Suplemento Jampa Cultural

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O jornalismo cultural em João Pessoa

Páginas de cultura

Conheça a rotina das editorias de cultura na cidade

Jornalismo Cultural conquista espaço nos blogs

Astier Basílio: entre o jornalismo e a literatura

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EDIÇÃO #01 - DEZ/2010

jampa cultural


DEZEMBRO/ 2010 JORNALISMO CULTURAL NA CIDADE

Índice

Com a curiosidade, que é inata aos estudantes de jornalismo, somado ao interesse de atuar na área, buscamos compreender em nosso Trabalho de Conclusão, o jornalismo cultural produzido na cidade. Foi assim, que partimos numa viagem rumo à realidade das editorias de cultura em João Pessoa. Nessa experiência, tivemos a oportunidade de conhecer os principais atores que fazem parte do cenário. Um dos aspectos que mais chamou a atenção foi a rotatividade do meio. Acabávamos de entrevistar uma equipe, e já na semana seguinte, ela não era mais a mesma. Alguém saia e ia para outro veículo. Durante todo o trabalho, presenciamos essa “dança das cadeiras”, nos seguintes veículos: Jornal da Paraíba, Correio da Paraíba e na revista Cenário Cultural. Portanto, o Jampa Cultural é um recorte de um determinado momento do jornalismo cultural da cidade. Aqui, você vai encontrar as rotinas das editorias de cultura dos três principais jornais em circulação, do suplemento governamental “Correio das Artes”, do guia “Cenário Cultural” e do blog “Diversitá”.

Cotidiano da cultura

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Dom Quixote das letras

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Guia de bolso

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Entre tradição e modernidade

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Da literatura ao teatro

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Amor pela sétima arte

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Cultura na web

Em todos os textos, buscamos enfatizar o papel do jornalista diante da complexidade e das pressões próprias deste universo. Além disso, apresentamos alguns profissionais que marcaram a história do jornalismo cultural da cidade. Como o jornalista William Costa, o crítico de cinema e literatura João Batista de Brito. Foram muitas as dificuldades vivenciadas durante a realização do trabalho, especialmente para conseguir as entrevistas e na busca pela linguagem ideal. Apesar disso, a paciência e receptividade dos profissionais foi de grande motivação para atingir o objetivo. Além das críticas e sugestões do nosso orientador Thiago Soares.

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Encontro de gerações

Enfim, desejamos que nessas páginas, você possa sentir um pouco do prazer que tivemos, ao conhecer essas pessoas que, em seu cotidiano escrevem com afinco sobre o que amam, e assim mantêm vivo o jornalismo cultural da cidade. EXPEDIENTE JAMPA CULTURAL: Um recorte do jornalismo cultural em João Pessoa. Trabalho de Conclusão de Curso - TCC Universidade Federal da Paraíba - UFPB Departamento de Comunicação Social Curso: Comunicação Social - Jornalismo Profº Orientador: Thiago Soares Alunas: Andréa Karinne Albuquerque Matrícula nº.10726076 Isabelle Silva Frota Matrícula nº.10726078

02Jampa Cultural

Dezembro/2010

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Surgimento do Caderno B


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VIDA E ARTE

UM CADERNO FEITO POR AMIGOS Isabelle Frota

Tendo como editor há cinco anos, o jornalista cultural, André Cananéa, o caderno possui entre seus realizadores nomes prestigiados da imprensa local. Como o do poeta e jornalista, Astier Basílio e o do conhecido crítico de cinema, Renato Félix. A equipe é destaque no panorama cultural, ao trazer para as páginas do caderno, mesmo num espaço limitado, textos dedicados à cultura de uma forma geral. O êxito de estilo, através da qualidade das matérias, registradas com talento, sensibilidade e respeito à produção artística. Em nosso encontro, André manifesta a sorte que tem de trabalhar com dois amigos. Motivo do sucesso: entrosamento, pontuado de pensamentos parecidos e gostos diferentes, marca registrada do grupo no meio cultural. “Eu tenho a sorte de estar com amigos. Quando vamos ao cinema, brincamos muito se os três gostarem de um mesmo filme, porque, em noventa e nove por cento das vezes, um, irá gostar e o restante não”, comenta Cananéa. O variado repertório proporciona equilíbrio na dinâmica do trio, já que André escreve sobre música, Astier, é especialista em teatro e literatura e, Renato, é o perito em cinema. Para Félix, o caderno de cultura trabalha muito além do que está na empresa. “Quando vemos uma peça, ouvimos um disco ou assistimos a um filme, estamos trabalhando. Quando estou lendo ‘Tempestade de Ritmos’ de Rui Castro, que não é minha especialidade, estou me informando para escrever sobre isso”, diz. A editoria trabalha em ritmo acelerado, já que o caderno de cultura é o primeiro a “descer”. O cotidiano do grupo começa com a apuração das notícias, feitas de duas maneiras: escuta (telefone, internet, release) e jornalistas “in loco”, esta é em menor proporção. As reuniões de pauta seguem informalmente, através de conversas entre os jornalistas. Na segunda-feira é dia da reunião do editor do caderno, com os outros editores do jornal para definir as

ANDRÉA KARINNE ALBUQUERQUE

Na pequena sala da redação, onde funciona a editoria de cultura do Jornal da Paraíba, encontramos os profissionais que produzem diariamente o caderno de cultura “Vida e Arte”. Com tantos jornalistas juntos, o burburinho não tem fim, nem mesmo quando chega a hora de revelar as impressões sobre o cotidiano de um dos principais veículos de comunicação em João Pessoa.

O MULTI-ESPECIALISTA ASTIER, O “ALMANAQUE” DE MÚSICA, CANANÉA E O CRÍTICO DE CINEMA, RENATO FÉLIX

publicações do fim de semana. No dia a dia, a troca de informações, ideias e os contatos são muito importantes, como define Cananéa. “A gente enlouquece com um negócio desses. Eu saio anotando o que tem de pauta, eles também ajudam muito, dizendo o que vai ter. Sou o editor apenas para levar os carões, todo mundo aqui se mexe, até porque, cada um tem seus contatos. Às vezes, entra uma pessoa e não procura o editor, vai direto a Astier e passa a pauta para ele”, esclarece o jornalista. As capas do “Vida e Arte” seguem os mesmos preceitos dos outros cadernos, ao utilizar os fatos mais importantes para serem destacados. No entanto, a equipe procura dar aos textos um olhar diferenciado. “Quando fazemos uma capa de cinema ou música, mergulhamos fundo. Por exemplo, quando saiu à estreia do ultimo filme ‘Toy Story’, Renato, fez uma matéria muito boa, que acabou dando destaque ao jornal em cima da concorrência”, conta Cananéa. A exemplo do que acontece na maioria das editorias, a estrutura do jornal é pequena e não dispõem de verba para cobrir a programação cultural. Segundo Cananéa, depende da iniciativa pessoal dos próprios repórteres. “Cobertura é complicado para fazer. Astier irá cobrir uma peça de teatro, e eu e Renato vamos agendar para ver o show de ‘Wagner Tiso’, mas, se não der para ver, escolhemos qual dá para ir”, explica André.

A falta de espaço editorial exige da equipe “jogo de cintura”, para diversificar e aprofundar mais o conteúdo do caderno. O objetivo é colocar coisas novas para que as pessoas tenham acesso e conhecimento. “Não estranhe ver uma matéria da ‘Calypso’, é de propósito, assim, o leitor verá a banda, mas, também, o filme do ‘Truffaut’. Semana passada, colocamos do lado da resenha de estreia do filme ‘Os Mercenários’ uma nota do filme do ‘Godard’, essas são coisas conscientes mesmo”, expõe Cananéa. Ao final, os três jornalistas argumentam que os atuais cadernos são “fabricados” para atender a demanda do mercado popular, como o “Vida e Arte”, que é feito para o leitor médio, não para um público especializado. “Nós escrevemos para quem simplesmente quer saber se vale à pena sair de casa, para ver o que está passando. Por isso, temos que escrever um texto leve e objetivo”, responde Basílio. Em linhas gerais, o ritmo alucinante das redações, a falta de espaço e a carência de recursos, parecem ser inevitáveis. A capacidade de se recriar em meio a um cenário de desgaste, talvez, seja prerrogativa dos novos profissionais. Até porque, quem não se adapta, fica para trás. Os jornalistas que escrevem no “Vida e Arte” se destacam no cenário local, porque, ao invés de dar apenas “o show pelo show”, como cita Cananéa, demonstram criatividade, sutileza e descontração ao driblar a realidade de quem escreve sobre cultura em nosso país. Jampa Cultural03


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SHOW

O EXÉRCITO DE UM HOMEM SÓ ANDRÉA KARINNE ALBUQUERQUE

O jornal “O Norte”, no ano passado, passou por uma reforma gráfica editorial implementada pela direção dos “Diários Associados”, um condomínio de empresas de comunicação fundado em 1924 por Assis Chateaubriand, do qual “O Norte” faz parte. Como consequência, a empresa passou a ter duas redações, uma em João Pessoa, que cuida da produção das matérias, e outra no “Diário de Pernambuco”, responsável pela edição de todo o material produzido aqui.

ANDRÉA KARINNE ALBUQUERQUE

Andréa Karinne

Desta forma, as estratégias gerenciais influenciaram a rotina na redação, já que o caderno Show passou a ser produzido em João Pessoa pelo jornalista William Costa e editado pela jornalista Maria Helena Monteiro na cidade do Recife. William que se desdobra para dar conta sozinho da cobertura cultural na capital paraibana, explica o processo. “O jornal, na verdade, é basicamente pensado aqui, há um editor execuARTISTAS PARAIBANOS ENCONTRAM NO SHOW ESPAÇO PARA DIVULGAR SEU TRABALHO tivo, um chefe de reportagem e a editoria. Ele funciona normalmente, só a edição que soal manda muita informação por e-mail, abordagem sobre outra coisa, mas que se fica lá”, afirma William Costa. Antes da retelefone, e tem os portais, então a gente diferencie do que é publicado durante a forma, ele era editor do caderno e contaprocura acompanhar o que está aconte- semana”, completa. va com dois repórteres na editoria. Agora cendo na cidade”, afirma o jornalista. exerce o cargo de coordenador de cultura. Às vezes, o espaço destinado à publicidade No jornal “O Norte”, assim como nos de- atrapalha a diagramação do encarte, prinWilliam Costa chega cedo à redação e gasmais veículos da cidade, não há uma po- cipalmente pela tradição dos cadernos ta uma hora para ler cerca de cem e-mails lítica de cobertura de eventos culturais. culturais de valorização do aspecto visual que recebe diariamente, material que pode Muitos profissionais, quanto têm con- das páginas. A diagramação do jornal “O gerar matérias interessantes. Atualmente dições, participam desse tipo de evento Norte” é toda feita em Recife, mas William vem ocorrendo um fenômeno que ele não por iniciativa pessoal. “O ideal seria você participa ativamente desse processo, selegosta. As pessoas mandam e-mail e não enassistir a tudo que está rolando na cida- cionando as imagens que serão utilizadas tram em contato para tratar sobre a suposde nessa área, eu já fiz isso muitas vezes, e sugerindo sobre o design da página. ta matéria. Para William, o contato pessoal mas por minha conta”, revela o jornalista. é imprescindível, já que o release é apenas Apesar de desejar que o público de cultuAlém disso, William explica que como a uma indicação da pauta e, muitas vezes, cidade cresceu bastante, a pauta cultural ra seja maior e mais diversificado, William uma boa matéria se perde no meio desse ficou muito diversificada, já aconteceu de acredita que esse público não é tão espe“turbilhão” de informações. ter numa sexta-feira mais de dez shows – cializado e que vem diminuindo a cada dia, já que os jornais impressos perdem As reuniões de pauta no caderno Show são fato que dificulta a cobertura. leitores para a internet. “A pauta não é raras, porque William prefere a dinâmica Quanto às áreas culturais, as pautas do muito complexa e acho que os textos são do dia a dia, sempre conversando com a caderno Show são bastante equilibradas, muito adequados a realidade. Hoje, estava editora para discutir as matérias. Acredinão havendo uma modalidade artística dando no ‘Bom Dia Brasil’ o fechamento ta que esse sistema tem funcionado bem. prioritária. O critério utilizado para esco- do JB [Jornal do Brasil], então essas são “Tem reuniões no jornal que eu participo, lha das pautas que renderão matéria tem coisas do nosso tempo e reflete no caderno mas no geral, eu não gosto. Quando estava a ver com a importância e a ligação com a de cultura, que nunca teve um grande púcom uma equipe, a gente não tinha reucidade. “Depende do que sai no dia, se tem blico leitor por motivos óbvios”, comenta. nião, era no dia a dia mesmo que a gente ia um cineasta bacana com estreia de um filconstruindo a matéria”, atesta. me, ou alguém rodando uma película que O caderno Show dedica um grande espaço para conteúdos informativos, principalO caderno Show cobre o factual na área de não vai passar aqui, a gente destaca o que mente pela necessidade de se produzir o vai sair, ou seja, evidenciamos o que tem cultura, como lançamento de livros, filmes, maior volume possível de textos, deixanpeças e espetáculos. Mas, nos fins de sema- de melhor”, sugere o jornalista. do a desejar quanto ao caráter crítico inena, são produzidas matérias diferenciadas. O princípio da escolha das matérias da rente à área cultural. Essas são algumas “Também fazemos algumas matérias especapa é o mesmo utilizado nos cadernos das características decorrentes da falta ciais com alguns personagens que tenham editoriais como Cidades ou Geral, ou seja, de incentivo da empresa na capacitação um talento específico para determinada área, os fatos mais importantes do dia são des- dos profissionais, redução do quadro de geralmente uma matéria de perfil”, observa. tacados. Se tem um show de um artista funcionários e condições inadequadas de Como a equipe é reduzida, o caderno não “de fora” ele vai estar na capa. Segundo trabalhos. Apesar de todas as limitações, consegue fazer uma cobertura ampla, to- William essa questão muda um pouco nos William Costa é uma espécie de “Dom mando menos iniciativa e aguardando o jornais do fim de semana. “A gente pro- Quixote” do nosso tempo, que consegue que “surge” na redação. Segundo William, cura dentro do possível, dar um destaque fechar um caderno de cultura praticamencom a internet, a interatividade entre as diferenciado, criar uma pauta específica, te sozinho num jornal impresso na cidade fontes e a redação é muito maior. “O pes- de um personagem, de um evento, ou uma de João Pessoa.


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CENÁRIO CULTURAL

A PEQUENA NOTÁVEL Em 2008, através do projeto visionário do empresário Léo Uchoa, nascia à revista Cenário Cultural. O objetivo era criar um guia de bolso no qual as pessoas pudessem consultar o que estava acontecendo na cidade. A revista, logo na sua primeira edição, “balançou” o panorama local com um inovador projeto gráfico e editorial, além de abordar temas culturais pouco divulgados pelos cadernos da cidade, como moda, gastronomia, turismo e artesanato. Quem assina a edição do guia, são os jornalistas, Tiago Germano e Sarah Falcão. Entre seus assíduos colaboradores, fazem parte a jornalista Anna Felipe (assessora do guia e editora do Correio da Paraíba), o multimídia, Ricardo Oliveira (autor do blog de cultura Diversitá), a crítica gastronômica Sandra Vasconcelos (pós-graduada em Valência na Espanha) e o jornalista João Oliveira (experiente profissional do meio). Sarah, que acompanhou todo o processo da revista, do projeto a realização, relembra com emoção quando saiu à primeira edição. “A equipe era eu, Leo e Hugo, fazendo guerrilha. Nós três e mais dois amigos, vestidos com a camisa da Cenário, saímos na rua distribuindo a revista nos restaurantes”, conta a jornalista. Recentemente a Cenário, passou por uma reforma estrutural, com a finalidade de expandir, e valorizar ainda mais o conteúdo editorial. Sua estrutura jornalística vai além da programação da cidade, com variado material, composto por dicas de locais, lazer, roteiros para turistas, gastronomia, entrevistas exclusivas, matérias de comportamento e colunas de arte em geral, caracterizadas por uma linguagem original e moderna. O guia conta com um site e as novidades no ambiente virtual são muitas, como a criação da primeira rede cultural do Nordeste, instrumento participativo para divulgação de eventos. Tem também, o Cenário Clube, programa de benefícios onde o assinante conta com descontos, promoções e passa a receber a revista em casa. “É um site colaborativo, o internauta pode participar, cadastrando os eventos, que são aprovados e lançados na rede. Isso facilita a captação de eventos, que a meu ver é uma das maiores dificuldades da gente”, afirma Tiago. A edição impressa possui uma tiragem de dez mil exemplares, circulando para cerca de quarenta mil leitores. O público alvo é constituído em sua maioria de pessoas interessadas em cultura e diversão na cidade de João Pessoa. Estudantes, artistas, produto-

ANDRÉA KARINNE ALBUQUERQUE

Isabelle Frota

SARAH E TIAGO GERMANO DIVIDEM A EDITORIA

res, empresários, profissionais liberais e turistas, entre outros, folheam as suas páginas mensalmente. As reuniões de pauta são realizadas uma vez por mês, logo após o fechamento da ultima edição. Os editores dividem o tempo de trabalho, como explica Tiago. “Mensalmente tem um coordenador geral das edições. Quem coordena faz o editorial, envia o material para edição, cuida da parte mais burocrática e o resto a gente divide”, explica Germano. O guia é democrático na escolha de quem assina suas matérias, além da equipe fixa, conta com a participação de jornalistas, estudantes e especialistas. “Essa é a maneira que utilizamos aqui. Procuramos um colaborador que goste e queira escrever sobre determinado assunto e outras vezes são os jornalistas que entram em contato para cooperar com a gente”, diz Sarah. A cenário conta com o apoio de diversas empresas públicas, e privadas, que vem contribuindo desde o início do projeto, entre elas, a indústria de alimentos São Braz, Energisa S/A, o Sebrae, a Prefeitura de João Pessoa, entre outras. A escolha do tema da revista é de grande importância, já que a partir da temática é que são escolhidos os anúncios. “Definimos um tema para a revista, por exemplo, “Caminhos do Frio” daí vamos atrás de procurar empresas que tenham a ver com a temática e queiram divulgar algum produto”, define Sarah. O projeto gráfico é assinado pelo diretor de artes Cícero Felix (experiente e premiado profissional da área), possui em suas páginas um design moderno ritmado por ilustrações de Felipe Spencer mescladas com

imagens, cores e fotos que relacionam e integram o conteúdo das matérias. Suas capas possuem toques artísticos que evidenciam leveza e uma estética chamativa que transcende o mero envolvimento do público. Em criações, elaboradas por talentosos artistas locais, a exemplo da artista plástica, Luyse Costa, que empregou sua técnica em caneta e aquarela na edição de número 33 da revista . Mas nem só de festa vive o guia, a editora desabafa e elenca o que para ela são os grandes empecilhos para os jornalistas culturais da cidade. “O espaço cultural local é tímido, por dois motivos: a estrutura dos jornais é pequena e eles têm medo de fazer crítica. Outra coisa que percebo, é que é raro o jornalista daqui freqüentar os eventos culturais, até, por causa do ritmo estressante e cheio de cobranças das rotinas, que fazem parte”, completa Sarah. Outro destaque negativo é a cobertura das matérias, já que são feitas por email, releases e telefonemas. A programação é previamente publicada, mas ai reside um grande problema. “Muitas vezes, publicamos um evento que vai acontecer no final do mês, e é cancelado, como o concerto da orquestra na área externa da Estação Ciências, por causa da chuva. Mas, como estava na revista, às pessoas apareciam e reclamavam. Esse também é um risco dos produtores locais, que são pequenos e tem pouca verba, por falta de mídia, e divulgação”, comenta a editora. Apesar das dificuldades a revista transformou-se, num catalisador de serviços para todas as tribos da cidade, preenchendo espaços pouco acessados pela mídia impressa. A sua distribuição gratuita nos principais pontos de João Pessoa, aliada a completa exposição da agenda da cidade, de forma pratica e rápida, facilitou a fidelização dos leitores. Existem até, quem faça coleção de suas publicações, a exemplo, de Tiago Germano. “Entrei num momento legal e coleciono desde essa época”, diz ele. Em apenas dois anos, fica difícil mensurar, como a revista alcançou considerável visibilidade no panorama local, inúmeros são as causas e fatores do sucesso. O guia veio preencher a lacuna deixada pela redução dos espaços destinados à cultura nos jornais paraibanos. O projeto virou uma alternativa de sucesso e se mantém, não só como uma publicação independente, e nem como, mais um serviço de informação. A revista virou referência de representação da produção cultural paraibana, o que é inegável, basta ver a sua projeção no cenário cultural.

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DIVERSITÁ

CINEFILIA E CULTURA NA WEB Andréa Karinne

Em 2007, o jornalista estava perto de se formar e convidou os amigos Pedro Macedo e Marcella Loureiro para criar o “Diversitá”. Eles escreviam sobre as coisas que gostavam. Após um tempo, os amigos desistiram e Ricardo continuou. “Eles foram deixando de escrever, porque nem todo mundo consegue levar um blog”, lamenta Ricardo. Em 2008, o Diversitá começou a ganhar forma. “Eu passei a investir mais, cobrindo eventos como o “Fest Aruanda”, “CINEPORT” e “Fenart”. Eu estava lá todos os dias, cobria várias vezes por dia, por causa disso, o blog foi tendo mais acesso”, lembra Ricardo.

inscreve e passa a receber no seu e-mail as atualizações do blog.

pela opinião, não uma imparcialidade utópica”, exemplifica Oliveira.

Além disso, Ricardo conta com 2 mil seguidores fiéis no Twitter. “Eles interagem, mandando dica de qualquer coisa, e aí essa relação é diferente, da que eu tenho no blog e até mais próxima”, explica Oliveira. O Diversitá virou referência na área de jornalismo cultural na cidade. E hoje trata de temas culturais diversos, mas com um maior destaque para cinema, música e dança.

Os releases que o Diversitá recebe raramente viram posts, mantendo-se numa linha editorial independente, própria desse tipo de veículo. “Eu divulgo só os eventos que eu já conheço e que gosto. É meu blog. Então, eu boto o que eu quiser lá”, defende Ricardo. Os eventos de dança têm um espaço privilegiado no Diversitá. “Eu gosto muito de dança contemporânea e raramente tem aqui. E, quando tem, são espetáculos que eu gosto de divulgar. É regrinha minha”, aprecia Oliveira.

Recentemente, Ricardo Oliveira estava sem tempo para escrever sobre filmes, por conta das atividades do Mestrado em Comunicação que está cursando. Nesse sentido, as ferramentas como o twitter e a rede social Moovee.me facilitam seu trabalho, permitindo que escreva pelo menos 140 ALÊ GUSTAVO

Ricardo Oliveira sonhava em “ganhar a vida”, assistindo a filmes e escrevendo sobre eles. Assim, cursar jornalismo foi a decisão mais adequada para esse fim. Como o curso não oferecia o background que estava buscando, Ricardo apelou para os melhores professores, que um autodidata, disciplinado e determinado pode ter: os livros. Passou a ler todos os livros sobre o cinema da Biblioteca Central. Foi assim que, por iniciativa pessoal, o jornalista teve contato com as obras e críticas sobre cineastas consagrados como François Truffaut, Federico Fellini e Alfred Hitchcock.

O sucesso do “Diversitá” foi fruto de um planejamento estratégico. “Eu queria que o blog fosse divulgado, então colocava o título certo e da maneira mais adequada. E na busca do google, o blog saia antes dos portais”, conta Ricardo. Com esse crescimento, o blogueiro convidou mais dois amigos, que não permaneceram por muito tempo. Em meados de 2009, o jornalista manteve um programa semanal de rádio na área cultural, transmitido pela Rádio Tabajara FM. E mais uma vez, precisou de ajuda, convidando desta vez duas amigas: Vanessa Souza, para dividir as tarefas do blog, e Carolina Silveira, para atuar na produção do programa, que também recebeu o nome de Diversitá.

RICARDO OLIVEIRA É EDITOR EXECUTIVO DO DIVERSITÁ

Nessa época, o número de acessos aumentou bastante. “Cresceu muito, não pelo rádio, pois ele tinha pouca audiência. E sim porque a gente passou a atualizar cinco, seis vezes ao dia o blog”, esclarece Oliveira. Hoje, Ricardo publica uma média de três textos por semana. E assim, consegue manter uma média de 7 mil acessos por mês e, quase 300 assinantes de feeds. A palavra “feed” origina-se do verbo em inglês “alimentar”. Trata-se de um formato de dados usado para transmitir conteúdos atualizados frequentemente. O Diversitá disponibiliza um feed ao usuário, que se

O conteúdo do Diversitá é diferenciado, focado principalmente nas sensações vivenciadas por Ricardo diante de uma obra de arte. As ilustrações, fotos e vídeos aproximam, ainda mais, os leitores do objeto criticado. Ricardo acredita que o público está cada vez mais interessado em saber a opinião do jornalista sobre determinado assunto. “Essa é a tendência da mídia hoje em dia. Você pega uma [revista] Piauí ou os jornais americanos, todos eles estão largando essa história de imparcialidade. Eles querem ter uma imparcialidade medida

caracteres sobre um filme. Outra solução foi fotografar e postar no blog a página de um caderno de anotações sobre filmes. “Eu ganhei de um amigo meu, uma versão dos moleskines, que são aqueles cadernos clássicos para cinéfilo, nele você vai colocando os filmes que viu, com seu comentário”, explica Ricardo.

Após ter se formado em 2008, Ricardo não sonhava em atuar nos veículos de comunicação convencionais. “Se eu me tornasse jornalista um dia, eu seria da área de cultura. Mas, eu nunca tive interesse em trabalhar na redação”, revela Oliveira. Apesar disso, o blogueiro teve a oportunidade de experimentar o lado mais tradicional da profissão. “Quando substitui Astier[Basílio, no Jornal da Paraíba] e Renato [Félix , também no Jornal da Paraíba], durante dois meses, eu percebi que o jornalismo cultural é algo que vai me ajudar em outras áreas”, afirma o jornalista. Os horizontes profissionais do editor executivo do Diversitá foram bastante ampliados. Hoje ele atua como palestrante e consultor na área de comunicação digital. E o Diversitá não é considerado como sua principal atividade econômica. “Eu não levo o blog como profissão, eu tenho renda do blog, mas, só vem a cada três meses e, só dá para pagar o cinema”, revela Ricardo. Ele conta que no início tentou ser blogueiro como profissão, mas, como vinha sempre fazendo alguma coisa paralela, resolveu seguir outros caminhos profissionais. Blogs como o Diversitá, preenchem uma lacuna deixada pelo jornalismo cultural, em decorrência do ritmo mercadológico imposto no cotidiano dos profissionais da redação dos jornais. Tornando-se um espaço dedicado à cobertura de eventos culturais e, para o exercício da crítica. Além dos textos que não são possíveis no jornalismo impresso, em virtude do distanciamento inerente ao processo de produção que acabam encontrando no solo fértil da internet um ambiente propício para florescer. O PROJETO O Diversitá transformou-se num projeto multimídia que visa promover o jornalismo cultural opinativo, através das mídias sociais. Além de realizar eventos de capacitação em comunicação digital e troca de experiências em arte e cultura.


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CORREIO DAS ARTES

SINÔNIMO DE ARTE Isabelle Frota relativa independência da redação. “O Correio não é tratado da mesma maneira que um caderno de cultura normal, sempre teve um status diferenciado”, comenta Astier. Ele define que a linguagem da revista, é uma de suas características mais importantes, distinguindo-a das demais. Os textos bem construídos e as opiniões abalizadas destacam gêneros e estilos individuais pontuados por um jornalismo literário de categoria.

Com a proposta de criar um espaço jornalístico privilegiando a produção literária e artística, o jornal A União, órgão oficial do Governo do Estado da Paraíba, sob a orientação do poeta e jornalista, Edson Régis, lançou em 27 de março de 1949, a primeira edição do suplemento “Correio das Artes”. O suplemento, em sessenta e um anos de existência, se confunde com a história paraibana, funcionando ao longo dos anos como uma espécie de antena da cultura. Por meios de textos elaborados e diferenciados, que passaram a ser vistos como a mais completa tradução de jornalismo literário de boa qualidade. Ao longo de suas páginas, participaram personagens da cultura e intelectualidade paraibana e brasileira como Paulo Mendes Campos, Carlos Romero e Tomas Santa Rosa. Atualmente, figuram nomes ilustres como o crítico cinematográfico, João Batista de Brito, e o crítico literário, Hildeberto Barbosa Filho. Além, de outros destaques que colaboram frequentemente, trazendo sensibilidade e dinamismo aos textos da revista. “É no Correio das Artes que encontramos quem faz parte da cultura paraibana, sempre foi assim, e os novos escritores almejam publicar textos em suas páginas. Pois, é um primeiro contato que eles têm com um público seleto. É uma verdadeira vitrine”, comenta o atual editor, o poeta e jornalista, Astier Basílio. Basílio, que entrou para a equipe em 2003 com a reforma gráfica do jornal, conta que nessa época o suplemento passou por um reordenamento e virou revista. “Quando era o formato antigo, tinha uma natureza mais afastada da redação. Era um suplemento de reflexão com produção literária e ensaísta. Quando passa para a redação ele se contamina e se reinventa”, explica Astier. Apesar da nova reconfiguração no formato revista, não se alterou as particularidades dos textos, mais profundos e num formato mais artístico.“O Correio das Artes é uma revista, então, aqueles textos muito cifrados da academia, não foram evitados, mas se adaptaram. É uma linha que tem que se adequar, não, que seja confeccionado, mas, tentar unir informação com reflexão e, não ser arrogante, nem prepotente”, assegura Basílio.

As entrevistas são todas realizadas no contato por email ou telefone. Uma exceção, foi o encontro com Ariano Suassuna, lembra Astier. “Ele não é uma pessoa que use dessa ferramenta. Mas também, por que tinha que ser feito uma entrevista presencial, já, que por telefone ele não faz”, comenta o jornalista. ARIANO SUASSUNA FOI DESTAQUE NA EDIÇÃO DE OUTUBRO

O suplemento tem periodicidade mensal e não possui anúncios em suas páginas. Essa peculiaridade contribui para a riqueza de conteúdo, muitas vezes não encontrada em publicações do gênero. Possui perfil próprio, trabalhando suas temáticas sem restrições. O resultado está nos ensaios, poemas, contos, crônicas, dossiês, críticas, resenhas, quadrinhos e outras exposições que o encarte oferece. A equipe é formada por Ulisses Rocha, diagramador, Antonio Moraes, revisor do jornal, e Débora Cristina, revisora, que trabalha com o copydesk da revista. “O grupo tem preocupação e cuidado para não deixar passar erros em seu conteúdo e suas imagens. O editor do jornal é uma figura muito perfeccionista, então, trabalhamos muito para não ter este tipo de problemas”, relata o jornalista. O público do suplemento é composto por escritores, artistas, professores, estudantes e intelectuais interessados em cultura, especialmente literatura. “O Correio das Artes, tradicionalmente é um lugar onde a literatura tem um grande predomínio, mais ainda, a poesia, que sempre teve um lugar cativo.” Para Basílio, é importante equilibrar as demais artes. “É necessário haver um equilíbrio entre modernidade e tradição, entre autores locais e autores de fora, e o que é produzido aqui e o que é visto lá fora. É difícil, mas é o que é tentado”, garante Basílio. A revista funciona de maneira distinta dos outros encartes de cultura, por causa de sua

As reuniões são frequentes entre o editor geral do jornal “A União”, Silvio Osias, Linaldo Guedes, coordenador de jornalismo do Estado e Astier. Essas conversas refletem a preocupação dos jornalistas com a escolha da capa, verdadeiro chamariz da revista, possuindo a singularidade de envolver o leitor em suas páginas mescladas de conteúdo, fotos e imagens. “A preocupação é grande, principalmente, em ter um apelo que dialogue, e faça com que o leitor que não é habitual, leia, independente, do nível de especificidade que eu der para ele”, explica Basílio. As páginas do encarte são povoadas de dados e reflexões das mais variadas produções artísticas. Lá, ficamos sabendo o que acontece na vida cultural brasileira e local. A revista não tem um compromisso com o factual, mas, Astier conta que a disposição registrada nos quatro últimos meses foi a de memória. “Houve coincidência das capas atuais serem efemérides. Tivemos 90 anos de Celso Furtado, 30 anos de morte de Vinícius, os 60 de Aruanda e agora, os 40 anos do Movimento Armorial”. A trajetória da revista é pontuada por altos e baixos, tendo sua história descontinuada diversas vezes, devido à política governamental em seus períodos de crise. Um de seus melhores momentos foi em 1981, quando ganhou o prêmio nacional de melhor suplemento literário do país, com o editor e poeta paraibano, Sérgio de Castro Pinto. Apesar das crises, o Correio das Artes, sobrevive e rege absoluto, sem alterar suas características inegáveis de teor, e aprofundamento que tanto o recomendam.

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CADERNO 2

A CULTURA E SUAS DIVERSAS VOZES

É no Caderno 2 que encontra-se a maior equipe destinada a cobrir à área cultural da cidade. Nomes de jornalistas experientes como Antônio Vicente Filho e Augusto Magalhães, somam-se ao da jovem repórter Renata Escarião. No comando dessa “trupe”, a editora Ana Felippe. Não é difícil encontrar matérias assinadas por Carlos Aranha, jornalista e produtor cultural que teve uma importante participação nos movimentos culturais da cidade, ocorridos na década de 70. Ele foi editor do Caderno 2 e atualmente escreve diariamente na página de opinião do Correio da Paraíba. Ana Felippe é dona de uma voz firme e bastante expressiva. Apesar de nos perceber, explicava a Renata Escarião como deveria ser o encaminhamento de uma matéria. Após alguns minutos, em pé no meio da redação, nossa presença foi considerada. E, começamos nossa conversa em volume baixo, para não atrapalhar os demais profissionais que estavam no batente. Como na maioria das editorias de cultura, no “Caderno 2” não há reuniões de pautas tradicionais. O planejamento das atividades se dá por meio de uma conversa diária e individualizada. “As reuniões de pauta são bem informais, com cada um, eu digo as pautas que tem. É isso”, explica Ana Felipe. Há uma equipe do jornal em Campina Grande que manda matérias para o caderno. Os colunistas fixos são: Kubitschek Pinheiro, Ana Felippe, Lúcio Vilar, Marcos Brito, Jãmarrí Nogueira e Onélia Queiroga. Sem nenhuma rigidez, alguns colaboradores como Carlos Aranha e Lúcio Vilar escrevem matérias. Além desses profissionais, o jornal disponibiliza diagramadores e fotógrafos para o caderno. A equipe se divide para cobrir as diversas áreas culturais, sem que haja uma setorização claramente definida. Valendo-se da

ANDRÉA KARINNE ALBUQUERQUE

No jornal Correio da Paraíba, buscamos conhecer as pessoas que estão por trás dos nomes e dos textos. Há um número expressivo de profissionais que transitam nas páginas do “Caderno 2”, entre repórteres, colunistas e colaboradores. E caminhar por suas páginas não ajuda a compreender como funciona sua lógica produtiva. Já que não fica claro qual é a periodicidade das colunas e nem a distinção entre repórter e colaborador.

ANDRÉA KARINNE ALBUQUERQUE

Andréa Karinne

ANA FELIPPE E A JOVEM REPÓRTER RENATA ESCARIÃO

AUGUSTO MAGALHÃES REFORÇA O CADERNO 2

premissa de que as pessoas escrevem melhor sobre aquilo que gostam. “Cada um tem as suas preferências. Eu prefiro música, Augusto prefere teatro e Antonio prefere cultura popular. Mas, embora seja assim, apareceu, a gente faz”, revela a editora.

a crítica. E no outro dia, ele vem reclamar na redação”, narra a editora. Os jornalistas têm receio de criticar, por conta de represálias das fontes. “O jornalista Jãmarri fez uma crítica e o cara entrou com uma ação contra ele proibindo de escrever sobre o tema”, expõe a jornalista.

Não é sempre que se encontra um jornalista nos eventos culturais da cidade. A pauta nessa área é grande e muito diversificada. Por isso, a praticidade de se ouvir um CD recebido na redação, em detrimento de assistir ao show do mesmo artista é uma situação bastante comum. Na editoria de cultura, as fontes procuram mais os jornalistas. “Geralmente, a gente vai a alguns eventos. Mas, muitas vezes, a pauta vem até nós”, exemplifica a jornalista. Por mais que a crítica encontre um campo fértil no jornalismo cultural, e que todos digam que as críticas são importantes para o desenvolvimento dos artistas, ninguém gosta de ser criticado, especialmente em público. Considerando ainda a interferência dos filtros ideológicos, políticos e econômicos que cercam esse universo. Percebe-se que o exercício da crítica não é algo muito tranquilo de fazer para equipe do Caderno 2. “Criticar pode, embora aqui no Estado da gente, infelizmente tem muita reclamação, porque o pessoal se dói por tudo”, conta Ana Felipe. A proximidade entre fonte e veículo é algo positivamente prático para rotina produtiva do jornal. Ao mesmo tempo, abre precedentes para as interferências desagradáveis no exercício do trabalho jornalístico. “Eu escuto o disco que foi lançado por ‘fulano’ no Teatro Santa Rosa, por exemplo, eu faço

No Correio da Paraíba, as manchetes sobre cultura são raras. De qualquer forma, chamadas na capa sobre lançamentos de filmes, shows e peças de teatro são comuns. Para que um texto ocupe o privilegiado espaço da capa do Caderno 2, ele precisa possuir alguns atributos. “O critério que a gente adota é o que vai dar mais leitura, temas com uma abordagem diferente, uma coisa nova”, sugere a editora. A editoria de cultura de um veículo não goza de muito prestígio em detrimento a editorias de Política e Economia. Esse tipo de visão vem sido reforçado durante muito tempo nas redações. De tal forma que, os próprios profissionais de cultura se subestimam. “O pessoal daqui sabe como é a rotina e entende. Claro que as pessoas de Cidades trabalham mais que as de Cultura”, garante a editora do Caderno 2. Obviamente, essa questão é bem maior do que se imagina. E começa pela política da distribuição dos espaços no veículo. O Caderno 2 possui oito páginas, das quais, quatro são dedicadas a coluna social e duas são páginas de noticiários de televisão. E para as matérias culturais sobram apenas duas páginas. Infelizmente, o descaso na área cultural é apenas um reflexo da política do país. E dos anos de atraso na área educacional, perpetuados pelos interesses manipulativos dos nossos governantes.


DEZEMBRO/ 2010

PERFIL

O MÚLTIPLO ASTIER Isabelle Frota

Aos vinte anos, ainda como estudante de jornalismo, passou a escrever críticas para o caderno “Painel” do Jornal da Paraíba e no suplemento “Ideias” do jornal a União. Depois de formado, passou a trabalhar com assessoria política na equipe de imprensa de Ricardo Coutinho. A seguir, foi trabalhar com o vereador de Campina Grande, Antônio Pereira. Em 2005, resolveu que tinha como desafio trabalhar num jornal comercial, e foi fazer um teste para Cidades no Jornal da Paraíba, a oportunidade lhe veio com a saída do editor de cultura Linaldo Rodrigues, sobrando uma vaga no caderno. Participou de quase todas as editorias de jornais. Escreveu artigos para Cidades, assim como transitou pelo caderno policial. Em 2006, já trabalhava no suplemento de cultura do jornal da Paraíba, quando foi chamado para ser comentarista de esportes no caderno da Copa do Mundo. Decorrido o período, ficou como colunista dominical escrevendo sobre futebol. “Eu fazia crônicas com um viés mais poético, para acompanhamento mesmo”. Uma das paixões de Astier são as matérias históricas, o que o faz relembrar outra de suas passagens: o caderno político, onde aconteceu o que para ele foi um dos momentos emblemáticos como jornalista. “Uma vez, fiz uma matéria que era sobre um ranking de alternância de poder. Virou manchete do jornal e consegui a capa de domingo, feito raro. Foi uma observação de repórter que me deu prazer de fazer. E foi à única vez que o superintendente da casa chegou e me parabenizou pela matéria”, enuncia Astier. Fora do ambiente de jornal, Astier tem cultivado uma carreira na literatura, se firmando no horizonte da poesia contem-

ANDRÉA KARINNE ALBUQUERQUE

Não é à toa que este pernambucano radicado na Paraíba, vem cimentando com muito talento um caminho pelo cenário das artes. Filho do poeta declamador, Tião Lima, ele cresceu ouvindo seu pai cantar viola. Seu tio Manoel Basílio, foi outro que participou fomentando a identidade do jovem Astier, ao lhe entregar folhetos de cordel. Com apenas quatorze anos, escreveu seus primeiros versos e sonhava em ser cantador de viola profissional. Desta fase de sua vida Basílio comenta. “Eu sou fruto do ambiente em que vivi, com livros, poetas, artes”, diz.

NO JORNALISMO CULTURAL, ASTIER BASÍLIO SE ESPECIALIZOU EM LITERATURA E TEATRO

porânea paraibana. Seus versos trazem a curiosa e alusiva mistura entre o poeta popular e o erudito, através de essências como essas: “minha solidão tem mais auroras que cansaço” ou “desde que nasci persigo um zero”. Suas obras, ao todo são: sete livros de poesia e oito de cordéis publicados, entre eles: ‘Searas do Sol (2001)’, ‘Antimercadoria da Coleção Tamarindo (2006)’, ‘Sou mais veneno que Paisagem (2008)’. Além, de já ter publicado seus poemas em revistas como: Bestiário, Cronópios, Correio das Artes, Poesia Sempre e Zunái. Recentemente sua poesia, ‘Final em Extinção’, tirou o primeiro lugar no concurso nacional de contos e poesia, promovido pelo Governo do Estado. Para Astier, um dos destaques de sua fase como repórter é o livro que reúne as principais entrevistas no “Correio das Artes”, ‘Diálogos’ em parceria com o jornalista, Linaldo Guedes. “Nesse livro tem entrevistas minhas e dele. Me orgulha muito, além de registrar um bom momento”, afirma Basílio. Para o poeta e jornalista, outra de suas incursões tem sido seu enveredamento pelo cenário teatral, onde seu interesse é refletido no caderno de cultura, já que é repórter especializado da área. Para Astier, essa

passagem não é ao acaso, já que vivenciou a experiência quando fez um curso de teatro. Sua co-produção com Gustavo Paso resultou na peça homônima “Ariano” que lhes rendeu uma temporada de sucesso, no âmbito Rio-São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba. “É muito bonito ver o seu texto encenado, na boca dos outros se transformando noutra coisa”, comenta. O sucesso de ‘Ariano’ implicou em uma porta aberta para outros trabalhos. Atualmente, o jornalista está às voltas com duas peças encomendadas para escrever. Mas Astier não pára, e revela que entre seus planos se encontra o roteiro de um episódio real do cangaço, a história de Antônio Maquinista. “estou levando o texto adiante, sei que é um tema muito bom, que vai render muito pano para manga”, conta Basílio. Seu mais novo desafio é o trabalho na área de contos e romances. “Eu estou investindo em prosa agora, escrevendo ficção que é outra aventura”. O percurso de Astier parece ser pontuado por uma constante reinvenção. Sobram palavras para definilo, seja como poeta, jornalista ou teatrólogo. Suas obras, por si só, já são referência aos aspirantes a escritor, o que não é pouco para um jovem poeta. Mas, para mim, o exemplo que fica é o da figura plural.


DEZEMBRO/ 2010

PERFIL

PÁGINAS DA HISTÓRIA DO JORNALISMO Andréa Karinne

O fundamento do trabalho de William sempre foi a leitura, sendo a literatura sua maior escola. “Eu ouso dizer que os livros representaram minha grande academia, até mais do que o curso de Comunicação”, revela o jornalista. E sobre seus professores, William destaca os principais. “Vou falar dos brasileiros: Guimarães Rosa, na ficção, Ariano Suasuna, nas duas coisas, como pensador e como ficcionista, Celso Furtado, Euclides da Cunha, José Lins do Rêgo. Essa turma aí dá uma base muito bacana”, elenca. William Costa acredita que a formação de um profissional de cultura requer uma atenção bem específica. O que permitirá ao leitor adquirir conhecimentos através das reportagens. “Eu acho fantástico esse papel formador do jornal, do incentivo à cultura. Essa formação só é atingida através da educação, porque o leitor tem interesse em conhecer. E a forma de passar essa informação tem que ser a mais didática possível”, explica o jornalista. No que se referem às críticas desenvolvidas por William Costa, o jornalista conta que nunca teve problemas com a censura. Já que ele acredita que os profissionais não devem se colocar contra a linha editorial do jornal. A menos que seja algo muito grave, e que valha à pena correr todos os riscos. Ele defende assim, um papel de divulgador para o jornalista cultural. “A gente trabalha mais como o divulgador, como incentivador da cultura. A produção cultural é boa, mas tem uma recepção complicada”, sugere William. Em 1989, houve a última grande greve dos jornalistas na cidade. O fato culminou

ANDRÉA KARINNE ALBUQUERQUE

Com quase 24 anos de batente, William Costa viveu alguns dos momentos mais importantes da história do jornalismo cultural na cidade de João Pessoa. Ele começou a trabalhar com cultura, quando nos jornais nem mesmo existia uma editoria especializada. E, o que havia na época, era um grupo de jornalistas que tinha uma grande desenvoltura nessa área de atuação jornalística.

WILLIAM PARTICIPOU DA PRIMEIRA EDITORIA DE CULTURA

com uma demissão em massa de vários profissionais. E William foi demitido do Correio da Paraíba. Nesse mesmo ano, foi convidado para compor a equipe da primeira editoria de cultura da cidade. “Foi minha primeira experiência na área cultural propriamente dita, lá no jornal “O Momento”, sob o comando do editor Walter Santos”, lembra o jornalista. William permaneceu por pouco tempo nesse veículo, voltando, logo em seguida para o “Correio da Paraíba” já como repórter de cultura. No início dos anos 90, o jornal “O Norte” passou por uma reforma, criando o caderno de cultura chamado “Show”. A escolha pelo nome veio de Brasília, sede dos Diários Associados, conglomerado de comunicação do qual o jornal faz parte. “Na época, o nome gerou uma grande polêmica, não gostávamos, pois era em inglês e tinha sido imposto pelo pessoal de Brasília”, explica William. Apesar da contestação inicial, o jornalista conta que a primeira versão do caderno “Show” representou uma das melhores e mais importantes fases do jornalismo cultural da cidade. Já que eles contavam com uma equipe muito experiente com o espaço para o exercício da crítica. Para William, a segunda melhor fase do jornalismo cultural paraibano ocorreu no jornal “A União,” por meio da publicação de suplementos culturais. “Foram três cadernos que fizeram sucesso na área cul-

tural: “Estante”, “Idéias” e o “Correio das Artes”, foi bem bacana”, lembra William Costa. Em pouco tempo, os outros veículos consolidaram suas equipes de cultura. E criaram seus cadernos, como o Correio da Paraíba e o Jornal da Paraíba. “Eu acho que foi um momento muito bom do jornalismo cultural, em meados dos anos 90 até 2000. Por conta da equipe e estrutura, jornalismo é basicamente isso, se não tiver uma boa equipe, não dá certo”, sugere Costa. Para o coordenador, o jornalismo cultural da cidade precisa avançar muito, não por culpa dos profissionais. Em geral João Pessoa faz coberturas e textos muito respeitados. “Eu conheço bem a realidade dos meus colegas, é quase a mesma em todos os veículos, os salários são muito ruins, infelizmente a gente também não avançou nesse segmento salarial, e isso é uma coisa muito importante, é o básico”, justifica William.

BREVE CURRÍCULO Jornalista, escritor e crítico de arte. Especialista em Filosofia Clássica e Mitologia. Há 23 anos, trabalha com cultura, assessoria de imprensa, edição de livros, desenvolvimento de projetos e coordenação de setores de Literatura. Já atuou nas rádios: “Tabajara” (redator-noticiarista), “Correio da Paraíba” (redator) e “Tambaú” (editor de Jornalismo); nos jornais: “O Norte” (repórter), “Correio da Paraíba” (repórter de Política e de Cultura), “O Momento” (repórter de Cultura), e a “A União” (editor de Cultura, editor de cadernos de Literatura e Arte, chefe de Redação, editor-adjunto e editor geral); nas revistas: “Bastidores” (repórter e redator), “Fabulação” (colaborador), “A&D Arqui-tetura” (colaborador). Assim como, trabalhou nos demais setores, como assessor de imprensa: “Secom”, “Subsecretaria de Cultura da Paraíba”, e “Funesc”, (onde foi coordenador de Literatura e da Memória Cultural). Também é membro da “Sociedade de Cultura Musical da Paraíba”, “API”, “Colégio Eleitoral do Prêmio Multicultural Estadão” e júri do “Prêmio Portugal Telecom de Literatura”. Atualmente, organiza seminários, workshops, palestras, mesas-redondas e oficinas de Literatura. É editor de Cultura do jornal “O Norte” (João Pessoa) e da revista “Pessoa”, e assessor da Fundação “Casa de José Américo”.


DEZEMBRO/ 2010

PERFIL

A ARTE DE ESCREVER SOBRE CINEMA Isabelle Frota e Andréa Karinne

Desde muito jovem, João Batista participava das sessões das salas da capital paraibana, quando eram comuns os cinemas de bairro. Nos anos sessenta, época em que fazia o curso secundário, lia tudo sobre os críticos locais. “Eu lia sobre cinema – livros, revistas, resenhas: tudo que me caia nas mãos”, lembra. Contudo, revela que só passou a escrever tempos depois, quando já dominava os conceitos fundamentais da teoria da linguagem, sentido-se mais seguro para o exercício da crítica. Quando João Batista começou a escrever nos jornais, uma de suas maiores dificuldades foi encontrar a melhor maneira de sistematizar o saber teórico de modo pessoal e livre. Bem como, tornar a teoria aplicável às leituras dos filmes e acessível para um público leigo no assunto. “Claro que tive muitas dificuldades, de várias ordens. A primeira era escrever mesmo, uma dificuldade que ainda hoje tenho: cada novo texto é uma luta que só aponta as minhas limitações de escritor”, conta Batista. O crítico goza do status de especialista, ratificado na profundidade de análise encontrada nos seus textos. Sendo assim, faz-se necessário lançar mão de conceitos para agregar valor ao seu trabalho, sem que os mesmos prejudiquem a compressão do público. “No começo, tive muita dor de cabeça, mas, com o tempo, fui encontrando soluções interessantes. Uma delas foi introduzir o termo novo e explicá-lo ao leitor”, esclarece João Batista. O crítico acredita que muitas pessoas têm o gosto amarrado por questões ideológicas, Assim, subestimam ou superestimam filmes a partir dessa perspectiva. Amante dos filmes clássicos, o crítico se aborrece com opiniões contrárias. “Quando testemunho um grande clássico do passado sendo desprezado por alguém, me ofendo, e passo (desculpem) a subestimar a tal pessoa como se ela não fosse digna do

ARQUIVO PESSOAL

Em 1981, a revista ‘Oficina Literária’, publicou a crítica de cinema, intitulada “A esperança como paradigma cinematográfico”, onde analisava filmes de Glauber Rocha, Frederico Fellini e Ingmar Bergman. A produção marcou a estreia do crítico, João Batista de Brito no cenário cinematográfico. Para muitos, este acadêmico com doutorado em literatura e cinema significa uma das mais sólidas personificações paraibanas da cinefilia. Seus textos revelam os sentidos que se desvela o universo da sétima arte.

JOÃO BATISTA DE BRITO MERGULHA NA SÉTIMA ARTE

meu convívio cinéfilo. Como se percebe, não sou lá muito democrático”, confessa. Para quem sonha em tornar-se crítico de cinema, o pré-requisito mínimo está intrínseco: “ter paixão pelo cinema” que, segundo João Batista “ou a pessoa tem ou não tem”, não se adquire. Além disso, é preciso ver muitos filmes. “Sem nunca esquecer os antigos, aqueles da primeira metade do século XX, que definiram o básico da linguagem cinematográfica”, sugere o crítico. A leitura é indispensável. “Especialmente a teoria, que é a parte mais árida e a mais necessária para a análise”. Outra característica recomendada por João Batista é cultivar o interesse pelas outras modalidades de arte e pela cultura humana de uma maneira geral. Na Internet, estão disponíveis inúmeras informações sobre filmes. Para João Batista, esse fenômeno é, ao mesmo tempo, bom e ruim para os críticos. É bom porque o profissional pode “rechear” seu texto com todas as informações que desejar. No entanto, o texto não pode perder a perspectiva pessoal, analítica e interpretativa. “O grande crítico precisa saber administrar a informação para que ela não tome conta de suas opiniões e as apague”, alerta Batista. Era 1995, foi o ano do centenário do cinema, no Hotel Globo, em João Pessoa. Nesse cenário ocorreu um dos momentos mais importantes da carreira de João Batista de Brito. O lançamento do seu livro “Imagens Amadas” (Ateliê Editorial), que fez parte de uma imensa festa para cele-

brar a sétima arte. Havia vários elementos em número de cem, entre eles: pôsteres, livros, músicas e cenas de filmes exibidas em telão. “Algumas pessoas foram vestidas de personagens cinematográficos. Uma das mais curiosas foi uma amiga que foi de Salomé, com minha cabeça de gesso numa bandeja, já que me chamo João Batista”, comenta o crítico. Além das críticas cinematográficas, João Batista escreveu vários livros, em que discorre sobre as diferenças semióticas entre a literatura e o cinema, fruto da estreita relação entre as duas artes, paixões constantes do escritor. “Sempre respondo a esta pergunta dizendo que gosto das duas, porém, dizem as más línguas que me traio, pois, na prática escrevo muito mais sobre cinema”. Neste ponto, se defende, e cita o livro que é considerado pelos especialistas, um verdadeiro diálogo entre os dois gêneros: ‘Literatura no Cinema’ de 2006. “Ele é uma prova concreta da duplicidade de meu interesse”, argumenta João. O ensaísta vive hoje uma fase bastante interessante. “Há um filme japonês dos velhos tempos cujo título acho charmoso: ‘A rotina tem seu encanto’. A minha tem”. Aposentado do exercício docente, onde lecionava no departamento de Letras da Universidade Federal da Paraíba, João Batista escreve para o suplemento ‘Correio das Artes’, o jornal ‘Contraponto’ e uma revista canadense, em Toronto, chamada ‘Etc & Tal’. “Trabalho mais do que quando estava no batente da sala de aula. Só que com muito mais prazer”, define o escritor Publicou, entre outros, os seguintes livros: ‘Passou no Banguê’ (1996), ‘Leituras poéticas’ (1997) e ‘Um beijo é só um beijo: minicontos para cinéfilos’ (2001). Seu projeto mais recente chama-se ‘De olhos bem abertos’. “São 150 ensaios de crítica cinematográfica que recobrem todo o século XX, dos irmãos Lumiére até o início do novo milênio”, revela Brito. Dono de uma carreira sólida, marcada por crescentes conquistas nacionais, João Batista almeja novos desafios.“Gostaria de ter mais leitores jovens.[...] Ficaria feliz se pudesse ter a sensação de que os meus escritos estão repercutindo – e eventualmente, dando frutos – junto a uma camada mais nova e mais inquieta de leitores”, confessa Batista. Certamente, essa tarefa não será tão difícil, dada a complexa e rica produção do autor, que tem muito a acrescentar aos amantes do cinema de qualquer geração.



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