Manual de História do Brasil

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MANUAL DO CANDIDATO – HISTÓRIA DO BRASIL

que no seu conjunto os empresários passaram a uma oposição aberta ao regime, como fizeram em 1964. As manifestações das organizações empresariais atualmente mostram um aspecto inusitado na política brasileira: pela primeira vez sua ação política se realiza publicamente e por meio de suas organizações de classe,54 em vez de expressarem suas demandas segundo a modalidade anterior, ou seja, dirigindo-as, direta e exclusivamente, aos escalões administrativo-burocráticos ou por meio de conspirações junto aos quartéis. 5. As recentes intervenções militares nas mobilizações grevistas e reivindicatórias ou em áreas que dizem respeito a reformas econômicas e sociais, somadas às medidas tomadas pela presidência da República, de comum acordo com as lideranças dos maiores partidos, para ordenar as eleições de 1986, podem aprofundar, junto às forças de esquerda e centroesquerda, um sentimento de descrença quanto ao gozo de seus direitos políticos e às chances de competição partidária que lhes teria propiciado o novo regime.55 Por uma parte, este restringe profundamente o espaço de ação 54

Entre as associações empresariais que surgiram nos últimos anos uma das mais importantes a que

congrega proprietários rurais, a União Democrática Ruralista MDR) que, entre 1986 e 1987, aumentou o número de associações de trinta e sete para duzentos e o número de associados de cinqüenta mil para duzentos e trinta mil. Ver Revista Veja, 11 de novembro de 1987. 55 A atitude oficial por parte das autoridades da Nova República em relação ao conflito na sociedade civil indica uma enorme continuidade com a ditadura, como se pode depreender a partir do agravamento da militarização dos conflitos. Segundo a Folha de São Paulo (8 de março de 1987), os fuzileiros navais da Marinha de Guerra, sem que tenha havido nenhuma determinação legal, ocupam portos por ocasião de uma greve marítima (de civis) e logo depois o Exército ocupa refinarias de petróleo “preventivamente”, em vista de uma greve anunciada pelos operários dessas refinarias (F. S. P., 11 de março de 1987). Durante uma greve geral, o Exército ocupa a usina siderúrgica de Volta Redonda e a estação ferroviária da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e em São Paulo ocupa a COSIPA em Cubatão, apesar de ali os operários nem estarem em greve – quase provocando uma sublevação (F.S.P., 13 de março de 1987). Essa militarização do conflito se prolonga com uma truculência generalizada por parte de várias administrações públicas ao lidarem com greves e manifestações. Mil pessoas, do movimento dos Sem Terra, na zona leste de São Paulo, foram dispersadas em fevereiro de 1987 com jatos d’água, em frente aos portões do Ibirapuera, onde faziam uma manifestação contra o prefeito Jânio Quadros. Ver Folha de São Paulo, 10 de fevereiro de 1987. O presidente do Partido dos Trabalhadores em São Paulo, o ex-deputado Djalma Bom, foi indicado na Lei de Segurança Nacional, acusado de ofender o Presidente da República. Ver Folha de São Paulo, 16 de julho de 1987. Em abril de 1987, em Brasília, quando de uma manifestação de bancários, a polícia militar dissolve piquetes e agride violentamente parlamentares, numa coreografia que os movimentos da sociedade civil conheceram na ditadura. Ver Folha de S. Paulo, 1 de abril de 1987. Para uma análise geral ver Paulo Sérgio Pinheiro, Os Movimentos Sociais na Nova República, mimeo, 1987. O relato feito por Alfred Stepan neste volume sobre o papel dos militares em relação às decisões sobre a reforma agrária e sobre os acordos comerciais com a Argentina é, ilustrativo dessa intervenção das Forças Armadas. Ver Maria do Carmo Campello de Souza, op. cit., 1987, onde analisa as medidas de regulamentação das organizações partidárias no início da Nova República.

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