Projeto gráfico e diagramação. Livro de ensino de música.

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Milena Tupi

VOZ DE CRIANÇA:

TÉCNICA VOCAL PARA PEQUENOS E GRANDINHOS

VOZ DE CRIANÇA:

TÉCNICA VOCAL PARA PEQUENOS E GRANDINHOS

Curitiba - PR 2023

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Tupi, Milena

Voz de criança : técnica vocal para pequenos e grandinhos / Milena Tupi ; coordenação Helena Sofia ; ilustração Ivana Lemos. -- Curitiba, PR : Ed. da Autora, 2023.

Bibliografia.

ISBN 978-65-00-73303-7

1. Canto - Estudo e ensino 2. CriançasDesenvolvimento 3. Técnica vocal 4. Voz - Treinamento

I. Sofia, Helena. II. Lemos, Ivana. III. Título.

23-162161

CDD-782

Índices para catálogo sistemático:

1. Canto : Música vocal 782

Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253

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desejo e sina...”

“Coração,
Djavan

Curiosidades

dicas Para aproveitar bem o conteúdo:

Espaço para anotações!

Para aprender mais de música

Para alegrar seu dia !

Indicação de áudios e músicas para ouvir.

Para pesquisar

Exercícios com som e fala

5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8 Carta para o professor .............................................................................. 9 Carta para o aluno .................................................................................. 11 Voz de criança 12 De onde vem a minha voz 14 Respiração ............................................................................................ 15 Cuidados com a voz ................................................................................ 18 PREPARAÇÃO ............................................................................................ 23 Soltando o ar ......................................................................................... 24 Respiração aquecimento 26 O corpo 27 Imaginando 28 Pescoço ................................................................................................ 29 Variação - com as vogais .......................................................................... 30 Pulso .................................................................................................... 31 CONSOANTES SONORAS ................................................................................. 33 O som [ M ] ou Boca Chiusa 34 O som [ J ] 35 O som [ R ] ........................................................................................... 36 O som [ BR ] ......................................................................................... 37
6 GRAUS CONJUNTOS ...................................................................................... 39 Três notas ............................................................................................. 40 Legato – vogais ...................................................................................... 42 Variação – subindo e descendo ................................................................. 43 Escala no corpo 45 Variação – Arpejo 47 Variação – Staccato e legato ..................................................................... 48 Escala pentatônica .................................................................................. 49 AQUECIMENTO .......................................................................................... 50 Vi vi vi ................................................................................................. 51 Variação – Vinde, vinde, moços e velhos .................................................... 51 Variação – Viva, viva, o bem-te-vi 52 Minha mãe mandou 53 ARTICULAÇÃO ........................................................................................... 55 Staccato - Coco Dendê ............................................................................ 56 Tum Dum ............................................................................................. 58 São João Dararão .................................................................................... 59 SALTOS 61 Salto de terça – Isso aqui tá diferente .......................................................... 62 Salto de quarta – Ouvi alguém cantar ......................................................... 63 Salto de quinta – A tromba do tamanduá ..................................................... 64 De segunda até quinta – Preparação ........................................................... 65 De segunda até quinta – Miau ................................................................... 66 Salto de sexta – Viola, meu bem 67 Salto de sétima – As horas 68 Salto de oitava – O anu ........................................................................... 69
7 MOVIMENTO ............................................................................................. 72 Glissando – Marinheiro ............................................................................ 73 Maracanandé ......................................................................................... 74 Palavras mágicas .................................................................................... 75 Baião 76 BIS 78 Tapindaré .............................................................................................. 79 Bota barro na parede ............................................................................... 80 DESAQUECIMENTO ....................................................................................... 81 Massagem ............................................................................................ 82 Vibratório 82 Soneca 82 REPERTÓRIO 83 PLANEJAMENTO ......................................................................................... 85 sobre a autora - milena tupi ..................................................................... 89 sobre a ilustradora - ivana lemos 89 agradecimentos ....................................................................................... 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 91 REFERÊNCIAS MUSICAIS 92 créditos ................................................................................................ 94

INTRODUÇÃO

Além de ser a forma mais antiga, o canto é também a maneira mais natural de se fazer música, acompanhando a maior parte dos seres humanos por toda a vida. Diferente de um violão ou um piano, por exemplo, a nossa voz pode estar sempre com a gente, e ninguém diz que vai passar em casa para buscar a voz, ou que precisa de um apartamento maior para caber a sua voz, não é mesmo?! “O instrumento mais perfeito que existe, e que serve de referência para todos os outros, é a voz. Habilidades musicais como composição ou leitura musical também podem ser desenvolvidos a partir dele” (ROMANELLI, 2011, p. 51).

Neste material, reuni exercícios desenvolvidos a partir da ludicidade, com referências da cultura tradicional brasileira, para serem trabalhados com vozes de crianças a partir de seis anos. Além da explicação de como devem ser executados, os exercícios vêm acompanhados de outras informações nas sessões “para ouvir”, “para entender mais de música” e “para pesquisar”, com sugestões de materiais que possam complementar a aula de canto. O objetivo é desenvolver não só a voz, mas a musicalidade da criança.

As atividades do livro foram organizadas iniciando com a preparação do corpo e da respiração. Em seguida, sugerimos exercícios utilizando consoantes sonoras, pois já preparam para um uso mais consciente da voz. Na sequência, propomos exercícios com uma progressão na dificuldade rítmica e melódica, iniciando em seguida com graus conjuntos, seguindo para melodias com saltos e alternando os modos maior e menor.

O treinamento auditivo é fundamental para a afinação da voz, pois muitas pessoas memorizam a música em uma tonalidade, mas têm dificuldade de cantá-la em outro tom. A modulação cromática dos exercícios é um bom treino para essa percepção. Para os que tiverem mais dificuldade, sugerimos modular os exercícios também em saltos. Mas acredito que o mais importante é nunca dizer ao aluno que ele é desafinado. De um modo geral, todos são capazes de cantar afinado e, mesmo assim, vez ou outra, todo mundo desafina. Até mesmo os grandes cantores.

É importante dizer que, mesmo tendo sido pensados para crianças, os exercícios e informações contidos neste livro podem ser aplicados a pessoas de todas as idades. Além disso, durante o caminho, trago algumas falas de educadores musicais para inspirar o nosso trabalho e, no final, deixo um espaço dedicado ao planejamento das aulas, como organizar os exercícios e a rotina com o aluno.

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CARTA PARA O PROFESSOR

Querido professor, que desafio e também que alegria trabalharmos com vozes de crianças!

Nessa fase, o trabalho ainda é muito próximo ao de uma aula de musicalização. Inclusive, é desta área que podemos buscar muitas referências para enriquecer as nossas aulas. Devemos aproveitar a sensibilidade das crianças para aprender música de forma lúdica, através de jogos... e sempre cantando.

Um dos principais desafios é mostrar para o aluno a importância dos cuidados com a voz, como não gritar ou não se acostumar a imitar a voz de um adulto. Estas observações precisam ser feitas sempre, para que a criança entenda a sua importância - mas tudo sempre, sempre com bom humor. Gosto de dizer para o aluno que “queremos que a sua voz continue bonita e saudável, com 07, 17, 27, 77... até 107 anos”.

Não precisamos e nem devemos tratar os alunos com a rigidez de uma aula de técnica de instrumento tradicional (como costumávamos ver antigamente), mas sim criar um ambiente no qual eles se sintam acolhidos e, assim, prefiro uma abordagem mais leve, priorizando o prazer de cantar. Quanto mais a criança se sentir confortável na aula, mais ela irá se dedicar. Ao invés de passar uma música para estudar em casa, por exemplo, gosto de ensinar a música na aula de forma divertida, e a consequência será ela cantar em casa, como uma atividade prazerosa e de lazer. Claro que, conforme o trabalho for avançando e a criança for ficando mais velha e mais madura, as exigências vão aumentando, mas sempre com o cuidado de que não fique chato. Já temos muitas coisas chatas na vida, e cantar não precisa ser uma delas.

Não temos uma longa tradição de aulas de técnica vocal para crianças. Isso ainda é algo novo e nós, professores, estamos buscando, conhecendo e construindo estratégias para trabalhar com essas vozes. Por isso, gosto de chamar as atividades propostas de jogos ou desafios (ao invés de “brincadeiras”), para estimular a criança a fazer atenta às “regras”, se dedicando ao resultado esperado. Mas gostaria de lembrar que esta não é uma obra fechada ou um método definitivo. Pelo contrário! Espero que a partir dos exercícios e informações contidos neste livro, e das suas vivências, você também possa criar novas

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atividades e materiais. Os exercícios de movimento ajudam bastante no trabalho musical, mas precisamos ficar atentos para que a voz não fique “gritada”.

O papel mais importante do professor é indicar o caminho para que a criança goste de cantar, se divirta e se sinta segura, além de aprender a usar e cuidar bem da voz. E eu espero que este material ajude a trazer isso para as suas aulas!

Com carinho,

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CARTA PARA O ALUNO

Querida criança... Se está lendo esta carta, provavelmente você já canta, gosta ou se interessa pelo assunto. E isso é demais! Eu tive experiências maravilhosas cantando durante a minha infância, que contribuíram muito para a pessoa que eu sou hoje. Espero que você também tenha ótimas vivências cantando. Você sabia que, até quando vamos tocar outros instrumentos, cantar ajuda bastante?!

Eu criei os exercícios deste livro para que as aulas de canto ficassem cada vez mais animadas e cheias de informações bacanas. Aqui você vai encontrar várias referências de coisas legais sobre música - mas eu não vou dar spoiler.

Só quero muito que você se divirta, cuide da sua voz e (com as orientações do seu professor) continue cantando por muitos e muitos anos. Pois não é segredo para ninguém que “quem canta seus males espanta”.

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carinho,
Com

VOZ DE CRIANÇA

Não há distinção de timbre entre vozes femininas e masculinas na infância. Todos possuem voz de criança.

Para trabalhar com vozes infantis precisamos de muito estudo e cuidado, para que o canto aconteça de forma natural, sem esforços em excesso (que possam prejudicar o desenvolvimento do aparelho fonador da criança). É importante também observar como a criança utiliza a voz durante a fala: se houver muito esforço ou for uma voz muito “soprosa”, ela deverá ser encaminhada para um fonoaudiólogo.

Entre quatro e seis anos as crianças já podem cantar, reproduzindo ritmos e melodias - até mesmo sendo acompanhadas por outras vozes ou instrumentos. Nessa idade se dá o desenvolvimento da resposta vocal, iniciando com a coincidência rítmica, seguindo para uma reprodução de melodia aproximada e chegando ao uníssono (quando se coincide totalmente a reprodução melódica). É também entre os seis e sete anos que o canto da criança, até então espontâneo, passa a demandar alguma organização formal para o seu desenvolvimento.

Ainda, é importante saber que, diferente dos adultos, as crianças respiram mais vezes e, por isso, não conseguem cantar frases muito extensas com uma única respiração.

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“A melhor região para a voz infantil é o agudo, onde há mais brilho e volume, tendo o limite da voz grave na região da fala.”

DE ONDE VEM A MINHA VOZ

Você sabia que, para existir, a sua voz pega emprestado alguns órgãos da sua respiração e outros da sua digestão?

Para a produção do som, utilizamos o nariz, os pulmões e a laringe (que fazem parte do sistema respiratório), e também a boca, a língua e a laringe (que fazem parte do sistema digestório).

As pregas vocais ficam na laringe, que fica dentro do pescoço e, quando produzimos algum som, elas vibram. Depois, o som é amplificado (aumenta o volume) pelas nossas caixas de som naturais, chamadas de caixas de ressonância: a boca, o nariz e a faringe.

AS PREGAS VOCAIS

Mas como são as pregas vocais? São a mesma coisa que as cordas vocais? Por que dois nomes diferentes?

As pregas vocais são duas membranas, ou seja, dois tecidos (como se fossem duas pelezinhas) que vibram com a passagem de ar, produzindo o som. Antigamente, elas eram chamadas de cordas vocais, mas não se usa mais esse nome justamente por não serem cordas. Na verdade, elas são formadas por músculos e têm formato de dobras. Por isso o nome “pregas”.

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RESPIRAÇÃO

A forma mais natural de se respirar (que podemos observar nos animais e nas crianças pequenas) é a respiração diafragmática, também chamada de abdominal intercostal. É o jeito mais eficaz de se encher os pulmões.

O diafragma fica entre o tórax e o abdômen. Quando inspiramos, o diafragma se abaixa, aumentando a cavidade torácica. Já na expiração, o diafragma sobe e o pulmão se contrai, soltando o ar.

Mas o diafragma não faz todo o trabalho sozinho. Quando ele se movimenta, junto com ele se move toda a caixa torácica, formada por doze vértebras, doze pares de costelas (superiores e inferiores), esterno e grandes grupos musculares: intercostais, abdominais, dorsais e peitorais.

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Apenas pedir para a criança respirar fundo, ou “respirar com a barriga”, provavelmente não fará com que ela faça a respiração diafragmática. É comum que a criança levante os ombros quando tenta inspirar o ar profundamente, mas essa elevação forçada das costelas e da clavícula (respiração clavicular e torácica) faz com que a laringe fique pressionada, não deixando as pregas vocais vibrarem livremente.

A primeira referência que apresento para as crianças compreenderem o trabalho do diafragma é pedir para dar risada ou perguntar “sabe quando a gente dá tanta risada que a nossa barriga chega a doer?”. Esse mesmo trabalho é o que buscamos quando falamos em “apoiar” o som. Para essa consciência, o exercício “Respiração aquecimento” (na seção “Preparação”) funciona muito bem.

Outra maneira de mostrar para a criança a respiração diafragmática é pedir para, inicialmente, soltar todo o ar, esvaziando os pulmões, e, em seguida, inspirar. A reação natural do corpo será uma respiração abdominal intercostal. Durante as repetições, pedir para a criança colocar as mãos na barriga, nas costas e ao lado da cintura, para perceber onde ela sente mais que o ar encheu, tomando consciência de como a musculatura trabalha durante a respiração.

Com os pulmões cheios, pedir para a criança soltar o ar como se estivesse assoprando uma vela. Depois pedir para soltar o ar como se fosse fazer bolhas de sabão. Nos dois casos, a criança precisa perceber o movimento da musculatura abdominal. É igual nas duas situações? É diferente? O que mudou? Essas observações devem ser trazidas pelo aluno.

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PARA OUVIR: Toda essa conversa de inspirar e assoprar me lembrou de duas canções que podem ser utilizadas durante os exercícios de respiração: a canção “O vento”, de Dorival Caymmi, e a “Vento no Catavento”, do grupo Taque Tique Tá.

Dorival Caymmi

Pedir para a criança ajustar a respiração ao ritmo da música. Primeiro tentar inspirar lentamente durante uma frase inteira e depois expirar também durante uma frase inteira. Perguntar se sobrou ou faltou ar. Depois tentar novamente, para ver se fica diferente. Em seguida, pedir para a criança inspirar na metade da frase e expirar na outra metade da frase, e perguntar se ficou mais confortável.

A seguir, a criança escolhe uma frase para fazer cantando e perceber em que momento precisa respirar. Conversar com o aluno sobre o melhor ponto para respirar.

PELA BOCA OU PELO NARIZ?

Quando respiramos pelo nariz, o ar é filtrado, aquecido e umidificado. Parece o ideal, né?! Mas, quando estamos nos comunicando (falando ou cantando), a respiração precisa ser silenciosa e mais rápida. Você pode tentar falar ou cantar fechando a boca toda vez que precisar respirar, e logo vai perceber que é barulhento, demorado e até cansativo. O bom mesmo é respirar pela boca e pelo nariz ao mesmo tempo, porque assim o ar entra mais rápido e também quentinho, úmido e filtrado.

Não costumamos perceber que estamos respirando pelos dois ao mesmo tempo. Mas você perceberá a diferença se inspirar pela boca tampando o nariz e, em seguida, repetir isso sem tampá-lo.

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CUIDADOS COM A VOZ

Para que a nossa voz esteja sempre saudável, precisamos tomar alguns cuidados. Como se trata de uma parte do nosso corpo, não só a voz se beneficiará com essas recomendações, mas a saúde como um todo.

HIDRATAÇÃO

Essa é a recomendação que a gente ouve quando criança e vai continuar ouvindo para o resto da vida. Quando o nosso corpo está bem hidratado, as pregas vocais ficam mais flexíveis e vibram melhor. Mas não vale tomar água só na hora de cantar! Isso precisa ser um hábito. Uma dica para saber se o corpo está bem hidratado é observar a cor do xixi. Quanto mais água tomamos, mais clarinho ele fica. Dá uma olhada na próxima vez que você for ao banheiro.

Quando estamos em um ambiente com ar condicionado, as nossas pregas vocais ficam ressecadas. Para melhorar, devemos tomar mais água.

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AMBIENTE

O lugar onde estamos interfere diretamente na maneira como usamos a nossa voz. Por isso, é importante que estejamos atentos para perceber quando precisamos tomar alguns cuidados.

Lugares abertos ou barulhentos

Quando estamos nesses espaços, automaticamente nos esforçamos mais para falar. Quando o ambiente é muito barulhento, temos dificuldade em ouvir a nossa própria voz, e por isso falamos mais forte. Quando é um espaço aberto, as ondas sonoras se dissipam, ou seja, o som vai embora, e também sentimos a necessidade de falar mais forte. Essas situações acontecem muito no pátio da escola, comum no cotidiano das crianças. Então não é algo que podemos evitar. O que podemos fazer é:

• Articular mais – mexer mais a boca, para que entendam melhor o que estamos dizendo, sem precisar aumentar o volume.

• Falar mais agudo - você sabia que o ouvido humano ouve melhor os sons mais agudos? Fazendo de maneira bem leve, é o melhor para o aparelho fonador.

• Fazer gestos – fica mais claro para chamar a atenção quando queremos falar, e também mais fácil de entender.

Lugares que necessitam do uso de máscaras de proteção

Em 2020, quando os primeiros casos da Covid-19 foram registrados no Brasil, o uso de máscaras de proteção passou a ser adotado como uma das medidas de prevenção contra o vírus.

As máscaras de proteção são indispensáveis em situações como uma pandemia, mas, por outro lado, dificultam a nossa comunicação. Além de “abafar” o som, ela também “esconde”

a articulação das palavras. Fica mais difícil de falar e ser compreendido. Neste caso, gesticular também pode ajudar na comunicação.

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Lugares muito secos, com poeira ou fumaça

Diferente dos espaços abertos ou barulhentos, é melhor evitar ambientes que estão empoeirados, secos ou com fumaça. A hidratação ajuda no caso de ambientes secos, mas, tanto para adultos quanto para crianças, o ideal é ficar em locais que estejam limpos e ventilados.

Quando ficamos doente s

Quando estamos gripados ou com rinite alérgica, é comum ficarmos um pouco roucos e/ou com o nariz entupido. Essa é a hora de ficarmos mais quietinhos, porque o tecido do tubo respiratório está inchado e ressecado. E a respiração só pela boca resseca ainda mais as pregas vocais.

Pode acontecer de alguém ter tosse ou pigarro frequentemente sem estar aparentemente doente. É muito importante procurar um médico para entender a causa disso e receber as orientações necessárias para o tratamento.

Tossir ou pigarrear demais faz o organismo produzir mais muco (gosma, catarro, eca!) para proteger as pregas vocais, mas isso dá ainda mais vontade de pigarrear. Para que não se torne um ciclo infinito, é bom tomar mais água para diminuir o desconforto e parar de pigarrear.

POUPAR A VOZ

Você provavelmente já ouviu falar que “tudo em exagero faz mal”. Com a voz não é diferente: falar demais, gritar e até mesmo rir ou chorar demais pode machucar as pregas vocais. Por isso, descansar a voz, beber água e ter uma orientação vocal são iniciativas muito importantes. E não se esqueça de que o repouso pode ser um santo remédio!

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IMITAÇÃO

Tentar copiar a voz de personagens, animais ou cantores famosos pode ser muito divertido. Mas, se fizermos isso repetidas vezes (ou até se isso se tornar um hábito), podemos machucar a nossa voz. Da mesma maneira, cantar (ou falar) grave ou agudo demais também não é recomendado.

Nada respeita mais o nosso aparelho fonador do que usarmos a nossa voz de forma natural. A música que ouvimos também interfere na maneira como cantamos. Por isso, é importante que o professor de técnica vocal indique para a criança referências com um modelo vocal ideal para a voz de cada um.

UM BOM PREPARADOR VOCAL

Cantar contribui não só para o bom desenvolvimento musical, mas também para os aspectos psicológicos, sociais e cognitivos da criança. Porém cantar sem uma orientação profissional, ou sem a técnica adequada, pode causar graves lesões no aparelho fonador ainda em desenvolvimento.

Atividades que utilizam não só a voz cantada, como também a falada (canto coral ou teatro), precisam do acompanhamento de um preparador vocal ou fonoaudiólogo.

Além disso, os exercícios de aquecimento e desaquecimento são fundamentais para a saúde vocal.

COMIDA

Como já foi dito no início do capítulo, o que faz bem para a voz faz bem para o corpo como um todo. Sendo assim, a alimentação saudável não poderia ficar de fora!

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Aqueles alimentos de digestão mais difícil (e isso varia de pessoa para pessoa) devem ser evitados, pois podem causar azia e refluxo, que causam irritação nas pregas vocais.

Algumas pessoas dizem que comer chocolate faz mal para a voz. Na verdade, não é recomendado comer doces antes de cantar. A digestão do açúcar começa na boca, o que deixa a saliva mais “gosmenta”. Então o melhor é deixar o docinho para depois de cantar.

Já a maçã e o salsão possuem propriedades adstringentes, o que deixa a saliva mais fininha. Esses estão liberados!

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preparação

SOLTANDO O AR

Este é um dos exercícios mais simples e também um dos mais importantes! Com ele, vamos observar como o ar se comporta quando cantamos.

Primeiro vamos soltar o ar pela boca com as mãos na frente, como se estivéssemos conferindo o hálito. Podemos sentir o ar quente, não é? Depois vamos repetir, mas fazendo uma boca de bocejo. Se, só de imaginar, você já bocejou, ótimo! É esse o formato de boca que queremos.

Agora vamos continuar soltando o ar, mas sem a mão na frente da boca, percebendo que o ar quentinho encosta lá no céu da boca.

Depois de repetir isso algumas vezes, vamos fazer o mesmo exercício com a vogal [ ó ] bem leve e natural, percebendo que o formato do bocejo e o ar passando no céu da boca continuam iguais. Pode-se repetir com todas as vogais.

Este exercício nos ajuda a evitar os golpes de glote.

GOLPE DE GLOTE

São ataques vocais bruscos, que acontecem geralmente quando falamos alguma palavra que começa com vogal. O som se parece com o de quando estamos tossindo.

Na verdade, o que acontece é que as pregas vocais estão golpeando uma à outrapor isso, o nome “golpe de glote”, pois a glote é o espaço que fica entre as pregas vocais. É como se fosse uma luta mesmo. Com isso, as pregas vocais vão ficando irritadas e vermelhas (hiperemiadas). Para não machucar a nossa voz, devemos evitá-lo ao máximo.

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Você já toca violão ou conhece alguém que toque? Quando começamos a fazer aulas de violão, o atrito das cordas faz com que as pontas dos dedos fiquem doloridas. Depois de algum tempo tocando, formam-se calos. Com a voz é parecido... A repetição frequente dos golpes de glote pode desencadear nódulos (também chamados de calos) nas pregas vocais. Mas, diferentemente do violão, calos na voz dificultam a emissão do som. E isso nós não queremos.

O exercício “soltando o ar” serve para treinar a emissão das vogais de forma mais suave.

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RESPIRAÇÃO AQUECIMENTO

Este exercício é para aquecer o nosso corpo, “acordar” a nossa musculatura para o canto e também para perceber o trabalho do diafragma. Para isso, vamos soltar o ar fazendo o som [ tch ] prolongado, como um rádio não sintonizado ou uma televisão antiga fora do ar. Tente expulsar o máximo de ar a cada repetição desse som e colocar as mãos no abdômen, nas costas e ao lado da cintura, alternadamente, para sentir a movimentação da musculatura abdominal e intercostal.

Recomendo repetir este ciclo três vezes, normalizando a respiração entre cada uma delas. Ao fim do exercício, tomar um pouco de água para hidratar as pregas vocais.

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Falamos bastante de pregas vocais aqui. Mas você já parou pra pensar em exatamente quais outras partes do corpo estão envolvidas quando cantamos? Na verdade, o nosso corpo inteiro é importante!

“Mas será que até o dedinho do pé?”

“Sim, até o dedinho do pé. Você duvida? Imagina aquela hora em que batemos o dedinho do pé em algum lugar, que dói bastante. Você acha que vai ser fácil cantar logo depois?!”

“Acho que não...”

“Claro que não! Por isso devemos dar atenção ao nosso corpo inteiro, e, principalmente, observar se ele está bem relaxado.”

27 O CORPO
ideia ou referência ? Anote
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Alguma
aqui

IMAGINANDO

A atividade a seguir é um modelo de exercício fantasioso. A partir dela, você e seus alunos podem criar novas histórias. Uma boa consciência corporal é fundamental para o canto.

Em um espaço mais amplo, pedir para o aluno seguir as instruções:

“Vamos imaginar que estamos andando... na verdade vamos andar, mesmo.

Você pode marchar, como um soldado...

Ou andar beeeeeem preguiçoso, quase se arrastando, mas não deixe de andar.

Tudo bem, vamos voltar a andar normalmente...

Mas agora pensando que estamos numa floresta (florestas sempre são legais de se imaginar).

Não sabemos que tipo de bicho que pode viver nessa floresta, então, por cautela, melhor tomarmos cuidado, andando em silêncio e bem devagar.

Puxa, que medo!

Vou mudar pra uma praia...

Isso, bem melhor!

Estamos andando na beirada e as ondas chegam até os nossos pés. A cada passo que damos, é como se chutássemos a água... Tá ficando bem legal isso!

Mas o sol está esquentando muito... Vamos nos abanar enquanto andamos.

E não para de esquentar. A sensação é de que estamos derretendo. Hora de ir embora!

Quando pisamos na areia seca, ela está muuuuuito quente, parece que estamos andando em cima de brasas. Ai ai ai!

Pra onde nós vamos mesmo?

Depois desse solzão, acho legal irmos pra lua!

Um pequeno passo para uma criança, mas uma graaaande diversão!

De volta à Terra, depois dessa aventura super tecnológica, que tal se a gente virasse robôs?!

Bip, bip, dois, bip, bop, bip...

Ok, agora viagem no tempo. Viramos dinossauros enormes, com pés gigantes. Somos grandes e pesados.

Já podemos ser seres humanos de novo, mas daqueles que ainda andavam com quatro apoios, lembra?!

E aos poucos vamos aprendendo a ficar eretos.

O tempo passa bem depressa...

E chegamos nos dias de hoje, de volta à sala de música, com o corpo bem aquecido e prontos para cantar!”

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Movimentar a cabeça (mantendo os ombros parados e relaxados) de um lado para o outro, como se estivesse sinalizando uma negação. “Não, nunca, jamais, nem pensar, necas de pitibiribas, pode ir tirando o seu cavalinho da chuva”.

Em seguida, movimentar a cabeça para cima e para baixo, sinalizando uma afirmação. “Sim, claro, certamente, com certeza, obviamente, é isso, como não pensei nisso antes?, é assim sim”.

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PESCOÇO

Ao estruturarmos o fazer artístico em um planejamento, pode parecer que estamos engessando o nosso trabalho, mas isso nos auxilia na organização das atividades. Já inserido num contexto escolar, o planejamento é fundamental para que a arte tenha o tratamento de “área de conhecimento”.

É importante que, mesmo tendo um planejamento estruturado, haja uma flexibilidade para se fazer os ajustes necessários de acordo com o momento e o aluno. Trabalhamos com vozes e também com crianças. Assim, é comum que apareçam elementos não planejados na aula, mas que devem ser levados em conta. Por exemplo, quando a criança está com a voz mais cansada, os exercícios devem ser repensados imediatamente, privilegiando aqueles que relaxam mais, como os exercícios vibratórios. Já outras situações – como quando a criança chega animada, contando de uma viagem, ou quando cai uma chuva muito forte – podem ser inseridas no contexto da aula, com uma adaptação de repertório. Além dos exercícios e do repertório, é importante que sejam apresentadas nas aulas referências (como as apresentadas neste livro, nas seções “para ouvir”, “para pesquisar” e “para entender mais de música’’), para que a criança amplie o seu conhecimento musical. Também, sempre que possível, a criança deve ter um espaço para criação, improviso e expressão vocal.

Sabendo disso, trago aqui uma sugestão de estrutura de planejamento para uma aula de canto. No final do livro, você encontrará mais tabelas para montar as suas aulas.

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Seção Exercício Referências

Preparação

Consoantes

Graus conjuntos

Aquecimento

Articulação

Repertório

observações:

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“A execução do planejamento não é mecânica. É dinâmica e pode sofrer alterações e adaptações na medida em que os dados da própria execução venham a exigi-las.”
Carlos Luckesi

SOBRE A AUTORA – MILENA TUPI

Sou filha de músicos e cantora de nascença. Cresci nas coxias dos teatros, assistindo a ensaios, óperas e concertos. Estudei canto lírico com a rainha Neyde Thomas, mas já faltei à aula pra cantar no pagodão.

Sempre participei de corais e, quando criança, gostava de brincar de regente. Hoje em dia continuo brincando, mas a diversão também é o meu trabalho. Sou educadora musical diplomada pela UFPR e mestranda em Música pela UNESPAR.

Amo gente reunida, teatro, dança, cultura popular, artes visuais e gatinhos. Também amo ver os outros cantarem... Por isso, por destino, ou por vocação, dou aulas de canto desde 2016.

SOBRE A ILUSTRADORA – IVANA LEMOS

O desenho para mim é diversão e acredito que todos deveriam experimentar...

Sou formada em Artes Plásticas pela UFPR e sempre amei desenhar. Fiz um monte de coisas nessa vida e tive muitas experiências em concursos, exposições, escolas, oficinas, espetáculos, livros e jardins. Adoro a aquarela, a colagem, a poesia, os animais, a chuva e o frio, a música e o cinema. Os livros e o desenho sempre foram os meus grandes amigos e levo eles para sempre no meu coração. E uma última coisa: acredito no poder da Arte para transformar as coisas ao nosso redor.

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agradecimentos

Ao meu filho Benedito, presente em todas as etapas do projeto. A todos os meus alunos e suas famílias pela confiança.

Ao Programa de Apoio e Incentivo à Cultura da Fundação Cultural de Curitiba, à Sauí, ao Colégio Positivo, ao PPGMUS-UNESPAR, e a todos que estiveram ao meu lado e/ou me ajudaram de alguma forma durante este trabalho: Andrezza, Tássia, Helena, Cami, Sávio, Ivana, Aline, Joyce e Caco, Luis, Lia e Camila, Manu, Fernandinho, Giovana, Rudson, Maria, Raquel, Karina, Gustavo, Ana Maria, Clara e papai, Castilhada, Fabi, Sandro, Le Village Niterói, Guto e Leandro, Pufe, Cris, Nina, Paulera, Mica, Nat e Thais...

Tudo, tudo, tudo, tudo o que nóis tem é nóis

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONDE, Emanuelle Bulati. Procedimentos metodológicos e técnicos para o trabalho com coro infantil e a fisiologia vocal da criança: um estudo de levantamento com regentes.

Curitiba: UFPR, 2013.

ILARI, Beatriz. Música na infância e na adolescência: Um livro para pais, professores e aficionados. Curitiba: Ibpex, 2009.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação e aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 2005.

MADALOZZO, Tiago; ILARI,Beatriz; ROMANELLI, Guilherme; BOURCHEIDT, Luís; KROKER, Fabiane; PACHECO, Caroline (Org.). Fazendo Música com Crianças. 2. ed. Curitiba: Editora da UFPR, 2011.

MATEIRO, Teresa; ILARI, Beatriz. Pedagogias em educação musical. Curitiba: Ibpex, 2001

MATEIRO, Teresa; SOUZA, Jusamara. Práticas de Ensinar Música. Porto Alegre: Sulina, 2009.

ROMANELLI, Berenice M. B; ROMANELLI, Guilherme G. B. Conteúdo, metodologia e avaliação do ensino das artes. Curitiba: UFPR, 2010.

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REFERÊNCIAS MUSICAIS

PÁGINA

17 O vento (Dorival Caymmi) Dorival Caymmi Spotify, Youtube

17 Vento no catavento (Andrezza Prodóssimo)

Taque Tique Tá Spotify, Youtube

35 Don Giovanni (Wolfgang A. Mozart) (vários)

35 Le Nozzi di Figaro (Wolfgang A. Mozart) (vários)

35 Il Guarany (Carlos Gomes) (vários)

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MÚSICA INTÉRPRETE ONDE ENCONTRAR
Youtube
Youtube
Youtube 48 Minha Canção (Chico Buarque) Lucinha Lins Spotify, Youtube
Vinde, vinde, moços e velhos Antônio Nóbrega Spotify, Youtube
Bem-te-vi (Hermeto Pascoal) Aline Morena Spotify, Youtube
Dendê
nordestina
(vários) Youtube
Dendê Trapiá A Barca Spotify, Youtube
52
52
57
Trapiá - Suíte
(Ronaldo Miranda)
57 Coco

PÁGINA MÚSICA INTÉRPRETE ONDE ENCONTRAR

58 Tum-dum, Pum-pum Pitocando Spotify, Youtube

60 São João Dararão Bidu Sayão Spotify, Youtube

66 Duetto Buffo di Due Gatti (vários) Youtube

67 Viola, meu bem Badi Assad Spotify, Youtube

69 Anu (vários) Youtube

73 Marinheiro (vários) Youtube

74 Missa Kewere (Marlui Miranda) (vários) Youtube

79 Tapindaré A Barca Spotify, Youtube

80 Bota barro na parede A Barca Spotify, Youtube

93

créditos

Concepção – Milena Tupi

Revisão dos conteúdos de voz – Domingos Sávio

Revisão dos conteúdos de música – Camila Bomfim

Revisão do texto – Tássia Valente

Editoração das partituras – Carlos Todeschini

Ilustrações – Ivana Lemos

Projeto gráfico – Aline Scheffler

Fotos – Manu Fuzaro

Modelo – Lia Palone Diogo

Coordenação do projeto – Helena Sofia

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Preparação Consoantes Graus conjuntos Aquecimento Articulação Repertório

observações:

Preparação Consoantes Graus conjuntos Aquecimento Articulação Repertório Seção

observações:

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Exercício Referências
Seção Exercício Referências

Referências

Exercício

Seção

Preparação

Consoantes Graus conjuntos Aquecimento Articulação Repertório

Referências

Exercício

Seção

Preparação

observações:

Consoantes Graus conjuntos Aquecimento Articulação Repertório

observações:

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U ô ô U ó ô u ô ó ó ó u U ó ô U

O

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Este livro foi impresso pela Gráfica Capital, em Curitiba, no inverno de 2023. papel do miolo é o Offset 120g e o da capa é o TP Premium Suzano 350g. Composto com a fonte Optane.

Incentivo:

PROJETO REALIZADO COM RECURSOS DO PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À CULTURA –FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA E DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA.

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Incentivo:

PROJETO REALIZADO COM RECURSOS DO PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À CULTURA –FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA E DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA.

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