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Reportagem

Povo da Beira • 22 de Novembro de 2011 • Edição 924

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Edição 924 • 22 de Novembro de 2011 • Povo da Beira

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Projectos sociais financiados pela EDP apoiam os mais desfavorecidos

Pelos caminhos da solidariedade: duas histórias, dois exemplos Reportagem: Tiago Carvalho

Dois projectos de apoio e integração social desenvolvidos por instituições do distrito de Castelo Branco estão entre as 10 iniciativas distinguidas pelo programa EDP Solidária Barragens. O apoio financeiro do prémio, que recebeu 92 candidaturas, vai permitir que ambos os projecto, solidários e inovadores, cresçam e alarguem o seu impacto social. Acompanhe, nestas páginas, o Povo da Beira numa visita aos projectos “A Minha Escola É Um Jardim”, que decorre no Agrupamento de Escolas de Vila Velha de Ródão, e “Bicho da Seda” da APPACDM de Castelo Branco.

Produzir plantas para integrar

Bicho da seda da APPACDM é projecto inovador

odas as quartas-feiras à tarde, um grupo de alunos do Agrupamento de Escolas de Vila Velha de Ródão reúne-se para desenvolver o projecto "A Minha Escola É Um Jardim", sob orientação dos professores. A actividade teve início em 2010 e a sessão de trabalho mais recente, no passado dia 16, contou com uma visita do Povo da Beira. Numa sala de aulas, o grupo de 16 alunos produz plantas ornamentais, todas de espécies autóctones, para embelezarem os espaços ajardinados da escola. A produção de algumas espécies, como o zimbro e o medronheiro, parte de exemplares recolhidos em visitas à serra de Vilas Ruivas. De luvas e aventais, os jovens mergulham com afinco as mãos na terra e

Mais novos ou mais velhos, todos sentem algum fascínio pela criação do bicho da seda”, diz Armando Fernandes. O técnico agrícola da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Castelo Branco (APPACDM) guiou o Povo da Beira numa visita à emblemática fábrica de seda desta instituição. Esta unidade, única no país, na Europa apenas encontra paralelo em Itália. Funciona na quinta de 22 hectares que a APPACDM tem na Carapalha. Neste espaço, cerca de 30 jovens portadores de deficiência colaboram nas actividades de fabrico de seda animal. “Os jovens da APPACDM participam em todas as etapas do processo”, afirma Armando Fernandes, que conduz o fabrico de seda desde que esta instituição de solidariedade social criou o projecto, em 2000. Quase todo o circuito funciona nas instalações da APPACDM. A cultura de amoreiras, o pavilhão da maternidade e criação do bicho da seda, o edifício de extracção e transformação do fio de seda, e o posto de venda do produto transformado. Só tingimento do fio de seda acontece fora dos portões da quinta da APPACDM, para facultar um catálogo de cores com 26 opções.

T

16 alunos participam regularmente neste projecto

nos vasos. Têm entre os 11 e 15 anos, mas as técnicas de estacaria e sementeira parecem estar já dominadas. O resultado da empreitada é a multiplicação de plantas sobre as mesas, que são posteriormente colocadas em talhões de uma pequena estufa improvisada na escola. Cinco destes alunos têm necessidades educati-

Um ano depois o projecto já é auto-sustentável O valor social que resulta da união de crianças, jovens e idosos num projecto conjunto é um dos aspectos valorizados pela Fundação EDP. Outro, igualmente importante, é o potencial económico de uma iniciativa que, refira-se, actualmente já é auto-sustentável. Com efeito, a Feira de Actividades Económicas de Vila Velha de Ródão, em Junho deste ano, e a Feira dos Santos, em Novembro, foram aproveitadas para obter receitas que financiam o desenvolvimento do projecto. Nestes eventos, os alunos puderam expor e vender o

produto do seu trabalho. Ricardo Pereira, de 11 anos, é um dos alunos mais entusiasmados com o projecto. “Quando soube que íamos produzir plantas, quis participar na actividade e tenho vendido algumas plantas”, conta ao Povo da Beira. Mas, para a coordenadora do projecto, mais importante do que as receitas obtidas, é o contacto dos jovens com vida activa. “Há crianças com pouca disciplina e pouco ritmo de trabalho, mas tem havido uma boa evolução”, afiança Mafalda Figueiredo.

vas especiais e é para eles que o projecto existe. “Pretende-se integrar as crianças e jovens que não reúnem condições para cumprir o currículo escolar normal, em conjunto com outros alunos, para que a integração seja plena”, diz Mafalda Figueiredo, a professora de Educação Especial que coordena o projecto. Mas esta iniciativa é ainda mais ambiciosa e, por isso, foi distinguida pela Fundação EDP. Tem como meta que, uma vez terminado o percurso escolar destes jovens, a aprendizagem das técnicas de jardinagem os conduza à integração no

“ mercado de trabalho. Saliente-se que a maioria destes alunos fará apenas a escolaridade obrigatória. Mafalda Figueiredo considera que o projecto “pode mudar vidas que estavam confinadas a poucos objectivos, permitir às crianças ambicionar um futuro melhor, uma saída profissional”. O mesmo aspecto é salientado pelo director do Agrupamento, Luís Costa. “Os alunos adquirem na escola competências na área da produção de plantas e da jardinagem”, afirma, acrescentado que “quando terminarem a escolaridade obrigatória, têm condições para desenvolver esse trabalho na comunidade”.

A produção de plantas começou em 2010

Prémio da EDP permite alargar actividade aos idosos Os alunos com dificuldades de aprendizagem e os alunos em situação de risco de exclusão social têm, regra geral, dificuldades acrescidas em integrar-se na comunidade. Por isso, a futura integração profissional destes jovens – alguns ainda estão a aprender a ler e escrever – depende, em certa medida, da resposta da comunidade. Neste sentido, foi solicitado o apoio do programa EDP Solidária Barragens, numa candidatura encabeçada pela Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamen-

to. Os promotores do projecto ambicionam que o adorno dos espaços escolares seja o ponto de partida para uma intervenção mais abrangente. Com efeito, o valor do prémio, 6.500 euros, destina-se essencialmente à construção de uma estufa, que deverá ser edificada durante o próximo ano. Este equipamento vai permitir aumentar a produção de plantas ornamentais e medicinais, e alargar à comunidade as actividades e os frutos do projecto "A Minha Escola É Um Jardim". Neste momento, o Agrupamento colabora com a Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão e a Escola Superior Agrária de Castelo Branco. Mas a curto prazo vai envolver a população idosa, um aspecto decisivo para a viabilidade futura da iniciativa. “Ainda este ano, pretendemos apresentar o projecto aos idosos da Misericórdia de Vila Velha de Ródão e a outros idosos da comunidade”, afirma Mafalda Figueiredo. “Depois, quando a estufa estiver criada, os idosos vão começar a participar mais regularmente”, acrescenta. ●

A APPACDM comercializa artigos de seda

cados no mercado 10 quilos de seda animal certificada, a 250 euros o quilo. O prémio EDP Solidária Barragens vai permitir triplicar este valor já na próxima campanha, que decorre entre Maio e Outubro. O apoio da Fundação EDP foi de 96 mil euros, um financiamento a 100 por cento, destinado a dotar de equipamentos de climatização o espaço de criação do bicho da seda. “O controlo da temperatura e humidade permite aumentar a produção, porque garante que os casulos desenvolvem-se em condições favoráveis a uma melhor qualidade e possibilita a extracção de mais fio”, explica a presidente da APPACDM, Maria de Lurdes Pombo.

Incrementada a produção, aumenta consequentemente a rentabilidade do projecto. “Vamos dar melhor resposta à procura que existe de seda animal. Seja para fornecer o bordado de Castelo Branco, para vender para outros locais, ou mesmo para utilização na investigação universitária, nomeadamente na área das aplicações biomédicas”, diz Maria de Lurdes Pombo. O aumento de receitas do projecto “Bicho da Seda” é ainda estrategicamente importante para garantir a sustentabilidade das restantes respostas sociais da APPACDM. A instituição atende 347 portadores de deficiência, numa altura em que apoio do Estado tende a ser mais incerto.

A climatização do espaço de criação do bicho da seda, conforme foi observado, resulta no aumento da produção de seda. Em consequência desse acréscimo, o projecto vai ganhar dimensão e exigir o envolvimento de mais portadores de deficiência. Esse alargamento é uma das ambições dos promotores. Actualmente, são desenvolvidas duas criações de bicho da seda: uma na época de Primavera / Verão e outra no período de Outono / Inverno. Uma vez

controlado o ambiente em que são criados os bichos da seda, a APPACDM vai avançar para mais uma criação. As únicas limitações, segundo Armando Fernandes, “passam a ser de espaço e mão-de-obra”.

Cada criação actual envolve 60 mil bichos da seda, alimentados com folhas de amoreira colhidas pelos jovens da instituição. Um grupo de 20 mil bichos da seda, refira-se, consome 500 quilos de folhas. ●

Dois hectares de amoreiras A cultura de amoreiras na quinta da APPACDM tem dois hectares e garante autonomia na produção de alimento para a criação do

bicho da seda. As árvores são conduzidas sob a forma arbustiva, para possibilitar aos portadores de deficiência a colheita das folhas.

Museu “vivo” complementa fábrica de seda

Sistema de climatização triplica produção de seda Anualmente são colo-

Maior produção de seda, mais jovens ocupados

A produção vai aumentar de 10kg para 30kg de seda

A construção de um museu da seda, numa parceria entre Câmara de Castelo Branco e APPACDM, avança no próximo ano, na quinta desta instituição na Carapalha. Antevendo as sinergias possíveis com a fábrica de seda, Maria de Lurdes Pombo diz que “vai ser um museu vivo”.

Também a Oficina-Escola do Bordado de Castelo Branco, inaugurada este ano, passa a funcionar em estreita colaboração com o museu da seda. Esta oficina, a funcionar no antigo edifício dos CTT locais, visa preservar e promover um dos produtos mais típicos da região.


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