Manual de História do Brasil

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MANUAL DO CANDIDATO – HISTÓRIA DO BRASIL

deturpação dos verdadeiros ideais republicanos. Reivindicava, para o Exército, o papel de árbitro dos problemas nacionais, devendo a corporação intervir de maneira violenta para sanear as instituições, livrando-as da corrupção e da ineficácia dos políticos civis. “Os tenentes, enquanto oficiais do Exército brasileiro envolvidos na política civil, construíram sua identidade com base na sua particular forma de encarar e de encarnar o papel político arbitral que reservavam para esse Exército. Não bastava para eles a dedicação exclusivamente profissional para execução de suas tarefas constitucionais (defesa da soberania, da integridade territorial, da ordem interna) (...). Para os tenentes, o Exército só poderia defender sua autonomia agindo efetivamente, intervindo coletivamente para resguardar sua integridade e promover uma regeneração política. O destino político do Brasil passa, nessa concepção, pela missão carismática de uma instituição que tem como requisito de sua própria sobrevivência a vocação de arbitrar o momento de sua intervenção salvadora”93. Em julho de 1922 eclodiu a primeira revolta tenentista, no Rio de Janeiro, onde rebelaram-se os Fortes de Copacabana e do Leme, a Escola Militar do Realengo e parte da Vila Militar, como reação à prisão do marechal Hermes da Fonseca, decretada pelo governo federal. A partir de então os vários episódios que caracterizaram o movimento obedeceriam, em geral, o mesmo padrão: levantes de unidades militares, comandados por oficiais de baixa patente. Em 1924, comandados pelo general da reserva Isidoro Dias Lopes e, pelos capitães Joaquim e Juarez Távora, os tenentes organizaram uma nova rebelião, onde pretendiam articular uma série de revoltas militares simultâneas em vários estados. Uma vez deflagrado o movimento em São Paulo, levantes militares ocorreram também em Mato Grosso, Sergipe, Amazonas, Pará e Rio Grande do Sul. Embora derrotadas essas rebeliões, o movimento tenentista prosseguiu por meio da chamada Coluna Prestes. Liderada por Luís Carlos Prestes e Miguel Costa, a coluna era originalmente, formada pelos rebeldes de São Paulo e Rio Grande do Sul. Até sua fuga para a Bolívia, a Coluna percorreu cerca de 24 mil quilômetros pelo interior do país, entre abril de 1925 e fevereiro de 1927. Tratava-se de um feito militar de grandes proporções do qual surgiria uma das principais lideranças nacionais. Após aderir ao comunismo, Prestes se tornaria secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, por muitas décadas, uma referência importante nas forças 93

DRUMMOND, José Augusto. O movimento tenentista: a intervenção política dos oficiais jovens.

Rio de Janeiro, Graal, 1986, p. 84.

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