Manual de História do Brasil

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UNIDADE II – REPÚBLICA VELHA

repercussão na opinião pública. por meio dos relatos da imprensa a população do Rio de Janeiro e de São Paulo entrava em contato com uma realidade que lhe era totalmente desconhecida. Por outro lado, a guerra contra os sertanejos foi explorada pelas diversas facções que disputavam a hegemonia política nesses primeiros anos de República. Considerados fanáticos, monarquistas, ignorantes e selvagens, os seguidores de Conselheiro eram antes de tudo homens marginalizados da sociedade republicana, abandonados à sua própria sorte, que procuravam alternativas de sobrevivência. Em Santa Catarina, anos depois, os sertanejos também agregaram-se em torno de um líder messiânico para fundar uma comunidade organizada de acordo com as regras do que consideravam uma sociedade justa. Desta feita o problema da terra apareceu de modo explícito na origem da revolta que abalou a região conhecida como Contestado. Entre os seguidores do monge José Maria, boa parte constituía-se de posseiros expulsos de suas terras por companhias estrangeiras que vieram à região construir uma ferrovia e instalar modernas serrarias. Além deles havia também “ex-trabalhadores da construção da estrada de ferro, que, trazidos das capitais de vários Estados, recrutados que haviam sido entre grupos marginalizados, acabaram sendo abandonados à própria sorte pela empresa, ao terminar a construção da ferrovia. Em todos esses casos, tratava-se de gente que encontrava no ajuntamento uma alternativa de reconhecimento social, uma chance de obter proteção e uma possibilidade de eventuais revides”25. Também na Guerra do Contestado o Exército teve grandes dificuldades, como tivera em Canudos, para destruir a comunidade organizada pelos sertanejos. Os rebeldes foram capazes de resistir durante quatro anos contra as investidas das tropas oficiais. Como ocorria no campo, nas cidades a população pobre também sofria os efeitos das transformações capitalistas na economia e da crescente modernização que as acompanhava. De quando em quando, sua insatisfação explodia em movimentos espontâneos e desordenados. Assim foi no maior deles, a Revolta da Vacina, que tomou conta das ruas do Rio de Janeiro em 1904. A capital da República tornara-se, no início do século, o maior centro cosmopolita do país, mas sua crescente importância política e econômica não condizia com sua estrutura urbana. Ruas estreitas, porto pequeno demais para a intensa movimentação de navios, áreas pantanosas que tornavam inevitáveis constantes epidemias de febre tifóide, impaludismo, varíola e febre amarela. “E o que era mais terrível: o medo das doenças, somado às suspeitas 25

Ibidem, p. 83.

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