Manual de História do Brasil

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UNIDADE III – SEGUNDA REPÚBLICA

Apesar das memoráveis adesões de mulheres, estudantes, universitários, a Revolução de 1932 resultou em fracasso militar. Não recebeu as adesões esperadas dos estados. Não conseguiu realizar a idealizada Revolução Branca. Mas suas conseqüências políticas nos permitem concluir que confrontos podem ser necessários porque exercem a função de eliminar atores e conflitos. O Brasil depois de 1932 já não seria o mesmo. São Paulo deixou de ser “presa de guerra” nas mãos dos forasteiros e os reclamos de Bertoldo Klinger, Isidoro Dias Lopes e Euclides Figueiredo foram atendidos: acabou-se o “militarismo subalterno” e o Exército recuperou a hierarquia. Quem melhor aprendeu a lição foi Vargas, que viu no episódio a comprovação de que seria impossível instaurar no Brasil o estado unitário, alheio à tradição federalista. Ficaram definidos os limites possíveis da influência regional e oligárquica, De 1932 resultou ainda a convicção de que os estados deveriam representar, mesmo sob o controle central, papel decisivo no pacto nacional, corporativo, desenvolvimentista em curso. Daí por diante as unidades federadas seriam tratadas como peças decisivas do jogo político, capazes de evitar um golpe de caserna e produzir um “golpe de mestre”. Como o de 1937. São Paulo recuperou sua luz dentro da federação. Não da maneira que esperava, pela representação política, tantas vezes frustrada – com Júlio Prestes em 1930 e Armando de Sales em 1937; no governo incompleto de Jânio Quadros em 1960 e nas eleições de 1989, com tão expressiva safra de candidatos paulistas. A ordem híbrida criada pela Constituição de 1934 a ninguém pareceu satisfatória. Aos poucos Vargas vai ocupando os estados e preparando o golpe: com Benedito Valadares penetra em Minas, em 1933. Ao depor Pedro Ernesto, ocupa o Distrito Federal em 1936. Ajuda Nereu Ramos em Santa Catarina e nomeia Amaral Peixoto no Rio. Esvazia a campanha de Armando Sales e José Américo acusando-os de estimular confrontos Norte-Sul. Em outubro de 1937, finalmente São Paulo seria vingado contra o “traidor” Flores da Cunha que lhe faltara à última hora em 1932 e representava a última resistência civil ao golpe. Mas, como São Paulo cinco anos antes, não encontrou defensores. Em 1932, a federação democrática estava ainda próxima demais das práticas da República Velha, que só poderiam ser aperfeiçoadas dentro dos limites da hierarquia social da época. Estas práticas pareciam inapropriadas à construção de uma nação moderna. Hoje podemos sonhar com um Brasil descentralizado que concilie federalismo com cidadania e eqüidade. E que consiga debelar a crise do estado unitário pelo dinamismo de suas unidades, pela divisão justa dos impostos, da representação política e dos resultados do trabalho.

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