Jornal da ADUFF - JUNHO de 2017

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Aduff pressiona e processos de aceleração de promoção começam a sair Notas da Aduff

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Luiz Fernando Nabuco

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1º Encontro dos Docentes debate reformas, democracia e multicampia na UFF Página 7

GREVE GERAL PELO FIM DAS REFORMAS, DO GOVERNO E POR ELEIÇÕES GERAIS E DIRETAS Docentes da UFF decidem construir a nova greve geral, convocada pelas centrais para 30 de junho, pelo fim das reformas da Previdência e trabalhista e do governo Temer. Também aprovam a campanha ‘Eleições Gerais’ e ‘Diretas Já’. Flagrado em vídeo em ato de corrupção e com alta impopularidade, Temer insiste nas reformas que eliminam direitos dos trabalhadores e agradam a grandes empresários acusados de comprar votos de parlamentares. Páginas 3, 4, 5, 8 e Editorial na página 2


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Editorial

Greve Geral para barrar as contrarreformas de Temer! A

greve geral do dia 28 de abril foi um marco na história recente do país – nesse dia, cerca de 40 milhões de trabalhadores paralisaram as atividades no Brasil. Junto com movimentos sociais e populares, a classe trabalhadora e a juventude ocuparam as ruas das cidades brasileiras. Fruto de mobilizações de massa nos meses anteriores, está em curso a decisão e a aposta de amplos setores da população de que só a luta pode reverter os ataques empreendidos pela burguesia e pelos governos federal e estaduais contra a classe trabalhadora, particularmente através das contrarreformas trabalhista e da Previdência. O movimento Ocupa Brasília, em 24 de maio, foi mais um capítulo nesta direção, levando em torno de 150 mil manifestantes à capital federal. A marcha foi vitoriosa no processo de organização de uma mobilização nacional unitária dos trabalhadores e das trabalhadoras do país. Demonstrou a disposição de resistência à retirada de direitos duramente conquistados e que a direção política, econômica e antissocial adotada pelo governo precisa ser derrubada. Certamente, isso apavora o governo e a burguesia, que tem reprimido violentamente a população nas ruas, com aparato repressivo nem mesmo visto na ditadura empresarial-militar. Na chegada à Esplanada dos Ministérios, as caravanas, inclusive da Aduff-SSind, foram surpreendidas pela brutal tentativa da Polícia Militar do Distrito

Marcha a Brasília reuniu cerca de 150 mil pessoas, que enfrentaram a repressão policial, acionada para proteger governo e parlamentares acusados de corrupção e de vender seus votos a empresários

Federal de impedir que se aproximassem do Congresso Nacional e de portarem as suas bandeiras e equipamentos de primeiros socorros. O direito constitucional à livre manifestação foi barbaramente negado, com saldo de 50 manifestantes feridos e a decretação da “Garantia de Lei e de Ordem” em todo o Distrito Federal, por Michel Temer,

É a mobilização da classe trabalhadora e dos movimentos populares que derrotará o governo e garantirá os direitos sociais! À Greve Geral em 30 de junho! Por Eleições Gerais e Diretas já!

a pedido de Rodrigo Maia, presidente da Câmara de Deputados. No mesmo dia, no Rio de Janeiro, foi à base de bombas que a Alerj aumentou o percentual de contribuição previdenciária dos servidores estaduais. A ascensão das lutas vista nos últimos meses – em rodovias, locais de trabalho, praças públicas, escolas, universidades, fábricas, aeroportos, praças

e no campo – segue em curso e convoca nova greve geral para o dia 30 de junho, com eixo unitário contra as reformas da Previdência e trabalhista e pelo “Fora Temer!”. As denúncias vindas a público nas últimas semanas contra o ilegítimo presidente, acrescentaram essa bandeira ao conjunto das centrais sindicais, que convocam a próxima greve geral. Os escândalos de corrupção, em estreita relação com a crise econômica atual, tornam ainda mais insustentável o governo de Michel Temer e ilegítimo o Congresso Nacional. Nesse sentido, a campanha “Fora Temer!” tem colocado também o debate em torno da necessidade de eleições gerais e de eleições diretas para a Presidência, como bandeiras complementares à luta prioritária contra as reformas. Longe de acreditar na saída eleitoral como solução para a classe trabalhadora, os docentes da UFF, reunidos em debate convocado por nossa seção sindical, entendem que esta também é uma disputa importante, a de não permitir que um Congresso corrupto, comprado por empresas, decida pela presidência do país, após a queda de Temer, e dê seguimento à retirada de direitos. É a mobilização da classe trabalhadora e dos movimentos populares que derrotará o governo e garantirá os direitos sociais!

À Greve Geral em 30 de junho! Por Eleições Gerais e Diretas já!

Presidente: Gustavo França Gomes • 1º Vice-Presidente: Gelta Terezinha Ramos Xavier • 2º Vice-Presidente: Juarez Torres Duyaer • Secretário-Geral: Kate Lane Costa de Paiva • 1º Secretário: Douglas Ribeiro Barbosa • 1º Tesoureiro: Carlos Augusto Aguilar Junior • 2º Tesoureiro: Edson Teixeira da Silva Junior • Diretoria de Comunicação (Tit): Kenia Aparecida Miranda • Diretoria de Comunicação (Supl): Marcio José Melo Malta • Diretoria Política Sindical (Tit): Adriana Machado Penna • Diretoria Política Sindical (Supl): Bianca Novaes de Mello• Diretoria Cultural (Tit): Renata Torres Schittino • Diretoria Cultural (Supl): Ceila Maria Ferreira Batista • Diretoria Acadêmica (Tit.): Antoniana Dias Defilippo Bigogmo • Diretoria Acadêmica (Supl): Elza Dely Veloso Macedo

Junho/2017 Biênio 2016/2018 Gestão: Democracia e Luta: Em Defesa dos Direitos Sociais, do Serviço Público e da Democracia Interna

Editor Hélcio L. Filho Jornalistas Aline Pereira Lara Abib

Revisão: Renake das Neves Projeto Gráfico e diagramação Gilson Castro

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Docentes da UFF decidem construir a greve geral de 30 de junho Decisão foi tomada por unanimidade na assembleia geral; nova greve geral exigirá o fim das reformas da Previdência e trabalhista e do governo Temer Lara Abib Da Redação da Aduff

Luiz Fernando Nabuco

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riorizar a luta contra as reformas trabalhista e previdenciária e construir a nova greve geral de 30 de junho para impedir a retirada de direitos e derrotar o governo ilegítimo de Michel Temer. Foi o que decidiu a assembleia geral dos docentes da UFF, na noite de 6 de junho, no campus do Gragoatá, em Niterói. Em cerca de dois meses, é a segunda vez que as centrais sindicais convocam uma greve ge-

Assembleia docente no Gragoatá debate a conjuntura política

ral contra as reformas – a primeira, considerada pelas centrais a maior da história do país, ocorreu em 28 de abril e paralisou a UFF. Será a primeira vez, no entanto, em que a bandeira

‘Fora Temer’ será agregada por unanimidade. Na assembleia, as docentes rechaçaram a possível eleição indireta para presidente da República e aprovaram, por maioria,

a defesa da campanha por eleições gerais e ‘Diretas Já’. O debate teve início na assembleia de 19 de maio, quando se propôs que o sindicato e o coletivo de professores refletissem sobre o tema. A diretoria da Aduff-SSind recolocou, então, a questão em pauta. Ao fim de quase duas horas de debate, prevaleceu o entendimento de que apoiar a campanha significa mais um passo pela unidade de ação e organização dos trabalhadores na construção de uma forte greve geral e na luta para barrar as reformas.

“A gente sabe dos limites das eleições, não depositamos esperanças lá, mas a campanha por eleições gerais e ‘Diretas Já’ está atrelada à luta prioritária contra as reformas. Não podemos aceitar que um presidente ilegítimo rasgue a Constituição. Temer caindo, não podemos aceitar que um Congresso corrompido, corrupto e comprado escolha por nós e dê seguimento à retirada de direitos”, disse Gustavo Gomes, presidente da Aduff-SSind.

Governo tenta aprovar ‘reformas’ mesmo sob denúncias de venda de votos

Luiz Fernando Nabuco

Para relator, acusações não são problema para mudar tudo nas leis trabalhistas; votar projetos é entregar mercadoria vendida a empresários, diz presidente do Andes-SN

Multidão na av. Rio Branco defende 'Fora Temer', no dia 18 de maio, logo após revelação dos áudios da JBS

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éspera da marcha que levaria mais de cem mil pessoas a Brasília. Congresso paralisado após as revelações da Lava-Jato que colocam o presidente da República e seus aliados, entre eles o presidente do PSDB, Aécio Neves, ainda mais envolvidos com a corrupção. O relator da reforma trabalhista, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), reúne jornalistas para anunciar seu parecer, que não toca no que a Câmara aprovara. Na semana anterior, ele declarara a suspensão da reforma. Voltou atrás em um operativo orquestrado pelos três

principais partidos associados ao governo – PMDB, PSDB e DEM – para dar ares de normalidade e de governabilidade. É questionado por jornalistas. “Como votar projetos dessa magnitude com denúncias que incluem a possível venda de votos por parlamentares?”, pergunta a reportagem da Aduff-SSind. “Olha, a suspeição está sendo devidamente investigada e apurada pelas nossas instituições. Nós não podemos confundir as estações. Há uma crise em curso, e essa crise é brutal, é devastadora. Mas nós não estamos de recesso, nós precisamos continuar cumprindo com as nossas

tarefas e com as nossas responsabilidades, para isso que estamos aqui, esse é um debate que interessa ao país”, responde o senador. Do outro lado do Congresso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), diria a jornalistas que a PEC 287, da Previdência, entraria em pauta no Plenário entre 5 e 12 de junho, por mais improvável que parecesse. Discursos ensaiados, que parecem também revelar que Temer vê nas reformas o salva-vidas que ainda pode lhe permitir respirar. Para a professora Eblin Farage, do curso de Serviço Social da UFF e presidente do

Andes-SN, o que o Congresso deveria fazer é rever o que já votou, como a terceirização e o congelamento dos orçamentos públicos. “Tudo que foi aprovado retirando direitos dos trabalhadores foi à base de corrupção”, afirmou à reportagem, durante um ato que buscava incidir sobre parlamentares no desembarque do aeroporto de Brasília. “Acho que há uma rearticu-

lação para tentar aprovar todas as reformas para fazer jus ao que já receberam de propina. Eles têm que dar uma resposta ao capital e ao mercado financeiro. Alguns ratos já pularam fora do barco, outros vão levar às últimas consequências. A classe trabalhadora tem que responder a isso nas ruas, não tem outro jeito”, disse a dirigente do Sindicato Nacional dos Docentes. (HLF)

Clever Felix

Zulmair Rocha

Ato na greve geral de 28 de abril em Niterói: Barcas paradas

Ato na av. 1° de Março, na greve geral no Rio, no dia 28 de abril


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Fotos: Valcir Araujo

Parte da Marcha a Brasília, que, por conta da repressão, jamais chegou a reunir todos os participantes num mesmo espaço; abaixo, o ato resiste apesar das bombas e da violência policial

Um dia para entrar para história de Brasília 'Ocupa Brasília' leva multidão à Esplanada dos Ministérios, faz o provável maior ato da história da capital federal e expõe a insatisfação com o governo e as reformas Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff

Quando a multidão deixou os arredores do Estádio Mané Garrincha e começou a caminhar pelas largas avenidas da capital federal, duas horas antes do previsto, em direção ao Congresso Nacional, muitos que ali estavam já imaginavam que participavam de uma das maiores – quem sabe a maior – manifestação política da história de Brasília. O vigoroso protesto também sinalizava o que viria a se confirmar cerca de uma semana depois: a convocação de uma nova greve geral contra as reformas da Previdência e trabalhista e pela campanha “Fora Temer”. Dezenas de milhares de pessoas participaram, no dia 24 de maio, do #OcupaBrasília. Na avaliação do Sindicato Nacional dos Docentes (Andes-SN), foram pelo menos 150 mil. Mas há quem aposte em mais gente. “Acredito que foram perto de 200 mil pessoas, foi a maior manifestação que já vi em Brasília”, afirma o professor Amauri Fragoso de Medeiros, da direção do

Andes-SN, ao comentar o que considera uma demonstração contundente da rejeição às reformas e ao governo.

“Fora Temer” Pela primeira vez, nove centrais sindicais brasileiras convocaram os trabalhadores às ruas tendo como pauta comum, além do arquivamento das reformas, a bandeira “Fora Temer”. Na greve geral de 28 de abril, a maior paralisação já realizada no país para as centrais sindicais, a defesa do fim deste governo ainda não era consensual. Esse quadro mudara na semana anterior à marcha, quando foram divulgados pelo Supremo Tribunal Superior os áudios da delação dos donos da JBS, a gigante do mercado de carnes, que mostram o presidente Michel Temer (PMDB) dando aval à compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), que está preso e que poderia também recorrer à delação premiada. Havia gente de todas as regiões e estados brasileiros. O

técnico-administrativo Carlos Dantas Lima, da Universidade Federal de Uberlândia, percorreu os quase 450 quilômetros que separam a cidade mineira do Distrito Federal com a certeza de que sem mobilização nas ruas o governo não cairá e o risco de as reformas serem aprovadas continuará grande. “Temer tem que cair, mas ele disse que não renuncia: tem que ser derrubado e, se depender da gente, é isso que vai acontecer”, disse à reportagem. Com 30 anos de serviço público e mais algum tempo de setor privado, calcula faltar ainda dois anos para se aposentar, sonho que teme não ver realizado por conta das reformas. “Eu tinha o plano de aposentar e viver minha vida, porque me aposentar depois de velho ‘caduco’ não adianta mais”, disse. O servidor mineiro e outras dezenas de milhares de manifestantes – entre eles professores, técnicos e estudantes da UFF – foram alvos de uma violenta repressão por parte da Polícia Militar do Distrito Federal e da Força de Segurança Nacional. Bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral foram lançadas pela Tropa de Choque, enquanto a cavalaria avançava contra quem resistia. Em vários momentos, policiais usaram armas com mu-

nição letal contra os manifestantes. Entre outras vítimas, um aposentado foi atingindo gravemente na boca e ainda se recupera em um hospital de Brasília. Helicópteros foram usados na repressão e, perto do fim da tarde, o presidente Temer assinou o polêmico e contestado Decreto, acionando as Forças Armadas para atuar contra o protesto nas ruas do Distrito Federal. Tropas do Exército chegaram a ocupar as avenidas de Brasília, mas não entraram em ação contra os trabalhadores. No dia seguinte, Temer recuou e revogou a medida, tomada com base no artigo 84 da Constituição Federal e em uma lei aprovada em 1999, no governo de Fernando Henrique (PSDB), e que ganhou nova regulamentação em 2014, por meio de portaria assinada pela então presidente Dilma Rousseff (PT).

Resistência As dimensões do ato e a violência policial impressionaram o estudante Arthur Freitas, que cursa Ciências Sociais na Universidade Federal de São Carlos, no interior de São Paulo. Ele participava pela primeira vez de um protesto na capital do país. “A gente vê pela televisão a repressão aos atos, mas não tem ideia de como é

isso na [realidade]”, disse, sem esconder a satisfação em ter participado do protesto. Além da violência, chamou a atenção do estudante a resistência, que manteve milhares de manifestantes por quase quatro horas nas ruas e gramados próximos ao Congresso Nacional e por toda Esplanada dos Ministérios, apesar das bombas e tiros de bala de borracha. Em alguns momentos, a multidão se recompunha em maior número e um potente grito de “Fora Temer” eclodia em meio às sedes dos ministérios e à repressão. “Era emocionante”, disse. Essa determinação de boa parte dos manifestantes – que teve no carro de som da CSP-Conlutas um dos bastiões da resistência – foi para muitos a característica mais marcante da marcha. “A disposição com que as pessoas resistiam e permaneciam no ato, chamava a atenção”, disse a professora da UFF Adriana Penna, da direção da Aduff-SSind, observando que jamais vira algo nessas proporções em Brasília, o que expressa a vontade de barrar as reformas e pôr fim a este governo. Os próximos passos do movimento, agora, são o Dia Nacional de Panfletagens e Atos, em 20 de junho, e a greve geral do dia 30 deste mês.


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No Rio, deputados votam com Pezão e Temer contra servidor

Fotos: Luiz Fernando Nabuco

Sob cerco policial e sem respeitar liminar, Assembleia Legislativa do Estado do Rio aprova aumento na alíquota previdenciária, que, na prática, reduz salários e integra pacote acordado entre Pezão e Temer

Repressão violenta da PM contra servidores que lutavam sobre a redução salarial, defendida por Pezão e Temer, ambos investigados por corrupção

Lara Abib Da Redação da Aduff

Por 39 votos favoráveis e 26 contrários, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou, no dia 24 de maio, o Projeto de Lei (PL) 2.240/16, que aumenta a contribuição previdenciária dos servidores públicos estaduais de 11% para 14%. A redução de 3% no salário é mais um capítulo trágico para os trabalhadores do estado, sem reajuste há anos e com salários constantemente em atraso desde o final de 2016. O projeto faz parte de um pacote de medidas do gover-

nador Luiz Fernando Pezão (PMDB), combinado com o governo federal e enviado à Alerj no ano passado, que ataca os serviços públicos e penaliza os trabalhadores do estado pela crise causada pelo próprio governo, imerso em denúncias de corrupção. Em fevereiro, os deputados aprovaram a permissão para a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae).

Repressão No dia 24 de maio, quando em Brasília dezenas de milhares protestariam contra as reformas, a Assembleia Legislativa do Rio amanheceu

cercada por quatro barreiras de grades e pela Tropa de Choque, sem identificação, da Polícia Militar. Havia blindados em quase todas as esquinas. Também havia agentes da Força Nacional de Segurança. Apesar de a Justiça ter expedido uma liminar que garantia aos servidores o direito de acompanhar a votação das galerias da assembleia, o prédio permaneceu trancafiado durante toda a sessão. Por volta das 15h, ao saber que a votação havia começado, os trabalhadores que realizavam ato em frente à Alerj, se aglomeraram em uma das portas laterais da Casa. Policiais militares lançaram bombas de efeito

morale, logo em seguida, iniciaram os disparos com balas de borracha. Enquanto trabalhadores sem salário corriam desesperados pelas ruas do Centro do Rio, os deputados da base do governo Pezão aprovavam, numa assembleia aquartelada, o aumento da contribuição previdenciária e a consequente redução da remuneração dos servidores. “Trabalhei minha vida toda dentro de escola, me aposentei e hoje estou aqui mendigando salário”, lamentou Jorgete Macedo Lima, 63 anos, merendeira aposentada pelo estado, enquanto passava leite de magnésia no rosto para aliviar a ardência causada pelas bombas de efeito moral.

‘Vou continuar nas ruas’ O sentimento de revolta era visível na fala da professora aposentada da Uerj, Eliza Maria dos Santos, 76 anos. “Dá raiva trabalhar a vida toda para levar porrada desses malditos, mas infelizmente a gente tem que se sacrificar pelos nossos direitos. Eu estava na rua contra a ditadura, na ‘Diretas Já’. Vou continuar aqui”, disse. Presente no ato, a professora da Faculdade de Educação da UFF e vice-presidente da Aduff-SSind, Gelta Xavier, criticou a repressão policial. “É uma violência que não pode ser tolerada e que precisamos denunciar, precisamos fazer uma grande campanha contra isso que está acontecendo”.


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Notas da Aduff

Aduff cobra respostas para processos de aceleração de promoção A Aduff-SSind solicitou, por meio de documento protocolado noCepex e na Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD), que "sejam decididos e implementados os pagamentos de todos os processos referentes à aceleração da promoção", em decorrência da aprovação em estágio probatório, com base no art. 13 da Lei 12.772/2012. Pro-

cessos de aceleração da promoção por titulação estavam paralisados e sem respostas na CPPD. A aceleração está na lei, mas o Cepex alegava aguardar posição da Procuradoria. A cobrança parece dar resultados, e os processos começam a andar. O Boletim de Serviço 87, de 19 de maio, determina o cumprimento do que prevê a legislação.

Assistência estudantil Estudantes da UFF cobram da Reitoria prestação de contas da verba do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). Querem a criação de um Conselho Deliberativo, do qual participem para discutir destinação a desse dinheiro, voltado à permanência do estudante na instituição. As solicitações foram

apresentadas em sessões do Conselho Universitário (CUV ), quando foi questionado o destino de parte dos recursos. Informações públicas apontariam que, entre 2013 e 2016, cerca de R$ 25 milhões teriam sido utilizados para pagar empresas terceirizadas, bolsas monitoria e Pibid.

Evasão Estudantes da moradia da UFF em Rio das Ostras não recebem mais o auxílio-alimentação desde maio. Também não contam mais com o 'auxílio-xerox' e as bolsasde extensão foram reduzidas drasticamente. “A falta desse auxílio tem levado muitos colegas ao abandono dos

cursos. Conhecidos estão voltando para a terra deles, sem condições de permanecer na UFF”, conta Lucas Brandão, do 8º período de Serviço Social. Ele revela que até o “prato feito” por R$ 7 foi extinto; só há comida a peso, qu, e mesmo dentro do campus, custa R$ 29,90 o quilo.

Bolsonaro e os ‘Sem Partido’ Enquanto chamavam Bolsonaro de mito e clamavam para que se torne presidente do Brasil, apoiadores do projeto ‘Escola Sem Partido’ empunhavam cartazes contrários ao que chamam de doutrinação nas escolas. A cena ocorreu na Câmara de Vereadores de Niterói, em audiência pública com o deputado Flávio Bolsonaro e o advogado Miguel Nagibe. Um rapaz desse grupo foi acusado de racismo contra estudantes negras que protestavam e defendiam a 'Escola Sem Mordaça'. Teria dito a elas que voltassem para África.

Leher: processo arquivado A ação civil pública movida pelo procurador federal Jorge Aragão contra o reitor da UFRJ, Roberto Leher, e a estudante Thaís Zacharia por crime de improbidade administrativa foi arquivada, em decisão da juíza Maria Alice

Paim Lyard, que não a recepcionou por ‘falta de objeto’. O procurador, que é defensor do ‘Escola Sem Partido’, queria condená-los por conta de um ato pela democracia do qual participaram.

Primeira trans

Perigo

O Conselho Superior do Colégio Pedro II terá a primeira mulher trans entre seus integrantes. A técnica-administrativa Marcela Azevedo foi eleita com 179 votos.

Em entrevista ao InformAndes de maio, o professor da USP e juiz trabalhista Jorge Souto Maior alerta para a ameaça que representa a reforma trabalhista também para a Previdência. A terceirização e a pejotização generalizadas, diz, podem "destruir a Previdência Pública”. A entrevista também está na página da Aduff (www.aduff.org.br).

Exposição 100 anos da Revolução Russa Às vésperas do centenário da Revolução Russa (1917), parte de documentos que guardam a memória dos acontecimentos que puseram fim ao Império Russo, e que, em meio às contradições, resultou em vastos debates acadêmicos, estão no exposição em seminário intitulado “Revolução e Imagens”. A mostra de cartazes, músicas e fotografias vai até 28 de julho, no Espaço “Memória, Arte e Sociedade Jessie Jane Vieira de Souza”, no 2º andar do prédio da Decania do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (campus da Praia Vermelha). Em junho, haverá quatro mesas temáticas de debates sobre o tema e, a cada quarta-feira, ocorrem sessões de filmes emblemáticos, seguidas de discussões com especialistas na área – as chamadas “Quartas Vermelhas”, que vão até o final deste mês. (Veja programação completa em www.aduff.org.br)

Ebserh "Ela [portaria] estava totalmente errada. Foi inapropriada, inadequada. Por isso, eu cancelei. Nós cometemos vários erros aí”. Assim o reitor da UFF, Sidney Mello, referiu-se, durante o último CUV, à recente e contestada Portaria 58.675, que submetia os servidores técnicos-administrativos à Ebserh. A cessão do Hospital Universitário Antonio Pedro à empresa fez um ano – nem a Reitoria comemorou.


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Encontro debate universidade e traça propostas para atuação sindical 1º Encontro de Docentes da UFF reuniu cerca de 50 professores, por três dias, para um debate coletivo sobre o cotidiano de trabalho na universidade e as lutas da categoria

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Estatuinte e Democracia interna da UFF A democracia interna na UFF e a estatuinte foi um dos temas mais debatidos no 1º Encontro. Destacou-se a necessidade da Aduff-Sind e da categoria atuar sobre essas questões tão caras à vida universitária – e que, constatou-se,

Mesa que debateu a multicampia durante o Encontro dos Docentes da UFF; a Aduff produzirá material específico sobre as reflexões e propostas do evento

Luiz Fernando Nabuco

arreira docente; estatuinte e democracia interna na UFF; multicampia e possibilidade de organização sindical; luta contra as opressões de classe, gênero, raça e diversidade sexual; política sindical e defesa da educação pública e dos direitos ameaçados pelas reformas do governo de Michel Temer. Esses foram os temas que nortearam os debates do 1° Encontro de Docentes da UFF, realizado no hotel Saint Moritz, na divisa entre Teresópolis e Friburgo, entre os dias 26 e 28 de maio que resultaram em uma série de propostas e diretrizes, sistematizadas em quatro grupos de discussão, e darão suporte à atuação sindical da categoria. Pa r a o p re s i d e n t e d a Aduff-SSind, Gustavo Gomes, o encontro consolidou a possibilidade de construção de um sujeito coletivo na UFF. “Fui passando nos grupos para avisar que a plenária final iria começar e o pessoal continuava conversando. A dinâmica era diferente do que estamos habituados; não tinha inscrição, nem tempo de fala ou votação, o que possibilitou falas mais elásticas. A gente acumulou e pôde debater intensamente, entre nós, vários temas que são fundamentais para a conjuntura atual e para a organização do sindicato. O encontro reforçou a unidade e a solidariedade entre nós, tão necessárias para enfrentarmos uma conjuntura adversa como essa”, avaliou o docente ao final do evento. Confira algumas propostas formuladas no 1° Encontro de Docentes da UFF.

vem sofrendo sucessivos ataques nos últimos anos, com o esvaziamento dos conselhos e o desrespeito a processos democráticos, como se observou na entrega do Hospital Universitário Antonio Pedro à Ebserh. Os docentes apontaram a necessidade de o grupo de trabalho continuar se reunindo após o Encontro. Nova reunião acontecerá no dia 12 de junho, às 14h, na sede da Aduff-SSind. A ideia é fazer um resgate histórico do que já foi acumulado sobre o assunto e estudar as diferentes contribuições para o tema, a fim de retomar o debate sobre a construção da estatuinte na UFF.

Multicampia, comunicação e organização sindical na UFF Fazer o debate da multicampia na UFF, ressaltando a importância da expansão da universidade e tratando a interiorização não como um problema, mas como uma questão, sem perder de vista as críticas à expansão precarizada. Essa foi a tônica do debate realizado no grupo, que sugeriu a criação de um GT específico de Multicampia na Aduff-SSind. Também propuseram à diretoria do sindicato a realização de assembleias simultâneas em Niterói e nos campi fora da sede, de

assembleias descentralizadas e de rodizíos de assembleia. As propostas serão discutidas pela categoria.

cas educacionais e o ENE à programação do Conad, que acontece entre os dias 13 e 16 de julho, em Niterói.

Políticas Educacionais e organização sindical no Andes-SN Os docentes indicaram à diretoria da Aduff-SSind a realização de debates para pensar o papel e a posição do Andes-SN na organização do 3° Encontro Nacional de Educação (ENE), que deve acontecer no segundo semestre do ano que vem, em conjunto com o GT de Política Educacional (GTPE) local da Aduff-SSind. Também foi uma das sugestões do grupo de trabalho, incorporar uma mesa que debata políti-

Política sindical no enfrentamento as opressões de classe, gênero, raça e diversidade sexual Reunidos em grupos, os docentes apontaram a necessidade de mais espaços de formação sobre o assunto, com o objetivo de tratar o tema pela perspectiva da formação coletiva e não da punição individual. Também ressaltaram a importância do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe, Etnia, Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) do Andes-SN na

elaboração de políticas sindicais de enfrentamento às opressões e defenderam o fortalecimento do GT local da Aduff-SSind sobre o tema. Frisaram ainda a importância de dar mais divulgação e concretude às resoluções congressuais do Andes-SN sobre o assunto, garantindo, por exemplo, espaços de creche e recreação infantil em todos os encontros do Sindicato Nacional e das seções sindicais e a necessidade de avançar ainda mais no debate, com o objetivo de garantir a participação efetiva de mulheres mães em todas as instâncias deliberativas, de formação e formulação de política do Sindicato.

Encontro valorizou debate, troca de ideias e experiências Foi um encontro sindical diferente. Não havia resoluções a serem votadas. O que se pretendia era debater temas que afligem os professores no dia a dia e quase nunca se tem tempo ou espaço para discorrer e refletir com mais profundidade – com a ajuda de convidados da própria UFF, de outros estados e do Sindicato Nacional (Andes-SN). A direção da Aduff, ao final, agradeceu a participação e a compreensão de todos, mesmo diante das dificuldades de organizar pela primeira vez um encontro com tais características, logo após a marcha a Brasília contra as reformas de Temer

e em meio à preparação do próximo Conselho do Andes-SN, o 62º Conad, que acontecerá em julho, em Niterói. Mas o debate fluiu, seja na abordagem dada a cada um dos temas pelos palestrantes das mesas, seja na participação ativa dos docentes que estavam no plenário. Perto do fim, as avaliações em geral, valorizavam o resultado das discussões e reivindicavam a realização de mais espaços assim pela seção sindical. Das palestras, debates e propostas apresentadas, sairá material específico sobre o Encontro e os seus principais debates.


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Repúdio à violência policial nos atos

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comprado o silêncio do deputado Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, que ameaçava recorrer à delação premiada. Nesta página, depoimentos de professores, técnicos e estudantes repudiam a violência policial e denunciam que tanto a repressão quanto a corrupção estão a serviço da aprovação das reformas que retiram direitos dos trabalhadores e beneficiam grandes grupos empresariais.

Fotos: Samuel Tosta

manifestações de 24 de maio, data da marcha a Brasília e de ato na Assembleia Legislativa do Rio, e de 28 de abril, primeira greve geral em 28 anos, foram marcadas, além da grande participação popular, por uma forte repressão policial. A violência também deixou suas marcas no ato do dia 18 de maio, na av. Rio Branco, quando milhares de pessoas foram às ruas defender o fim do governo de Michel Temer, após denúncia de que teria

‘Volta ao passado’ “Ela [violência policial] tem dois objetivos: primeiro e de imediato, inviabilizar os grandes protestos que maciçamente iriam lotar as praças públicas, testemunhando a insatisfação popular. Se eles acontecessem, não permitiriam versões destorcidas da grande imprensa. Em segundo lugar, a violência policial pretendeu atemorizar a população para que ela não compareça às próximas manifestações.Todo governo que tem a missão de implementar reformas contrárias aos trabalhadores, não tem outra postura em relação aos direitos políticos e civis senão reprimi-los. Isto aconteceu na ditadura civil-militar e está acontecendo agora. Não há como não comparar as passeatas contra a ditadura, em 1968 e 1969, com o que sofremos no dia 28 de abril passado. Senti-me no túnel do tempo. Voltando.”

‘Retomada’ “A greve geral representa a retomada da luta dos trabalhadores sob um novo patamar de consciência, qualitativamente mais elevado. O atual governo demonstrou toda sua violência e poder de repressão contra os trabalhadores e estudantes organizados, mecanismo esse que tem sido historicamente utilizado pela burguesia ao se sentir ameaçada. Nesta conjuntura, não podemos deixar de saudar a importância dos jovens, dos estudantes, que bravamente se alinharam aos interesses e à luta dos trabalhadores. Foi com esse espírito que os estudantes da UFF se somaram à greve geral e mostraram que nem mesmo a perseguição incessante e covarde da Tropa de Choque, que nos encurralou nas ruas do Centro do Rio, será capaz de esgotar sua capacidade de resistir e de lutar.”

‘Nova Greve Geral’ “A greve geral representa o resultado de grande articulação das forças políticas, sindicais e movimentos sociais que veem o crescente ataque aos direitos sociais da classe trabalhadora. O aparelho repressivo do Estado está de prontidão para reprimir com violência os protestos pacíficos que se desenharem no período. No Rio, a violência demonstrada pelo batalhão de choque da PM e por agentes da Força Nacional é absurda, e deve ser repudiada com veemência por toda sociedade organizada, que defende a livre manifestação. Precisamos repetir outro 28 de abril! Será nas ruas, mobilizando e conscientizando a classe trabalhadora, que iremos enfrentar e derrubar essas medidas que destroem os direitos sociais e trabalhistas.”

Professor Claudio Gurgel, da Faculdade de Administração da UFF

Adriana Penna, professora da UFF em Santo Antônio de Pádua e dirigente da Aduff

Carlos Augusto Aguillar Júnior, professor do Coluni e diretor da Aduff.

‘Incertezas’ “O que me faz vir para as manifestações é o medo constante que a gente vem sofrendo, com esse golpe, e que a gente não tem mais certeza do nosso futuro. Eu, me formando, não sei o que está por vir. Só medo e angústia. Então eu acredito que só lutando para tentar barrar todas essas PECs e todas essas coisas que o governo está propondo para a gente”. Hilda Chagas, 22 anos, estudante de Enfermagem em Rio das Ostras

‘Luta justa’ “Sabemos que os grandes empresários patrocinam os deputados para que legislem em favor dos seus interesses. Nossa luta é justa porque as reformas da previdência e a trabalhista nos prejudicam muito. Sou aluna, mas também sou trabalhadora. Será que vou me aposentar um dia?” Edilaine Santos, estudante da UFF em Santo Antônio de Pádua

No alto, Cavalaria reprime manifestantes na Marcha a Brasília, no dia 24 de maio; nas demais fotos, violência contra passeata na greve geral do dia 28 de abril, no Rio

‘Repressão brutal’ “A resposta do governo a toda essa mobilização é violenta. A polícia reprimiu brutalmente, nos atos da tarde, para não deixararam que acontecessem. Foram bombas de gás de efeito moral, agressões e tiros que deixaram vários feridos. A repressão aos militantes está cada vez maior e temos que denunciar.” Lígia Martins, servidora do Hospital Universitário Antônio Pedro e ex-coordenadora geral do Sintuff


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