Excerto A Cultura do Sabugueiro

Page 1

A CULTURA DO SABUGUEIRO Daniela Faria Leonel Gomes

Agrobook


ÍNDICE

Prefácio

v

Introdução

1

1.

Enquadramento taxonómico e origem

2

2.

Utilização e Composição

4

3.

Estatísticas sobre a produção

6

4.

Material Vegetal

7 7

4.1. Morfologia 5.

4.2. Caracterização das Cultivares

10

Condições Ambientais

13

5.1. Exigências Climáticas 5.2. Preferências Edáficas 6.

Tecnologias de Produção

13 13 14

6.1. Preparação do Terreno

14

6.2. Instalação da Cultura

16

6.3. Densidade e Compassos

18

6.4. Práticas Culturais

19 19

6.4.1.

Poda

6.4.2.

Fertilização

20

6.4.3.

Rega

23

6.4.4.

Inimigos da cultura

23

6.5. Colheita

27

7.

Pós-Colheita e Processamento

32

8.

O Sabugueiro na gastronomia e no quotidiano

33

Referências Bibliográficas

37


INTRODUÇÃO

Planta bem conhecida dos Portugueses, e para muitos considerada uma autêntica infestante, o sabugueiro (Sambucus nigra L.) é um arbusto espontâneo em muitas regiões húmidas do Centro e Norte. Conhecido de alguns pelas virtudes terapêuticas da flor, de outros pelas fraudes do tempo do vinho a martelo (em virtude da riqueza em antocianinas da sua baga), e por muitos pelas zarabatanas feitas na mocidade com os seus caules ocos ou até pelo facto de a varinha mágica mais poderosa de Harry Potter ser feita com madeira desta planta a verdade é que, de entre os pequenos frutos, este é um dos que há mais tempo se afirmou no panorama nacional do mercado de exportação. O género Sambucus tem múltiplos usos, incluindo estabilização das margens ribeirinhas e quebra-ventos, alimento e refúgio para a vida selvagem, ornamental, fonte de alimento humano versátil, utilizado na construção de pequenos instrumentos mas não esquecendo o seu importante uso medicinal. Quanto ao seu uso mágico, acreditava-se que as propriedades do sabugueiro mantinham as bruxas à distância. Existem imensas curiosidades há volta do sabugueiro, planta associada ao esoterismo. Apesar dos vários estudos científicos realizados a nível mundial sobre a cultura do sabugueiro nas últimas duas décadas poucos foram publicados. Estudos sobre avaliação da seleção, cultivo e gestão do sabugueiro para a vida selvagem e gestão do habitat foram realizados nos EUA em espécies autóctones, na Europa estudou-se também a ecologia da espécie europeia do sabugueiro nas Ilhas Britânicas. A nível químico, as propriedades medicinais do sabugueiro também têm vindo a ser alvo de estudo, valorizando os seus produtos. Em Portugal, a Universidade de Aveiro tem vindo a estudar os compostos bioativos visando a valorização da baga e da flor de sabugueiro. Apesar de bem estabelecida a produção comercial em muitos países da Europa e um crescente interesse na América do Norte, pouca atenção tem sido dada a esta cultura. E em Portugal, onde durante muitos anos foi o pequeno fruto com maior área plantada e o segundo em valor de exportação, a seguir ao morango, nem sequer constava das estatísticas ao contrário de outros de menor relevância.

1


1. ENQUADRAMENTO TAXONÓMICO E ORIGEM

2

A família Adoxaceae (sensu lato), à qual pertence o sabugueiro, compreende 18 géneros e 450 espécies, distribuídas principalmente nas regiões temperadas do Hemisfério Norte (Europa, América do Norte, oeste e centro da Ásia, e norte da África), com uma menor distribuição no Hemisfério Sul. Como classificação taxonómica, o sabugueiro pertence à família Adoxaceae e género Sambucus. Contudo, não só há controvérsia quanto às espécies como também quanto à família em que deve ser integrado, tendo já havido alterações de classificação botânica nos últimos 200 anos. O género Sambucus possui cerca de 25 subespécies. Entre elas, destacam-se Sambucus nigra subsp. nigra L., Sambucus nigras ubsp. ebulus L., Sambucus nigra subsp.canadensis L., Sambucus australis Cham. & Schtldl e Sambucus nigra subsp. lanceolata (R. Br.) Lowe. Todas elas mencionadas como espécies medicinais nas suas regiões de origem. O Sambucus nigra subsp. nigra L. é vulgarmente encontrado na Europa e na Ásia Ocidental. Na Figura 1.1 encontra-se a distribuição de espécies como o Sambucusnigrasubsp. canadensis L. e Sambucus nigra subsp. cerulea.

Legenda Sambucus nigra subsp. canadensis (Sambucus canadensis) Sambucus nigra subsp. canadensis (Sambucus mexicana) Sambucus nigra subsp. cerulea (Sambucus glauca) Sambucus nigra subsp. cerulea (Sambucus velutina)

Figura 1.1. Distribuição geográfica de subespécies do Sambucus nigra na Améria do Norte Fonte: Adaptado de Atlas of United StatesTrees


As flores são de cor branca a branca-creme, pequenas, dispostas em amplas cimeiras corimbosas terminais, monoclinas [quando a flor apresenta androceu (órgão reprodutor masculino) e gineceu (órgão reprodutor feminino)], diclamídeas [quando a flor é completa (sépalas, pétalas, androceu e gineceu)], pentâmeras ou tetrâmeras (4 a 5 pétalas), actinomorfas (simetria radial, ou seja, pode ser dividida em várias partes iguais) (Figura 4.1.4).

9 Figura 4.1.4. Inflorescência do sabugueiro

O androceu é formado por quatro ou cinco estames epipétalos (estames unidos a pétala), de tamanhos iguais e o gineceu, em regra, por três capelos soldados entre si, com três lóbulos e três rudimentos seminais, de placentação axial (diz-se da placentação de um ovário pluricarpelar sincárpico, cujos óvulos se inserem nos ângulos internos formados pelos septos). Em algumas inflorescências ocorre predominância de flores tetrâmeras. A eclosão das flores, em maio/junho, não se processa ao mesmo tempo, surgindo em primeiro lugar as maiores, que estão situadas mais próximas do eixo (Figura 4.1.5.).

Figura 4.1.5. Vários estágios da floração do sabugueiro


Afídeos Os afídeos, hemípterosde cor cinzento-escura, também designados por piolhos ou pulgões, constituem uma praga importante. O Aphissambuci L., conhecido vulgarmente por piolho negro do sabugueiro, é uma praga exclusiva desta cultura e muito frequente, mas raramente grave (Figura 6.4.4.1).

24 Figura 6.4.4.1. Colónia de Aphissambuci L.

Tendo preferência pelas folhas e pelos ramos mais novos, as suas populações chegam a cobrir extensões de mais de 30 cm. As primeiras colónias aparecem no início da Primavera, podendo aí permanecer durante todo o ano. Podem encontrar-se ativos de janeiro a dezembro, no entanto durante os meses mais quentes observa-se uma maior atividade, que também coincide com a fase em que o sabugueiro está guarnecido de folhas e ramos jovens (Figura 6.4.4.2).

Figura 6.4.4.2. Colónia de afídeos num ramo jovem


É possível encontrar alguma atividade desta praga em tempo mais frio, num ou noutro ramo em que a folha permaneça por mais algum tempo. Nesta fase não provocam estragos diretos sobre a baga, mas enfraquecem os ramos que podemos vir a utilizar para a produção do ano seguinte. O sabugueiro, como planta, funciona como local onde os inimigos e alguns predadores de outras culturas, se abriguem durante algum tempo. É pois, uma planta a considerar para preservar os auxiliares de outras culturas perenes, como pomares de macieiras e vinha. O ataque destes hemípteros, inicia-se em finais do mês de fevereiro e princípios do mês de março, de acordo com as condições meteorológicas, quando o sabugueiro já possui alguma vegetação e desde que o tempo decorra relativamente seco. Os ataques são nocivos ao nível da produção, uma vez que a praga destrói os gomos a quando do abrolhamento, comprometendo, assim a produção do ano e o número de varas para o ano seguinte. Normalmente esta praga é combatida pela ação de inimigos naturais (predadores e parasitoides) sendo os mais célebres as “joaninhas”, quase nunca havendo necessidade de realizar tratamentos. Em caso de ataques que possam vir a pôr em causa a floração, e quando os respetivos predadores (Figura 6.4.4.3.) não sejam visíveis, são aplicados inseticidas. Por vezes, uma forma de controlar a praga é limitar-se a combater um seu aliado, as formigas, que os defendem para libarem os exsudados açucarados.

Figura 6.4.4.3. Colónia de afídeos predados por Coccinella septempunctata adulta

25


Aranhiço Vermelho O aranhiço vermelho (Panonychus ulmi K.), também pode atacar o sabugueiro (Figura 6.4.4.4). Com a intensificação da cultura, aumento dos teores de azoto, plantada em campos extremes, sem enrelvamento ou com este completamente seco, a proliferação do aranhiço vermelho está mais facilitada. Esta praga é mais frequente em períodos quentes e secos.

26

Figura 6.4.4.4. Aranhiço vermelho macho (esquerda) e fêmea (direita)

Em condições de equilíbrio biológico, o aranhiço-vermelho é controlado naturalmente pelos seus antagonistas e não constitui perigo para as culturas. Porém, sempre que esse equilíbrio é quebrado, em consequência do abuso de certos inseticidas e/ou fungicidas lesivos dos auxiliares (por exemplo, organofosforados, piretróides ou ditiocarbamatos), as populações do aranhiço podem crescer descontroladamente e assumir o carácter de praga. Temperaturas muito altas, stress hídrico e azoto excessivo favorecem também a proliferação do aranhiço. Assim, embora seja considerada praga secundária ou ocasional, o aranhiço vermelho pode desenvolver ataques graves em campos de sabugueiro onde se verifiquem desequilíbrios biológicos, característicos pelo amarelecimento das folhas resultante das suas picadas. O tratamento deve ser feito precocemente sobre as plantas que apresentem ataques. Podendo iniciar-se com a largada de auxiliares (outros ácaros predadores). Os ovos de Inverno encontram-se sobretudo dispostos em volta dos gomos e ao nível dos primeiros nós das varas (Figura 6.4.4.5).


8. O SABUGUEIRO NA GASTRONOMIA E NO QUOTIDIANO

O sabugueiro tem ampla gama de aplicações culinárias em toda a Europa e restante mundo. A flor do sabugueiro é comum em muitas bebidas refrigerantes. Juntamente com os frutos, as flores, também podem ser usado para fazer vinho e licores. As bagas são utilizadas para fazer compotas, molhos e chutneys, enquanto partes da Escandinávia usa as bagas para fazer uma sopa tradicional. O único desafio é consumi-lo de uma forma que oferece todos os benefícios nutricionais. Apresenta-se aqui algumas receitas que podem ser utilizadas no quotidiano.

Xarope de Baga de Sabugueiro 1 kg de bagas de sabugueiro 1 kg de açúcar 1 l de água fervente

Modo de Preparação: Numa panela, coloque para ferver a água e o açúcar por cerca de dez minutos. Adicione um quilo das bagas de sabugueiro e deixe ferver por quatro minutos. Agora é só retirar do fogo, cobrir, deixar descansar por duas horas e depois peneirar. Por fim é só cozinhar novamente e colocar em garrafas.

33


Fritos de Flor de Sabugueiro 1 ovo 200 g de farinha 50 g de açúcar 450 ml de leite 6 grandes corimbos de flor de sabugueiro Óleo para fritar 1 colher de sopa de mel Sumo e as raspas de 1 limão

36

Modo de Preparação: Usando um garfo, bata o ovo, farinha, açúcar e leite, juntamente com as raspas de limão. Esprema o limão e coloque seu sumo de lado. Deixe repousar a massa por uma hora. Numa frigideira antiaderente, aqueça cerca de meio cm de óleo em lume forte. Sacuda as flores de sabugueiro de forma a estas não terem quaisquer insectos, mas não as lave, pode perder o sabor característico das mesmas. Mergulhar as flores na massa grossa, segurando pelo caule, em seguida, colocar, com o lado flor em primeiro lugar, no óleo quente. Vire os corimbos após cerca de dois minutos. Frite também do lado do caule. Em seguida, retire e escorra em papel de cozinha. Num prato de servir, disponha os corimbos já preparados com algumas flores de sabugueiro frescas, regue com sumo de limão. Pode também polvilhar com canela e açúcar em pó!


Sobre o livro Planta bem conhecida dos Portugueses, e para muitos considerada uma autêntica infestante, o sabugueiro é um arbusto espontâneo em muitas regiões húmidas do centro e norte. Conhecido de alguns pelas virtudes terapêuticas da flor, outros pelas fraudes do tempo do vinho a martelo (em virtude da riqueza em antocianinas da sua baga) e por muitos pelas zarabatanas feitas na mocidade com os seus caules ocos, na verdade é, de entre os pequenos frutos, um dos que há mais tempo se afirmou no panorama nacional do mercado de exportação Escrito numa linguagem acessível, prática e com os diversos temas adaptados às condições específicas portuguesas, encontram-se resumidos nesta obra os conhecimentos básicos necessários para ter êxito na produção de baga de sabugueiro: como instalar o pomar, preferências edafoclimáticas, que operações culturais a realizar, como prevenir e combater as doenças e as pragas que atacam o sabugueiro, etc.

Sobre os autores Daniela Faria Licenciada em Engenharia Agronómica na Escola Superior Agrária de Ponte de Lima – Instituto Politécnico de Viana do Castelo desde 2014, Daniela Faria é técnica agrícola na Associação Inovterra onde tem vindo a desenvolver diversos projectos e acompanhado a produção do sabugueiro. O seu mais recente trabalho em mãos é o desenvolvimento do Projeto “Horto Monástico” inserido no antigo Mosteiro de São João de Tarouca, no concelho do Vale Encantado – Tarouca. Leonel Gomes Leonel Gomes, tirou, em 1994, bacharelato em Produção Agrícola pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco. É, atualmente, técnico na Associação de Fruticultores Beira Távora, em Moimenta da Beira. Ao longo do seu percurso desenvolveu as suas funções durante 14 anos na Cooperativa Agrícola do Vale do Varosa, passando também pela Organização de Produtores Agrícolas do Varosa.

www.agrobook.pt

ISBN: 978-989-723-146-9

Agrobook


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.