Manual de História do Brasil

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MANUAL DO CANDIDATO – HISTÓRIA DO BRASIL

LUTA FOI CONTRA ESTADO UNITÁRIO. CAMARGO, Aspásia in O Estado de São Paulo, 9 de julho de 1992 Passados os traumas que cercaram este importante episódio é possível avaliar sua dimensão com o mesmo distanciamento que devemos guardar para a Era Vargas, da qual a Revolução Paulista não se dissocia. É este distanciamento que permite extrair do evento lições para o futuro da democracia brasileira. A Revolução de 1932 foi a última das manifestações contra o poder central, ocorrida como prolongamento mitigado das revoltas do século XIX, de cunho regionalista e separatista. Resultou dos confrontos que opuseram uma revolução centralizadora e reformista, dominada pelos militares e o positivismo gaúcho, ao federalismo democrático sob influência das oligarquias e do constitucionalismo. Infelizmente, esse, confronto se origina de uma oposição perversa que nos acompanharia durante muito tempo: ter de permanentemente optar entre democracia social e democracia liberal. Para os seguidores de Vargas a democracia formal era um engodo tão grande quanto o liberalismo. Para as oligarquias paulistas a democracia social era questão de polícia. Neste desencontro fatal engendrou-se o populismo e, o udenismo. Diante deles tivemos de nos acomodar a dois males, os regimes de exceção e as democracias de fachada, que nos fizeram perder cinco décadas. Estas cinco décadas deram ao Brasil crescimento econômico sem precedente, mas foram incapazes de oferecer melhor solução para os problemas sociais; e desestabilizaram a ordem constitucional e instituições políticas. Tivemos nesse período duas longas ditaduras, diversas Constituições de nenhuma utilidade, golpes, deposições, renúncias. Ao final, podemos perguntar se não teria sido mais simples tentar, desde o início, conciliar as duas coisas, a justiça social e o Estado de Direito, e se, tivesse a revolta sido vitoriosa, estaríamos ou não mais perto deste desfecho feliz. Os antecedentes nos levam a reconhecer a importância que teve a revolta como manifestação de uma crise de identidade na política paulista. E como ponto de mutação da federação. Depois de um ciclo de renovação e crescimento, provocado pela euforia do café, impacto das imigrações e Semana de Arte Moderna, o final da década de 1920 foi, para São Paulo, portador de más notícias. A grave crise econômica acentuou a dependência de São Paulo ao governo federal, debilitando-o diante dos demais estados. Tal situação estimulou alianças regionais que substituíssem a política do “café-com-leite”. O impasse acabou por dividir também as elites paulistas. Um segmento mais auto-suficiente desejava garantir praticamente sozinho, e

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