Revista Conceitos - nº 17 | Dezembro 2012

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bancos onde contraíram empréstimos, subordinados à elevação da taxa de juros, perderam a condição de se opor ao Governo, como à época dos prefeitos Oswaldo Pessoa e Luiz de Oliveira Lima e governadores José Américo e João Agripino. Em uma palavra, a capital paraibana deixara de assinalar o predomínio das classes médias de funcionários públicos que votavam contra o governo(25). Ao revés, agregada ao aparelho de Estado cujo extraordinário crescimento favorecia o governo e seu braço político-eleitoral do PDS, as camadas médias dividiram-se, daí resultando a vantagem média marizista de 12,4 votos na Torre, 15,81 em Cruz das Armas, 12,66 no centro, 22,58 em Jaguaribe e apenas 3,13 votos, nas seções da Escola Técnica Federal da Paraíba. Com o voto vinculado desse pleito, tais resultados deveram-se, em grande parte, à votação do candidato a deputado federal pedessista Tarcísio Burity que, de um total de 173.107 votos no Estado, integralizou nada menos de 34.890 votos em João Pessoa, onde só deixou de ser o mais votado em raríssimas urnas. Essa performance buritizista também contribuiu para travar a supremacia média peemedebista em redutos como Bancários, Expedicionários e Miramar onde não passou de, respectivamente, 14,5, 20,67 e 34,42 sufrágios por urna. Dentro desse quadro, o PDS chegou a vencer no Conjunto Geisel(26). Ante as características dessa abordagem eleitoral, mais social que política, “A capital paraibana no pleito de 1982” discute as peculiaridades da nova classe média – apendicular ao aparelho de Estado – e o calo verticalista do populismo braguista que a capturava, mediante doação paternalista acionada pela máquina burocrática. Nesse particular o esquema estatal do ocaso do consulado militar penetrou firme junto às classes médias e periferia da capital, reduzindo, consideravelmente, a maioria peemedebista. 1.8. Dissidência e emersão do PT – A segunda parte de Conflitos e Convergências nas Eleições Paraibanas de 1982, 2002 e 2006(2010) focaliza as eleições governamentais paraibanas de 2002. Nelas, em razão dos acontecimentos do Clube Campestre, de março de 1998, defronta56

vam-se o PSDB do candidato Cássio Cunha Lima e o PMDB do (vice) governador Roberto Paulino, substituto de José Maranhão, postulante ao Senado. Explorando a conhecida tese da dissidência como histórica determinante do processo eleitoral paraibano, os tucanos saíram na frente, ao atraírem o PFL a cujos filiados Wilson Braga e Efraim Moraes reservaram-se as duas vagas senatoriais. Essa situação permaneceu até o início de setembro de 2002. Como as eleições eram casadas, o PMDB, todavia, começou a crescer por conta da supremacia, em sua categoria, do candidato presidencial petista Lula da Silva e pulsão do aspirante governamental Avenzoar Arruda, bem votado em João Pessoa e áreas de tensão social onde os assentamentos rurais prolongavam as Ligas Camponeses, anteriores a 1964(27). Com as alianças PSDB/PFL e PMDB/PT elegendo cada uma um senador e repartindo, quase meridianamente, os deputados federais e estaduais, a consulta governamental foi encaminhada ao segundo turno. Neste, o favoritismo propendeu para o peemedebista Roberto Paulino, como beneficiário do apoio de Lula e iminente fusão dos votos governamentais peemedebistas e petistas do primeiro turno, em municípios da zona litorânea(28). Para triunfar por 889.922 sufrágios a 843.127, o candidato Cássio Cunha Lima realizou ingente esforço que consistiu em, arregimentando prefeitos aliados no clube AABB, de Campina Grande, mobilizar o eleitorado evangélico de classe média, otimizar os redutos de Campina Grande, Santa Luzia, Patos, Cajazeiras e Solânea, atrair a esquerda moderada, até do próprio PT, e reformular o comando da campanha oposicionista. No segundo turno, este transferiu-se para o eleito senador pefelista Efraim Moraes que interveio no diretório partidário de Campina Grande e concentrou esforços na grande João Pessoa através dos candidatos governamental Cássio, senador Ronaldo Cunha Lima e prefeito Cícero Lucena cuja esposa Lauremília Lucena era candidata a vice-governador do Estado pela aliança PSDB/PFL. 1.9. Na revanche de 2006 – Desde os acontecimentos de março de 1998, em Campina Grande, as estruturas partidárias da Paraíba C O N C E I T O S Nº 17

Dezembro de 2012


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