Revista Conceitos - nº 17 | Dezembro 2012

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Analisando a imagem cinematográfica, agora no campo educacional, partiremos da perspectiva de Deleuze (2007), que difunde a ideia de que essa imagem produz inúmeras sensações fisiológicas que desencadeiam um processo cognitivo. Isso significa que a imagem cinematográfica pode levar o expectador a pensar de forma crítica e reflexiva a respeito do filme a que assistiu. Tal fato se justifica pela conjuntura imagética que se caracteriza pelo produto da soma de fatores inerentes ao contexto cinematográfico, que inferem no ato de pensar do sujeito. De acordo com o pensamento de Deleuze (2007), não basta possibilitar ao expectador a capacidade de pensar de forma ampla, genérica e, por consequência, superficial. Segundo o autor, é fundamental que o sujeito tenha autonomia suficiente para ser capaz de pensar a partir do filme. Todavia, apesar de Deleuze conceber o cinema como um campo de experimentação do pensamento, que atua de forma pensante, por meio de seus autores, e nos fazer pensar em uma relação de mediação, ele enuncia que isso seria pouco provável se idealizado da maneira clássica. Isto é, para Deleuze, mantermo-nos numa esfera filosófica para fazer emergir a questão do pensar através do cinema chega a ser uma utopia. Nesse sentido, Deleuze (2007) apoia-se em três aspectos primordiais que sustentam a questão da possibilidade de se pensar através do cinema. O primeiro aspecto corresponde ao percurso da imagem até o pensamento, ou seja, é extremamente necessário que haja, nessa relação entre imagem e pensamento, o “choque cinematográfico”, aquele que instigará a fluidez do pensar através da imagem. Em seguida, porém de forma quase que concomitante, temos o aspecto que evidencia o pensamento como produto do choque cinematográfico (imagem provocando o pensamento) e também pelo retorno sináptico dessa mesma relação, isto é, o pensamento retornando à imagem. Por consequência dessa relação síncrona, temos o terceiro aspecto a ser evidenciado - o da união sintomática da imagem com o pensamento – que incorpora, por sua vez, a relação existencial do homem com o mundo em que vive. Segundo o autor, o homem deve ser considerado a partir de sua singularidade pensante, de sua capacidade de interpretar, assimilar e gerar seus próprios pensamentos. Logo, sendo capaz de gerir sua interatiC O N C E I T O S Nº 17

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vidade pensante com a imagem cinematográfica, ele poderá, de forma consciente, entrelaçar aquilo que pensa com o meio que o entorna. Não obstante, frente ao tripé elencado, Deleuze (2007) elucida que, no cinema contemporâneo, tais aspectos encontram força nas questões-problema evidenciadas nas produções, ou seja, o cinema não mais se limita a representar o real, mas se preocupa em problematizar, também, a realidade ali abordada, instigando o espectador a refletir por meio de situações representadas pela imagem. A imagem cinematográfica e suas potencialidades A partir das concepções referenciadas, teceremos algumas reflexões que acreditamos ser pertinentes no que se refere ao uso da imagem cinematográfica como recurso icônico. Versaremos, fundamentalmente, sobre a perspectiva do contexto imagético como elemento mediador entre a imagem e o sujeito-pensante. A priori, entendemos que os estudos aqui analisados apresentam contextos diversificados, porém com similaridades conceituais em que é possível vislumbrar aproximações ideológicas acerca do uso da imagem cinematográfica como um recurso para se exteriorizar a subjetividade crítico-reflexiva. Com Aumont (1993), percebemos que a relação imagem-sujeito é mais profunda do que parece ser. Isso significa que nos sensibilizamos em relação a aspectos subjetivos que, nem sempre, são atentados quando analisados tecnicamente. O fato é que, para esse autor, tal relação não ocorre gratuitamente. Ela advém de processos de reconhecimento e rememoração responsáveis pela função do raciocínio e da memória. É o que ele chama de “construção do espectador pela imagem e construção da imagem pelo espectador”. Na perspectiva de Cabrera (2006), temos a mediação do conceito-imagem como elemento fundamental para a compreensão do contexto problemático presente num filme. Isso porque, segundo o autor, é através da sensibilidade consciente que o filme se manifesta em nossos sentidos, em nossos pensamentos. Logo, a imagem cinematográfica deve ser encarada como a “verdade nua e crua”, mas como um elemento instigador, provocador na construção do pensamento 29


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