Acho digno 03

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o h c A DIGNO

03_ANO1_NOVEMBRO_2014

RIO DE JANEIRO No clima do ver茫o, o editorial de moda foi realizado na cidade carioca com o fot贸grafo Ant么nio Terra


EXPEDIENTE

Com o lema “vai que dá certo”, nós apostamos,

fizemos parcerias, corremos atrás e não é que deu certo?! Chegamos à terceira edição da revista eletrônica Acho Digno do mês de novembro do ano de 2014. O já dizia o “poeta”, um sonho sonhado junto tornasse realidade. As parcerias foram feitas e assim conseguimos realizar, já na nossa terceira edição, editorial de moda fora da cidade sede (Salvador/ Bahia/Brasil). Fomos para o Rio de Janeiro e lá contamos com profissionais qualificados, com fotógrafos e modelos disponíveis e dispostos em colaborar com o trabalho para obter um resultado positivo e gratificante ao término. Meu muito obrigada à todos que contribuíram nessa etapa do editorial, mesmo com pouca estrutura, desenvolvemos um excelente trabalho e um material de qualidade. Aproveitando a temporada na cidade maravilhosa também conhecemos um pouco do universo do funk carioca e isso é possível ser conferido na matéria com o MC Mano Teko. E continuando com o protagonismo de nossos empreendedores, conversamos com as meninas da marca de roupa Dresscoração. Além, de notícia sobre a homenagem à escritora mineira Carolina Maria de Jesus feita em forma de recital poético musical. E assim continuamos no lema “vai que dá certo!”. Que venham mais e mais parcerias e vida longa para a revista Acho Digno.

EXPEDIENTE CONSELHO EDITORIAL: Camila de Moraes e Elisia Santos REPORTAGEM E TEXTOS: Camila de Moraes COLUNISTAS: Elisia Santos, Emanuelle Góes, José Carlos Limeira e Renata Santos PROJETO GRÁFICO: Camila de Moraes REVISÃO: Vera Lopes


SUMÁRIO Mais e Mais * O Seu Estilo - Página 5 * Quem faz a comunicação com Hugo Mansur - Página 7

Editorial de moda no Rio de Janeiro-BR. Página 8

* Funk Carioca - Página 22 * Dica do Salão Rosas Negras Página 26 * Artigo Jurídico - Página 27

Carolina Maria de Jesus Recital poético musical Página 23

Dresscoração: vestimentas identitárias Página 6


arquivo pessoal

POEMA QUILOMBOS (Para Abdias do Nascimento e Lélia Gonzales)

Memórias I Queria ver você negro Negro queria te ver Se Palmares ainda vivesse Em Palmares queria viver. O gosto da liberdade sentido, cravado no peito Correr, sentir os campos ter a vida Angola Janga Terra de negros livres Ali toda vida Toda raça, raiva, vontade África África (tão subitamente roubada) Sonhos (tão subitamente assassinados) Liberdade (tão subitamente trocada pela escravidão) Memórias II Negro correndo livre Colhendo, plantando por lá Se Palmares ainda vivesse Em Palmares queria ficar. O ódio do feitor é pegajoso, fecundo Ele pode emprenhar até mentes mais estéreis Com seu pênis de chicote. Os feitores esparramam se gozo Nas costas dos malungos Guinés, Ardras, Congos, Agomés, Minas, Cafres E o sangue jorrou com tanta força Que em Angola, fui Nagô, irmão de Haussá Jeje, Tapa e Senty. O cheiro nauseante do esperma da tortura Fez com que ficássemos juntos, usando nosso ódio mais comum.

Sonhos I O rei de Portugal Mandou ao meu povo matar Se Palmares ainda vivesse Em Palmares queria estar Cumbe na Paraíba, Alagoas, Macaco e Subupira Mangueira, São Carlos, Portela na Avenida São quantos? Ontem morri em Andalaquituche, Tabocas, Amaro, Acotirene Hoje no Juramento, Borel, Turano, Salgueiro Morro subindo morro Rolo ladeira cada dia com decidido ar de defunto novo Quando desce a noite, vejo em cada fundo de prato o refelxo da luz da vela E sonhos pra devorar Sonhos II Te vejo meu povo feliz Teu sonho querendo sentir Se Palmares ainda vivesse

Pra Palmares teria que ir Você já pensou se Domingos Jorge Velho e sua malta Não houvessem tido tanta sorte? Já pensou naquele país da serra da Barriga? Sei que talvez não, É difícil imaginar uma terra Onde não fosse possível ver Uma negra Ter que mostrar a bunda Abrir as coxas, tirar das entranhas o pão de cada dia Onde não fosse possível ver Criancinhas De dez, oito, seis anos Voltando às quatro da manhã Depois de vender chicletes e o último resquício de dignidade Nos cruzamentos da cidade. Notícias Por menos que conte a história Não te esqueço meu povo Se Palmares não vive mais Faremos Palmares de novo


Ontem um distinto senhor me disse: - Filho não pense nessas coisas (naturalmente mandei-o à merda) Insônias Saudades das Tuas noites Fogueiras que eu não vi Palmares, Estado Negro... (vivo pensando em ti) Como não estar Na podridão do Mangue Nas ratazanas da zona Na multidão de bucetas infectas Como não estar no barulho da britadeira Na comida azeda, na marmita fria

Como não estar na fome do meu filho Já nascido com jeito de morte Como não estar no lio das madames No cheiro da gordura da pia Nas bostas dos barões boiando na latrina Como não estar no trem lotado, no barraco caindo No camburão, na porrada nos dentes No lodo. Do fundo de cada cela Como, se tudo isso sou eu? Quilombos, meus sonhos Sofro de uma insônia eterna de viver vocês

ESPAÇO DO LEITOR "A minha primeira impressão gira em torno das afetividades. E isso tem um preço inestimável. É tão importante ver mulheres negras sendo parceiras, empreendedoras, desmontando uma lógica masculina que nos circunda de autofagia... São mulheres lindas, bem humoradas, que estão em permanente movimento, sejam as que fazem a revista, ou as que estão dentro dela. E é este orgulho que me chega. Feliz estou por vocês fazerem acontecer. Depois, a minha compreensão como jornalista e pesquisadora é exatamente esta que Milton Santos teorizou e vocês estão executando. É fazer o bom uso da globalização; das novas mídias, como possibilidade e não como produtora de perversidade. E é muito mais que dar visibilidade... A Revista "Acho Digno" de certa maneira, já incidi sobre as nossas pautas diárias e estimo que tendencie outros veículos de comunicação. Ainda em sua segunda edição, esta revista não esgota as leituras em torno da sua importância como instrumento de poder, das suas práticas sociais e textuais. Desculpa-me mas, Camila de Moraes e Salão Rosas Negras esta revista já não vos pertence. É que certamente, o mesmo sentimento que chega a mim deve chegar aos outros leitores no sentido de que, a revista abre espaço para as minhas potencialidades. É onde eu me vejo e reconheço. Ademais meninas, não esqueçam que vocês estão produzindo PODER. Contem comigo!"

Vivo da certeza de renascê-los amanhã, Se um distinto senhor vier me dizer Para não pensar nessas coisa Vou Ter de matá-lo, com um certo prazer. Por menos que conte a história Não te esqueço meu povo Se Palmares não vive mais Faremos Palmares de novo José Carlos Limeira poeta/escritor

arquivo pessoal

Danila Jesus é jornalista e pesquisadora

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crédito: Camilo Lobo

O SeU EsTiLo Thiago Rigaud

Ator e profissional de Educação Física

arquivo pessoal

Bermuda branca e camiseta de malha com estampa tropical. Look bem despojado e bem verão pensado para um ensaio fotográfico à Beira mar, cores claras para contrastar com o azul da paisagem do litoral da Cidade Baixa de Salvador.

Malizi Fontoura Gonçalves Trançadeira e mc

O look do dia de hoje foi constituído a partir da saia mídi (com estampa xadrez de cor marrom). A saia mídi já foi citada como a cara do verão de 2015. Ela pode ser combinada com camisa, blusa, até mesmo um top. O que vai dar sentido ao look e fazer com que ele não fique “nada a ver” será o restante da complementação. No caso, aqui optei por uma blusa regata branca. Um tecido com estampa animal print. Hoje é tendência estas estampas, que trazem, de forma estilizada a pele da cobra, leopardo, zebra e onça. Está última foi a qual utilizei como turbante e proteção do Ori. Nos pés nada como aquela boa sandália rasteirinha. Escolhi a cor preta que combina com o look inteiro, tranquilamente, sem a necessidade de colocar qualquer outro acessório, ou peça de roupa para fazer um link com a sandália e a saia. Enfim (...) Esta foi a descrição look do dia. O que eu desejo pra mim eu desejo pra vocês, que é paz interior!

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EMPREENDEDORAS Uma vestimenta identitária Com o lema “Decorando o corpo, inspirando a vida!”, as meninas da Dresscoração seguem com a proposta de produções para além de cobrir o corpo. Fotos: arquivo pessoal/divulgação

A

união das palavras Dress (vestir) e Coração resultou em Dresscoração, uma marca de roupa de Salvador das irmãs Luma e Loo Nascimento que começaram a desenvolver o trabalho de pesquisa de referências em 2011 e no ano de 2012 abriram o negócio de peças de roupas que vai além de vestir e cobrir partes, mas sim um reflexo de uma identidade afro-baiana e afro-brasileira. A partir de garimpos e construções de estampas criam peças de roupas masculina, feminina e infantil. Propagam um conhecimento político sobre questões étnico-raciais com o intuito de colaborar para a construção das identidades pessoais por meio dos dizeres que acrescentam em suas

peças e estampas. Segundo Luma Nascimento, “desenvolvemos um trabalho online na fanpage Dresscoração que refletem nossas pesquisas sobre referências e culturas diversas que dialogam com jovens negros diante de suas diversidades contemporâneas e culturais sem medo de ousar e se expressar através do seu corpo”.

Sem grandes dificuldades para ingressar no mercado com uma ideia de trabalho que dialogue com os espaços negros e as questões identitárias, revelam, porém, que existe a falta de reconhecimento nos devidos espaços por conta da não valorização da cultura afro-brasileira. No entanto, a tarefa é não desistir do seu ideal e deixam a dica: “Para um bom negócio é necessário investir não só no produto em si, porém investir no conceitual da sua proposta para que não seja mais um produto circulando no mercado”, revela Luma Nascimento. A Dresscoração realiza vendas online para todo o estado nacional e participa de exposições em feiras culturais e eventos. As solicitações

e informações dos produtos podem ser feitas pelo e-mail: dresscoracao@gmail.com. Fanpage: Dresscoração Instagram: @ Dresscoracao


@HugoMansur

arquivo pessoal

QUEM FAZ A COMUNICAÇÃO

A profissão escolheu ele para lhe

ter como representante. Porém, na infância Hugo Mansur gostaria de ser varredor ou carteiro, por conta da comunicação que esses profissionais expressavam em seu afazeres. Anos mais tarde, ao se tornar jornalista, atuando como profissional liberal das comunicações acredita que esse seja o seu maior desafio. De acordo com Mansur, essa possibilidade é uma alternativa ao esgotado mercado na capital baiana. “Entendendo que se pode ser o que se desejar, eu apenas segui intuições. Já me sentia jornalista antes mesmo de me tornar oficial

mente um, digo, eu acredito sobretudo na formação. Fui criado da casa para escola, da escola para casa, mainha trabalhava três turnos. Do portão de casa eu almejava ser varredor de rua ou carteiro, meus contatos externos imediatos até a adolescência chegar. Isso porque imagina essas duas profissões como funções de extrema comunicação. Mas o contato com o jornaleiro foi mais impactante que tudo. Sou um acumulador de jornais, ainda que nunca tenha assinado texto algum em publicação alguma, o difícil mercado me absolveu de diversas outras maneiras e isso também não foi uma

escolha”. Já atuou em assessorias de comunicação, tais como: SALTUR (antiga EMTURSA – Empresa de Turismo de Salvador) e Museu da Arte da Bahia, além de trabalhar em uma editora de materiais didáticos por um determinado período. Atualmente presta serviços como redator, revisor e editor para conteúdos em plataformas digitais, principalmente dentro da publicidade. Porém, o seu foco é a pesquisa, trabalhando com mídia e etnicidades, pois acredita que há muito no que se investir nos estudos étnicos e a representação do povo negro nas mídias locais. Ao ser questionado sobre o que é possível ser feito com a comunicação, Mansur com um humor incrível e de forma sagaz responde: “uma revolução, vide as repercussões de tudo que se debateu na recente experiência política do que podemos entender como uma ágora digital que vivemos pelas redes sociais. Fé nas mídias independentes, nos jornalistas autônomos, nos bloggers, vídeo-documentaristas e toda uma geração de comunicadores dinâmicos nos seus meios e nas suas mensagens.


EDITORIAL DE MODA

“O Rio de Janeiro continua lindo!” O que pensar da linda cidade do Rio de Janeiro? Como não compartilhar desta leveza e beleza da famosa cidade maravilhosa? A Acho Digno deste mês, pensa no verão, na cidade carioca com muito sol, mar, céu azul e muitas roupas de banhos. As modelos do jeito que o verão gosta, de todos os tons e formas compartilham suas curvas e sorrisos no editorial de moda. Histórias de romance foram interpretas, a fragância do mar foi sentida, a mulher poderosa e dona de si foi enaltecida. Momentos foram vividos e registrados pelo olhar espetacular do fotógrafo Antônio Terra. Para embelezar mais o editorial a butique Colares D’Odarah participou com acessórios, turbantes e tecidos. Também contamos com a produção de Quênia Tranças, Camila de Moraes e Elisia Santos. Aprecie a revista, sinta o cheiro do mar e consiga sentir a alegria que o verão apresenta.

Os modelos dessa edição: Bieta Rodrigues Camilla Barreto Fabíola Oliveira Nalui Mahin Thales Azevedo Paulo Rhasta Ofi Quésia Pacheco














MÚSICA DA TERRA

O funk carioca

Em entrevista para Acho Digno, o MC Mano Teko revela que nos dias de hoje tem mais

arquivo pessoal/divulgação

consciência do seu papel como agente cultural, como ativista do funk, como preto.

que a grande maioria começou assim, sem pretensões de cantar, aos 16 anos, meio por acaso, Mano meio por acaso. Teko, se deparou com o univerApós uma participação em um so do ritmo funk. Sem deixar o festival grande do Rio de Janeiro, tempo passar e anotando tudo em na década de 90, ingressou na área seu caderno fazia novas versões do musical cantando em dupla. No que escutava dos MCs de outras ano de 2000 o seu parceiro palocalidades, porém acrescentava rou de cantar funk, porém Mano informações da sua rua, da sua re- Teko continuou na estrada. Nesse alidade. Nesse período, vivenciou percurso se envolveu na questão o processo de transformar alguda militância através da Apafunk mas versões de músicas em inglês (Associação dos Profissionais e para português que sempre faziam Amigos do Funk). Ressalta que a uma sátira. Revela, ainda,

Como se fosse uma brincadeira,

Associação possibilitou abrir um leque para outros questionamentos, questões sobre negritude, gênero, homofobia, moradia. E uma das ferramentas que encontraram para falar sobre esses assuntos foi com a roda de funk, que é a ocupação para mostrar que o funk vai muito além do que a mídia apresenta. “Entre um funk e outro, a gente falava dos nossos problemas e ouvia também, com isso fomos para dentro das universidades, fazia na favela, na Praça XV, na Central do Brasil, nas carceragens. E nessas rodas começamos a conhecer outras pessoas, como Nelson Maca, Vera Lopes, uma galera assim que começou a trazer essas respostas para alguns pontos de interrogação. Quando vi o Maca pela primeira vez, foi porra mano, foi uma aula. A gente fazia uns questionamentos sobre os bailes funks, UPPs, proibidão. A gente proibi por causa da origem, pobre, preto e favelado, e a gente não via o movimento negro nesse processo. Sempre esperava aquela coisa fantasiosa, tipo o movimento negro vai vir em seu cavalo preto para salvar a gente em algum momento. E hoje eu tenho uma outra visão, aquela coisa da instituição. O movimento negro sou eu, é o Pingo, é Acarí, a gente se movimenta, esse é o movimento negro, o movimento é quem faz, quem está nessa relação”, diz. Atualmente, mora em um bairro chamado Irajá, no Rio de Janeiro, e ressalta que não é morador de


crédito: Frederick Bernas

favela, porém no local onde vive tem favelas, do alto dizer que estão parados, mas que não tem entrada e de sua casa para qualquer lado que olhe existe uma nem espaço no mercado, além de outros fatores ocafavela que o cerca. E o funk foi a sua porta de entrada sionam o afastamento de alguns desses profissionais. e lhe fez rever essa relação com a favela, a sua consAtualmente, Mano Teko está em fase de produção do ciência como agente cultural, como ativista do funk, seu CD, “não quero ser mais um a cantar por cantar, como preto, tudo foi possibilitado tem que fazer a mudança”. por conta desse ritmo. São seis anos se aprofundando cada vez O funk pra gente é a música mais nesse universo, buscando mais popular brasileira e porutilizar essas informações ao “nosso favor”, como diz, aliás: “o que não usar isto ao nosso favor, funk pra gente é a música mais dialogar isto com os nossos popular brasileira e porque não usar isto ao nosso favor, dialogar Letra da música: com os nossos”, argumenta. Foi necessário criar ferramentas para dialogar e apre“na moral não é preciso simpatia/ sentar um outro funk, e entre elas estão as rodas de funk e os saraus. Chamam atenção de uma outra for- proceder seja noite ou seja dia/ ma, na letra, na melodia, na expressão corporal, tudo pureza essa é a minha conduta/ para que haja uma troca. “O funk pra mim é a minha pode mirar que vai errar a minha cor universidade, se não fosse o funk eu estaria por aí, escura” trabalhando e seria mais um trabalhador comum, ou não, mas o funk me fez aprofundar essas provocações todas e eu tenho que usar isto a favor, fazer com que isto atinja mais pessoas, principalmente os meus, os caras que são profissionais do funk”, diz Mano Teko. A todo momento estão produzindo, mesmo que o seu som não esteja tocando nas rádios, isso não quer

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CULTURA

História da escritora Carolina Maria de Jesus é relatada em recital poético

reprodução internet

necessidade de se fazer forte para enfrentar e vencer as diversas fomes que caracterizam sua vida: do saber, do amor, de viver com dignidade. A proposta desse recital é aproximar a obra de Carolina do público em geral, objetivando a formação de novas leitoras e leitores da sua produção literária, afim de que diferentes segmentos da população tenham contato com o pensamento de Carolina Maria de Jesus. “Quadros” nesse ano já fez apresentações em Brasília, Salvador, Porto Alegre, São Paulo e Santos.

O recital poético musical

“Quadros” dialoga com a vida e a obra da escritora mineira Carolina Maria de Jesus que, em março de 2014, comemorou seu centenário de nascimento. “Quadros” abrange diversas manifestações artístico culturais, como as artes cênicas, artes visuais, música e literatura. De forma lúdica, faz um convite ao público a mergulharem pelos caminhos da escrita nas mais possíveis vertentes da arte. O elenco é composto por Vera Lopes que divide o palco com a atriz, cantora e multinstrumentista Emillie Lapa e Pâmela Amaro, em algumas apresentações. A direção musical é do consagrado músico, cantor, compositor e diretor baiano, Maurício Lourenço. Já a direção artística fica por conta do diretor gaúcho, iluminador, escritor e professor, Jessé Oliveira. Carolina Maria de Jesus ficou conhecida, nacionalmente e internacionalmente, com o livro “Quarto

de Despejo – diário de uma favelada”, na década de 1960. Autora de outras obras, como Casa de Alvenaria, de 1961; Pedaços de Fome, de 1963; Provérbios, de 1963; Diário de Bitita, de 1986; também escrevia muitos poemas. Por conta disso, o recital surge exatamente para apresentar essa face da poeta Carolina Maria de Jesus. Segundo, Vera Lopes, o espetáculo transita entre a descoberta da solidão e a

crédito: Leo Ornelas


Espetáculo inédito “Sortilégio II Mistério Negro de Zumbi Redivivo” de Abdias Nascimento é montado no mês da consciência negra em Salvador divulgação

Marcando a celebração dos 10

anos da Cia de Teatro Abdias Nascimento (CAN) e do centenário de Abdias Nascimento, o espetáculo inédito Sortilégio II - Mistério Negro de Zumbi Redivivo, texto homônimo de Abdias Nascimento, ícone maior do Teatro Negro Brasileiro, têm direção e adaptação de Ângelo Flávio, assistência de direção de Elinaldo Nascimento e Vanessa Damásio, coreografia de Zebrinha, figurino de Zuarte Júnior, cenário de Marcos Costa e equipe de direção musical formada por Maurício Lourenço, Daniel Vieira e Elinaldo Nascimento, e estreiou na capital baiana, no dia dia 21 de novembro e segue em temporada até o dia 30 de novembro (sextas, sábados às 20h e domingo às 19h), mês que marca a luta anti-racista em todo o país. "A montagem traz aos palcos questões como deslocamentos identitários, integracionismos culturais, imaginários e comportamentos sociais que nos levam a pensar a construção de um corpo brasileiro erguido através das inquietudes de um personagem atormentado pela culpa", diz o diretor Ângelo Flávio. “A coreografia do espetáculo tem função de legendar o texto, as cenas são muito visíveis e descritivas. Por se tratar de assuntos afro-religiosos, estou fazendo isso da maneira mais contemporânea possível, sem trazer para à cena rituais ou atos religiosos”, destaca o coreógrafo José Carlos Arandiba, mais conhecido como Zebrinha.

A premiada Cia Teatral Abdias Nascimento é a única Cia do país a receber os direitos exclusivos para montar este Clássico do Teatro Negro Brasileiro. A montagem é parte de um projeto idealizado por Ângelo Flávio, vencedor em primeiro lugar do edital nº 17/2012 do Fundo de Cultura da Secretaria de Cultura (SECULTBA) através do Setorial de Teatro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), que ainda este ano montou o bem sucedido projeto "Abriu de Leituras". SINOPSE: Sortilégio II - Mistério Negro de Zumbi Redivivo acontece em um terreiro de candomblé, espaço de misticismo e religiosidade e explora o conflito de emoções e a dificuldade de enquadramento social do advogado negro Dr. Emanuel, que sofre com o preconceito racial. Ele é casado com uma mulher branca chamada Margarida, que na ocasião do casamento

não era mais virgem e isso gera ciúmes e desconfiança nele. Durante um momento de fúria ao questionar a fidelidade da mulher, Emanuel a estrangula com intenção de assustá-la e acaba matando-a, após o ato ele foge para um terreiro de candomblé e é neste momento que se reintegra a sua cultura e religiosidade, negada anteriormente pela formação cristã.

Fonte: Dayanne Pereira assessoria do espetáculo.

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Fotos: arquivo pessoal

Potinhoterapia para relaxar ta do nosso potencial artístico, da nossa maneira de conhecer o mundo e nós mesmo”, revela Ivana. Com tinta e pincel nas mãos, consegue associar uma proposta pedagógica dentro de todo o processo. Ivana, comenta que foi um projeto que já nasceu pronto, “algo espiritual”. Professora da rede pública, consegue dentro de um projeto social, aliar a arte, a terapia e o conhecimento de elementos que estão presentes na cultura brasileira. As oficinas, ainda permitem o desenvolvimento de um potencial criativo de cada participante.

O projeto Potinhoterapia, idealizado pela pedagoga

e artista, Ivana Magalhães, tem como objetivo levar a arte terapia através das oficinas de pintura em cerâmica. “Pintar alivia a ansiedade e aumenta a capacidade de concentração. Desenvolve a imaginação e a criatividade, sendo um grande estimulo na descober-

POEMA arquivo pessoal

És Ubuntu - Para Beatriz Nascimento Começo o fim Ancestralidade começo Identidade meio Quando na outra me reconheço Sou o infinito Transmigração de almas Ponto de continuidade Circularidade Fim o começo

Emanuelle Góes - Enfermeira, mestra em Enfermagem e doutoranda em Saúde Pública. Coordenadora de Saúde do Odara Instituto da Mulher Negra

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DICA DO SALÃO ROSAS NEGRAS Os cuidados com os cabelos no verão Quem não acha chamorso aquele rasta lindo saindo do mar, depois de vários mergulhos? E quem não acha perfeito aquela mulher preta de cabelo black de biquíni amarelo saindo da piscina? É uma comoção, é um Deus benza, contudo toda esta exaltação tem um preço. Reparar os estragos causados no cabelo, após o fim do verão, dá trabalho e custa muito caro. A situação piora ainda mais se, antes de se esbaldar no mar e na piscina, você não tomar os cuidados necessários para proteger os fios das agressões do cloro e do sódio. Precaver sempre será a melhor forma. A seguir daremos 7 dicas essências para teu verão:

que os produtos penetrem bem nos fios e tratem os danos. A grande dica para cabelos com dread é sempre aplicar o xampu duas vezes e usar óleos essenciais. E nunca esqueça a região da nuca, que acumula mais oleosidade e é mais difícil de massagear.

1. Protetor solar

Fotos: reprodução internet

Há condicionador ou leave-in (creme para pentear) que oferecem proteção solar, verifique o rótulo. É importante manter os fios hidratos e protegidos, não esqueça sol é bom, mas os raios ultravioletas em excessos não servem para nada.

4. O xampu correto

O xampu ideal é o neutro, pois o cabelo só precisa de uma limpeza profunda a cada quinze dias. Compreendemos que cabelo combina com cheiro, mas cabelo não combina com xampus cremosos, principalmente no verão.

5. Hidratação 2. Produtos de qualidade

O leave-in é um dos principais aliados do cabelo no verão. Além de ajudar a desembaraçar os fios, ele finaliza a lavagem com proteção, contudo não esqueçam qualidade é tudo, diminui o gasto em outras coisas e compra um produto de qualidade, afinal ninguém deseja um cabelo desbotado e com tom esverdeado.

3. Lave bem os cabelos

No verão, é comum que o cabelo fique cheio de resíduos, como farelos de areia ou partículas de cloro. Uma boa lavagem elimina esses restos, permitindo

A hidratação deve ser feita a cada sete dias durante o verão. Ela é um antídoto contra as agressões do sol, do mar, da piscina e do vento depois que os estragos já começam a dar sinais. Mas também é indicada como blindagem a tudo isso, evitando que o seu cabelo comece a ressecar ou ficar quebradiço.


6. Pausa nas químicas

Coloração, alisamento e luzes precisam ser evitados no verão. Isso porque eles desgastam demais os fios, que podem não resistir. O ideal é esperar o verão passar para retomar os tratamentos e, no caso de tinturas para esconder os fios brancos, realizar apenas retoques, no caso de alisamento parar em definitivo é o ideal.

7. Cuidado ao prender o cabelo O suor que escorre pela nuca e abafa as costas não deixa dúvidas: um rabo de cavalo ou um coque aparecem como salvação. Mas é preciso cuidado ao fazer isso ou você corre o risco de formar nós, embaraçar os fios e quebrar um monte deles sem necessidade. Os melhores elásticos são aqueles forrados com pano ou de silicone, sem o acabamento de metal. Outra dica é prender os fios sempre secos, para evitar quebra e proliferação de fungos, principalmente para quem tem dreads. Elisia Santos - socióloga e cabeleireira

ARTIGO JURÍDICO

PENSÃO ALIMENTÍCIA

Para que servem os alimentos?

Os alimentos são para suprir as necessidades de alimentação, educação, moradia, saúde, lazer, etc. e seu valor depende da necessidade de quem está pedindo (alimentando) e da possibilidade de quem é obrigado a fornecer (alimentante).

De quem é o dever de pagar alimentos?

Conforme estabelecido na legislação pátria, o direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau.

Até quando o alimentando poderá receber a pensão alimentícia?

A lei prevê a obrigação de pagar alimentos até que o alimentando complete a maioridade civil, ou seja, 18 anos, podendo se estender até o término da faculdade ou quando você completar 24 anos.

Como será fixado o valor da pensão caso o alimentante não tenha salário fixo?

Quando não há como se comprovar um rendimento fixo, a pensão alimentícia será fixada com base no salário mínimo federal vigente, observando o pa-

drão de vida de quem está efetuando ou deve efetuar o pagamento da pensão alimentícia.

arquivo pessoal

Muitas são os questionamentos sobre a pensão alimentícia de menores, por esse motivo vou elucidar algumas dúvidas frequentes das pessoas:

Qual o percentual estabelecido quando o alimentante possui carteira assinada?

Na Lei de Alimentos (5478/68) não há um percentual estabelecido, mas a jurisprudência (decisões judiciais) fixou o entendimento de que a pensão deve girar em torno de 33% (ou um terço) dos ganhos líquidos do alimentante.

Quando o valor da pensão poderá ser revisto? O valor fixado da pensão alimentícia poderá ser revisto, tanto para mais quanto para menos, através de uma ação judicial chamada revisional de alimentos, sempre que ocorrer uma alteração na condição financeira de quem tem o dever de pagar ou o direito de receber.

O que fazer no caso de atraso ou não pagamento da pensão?

Neste caso, o alimentando poderá ingressar com uma nova ação, chamada execução de alimentos, onde o


juiz mandará citar o devedor para pagamento em 03 (três) dias, sob pena de prisão.

Com a prisão do devedor a dívida é quitada?

especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, internações, parto, medicamentos, entre outros, desde que reúna indícios da paternidade, como provas da união estável entre eles.

Não. Mesmo tendo ficado preso permanece para o devedor a obrigação de efetuar os pagamentos atrasa- Bom, espero que tenha conseguido esclarecer algumas dúvidas frequentes em relação à pensão dos da pensão alimentícia, podendo ainda ser renoalimentícia e na próxima edição da revista estarei vada a prisão por um novo período. respondendo perguntas dos leitores que poderão ser O que são alimentos gravídicos? enviadas para o email renatasantoss.adv@gmail.com. Desde 2008, as gestantes têm direito de receber alimentos do pai da criança no decorrer da gestação, da concepção ao parto, referentes a alimentação

Renata Santos - advogada e sócia da MS Advogados



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