na atração de investimentos e na diversificação de produtos. De acordo com Périco, o fato de ao menos 30 PPBs estarem emperrados por conta da burocra-


Cláudio Lago é diretor industrial da fábrica da Midea Carrier, instalada em Manaus | ÉRICO XAVIER

nham sua posição de liderança no país e na região. “Com isso, podemos garantir a oferta de produtos e serviços que estejam em linha com as necessidades de nossos clientes, da cidade e de todo o país”, diz, ao ressaltar que as instalações são indispensáveis para as operações da companhia no Brasil e na América Latina.

Condicionadores de ar são produzidos no PIM |

cia do poder público impede a produção local de novas tecnologias. Samsung Integrante da edição 2016 do ranking Forbes 2000, que lista as 20 maiores companhias de capital aberto do mundo, e do Anuário 2016 das Melhores & Maiores da revista “Exame”, o grupo sul-coreano Samsung também compõe a lista das seis empresas do setor eletroeletrônico que contribuem com maior parte do faturamento do setor eletroeletrônico do PIM, com base nos indicadores da Suframa.

ÉRICO XAVIER

Globalmente, a Samsung conta com 38 fábricas, 34 centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e seis centros de Design nos cinco continentes. No Brasil, está instalada em Manaus desde 1995, contando com um centro de P&D e uma unidade industrial, que hoje conta com nove linhas de produtos comercializados no país, como TVs, smartphones, tablets, home theaters, aparelhos de som e monitores. Em nota enviada pela assessoria de imprensa, os representantes do grupo comentam que a fábrica instalada no polo é crucial para que mante-

LG Por sua vez, a LG também ainda observa no PIM um endereço sem possibilidade de alteração. De acordo com a empresa, por meio de assessoria de imprensa, no polo há incentivos fiscais importantes para o crescimento da produção e geração de novas vagas de trabalho. A LG do Brasil possui outra planta em Taubaté (SP), mas concentra a maior parte da produção brasileira em sua unidade manauense. Mesmo assim, a empresa faz algumas observações sobre o distrito, como a necessidade de melhorar a infraestrutura de acesso e o sistema de esgoto. “As ruas possuem muitos buracos e falta drenagem – problema que fica ainda mais evidente quando chegam as fortes chuvas comuns aqui na Região Norte. O sistema de esgoto também poderia ser melhorado”, apontam em nota. Inaugurada na capital em 1996, a fábrica da marca iniciou suas atividades com 180 funcionários, voltados para a produção de vídeo cassete e televisores CRT. Atualmente, conta com um quadro de 1.992 colaboradores, que respondem pelo processo de fabricação de televisores, aparelhos de ar-condicionado e produtos de áudio e vídeo. Envision Quem também procurou otimizar seus recursos para tornar a operação mais eficien-

te foi a Envision, do grupo chinês TPV Technology Limited, que também produz televisores das marcas Philips e AOC. No ano passado, a empresa centralizou toda a sua produção brasileira em Manaus, onde possui um terreno de 185 mil m² e 1,2 mil funcionários. “A TPV também investiu em tecnologia e automação, o que aumentou a produtividade, priorizou processos de qualidade para redução de custos de pós-vendas e investiu em treinamentos para ganho de eficiência”, afirmam os gestores no texto enviado pela assessoria de imprensa. Positivo A Positivo Informática também transferiu linhas de produção para Manaus no ano anterior, retirando o processo de montagem de bens de informática de Curitiba. Conforme o diretor da Planta Positivo Manaus, Edson Toffoli, a ZFM gera muitos negócios e é natural que as empresas queiram estar na região. “Uma pesquisa realizada pela consultoria Tendências e divulgada no fim do ano passado mostra que a retomada da economia brasileira será bem desigual neste ano e que o Norte terá expansão muito mais acelerada por conta de importantes investimentos locais e maior espaço para recuperação. A indústria deverá ser o principal dinamizador da economia do Norte em 2017, levando um efeito multiplicador para as demais atividades. A Tendências estima crescimento de 7,2% para o PIB industrial da região, três vezes mais que o previsto para o Brasil como um todo. Então, acredito que teremos muita competividade na região e em vários setores da indústria, principalmente no de eletroportáteis”, sublinha.

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Marcos Pereira

O

titular do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Marcos Pereira, tem marcado presença nas reuniões do Conselho de Administração da Suframa (CAS), como no último encontro, realizado no dia último 15 fevereiro. Segundo o ministro, o gesto simboliza o “comprometimento do governo federal com a Zona Franca de Manaus”. O ato de Pereira aliviou a “nuvem de fumaça” que se instalou junto a empresários e autoridades políticas após o cancelamento do primeiro compromisso agendado em Manaus no ano anterior, especialmente com a experiência dos setores econômicos com as posturas adotadas pelos dois últimos ministros da pasta, Armando Monteiro e Fernando Pimentel, que pouco vieram à capital amazonense. Mas, nem mesmo a assiduidade reduziu as cobranças sobre os entraves que impedem a competitividade do modelo, como o engavetamento de Processos Produtivos Básicos (PPBs) e contingenciamento de recursos da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). EM TEMPO – Apesar da celebração dos 50 anos, a Suframa segue driblando obstáculos, como o fato de não ter independência para gerir recursos necessários ao desenvolvimento do modelo. O que tem sido feito para tornála mais independente do ministério e, consequentemente, reduzir o processo de burocracia na gestão do modelo? Há interesse do ministério em garantir autonomia à Suframa e transformá-la em uma verdadeira agência de desenvolvimento? MARCOS PEREIRA - Na

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| AVALIAÇÃO | INDÚSTRIA |

‘ZFM é um modelo bem-sucedido’ Afirmação é do ministro do Mdic, Marcos Pereira, que reafirma compromisso do governo federal com o modelo verdade, são muitas as medidas que estamos tomando. Antes de mais nada, preciso lembrar que o ano do cinquentenário já começou com uma importante novidade para o Polo Industrial de Manaus. É a medida provisória nº 757, que trata da nova taxa administrativa da Suframa, uma vitória que conseguimos no fim de 2016 para simplificar a tributação. A nova taxa (TCIF), bem como a taxa de serviços (TS), inaugura uma metodologia mais simplificada para a cobrança do tributo, que favorece a previsibilidade do recolhimento e dá segurança jurídica para as empresas. Também estamos dando ênfase ao processo de desburocratização. Um exemplo é o aprimoramento dos sistemas de cadastro de mercadorias nacionais da Zona Franca de Manaus, que vai agilizar o desembaraço aduaneiro e reduzir custos. Assim como o Sistema de Acompanhamento, Gestão e Análise Tecnológico, que será implementado para reduzir o tempo de resposta às empresas sobre os projetos de P&D. Sobre o orçamento, a autarquia já possui autonomia administrativa e financeira. EM TEMPO – Uma das preocupações atuais do modelo é quanto à transferência de linhas de pro-

EM TEMPO | SUFRAMA - 50 ANOS | ESPECIAL


dução para o Paraguai, em virtude de facilidades e vantagens fiscais concedidas por meio da chamada Lei da Maquila. De que forma o ministério monitora essa situação? Quais as estratégias para impedir que as empresas se instalem no país vizinho? MP - As melhorias que estamos implementando, em conjunto com a administração da Suframa, devem ajudar a melhorar a competitivi-

dade das indústrias instaladas no Polo Industrial de Manaus e evitar a fuga de investimentos. Dentro dessas medidas, o Mdic busca trabalhar em uma estratégia para os investimentos brasileiros no Paraguai, porém, sem incentivar a migração de empresas e empregos do Brasil para o país vizinho. A ideia é estimular o entrelaçamento das cadeias de produção. Dessa forma, entendemos que o desenvolvimento da produção industrial no Paraguai pode ser positivo para o Brasil na medida em que se alinhe a uma estratégia de integração e fortalecimento da produção. Vamos trabalhar para que a ZFM continue a trazer desenvolvimento sustentável e emprego para esta importante região do Brasil. EM TEMPO – Quais procedimentos estão sendo ou serão tomados para destravar esses PPBs e permitir mais investimentos na região? MP - Esta questão está no nosso radar. Temos espaço para implementar melhorias administrativas nesse processo e isso é o que estamos fazendo. Primeiro, dentro do próprio Mdic, que coordena o grupo que faz a avaliação técnica dos PPBs. Num segundo momento, o Mdic sugerirá as melhorias operacionais que forem identificadas aos outros órgãos envolvidos. Mas é preciso esclarecer que as decisões sobre os Processos Produtivos Básicos são, em geral, muito complexas por sua própria natureza. A análise técnica é muito cuidadosa. Além disso, por lei, a governança desse tema é compartilhada entre Mdic, Suframa e MCTIC.

Ministro Marcos Pereira já participou de quatro das cinco reuniões do CAS realizadas durante o governo Temer | MÁRCIO MELO

EM TEMPO – Por sinal, quanto aos PPBs, a antiga gestão do Mdic realizou levantamento sobre as análises pendentes com intuito de ter uma visão clara sobre os PPBs considerados estratégicos para alavancar os investimentos na região. Qual foi o resultado desse levantamen-

to? MP - O levantamento era necessário para identificar pleitos de estabelecimento e alteração de Processos Produtivos Básicos considerados críticos e que necessitariam de uma ação mais urgente junto a todos os envolvidos no processo decisório. Esse levantamento possibilitou avanços nas discussões, culminando na publicação de mais de 50 portarias interministeriais em um período de apenas 1 ano. Atualmente, como resultado desse trabalho, novos produtos já têm atraído investimentos visando à fabricação no Polo Industrial de Manaus, como são os casos das cafeteiras elétricas, aparelhos auditivos e aparelhos de pilates. O Mdic está atento às demandas prioritárias da Suframa. EM TEMPO – O senhor presidiu três vezes as reuniões do CAS. Nesse cenário, qual sua avaliação sobre a Zona Franca de Manaus? MP - No ano passado, eu compareci a três reuniões do CAS em um intervalo de cinco meses, algo que nenhum ministro havia feito antes. É um gesto que simboliza o corrente comprometimento do governo federal com a Zona Franca de Manaus em tudo que ela precisa realizar para continuar se fortalecendo e desempenhando seu papel de protagonismo no desenvolvimento sustentável da Amazônia Ocidental. Ainda assim, embora as dificuldades orçamentárias existam, é necessário ressaltar que a Suframa tem feito um excelente trabalho com o que é disponibilizado, superando os desafios com base em muito esforço e dedicação, até mesmo porque a instituição detém uma equipe técnica bastante competente. EM TEMPO – Uma das propostas apresentadas nas reuniões do CAS é quan-

to aos encontros itinerantes para aproximar a Suframa dos demais Estados da Região Norte. Um dos objetivos do modelo, por sinal, é justamente abranger Estados da Amazônia Ocidental. Quais alternativas a curto prazo serão tomadas para ampliar os benefícios do modelo aos outros Estados? MP - Os encontros itinerantes ocorrerão em virtude, principalmente, da comemoração dos 50 anos da Suframa e do modelo Zona Franca de Manaus. Das seis reuniões ordinárias do Conselho de Administração da Suframa previstas para este ano, três serão realizadas nas demais capitais dos Estados da Amazônia Ocidental (Rio Branco/AC, Porto Velho/RO e Boa Vista/RR) e outra em Macapá, no Estado do Amapá. Isso mostra que a Suframa e o governo federal como um todo estão preocupados com essas localidades e a relevância de suas políticas e suas ações na lógica de desenvolvimento do modelo ZFM. A respeito das contribuições para o crescimento socioeconômico desses estados, uma ferramenta de grande valia e que potencializará o desenvolvimento de toda a área de atuação da Suframa é o projeto Zona Franca Verde, que oferece benefícios às indústrias cujos produtos tenham preponderância de matérias-primas regionais. EM TEMPO – Como o Mdic avalia a administração da Suframa ao longo deste últimos 50 anos? MP - O modelo da ZFM é um dos projetos de desenvolvimento sustentável e de integração regional mais bem-sucedidos da história do Brasil, porque concilia crescimento econômico e social com a preservação ambiental da floresta amazônica com efeitos multiplicadores na geração de emprego e renda.

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| CRÍTICAS | BENEFÍCIOS |

Tributação

‘Guerra fiscal’ ameaça a Zona Franca de Manaus Mesmo que a LC 24/75 dispense as empresas sediadas na ZFM da prévia autorização do Confaz, questionamentos sobre os incentivos permanecem

“D

isputa, entre cidades e Estados, para ver quem oferece melhores incentivos para que as empresas se instalem em seus territórios”. Este é o conceito dado à “guerra fiscal”, um dos diversos fatores que ameaçam o modelo Zona Franca de Manaus (ZFM). Ainda que a lei complementar 24/75, que dispõe sobre os convênios para a concessão de isenções do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), dispense as empresas sediadas na ZFM da prévia autorização do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), isso não impede questionamentos quanto aos incentivos concedidos.

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Como o caso da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4832, ajuizada pelo governo de São Paulo, que questionava os dispositivos da lei 2.826/2003, do Amazonas, e do decreto estadual 23.994/2003, referentes à concessão de benefícios fiscais para fins de ICMS sobre uma série de produtos, desde eletrônicos até pescado, sem a autorização do conselho. Atualmente, conforme dados da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas (Sefaz-AM), 559 empresas são incentivadas, seja com crédito, estímulo, diferimento, isenção, redução de base de cálculo ou crédito fiscal presumido. Procurador do Estado do Amazonas e professor da Faculdade de Direito da Universida-

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de Federal do Amazonas (Ufam), Carlos Alberto Ramos Filho afirma que o Estado ainda não obteve êxito em relação à ADI 4832, tendo em vista que a ação não foi julgada, estando os autos conclusos à relatora (ministra Rosa Weber) desde 30 de maio de 2014. “Enquanto não houver uma decisão definitiva sobre o tema, o mesmo sempre poderá ‘voltar à tona’”, detalha. Por outro lado, ele pontua que o próprio Supremo Tribunal Federal (STF) já se manifestou expressamente no sentido de reconhecer a recepção da LC 24/1975 pela Constituição de 1988. O procurador lembra que em 2014 o Supremo julgou a ADI 310, impetrada na década de 1990 pelo então

governador do Amazonas, Vivaldo Frota, contra o Confaz. Segundo Carlos Alberto, foi o primeiro julgamento de mérito do STF a respeito de questões envolvendo o ICMS e a ZFM, pois só haviam decisões liminares, ainda que favoráveis ao Amazonas. “No julgamento da mencionada ADI, o STF, por unanimidade, definiu que o artigo 40 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias recepcionou expressamente o conjunto de incentivos fiscais referentes à ZFM, extraídos da legislação préconstitucional: ‘O quadro normativo pré-constitucional de incentivo fiscal à ZFM constitucionalizou-se pelo artigo 40 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, adquirindo,


por força dessa regra transitória, natureza de imunidade tributária’. O referido julgado, sem dúvida, auxilia o modelo ZFM na ‘guerra fiscal’, pois se apresenta como importante precedente a ser utilizado em eventuais futuras demandas envolvendo aquele modelo”, assevera. Reestruturação Como os gargalos que envolvem a ZFM não tratam

apenas de fator fiscal, pesquisadores sobre o modelo deixam bem claro que é preciso repensá-lo, especialmente para aproveitar os próximos 56 anos, com a prorrogação até 2073. Autor do livro “O Processo de Decisão Política e a Zona Franca de Manaus”, o professor da Ufam Maurício Brilhante de Mendonça comenta que existe uma visão apaixonada sobre o processo, envolvendo alguns discursos políticos que podem não ser exatamente verdadeiros e deixando de consultar alguns atores, como os prefeitos dos outros municípios brasileiros. Isso porque quando se dá incentivos fiscais federais para a ZFM, como o Imposto de Importação (II) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), diminui o bolo do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). “Retiramse recursos que iriam para os municípios, aplicando-se fundamentalmente em Manaus. Não é uma questão tão simples, mas é uma opção aceita e tomada. Por isso precisamos pensar nos próximos anos, porque o Brasil mudou muito, há várias situações que não existem mais ou foram amenizadas: por exemplo, a Suframa foi

criada em um período ditatorial e hoje vivemos em uma democracia”, caracteriza. Segundo ele, a maneira como a Federação arrecada os tributos é contestada, inclusive no que se refere ao ICMS, com 27 legislações. “A forma como estão distribuídos os impostos e os incentivos beneficia o cenário atual. Se quisermos mudar a economia do Brasil, precisamos mexer no pacto federativo”, observa, ao ressaltar que a alteração do ICMS poderia dar esse fôlego. Brilhante destaca que existe uma guerra fiscal, mas não destinada apenas sobre ser a favor ou contra de que a ZFM possa fazer incentivo do ICMS. “É algo maior. O ICMS é um imposto que precisa ser revisto, pelo fato de ser muito complexo”, diz. Para o pesquisador, é preciso festejar a prorrogação, pois o modelo trouxe diversos avanços, como a própria Universidade do Estado do Amazonas (UEA), mas também é necessário pensar de que forma esses próximos anos podem ser bem aproveitados, seja pela própria União, pela Prefeitura de Manaus, pelos empresários ou pela sociedade amazonense. “Nem todo mundo aproveitou os últimos anos. Maurício Brilhante de Mendonça é professor da Ufam e autor de livros sobre a Zona Franca de Manaus | ÉRICO XAVIER

Você verifica, por exemplo, a própria prefeitura de costas para o Distrito Industrial. Não tem que ter briga sobre o asfaltamento das ruas, já que ela é responsável por 50% da arrecadação do ISS, um dos principais impostos municipais. Quanto melhor ficar a área, melhor para todos: para o empresário, para a prefeitura, que arrecada mais, e para a União, que vê a política dar certo”, observa. Diretor executivo da Associação PanAmazônia (organização não governamental em funcionamento desde 2010), Belisário Arce pontua que a guerra fiscal não é boa para ninguém, muito menos para o Amazonas, já que do outro lado estaria seu principal mercado consumidor. “Se são nossos principais consumidores, por que vamos brigar com eles? Se brigarmos, vão criar dificuldades para nossos produtos entrarem lá”, destaca. Assim como Brilhante, Belisário acredita em uma harmonização das alíquotas interestaduais. “O ICMS é muito complicado. Seria melhor outro tipo de imposto, mais simples. Do meu ponto de vista, ou extingue-se o ICMS e cria-se um novo tributo ou o mantém com uma tarifa realmente harmonizada para todo território nacional”, avalia. Segundo ele, isso pode diminuir a competitividade do polo, caso não se resolvam os gargalos que o envolvem, mas não é viável que o Brasil continue com a guerra fiscal. “A solução não é técnica. Não é sobre discutir tarifas, em como será cobrado, em qual percentual ficará no estado de origem. Tem que encontrar uma solução política definitiva, que os outros Estados aceitem”, afirma.

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| EXECUTIVOS | RESPONSABILIDADE |

Liderança

Os degraus para chegar aos postos mais importantes Com determinação e disciplina, profissionais amazonenses conseguiram ocupar cargos de comando em empresas instaladas no Polo Industrial

E

les dirigem as empresas, fazendo cumprir as diretrizes internas, promovendo os desenvolvimentos sociais, financeiros e econômicos, que têm como objetivo o lucro, a contratação de empregados e a modernização das corporações. Estes são os executivos e as suas funções no mercado de trabalho. No Polo Industrial de Manaus (PIM), seguem o organograma de cada fábrica, mas no geral estão entre os níveis da presidência, da vice-presidência, da diretoria e até das gerências. A consultoria Paulo Pedrosa Headhunter & Associados, há 15 anos no mercado local de recrutamento e recolocação de executivos, realizou pesquisa recente e traçou o perfil dos

executivos do PIM: são mais homens, de outros Estados do país, entre 45 e 55 anos, em sua maioria brancos e pardos. Já o nível salarial, que pode variar dependendo do porte e da nacionalidade da empresa, fica entre R$ 12

O consultor Amaro Rangel Júnior realizou uma pesquisa que traçou o perfil dos executivos que trabalham no PIM | ÉRICO XAVIER

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EM TEMPO | SUFRAMA - 50 ANOS | ESPECIAL

A gerente administrativa da Nippon Seiki, Francinete Freire, 49, sonha em ser a primeira mulher diretora de uma empresa japonesa | ÉRICO XAVIER

mil e R$ 25 mil, no nível de gerências, e de R$ 30 mil e R$ 60 mil, do nível de diretoria para cima. “Nesses níveis (diretoria, vice-presidência e presidência), os executivos já possuem automóveis, bônus, participação nos lucros e, em alguns casos, ações da empresa, além de todo um pacote de benefícios, desde viagens até o melhor plano de saúde para a família”, explica o diretor executivo da Paulo Pedrosa, Amaro Rangel Júnior. Quanto aos presidentes


e vice-presidentes, no caso das nacionais e multinacionais, a maioria fica na matriz, localizada em outro Estado ou no país de origem. Entre os japoneses Dentre as 14 empresas do Grupo Shakai, que presta serviço para a Honda em Manaus, a economista amazonense e gerente administrativa da empresa Nippon Seiki do Brasil, Francinete Freire, 49, é a única mulher a ocupar cargo de executivo. Em nível gerencial, são todos homens, com exceção dela, e nisseis - descendentes de japoneses nascidos fora do Japão -, pois o grupo é todo de origem nipônica. Já em nível de diretoria, presidência e vicepresidência, são todos japoneses. Exemplo de determinação e disciplina, ela sabe bem aonde quer chegar. “Quero enfrentar o desafio de ser a primeira mulher diretora de empresa japonesa instalada no Amazonas”, pontua Francinete. Mas esse sonho não nasceu por acaso. Foi fruto de anos de trabalho, aprendizado e perseverança. Francinete começou no Distrito Industrial aos 17 anos, na empresa Sharp, local onde atuou por 7 anos, passando de secretária da área de tecnologia da informação (TI) a fitotecária (acervo de fitas) e analista de suporte júnior e sênior. Depois, foi trabalhar na Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), também na área de TI e marketing, por 4 anos. Após esse período, resolveu abrir sua própria empresa e durante, aproximadamente, 5 anos prestou serviços a eventos empresariais. Chegou também a ser gerente de uma grande loja de pneus, mas queria ir além. “Foi aí que pedi minha

conta e liguei para vários hotéis em busca de cursos de recursos humanos”, dispara. Sem perder tempo, matriculou-se no curso e logo no primeiro dia distribuiu seu currículo, falando lá da frente da sala que estava em busca de novas oportunidades. Fez três entrevistas e acabou sendo contratada pelo gerente da Showa do Brasil para o cargo de assistente administrativa da área de treinamento de recursos humanos, depois analista e encarregada de Sistema de Gestão Integrada (SGI), de 2002 a 2008. Foi assim que retornou às fábricas do PIM. “Na Showa, pude conhecer e gostar da cultura japonesa e até viajei ao Japão em treinamento. Cheguei também a ser coordenadora de RH e subgerente de logística da multinacional japonesa Denso Industrial da Amazônia, de 2008 a 2013. Saí porque deveria ser preparada por um japonês para subir de posto, Nippon Seiki é uma das poucas empresas instaladas do Distrito Industrial onde mulheres ocupam cargos executivos | ÉRICO XAVIER

mas isso não estava sendo fácil”, especifica. Em busca de um sonho Pós-graduada em auditoria interna e externa, em recursos humanos, com Master of Business Administration (MBA) em administração de serviços, e mestre em engenharia de produção, Francinete foi em busca de seus sonhos e chegou a morar por três meses nos Estados Unidos para treinar seu inglês. “Quando voltei, concorri à vaga de gerente administrativo na Nippon e não passei. Mas, ainda assim, fui contratada pela empresa como subgerente de cadeia de suprimentos, cargo que nem existia, sendo criado para mim. Depois de cinco meses, fui promovida à gerente de suprimentos e depois à gerente administrativa da empresa, em janeiro de 2015”, detalha. Atualmente, a economista é responsável pelos departamentos de Recursos Humanos, pessoal, segurança do trabalho e de SGI, coordenando diretamente nove pessoas e indiretamente os 231 funcionários

da Nippon. “Temos que ser os olhos do presidente”, salienta ela a respeito da empresa, que está há 15 anos no mercado local produzindo painéis de instrumentos completos para veículos, sensores de combustível, montagens e peças relacionadas ao PCI (conector de componentes periféricos). Francinete diz ter consciência de que alcançou seus objetivos, em virtude de três motivos: fé em Deus, determinação e disciplina que a cultura japonesa ensina. “Eu não era assim. Mas observei o comportamento dos diretores da empresa. Corri atrás e aprendi. Sou rígida no meu trabalho, embora trate sempre as pessoas como pessoas. Minha equipe é extremamente motivada, porque gosto de desenvolver profissionais, e eles se espelham no meu modo de ser”, reflete a executiva, que é casada e não tem filhos, sendo a sua prioridade na área particular cuidar do pai, de 80 anos.

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De torneiro mecânico a gerente geral de projetos da Moto Honda

De Itacoatiara à gerência de uma fábrica binacional Natural de Itacoatiara (176 quilômetros de Manaus), a contabilista e advogada Kelly Sampaio, 37, poderia ter tomado outros rumos se tivesse aberto a desejada empresa de contabilidade. Hoje, responde como uma das poucas executivas mulheres no PIM, enquanto diretora administrativa da Copag, empresa de origem brasileira e belga que atua no ramo dos serviços gráficos, com fabricação de cartas de jogos (baralho) e brinquedos cartonados. O trajeto até esse cargo de destaque não foi fácil. Ela teve que percorrer alguns caminhos, começando aos 15 anos como estagiária em uma rede de supermercados, onde chegou a responsável da área tributária. Em seguida, fez parte de outra rede de supermercados, desta vez multinacional, também na área de tributos. Com pós-graduação em auditoria fiscal e tributária e com a intenção de fazer outra especialização em direito do trabalho, além de doutorado em incentivos fiscais, Kelly conquistou uma vaga de estágio na Copag em 2002, ainda como estudante de contabilidade. “Queria ficar somente seis meses, porque iria abrir o meu escritório. Mas fui atuar justamen-

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A contabilista e advogada Kelly Sampaio é hoje uma das poucas executivas mulheres do Polo Industrial de Manaus | ÉRICO XAVIER

te na área em que sou apaixonada, que é a tributária e de incentivos fiscais, e estou há 15 anos nesta empresa familiar que tem como slogan ‘diversão sem limites’”, conta ela, que foi convidada a fazer parte da diretoria em 2015. Para a executiva, que hoje coordena diretamente 25 pessoas, a conquista pelos objetivos depende da determinação e persistência de cada um. “Tudo depende de buscarmos essa chance. Sempre digo que não sou diretora, mas estou diretora. Estou nesse cargo para contribuir. O que me motiva é a satisfação de fazer um bom trabalho. Procuro sempre me colocar no lugar do outro para entender os diversos conflitos e vou sempre em busca do sim”, declara ela, ressaltando que as mulheres vêm se destacando nesses postos de comando porque se aperfeiçoam e estudam mais para construir base sólida que as leve para cargos de gestão. Kelly é casada e tem dois filhos. Faz parte do Conselho Fiscal do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam) e da Coordenadoria de Assuntos Legislativos e Tributário da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas).

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Com a filosofia diária e institucional das três alegrias, a de criar, a de vender e a de comprar, o administrador e gerente geral de projetos da fábrica Moto Honda da Amazônia, Mauro Menezes, 53, é mais um amazonense executivo do Distrito Industrial à frente de seu tempo, que soube aproveitar as oportunidades, galgando muitos degraus dentro da mesma empresa até chegar a esse importante posto de trabalho. Nascido de uma família humilde, em Manaus, aos 15 anos fez curso de aprendizagem na área de mecânica geral pelo Serviço Nacional da Indústria (Senai). Aos 16, ingressou na Moto Honda como estagiário e foi lá que se firmou como profissional. Assumiu as mais simples funções, como torneiro mecânico e ferramenteiro, passando por encarregado, chefe, supervisor e gerente da ferramentaria. Participou de treinamentos no Brasil e no exterior, ressaltando que os seis meses passados no Japão foram de muito aprendizado, inclusive, no idioma japonês. Chegou a ser gerente geral de produção, fazendo corpo a corpo com, aproximadamente, 2 mil funcionários, sempre com o objetivo de buscar

melhorias na produção da fábrica, mas com qualidade, segurança e condições de trabalho. Ele recorda com satisfação que foi na sua gestão à frente da produção que a empresa lançou a primeira motocicleta a álcool e a primeira flex do mundo, obtendo recordes de produção, com fabricação de 1,6 milhão de motos somente em 2011. Falar da Moto Honda - empresa que está há quatro décadas no polo e é considerada a maior fábrica de motocicletas Honda do mundo - é falar também da sua história. “São quase 40 anos procurando no ambiente de trabalho a realização profissional e pessoal. Eu me aposentei por tempo de serviço, mas optei por continuar trabalhando e transmitindo um pouco do conhecimento que adquiri. Sempre digo aos jovens para acreditar na força dos seus sonhos, buscando o alto desenvolvimento e a alegria diária e trabalhando arduamente para alcançá-los”, declara ele, que tem dois filhos e um neto, e espera esse momento difícil da economia passar para implementar novos projetos. Mauro Menezes aproveitou as oportunidades e atualmente responde como gerente geral de projetos da Moto Honda | ÉRICO XAVIER



Política

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esmo prorrogado até 2073, o modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) ainda corre risco de ser retirado do Amazonas para outros Estados do Sudeste brasileiro, como declara o conjunto de senadores pelo Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), Omar Aziz (PSD) e Vanessa Grazziotin (PCdoB). Os parlamentares enaltecem a participação do modelo para tornar o Estado no que é hoje economicamente, assim como pedem que, no futuro, o Amazonas dependa menos do modelo, como forma de se tornar autossuficiente. Dentre os riscos atuais para a ZFM, Braga aponta a reforma fiscal, que, se não for conduzida com cuidado, possibilitará manobras para tirar o modelo do Amazonas, e também o risco comercial, que aumenta com o fortalecimento da Zona Franca do Paraguai, cada vez mais atrativa para empresas que potencialmente poderiam se instalar no Amazonas. “Temos que nos reinventar, com uma nova alternativa de indústria de transformação, e explorar nossa imensa biodiversidade. A questão de prazo, nós vencemos, agora vamos brigar para que as reformas necessárias sejam feitas”, declara. Omar chama atenção para a guerra fiscal, ameaça constante para a manutenção da ZFM no Amazonas. Ele também avalia que a crise econô-

| REINVENÇÃO | INDEPENDÊNCIA |

Senadores defendem inovação industrial Para parlamentares, Zona Franca ainda corre o risco de sair do Amazonas para outros Estados do Sudeste mica serviu para mostrar que grande parte da produção da indústria local ainda é comercializada apenas para o mercado nacional, sendo uma saída começar a criar canais de exportações e fazer o Estado mais independente. “O Amazonas não teria a economia que tem hoje se não fosse a Zona Franca, mas já é hora de diversificar a produção em outros campos. Espero que comecemos a exportar também e não depender apenas do mercado interno”, relata. Já Vanessa acredita que a ZFM foi uma ressurreição para o Amazonas depois do Esta-

Eduardo Braga afirma que é preciso reinventar uma nova alternativa de indústria de transformação para o Amazonas | ABR

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Embora seja um modelo consolidado, Zona Franca de Manaus ainda sofre com várias ameaças | DIVULGAÇÃO


do sofrer com a queda e pouca rentabilidade dos produtos extrativistas, responsáveis pelo grande desenvolvimento do Amazonas no auge do ciclo da borracha. Para a senadora, a ZFM veio cobrir essa lacuna deixada. Vanessa também comenta que, mesmo após 50 anos do decreto-Llei nº 288, não acredita que o modelo esteja obsoleto, e

sim que precisa de alternativa de faturamento paralelo, para retirar a sobrecarga da atividade responsável por 98% da economia amazonense. “Os governos têm que investir pesado, porque os recursos não vão cair do céu. Não se desenvolverá a indústria do setor de cosméticos se não forçar a barra, promover investimentos e colocar o público em primeiro lugar”, avalia.

Para Omar Aziz, é hora de diversificar a produção e, também, de aumentar as exportações do PIM | DIVULGAÇÃO

Novo marco regulatório em um prazo de 4 anos O futuro institucional da Zona Franca de Manaus está garantido, mas o senador Eduardo Braga argumenta que o Amazonas, como um todo, não pode depender única e exclusivamente do modelo. Braga espera que, em um longo prazo, de ao menos 4 anos, o Estado consiga entrar em um novo marco regulatório. A ideia é permitir a exploração da indústria de transformação como uma nova aposta de ganho para a Vanessa Grazziotin prega o aumento dos investimentos no parque industrial de Manaus por parte do governos | IONE MORENO

economia local, por meio do minério de ferro, petróleo, gás e madeira manejada, e que esses produtos sejam ambientalmente corretos. Já a curto prazo, o senador aponta a readequação de processos produtivos, para serem atrativos aos investidores e equilibrarem novamente a economia - com geração de empregos -, e a busca pela isenção do Estado nos novos modelos. “Este é o momento de fazer a ponte para o futuro e preparar o Amazonas para que não dependa exclusivamente de incentivos fiscais, como depende agora”, finaliza.

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A Origem

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ra 1957. O mundo via a União Soviética colocar o primeiro satélite em órbita, o Sputnik-1, e enviar o primeiro ser vivo ao espaço, a cadela Laika. No Brasil, era dada a largada para a construção de Brasília, que no mesmo ano se tornou a nova capital federal. Aos 16, Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé, estreava na seleção brasileira de futebol, na primeira partida da Copa Roca, no Maracanã. E também naquele ano que foi idealizado o modelo Zona Franca de Manaus (ZFM), por meio da lei nº 3.173/57. A autoria do modelo é concedida ao deputado federal Francisco Pereira da Silva, mais conhecido como Pereirinha, que apresentou à Câmara dos Deputados o projeto de lei nº 1.310, de 23 de outubro de 1951, propondo a criação de um porto franco em Manaus. A propositura foi convertida na legislação, assinada pelo presidente da época, Juscelino Kubitschek. Conforme o texto, foi criada na capital amazonense “uma zona franca para armazenamento ou depósito, guarda, conservação, beneficiamento e retirada de mercadorias, artigos e produtos de qualquer natureza, provenientes do estrangeiro e destinados ao consumo interno da Amazônia, como dos países interessados, limítrofes do Brasil ou que sejam banhados por águas tributárias do rio Amazonas”. Contudo, apenas 10 anos depois, a ZFM recebeu o arcabouço jurídico para funcionar nos moldes atuais, por meio do decreto-lei nº 288, de 28 de fevereiro de 1967, que criou a Superinten-

| ZONA FRANCA | MUDANÇAS |

Cinquenta anos de progresso regional Cinco décadas que transformaram a pacata Manaus em um centro de atração das principais empresas do mundo

Imagem aérea mostra obras viárias e o início da construção da sede da Suframa, no Distrito Industrial | DIVULGAÇÃO

dência da Zona Franca de Manaus (Suframa), com responsabilidade de identificar alternativas econômicas e atrair empreendimentos para a região, para contribuir com a geração de emprego e renda. José e Marcelo Seráfico, no artigo “A Zona

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Franca de Manaus e o capitalismo no Brasil”, contam que foi só nessa data que ela entrou, de fato, em vigor, reestruturada pelo decreto. Em meio ao regime militar, o modelo foi definido como “uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos

fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância, a que se encontram,


A instalação de um polo fabril permitiu o desenvolvimento de um comércio pujante em Manaus | MÁRCIO MELO

Cronologia

os centros consumidores de seus produtos”. Mas a propositura não foi feita como voluntariado. Com a queda do ciclo da borracha, falava-se sobre a cobiça internacional, e, não à toa, os militares resolveram colocar em prática o lema nacional do período da ditadura: “Integrar para não entregar”.

1957 - Deputado Francisco Pereira apresenta à Câmara dos Deputados o projeto de lei nº 1.310, de 23 de outubro de 1951, propondo a criação de um porto franco em Manaus. 1957 - Foi idealizado o modelo Zona Franca de Manaus (ZFM), sob os moldes do projeto do parlamentar, por meio da lei nº 3.173/57. 1967 - O projeto recebe o arcabouço jurídico para funcionar nos moldes atuais, através do decreto-lei nº 288, de 28 de fevereiro, que criou a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). 1968 - Lançamento da pedra fundamental do Distrito Industrial, no dia 30 de setembro, marcando também a aprovação do primeiro projeto industrial para instalarse na ZFM: o da indústria Beta S/A, fabricante de joias e relógios, que funcionou até meados da década de 1990. 1972 - O distrito recebe a primeira indústria, a CIA Companhia Industrial Amazonense, ocupando uma área de 45.416 m², para produção de estanho. 1974 - Chega ao PIM a primeira fábrica do setor eletroeletrônico, a Springer, que hoje é uma das marcas da joint-venture Midea Carrier. 1986 - Acontece a primeira prorrogação dos incentivos da ZFM, por meio do artigo 1º do decreto 92.560, estendendo por 10 anos o prazo que originalmente estava previsto até o ano de 1997. 1988 - Com a promulgação da Constituição Federal, a ZFM teve novamente seu prazo modificado, desta vez por meio do artigo 40 do ADCT, o qual estabeleceu a validade dos incentivos fiscais por 25 anos (até 2013). 1989 - Foi criada a primeira Área Livre de Comércio (ALC), em Tabatinga, por meio da lei nº 7.965, de 22 de dezembro. A ALC foi implantada no ano posterior. 2003 - Terceira prorrogação dos incentivos, com a edição da Emenda Constitucional nº 42, que modificou o artigo 42 do ADCT e estendeu os benefícios por mais dez anos, com validade prevista até 2023. 2014 - O Congresso Nacional promulgou a Emenda Constitucional 83/2014, que prorrogou os incentivos até 2073. 2016 - A partir da Resolução nº 001 do Conselho de Administração da Suframa, de 26 de fevereiro, foi efetivamente implantada a Zona Franca Verde (ZFV).

Conforme os Seráficos, “a criação da Zona Franca de Manaus foi justificada pela ditadura militar com a necessidade de se ocupar uma região despovoada. Era necessário, portanto, dotar a região de ‘condições de meios de vida’ e infraestrutura que atraíssem para ela a força de trabalho e o capital, nacional e estrangeiro, vistos como imprescindíveis para a dinamização das forças produtivas locais, objetivando instaurar na região condições de ‘rentabilidade econômica global’. De fato, sua criação e desenvolvimento sempre estiveram atrelados a circunstâncias político-econômicas locais, nacionais e mundiais”. As influências A ZFM surge no segundo fracasso da economia da borracha,conforme o filósofo e escritor Alfredo Lopes, responsável por diversas obras sobre o cenário econômico da região, inclusive o livro inédito denominado “Amazônia: a construção da bioeconomia”, que será lançado em março. Ele comenta que, em virtude da estagnação da economia, havia uma movimentação de atores locais, em especial de um grupo de pioneiros. Lopes conta que o combustível em Manaus era de péssima qualidade, por isso, um empresário chamado Isaac Sabbá encarregou seu sobrinho, Moyses Benarrós, de viajar aos Estados Unidos e identificar parceiros dos negócios da floresta. “O Moyses soube que em Los Angeles havia uma refinaria desmontada, que deveria ser vendida ao governo da Arábia Saudita, mas não o foi por conflitos diplomáticos”, pontua. Dessa missão, foi possível trazer a refinaria, à época.

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De ‘porto de lenha’ à capital industrial do Norte do Brasil Durante a viagem, Moyses ficou hospedado por quase um mês junto ao cônsul do Brasil em Los Angeles, Roberto Campos, e ao chefe de gabinete dele, o amazonense Arthur Soares Amorim. Alguns anos mais tarde, o primeiro se tornou o ministro do Planejamento do governo Castello Branco, o primeiro do ciclo militar iniciado em 1964 e extinto em 1985, enquanto Amorim assumiu o cargo de secretário executivo de Campos. Depois da aprovação do projeto desenvolvido por Pereirinha, que era, conforme Lopes, muito mais comercial, o presidente Castello Branco – que antes do golpe militar vivia em Manaus e mantinha laços de amizades com o professor Arthur Cesar Ferreira Reis, empossado governador do Amazonas em 1964, em substituição ao anterior, após indicação do então presidente – foi pressionado pelos empresários amazonenses para criar um projeto de desenvolvimento com redução fiscal, permitido pela Constituição, para empinar a economia da região. Diretor executivo do jornal Amazonas EM TEMPO, o professor João Bosco Araújo comenta que, à época dos debates sobre o projeto desenvolvido, duas ideias foram colocadas à mesa por lideranças empresarias locais: uma que solicitava a isenção de Imposto de Renda (IR) para todas as pessoas físicas e jurídicas da Amazônia Ocidental e outra, a Zona Franca, apresentada por Nathaniel Xavier de Albuquerque e Robert Phelippe Daou. Araújo diz que a presença de Arthur Amorim – que vinha de uma família proprietária da J.S. Amorim, uma das maiores exportadoras de produtos nativos regionais – interferiu na decisão de Roberto Campos

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em favor do projeto nos moldes desenvolvidos no decreto-lei Nº 288/67, vencendo a ideia relacionada à isenção do IR. Segundo o diretor executivo, após o decreto, Nathaniel saiu de Manaus e voltou com diversos contratos, inclusive da Honda. “Ele era proprietário da Moto Importadora Ltda., que transformou em Moto Honda, participando com 30% do capital. Também trouxe a Seiko, fábrica de relógios, e o Novotel”, assevera João Bosco. Já Robert Daou investiu na indústria de juta, no cultivo de seringueiras e em uma fábrica de relés de alta capacidade. O economista Roberto Caminha Filho, que foi secretário de Moyses na Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), destaca que o modelo que completa 50 anos neste ano poderia ter sido implantado em outra unidade federativa. “O Roberto Campos ia fazer no Rio de Janeiro, para se contrapor à Zona Franca de Hong Kong”, pontua. Inclusive, em sua obra “A lanterna na popa – Memórias”, o ministro (já falecido) chegou a dar detalhes sobre o período. A ideia era construir na antiga capital federal a Zofran – Zona Franca da Guanabara. Fases O modelo ZFM passou por quatro fases distintas até chegar à atual, conforme informações da Suframa. E a primeira, datada de 1967 a 1975, tinha como predominante a atividade comercial (sem limitação de importação de produtos, exceto armas e munições, fumos, bebidas alcoólicas, automóveis de passageiro e perfumes). O historiador Abrahim Baze comenta que a Zona Franca era voltada aos produtos estrangeiros, o que movimentou a economia e resultou em imi-

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gração estrangeira. “Passamos a ter japoneses, chineses, árabes, entre outros, que começaram a se instalar na ZFM e montar suas lojas nos grandes centros. Dessa forma, aquele centro que convivia com as indústrias exportadoras de borracha e ao mesmo tempo era um ambiente residencial, começou a ser imprensado. Essas residências começaram a ser vendidas, dando espaço a lojas de produtos estrangeiros”. Segundo ele, as casas foram transformadas em estabelecimentos comerciais, e portas e janelas de madeira começaram a ser quebradas para dar vez a vitrines, a portas de ferro. “O nosso patrimônio histórico começou a perder uma parte aí. A ZFM também trouxe esse processo negativo para nós, porque perdemos a qualidade do grande centro”, avalia. A segunda fase compreendeu o período de 1975 a 1990, quando foram estabelecidos Índices Mínimos de Nacionalização para produtos industrializados na ZFM e comercializados

A implantação da Zona Franca de Manaus, em 1967, trouxe o aumento da população e o progresso para a capital amazonense, que antes era pouco povoada | DIVULGAÇÃO

nas demais localidades do território nacional e limites máximos globais anuais de importação. A terceira fase compreendeu os anos de 1991 e 1996. A quarta fase, que compreende o período de 1996 a 2002, teve dentre as principais características, conforme a Suframa, a inclusão da exportação como política intencional, com objetivo de estimular as vendas externas do polo, e estabelecimento de critérios para repasse de recursos financeiros da Suframa para promoção do desenvolvimento regional, por meio da resolução nº 052, de 1º de agosto de 1997. Hoje, a autarquia pontua que “há um esforço para ampliar a inserção internacional do modelo, sobretudo por meio de missões comerciais, participação em acordos de comércio exterior e realização de eventos de promoção comercial, a exemplo da Feira Internacional da Amazônia (Fiam)”. Para Baze, o PIM continua importante. “Se o perdermos um dia, voltaremos a ser um ‘porto de lenha’”, salienta.


| DEBATE | MODERNIZAÇÃO |

Com a prorrogação da ZFM garantida por mais 56 anos, especialistas alertam que é precisar pensar no fortalecimento do principal motor da economia do Amazonas

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emenda constitucional nº 83/2014 prorrogou os incentivos fiscais concedidos à Zona Franca de Manaus (ZFM) por mais 50 anos. Vários são os desafios apontados por especialistas para que em 2073 o modelo não passe pelas mesmas fragilidades da atualidade. Eles são unânimes em afirmar que é urgente se pensar em novas alternativas econômicas para o Amazonas deixar de ser totalmente

dependente do Polo Industrial de Manaus (PIM), utilizando a biodiversidade da região para desenvolver outros setores, como a piscicultura e o turismo ecológico, os polos de biofármacos e biocosméticos, no interior do Estado. Atualmente, a ZFM tem em torno de 500 empresas, faturamento de R$ 74,4 bilhões (2016) e, aproximadamente, 85,5 mil empregos diretos. Mas é preciso ainda superar os problemas de infraestrutura e logística, re-

solver os impasses para a aprovação dos Processos Produtivos Básicos (PPBs), revisar os incentivos fiscais, dentre outros pontos, para que a Zona Franca de hoje continue atraindo novas empresas e gerando mais empregos e renda. O economista Osíris Silva, em seu livro “Economia do Amazonas, visões do ontem, do hoje e do amanhã”, diz no capítulo “Imaginando o Amanhã” que não se constitui caminho fácil buscar novos padrões tecnológicos, logís-

O Futuro

O desafio de manter um modelo até 2073

ticos e operacionais que possam proporcionar embasamento consistente ao modelo Zona Franca de Manaus, levando em conta a sua prorrogação. “Por mais relevante que seja essa conquista, não podemos ocultar os problemas estruturais do modelo que precisam ser enfrentados com determinação. Os incentivos fiscais, isoladamente, não foram capazes de interiorizar o crescimento econômico, um déficit que precisa ser superado”.

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Osíris Silva observa que a ZFM tornou-se industrial antes de ser um polo agropecuário. “Falhamos com a produção de alimentos, vestuário, por exemplo. Chegamos aos 50 anos sem um rumo definido. E de quem foi a culpa? Foi de vários governos que por aqui passaram. Porque países de primeiro mundo, como Canadá e Alemanha, conseguiram conciliar os três setores da economia: indústria, serviço e agropecuária. Se um desses setores perder competitividade, têm os outros dois para compensar. E nós, o que temos de alternativa? Somente o polo industrial. Mas um só setor não alavanca crescimento econômico. E temos que reconhecer esse erro”, diz o especialista. Osíris destaca algumas prioridades, como pontos de evolução do antigo para o novo, incorporando os avanços determinados pela inclusão dos recursos da biodiversidade e do turismo ecológico à matriz industrial do novo modelo econômico. “É preciso investir em planejamento estratégico com perspectivas de curto, médio e longo prazo,

por meio de setores prioritários do Estado. Trabalhar urgentemente alternativas econômicas com a nossa biodiversidade, a grande virada do modelo, com a ‘economia verde’. Priorizar o turismo ecológico. Além de ser necessário estabelecer política pública de ciência, tecnologia e inovação, orientada à promoção da sustentabilidade e à inclusão social, com a participação das universidades e órgãos de pesquisa”, avalia. Também é urgente o Amazonas avançar na área de biofármacos e de biocosméticos, que têm campos ilimitados, avalia o economista, acrescentando que o Estado importa tecnologia porque não a gera. “Se não investirmos nesses potenciais, vamos chegar em 2073 com as mesmas deficiências. Mas, para isso, temos que ter políticas de Estado, e não de governo”, salienta. Mais emprego e renda O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Materiais Plásticos de Manaus e do Estado do Amazonas (Sindplast), Francisco Brito, afirma ser urgente resolver os

impasses em torno da política dos PPBs, para atrair mais empresas para o PIM. Ele também defende o fortalecimento da Zona Franca, por meio dos incentivos fiscais. “A ZFM foi prorrogada por mais 50 anos nos governos Lula e Dilma. Mas se não houver uma política econômica de governo, de nada vai adiantar. E não vejo mudança com essa atual gestão que está aí à frente da Presidência da República. Porque os empregos também dependem disso”, conta Brito, ao informar que o PIM há hoje 104 empresas de materiais plásticos, mas já fecharam 20 fábricas com a atual crise e os trabalhadores passaram de 16 mil para apenas 7 mil. Resolver os eternos gargalos logísticos deve ser uma meta dos governantes para os próximos 50 anos, afirma o sindicalista, principalmente, com a total recuperação da BR-319 (ManausPorto Velho). Além disso, defende a interiorização do polo industrial, com o desenvolvimento, principalmente, da piscicultura. “Sou um otiSecretário de Planejamento, José Jorg acredita que é preciso descentralizar a atividade econômica | DIVULGAÇÃO

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EM TEMPO | SUFRAMA - 50 ANOS | ESPECIAL

mista. Acredito na juventude e nesta nova geração. Defendo que precisamos de mais investimentos na educação. Quero ver no futuro esse Estado gerando mais emprego e renda, com respeito à sociedade”, completa, ao frisar que os sindicatos devem estar unidos em defesa dos trabalhadores para a conquista de outros direitos, além do já garantidos em lei. Interior Para a conselheira federal de economia e consultora econômica Denise Kassama, apesar dos incentivos fiscais da ZFM terem sido prorrogados por mais 50 anos, causando um alívio ao meio empresarial já estabelecido, alguns desafios se impõem para que tal prorrogação se reflita em desenvolvimento efetivo para o Amazonas. Ela cita, como exemplo, a interiorização, explicando que há muito tempo se discute sobre alternativas de desenvolvimento para o Estado, passando pela questão do interior. “Se por um lado, somos ricos em biodiversidade, por outro lado, não exploramos ainda de forma adequada. A exploração racional da flora regional pode levar renda e desenvolvimento para o interior”, conta a economista, ao lembrar que,


Fieam apresenta agenda industrial prioritária

Osíris Silva critica a falta de diversificação e alerta que só um setor não sustenta o crescimento da economia do Amazonas | ÉRICO XAVIER

hoje, compra-se tambaqui, banana e guaraná de outros Estados, pois a produção local não é suficiente para o abastecimento interno. “Há de se trabalhar em políticas que viabilizem a produção em escala, bem como estrutura logística para o escoamento da produção. Itens como cupuaçu, castanhas e derivados, além dos óleos vegetais, possuem excelente aceitação de mercado, sendo itens primordiais para gastronomia, farmácia e cosméticos”, revela. Segundo ela, práticas como o cooperativismo têm se mostrado eficientes para buscar uma união entre pequenos produtores, com foco em uma produção em escala. “Aliada a tais estímulos, nossa malha logística precisa melhorar para permitir o bom escoamento da produção de nosso interior. É preciso que discussões como a BR-319 deixem de ser apenas discussões para se tornarem uma realidade. Conforme a economista, apesar do Polo Industrial de Manaus ser a principal fonte de recursos, ainda padece de estrutura logística.

O modelo Zona Franca de Manaus é exitoso ao cumprir ao longo de 50 anos o objetivo pelo qual foi criado, de incentivar a interiorização do desenvolvimento da região e reforçar a segurança nacional no grande arco fronteiriço com os países andinos e guianeses. A afirmação é do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antonio Silva. O empresário esteve em dezembro do ano passado, em Brasília, e entregou a agenda prioritária da indústria amazonense ao presidente Michel Temer. A agenda trata dos gargalos de infraestrutura, autonomia da Suframa e a energia elétrica no Estado. “Precisamos lutar constantemente por esse modelo que possibilitou a implantação de empresas industriais que agridem muito menos a natureza, com emprego intensivo de mão de obra, com boa média

salarial, criando oportunidades de evolução econômica e social, por meio do desenvolvimento de atividades de alto valor agregado, que contribuem de forma significativa para a manutenção da floresta e do equilíbrio ambiental”, destaca. A infraestrutura é o principal gargalo que impede o crescimento industrial do Estado, com a precariedade das telecomunicações, a insuficiência de energia e a deficiência de transporte. “O acesso a modais combinados de transporte é uma prioridade estratégica para o desenvolvimento e o crescimento econômico do nosso Estado”, pondera o presidente da Fieam, ao citar a BR-319, que se trata de uma obra de infraestrutura que viabilizará de forma integral um corredor viário que integrará a Amazônia Ocidental com o resto do país. O resgaste da autonomia da Suframa é outra prioridade

para que o modelo avance nas conquistas significativas que alavancam a economia amazonense. “É necessário que sejam aprovados os Processos Produtos Básicos nas reuniões do Conselho Administrativo da Suframa, pois nessas reuniões o governo federal já se faz presente com seu colegiado”, avalia Silva. A crise energética também preocupa o setor industrial. Silva lembra que com a interligação do sistema energético de Manaus com o resto do país, por meio do linhão de Tucuruí, três subestações abaixadoras de tensão deveriam ter sido construídas, no entanto, apenas uma foi concluída. “Os investimentos no setor elétrico estão paralisados e a Amazonas Distribuidora passou a ser uma simples prestadora de serviço público de distribuição de energia elétrica”, diz.

Para secretário, é hora de ‘descentralizar’ A grande missão para os próximos 50 anos da Zona Franca vai ser desconcentrar o desenvolvimento, que hoje está concentrado no PIM, avalia o secretário de Estado de Planejamento, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Seplan-CTI), José Jorge Júnior. Ele diz que é preciso utilizar essa riqueza do PIM, com geração de emprego e de recursos e impostos para o Estado, para fomentar e incentivar o desenvolvimento do interior. “E como conseguimos isso? Aumentando a sua força e a sua importância. Movimentando a economia, conseguimos pegar esses recursos e levar o desenvolvimento para o interior”. Apesar de estar prevista desde a criação da ZFM a

implantação de um polo industrial, comercial e agropecuário, irradiando o desenvolvimento econômico para toda a região, o que não aconteceu até hoje, mesmo assim, José Jorge afirma que a ZFM teve um efeito colateral positivo. “São 4 milhões de habitantes, sendo 2 milhões na capital, mas com a floresta preservada. Porém, precisamos avançar, mantendo a população do interior em suas cidades de origem. São os guardiões da floresta, se beneficiando dessa desconcentração. Caso contrário, corremos o risco de inchar mais a capital”, esclarece. Jorge afirma que não é preciso “inventar a roda”, porque os rios estão disponíveis para fazer o escoamento das produções, de forma racio-

nal, atentando para a questão ambiental de cada localidade e identificando as microáreas com potencial de cada região. É o que prevê também a nova matriz econômica ambiental lançada pelo Estado. “Quando esse conjunto de ações tiver encaminhado, vamos ter um resultado macro, visualizando mais respostas, a médio e longo prazo. Daqui a 50 anos, sendo um otimista que sou, não sei se estarei aqui, mas os nossos filhos e netos estarão, um grande sonho me vem: que aqui possa ser o verdadeiro eldorado, vendo a floresta preservada, mas também educação e saúde funcionando, desenvolvimento econômico baseado no potencial que se iniciou”, vislumbra o secretário.

ESPECIAL | SUFRAMA - 50 ANOS | EM TEMPO

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| ESTRATÉGIA | ESTADO |

Governador José Melo

‘Zona Franca deve permanecer perene’

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Para José Melo, o Amazonas tem duas saídas econômicas: manter o modelo ZFM e “lutar” por suas riquezas naturais

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gestão do governador José Melo tem procurado atender às exigências dos setores econômicos, em especial, aquelas que pedem para reduzir a dependência do Amazonas do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM). Como alternativa, o chefe do Executivo do Estado lançou a proposta de uma nova matriz econômica que possa desenvolver o Amazonas de forma sustentável e, dessa forma, garantir um novo “braço forte” para a economia da região. Com a agenda cheia de compromissos, José Melo concedeu uma entrevista para falar sobre o cenário desafiador da situação econômica do Estado do Amazonas. EM TEMPO – A prorrogação do modelo ZFM deu certo alívio para o setor industrial, mas ainda assim não foi a resposta para todas as “orações” do mundo dos negócios. No início do seu mandato, em 2015, a categoria reclamou da necessidade de atender outros pleitos, entregando uma carta de reivindicações. Na época, o senhor disse que os compromissos contidos nela eram também os do

governo. O que foi feito para enfrentar os obstáculos que impedem o desenvolvimento do modelo? José Melo - Inicialmente, gostaria de dizer que a Zona Franca de Manaus é o modelo desenvolvimentista mais exitoso do Brasil, porque conseguiu equilibrar a floresta e garantir o maior de todos os patrimônios do Brasil, que é a nossa Amazônia, e o Estado do Amazonas, mais precisamente, com um 1,5 milhão de quilômetros quadrados preservados. Durante 50 anos, a ZFM mandou mais dinheiro para a nação do que a nação enviou para cá. Portanto, é um modelo exportador líquido de recursos para a União. Além disso, gerou milhares de empregos – chegando ao auge de ter 127 mil empregos diretos e mais 100 mil indiretos – e recursos para que o Amazonas saísse de um porto de lenha e chegasse ao nível em que está hoje, com várias universidades, inclusive com a estrutura pujante que é a UEA (Universidade do Estado do Amazonas), com expectativa de ser, no futuro, o modelo do trópico úmido na questão do conhecimento. A prorrogação foi um fator

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determinante para o futuro, até porque agora o Supremo Tribunal Federal (STF) já disse que são inconstitucionais os incentivos dados pelos outros Estados. Então, está muito claro que a segurança jurídica dos próximos 50 anos é a ZFM. O modelo é bom, maravilhoso, o mais exitoso do país e deve permanecer perenemente, porque a prorrogação e a garantia constitucional dos incentivos permitem àquele que quer investir um prazo de maturação grande para seu capital, para retomar sob forma de lucro. EM TEMPO - O que é preciso para evoluir mais, então? JM - É claro que vejo necessidade muito grande de colocar para funcionar realmente o CBA (Conselho de Biotecnologia do Amazonas), porque o próximo desafio da humanidade é a biotecnologia. O estudo dessa exuberância biológica que há aqui na Amazônia tem que ser feito com ciência, tecnologia e conhecimento. Então, é preciso que os institutos de pesquisa, sobretudo aquele que foi criado com recursos da Suframa para tal, possam cumprir com este papel. De outro lado, é


preciso enfrentar o desafio dos PPBs (Processos Produtivos Básicos). Agora mesmo estamos em uma luta para trazer para cá a maior fábrica do mundo de produção de lâmpadas LEDs e células fotovoltaicas e outra grande para produção de café encapsulado, que agregam valor fantástico. É uma luta na qual precisamos sentar juntos, governo federal, estadual, Suframa, enfim. EM TEMPO – A propósito, uma das reclamações dos setores econômicos é quanto ao fato da região possuir riquezas naturais, mas não agregar valor, muitas vezes enviando essa matéria-prima bruta para outros países produzirem e, consequentemente, gerarem empregos fora da região. Quais estratégias para incentivar essas alternativas econômicas e até mesmo reduzir a dependência do modelo Zona Franca? JM- Temos duas saídas. Uma delas é lutar pelo fortalecimento do modelo ZFM – produtor de bens de consumo duráveis para substituir a importação – e criar uma base científica completamente forte, para que as pesquisas de desenvolvimento não sejam feitas só nas matrizes das empresas que estão aqui, podendo utilizar os recursos de P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) para criação de um case de desenvolvimento científico-tecnológico. A outra saída são as nossas riquezas regionais, que chamamos de matriz econômica ambiental. Aí temos que tratar da produção de remédios fitoterápicos, pensar na questão do polo de biocosméticos. Afinal de conta as matériasprimas estão todas aqui, e Governador José Melo acredita que é preciso fortalecer a ZFM e lutar pela exploração sustentável dos recursos naturais | ÉRICO XAVIER

pensar em um polo mineral, já que a segunda maior reserva de caulim do mundo está aqui, já que há reserva de potássio para 80 anos do agronegócio brasileiro, e por conta das terras raras lá do Pitinga, que possuem minérios nobres como o nióbio. Além disso, o Amazonas tem uma das melhores condições do mundo para produzir proteína, peixe em cativeiro, através de atividades sustentáveis. Tudo isso faz parte da matriz econômica ambiental. Agora, estamos perseguindo os recursos para que ela possa ser implantada e, de outro lado, procurando as bases científicas para descobrir as formas de produzir sem que necessariamente tenha que ferir a natureza. Vejo no futuro esses dois braços fortes: Zona Franca fortalecida e a matriz econômica ambiental crescendo paralelamente. EM TEMPO – No lançamento da novas matriz foi apresentado o investimento de R$ 450 milhões, e o senhor comentou agora sobre a questão da busca de recursos... JM – Uma coisa é o que o Estado irá investir com a matriz, os R$ 450 milhões, e a outra é o desdobramento disso. Chego com determinado cliente, mostro que investi e que o projeto rende três vezes mais do que se estivesse criando gado, e sem ferir a natureza. Aí o empresário pega seu dinheiro, vem para cá e faz não um módulo desse, mas sim 20 módulos. Esse é o ponto seguinte. Mas, primeiro, o Estado precisa investir, para mostrar que dá certo. E o que fizemos? Criamos o arcabouço jurídico para apresentar aos interessados todas as regras necessárias.

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EM TEMPO – A partir de que momento a sociedade terá resultados concretos dos investimentos desses R$ 450 milhões ? JM – Resultados concretos nós já temos, só que não no tamanho que nos interessa. Tem muita gente criando peixe, fazendo pesquisa na questão de cosméticos, tem empresa fazendo exploração mineral, mas a um nível pequeno. O que nós queremos é transformar esses projetos em algo grande. Por esse motivo, estamos destacando três áreas: no Rio Preto da Eva, em Manacapuru e uma na região que abrange Manaquiri, Careiro da Várzea, Careiro Castanho e Autazes. Nesses pontos, vamos implantar a matriz em sua plenitude. Daqui a 1 ano você irá lá e terá centenas de tanques escavados, açaí plantado, o consórcio de peixe e fruta. A nova matriz do potássio também estará andando, Paranapanema (produtora nacional não integrada de cobre primário, responsável pela produção e comercialização de cátodos, vergalhões, fios trefilados, laminados, barras, tubos e conexões de cobre e suas ligas) investindo para as terras raras, e outra grande empresa que está interessada em explorar o caulim. Tudo está saindo do papel, mas cada uma dessas vertentes econômicas já tem um bom exemplo. E queremos dar escala industrial e internacional. Daqui a 20 a 30 anos, quero que o Amazonas seja o maior produtor de peixe de cativeiro do mundo, e que o mundo todo compre com selo do Greenpeace, por exemplo, da conservação nacional, por ser produzido de forma sustentável. E no que consiste os R$ 450 milhões? Para abrir um tanque, é preciso pavimentar a vicinal. Aí é pavimentado, chega energia elétrica e o Estado entra subsidiando o tanque escavado, que é o mais caro. Vale ressaltar que o Amazonas já tem a

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Desenvolver uma nova matriz econômica é um dos principais projetos do governador José Melo | ÉRICO XAVIER

maior central de alevinagem, que fica em Balbina, um desafio resolvido. O outro é quanto a mecanismos para baratear a ração. Estamos trabalhando com grandes fábricas mundiais para produzirem aqui, tendo em vista que haverá escala. Vamos trabalhar em 48 vicinais neste ano e nelas vamos entrar para abrir os tanques, mecanizar as terras – porque entra um tanque e outro vai ter o açaí, buriti, acerola, camucamu, frutas com grande apelo nacional e internacional plantadas, para o consórcio de peixe e fruta. Vamos entrar nas três áreas citadas para descentralizar a atividade econômica, hoje concentrada em Manaus.

JM – Na verdade, quero confessar que no afã de poder apressar as coisas, de reduzir custos, tivemos que encolher o tamanho do Estado. Agregamos secretarias umas às outras e depois concebemos a matriz. Com a concepção dela, verificamos que não funciona sem ciência e tecnologia, sem base científica, por isso estamos desmembrando, criando uma secretaria pura de Planejamento e Desenvolvimento, e recriando a secretaria agora com nome de Ciência, Tecnologia e Geodiversidade. Essa secretaria é que vai dar conhecimento, gerar massa crítica para o desafio deste milênio, que é a biotecnologia.

EM TEMPO – Aproveitando que o senhor comentou sobre o próximo desafio da humanidade ser a biotecnologia, vale lembrar que houve polêmica quanto à reforma administrativa, que culminou na incorporação da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (Sect) à Secretaria Estadual de Planejamento (Seplan), transformando-a em Secretaria de Estado de Planejamento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Seplan-CTI). E agora estas secretarias serão desincorporadas...

EM TEMPO – Voltando para aquela carta de reivindicações, que apresenta um conjunto mínimo de necessidades para reduzir as deficiências percebidas no PIM, também há reclamação quanto à falta de infraestrutura. Por sinal, eles propõem a obra de um aeroporto indústria, tendo em vista que o atual é distante do Distrito Industrial, o que dificulta o escoamento de mercadorias. No ano passado, o senhor fez um balanço da administração, elencando diversas obras, dentre as quais do “anel

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leste’ e ‘anel sul’, que vão fazer a ligação do distrito ao aeroporto. A partir de quando essas obras serão iniciadas e qual o orçamento previsto? JM – Sobre infraestrutura, há duas coisas: uma é a luta que está chegando ao fim da BR319, abrindo alternativa de redução de custo para que os produtos cheguem ao mercado consumidor de forma mais barata; e a segunda são as construções dos anéis, sobretudo o leste, que vão cortar o Distrito Industrial 3 no meio e permitir que novas empresas venham para cá e tenham terreno para construir seu parque fabril. Já dei ordem de serviço e estamos apenas esperando as chuvas pararem. Na verdade, no Tarumã, as obras já foram iniciadas. Essas vias vão facilitar e muito o transporte de cargas do aeroporto para o polo. Quando se conectarem com a avenida das Flores, obra prevista para ser concluída até março do próximo ano, teremos três anéis viários. Estamos lançando um pacote de obras R$ 1,5 bilhão que implica nas estradas vicinais, em uma melhoria viária das cidades, que implica nos anéis, na duplicação da AM-070, na duplicação da AM-010. É um pacotão de obras, inclusive essas vitais para o crescimento da Zona Franca. EM TEMPO – Quais às cobranças do Amazonas junto ao governo federal para garantir que a autarquia seja mais independente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) e, consequentemente, una forças com o Poder Executivo do Estado? JM – Essa é uma questão que será resolvida no bojo da solução brasileira. O Brasil começa a dar mostras de que sairá da crise. O crescimento do país permitirá que os recursos contingenciados para fazer o tal do superávit primário possam ser liberados. A partir dessas condições, vem a pressão política da base aliada junto comigo, mais a Suframa.


| PLANOS | DIVERSIFICAÇÃO |

Rymo expande os negócios no AM Empresa deverá ampliar suas atividades na região com a inauguração de uma indústria no parque fabril do Estado

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om 30 anos de atuação no mercado local, a Rymo da Amazônia atende à demanda de setores com interesse em produtos e equipamentos gráficos, materiais de expediente e papelaria. Não é à toa que a lista de clientes inclui empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM), que representam 20% da sua operação. No total, quase 250 indústrias fazem parte do atendimento oferecido pela empresa. Atuando em uma ampla diversidade de segmentos, dentre os quais comunicação visual, material de escritório e acessórios de infor-

mática, a empresa também pretende adentrar no setor secundário, ganhando uma indústria sob o nome Marques&Souza. De acordo com o diretor-presidente José Marques de Almeida, mais conhecido como “Dedé”, em março deste ano haverá uma reunião para definir os trâmites do novo projeto, destinado à operação de corte, para ofertar papel adesivado, produzir rótulos, etiquetas e bobinas no tamanho desejado pelo cliente. “Com esse novo projeto da conversão de papéis adesivos e as bobinas térmicas, vamos buscar incentivos do modelo Zona

Franca de Manaus (ZFM)”, conta. Origem Na prática, a empresa foi iniciada em Belém, em 1984. Mas a Rymo da Amazônia, única unidade em funcionamento atualmente, foi registrada na Junta Comercial do Amazonas (Jucea-AM) no dia 16 de setembro de 1986 e está em funcionamento desde o dia 30 de setembro do mesmo ano. A empresa nasceu com o propósito de ser o braço direito local da Kodac, atuando como escritório de vendas e representação dos produtos e equipamentos da

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Comunicação Visual

Empresário José Marques de Almeida revela que vai investir em uma indústria no polo fabril de Manaus | ÉRICO XAVIER

marca. “O objetivo da empresa era atender a demanda das regiões Norte e Nordeste. Eu vim para atender os Estados do Amazonas, Roraima e Acre”, pontua. Com o tempo, a empresa firmou parceria com outros produtores mundiais, como International Paper, Asia Pulp & Paper (APP), Catalyst, Roland DG, SunChemical, 3M, entre outros. Nascido no Rio Grande do Norte, Dedé diz que, à época da fundação, entrou com apenas 1% das ações, investindo apenas a mão de obra na constituição da empresa. Hoje, a Rymo é praticamente familiar e o diretorpresidente é responsável por 69% das ações, que envolvem mais outros quatro sócios. “Manaus foi um mercado bastante acolhedor. O mercado manauense atendeu a Rymo muito bem”, destaca. Prova disso está nos dados registrados pela empresa. A Rymo passou por três endereços até chegar ao atual, localizado na avenida Ajuricaba, Cachoeirinha, Zona Sul. No início, a metragem do terreno era de 300 metros quadrados e hoje está em pouco mais de 6 mil metros quadrados. “E já está pequeno”, pontua Dedé. A quantidade de colaboradores também aumentou, saindo dos cinco que acompanharam a fundação para 90 empregados diretos hoje. Os investimentos também são registrados em grandes quantias. Para a implementação da empresa na capital, houve necessidade de investir US$ 15 mil. Agora, apenas para o próximo investimento, que permitirá a empresa adentrar em um novo setor econômico, a previsão é de que o investimento inicial alcance um total de 100 mil euros. A Rymo também conta com diversas certificações, em virtude da qualidade no atendimento.

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Emprego

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s oscilações econômicas fizeram o número de empregos cair no Polo Industrial de Manaus (PIM). Conforme indicadores da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), de 2014 (113.926 empregos diretos) para 2015 (98.614), houve redução de 15.312 postos de trabalhos. Em 2016, o polo registrou uma mão de obra ocupada com 85.504 trabalhadores. Mas, mesmo com as demissões em massa, há funcionários antigos que “sobrevivem” em seus cargos, e viram no Distrito Industrial o motor propulsor de sua trajetória profissional. É o caso de Lindalva Silva, 57, que há 38 anos passa uma grande parte dos seus dias atuando no polo. Oriunda do Maranhão, ela conta que quando veio para Manaus, em 1979, não tinha sequer Lindalva Silva trabalha há 38 anos no parque industrial de Manaus, onde, desde 1991, atua na parte de manutenção | ÉRICO XAVIER

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| ATIVIDADE | EXPERIÊNCIA |

Funcionários que resistem ao tempo Mesmo com as crises, alguns trabalhadores conseguem se manter por décadas empregados, graças à competência noção de que existiam indústrias em Manaus. Foi apenas em solo manauense que essa visão mudou, já que 12 dias após sua chegada adentrava na fábrica da Moto Honda, seu primeiro e atual trabalho no setor industrial. A empresa tinha apenas 2 anos de existência quando Lindalva teve a carteira assinada para atuar no setor de fabricação assentos. “Fiz o teste com questões de português e matemática, que até hoje tenho guardado, e passei para a função de costureira. Naque-

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la época, o assento era feito de forma manual. Tínhamos que costurar as laterais. Um trabalho minucioso e com padrão de serviço”, afirma. Ela comenta que ficou 12 anos no departamento, dos quais 8 destinados ao controle, onde realizava os relatórios do setor. Em 1991, foi transferida para a parte de manutenção, dominada pelo gênero masculino. Apesar do desafio, até hoje permanece no setor, também na função de controle. Atualmente, a parcela feminina do qua-

dro pessoal da empresa ainda é um pouco menor: são 584 mulheres, tendo como base janeiro deste ano, em um universo de pouco mais de 6 mil trabalhadores. Lindalva afirma que durante esse período de distrito aproveitou para terminar o ensino (segundo grau na época), fez cursos de atualização e os treinamentos oferecidos pela empresa, além de ter cursado faculdade de recursos humanos. Ela diz que sempre procura se atualizar, especialmente com as mudanças digi-


tais. “Quando iniciei na parte de controle, ainda do departamento de assentos, tudo era manual, não tinha nada de computador. Hoje é tudo informatizado”, destaca. Outro que investiu nos estudos durante o tempo de polo industrial foi o também maranhense Obadias Araújo de Oliveira, 55, que passou a atuar na atividade secundária no terceiro emprego, quando entrou na Moto Honda como auxiliar de inspetor. À época, ele era o piloto de testes das motocicletas. “Nesses anos todos, 34 anos de empresa, eu sempre trabalhei no setor de qualidade”, assevera. Atualmente, acumula a função de gerente de qualidade. Durante o início na fábrica, não perdeu a oportunidade e aproveitou para incluir em seu currículo os cursos de atualização oferecidos pela unidade fabril, assim como a formação de nível similar ao ensino superior, por meio da antiga Universidade Honda, com enfoque no conhecimento de economia, administração e áreas ligadas à empresa. “Na época não havia muitas faculdades,

por isso, eles desenvolviam esses cursos para aperfeiçoar sua mão de obra”, detalha, ao ressaltar que o conhecimento técnico conquistado foi principalmente pela atuação em campo. Oliveira afirma, com orgulho, que acompanhou o crescimento do Distrito Industrial, assim como da própria empresa, que possuía três galpões logo no início. De acordo com ele, houve mudanças nos diversos setores, inclusive nas certificações e exigências relacionadas à mercadoria, pensando no meio ambiente. “No início, as embalagens eram de madeira. Hoje, as embalagens são altamente voltadas para a sustentabilidade do meio ambiente”, descreve. Para o gerente, o setor industrial, mais especificamente a empresa onde trabalha, foi fundamental para sua história de vida. “Cheguei aqui um garoto de pouco mais de 20 anos, não sabia falar nada. Hoje, sei falar inglês, japonês”, salienta. Sindicância Na tentativa de fazer valer

os diretos trabalhistas no PIM, diversos trabalhadores viram nascer a paixão sindical depois de atuar no distrito, dentre os quais Aldenira Gomez Cortez. Em 1978, ela conquistou seu primeiro emprego no polo, na Semp Toshiba, onde passou oito meses. Na época, ela era montadora e, por incrível que pareça, diz que o setor contava com mais mulheres que homens. “Porque as mulheres tinham mãos mais leves e menores para lidar com os componentes pequenos, já que naquela época o processo era manual. Nós cortávamos os materiais todos à mão, inclusive as fiações”, observa. Como naquele período a profissionalização era escassa, as empresas investiam nos cursos. Por isso, fez curso básico de leitura de componentes assim que entrou na Semp Toshiba. Depois do período na joint-venture de origem brasileira e japonesa, Aldenira passou pela Gradiente e pela Sharp, até chegar à CCE em 2000, grupo do qual faz parte até hoje, no setor de al-

Obadias de Oliveira já completou 34 anos de trabalho na Moto Honda, onde gerencia o setor de qualidade da empresa | ÉRICO XAVIER

moxarifado da fábrica Digibord. Foi em 1983 que ela viu crescer a vontade de fazer parte da luta pelos trabalhadores, após ser convidada para ir a uma assembleia do Sindicato dos Metalúrgicos, que contava com Ricardo Moraes como presidente naquele período. “Achei interessante, porque dentro fábrica pouco tínhamos conhecimento sobre quais eram nossos direitos. Então, depois da primeira assembleia não perdi mais nenhuma. Estou sindicalizada desde aquela época e pelo segundo mandato como diretora de base”, destaca. Ela explica que hoje em dia leva a política do sindicato para dentro da fábrica e afirma que a Convenção Coletiva conquistada pela entidade é hoje uma das melhores do país em termos de direitos para o trabalhador.

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Refeições Coletivas

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aco vazio não para em pé”. É o que diz o ditado. Não à toa, há quem aposte no setor de alimentação corporativo para abastecer o apetite do mundo dos negócios. Conforme a Associação Brasileira de Refeições Coletivas (Aberc), a média anual de faturamento desse setor é de R$ 17 bilhões. Em Manaus, as empresas desse segmento veem oportunidades com o Polo Industrial de Manaus (PIM), que precisa manter ativa a produção desempenhada por quase 85 mil trabalhadores, de acordo com os últimos indicadores da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). É o caso da Sapore, primeira multinacional genuinamente brasileira de restaurante corporativo, com 25 anos de história no mercado. Presente em praticamente todo o território brasileiro e em cidades do México e da Colômbia, com previsão de também adentrar o terreno argentino neste primeiro semestre, a empresa chegou à capital amazonense em 2004. Segundo o diretor comercial do grupo, Marcelo Veneziano, a Sapore iniciou suas atividades locais com apenas uma unidade e hoje conta com 18 restaurantes, todos instalados em fábricas do polo, como Whirlpool, BMW Motorrad e Bike Norte. O gestor explica que a Sapore é responsável por montar o espaço em cada unidade. A depender do tamanho do restaurante, o investimento fica entre R$ 150 mil a R$ 400 mil. Atualmente, a empresa conta com 600 funcionários em Manaus, do total de 14 mil espalhados pelo restante do Brasil. Com

Empresas do ramo alimentício lucram com refeições servidas para os trabalhadores do Distrito Industrial | ÉRICO XAVIER

| RESTAURANTES | CARDÁPIO |

Elas ‘alimentam’ o Distrito Industrial Empresas do segmento veem oportunidades vantajosas com as fábricas instaladas na região

Várias fábricas do PIM possuem restaurantes que são mantidos por empresas terceirizadas

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| ÉRICO XAVIER


uma produção de 12 mil refeições por dia em média, o serviço na capital, voltado especificamente para a indústria, representa entre 4% e 5% do faturamento total da Sapore. “Quando avaliamos nossas operações regionalmente, o volume que temos em São Paulo é maior (lá a empresa concentra 40% das operações), mas a concentração de indústrias em Manaus nos atrai bastante”, pontua.

Com as oscilações da economia, o diretor destaca que foi necessário reduzir custos em todo o território nacional, por conta da redução dos volumes de cada cliente, o que não reduziu o cenário vantajoso de investir em Manaus. A previsão da empresa é ter aumento de até 25% no número de clientes da capital neste ano. A expectativa se baseia nos dados otimistas apresentados em 2016,

quando inaugurou oito restaurantes, crescendo 80%. “Manaus, onde somos os líderes do segmento, sempre foi e continua sendo para nós um mercado fértil”, destaca.

feições por dia. “Se o mercado voltar a aquecer no polo, certamente Manaus se tornará próspera para investimentos a médio e longo prazo”, assevera.

Confiança Genuinamente amazonense, a RF Refeições também confia no cenário manauense, embora avalie algumas perdas por conta da realidade atual do PIM. Segundo o sócio-proprietário e diretor administrativo e financeiro da empresa, Rubem Nelson Pedroso, mesmo com a queda de produção das indústrias e o mercado bastante competitivo, é vantajoso investir na capital, onde a empresa atua desde março de 2012. “Ainda sofremos com a crise que se instalou no polo, mas estamos nos ajustando, revendo custos para nos adequar da melhor forma sem a necessidade de excluir postos de trabalho”, observa. Com um cardápio que se baseia nas normas do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), Pedroso comenta que o pacote de refeições oferecido pela empresa (incluso desjejum, almoço e lanche) varia de R$ 18 a R$ 22, conforme volume e investimentos. De acordo com o diretor, a RF Refeições segue todos os procedimentos operacionais solicitados pelo órgão de Vigilância Sanitária e todos os clientes possuem manual de boas práticas de fabricação implantados, sendo fiscalizados pelo setor de qualidade da empresa. Hoje, o atendimento ao PIM representa 70% do faturamento da RF Refeições, cuja previsão anual é de R$ 14 milhões. Dentre as fábricas que compõem a lista de clientes estão Kawasaki Motors, Amazon Temper e Replásticos. Pedroso detalha que a RF Refeições conta com 134 colaboradores e produz em média 3,1 mil re-

Reestruturação Com matriz em Cuiabá (MT), a Nutrana Refeições chegou em Manaus em 2002, apostando no nicho hospitalar. No entanto, desde outubro do ano passado, passa por uma reestruturação, que consiste na modernização da gestão e da estrutura operacional, para um atendimento personalizado e com qualidade às empresas do PIM, segundo o diretor administrativo/comercial da Nutrana, Conrado José de Oliveira. “Chegamos a Manaus por uma licitação que ganhamos no ramo onde somos especializados (hospitalar). Conseguimos entrar no distrito, mas nosso foco sempre foi a saúde”, explica. Quase 2 mil refeições por dia eram feitas para atender indústrias, representando 20% a 30% do faturamento da unidade em Manaus. Agora, com a reestruturação, a meta é aumentar essa participação, conforme Oliveira, especialmente pelo número expressivo de indústrias, dos mais variados portes, que compõem o polo. “Não é fácil, por Manaus não ser produtor de gêneros alimentícios, o que torna a logística para o nosso setor bem complicada e mais cara que em outras localidades. Mas o mercado acaba por absorver isso e o interesse pela demanda dos nossos produtos e serviços é bastante interessante”, sinaliza. Em negociação com várias empresas, a Nutrana pretende reativar suas atividades com a nova estrutura ainda neste trimestre.

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Fretamento

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o longo dos 50 anos do decreto-lei nº 288, o Polo Industrial de Manaus (PIM) tem demandado o desenvolvimento de outros segmentos, além da instalação de fábricas. Exemplo disso é o surgimento das primeiras empresas de fretamento para transporte dos trabalhadores do Distrito Industrial, ainda em 1975, já que o sistema de transporte público não atendia essa recente área urbana. Antes dessa data, conta o diretor executivo do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros por Fretamento de Manaus (Sifretam), Márcio Soares, eram os empresários do transporte público que tentavam absorver a demanda, retirando ônibus das linhas tradicionais para transportar os operários. “Um serviço que não durou muito tempo, sendo proibido pela prefeitura. Isso porque os horários de pico coincidiam com os horários de entrada e saída dos industriários e a população da cidade sofria com a falta de coletivos. Vale ressaltar a baixa qualidade e comodidade dos veículos que atendiam ao polo. Eram os ônibus mais velhos que chegavam nas portas das indústrias. Foi aí que

| FACILIDADE | CONFORTO |

Rota diária para o parque fabril Primeiras empresas para transporte dos trabalhadores do Distrito Industrial surgiram ainda no ano de 1975 surgiram as empresas de fretamento”, detalha. Passados 42 anos, o serviço de fretamento para o PIM, além de um dos mais antigos, é um dos maiores segmentos de prestação de serviço para as indústrias, agregando hoje um total de 121 empresas e mais de 2,7 mil veículos, sendo 29 associadas ao Sifretam. Márcio destaca que esse crescimento foi motivado pela ampliação do PIM. “Já tivemos mais razões para comemorar. Atualmente, sentimos os resultados da crise econômica. Temos um faturamento estimado em R$ 1,7 milhão/mês (entre os associados), mas operamos desde 2014 com prejuízo”, revela. É o que também diz o administrador e empresário

Márcio Soares é diretorexecutivo do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros por Fretamento de Manaus | ÉRICO XAVIER

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Aldo Oliveira, 39, diretor-geral da Tema Transporte, considerada uma das maiores e pioneiras do ramo, tendo sido fundada em 1981 pelo pai dele, Gilberto Oliveira. “Vivemos um momento delicado. Chegamos a trabalhar em três turnos, fazendo até seis rotas por dia com o mesmo veículo. Hoje, 60% da nossa frota está trabalhando apenas em regime comercial, com dois turnos a menos, realizando apenas duas rotas. Perdemos a capacidade produtiva do veículo, o que resultou em uma queda média de 50% da receita. A nossa rentabilidade reduziu de 5% para até 0% em alguns casos, comprometendo a longevidade das


Demilço Vivian, 58, atua com o transporte de funcionários das empresas do Distrito Industrial desde 1984 | ÉRICO XAVIER

Fundada em 1981, Tema é uma das empresas pioneiras no transporte de trabalhadores do parque fabril de Manaus | ÉRICO XAVIER

empresas, com a impossibilidade de renovação da frota, já que nossos preços são baseados no aproveitamento do veículo. Estamos buscando uma readequação de preços, porque o formato do trabalho mudou”, descreve. A Tema atua no Distrito Industrial com 360 carros, entre ônibus, micros e vans, e emprega, aproximadamente, 400 pessoas. No início, eram apenas seis veículos e 12 funcionários, distribuídos entre a manutenção e as rotas. “Era um sonho que nascia, visando a prestar um serviço com mais qualidade. Meu pai trabalhou em duas empresas de transporte. Sabia o que estava

fazendo. E, ao longo dos anos, adotamos como política para um crescimento consolidado não só a qualidade na prestação dos serviços, mas uma renovação agressiva da frota”, explica. Tratam-se de veículos modernos e de luxo, todos com ar-condicionado, substituídos a cada 6 anos, apesar da legislação fixar em 15 anos seu limite de uso. Com localização estratégica entre os Distritos 1 e 2, a empresa presta serviço para 17 indústrias do polo. Conta com infraestrutura interna e corpo técnico qualificado para fazer as manutenções dos veículos; guincho próprio, em casos de pane mecânica; estacionamento que comporta mais de 500 ônibus; e até ambulância própria, tudo para prezar pelo atendimento de excelência. “Mas a concorrência precisa ser leal. As fiscalizações precisam ser intensificadas para inibir as empresas que atuam de forma irregular. As partes precisam ter responsabilidade, para não fomentar tal prática, que é um dos nossos entraves. Outra questão diz respeito à falta de incentivos do poder público. Por que também não podemos ser incentivados com o diesel, por exemplo, já que atuamos no PIM?”, questiona Oliveira. De Kombi para micro Houve uma época em que eram as conhecidas Kombis que reinavam nessa área do fretamento. Assim relata o empresário Demilço Vivian, 58, pro-

prietário da Brecha Transportes. Natural de Chapecó (SC), ele chegou em Manaus em 1984, já conhecendo o segmento. Disponibilizou seu conhecimento como gerente de uma empresa, prestando serviço por 13 anos para o PIM. Em 1992, resolveu montar o próprio negócio, comprando três Kombis para atender às empresas e, mais tarde, adquirindo quase 40 veículos que ficariam à disposição, com serviço de turnos, sendo um transporte mais ágil, que facilitou a vida do colaborador, deixando-o mais próximo de sua residência. Foi com a fusão de duas grandes empresas, já em 1998, que a Brecha substituiu parte da frota de Kombis pelos primeiros micro-ônibus com ar-condicionado. “As mudanças e as cobranças foram acontecendo naturalmente por outros clientes para a utilização de veículos somente com ar-condicionado”, revela o empresário. Atualmente, a frota de ônibus, micro-ônibus e vans é 100% com ar-condicionado, transportando, em média, 3 mil colaboradores diários, em virtude da parceria com oito clientes do PIM e com operadoras de turismo e clubes de futebol, com os veículos padrão Fifa (Federação Internacional de Futebol). Hoje, a empresa emprega 106 colaboradores, trabalha sem margem de lucro, mas, mesmo assim, tem feito bons investimentos, como a implementação de sistema GPS, para saber a localização exata de cada veículo, e equipamentos modernos que informam se o colaborador embarcou o não na rota. Com relação à crise no PIM, ele não vê grandes mudanças em relação ao cenário atual, uma vez que o custo com a logística é incompatível com os outros Estados do Sul e do Centro-Oeste. “Nossos governantes precisam olhar com mais atenção para a nossa sobrevivência econômica, que é dependente do Polo. Devem incentivar e facilitar outros setores, como o turismo e as redes de hotéis para as margens do rio Negro, com suas

belezas naturais”, sugere ele, reforçando que a maioria dos pontos turísticos da cidade é ainda da época da borracha. Usuária A analista de recursos humanos Elismar Oliveira de Souza, 44, responsável pelo setor de rota da empresa Nippon, é um exemplo de quem sempre se beneficiou desse serviço de fretamento, ao longo dos 14 anos de atuação na fábrica. Para ela, é muito importante esse benefício que as empresas do PIM proporcionam aos seus trabalhadores, buscando e deixando todos o mais perto possível de suas residências, uma forma de dar conforto e descanso até a parada final. Elismar não tem carro no momento, mas diz que, se tivesse, o deixaria em casa para andar na rota. “Assim, economizaria gasolina, tempo e estresse. Só viria de carro caso fosse muito necessário, como para ir a um atendimento médico ou a outro compromisso marcado. E somente porque o percurso é longo. De manhã são 51 minutos e à tarde, uma hora e 35 minutos da empresa para a minha casa, no bairro Betânia”, diz. Quanto às dificuldades do setor, a analista explica que sempre ocorre quando o colaborador muda de endereço e entrega o comprovante aos recursos humanos ou, muitas vezes, o entrega após a mudança, não comunicando a empresa antecipadamente. Mesmo assim, tem de realizar alteração do itinerário e dos minutos, já que o objetivo da rota é diminuir o tempo de percurso, mantendo segura a integridade física dos colaboradores. “Além disso, os assaltos são frequentes. Já fui assaltada ano passado, aguardando a rota chegar, e hoje me sinto insegura, assim como todos os colaboradores da Nippon”, frisa ela, que, mesmo diante das dificuldades, gosta do traslado que a empresa proporciona.

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Detritos industriais

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ostrando compromisso com o meio ambiente, algumas empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM) investem em projetos alinhados com a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O tema consiste em reciclagem e destinação correta de detritos industriais e não industriais por envolver toda a cadeia, desde fabricantes a consumidores. A Whirlpool é uma das empresas que atuam nesse tipo de área. Ela tem a sustentabilidade incorporada à sua estratégia, permeando a gestão do negócio e contribuindo para que ele seja perene. Segundo o vice-presidente de Eficiência Operacional, Novos Negócios e Sustentabilidade da Whirlpool, Armando Ennes do Valle Júnior, a sustentabilidade está em todas as etapas de produção. “Somos a primeira fábrica em Manaus a trabalhar com os resíduos sólidos. Mais de 2,4 mil toneladas de resíduos não são descartadas em aterros, pois são levadas para estação de tratamento. Nada é jogado fora e tudo tem uma destinação correta. Não podemos correr riscos e nem deixarmos de nos preocupar com o meio ambiente”, afirma Armando. Ainda segundo o executivo, a Whirlpool investe no tratamento de resíduos desde 2012. “Já investimos mais de R$ 27,5 milhões nessa atividade. Todos os resíduos são classificados e destinados corretamente”, diz. O projeto surgiu com a oportunidade de reuso e reciclagem de resíduos que antes eram descartados. Em 2011, a empresa estabeleceu como meta zerar o envio de resíduos industriais para aterros até 2014 e alcançou o objetivo em todas as unidades, em dezembro deste mesmo ano. A empresa estabeleceu uma nova meta para zerar a destinação de resíduos não industriais para aterros e a alcan-

| COMPROMISSO | RESPEITO |

Empresas aliadas do meio ambiente Fábricas locais investem em uma política sustentável para tratar corretamente os resíduos sólidos de suas unidades çou em dezembro de 2015 em todas as unidades. Honda Outra empresa que atua com o tratamento de resíduos é a Moto Honda da Amazônia. O comprometimento com medidas de proteção ao meio ambiente começou a ser posto em prática na América do Sul desde o início das operações industriais da companhia no Brasil, com a inauguração da fábrica de motocicletas, em Manaus, em 1975. Desde 1998, a planta é certificada pela ISO 14001 e, no ano 2000, foi implantado

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o conceito Green Factory. A exemplo de outras unidades Honda no mundo, o conceito prevê metas e diretrizes para redução de impactos ambientais no processo produtivo, o que inclui o gerenciamento de resíduos, eficiência energética, uso racional da água e redução das emissões atmosféricas. Inaugurada em 2001, a Estação de Tratamento de Efluentes da fábrica da Honda em Manaus é considerada a mais moderna da América do Sul. Possui área de 1.966 metros quadrados, capacidade para tratar 2.340 metros cúbicos de efluentes

industriais e biológicos por dia e tem como objetivo o reaproveitamento da água utilizada pela empresa durante o processo produtivo. Depois de submetido a várias etapas de tratamento - físico-químico, biológico, filtração e desinfecção -, o efluente é reutilizado na irrigação da área verde da fábrica, limpeza da unidade e preparo de soluções para o processo de tratamento da própria ETE. Assim, pode ser devolvido ao meio ambiente de acordo com os padrões legais e manter o equilíbrio do ecossistema.

Whirlpool é uma das fábricas do PIM que investem no tratamento de resíduos sólidos, no caso, desde 2012 | MÁRCIO MELO


| DESENVOLVIMENTO | INCENTIVOS|

ZFV estimula áreas de livre comércio Neste ano, setor secundário das ALCs ganhará novo impulso, graças à resolução que tirou a Zona Franca Verde do papel

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entralizado no Polo Industrial de Manaus (PIM), o modelo Zona Franca foi desenvolvido para viabilizar uma base econômica na Amazônia Ocidental, formada por Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. Enquanto o primeiro recebe incentivos fiscais focados na industrialização, o restante, junto às cidades de Macapá e Santana (Amapá), é beneficiado por meio das Áreas de Livre Comércio (ALCs), que ofertam benefícios semelhantes no aspecto comercial. Ao todo, existem sete ALCs: Boa Vista (1) e Bonfim (1) - que não está em funcionamento -, em Ro-

raima; Macapá/Santana (1), no Amapá; Brasileia/Epitaciolândia (1) e Cruzeiro do Sul (1), no Acre; GuajaráMirim (1), em Rondônia; e Tabatinga (1), no Amazonas. Implantada em 1990, essa última foi a primeira criada, pela lei nº 7.965, de 22 de dezembro de 1989. Somente neste ano, o setor secundário nesses locais receberá impulso, por conta da implantação da resolução nº 001 do Conselho de Administração da Suframa (CAS), de 26 de fevereiro de 2016, que tirou do papel a Zona Franca Verde (ZFV), regulamentada pelos decretos nº 6.614/2008 e nº 8.597/2015.

Conforme a Suframa, a regulamentação da ZFV, com isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para fabricação de produtos com matériaprima regional nas ALCs, é a maior ação recente do governo federal voltada a essas áreas e considerada estratégica para a efetividade. “A ZFV é um enorme passo para a economia de baixo carbono, bem como para impulsionar a bioeconomia na região”, diz a Suframa, por meio de nota. Rondônia Segundo o secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão de Rondônia, George Braga, mesmo de

Roraima Já em Roraima, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento, Haroldo Amoras, comenta que as conquistas em relação ao modelo estão associadas à criação das ALCs de Boa Vista e Bonfim, contempladas pela isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no Estado de origem, o que contribuiu para a estabilidade dos preços nos dois locais. Ainda assim, ele faz ressalvas quanto a outro aspecto da ALC: justamente a regulamentação do artigo que trata da industrialização de produtos que utilizem matérias-primas regionais. “Roraima precisa avançar na sua política de desenvolvimento industrial e a isenção do IPI revela ser essencial para atrair investimentos de indústrias. Em breve, o Estado apresentará propostas de mudanças no modelo da ALCBV. O objetivo é aumentar a capacidade da área de atrair inve stimentos industriais e alargar sua jurisdição para a Região Metropolitana de Boa Vista”.

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Amazônia Ocidental

forma tímida, a ZFM tem conseguido atingir os objetivos iniciais elencados em sua criação, de “promover a ocupação dessa região e elevar o nível de segurança para manutenção da sua integridade”. Dentre os acordos firmados em Rondônia por conta da ZFM, o titular da pasta cita a parceria em capacitação com foco no desenvolvimento da ALC GuajaráMirim, busca pela internacionalização da indústria local, irradiação dos efeitos positivos do modelo em sua área de abrangência, incluindo a alavancagem do processo de industrialização das ALCs, com base nas potencialidades regionais e apoio nos Arranjos Produtivos Locais (APLs) de diversos setores, principalmente do leite.

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