Revista Conceitos - nº 17 | Dezembro 2012

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múltiplas esferas que implementam suas representações do mundo, onde o olhar estar relacionado aos processos históricos, culturais, orgânicos, espaciais e psíquicos. A imagem, em relação ao indivíduo, como refere o citado autor, não existe gratuitamente. Ela vincula-se ao real e estrutura-se ao valor de representação, ao valor simbólico e ao valor de signo, que engendram o uso da imagem em sua capacidade latente de “estabelecer uma relação com o mundo”. Devemos entender que, nessa relação – imagem x sujeito – segundo a teoria de Aumont (1993), delineiam-se processos de reconhecimento e rememoração responsáveis pela função do raciocínio e da memória. É o que Aumont chama de “construção do espectador pela imagem e a construção da imagem pelo espectador”. É nessa perspectiva que temos as estruturas do imaginário, das emoções, da base sociocultural, do real, do saber, do tempo e do espaço, que se relacionam entre si. De acordo com Aumont (1993), a “imagem só existe para ser vista”, portanto, o processo imagético é uma relação orgânica que se constrói historicamente. A analogia, o espaço representado, o tempo representado e a significação na imagem são os quatro elementos principais analisados na estrutura da imagem. A imagem visual está atada a “analogias” e suscita uma problemática ligada à semelhança entre imagem e realidade. Para o autor, as imagens analógicas se pautam em construções que misturam em “proporções variáveis imitação de semelhança natural e produção de signos comunicáveis socialmente”. Temos, portanto, a imagem como uma linguagem entre várias que constroem a civilização. Então, apesar da reprodução intensiva da imagem visual na contemporaneidade, ela tem ascendência em relação às outras, por motivos estruturais e históricos, porém não de uma elevação suprema. A imagem, pelo canal cognitivo, captura o espectador de forma mais imediata, pois lida, sobretudo, com diferentes conexões neurais que facilitam e potencializam o registro mental. Logo, é perfeitamente aceitável pensarmos a imagem como elemento que se configura provocativo, inquietante, estimulador da interpretação do observador. Tal afirmação encontra subsídio em Cabrera (2006), que fundamenta que um dos elementos constitutivos da imagem é a emoção.

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A subjetividade da imagem cinematográfica Partindo do pensamento de Cabrera (2006), a imagem é o elemento que vincula conceitos e explora o humano “de maneiras mais perturbadoras que a lógica e a ética escritas”. Por conseguinte, o valor conceitual de um filme reside nas “proposições imagéticas” por ele instauradas, incompatíveis com a condição epistêmica prévia à sua experiência, porquanto nela emerge a sensibilidade condizente com o caso cinematográfico. O fato é que, segundo Cabrera (2006), a riqueza conceitual de um filme é justamente dada a partir da forma como essas possibilidades são pressupostas e encontram seu desfecho, o que acontece mediante unidades iconográficas expressas ou postas em paralelo ao roteiro. Assim, a imagem cinematográfica se tornaria um único argumento cujo termo consequente residiria em premissas que não se podem isolar num tempo só seu, logo, numa temporalidade que, só em seu desfecho, reencontra o timer do projetor. É sólida a premissa de que o filme, como um único conceito-imagem composto, inferencialmente, com estruturas iconográficas impróprias ao isolamento funcional, ao longo do seu desenvolvimento, não tem fundamento. A unidade obtida se afirmaria com base em uma lógica ordenada, pressuposta com a sistematização dos elementos manifestos - a linguagem utilizada pela direção na estruturação do filme. Um ponto a reforçar esse argumento se revela no questionamento acerca do uso didático do cinema pela Filosofia, ou admissão de uma delimitação funcional dos elementos iconográficos na unidade da obra cinematográfica como condição ao “impacto emocional”. Corroboramos com Cabrera (2006), na perspectiva de que o cinema, por meio de sua imagem peculiar, não pode ser considerado apenas um instrumento complementar e ilustrativo, mas, sobretudo, uma tecnologia formadora, a partir da qual se atingem os objetivos educacionais. Primeiramente, porque os filmes introduzem novos objetos e fazem novas abordagens do processo histórico. Em segundo, pelo fato de cinema estar imbuído de carregar um conhecimento que problematiza a história vigente e estabelece novos conhecimentos, novos conceitos. RELAÇÃO IMAGEM-PENSAMENTO

C O N C E I T O S Nº 17

Dezembro de 2012


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