Manual de História do Brasil

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MANUAL DO CANDIDATO – HISTÓRIA DO BRASIL

industriais, clubes sociais de prestígio e centros culturais e, finalmente, por meio da criação de organizações de ação que se tornaram os focos de suas atividades ideológicas.96 A concentração capitalista, por sua própria natureza, com sua produção multinacional em grande escala, a qual era tanto diversificada quanto integrada regionalmente, e, que se utilizava da mobilização de enormes recursos de capital, de perícia especializada e de equipamento complexo, fez com que o bloco de poder oligopolista necessitasse de informação acurada para um macro-marketing eficiente. Em meados da década de 1950, o planejamento havia resolvido com êxito problemas de produção e de comércio em sua esfera corporativa. No final daquela década, economistas influentes, militares, técnicos e empresários exigiram um planejamento indicativo, o qual consideravam como um empreendimento nacional necessário.97 O planejamento indicativo foi apresentado como um fator importante no desenvolvimento capitalista, um elemento de direcionamento da sociedade e de supervisão das diretrizes macroeconômicas. Os argumentos a favor de sua institucionalização foram debatidos acaloradamente em associações de classes empresariais, na Escola Superiores de Guerra e nos think-tanks governamentais.98 96

Os tecno-empresários multinacionais e associados não estavam sozinhos em seus esforços “racionalizantes”. Segundo Lincoln Gordon, embaixador americano no Brasil durante a presidência de João Goulart, “a partir do famoso ‘Ponto IV’ do presidente Truman, em 1949 os Estados Unidos empreenderam um programa mais intenso de assistência técnica. Os conceitos de assistência técnica baseavam-se amplamente na experiência iniciada na América Latina pelo presidente Franklin D. Roosevelt e por Nelson Rockefeller em 1939.” Lincoln GORDON. ESG. Documento n. C-41-62. 97 Vide Roberto de Oliveira CAMPOS. A experiência brasileira de planejamento in Mario H. SIMONSEN & Roberto CAMPOS. A nova economia brasileira. Rio de Janeiro, José, Olympio, 1974. p. 48-60. O tecno-empresário Paulo Sá explicou, em carta a seu amigo e líder da UDN Herbert Levy, as atividades de seu escritório de consultoria tecnoempresarial, CBP: “Se na Rússia dos Soviets [sic] os planos pertencem à burocracia do Estado, nos países livres acreditamos que tais planos têm de ser confinados no sistema geral, por meio do qual as questões de governo devam ser resolvidas: mediante um contrato com entidades particulares apropriadas, capacitadas e honestas, sob o controle indispensável do Estado. Os escritórios de consultoria no Consórcio apresentam tais qualidades.” Carta de Paulo Sá a Herbert Levy, escrita no Rio de Janeiro em 27 de janeiro de 1959. Ela se encontra nos arquivos de Paulo de Assis Ribeiro, no Rio de Janeiro. 98 O planejamento indicativo, equivalente ao planejamento incompleto, enfatiza a falta de planejamento nacional quanto a diretrizes verdadeiramente sociais. Vide (a) Roberto CAMPOS. Economia, planejamento e nacionalismo. Rio de Janeiro, APEC, 1963. (B) Roberto CAMPOS. Planejamento do desenvolvimento econômico de países subdesenvolvidos. ESG. Documento n. 1-16-53. (c) Octávio Gouveia de BULHÕES. Problemas do desenvolvimento econômico. ESG. Documento n. 1-80-54. (d) Antônio Carlos da Silva MURICY. Planejamento governamental. ESG. Documento n. C-29-56. (e) José Sinval M. LINDENBERG. Planejamento do fortalecimento do potencial nacional. ESG. Documento n. C-29-59.

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