Tcc acacia simmer

Page 1

UNIVERSIDADE VILA VELHA - UVV CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

ACÁCIA CRISTINA L. S. SIMMER

MORADIA CONTEMPORÂNEA: UMA PROPOSTA PROJETUAL DE EDIFICAÇÃO MULTIFAMILIAR FLEXÍVEL

VILA VELHA 2014


ACÁCIA CRISTINA L. S. SIMMER

MORADIA CONTEMPORÂNEA: UMA PROPOSTA PROJETUAL DE EDIFICAÇÃO MULTIFAMILIAR FLEXÍVEL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha - UVV, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Profª. Drª. Liziane de Oliveira Jorge.

VILA VELHA 2014


ACÁCIA CRISTINA L. S. SIMMER

MORADIA CONTEMPORÂNEA: UMA PROPOSTA PROJETUAL DE EDIFICAÇÃO MULTIFAMILIAR FLEXÍVEL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha - UVV, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovada em ___ de ___________ de _____.

COMISSÃO EXAMINADORA

_____________________________________________ Profª. Drª. Liziane de Oliveira Jorge Universidade Vila Velha - UVV Orientadora

_______________________________________________________ Profª. Drª. Larissa Letícia Andara Ramos Universidade Vila Velha - UVV Examinadora _____________________________________________ Arquiteto João Marcelo de Souza Moreira Examinador


Dedico este trabalho a Deus pelas graças alcançadas, à minha querida mãe, Ester Fialho por todo incentivo dado a mim, ao meu esposo Maycon Simmer por toda compreensão, auxílio e amor.


AGRADECIMENTOS

A Profª. Drª. Liziane de Oliveira Jorge, por engajar-se nesta proposta orientando-me, fazendo críticas e sugestões pertinentes à pesquisa; A Profª. Drª. Larissa Letícia Andara Ramos, por aceitar de prontidão a coorientação, e por todo carinho com que tratou as questões ao longo de todo o curso; Ao Arquiteto João Marcelo de Souza Moreira, por aceitar ser o examinador externo, e por todas as contribuições dadas durante o período em que foi professor da instituição; Ao Prof. Me. Giovanilton A. Carretta Ferreira pelos esclarecimentos de questões referentes à pesquisa; Ao Maycon Simmer, por me auxiliar com os textos; Aos colegas de curso pelos compartilhamentos de informações; À minha família e amigos pela compreensão e todo suporte.


"A minha primeira casa foi uma mulher. (...) Tive sorte com a minha primeira casa, fico feliz sempre que vejo as fotografias da minha mãe, com trinta e seis anos, uma mulher de uma pacífica beleza solar, e penso que vivi ali. Incrível, não é? eu habitei-a." José E. Agualusa


conceito que pode ser aplicado desde a escala de grandes

RESUMO

centros, como bairros, quadras e a própria edificação em si. Além da preocupação com seu meio de inserção, entende-se como necessário a uma edificação contemporânea, que seus

Este trabalho tem por objetivo a realização de um projeto

usuários, ou seja, as famílias, sejam melhor compreendidos.

conceitual de um edifício residencial multifamiliar de uso misto

Para isso, foram investigados, através de dados censitários,

voltado à contemporaneidade. Pretende-se, portanto, analisar

os diferentes arranjos familiares existentes no Brasil, bem

quais as características desejáveis à nova habitação coletiva

como as novas demandas destes grupos diante da

do século XXI, tendo em vista a interface destas edificações

atualidade.

com seu meio de inserção, as cidades, bem como o seu alvo como

Por fim, como forma de absorver os inúmeros tipos familiares

necessário estudar as novas demandas das cidades e

existentes na sociedade atual, bem como possibilitar as

famílias brasileiras, para que se possa criar uma proposta

alterações que ocorrem nas estruturas e costumes familiares,

harmoniosa tanto em seu contexto, quanto para seus

foi estudado o conceito de flexibilidade e as estratégias para

moradores.

alcançá-la, como uma forma de permitir que o espaço

principal,

as famílias.

Deste

modo,

entende-se

habitado possa contemplar toda essa pluralidade, e que A ideia parte do fato de que a edificação multifamiliar,

possam ser mais facilmente adequados às alterações que

responsável por abrigar a maior parte da população que vive

ocorrem no cerne familiar.

nos centros urbanos, deve acompanhar as constantes mudanças que ocorrem em nossas cidades e no modo de

A partir destes estudos, foi possível compor diretrizes para a

vida das pessoas. Dessa forma, no que se refere à cidade,

proposta projetual de um novo edifício voltados para a

entende-se o modelo de cidade compacta como um novo

contemporaneidade - o Edifício Flexible House- que será


capaz de abrigar uma grande gama de tipos familiares além de se integrar ao seu entorno. O projeto será implantado no bairro Bento Ferreira, no município de Vitória-ES. Palavras-chave: Edifícios residenciais; Cidade compacta; Arranjos familiares; Flexibilidade.


ABSTRACT

In addition to concern your means of insertion, is understood to be a contemporary building, its users, or families, are better understood. For that, we investigated, using census data, the different family arrangements in Brazil, as well as the new

This paper aims to conduct a conceptual design of a multi-

demands of these groups face today.

family mixed-use building facing the contemporary world.

Finally, as a way to absorb the numerous existing family types

Therefore, we intend to examine what the desirable new

in today's society, and to enable the changes occurring in

multifamily housing characteristics of the XXI century, in view

family structures and customs, the concept of flexibility and

of the interface of these buildings with their surroundings

the strategies to achieve it has been studied as a way to allow

insertion, cities as well as its main target families. Thus, it is

the living space can contemplate all this plurality, and that can

understood as necessary to study the new demands of

be more easily tailored to the changes that occur in the family

Brazilian cities and families, so that you can create a

core.

harmonious proposed both in its context, and for its residents. From these studies, it was possible to compose guidelines for The idea stems from the fact that the multifamily building,

project proposed new building facing the contemporary - the

which sheltered the bulk of the population living in urban

Flexible House- building that will be capable of housing a wide

areas, to reflect the constant changes taking place in our cities

range of family types in addition to integrate with its

and the way of life. Thus, with regard to the city, means the

surroundings. The project will be implemented in Bento

compact city model as a new concept that can be applied

Ferreira neighborhood in Vit贸ria-ES.

since the scale of large centers such as neighborhoods, blocks, and the very building itself.

Keywords:

residential

arrangements; Flexibility.

buildings;

Compact

city;

Family


SUMÁRIO

2.3 ALTERAÇÕES DEMOGRÁFICAS E OS NOVOS ARRANJOS FAMILIARES.......................................... 38 CAPÍTULO 3 - HABITAÇÃO COLETIVA FLEXÍVEL........... 47

INTRODUÇÃO....................................................................... 10

3.1 FLEXIBILIDADE: CONCEITUAÇÃO..................... 47

CAPÍTULO 1 - A CIDADE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA......................................................................... 15

3.2 FLEXIBILIDADE: TIPOS....................................... 49

1.1 PROCESSO DE URBANIZAÇÃO......................... 15 1.2 TEORIA DA CIDADE COMPACTA....................... 17 1.2.1 DENSIDADE............................................ 21 1.2.2 VERTICALIZAÇÃO.................................. 25 1.2.3 MONOFUNCIONALIDADE X MULTIFUNCIONALIDADE............................... 28 1.2.4 MOBILIDADE URBANA........................... 30

3.3 ESTRATÉGIAS DE FLEXIBILIDADE.................... 50 3.3.1 ESTRUTURA INDEPENDENTE.............. 51 3.3.2 MODULAÇÃO ESTRUTURAL................. 52 3.3.3 FACHADA LIVRE.................................... 53 3.3.4 NÚCLEOS DE CIRCULAÇÃO, ÁREAS MOLHADAS E SHAFTS................................... 54 3.3.5 ADAPTABILIDADE.................................. 56 3.3.6 CÔMODO AUTÔNOMO.......................... 57

CAPÍTULO 2 - A FAMÍLIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA............................................................. 33

3.4 FACILITADORES DA FLEXIBILIDADE................ 58

2.1 ALTERAÇÕES NO ÂMAGO DA FAMÍLIA TRADICIONAL............................................................ 34

3.4.1 PAREDES DIVISÓRIAS INTERNAS LEVES.............................................................. 59

2.2 ALTERAÇÕES NO MODO DE VIDA DAS FAMÍLIAS.................................................................... 35

3.4.2 PAREDES DIVISÓRIAS MÓVEIS........... 60 3.4.3 MOBILIÁRIO OPERACIONAL................. 62 3.4.4 MOBILIÁRIO COMO DIVISÓRIA............ 63


CAPÍTULO 4 - EDIFÍCIO FLEXIBLE HOUSE - PROPOSTA PROJETUAL............................................................... 66

4.8 CORTES "A" E "B"......................................117 4.9 MAQUETE VIRTUAL.................................. 120

4.1 ANÁLISE DO TERRENO E SEU ENTORNO........................................................ 67

CONCLUSÃO............................................................. 134

4.2 ANÁLISE DO CONTEXTO AMBIENTAL.... 73

REFERÊNCIAS........................................................... 136

4.3 ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO - PDU DE VITÓRIA........................................................... 75 4.4 ESTUDO DE VOLUME E SETORIZAÇÃO................................................ 77 4.5 PAVIMENTOS RESIDENCIAIS.................. 86 4.5.1 PAVIMENTO "TIPO 1".................. 86 4.5.2 PAVIMENTO "TIPO 2".................. 90 4.5.3 PAVIMENTOS "TIPO 3" E "TIPO 4" DUPLEX................................................. 94 4.6 PAVIMENTOS DE USO COMUM.............. 100 4.6.1 PAVIMENTO TÉRREO................. 103 4.6.2 ESTACIONAMENTOS - SUBSOLO E 1º PAVIMENTO.......................................... 107 4.6.3 PAVIMENTO LAZER.................... 111 4.7 PAVIMENTO TÉCNICO E COBERTURA.. 113


10

A partir da segunda metade do século XX, o Brasil presenciou

INTRODUÇÃO

um

fenômeno

de

intensa

industrialização,

com

o

desenvolvimento de novos postos de trabalho, crescimento econômico e atração de migrações de pessoas do campo A arquitetura residencial multifamiliar, constitui o modelo arquitetônico de habitação mais expressivo na atualidade dos grandes centros urbanos, sendo responsável, portanto, por abrigar boa parte da população residente nestes locais. Devese a este fato, a importância de estudar tal modelo de habitação como forma de analisar e identificar as novas demandas habitacionais que surgem em função do contexto onde estão inseridos estes edifícios, bem como devido às alterações pelas quais a sociedade passou e continua a passar ao longo do tempo. Através desta analise, pretendese, de forma bastante positiva, identificar novas abordagens que podem ser dadas à maneira de habitar contemporânea, de forma a contribuir para que tal assunto continue a ser pauta de discussões na área da arquitetura habitacional, permitido, portanto, que cidades, habitação e usuários estabeleçam entre si uma relação cada vez mais harmônica.

para os centros urbanos em busca de melhores condições de vida. Com isto, os centros passaram a receber uma grande massa populacional que demandava por alojamentos, de modo que o modelo de habitação coletiva racionalizada e padronizada adquiriu papel importante na absorção desta população. O fato é que este modelo, capaz de atender a esta demanda iminente, continua a ser reproduzido atualmente pelo mercado imobiliário, até porque, trata-se de um padrão habitual, que por meio de plantas-tipo e programas prédeterminados, desconsidera ou estandardiza o usuário em prol de uma produção em massa voltada à quantidade. Este fator, obviamente é vantajoso ao mercado imobiliário, uma vez que faz movimentar a comercialização de novos empreendimentos que melhor atendam às necessidades dos usuários em suas diversas fazes de vida. Assim como nossas cidades e sociedades passam por constantes mutações, com a habitação não deveria ser


11

diferente, pois se o contexto e o usuário são passíveis a

Deste modo, o presente estudo busca reunir as mais

renovações, o espaço doméstico deve acompanhar estas

relevantes estratégias de flexibilidade que irão auxiliar na

transformações evitando que a cada nova necessidade que

composição de diretrizes projetuais aplicáveis a um novo

surja, seja necessário sair em busca de um novo espaço de

edifício residencial a ser projetado para um terreno localizado

morar.

no bairro Bento Ferreira em Vitória, Espírito Santo.

Nas últimas décadas, ocorreram diversas transformações

Entretanto, é importante ressaltar que a flexibilidade também

sociais, culturais, demográficas e tecnológicas na sociedade

representa um excelente instrumento de requalificação para

brasileira que de alguma forma repercutiram na estrutura

edificações que se encontram ineficientes, principalmente

tradicional da família, bem como na formação de vários outros

aquelas

arranjos familiares existentes na sociedade contemporânea.

constituindo, portanto, uma importante estratégia para que se

Estas transformações relacionam-se diretamente com as

aproveite melhor a infraestrutura existente nestes locais.

localizadas

nos

grandes

centros

urbanos,

necessidades das famílias e dos indivíduos, resultando em novas demandas cabíveis ao ambiente da habitação. Sendo assim, como forma de romper com este caráter

ESTRUTURA E METODOLOGIA DOS CAPÍTULOS

"descartável" da edificação residencial multifamiliar, reduzindo

O Capítulo 1 - Cidades compactas, versa sobre o contexto

sua obsolescência e aumentado sua vida útil, objetiva-se por

urbano relacionado à habitação multifamiliar contemporânea,

meio da flexibilização, promover a versatilidade e a

abordando conceitos como "cidade compacta", como um dos

adaptabilidade destas edificações, dando ao morador maior

temas mais importantes para balizar esta pesquisa, tendo em

satisfação no processo de morar e respeitando assim, a

vista sua importância para a atual realidade dos centros

diversidade de indivíduos e as transformações em seu quadro

urbanos. Este modelo de cidade vem sendo alvo do campo de

familiar.


12

investigação de diversos autores consagrados, como Cláudio

O

Acioly e Forbes Davidson, Carlos Leite e Juliana di Cesare

"Alterações no Âmago da Família Tradicional", "Alterações no

Marques Awad, Richard Rogers e Philip Gumuchdjian, que

Modo de Vida das Famílias" e "Alterações Demográficas e os

descrevem

Novos Arranjos Familiares".

sobre

a

importância

deste

modelo

na

capítulo

encontra-se

subdividido

em

três

tópicos:

contemporaneidade de diversos países. O item "Alterações no Âmago da Família Tradicional", abarca São abordados ainda, conceitos que estão direta ou

as questões sociais e culturais que resultaram em mudanças

indiretamente relacionados ao modelo de "cidade compacta",

na essência da família tradicional, abordando assim, o

bem como os desdobramentos positivos ou negativos destes

processo de reestruturação interna a que passou este modelo

conceitos para a sociedade, pois não se pode falar em cidade

de família. Já o item "Alterações no Modo de Vida das

compacta sem que sejam mencionados conceitos como

Famílias", aborda as mudanças no ciclo familiar e nos

densidade

padrões de comportamento das famílias nas últimas décadas.

demográfica,

multifuncionalidade,

verticalidade e mobilidade urbana. Todos estes conceitos

Por

fim,

o

último

item

deste

capítulo,

"Alterações

auxiliam na construção e no entendimento acerca do

Demográficas e os Novos Arranjos Familiares", introduz as

ambiente que constitui a atual habitação coletiva.

alterações demográficas e conceitua os novos arranjos familiares existentes, a partir de dados censitários e também

O Capítulo 2 - A família brasileira contemporânea, tem por objetivo analisar as várias transformações sociais, culturais, e demográficas ocorridas nas últimas décadas na sociedade brasileira, que de alguma forma repercutiram na estrutura tradicional da família, bem como na formação de vários outros arranjos familiares existentes na sociedade atual.

dados

oficiais

do

Instituto

Brasileiro

de

Geografia

e

Estatísticas - IBGE. Deste modo, torna-se possível identificar as mutações ao longo do ciclo de vida dos usuários, bem como suas possíveis trajetórias e o consequente reflexo no quadro familiar.


13

O Capítulo 3 - Habitação coletiva flexível, aborda a

No entanto, o produto final deste estudo envolve o

conceituação do tema flexibilidade através da compilação de

desenvolvimento de um ensaio projetual, em nível de estudo

várias abordagens segundo autores consagrados, como

preliminar,

Hamdi, Galfetti, Koolhaas, Gausa, entre outros, buscando-se

multifamiliar que contemple os conceitos abordados no corpo

a complementaridade destes conceitos em prol de uma visão

da pesquisa, bem como a utilização das estratégias de

mais apurada sobre o tema, de modo que as definições mais

flexibilidade estudadas.

de

um

novo

empreendimento

residencial

significativas e esclarecedoras serviram de base para refletir sobre as possíveis adaptações de que os usuários poderão necessitar ou desejar, tendo em vista a diversidade de indivíduos, famílias e hábitos que influenciam o espaço

Deste modo, a partir destes conceitos e instrumentos abordados, foi selecionado um terreno específico, através de uma analise das demandas locais e da compatibilidade com o tipo de ensaio proposto, visando assim, a materialização de

doméstico atualmente.

um produto inovador no campo da arquitetura habitacional Após definido o conceito de flexibilidade, são abordadas as

multifamiliar local.

estratégias e facilitadores capazes de promovê-la. Estratégias são entendidas como alguns procedimentos capazes de promover a

flexibilidade

nas edificações e

em

seus

ambientes, que são concretizadas por meio da combinação de alguns elementos facilitadores que as tornam possíveis. É importante destacar que dependendo dos instrumentos podese aplicá-los tanto à arquitetura de futuros projetos de habitação multifamiliar, quanto na requalificação de edifícios.

No Capítulo 4 - Edifício Flexible House: Proposta projetual, foi realizado o estudo do terreno, bem como a análise de seu entorno, contexto ambiental e legislação, para que se pudesse compor as condicionantes referentes ao projeto. A partir de então, por meio de estudos volumétricos e de setorização, foi possível pré-definir a volumetria do edifício, para que se pudesse iniciar a concepção das plantas baixas.


14

O produto final foi composto por 12 pavimentos destinados às unidades habitacionais; pavimento térreo; subsolo-garagem; 1º pavimento-garagem; 2º pavimento, onde se encontra a área de lazer; e um pavimento técnico localizado na cobertura do empreendimento, totalizando, portanto, 17 pavimentos. Ao todo foram criados 4 tipos distintos de pavimentos residenciais

com

plantas

baixas

diversificadas.

Essa

diversidade tipológica das unidades aliadas às estratégias de flexibilidade que foram aplicadas permite que as unidades sejam absorvidas por uma grande gama de tipos familiares, além de possibilitar adequações em função das mudanças que ocorrerem no seio familiar. No pavimento térreo foi criada uma área de circulação e estar público para onde foram voltadas lojas comerciais. Com isto, amplia-se a relação entre espaço público e privado por meio da permeabilidade deste pavimento. O resultado será, portanto, um empreendimento que promova a diversidade, a versatilidade, a multifuncionalidade e a vitalidade de seu entorno.


15

Desta forma, será abordado neste capítulo, como se deu esse

CAPÍTULO 1 - A CIDADE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

processo de urbanização e os problemas decorrentes do mesmo, e em seguida, a teoria da cidade compacta será estudada

como

uma

resposta

às

novas

demandas

contemporâneas, tratando-se, portanto, de um conceito de cidade que pode ser aplicado desde a escala de grandes Este trabalho tem como tema principal a edificação residencial multifamiliar, responsável por abrigar a maior parte da população que vive nos centros urbanos. Como a população mundial é cada vez mais urbana, pode-se afirmar que a cidade contemporânea é o lócus da habitação atual e merece ser melhor compreendida.

centros, como bairros, quadras e a própria edificação em si. A partir da teoria das cidades compactas serão abordados conceitos

complementares

que

estão

diretamente

relacionados a este modelo de cidade e a qualidade de vida urbana,

como

a

densidade,

a

verticalidade,

a

multifuncionalidade e a mobilidade urbana, bem como seus

Sabemos que a arquitetura tem papel fundamental na

aspectos positivos e negativos diante das cidades e sua

conformação e na qualidade dos espaços urbanos, e que a

relação com a edificação.

recíproca é verdadeira, desta forma para que se compreenda a interface entre os edifícios e a cidade, se faz necessário

1.1 PROCESSO DE URBANIZAÇÃO

conhecer as cidades contemporâneas, bem como os problemas pelos quais estas vêm passando, desde o intenso processo de urbanização pelo qual passou as cidades

Como se sabe cerca de metade da humanidade vive hoje em

brasileiras.

centros urbanos e as estimativas, segundo dados da ONU (organização das Nações Unidas), são de que em 2050 mais de 70% da população mundial viverá em cidades, sendo que


16

nas próximas décadas, 95% deste crescimento ocorrerá em

Dessa forma, como na maioria dos países periféricos, a

países em desenvolvimento.

urbanização de muitas cidades brasileiras ocorreu de modo mais acelerado que seu planejamento, criando uma rede

O acelerado processo de urbanização brasileiro é um fenômeno relativamente recente que envolve uma série de mudanças econômicas, sociais e políticas que ocorreram em meados do século XX. A maior parte do crescimento demográfico urbano ocorreu entre 1960 e 1980, pois com a mudança do modo de produção agrário para o modelo industrial,

as

indústrias

passam

a

marcar

presença,

principalmente na região sudeste do país, de forma que o crescimento econômico nestas localidades começa a atrair uma grande massa populacional que migrava do campo rumo às cidades interessados pelo modo de vida urbano, por

urbana difusa onde crescimento e qualidade de vida, passam a conflitar entre si. O fato é que as cidades não estavam preparadas para esta explosão demográfica, o que ocasionou os diversos problemas sociais, econômicos e ambientais que vem se repetindo ao longo dos anos, tais como o crescimento desordenado de cidades, acompanhado pela falta de infraestrutura, falta de moradias, segregação, crescimento da economia informal, aumento de desmatamentos, poluição, problemas com mobilidade urbana, aumento da pobreza e violência, dificuldades na fiscalização e controle do uso do solo, entre outros fatores (BRITO, 2006).

oportunidades de emprego, melhores salários e melhores condições de vida. Neste período, a população urbana

Atualmente,

nacional superou a população rural, promovendo um

continuidade desse processo de diminuição do volume da

deslocamento populacional gigantesco, em um espaço de

população rural, na ordem de 2 milhões de pessoas entre

tempo

2000 e 2010, como mostra o gráfico 1, indicando que o

muito

curto,

o

que

explica

a

dimensão

das

transformações pelas quais passou a sociedade brasileira nas últimas décadas (UGEDA JUNIOR, 2012).

o

censo

demográfico

2010

mostrou

aumento da urbanização no Brasil continua (IBGE, 2010).

a


17

balizar esta pesquisa tendo em vista sua importância para a atual realidade das cidades brasileiras. Este modelo de cidade vem sendo alvo do campo de investigação de diversos autores consagrados, como Cláudio Acioly e Forbes Davidson (1998), Carlos Leite e Juliana di Cesare Marques Awad (2012), Richard Rogers e Philip Gumuchdjian (2001), que descrevem

sobre

a

importância

deste

modelo

na

contemporaneidade de diversos países. A "cidade compacta" é defendida por diversos autores e pode ser bem explicada na visão romântica de Rogers e Gráfico 1 - População residente, por situação do domicílio Brasil 1991/2010. Fonte: IBGE, Sinopse do Censo Demográfico 2010.

Gumuchdjian (2001, p. 1) presente no trecho a seguir:

1.2 TEORIA DA CIDADE COMPACTA

A teoria da "cidade compacta" surgiu nas últimas décadas através

da

conscientização

da

necessidade

de

Uma cidade densa e concentrada, uma cidade de atividades sobrepostas, uma cidade equitativa, ecológica, que ofereça facilidades para estabelecer contatos, seja aberta e ainda bela, na qual arte, arquitetura e paisagem possam emocionar e satisfazer o espírito humano.

um

planejamento sustentável para as cidades, como uma tentativa de responder aos problemas internos destas, bem como os problemas inerentes ao desenvolvimento das áreas urbanas, trata-se de um dos temas mais importantes para

Apesar deste assunto ser muito complexo, tendo em vista que cada cidade enfrenta os seus próprios problemas, e a sua pré-existência não permite a aplicação de modelos universais,


18

acredita-se que a teoria da cidade compacta aliada ao

De modo geral o conceito de cidade compacta tem como

planejamento urbano integrado pode ser uma boa solução

características principais: densidades elevadas, manipulação

diante dos problemas das cidades atuais. É importante

do uso do solo e sua diversificação, tudo isso aliado ao

destacar que essa teoria não representa um modelo urbano,

sistema de transporte. À grosso modo, é como se a cidade

mas um conjunto de estratégias de intensificação do uso da

procurasse resolver seus problemas dentro dos seus próprios

cidade existente com o objetivo de controlar a expansão da

limites, evitando o espraiamento urbano. Portanto, para que

cidade, evitando o consumo excessivo de terrenos adjacentes

se aplique a teoria da cidade compacta é importante que

ou rurais e, consequentemente, a expansão dos problemas

todos estes fatores sejam analisados e quantificados segundo

com mobilidade (GOMES, 2009). A fig. 1 mostra o avanço das

seus impactos, uma vez que estão diretamente relacionados.

cidades sobre as áreas rurais ao longo dos anos. Newman (apud GOMES, 2009) resume as características da cidade compacta da seguinte forma:

Fig. 1 - Evolução geográfica das cidades. Fonte: (LEITE; AWAD, 2012, p.28).

Densidades residenciais e de postos de trabalho elevadas; Diversidade de usos de solo, com as necessidades básicas da população a uma distancia percorrida a pé; Divisão do uso do solo em pequenas áreas, de modo a garantir sua diversidade, evitando os grandes dormitórios e os espaços monofuncionais; Aumento das interações socioeconômicas, através do bom desenho do espaço público; Desenvolvimento continuo, ou seja os edifícios devolutos são reaproveitados, de modo que não exista a desertificação dos centros ou espaços urbanos sem utilização; Crescimento urbano contido e delimitado por limites legíveis, de modo a evitar que a cidade aumente seu perímetro; Sistema de transporte multimodal, privilegiando o uso de


19

transportes não motorizados, assim como o investimento em grandes estruturas de transportes públicos; Acessibilidades altas, tanto a nível regional como local; Alta conectividade nas ruas, com passeios largos e ciclovias, incentivando a população a circular a pé ou de bicicleta; Poucos espaços sem utilização, de modo a maximizar a capacidade da cidade, evitando a expansão da cidade para fora de seus limites enquanto existe espaço urbano útil subutilizado; Controle coordenado do planejamento e desenvolvimento urbano; Capacidade governamental para financiar as infraestruturas e equipamentos urbanos.

do aumento da interação social e da facilitação do acesso aos

Quadro 1 - Características da Cidade Compacta. Fonte: Adaptado de Newman (apud GOMES, 2009).

combatendo a perda da vitalidade com a reutilização de

serviços. A ideia é, portanto, aproveitar melhor a infraestrutura já existente nas cidades, como por exemplo, as vias, o saneamento, os equipamentos públicos, entre outros, bem como os recursos naturais, diminuindo assim, o impacto negativo no ambiente, além de promover maior coesão social, de

modo

que

o

redesenvolvimento

urbano

aconteça,

vazios urbanos e a multifuncionalidade dos espaços, pois quanto mais densa for uma cidade, menor será o consumo de

Esta estrutura procura por um lado diminuir as distâncias dos percursos por meio das altas densidades e diversidades de

recursos, e quanto maior a diversidade de usos, maior será a qualidade de vida nestes locais.

usos, e por outro proporciona um sistema de transporte publico eficaz e de alta capacidade, potencializando uma

Na Fig. 2, é feita a comparação entre os núcleos compactos

menor dependência do automóvel, condicionando menor

de usos mistos e as áreas espraiadas monofuncionais, onde é

consumo energético e poluição atmosférica. Além disso, são

possível notar que a mistura funcional reduz as distancias e

facilitados o aumento da acessibilidade, o rejuvenescimento

permite o deslocamento a pé ou de bicicleta.

das áreas centrais, a preocupação na manutenção e qualidade dos espaços verdes e a qualidade dos espaços públicos. Estes aspectos aumentam a qualidade de vida global da população, através da promoção da saúde publica,


20

calcada no uso misto do solo, no compartilhamento de infraestrutura e promoção da integração social. Na imagem seguinte nota-se dois exemplos, à esquerda, a cidade de Palmas em Tocantins - Brasil mostra uma situação onde a cidade se expandiu horizontalmente deixando para traz áreas dotadas de infraestrutura com baixas densidades. À direita, o bairro El Ensanche em Barcelona - Espanha é um bom exemplo de alta densidade com usos diversificados na

Fig. 2 - Cidades Compactas x Cidades Espraiadas. Fonte: Adaptado de: (ROGERS; GUMUCHDJIAN, 2001, p. 39).

mesma quadra, onde o caminhar é estimulado.

Obviamente que, junto ao conceito de cidade compacta, podem surgir também aspectos negativos como, por exemplo, a falta de espaços verdes, o elevado preço do solo, as habitações com espaços muito reduzidos, por isso é tão importante o planejamento destas cidades, para que seus pontos positivos possam realmente prevalecer. Por fim, podemos atribuir o sucesso de uma cidade à sua capacidade de se reinventar, de modo que hoje, a compacidade do uso do solo com altas densidades de modo qualificado, representa

uma

boa

alternativa

para

se

alcançar

o

crescimento sem o esgotamento de recursos naturais,

Fig. 3 - Palmas, Tocantins - Cidade Dispersa. Fonte: Disponível em: <http://cidadesemfotos.blogspot.com.br/2 012/05/fotos-de-palmas-to.html>. Acesso em: agosto de 2014.

Fig. 4 - El Ensanche, Barcelona - Bairro Compacto. Fonte: Disponível em: <http://issuu.com/leandroishioka/docs/tfg_le andro_ishioka>. Acesso em: agosto de 2014.


21

A seguir, serão abordados atributos e conceitos que estão

distintos que são importantes. A densidade demográfica ou

direta ou indiretamente relacionados ao modelo de "cidade

populacional, refere-se a quantidade de habitantes em

compacta", bem como os desdobramentos positivos ou

determinada

negativos destes conceitos para a sociedade. Não se pode

habitantes/Km2. Já a densidade edificada ou construída,

falar em cidade compacta sem que sejam mencionados

refere-se ao total de metros quadrados de edificação em um

conceitos como densidade demográfica, multifuncionalidade,

hectare (m2/ha). A densidade habitacional ou residencial

verticalidade,

refere-se

mobilidade

urbana,

poluição

atmosférica,

qualidade de vida e saúde.

ao

área,

expressa

número

de

em

unidades

habitantes/ha

habitacionais

ou

de

determinada zona urbana dividida pela área em hectares (habitações/ha). A densidade bruta expressa o número total de habitantes de determinada zona dividida pela área total em

1.2.1 Densidade

hectares, incluindo escolas, espaços públicos, logradouros, A densidade é um olhar complementar acerca da cidade

áreas verdes, e outros serviços públicos. Por fim, a densidade

compacta, pois ao percebermos que não podemos mais

líquida, é aquela que expressa o número de pessoas

expandir

sem

residentes em determinada área dividida pela área utilizada

comprometer os recursos necessários à nossa sobrevivência,

como residência. Todos estes mecanismos de medições são

torna-se necessário refletir sobre o adensamento dos centros

utilizados e assumem papel importante no processo de

urbanos, e o primeiro passo é definir os conceitos de

desenvolvimento e planejamento urbano, pois servem de

densidade urbana.

apoio na tomada de decisões sobre a forma e extensão de

nossas

cidades

de

forma

indefinida

Segundo Acioly e Davidson (1998), a densidade é um dos

determinada área.

mais importantes indicadores e parâmetros para o desenho e

Estas decisões podem revelar impactos na produtividade de

planejamento urbano, neste sentido temos cinco conceitos

uma cidade e no desenvolvimento humano em geral. Surge


22

então

a

necessidade

de

mensurar

as

vantagens

e

desvantagens deste adensamento. Até que ponto este adensamento é saudável ao meio ambiente urbano? Quanto adensar? Quais os critérios? A densidade funciona como uma importante ferramenta para medir o custo benefício que relaciona o consumo de terra e a demanda por infraestrutura, de modo que os níveis de densidade adotados serão responsáveis por vantagens e desvantagens a serem analisados cautelosamente de acordo com o ambiente físico e cultural da intervenção (ACIOLY; DAVIDSON, 1998). O quadro a seguir funciona como uma "balança" que leva em consideração essas vantagens e

Quadro 2 - As vantagens e desvantagens da baixa e alta densidade. Fonte: Adaptado de: (ACIOLY; DAVIDSON, 1998, p. 15).

desvantagens. Não existe, portanto, valores ideais de densidade urbana a serem alcançados, esta percepção pode variar de um local para outro, segundo questões culturais e ambientais. O fato é que a densidade, quando não planejada, gera sobrecarga e a ineficiência da infraestrutura urbana de forma geral (ACIOLY; DAVIDSON, 1998). No nível da edificação, dados como o tamanho do lote, o total da sua área que pode ser ocupada, a altura da edificação, o


23

total da área a ser construída, revelam as dimensões mais

chamada de operações urbanas, onde se altera os índices de

visíveis da densidade. Estes dados são determinados pelo

ocupação e/ou taxa de ocupação em áreas de negociação

planejador urbano responsável pelo projeto de parcelamento

público-privada com o intuito de influenciar densidades em

e uso do solo e devem ser controlados pelo planejamento

função da absorção que a infraestrutura local proporciona.

através das autorizações para construir. Existem muitos

Quando não existe uma gestão urbana eficiente, a densidade

fatores que influenciam a densidade e que são de importante

urbana tende a aumentar do mesmo modo, movida pela

conhecimento para compreendermos as forças que provocam

atração que estas áreas exercem, no entanto, a falta de

mudanças dinâmicas na densidade das cidades (ACIOLY;

soluções induzidas pela ação do governo, fará com que essa

DAVIDSON, 1998). Estes fatores encontram-se ilustrados no

densidade aumente por meio de mecanismos informais

diagrama a seguir.

(ACIOLY; DAVIDSON, 1998). Segundo Acioly e Davidson (1998), a densidade urbana deve ser fruto de um processo que envolve o desenho urbano, através do qual o planejador lidará de forma dinâmica com Standards, padrões de infraestrutura, tamanhos de lote e da habitação, tipologia habitacional, planejamento espacial, morfologia urbana, aceitação cultural e adequabilidade

Fig. 5 - Fatores que influenciam a densidade urbana. Fonte: Adaptado de: (ACIOLY; DAVIDSON, 1998, p. 21).

ambiental. A densidade não deve ser resultado apenas da análise dos custos e impactos financeiros, cujo objetivo seja maximizar a terra disponível, as redes de infraestrutura e

Atualmente alterações na densidade do espaço construído

serviços urbanos. A imagem a seguir indica standards e

vêm sendo feitas através de uma nova forma de densificação

padrões de desenho influenciando a densidade.


24

multifuncionalidade e reservar áreas para equipamentos públicos. Deste modo, otimizam-se os investimentos em infraestrutura, diminuem os deslocamentos, ou seja, promovese o uso eficiente do solo e o acesso equitativo à infraestrutura urbana. Se a terra urbana é um recurso limitado e muitos almejam desfrutar deste, é fundamental promover a eficiência em sua utilização e isso pode ser observado através da imagem a seguir, onde a partir de uma mesma densidade líquida, são realisadas duas simulações com diferentes formas de ocupação de uma quadra. Deste modo torna-se claro que a segunda opção (à direita), além de mais adensada e verticalizada, possibilita a criação de áreas livres. Fig. 6 - Standards e Padrões de Desenho Influenciando a Densidade. Fonte: Adaptado de: (ACIOLY; DAVIDSON, 1998, p. 43).

Por fim, pode-se concluir que a densidade é um importante instrumento a ser considerado na intervenção de cidades onde se busca o desenvolvimento sustentável, pois o aumento da densidade demográfica quando bem medido e planejado, diminui o avanço da mancha urbana sobre as áreas

ambientais,

construtivo

nas

buscando áreas

de

incrementar interesse,

o

potencial

incentivar

a

Fig. 7 - Simulação de diferentes formas de ocupação de uma quadra em Porto Alegre utilizando a mesma densidade líquida. Fonte: Adaptado de: (VARGAS, 2003). Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.039/663>. Acesso em: maio de 2014.


25

1.2.2 Verticalização Segundo

Macedo

(apud

GOMES,

2009),

diante

do

significativo processo de crescimento e renovação urbana a que passaram as cidades brasileiras a partir da metade do século

XX,

a

verticalização

foi

com

certeza,

uma

característica marcante e uma das grandes responsáveis por esta transformação e pela criação de novas morfologias e comportamentos

urbanos.

A

fase

mais

intensa

da

verticalização brasileira se deu a partir da década de 1980, atingindo posição de destaque a nível mundial. Como uma nova forma de morar, o edifício residencial transformou, e

Fig. 8 - As dez cidades com maior índice de verticalização do país. Fonte: Disponível em: <http://www.crecimg.gov.br/outros/sistema/album_fotos/2/1190/893221.jpg >. Acesso em: maio de 2014.

vem transformando o espaço urbano de muitas cidades. A imagem a seguir mostra o percentual de verticalização nas 10

Historicamente os chamados arranha-céus, têm estreita

cidades mais verticais do país.

relação com o significado de progresso, pois foram fruto das novas tecnologias do final do século XIX, como o aço estrutural e a eletricidade, portanto, esta tipologia construtiva esta intimamente relacionadas a noção de tecnologia, aos negócios e ao progresso. Deste modo, a verticalização não configura uma consequência natural da urbanização somente, e sim uma possível opção do interesse econômico de classes mais abastadas, que viam no edifício um símbolo de


26

modernidade e status. Com esta visão, surge então, uma

consequentemente revalorizar o espaço urbano. Deste modo,

contradição a cerca da verticalidade, pois ao mesmo tempo

em função do ponto de vista adotado, pode-se dizer que a

em que assume a dimensão simbólica do progresso, fortalece

verticalização funciona como uma "faca de dois gumes" de

a diferenciação dentro da cidade, por meio da segregação

forma que suas vantagens e desvantagens devem ser

social (Soares e Ramires apud GOMES, 2009).

analisadas

criteriosamente

durante

o

processo

de

planejamento urbano. O fato é que assim como os demais conceitos abordados até aqui (cidades compacta e densidade), a aceitação da

Quando a verticalização acontece de forma desordenada,

verticalização não é uma unanimidade e seu sucesso está

pode resultar em problemas como a saturação populacional, a

atrelado igualmente ao planejamento urbano, devendo ser

insuficiência de infraestrutura adequada, problemas com

vista como uma ferramenta de manipulação do uso e

mobilidade urbana, ausência de espaços verdes, aumento

ocupação do solo, a ser utilizada como meio de aproveitar

dos espaços gastos com garagens, problemas climáticos

melhor

(ilhas de calor), entre outros fatores. Jan Gehl (2014), defende

localidades

corresponderá

às

onde

a

demandas

infraestrutura populacionais,

implantada e

não

ainda, a questão da escala humana, onde afirma que edifícios

simplesmente como um reflexo espontâneo da urbanização,

baixos estão de acordo com o aparelho sensorial horizontal

pois apesar de ser uma boa medida para solucionar os

humano, mas os edifícios altos não. Com isso ele quer dizer

problemas populacionais nos grandes centros, este não deve

que ao percorrermos ruas com edificações altas, somente os

ser um fator isolado.

andares térreos nos trazem interesse, ou seja, quanto mais alto um edifício, maior é o sentimento de distanciamento entre

Segundo Costa (apud GOMES, 2009), ao produzir solos adicionais superpostos, a verticalização possibilita o aumento do potencial construtivo, resultando em uma maior densidade do que seria possível em habitações horizontais, este fator irá

transeunte e edificação, pois a conexão entre o plano visual das ruas e os edifícios efetivamente se perde, de modo que a integração se torna mais difícil.


27

No

entanto,

quando

ocorre

de

forma

consciente,

a

localizado no município de Serra - ES. Existem ainda, zonas

verticalização é positiva, pois constitui um importante

super adensadas e verticalizadas que geram uma massa

elemento para que se alcance o desenvolvimento sustentável,

desagradável do ponto de vista do usuário, como mostra a

no que diz respeito a ocupação eficiente do solo urbano e

imagem abaixo (fig. 10), referente à Rua da Consolação no

otimização da infraestrutura existente, pois ao multiplicar o

Centro de São Paulo.

solo urbano, torna possível a compacidade das cidades, oferecendo multiplicidade de usos a uma distancia que possa ser percorrida a pé ou de bicicleta, desestimulando, por tanto, o uso de transportes motorizados, diminuindo a poluição atmosférica e sonora nas cidades e aumentando a qualidade de vida nestes locais. Verticalizar possibilita ainda, liberar áreas horizontais para uso público. Sabemos, contudo, que o que se vê na maioria das cidades brasileiras é o lado negativo do processo de verticalização, como por exemplo, nas localidades onde esse processo vem produzindo áreas cada vez mais segregadas, desenvolvidas de forma setorizada, onde a dependência do automóvel se faz cada dia mais presente, desestimulando o caminhar. Exemplo disso são os condomínios habitacionais fechados, onde não

Fig. 9 - Condomínio Fechado Serra - ES. Fonte: Disponível em: <http://imoveis.mrv.com.br/upload/i magens/1310/nIxAk_SAOPEDRO_ PE_IMP3DVISTA01_2014_04_14.jpg>. Acesso em: junho de 2014.

Fig. 10 - Rua da Consolação, Centro - SP. Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/@23.54792,46.64171,3a,75y,90h,90t/data=!3m4! 1e1!3m2!1s4K1eqrVavbHX8JWe2ew LTQ!2e0>. Acesso em: junho de 2014.

há articulação com o espaço urbano, como se pode notar na

A verticalização envolve uma discussão bastante complexa,

imagem abaixo (Fig. 9), referente à um empreendimento

mas necessária diante dos inúmeros problemas pelos quais


28

as cidades brasileiras vêm passando, e com certeza não é uma verdade absoluta, mas um instrumento a ser utilizado pelo planejamento urbano. Seu sucesso depende de planejamento e de um bom projeto como, por exemplo, o Brascan Century Plaza, de autoria dos arquitetos Jorge Königsberger e Gianfranco Vannucchi presente nas fig. 11 e 12. Trata-se de um complexo onde se pode encontrar verticalidade,

multifuncionalidade,

permeabilidade,

área

verde, entre outros benefícios. Edificado no bairro paulistano do Itaim Bibi, foi implantado segundo o conceito de quadra aberta, que amplia o espaço coletivo através do território privado, presenteando o bairro com uma nova centralidade que oferece um espaço de lazer e serviços com qualidade, comodidade, conveniência e segurança. Este é de fato um

Fig. 11 - Complexo Brascan Century Plaza - SP. Fonte: Disponível em: <http://arcoweb.com.br/projetodesign/ arquitetura/konigsberger-vannucchiarquitetos-associados-complexomultiuso-21-11-2003>. Acesso em: junho de 2014.

Fig. 12 - Complexo Brascan Century Plaza - SP. Fonte: Disponível em: < http://www.auepaisagismo.com/?in =650 >. Acesso em: junho de 2014.

importante passo rumo à melhoria da qualidade de vida, nos grandes centros urbanos. Além disso, o complexo reúne em um único espaço flats hoteleiros, conjuntos comerciais, lajes

1.2.3 Monofuncionalidade Multifuncionalidade

x

corporativas, centro de convenções, centro comercial, praça de alimentação e 6 cinemas. Interligando esse complexo, existem estruturas que se destinam a oferecer lazer e consumo, em um open mall, espaço que interliga o centro comercial à praça, onde a vida acontece o tempo todo.

Segundo Rogers e Gumuchdjian (2001), o cientista político Michael Walzer qualificou os espaços públicos em dois grupos diversos, os monofuncionais e os multifuncionais. O monofuncional refere-se a um conceito de espaço urbano que


29

desempenha uma função única, normalmente produzido por

No que tange a edificação, os edifícios multifuncionais que

decisões de incorporadores ou planejadores antiquados. O

abrigam residências, comércios, serviços, entre outros usos,

multifuncionalismo segue o princípio de variedade de usos,

certamente conferem vitalidade ao seu entorno, ao mesmo

transeuntes e usuários. O bairro residencial afastado, o

tempo em que garantem certa comodidade a seus usuários,

conjunto habitacional, o centro empresarial, a zona industrial,

uma vez que estes não necessitam se deslocar para atender

o estacionamento, o shopping Center e as possibilidades que

boa

o automóvel trás geram espaços monofuncionais. Enquanto a

GUMUCHDJIAN, 2001).

parte

de

suas necessidades

básicas

(ROGERS;

praça frequentada, a rua alegre, o mercado, o parque, o café no passeio público, ilustram bem o conceito de usos multifuncionais. Enquanto na cidade monofuncional estamos sempre apressados e distantes, na cidade multifuncional estamos dispostos a interagir, olhar e encontrar. Ainda assim, é

importante

destacar

que

estes

dois

modelos

de

desenvolvimento das cidades possuem uma função a desempenhar, as áreas monofuncionais se relacionam melhor com a autonomia desejada pelo modernismo, já as áreas

Entretanto, o que se nota é que o crescimento urbano nas cidades

brasileiras

foi

resultado

de

um

tipo

de

desenvolvimento com foco no indivíduo e não no coletivo. Este fator, aliado à especulação imobiliária, promove a monofuncionalidade

de

áreas

da

cidade,

formando

comunidades segregadas, pondo em jogo a vitalidade urbana e criando os chamados vazios urbanos (espaços de ruptura do tecido) (ROGERS; GUMUCHDJIAN, 2001).

multifuncionais são capazes de reunir partes diferentes de

Os prejuízos decorrentes da monofuncionalidade vão ainda

uma mesma cidade, desenvolvendo assim, o sentimento de

mais além, uma vez que estas áreas estão sujeitas a cair

identidade, tolerância e respeito mútuo, nos resta apenas

numa espécie de esvaziamento onde os espaços desprovidos

identificar qual o modelo de desenvolvimento cabível em

de vitalidade passam a necessitar cada vez mais de

nossa

estratégias de segurança, em consequência da falta de

2001).

contemporaneidade

(ROGERS;

GUMUCHDJIAN,

vigilância natural, ou seja, aquela que exercitamos ao nos


30

apropriarmos de determinado espaço. Deste modo, como

Com

estas áreas não são frequentadas, a insegurança vem à tona

multifuncionalidade descritos, é correto afirmar que não cabe

tornando-as menos acolhedoras. Diante deste processo de

no

depreciação, na medida em que a insegurança vai tomando

monofuncionalidade, pois um dos pilares deste modelo de

conta dos espaços, as atividades tendem a se refugiar em

cidade é exatamente a pluralidade e o acesso equitativo à

locais

infraestrutura, de modo que a concentração de diversos usos

tidos

como

"mais

seguros"

(ROGERS;

GUMUCHDJIAN, 2001).

base

modelo

nos

de

conceitos

cidade

de

monofuncionalidade

compacta

o

conceito

e

de

gera o aproveitamento da infraestrutura existente. Além disso, se a essência da cidade é o compartilhamento da vida social,

Contudo,

esse

modelo

urbano

baseado

na

monofuncionalidade, continua a se repetir, movido pela

é no mínimo contraditória qualquer estratégia urbana responsável pelo distanciamento entre cidadãos.

conveniência econômica. Pois a maior parte da produção do mercado imobiliário na atualidade ainda está relacionada a uma

estratégia

econômica

que

visa

a

produção

de

1.2.4 Mobilidade urbana

condomínios residenciais entre outros usos atrelados a

O crescimento urbano desordenado faz com que as cidades

monofuncionalidade.

vemos

se expandam geograficamente, promovendo o deslocamento

incorporadores desenvolvendo projetos de condomínios

de pessoas e atividades para os subúrbios. Com isso, surge

residenciais em áreas afastadas em função do baixo custo

um efeito "bola de neve", pois quanto maiores as cidades vão

dos terrenos.

O fato é que para atender ao interesse

se tornando, menos econômico é expandir o transporte

particular, o monofuncionalismo acaba sobressaindo ao

público, uma vez que maiores deslocamentos demandam

multifuncionalismo

maiores investimentos em infraestrutura, logo, as pessoas

Com

em

GUMUCHDJIAN, 2001).

prol

certa

do

frequência

lucro

(ROGERS;

ficam cada vez mais dependentes de seus automóveis.


31

Esse processo de urbanização como base em políticas

nossas cidades, influenciando diretamente a saúde e a

públicas que priorizaram o automóvel em detrimento do

qualidade de vida das pessoas, uma vez que os problemas

pedestre, aliado à expansão geográfica de nossas cidades,

com mobilidade podem provocar doenças respiratórias,

fez

e

obesidade, entre outros fatores. Muito tempo se perde em

individual,

congestionamentos, tempo este que poderia ser utilizado em

aumentassem significativamente em nosso país como mostra

atividades físicas, lazer ou até mesmo em horas de descanso,

o gráfico 2.

sendo assim, perde-se em qualidade de vida em geral. Além

com

que

consequentemente,

o

número o

de

transporte

viagens

diárias

motorizado

disso, os problemas com mobilidade têm participação direta 2001 2012

no aumento do índice de acidentes de transito, de fato, todos estes fatores geram prejuízo para a economia das cidades e principalmente

para

os

indivíduos

(ROGERS;

GUMUCHDJIAN, 2001). Devido a estes fatores, as cidades que deveriam ser antes de qualquer coisa, um local de encontro das pessoas, estão tendo seus espaços públicos como ruas e praças, dominados Gráfico 2 - Frota de veículos automotores no Brasil por tipo de veículo 2001/2012. Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles com dados do DENATRAN. Disponível em: <http://www.observatoriodasmetropoles.net/download/auto_motos2013.pdf >. Acesso em: julho de 2014.

pelos automóveis, pois além deste aumento na frota de veículos demandar por vias que comportem tamanho fluxo, se faz necessário também um grande número de vagas de estacionamento

público

e

particular

(ROGERS; GUMUCHDJIAN, 2001). Destes

deslocamentos

emergem

congestionamentos

responsáveis pela maior parte da poluição atmosférica de

para

sua

guarda


32

No nível da edificação, por tanto, esse diálogo entre

adensamento habitacional em locais com ampla oferta de

automóvel

muito

transporte público, o plano estimula ainda, o uso misto no

harmoniosas, ao passo que as massas de garagens

térreo das edificações por meio de incentivos urbanísticos,

responsáveis por atender a essa demanda, normalmente

ampliando assim, a proximidade entre emprego e moradia e a

geram volumes agressivos à paisagem que consomem

dinâmica dos espaços públicos. Com base em todas essas

espaços que poderiam ser utilizados para recreação, lazer,

medidas tornou-se possível o desestímulo à construção de

entre outros usos. Com isso, é possível afirmar que esta

garagens em novos prédios por meio de uma ação

"cultura do automóvel" perturba não só a qualidade do espaço

interessante que estabelece o teto de uma vaga por unidade

urbano

em empreendimentos residenciais multifamiliares, segundo o

e

arquitetura

como

também

não

a

produz

qualidade

soluções

arquitetônica

de

edificações.

novo plano.

Um bom exemplo a ser citado é a revisão do Plano Diretor

A partir das informações levantadas sobre cidade compacta,

Estratégico (PDE) da cidade de São Paulo, o qual prevê

densidade, verticalidade, multifuncionalidade e mobilidade

soluções para os problemas de mobilidade urbana baseadas

urbana, pode-se concluir que todos estes conceitos, estão

nos conceitos de cidade compacta. As melhorias contarão

interligados e podem ser utilizados tanto na escala da cidade,

não apenas com investimentos públicos em infraestrutura e

quanto em quadras ou edifícios específicos dentro das

no transporte público coletivo. A ideia é que as edificações

cidades. Estes conceitos complementares derivados da

também possam ajudar a desestimular o uso do automóvel,

cidade

fomentando

e

consideração durante a concepção de edificações em que se

desestimulando o uso do carro no dia a dia. Isso se torna

pretenda alcançar uma relação harmoniosa entre edifício e

possível através de regras de uso e ocupação voltadas mais

cidade.

o

uso

de

modais

não

motorizados

para o pedestre e menos para o carro, pois além incentivar o

compacta

devem,

portanto,

ser

levados

em


33

CAPÍTULO 2 - A FAMÍLIA BRASILEIRA

O item "Alterações no Âmago da Família Tradicional" deste capítulo abarca as questões sociais e culturais que resultaram em mudanças na essência da família tradicional, abordando

CONTEMPORÂNEA

assim, o processo de reestruturação interna a que passou este modelo de família. Já o item "Alterações no Modo de

Este

capítulo

tem

por

objetivo

analisar

as

diversas

transformações sociais, culturais e demográficas ocorridas nas últimas décadas na sociedade brasileira, que de alguma

Vida das Famílias", aborda as mudanças no ciclo familiar e nos padrões de comportamento das famílias nas últimas décadas.

forma repercutiram na estrutura tradicional da família, bem

Por

como na formação de vários outros arranjos familiares

Demográficas e os Novos Arranjos Familiares", introduz as

existentes na sociedade contemporânea.

alterações demográficas e conceitua os novos arranjos

Este estudo se faz necessário para compreendermos melhor as necessidades daqueles que habitam o espaço doméstico, pois se as famílias mudam, este espaço também deveria mudar para melhor atender aos anseios de seus usuários, ou seja, estudar os arranjos familiares e as alterações no ciclo familiar é um meio de compreender as novas necessidades que surgem na vida dos indivíduos e produzir insumos que contribuirão para a elaboração de proposta habitacional voltada ao pluralismo das famílias brasileiras. (VILLA, 2012).

fim,

o

último

item

deste

capítulo,

"Alterações

familiares existentes, a partir de dados censitários e também dados

oficiais

do

Instituto

Brasileiro

de

Geografia

e

Estatísticas - IBGE. Deste modo, é possível notar como as oportunidades e fatalidades que ocorrem ao longo do ciclo de vida das pessoas, modelam suas trajetórias e refletem nas configurações familiares, pois do ponto de vista social e demográfico, existem dados que devem ser levados em conta por terem relação direta com as alterações ocorridas nos arranjos familiares. (BERQUÓ, 1998).


34

Compreender estas mudanças de ordem demográfica,

as transformações no mercado de trabalho, na ciência

econômica, social e cultural ganha nova dimensão nesse

tecnológica e na economia globalizada. (CASTELLS apud

início de século, onde a velocidade das mesmas é grande e

VILLA, 2012). Com isto, houve o aumento do número de

deveriam estar na pauta de inúmeras decisões de cunho

mães trabalhando fora, e automaticamente a revisão da

arquitetônico e urbanístico de nossas cidades. (VILLA, 2012).

divisão sexual das tarefas. Tais questões contribuem até hoje para que a família deixe de ser uma instituição, e se torne um ponto de encontro de vidas privadas, de modo que sua

2.1 ALTERAÇÕES NO AMAGO DA FAMÍLIA TRADICIONAL

própria essência está se alterando. (TRAMONTANO, 2004). Outra alteração interna na organização familiar se dá devido à diminuição do tempo dedicado à criação dos filhos, pois esta

Ainda dominante nas estatísticas, o modelo de família nuclear ou tradicional, que consiste no casal legalmente constituído, com o pai como provedor e a mãe em casa tomando conta dos filhos (o clichê da década de 50), vem passando por diversas transformações internas diante das mudanças que afetaram

a

sociedade

nas

últimas

décadas.

Estas

transformações levaram a uma maior autonomia dos membros da família, e ao declínio da autoridade dos pais, até

tarefa que, antigamente ocupava os adultos por todo tempo antecedente à terceira idade, agora ocupa menos da metade deste período. O que significa que a família não está mais organizada

primariamente

em

torno

dessa

atividade.

(CARTER; MCGOLDRICK; COLABORADORES, 1995). Além disso, os pais que antes exigiam obediência absoluta de sua prole, agora se preocupam mais com o êxito profissional de seus filhos. (TRAMONTANO, 2004).

porque o antigo modelo patriarcal, caracterizado pela

Desde o período colonial até o final do século XIX, a família

autoridade do pai sobre os demais membros, vem se

patriarcal tinha por principal objetivo manter os bens dentro da

alterando devido às históricas lutas de emancipação feminina,

família

e

todas

as

considerações

pessoais

pareciam


35

secundárias diante dos bens. Já a família contemporânea

De fato a autonomia do indivíduo, tem consequências no

assume característica "relacional" que se sobrepõe ao caráter

funcionamento doméstico. O que se percebe atualmente, é

de

o

que cada vez mais, casais procuram uma vida conjugal sem

comportamento dos indivíduos, e não somente a família,

perder a sua individualidade, assim, mais do que nunca, é

exemplo disto é o fato de um indivíduo não se definir mais

preciso respeitar o momento de cada membro familiar na vida

pelos laços familiares (filho de sicrano ou mulher de fulano). O

em comum, e levá-los em consideração ao projetar espaços

fato é que na família atual, os elos de parentesco pautam-se

destinados a esta nova forma de vida. (SINGLY, 2007).

instituição.

Deste

modo,

passa-se

a

valorizar

menos na propriedade, são as relações entre as pessoas do grupo que regem o espírito de família. (SINGLY, 2007).

Por fim, o que se nota é que as relações atuais são compostas por elos sociais menos sólidos do que as

Neste sentido, hoje, é impossível desprezar o individualismo,

anteriores, porém muito mais numerosos que antes, tendo em

entretanto, individualizar-se não significa que se deseje viver

vista as facilidades em conhecer pessoas e a autonomia de

só. Este paradoxo contemporâneo leva as pessoas a

que se pode desfrutar.

almejarem momentos de vida à sós e momentos de vida em comum, de modo que a busca de individualidade no seio familiar não exclui a necessidade de áreas comuns, como por

2.2 ALTERAÇÕES NO MODO DE VIDA DAS

exemplo, as conversas em torno da mesa que ajudam a

FAMÍLIAS

aproximar e unir os membros da família sem abolir suas diferenças, do mesmo modo que cada membro pode desejar em dado momento ficar em seu quarto, na sua “bolha”,

As transformações no perfil demográfico e nos padrões de

escutar música, jogar os jogos de vídeo, assistir a um filme,

comportamento da sociedade brasileira desde meados do

telefonar no seu celular, entre outros. (SINGLY, 2007).

século XX, sobretudo nas últimas décadas, nos permite


36

afirmar que as soluções projetuais da moradia foram ultrapassadas pela evolução dos costumes, isso ocorre porque os conceitos que norteiam a concepção espacial da habitação ainda remontam ao modelo burguês europeu do século XIX, que resulta na maioria das vezes, em casas e apartamentos

divididos

em

cômodos

funcionalmente

estanques agrupados em zona social, íntima e de serviços, como se pode notar na imagem seguinte. Além disso, a concepção destes espaços ainda sofre forte influência de princípios do movimento moderno europeu da primeira metade do século XX, os quais acabaram inibindo, até pela extrema conveniência da fórmula da habitação-tipo qualquer questionamento sobre o assunto, de modo que o desenho da habitação

permanece

aproximadamente

o

mesmo

décadas, com uma clara redução da superfície total em função de razões diversas. (TRAMONTANO, 2004).

Fig. 13 - Planta baixa de habitação atual com padrões burguês oitocentista Fonte: Adaptado de: disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=PLANTA+CASA+COM+CORREDO R&es_sm=93&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=yUqBU6mLN6LlsATbpY GwBQ&ved=0CAgQ_AUoAQ&biw=1366&bih=600>. Acesso em maio de 2014.

O fato é que estas influências, baseadas na família tradicional, tem direcionado o projeto da habitação até hoje, apesar do surgimento de novos grupos domésticos com


37

comportamentos diversificados, sem que a função, o desenho

Do mesmo modo, é importante notar a descentralização da

e

vida doméstica, pois é cada vez mais ativa a participação dos

a

articulação

dos

espaços

sejam

questionados.

(TRAMONTANO, 2004).

membros na economia familiar, fato que além de diluir a hierarquia, induz à redução das tarefas domésticas. Portanto,

Atualmente, a classe média das grandes cidades, se vê confinada

em

moradias

cada

vez

menores,

onde

a

estanqueidade funcional dos cômodos conflita com a versatilidade da vida atual, com quartos cada vez menores abrigando mais e mais equipamentos e mobiliários, como mesa de trabalho, televisão e computadores que confirmam a tendência de sobreposição de funções não planejadas em estruturas espaciais antigas (TRAMONTANO, 2004).

atividades antes realizadas dentro do lar, como a preparação e consumo de refeições, vêm se deslocando para fora da habitação. Cozinhar tende a se tornar uma atividade mais de convívio e lazer, e menos de serviço, realizada com amigos e familiares em momentos selecionados. Similarmente, o banho vem assumindo um caráter de relaxamento que se opõe ao stress do dia-a-dia, de modo que deve-se rever o desenho e o posicionamento do banheiro, pois relaxamento em um

Deste modo, devem-se considerar novas demandas como a

cubículo azulejado com janela diminuta e luz fria se torna

introdução do trabalho em casa, que impõe a reorganização

tarefa difícil. Esta mesma reflexão pode estender-se a todos

dos espaços domésticos, pois atualmente algumas condições

os ambientes da moradia atual. (TRAMONTANO, 2004).

facilitam esta pratica, como a comunicação virtual; a existência de profissões que permitem a escolha do lugar e horário de trabalho e a própria condição das grandes cidades, que dificulta os deslocamentos e provoca grande desgaste físico-emocional. (TRAMONTANO, 2004).

O fato é que na atual rotina das famílias brasileiras, a quantidade e a significação das atividades exercidas no espaço doméstico, vêm alterando o uso dos cômodos tradicionais, sugerindo que a antiga estanqueidade funcional dos mesmos (quarto para dormir, cozinha para cozinhar, banheiro para higiene, etc.) deve ser urgentemente revista.


38

Talvez não faça mais tanto sentido continuar classificando os

contracepção, a consequente dissociação entre sexualidade e

cômodos em ambientes de curta ou longa permanência, e

reprodução (onde o número de filhos passa a ser planejado),

isso significa que sua orientação solar, dimensionamento e

o aumento do número de divórcios e separações, a aceitação

relação

social de uniões livres e recomposições familiares, a

com

os

demais

espaços

também

precisam

referenciar-se em mais critérios. (TRAMONTANO, 2004).

desvinculação entre sexo e matrimônio, e o aumento da esperança de vida, bem como da população acima de 60

Deste modo, as transformações sociais e as consequentes mudanças no modo de vida das famílias, merecem respostas arquitetônicas

sensíveis

a

atual

heterogeneidade

de

anos. De fato, o que se observa não é o enfraquecimento da família, mas o surgimento de novos modelos familiares derivados de fenômenos sociais. (SINGLY, 2007).

realidades, impulsionando assim um processo de revisão tardio, porém inevitável dos programas de necessidades e

Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, ocorreram

das respostas habitacionais. (TRAMONTANO, 2004).

mudanças em seu papel dentro da estrutura familiar brasileira, alterando principalmente as relações de gênero. Prova disto, é que nos últimos anos houve um aumento

2.3 ALTERAÇÕES DEMOGRÁFICAS E OS NOVOS

significativo em sua participação na chefia dos arranjos

ARRANJOS FAMILIARES

familiares tradicionais e nas famílias que não possuem filhos. (VILLA, 2012). No gráfico seguinte podemos notar o crescimento da "chefia" feminina nestes tipos familiares entre

Existem diversos elementos mobilizadores das mudanças no interior da família e do surgimento de novos arranjos familiares, como a inserção da mulher no mercado de trabalho,

o

controle

da

fecundidade

por

meio

da

os anos de 2002 e 2012.


39

telecomunicações, tiveram importante papel na queda da mesma. Esta redução se deve também às alterações culturais, pois a procriação deixa de ser fundamental para a constituição da família em parcelas crescentes da população. Neste cenário, cresce o número de mulheres e homens que não possuem filhos e ainda tímido, o fenômeno das famílias homoafetivas sem filhos. (BARROS, ALVAS e CAVENAGHI apud VILLA, 2012). Nota-se ainda, que quanto maior a renda Gráfico 3 - Proporção de arranjos familiares com pessoas de referência do sexo feminino, segundo os tipos - Brasil - 2002/2012. Fonte: Adaptado de: IBGE, Pesquisa nacional por amostra de domicílios. 2002/2012.

e a escolaridade do segmento populacional, menores são as taxas de fecundidade. (ARRAIAGADA apud VILLA, 2012). O seguinte gráfico compara as taxas de nascimentos por

Além disso, com a crescente participação da renda feminina,

grupos de idades das mães, entre o período de 2002 a 2012.

dos jovens e demais membros, ocorrem mudanças de ordem

Nele podemos notar a redução do total de mulheres do grupo

econômica e social devido às alterações na renda familiar. A

etário de 15 a 19 anos, o declínio das taxas de fecundidade

contribuição feminina, através da mãe, da filha ou da avó, na

em todos os seguimentos etários e a postergação da

renda das famílias passou de 30,1% em 1992 para 40,9% em

maternidade principalmente até a faixa etária de 30 a 34

2009. Mais expressivo ainda foi o aumento de mulheres

anos, que se dá em especial no caso das mulheres com

cônjuges que contribuem para a renda familiar, que passou

maior escolaridade. (IBGE, 2012).

de 39,1% para 65,8% no mesmo período. (IPEA, 2009). Em relação à taxa de fecundidade no país, pode-se afirmar que políticas públicas de saúde, previdência, crédito, e as


40

Com a queda na taxa de fecundidade e o aumento da expectativa de vida, cresceu nos últimos anos a população idosa no Brasil, como mostra o gráfico 5 (VILLA, 2012).

Gráfico 4 - Proporção de registros de nascimentos, segundo os grupos de idade da mãe - Brasil - 2002/2012. Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação e Indicadores Sociais, Estatísticas do Registro Civil 2002/2012.

De modo geral, pode-se constatar uma crescente diminuição no tamanho do grupo familiar, pois nos últimos anos, vem caindo no país o número médio de pessoas por residência (BERQUÓ apud VILLA, 2012). Deste modo, a família brasileira que se compunha por uma média de 3,8 pessoas em 2000 passa a contar com 3,3 em 2010 (IBGE, 2010).

Gráfico 5 - Distribuição percentual da população residente, por sexo, segundo os grupos de idade - Brasil - 2002/2012. Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2002/2012.


41

Com o desenvolvimento das tecnologias e da ciência e a consequente melhoria da qualidade de vida, a população idosa tem ampliado cada vez mais sua vida econômica e social, com isso, o trabalho para o idoso representa não somente

a

complementação

da

renda,

mas

também

autonomia e integração social, fato que trouxe mudança em sua posição familiar, principalmente na sua condição de dependência em relação aos filhos, pois cada vez mais

Gráfico 6 - Taxas gerais de divórcios - Brasil - 2002/2012. Fonte: Adaptado de: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Estatísticas do Registro Civil 2002/2012.

aposentados estão chefiando famílias. (VILLA, 2012). Como podemos ver inúmeros são os fenômenos que dão

Ainda sobre as uniões, observou-se em 2012, o aumento da

origem a novos formatos familiares, entre eles, a aceitação do

idade média dos solteiros ao se casar. Isto se deve às

divórcio

uniões

oportunidades educacionais e à procura por inserção no

exclusivamente em prol da moral e dos bons costumes. Além

mercado de trabalho, especialmente dos mais jovens. Estes

disto, com a aprovação da Emenda Constitucional de 2010

fatores

que dispõe sobre a dissolubilidade do casamento civil, o

preponderantes no adiamento ou formalização de uniões.

estado suprimiu a necessidade de apresentar um motivo para

Talvez por isso vem crescendo no país o número de uniões

o divórcio. Isso possibilitou a rapidez no processo e

consensuais, que passou de 18,3% em 1991 para 28,3% em

impulsionou estas taxas. Analisando o gráfico 6, é possível

2000 (IBGE, 2010).

rompe

as

amarras

que

mantinham

notar o crescimento desta taxa, sobretudo, no período após a aprovação da Emenda, apresentando pequeno declínio no ano de 2012 (IBGE, 2012).

aliados

à

opção

de

união

consensual

são

No entanto, ao analisar o seguinte gráfico, nota-se que há uma tendência de elevação das taxas de nupcialidade legal, embora em patamares bem inferiores aos da década de 70.


42

Esta elevação deve-se, sobretudo às facilidades no divórcio, e

guarda de uma ou mais crianças; os casais DINC (Duplo

aos recasamentos, além de casais que buscam formalizar

Ingresso

suas uniões incentivados pelo código civil renovado em 2002.

(domicílio constituído por um casal no qual pelo menos um

e

Nenhuma

Criança);

famílias

reconstituídas

dos cônjuges tenha passado matrimonial e a guarda de um ou mais filhos); uniões livres com ou sem filhos (incluindo casais homossexuais); pessoas que vivem sós; grupos coabitando sem laços conjugais ou de parentesco; e a própria família nuclear renovada. (VILLA, 2012). Gráfico 7: Taxas de nupcialidade legal - Brasil - 2002/2012. Fonte: Adaptado de: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Estatísticas do Registro Civil 2002/2012.

Com todas estas alterações, o casamento passa a não ser o único meio de se instituir família, este fato aliado à desvinculação da vida sexual ao matrimônio, faz surgir novos arranjos familiares que permitem refundar, de outra forma, a ordem simbólica da família. (SINGLY, 2007). Estes novos grupos domésticos, passam a dividir espaço nas estatísticas, com a família nuclear, entre eles encontram-se a família monoparental (com maior frequência encabeçada pela mulher) composta por um indivíduo (homem ou mulher) que se encontra sem cônjuge ou companheiro e vive com a

Fig. 14 - Arranjos familiares diversos. Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=arranjos+familiares&es_sm=93&so urce=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=xh-BU66xEvJsQSO_4HQBg&ved=0CAgQ_AUoAQ&biw=1366&bih=643>. Acesso em maio de 2014.


43

No caso das famílias monoparentais, pode-se afirmar que o

Normalmente os casais tipo DINC por possuírem rendimentos

aumento das separações e divórcios tem contribuído para o

elevados (em média 2,8 salários mínimos per capta)

crescimento deste tipo familiar. Outros fatores que também

costumam estar entre os 10% mais ricos da população. Em

contribuem para este aumento são a viuvez (principalmente

geral o casal DINC por possuir maior renda, alcança melhores

de mulheres que perdem seus parceiros) e o crescente

condições de moradia, maior nível de consumo e carreiras

número de mães solteiras, que pode estar associado à nova

mais promissoras por se qualificar mais. (VILLA, 2012).

postura da mulher em relação à reprodução. (VILLA, 2012). O fato de predominar as famílias monoparentais com "chefia" feminina pode ser explicado, além dos fatores já citados, porque quando decorrente da ruptura da união entre casais, na maioria das vezes, os filhos ficam sob a tutela da mãe. (CASTELO BRANCO apud VILLA, 2012). Quanto aos casais sem filhos chamados DINC, existem pelo menos dois tipos de situações, uma delas refere-se às famílias que se encontram na fase do "ninho vazio", onde os filhos já saíram de casa, e a outra se dá quando os casais, normalmente com duplo rendimento, optam por não ter filhos. (VILLA, 2012). Entre as causas da formação deste último caso, pode-se apontar a participação feminina no mercado de trabalho, a postergação da idade ao se casar e o contínuo aumento da escolaridade (IBGE, 2010).

Ainda que diversos novos formatos familiares tenham surgido, a grande maioria das pessoas vive o ciclo de vida nuclear, que apesar de predominar no pais, vem decrescendo ao longo do tempo. (IPEA, 2010 apud VILLA 2012). Como mostra o seguinte gráfico, em relação ao período de 2002 a 2012, houve redução de 7,7% neste tipo de família, e consequentemente aumento no número de casais sem filhos, já nos arranjos chamados "monoparentais femininos", houve queda de 1,7%. Observou-se também o aumento dos tipos familiares intitulados como "outros" (IBGE, 2012).


44

Gráfico 9 - Proporção de arranjos unipessoais - Brasil - 1981/2012. Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1981/2012.

Gráfico 8 - Proporção dos arranjos familiares segundo o tipo - Brasil 2002/2012. Fonte: Adaptado de: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2002/2012.

Estudos

indicam

que

uma

relação

diretamente

proporcional entre o crescimento do número de pessoas vivendo sós e o aumento no número de anos de estudo. Sobre a faixa etária deste grupo doméstico, destacam-se os

Os arranjos unipessoais, segundo a PNAD, representavam 9,3% dos arranjos familiares em 2002, passando para 13,2% em 2012. O gráfico seguinte mostra a proporção de pessoas vivendo só desde 1981 até 2012, mostrando assim, que esta tem sido a opção de uma parcela crescente da população. Os fatores que levam a estes índices são vários, entre eles, os mais significativos são a queda da fecundidade e o envelhecimento da população. A elevação destes índices tem sido constatada mundialmente e no Brasil praticamente dobrou nos últimos 30 anos, conforme indica o gráfico 9 (IBGE, 2012).

idosos, adultos entre 40 e 50 anos, e grupos jovens com até 29 anos, predominantemente femininos (CARVALHO et al.apud VILLA, 2012). E nas idades mais avançadas o crescente número de mulheres vivendo sozinhas decorre do aumento da longevidade feminina que se sobressai à masculina. Entre os adultos cresce o número de homens e mulheres vivendo só, pois existe apesar de um aumento das taxas de nupcialidade, maior número de divórcios e separações, (CARVALHO e ALVES apud VILLA, 2012).


45

forma esquálidos e repetitivos modelos podem atender à De modo geral, muitos são os fatores a serem considerados

diversidade de famílias brasileiras? (VILLA, 2012).

na atualidade no que tange a pluralidade das famílias, pois as variações são numerosas, compreendendo famílias com filhos adultos que ainda vivem com os pais devido ao custo elevado de moradias ou ainda filhos separados ou divorciados que retornam ao lar, com ou sem filhos; famílias estendidas com avós

que

moram

com

a

família

nuclear;

membros

adoentados, deficientes; entre outros fatores. (GHIRARDO, 2002). Contudo, o que temos observado na produção do mercado imobiliário é uma conduta ainda pautada nos velhos hábitos da produção de empreendimentos que apresentam grande capacidade de liquidez em detrimento de suas qualidades construtivas,

arquitetônicas

e

ambientais.

O

produto

imobiliário, na maioria das vezes é concebido com foco na

Fig. 15 - Habitação padrão com espaços rígidos. Fonte: Disponível em: <http://www.afci.com.br/beach_ park_living.htm>. Acesso em: maio de 2014.

Fig. 16 - Habitação flexibilizada com espaços flúidos. Fonte: Disponível em: <http://www.innovarweb.com.br/imobilia ria/ficha.php?id=15>. Acesso em: maio de 2014.

rápida circulação da mercadoria, bem como na expansão Tratam-se de

Vivemos em uma sociedade na qual os índices e padrões de

moradias na qual a padronização e a rigidez, consolidadas na

comportamentos e consumo alteram-se a cada dia em um

planta

espaciais

mundo hiper-conectado e globalizado que, no mínimo, coloca

tradicionais, que nem sempre traduzem qualidade. De que

em “cheque” antigos hábitos, condutas e crenças. Acredita-se

constante dos mercados consumidores.

tipo,

baseiam-se

em

organizações

que as manifestações demográficas, sociais, culturais e


46

econômicas aqui explicitadas, devam servir para compor diretrizes

a

serem

consideradas

nos

programas

de

necessidades de projetos residenciais. (VILLA, 2012). Deste modo, os diversos arranjos e alterações familiares estudados, funcionam como indicadores para a concepção projetual da habitação contemporânea. O aumento do número de casais sem filhos, da expectativa de vida, e do número de divórcios, por exemplo, apontam para a necessidade de unidades habitacionais de uma suíte, com espaços mais democráticos, unitários e fluidos. Por outro lado, a família tradicional requer uma separação mais convencional do espaço físico, com respeito à individualidade e privacidade de cada membro do grupo familiar. Já as famílias recompostas ou extendidas, necessitam de quartos a mais e ambientes com maiores sobreposições de funções ao longo do dia. O que se pode concluir, portanto, é que quanto mais flexível for uma unidade habitacional maiores são as chances de que ela seja absorvida e maior a satisfação ao longo do ciclo familiar.


47

para o âmbito das cidades, ao passo que, além de possibilitar

CAPÍTULO 3 - HABITAÇÃO COLETIVA

adequações de usos em edificações, sua versatilidade se

FLEXÍVEL

configura em um importante mecanismo capaz de manter nossas cidades vibrantes, pois em tempos de contínuas

No decorrer deste estudo, que tem como foco a moradia coletiva contemporânea, foram analisados o contexto da habitação atual - a cidade - bem como os usuários desta moradia - as famílias. A importância deste capítulo, que trata sobre a flexibilidade na habitação, pode ser compreendida, tanto na escala da cidade, quanto no âmbito das famílias.

com

que

as

mudanças

ocorrem

na

contemporaneidade, entende-se a importância da flexibilidade como uma resposta às diversas necessidades programáticas decorrentes

desta

pluralidade

e

mutabilidade,

famílias, a habitação, o edifício, a rua, e até mesmo toda a cidade, podem se tornar inadequados e/ou ultrapassados caso estas novas necessidades não sejam pauta na tomada de decisões projetuais. O capítulo aborda, portanto, a conceituação do tema

No que se refere às famílias, diante de toda diversidade e velocidade

mudanças no contexto urbano e no modo de vida das

flexibilidade, bem como algumas estratégias e facilitadores considerados importantes na composição de diretrizes projetuais a serem consideradas na proposta de um novo edifício residencial multifamiliar - Edifício Flexible House.

sendo,

portanto, um meio de conceder ao usuário maior autonomia e

3.1 FLEXIBILIDADE: CONCEITUAÇÃO

consequentemente maior satisfação no processo de morar. Sendo, a arquitetura residencial multifamiliar flexível, uma

Segundo Aurélio (1980 apud FINKELSTEIN, 2009, p. 13), a

resposta às demandas do modo de vida contemporâneo,

palavra

pode-se afirmar que trata-se de um tema importante também

Qualidade de flexível. 2. Elasticidade, destreza, agilidade,

Flexibilidade

possui

a

seguinte

definição:

“1.


48

flexão,... 3. Facilidade de ser manejado; maleabilidade. 4.

presente estudo busca compilar tais contribuições em prol de

aptidão para variadas coisas,...” Mas qual o significado de

uma visão objetiva sobre o tema, de modo que as definições

flexibilidade em arquitetura?

mais significativas e esclarecedoras servirão de base para refletir sobre a importância da flexibilidade para a arquitetura

Diversos autores como Hamdi (1991), Corrêa (1996), Galfetti (1997),

Koolhaas

(1997),

entre

outros,

conceituam

da habitação coletiva.

a

flexibilidade na arquitetura. A partir destes conceitos, o CONCEITO DE FLEXIBILIDADE SEGUNDO DIVERSOS AUTORES Hamdi (1991 apud JORGE, 2012, p. 54): Liberdade de escolha entre opções existentes ou a criação de programas que atendam às necessidades e desejos dos indivíduos em relação às edificações que ocupam. Demonstra o quanto um projeto é capaz de assegurar nas edificações, nos programas ou nas tecnologias utilizadas, uma boa funcionalidade inicial, que possibilite respostas às futuras modificações, para isto o projeto deve prever a influência das configurações espaciais e das dimensões dos ambientes construídos, dos serviços envolvidos e/ou das tecnologias intrínsecas aos componentes dos sistemas construídos. Corrêa; Fabrício e Martucci (1996 apud JORGE, 2012): Possibilidade de minimizar custos, considerando o ciclo de vida do produto na medida em que permite a readequação ao uso conforme novas necessidades relacionadas a ampliações, rearranjos espaciais ou adaptações funcionais. Galfetti (1997 apud JORGE, 2012): Mecanismo dotado de determinado grau de liberdade que torna possível a diversidade de modos de vida e serve para compensar a lacuna entre o arquiteto e o futuro habitante desconhecido. Koolhaas (1997 apud PAIVA, 2002): Não é a antecipação exaustiva de todas as modificações possíveis, pois muitas alterações são imprevisíveis. Trata-se da criação de uma ampla capacidade que permite diferentes ou opostas interpretações e usos. Gausa (1998 apud PAIVA, 2002): Maior polivalência e versatilidade do espaço. Sust (1998 apud PAIVA, 2002): O grau de flexibilidade na habitação pode ser maior quanto mais clara, neutra e ampla é a sua estrutura, quanto mais ordenada e equilibrada é a sua compartimentação e quanto mais fácil for a supressão de paredes para a integração de compartimentos vizinhos. Hertzberger (1999 apud JORGE, 2012): Para ele a forma polivalente se traduz na cura para todos os males da arquitetura, por isso se apoia na neutralidade da forma, na ausência de traços característicos como meio de dar liberdade à interpretação individual e acomodar o inesperado.


49

Mesquita (2000 apud JORGE, 2012): Estratégia para garantir os anseios dos usuários e assegurar contra as incertezas geradas pela falta de participação deste no processo produtivo. Schneider (2006 apud JOGE, 2012): Solução para as permanentes mudanças da situação das famílias (tamanho, composição) e a crescente diversidade das necessidades de moradia. Para ele, a planta flexível dá ao indivíduo a oportunidade de "reformar" a sua própria habitação, ao invés de se mudar. Quadro 3 - Conceito de flexibilidade segundo diversos autores. Fonte: Elaborado pela autora.

3.2 FLEXIBILIDADE: TIPOS Pode-se concluir, portanto, que flexibilidade em arquitetura residencial trata-se da capacidade que a habitação possui de se adequar as necessidades daqueles que a habitam, constituindo-se em um importante instrumento a ser utilizado quando se deseja levar em consideração a grande pluralidade de indivíduos, famílias e hábitos que configuram os perfis dos usuários da habitação contemporânea. Deste modo, entra em cena

o

fator

tempo,

como

aquele

responsável

pela

imprevisibilidade das alterações que ocorrem na sociedade, nas estruturas familiares, nos hábitos das pessoas e nas inovações tecnológicas durante o ato de habitar, cabendo à flexibilidade a resposta às novas demandas que surgem.

Dois conceitos essenciais de flexibilidade arquitetônica podem estimular a longevidade do edifício e combater a sua obsolescência, são eles: TIPOS DE FLEXIBILIDADE FLEXIBILIDADE INICIAL OU FLEXIBILIDADE PERMANENTE CONCEITUAL OU CONTÍNUA OU FUNCIONAL OU POSTERIOR Refere-se à fase de Refere-se ao período de uso, que projeto/construção, que corresponde à possibilidade de corresponde à concepção técnica modificar o espaço e o seu uso ao e arquitetônica de soluções longo da vida útil da habitação. As flexíveis e também a possibilidade modificações podem alterar ou do usuário participar na não as características físicas do concepção da habitação e ter, a espaço. partir de uma oferta diversificada, a possibilidade de escolha. Quadro 4 - Tipos de flexibilidade. Fonte: Elaborado pela autora segundo Paiva (2002).


50

Através destes tipos de flexibilidade o usuário pode participar

Contudo, é importante destacar que o sucesso da arquitetura

do processo de projeto ajudando na definição de um

doméstica contemporânea é relativo à sua flexibilidade, pois o

programa adequado a seu modo de vida, ou escolher a planta

lar flexível permitir que o residente adapte-o à sua maneira

que melhor condiz às suas necessidades atuais (no caso da

com o passar do tempo. (FINKELSTEIN, 2009). Com base

flexibilidade inicial), ou ainda, no caso da flexibilidade

nesta afirmativa e nos tipos de flexibilidade aqui analisados,

contínua, ele poderá intervir no espaço ao longo de sua vida

pode-se afirmar que a flexibilidade funcional configura a

útil. Deste modo, pode-se entender a flexibilidade inicial como

melhor opção por ocorrer de forma contínua no espaço

algo que abrange uma diversidade imediata, ficando por conta

habitado diante da constante revolução domestica que a

da flexibilidade funcional, as projeções futuras que garantirão

habitação contemporânea esta sujeita.

uma maior satisfação do habitante (PAIVA, 2002).

flexibilidade representa a real possibilidade de se aumentar a

Este tipo de

vida útil das edificações, uma vez que permite projeções Segundo Seres e Galfetti (1997 apud PAIVA, 2002) a flexibilidade permanente pode ainda ser subdividida em três conceitos: mobilidade, evolução e elasticidade, os quais se encontram discriminados no seguinte quadro: FLEXIBILIDADE PERMANENTE MOBILIDADE Rápida modificação dos espaços segundo as horas e as atividades diárias; EVOLUÇÃO Modificação do espaço a longo prazo, segundo as transformações da família; ELASTICIDADE Modificação da superfície habitada ampliando-a ou reduzindo-a. Quadro 5 - Tipos de flexibilidade permanente. Fonte: Elaborado pela autora segundo (PAIVA, 2002).

futuras que garantem a participação do habitante no processo de morar, sendo assim, suas estratégias serão abordadas neste estudo, como um meio de compor diretrizes projetuais para a habitação residencial multifamiliar flexível (PAIVA, 2002).

3.3 ESTRATÉGIAS DE FLEXIBILIDADE

As estratégias de projeto capazes de promover a flexibilidade, bem como os facilitadores desta flexibilidade, podem ocorrer


51

ora de modo isolado, ora em conjunto, determinando assim, o

A planta baixa do pavimento tipo do edifício de apartamentos

grau

Estas

projetado por Mies Van der Rohe (Fig. 17), mostra que a

seguir,

locação dos pilares de forma estratégica, confere maior

considerados de relevância para a arquitetura residencial

fluidez ao espaço interno das unidades habitacionais, fato que

multifamiliar, e foram escolhidas com o objetivo de compor

pode ser comprovado ao analisarmos a Fig. 18, que mostra a

diretrizes para conferir flexibilidade a um novo projeto de

fluidez interna de uma destas unidades.

de

estratégias

flexibilidade estão

de

determinado

presentes

nos

espaço.

exemplos

a

arquitetura habitacional coletiva. As estratégias escolhidas para análise foram: estrutura independente; modulação estrutural; fachada livre; núcleos de circulação, áreas molhadas e shafts; adaptabilidade; e cômodo autônomo.

3.3.1 Estrutura independente Considerando que a estrutura de uma edificação é aquilo que a sustenta, a estratégia de estrutura independente pode ser vista como um primeiro passo quando se deseja conceber uma arquitetura flexível, pois permite a criação de uma planta livre onde as paredes podem ser localizadas de forma independente à estrutura, dando maior liberdade e fluidez ao espaço interno, além de facilitar alterações futuras na habitação. Por tanto, se tratando de um projeto novo, esta estratégia deverá ser com certeza levada em consideração.

Fig. 17 - Lake Shore Drive Apartments, Chicago, Estados Unidos. Planta baixa - Estrutura independente. Fonte: Adaptado de (FINKELSTEIN, 2009, p. 131).


52

de ambientes e até mesmo de unidades residenciais distintas em um mesmo edifício, ou seja, o módulo possibilita que os usuários se apropriem do espaço com maior autonomia (FINKELSTEIN, 2009). Como se pode notar através da Fig. 19, a modulação da estrutura proporciona a possibilidade de unir dois quartos, ampliar a sala de estar ou jantar, entre outras possibilidades que exigem apenas a supressão ou adição de paredes. Fig. 18 - Lake Shore Drive Apartments, Chicago, Estados Unidos. Imagem interna - Fluidez espacial. Fonte: Disponível em: <http://aprendersociales.blogspot.com.br/2009/12/lake-shore-diveapartments.html> Acesso em: maio de 2014.

3.3.2 Modulação estrutural Complementar à estratégia anterior, a modulação da estrutura, além de reduzir os custos com a obra, é considerada importante na concepção de um novo projeto para criar intervalos que possam ser manipulados com maior facilidade, pois a criação de uma malha ordenada dá origem à módulos que irão compor o espaço arquitetônico, de modo que a partir da divisão ou da multiplicação deste módulo, torna-se possível efetuar reformulações, como associações

Fig. 19 - Conjunto habitacional Boituva, São Paulo. Fragmento de planta baixa do pavimento tipo - Modulação estrutural. Fonte: Adaptado de: Disponível em: <http://habitacaocoletivaverticalizada.blogspot.com.br/2011/09/analisecomparativa-de-projetos.html>. Acesso em: maio de 2014.


53

3.3.3 Fachada livre

interno da unidade pode ser facilmente possibilitada graças à flexibilidade que a fachada confere ao projeto.

A fachada livre é uma resultante da estrutura independente, e sua liberdade em relação a esta, permite que possa ser alterada conforme necessidades internas ou externas à edificação. Deste modo, além de se garantir a atualização da fachada, segundo novos padrões estéticos, torna-se possível uma maior liberdade de posicionamento de esquadrias e consequentemente de alterações de usos nos ambientes da unidade. Trata-se, portanto, de um importante instrumento para que se combata a pré-determinação de usos dados aos ambientes, pois quando se tem um posicionamento de esquadrias segundo intervalos rígidos, torna-se difícil a alteração de usos nestes espaços, em contrapartida a estratégia de fachada livre facilita estas alterações. As imagens seguintes mostram a fachada (Fig. 20) e a planta baixa (Fig. 21) do Edifício residencial Pop Madalena em São Paulo. É possível notar, que a fachada encontra-se completamente independente à estrutura da edificação, pois em planta, nota-se que habitação e fachada encontram-se separadas por uma varanda e qualquer alteração no ambiente

Fig. 20 - Edifício residencial Pop Madalena, São Paulo. Fachada livre. Fonte: Disponível em: <http://www.ideazarvos.com.br/pop-madalena/>. Acesso em: maio de 2014.


54

shafts, quando concentrados em núcleos, ou de forma periférica ou ainda em ilha, permitem a liberação de áreas habitáveis neutras. Deste modo, o morador poderá desfrutar de um espaço de uso livre e participativo, sem que lhe sejam impostas as atividades a serem desenvolvidas em cada ambiente (JORGE, 2012). Como mostra a seguinte planta baixa (Fig. 22), a posição nuclear das áreas molhadas (em azul), possibilita que as Fig. 21 - Edifício residencial Pop Madalena, São Paulo. Planta baixa. Fonte: Adaptado de: Disponível em: <http://www.ideazarvos.com.br/popmadalena/>. Acesso em: maio de 2014.

demais áreas da habitação sejam apropriadas pelo usuário da forma que lhe convier, permitindo que o mesmo espaço possa assumir diversos tipos de layouts, como mostram as

3.3.4 Núcleos de circulação, áreas molhadas e shafts

alternativas "A" e "B" da imagem.

Outro instrumento que confere flexibilidade a novos projetos é a localização estratégica de núcleos de circulação, áreas molhadas

e

proporcionar

shafts, maior

pois

este

versatilidade

posicionamento às

demais

pode

áreas da

habitação, liberando as porções periféricas do volume, além de conferir economia à construção. Estes elementos, considerados definitivos ou de difícil manejo, como as circulações verticais, horizontais, banheiros, cozinhas e

Fig. 22 - Edifício Amsterdam - Dapperbuurt, Holanda, 1989. Planta baixa possibilidades de layout. Fonte: Adaptado de (FINKELSTEIN, 2009, p. 115).


55

O resultado desta estratégia, como se pode notar na Fig. 23,

serviços, os núcleos de circulação vertical (JORGE, 2012).

é a formação de espaços fluidos e neutros a serem

Neste caso, além da formação dos espaços neutros em torno

personalizados segundo as necessidades e desejos do

dos núcleos de serviço, a circulação foi posicionada de forma

usuário.

estratégica, uma vez que não intervém no espaço habitado.

Fig. 23 - Edifício Amsterdam - Dapperbuurt, Holanda, 1989. Imagem interna de determinada unidade - espaço fluido e integrado. Fonte: Disponível em: <http://afewthoughts.co.uk/flexiblehousing/house.php?house=86&number= 15&total=19&action=between&data=1980%20and%201989&order=keyna me&dir=DESC&message=projects%20between%201980%20and%20198 9&messagead=reverse%20alphabetically%20ordered%20by%20architect &photo=3>. Acesso em: maio de 2014.

Fig. 24 - Conjunto Residencial Zezinho Magalhães Prado, 1967. Guarulhos, SP. Planta do pavimento padrão do bloco de apartamentos tipo 1. Núcleo hidráulico e de circulação. Fonte: Adaptado de: (JORGE, 2012, p. 239).

Os

shafts,

espaços

compreendidos

entre

paredes,

responsáveis por abrigar dutos de instalações verticais, concentram estas instalações, promovendo maior economia e

Na planta baixa do Conjunto Residencial Zezinho Magalhães

organização na construção (FINKELSTEIN, 2009). Como

Prado (Fig. 24), localizado na cidade de Guarulhos, em São

mostra a Fig. 25, a concentração destes shafts em pontos

Paulo, pode-se notar além da presença de núcleos de

estratégicos, além de permitir o melhor aproveitamento do


56

espaço habitado, dão maior liberdade de escolha na hora de

facilitadores como portas de correr, divisórias móveis ou

decidir o posicionamento das instalações, sendo assim, esta

removíveis de correr, pivotantes ou dobráveis, divisórias

estratégia possibilita que o usuário determine os usos dados a

leves, mobiliário projetado embutido ou como divisória de

cada espaço dentro da unidade habitacional, sem que a

ambientes, entre outros elementos (FINKELSTEIN, 2009).

localização de prumadas "engesse" seus desejos. Esta estratégia, quando aliada a dispositivos móveis, conduz a

uma

adequação

instantânea

do

espaço

habitado,

proporcionando seu melhor aproveitamento no dia a dia. Deste modo, representa um bom recurso de flexibilização de apartamentos pequenos e de ambientes multifuncionais. Torna-se possível então, integrar os ambientes por completo ou parcialmente, ampliar uma área social ou subdividir o espaço em um novo cômodo para abrigar um uso íntimo, além de possibilitar várias alternativas de distribuição de Fig. 25 - Prêmio Caixa - IAB 2006 - Habitação Social, Niterói, Rio de Janeiro. Planta baixa - Shafts. Fonte: Adaptado de: (FINKELSTEIN, 2009, p. 153).

layout em planta (JORGE, 2012). É possível através da adaptabilidade realizar alterações nos espaços em função de seus usos diurnos ou noturnos, o que

3.3.5 Adaptabilidade

configura grande versatilidade aos ambientes, que podem

Esta estratégia possibilita a adaptação da habitação em

assumir usos distintos ao longo do dia. Exemplo disso é a

função de seus usos, subdividindo e/ou integrando espaços

utilização de um mesmo espaço que a noite é usado para

internos sem que seja necessário lançar mão de reformas.

dormir, por exemplo, e de dia pode ser aproveitado em outras

Isto se torna possível através da utilização de elementos

atividades como o trabalho em casa.


57

No projeto das moradias em Carabanchel, Espanha, os apartamentos possuem soluções como camas embutidas e, mobiliários planejados junto ao projeto do imóvel, que permitem ao usuário modificar o espaço diariamente, conforme mostram a planta baixa esquemática (Fig. 26) e as imagens internas das unidades habitacionais (Fig. 27 e 28) (FINKELSTEIN, 2009). Fig. 27 - Edifício em Carabanchel, Espanha, 2000/ 2003. Imagens internas - Alterações de usos dia/noite. Fonte: Disponível em: <http://en.wikiarquitectura.com/inde x.php/File:Viviendas_Sociales_Cara banchel_INTERIOR_04.jpg>. Acesso em: maio de 2014.

Fig. 28 - Edifício em Carabanchel, Espanha, 2000/ 2003. Imagens internas - Alterações de usos dia/noite. Fonte: Disponível em: < http://en.wikiarquitectura.com/index. php/File:Viviendas_Sociales_Carab anchel_INTERIOR_05.jpg>. Acesso em: maio de 2014.

3.3.6 Cômodo autônomo A estratégia de disponibilizar um cômodo autônomo, em habitações coletivas, pode ser uma boa forma de contemplar algumas particularidades que ocorrem no âmbito familiar, Fig. 26 - Edifício em Carabanchel, Espanha, 2000/ 2003. Planta baixa esquemática - Distribuição de atividades dia/noite. Fonte: Adaptado de (FINKELSTEIN, 2009, p. 165).

entre elas, pode-se citar a autonomia de filhos crescidos ou o acolhimento daqueles que retornam ao lar, o trabalho em casa, a acomodação de visitantes ou agregados à família, entre outras atividades, que demandem por comodidade. Esta


58

estratégia é importante no ato de projeto de um novo

adjacentes, entre outras possibilidades, conforme indica os

empreendimento residencial, uma vez que já garante certo

diagramas a seguir.

grau de flexibilidade à unidade através de um cômodo que pode

assumir

diversas

formas

de

uso,

segundo

a

necessidade do grupo familiar. Tal estratégia é viabilizada pela delimitação de um espaço com localização estratégica próxima às áreas de acesso principal da habitação, e o grau de independência deste cômodo pode ser elevado pela

Fig. 29 - Esquemas para cômodo autônomo com múltiplas combinações e oportunidades de associação. Fonte: (SCHNEIDER apud JORGE, 2012, p. 271).

inclusão de um sanitário, que o torna completamente autônomo em relação ao apartamento pertencente (JORGE,

3.4 FACILITADORES DA FLEXIBILIDADE

2012). Segundo Schneider (2007 apud JORGE, 2012), um conceito interessante sobre cômodo autônomo, discorre sobre a permutação de um cômodo com uso indeterminado entre unidades habitacionais diferentes. A flexibilidade neste caso se dá por meio de uma série de possibilidades, como o uso independente

por

qualquer

um

dos

apartamentos

do

pavimento, com acesso imediato pela circulação coletiva; associação horizontal intercalada para uma única unidade; agrupamento integral de todos os cômodos com possibilidade de repartir o cômodo compartilhado entre as unidades

Algumas das estratégias abordadas neste estudo são concretizadas por meio de elementos facilitadores que são utilizados hora de forma isolada hora em conjunto com o objetivo de conferir flexibilidade aos espaços. A seguir serão abordados

alguns

destes

facilitadores

como

paredes

divisórias leves, paredes divisórias móveis, mobiliários como divisórias, entre outros, que funcionam, principalmente, como meios de viabilizar a estratégia de adaptabilidade.


59

3.4.1 Paredes divisórias internas leves As paredes divisórias internas leves são uma das formas de se conseguir adaptabilidade em determinados ambientes, uma vez que a supressão ou adição destas paredes requer menos esforços que no caso de paredes rígidas. É importante que a divisória leve, para garantir maior satisfação dos usuários, além de adequar-se às novas organizações

espaciais,

através

de

sua

característica

desmontável, possibilite a passagem de tubulações das instalações, atenda a requisitos como privacidade acústica e

Fig. 30 - Pont de La Cadena, Molins de Rei. Planta baixa - Divisórias leves. Fonte: Adaptado de (FINKELSTEIN, 2009, p. 173).

visual e possibilite a instalação de portas e outras aberturas necessárias. Estes elementos como são industrializados,

Nas Fig. 31 e 32, pode-se notar ambientes que utilizaram de

permitem facilmente as ações de aumentar, complementar ou

divisórias internas leves em madeira e em gesso, conferindo a

suprimir espaços, e os materiais utilizados normalmente são

estes espaços a possibilidade de alterações de forma

gesso, madeira, entre outros (FINKELSTEIN, 2009).

facilitada segundo as necessidades do usuário.

Na planta baixa a seguir nota-se que a utilização de divisórias internas leves possibilita a união entre ambientes e o remanejamento de espaços de forma facilitada sem que seja necessário lançar mão de grandes reformas.


60

se encontra ligado. Trata-se de uma possibilidade que confere maior privacidade quando necessário e permite que um mesmo espaço assuma funções distintas ao longo do dia, em função de sua fácil manipulação e versatilidade, condição esta, indispensável para acompanhar a velocidade das mudanças, e as dificuldades econômicas em mudar de Fig. 31 - Divisória interna leve em madeira. Fonte: Disponível em: <http://divisorias.co/divisorias/divisor ias-de-madeira-para-casa/>. Acesso em: maio de 2014.

Fig. 32 - Divisória interna leve em gesso. Fonte: Disponível em: <http://www.ideazarvos.com.br/oito />. Acesso em: maio de 2014.

domicílio quando o usuário se encontra insatisfeito ou necessita de outras configurações espaciais (JORGE, 2012). Estas divisórias possuem diversos mecanismos com variadas formas de movimentação, abertura e conexões, que podem ser camufladas ou podem desaparecer por completo

3.4.2 Paredes divisórias móveis

conforme a intenção de projeto. O tipo de mecanismo

Assim como as divisórias leves, as divisórias móveis também

escolhido irá conferir diferentes graus de flexibilidade ao

são facilitadoras da estratégia de adaptabilidade, no entanto,

ambiente, através de suas características que possibilitam

este tipo de divisória configura caráter mais instantâneo e

integração total ou parcial entre ambientes. A seguir

constante às mudanças no ambiente habitado devido ao fato

encontram-se alguns destes elementos (JORGE, 2012).

de serem móveis, facilitando adaptações de forma ágil e financeiramente viáveis no decorrer da utilização dos espaços, conforme as atividades desenvolvidas em cada ambiente. Estas divisórias podem abrir e fechar integralmente um ambiente para dialogar ou não com outro cômodo no qual


61

Fig. 34 - Prêmio Caixa - IAB 2006 - Habitação Social, Niterói, Rio de Janeiro. Planta baixa - Divisórias móveis. Fonte: Adaptado de (FINKELSTEIN, 2009, p. 153).

Fig. 33 - Mecanismos de abertura dos elementos de divisão vertical, com variação no sentido e número de segmentos. Fonte: (JORGE, 2012, p. 381).

A Fig. 35 mostra internamente a versatilidade que estas divisórias podem conferir a determinados ambientes.

Na planta baixa a seguir, pode-se notar que as divisórias móveis conferem aos espaços certa privacidade que em determinados momentos do dia pode ser dispensada em função de outras funções que os ambientes podem assumir.

Fig. 35 - Divisórias internas móveis. Aberta e fechada. Fonte: Disponível em: <http://imovelvip.com.br/blog/dica-de-decoracaodivisoria-flexivel/>. Acesso em: maio de 2014.


62

3.4.3 Mobiliário operacional No caso do mobiliário operacional, além de possibilitar toda essa versatilidade, ainda é possível recolher um móvel para dar espaço a novas atividades, como por exemplo, no caso de uma cama retrátil que de dia dá lugar a um espaço de trabalho, compondo, portanto, uma importante solução para unidades de área reduzida. Este tipo de mobiliário serve ainda para armazenar pertences, demarcar espaços e deve ser planejado em conjunto com o projeto arquitetônico da unidade residencial. Quando o mobiliário é incorporado ao projeto, especialmente, quando o espaço restante é deixado livre, o usuário consegue fazer uso do espaço de maneira mais eficiente. Geralmente, para localizar este mobiliário, são

Fig. 36 - Black Treefrog, Bad Walterrsdorf, Áustria, SPLITTERWERK, 2004. Planta baixa dos pavimentos térreo e superior de uma unidade básica, de 32m²; esquemas dos nichos funcionais periféricos e fotos internas dos espaços em uso. Fonte: (MOSTAEDI, 2006 apud JORGE, 2012, p. 389).

destinados locais residuais da planta, como nichos, ou locais centrais,

liberando

as

fachadas

para

as

aberturas

(FINKELSTEIN, 2009). O projeto Balck Treefrog, em Bad Waltersdorf, na Áustria (Fig. 36), é constituído por apartamentos de 32 m², com nichos perimetrais funcionais (equipados com cozinha, banheiro, escada, sala e quarto) e um único ambiente central vazio, que libera a superfície habitável ao uso (JORGE, 2012).

Outro exemplo pode ser verificado na Fig. 37, onde um espaço que durante o dia é utilizado como estar, sede lugar à cama nos momentos de descanso, o que é bastante interessante em casos de apartamentos pequenos onde os ambientes necessitam assumir certa multifuncionalidade.


63

acesso e o jantar, e entre ambientes de estar como mostra a Fig. 38 (FINKELSTEIN, 2009).

Fig. 37 - Cama retrátil. Fonte: Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres?imgurl=&imgrefurl=http%3A%2F%2Fw ww.habitissimo.com.br%2Forcamentos%2Fsao-paulo%2Fsaopaulo%2Fcama-retratil-transformavel-em-sofa&h=0&w=0&tbnid=JaizlNrnSnVvM&zoom=1&tbnh=130&tbnw=388&docid=RzMavs1hW0XKqM&tbm =isch&ei=55WcU6_sFcWL8QGDtYC4CA&ved=0CAIQsCUoAA>. Acesso em: maio de 2014.

3.4.4 Mobiliário como divisória O uso do mobiliário como divisória de espaços, além de ser um elemento de fácil adaptação, também auxilia na economia de área em apartamentos pequenos, pois se confunde com a parede, tornando-se polifuncional. Um mesmo móvel pode fazer a separação entre os espaços, fornecendo privacidade e servindo de local para guardar objetos. No caso de ser necessário mudar o layout, basta adaptar o mobiliário às novas demandas. No edifício Mitre, em Barcelona, esse recurso é utilizado para criar certa privacidade entre o hall de

Fig. 38 - Edifício Mitre, Barcelona. Planta baixa - Mobiliário-divisória. Fonte: Adaptado de (FINKELSTEIN, 2009, p. 160).

Estes mobiliários podem ainda receber mecanismo que dão movimento a eles, conforme a Fig. 39, onde as estantes que dividem os ambientes possuem movimento de rotação.


64

Fig. 39 - Projeto de reforma do Apartamento 40, São Paulo, Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz (FGMF), 2008. Divisórias volumétricas pivotantes. Fonte: Disponível em: <http://zip.net/bkCx3>; e <http://www.casamix.net/81/images/qia/qia4/qia3gr.asp>. Acesso em maio de 2014.

A partir desses facilitadores estudados deve-se destacar ainda que divisórias como portas, janelas, painéis e mobiliários, podem mover-se de distintas maneiras para auxiliar a adaptação do espaço, conforme o quadro abaixo (JORGE, 2012).

Quadro 6 – Elementos operacionais rígidos e possibilidades de movimentação. Tipologias de movimentação conforme três conceitos básicos: rotação, translação e combinação de ambos. Fonte: (SCHEFFER; SCHUMACHER e VOGT, 2010 apud JORGE, 2012, p. 393).

Por fim, acerca das estratégias abordadas neste estudo, pode-se concluir que cada uma delas confere certo grau de flexibilidade à unidade habitacional, de modo que a


65

combinação destas pode proporcionar grande autonomia aos usuários durante o processo de morar. O objetivo, portanto, é a proposta projetual de um novo edifício residencial multifamiliar que contemple tanto a flexibilidade inicial, quanto a flexibilidade futura, por meio, de diversas conformações de plantas baixas, e da aplicação das estratégias e facilitadores aqui estudados. Deste modo, as unidades habitacionais poderão ser absorvidas pelos diversos tipos de famílias estudados, e deverão responder melhor às alterações que ocorrem durante o ciclo familiar.


66

CAPÍTULO 4 - EDIFÍCIO FLEXIBLE HOUSE - PROPOSTA PROJETUAL

cidade, onde se pudesse verticalizar e liberar espaços térreos de uso público promovendo a multifuncionalidade e a permeabilidade do empreendimento, além de localizá-lo próximo à rede de transporte público, visando a questão da

O produto final deste estudo consiste no desenvolvimento de

mobilidade urbana.

uma proposta projetual de um edifício residencial multifamiliar

No que se refere ao usuário desta habitação, de acordo com

de uso misto - Edifício Flexible House. De acordo com os

os diversos arranjos familiares estudados, pretende-se por

estudos realizados, foi possível identificar as diretrizes

meio deste novo projeto, atender a uma grande gama de

projetuais para que o empreendimento seja visto como um

possibilidades, como por exemplo, famílias nucleares de um a

novo conceito de habitação coletiva capaz de se adequar às

três filhos, casais sem filhos, pessoas que moram sós,

demandas contemporâneas de nossas cidades e dos diversos

famílias

arranjos familiares existentes na sociedade atual. Para isso,

monoparentais e coabitações. Além disso, deve-se atentar

foram identificadas as características consideradas desejáveis

para as mudanças que ocorrem no modo de vida das famílias,

à nova forma de habitar do século XXI, no que se refere ao

como a inserção do trabalho em casa, as sobreposições de

contexto de inserção desta habitação, as cidades; seus

funções que podem ocorrer em ambientes ao longo do dia, a

usuários; e a versatilidade necessária ao espaço doméstico.

chegada de novos agregados ao seio familiar que possam vir

No âmbito da cidade, entendeu-se como desejável, que o projeto fosse realizado em um bairro dotado de infraestrutura, que pertencesse a uma zona urbanística onde não houvesse limitação

de

gabarito.

Isso

para

por

em

prática

o

aproveitamento da infraestrutura existente dentro de nossa

recompostas,

famílias

estendidas,

famílias

a solicitar o aumento do número de quartos, ou ainda a diminuição do número de membros da família, como por exemplo, com a saída de um filho que atinge a idade adulta, podendo assim, gerar novas demandas de organização do ambiente doméstico.


67

Por fim, para que essa diversidade seja contemplada, o

4.1 ANÁLISE DO TERRENO E SEU ENTORNO

edifício contará com mais de um pavimento tipo, com unidades habitacionais de dimensões distintas e diversas opções de plantas baixas, variando entre unidades de um a

A partir das diretrizes projetuais identificadas, partiu-se para a

quatro quartos. O empreendimento também visa a facilidade

escolha do terreno onde será implantado o empreendimento.

de adaptações diversas que possam ocorrer em função das

O terreno escolhido localiza-se no bairro Bento Ferreira, no

necessidades dos moradores, como simples mudanças de

município de Vitória - ES.

layout até o remanejamento de ambientes, deste modo, receberá

estratégias

de

flexibilidade

como

estrutura

independente, modulação estrutural, fachada livre, núcleos de circulação e áreas molhadas, cômodo autônomo, além de elemento como divisórias internas leves (drywall), divisórias internas móveis, mobiliário operacional e mobiliário como divisória de ambientes, que possibilitarão a adaptabilidade dos espaços. Deste modo, as unidades habitacionais poderão ser absorvidas pelos diversos tipos de famílias estudados, e deverão responder melhor às alterações que ocorrem durante o ciclo familiar. Fig. 40 - Em destaque na cor vermelha, a localização do bairro Bento Ferreira no município de Vitória-ES. Fonte: Adaptado de: Disponível em: <http://geoweb.vitoria.es.gov.br/Downloads/PDF/Politicos/Limite_de_Bairr os.pdf>. Acesso em: agosto de 2014.


68

Trata-se de um bairro resultante de um dos aterros feitos na

Outro fator determinante na escolha por este bairro se deve à

baia de Vitória na década de 50 e se caracteriza pela

sua centralidade, ou seja, trata-se de uma área urbana dotada

quantidade de prédios institucionais ao longo da Av. Marechal

de toda infraestrutura, localizada próxima à rede de transporte

Mascarenhas de Moraes (Beira-Mar). O bairro foi escolhido

público e margeada por importantes vias de acesso a outros

por ser um local compatível com o ensaio projetual proposto,

bairros e cidades, como se pode notar à esquerda da fig. 42,

pois atualmente é um vetor de expansão de bairros nobres

onde estão representadas a Av. Vitória, a Av. Cezar Hilal, a

como Enseada do Suá e Praia do Suá, abrigando uma

Av. Leitão da Silva e a Av. Marechal Mascarenhas, conforme

população de classe média onde podem ser encontrados

a legenda.

alguns terrenos vazios (FREITAS, 2005). Pode-se

notar

ainda,

que

o

terreno

escolhido

para

implantação do edifício, localiza-se em uma esquina, entre as ruas Coronel Schwab Filho e Emília Franklin Mululo, as quais dão acesso respectivamente às Avenidas Leitão da Silva e Marechal Mascarenhas. O terreno é fruto do remembramento de quatro pequenos lotes, sendo que destes, apenas um possui uma edificação de dois pavimentos a ser demolida, isso foi necessário devido à falta de terrenos de grande porte que comportassem o empreendimento no local. À direita é possível observar algumas fotografias atuais do terreno que Fig. 41 - Fotografia aérea do bairro Bento Ferreira, com vista para Praia do Suá e Terceira Ponte. Fonte: Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=493047>. Acesso em: agosto de 2014.

mostram seu relevo totalmente plano.


69

Fig. 42 - À esquerda - Mapa do Bairro Bento Ferreira, com a localização de importantes vias e o posicionamento do terreno escolhido. Ao meio - O terreno escolhido e seu remembramento. À direita - Imagens da atual situação do terreno. Fonte: Adaptado de: Disponível em: <http://geoweb.vitoria.es.gov.br/Downloads/PDF/Politicos/Limite_de_Bairros.pdf>. Acesso em: agosto de 2014. E fotografias da autora.


70

Em relação a seu entorno, na fig. 44 pode-se perceber que o O mapa do terreno, bem como suas medidas, foram retirados do próprio arquivo em DWG disponibilizado pela prefeitura de Vitória no site: http://geoweb.vitoria.es.gov.br/. Conforme fig. 43, o terreno possui área de 1770, 40 m2.

bairro vem recebendo muitos empreendimentos residenciais que se encontram em fase de construção ou foram recentemente inaugurados.

Fig. 44 - Esquina do terreno e seu entorno. Fonte: Disponível em: Google Earth. Acesso em: agosto de 2014.

Na fig. 45 foram pontuados alguns dos equipamentos urbanos presentes

na

localidade,

tais

como

escola,

edifícios

institucionais, igreja e áreas esportivas, além disso, a marcação em vermelho, representa a Av. principal Marechal Mascarenhas, da qual o terreno está distante apenas uma Fig. 43 - Base terreno e sua área. Fonte: Adaptado de: Disponível em: <http://geoweb.vitoria.es.gov.br/>. Acesso em: agosto de 2014.

quadra.


71

Fig. 45 - Localização de equipamentos urbanos. Fonte: Adaptado de: Disponível em: Google Earth. Acesso em: agosto de 2014.


72

como o Centro de Vitória e a Terceira Ponte. Nota-se também Na fig. 46, conforme a legenda é possível identificar a hierarquia viária e o sentido das vias que permeiam o terreno, vias estas que dão acesso a importantes pontos da cidade,

Fig. 46 - Acessos e fluxo. Fonte: Adaptado de: Disponível em: Google Earth. Acesso em: agosto de 2014.

a proximidade do terreno com pontos de ônibus localizados na Av. Marechal Mascarenhas, as possibilidades de acesso ao novo edifício e, algumas visuais ilustradas à direita.


73

Quanto à ventilação, além de contar com a brisa do mar,

4.2 ANÁLISE DO CONTEXTO AMBIENTAL

devido a sua proximidade com este, o terreno recebe os ventos dominantes vindos da orientação nordeste, conforme Através da fig. 47, foi desenvolvido o estudo de insolação e

indicado na rosa dos ventos da cidade de Vitória. Além disso,

ventilação, além da marcação das principais visuais do

segundo a carta bioclimática de Givoni, sabe-se que a melhor

terreno. De acordo com o estudo de insolação e com base no

estratégia de conforto térmico para a cidade de Vitória-ES é a

formato do terreno, que se constitui em um polígono irregular,

ventilação cruzada, que será explorada no projeto em

foi possível constatar de antemão, que o posicionamento de

questão. À direita podem ser observadas algumas visuais

maiores fachadas para orientações norte e sul, que

contempladas a partir do terreno, como o Convento da Penha,

configuraria uma melhor estratégia de conforto ambiental, não

a Terceira Ponte, entre outras.

seria

possível,

pois

esta

implantação

ocasionaria

a

subutilização da área do terreno, tornando o empreendimento inviável. Deste modo, as fachadas mais ensolaradas, "A", "B" e "D", representadas abaixo, demandam maior atenção no que se refere à proteção solar. Pode-se afirmar, portanto, de acordo com a carta solar, que a fachada norte "A", apesar de receber insolação durante quase todo ano, trata-se de uma insolação com maior altitude solar, podendo ser protegida por elementos horizontais. Já as fachadas "B" e "D", devem ser protegidas em função do ângulo de azimute solar, sendo a melhor opção os elementos de proteção verticais.


74

Fig. 47 - Contexto ambiental. Fonte: Adaptado de: DisponĂ­vel em: Google Earth. Acesso em: agosto de 2014. E arquivos da autora.


75

4.3 ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO: PDU DE VITÓRIA

Com base na zona urbanística (ZOC4), realizou-se a análise das tabelas de controle urbanístico e afastamentos, além de algumas observações pertinentes ao projeto. Estes dados

Através do Plano Diretor Urbano de Vitória (Lei Nº 6.705),

encontram-se

foram estudadas as condicionantes legais aplicáveis ao

referentes ao projeto foram destacadas em amarelo e o

Edifício Flexible House em função da zona urbanística a qual

calculo dos índices urbanísticos pode ser verificado na tabela

pertence o terreno escolhido - ZOC4 (Zona de Ocupação

azul. Nota-se que o terreno escolhido não possui limitação de

Controlada), conforme indicado na fig. 48.

gabarito, conforme o pretendido para o ensaio projetual

compilados

na

fig.

49.

As

informações

proposto, deste modo, a limitação se dará através do coeficiente

de

aproveitamento

(C.A.),

possibilitando

a

verticalização e a liberação de áreas públicas no térreo. Além disso, por se tratar de um terreno de esquina será adotado o afastamento lateral para ambas as divisas e o afastamento frontal para ambas as testadas.

Fig. 48 - Zona urbanística do terreno - ZOC4 (Zona de Ocupação Controlada). Fonte: Adaptado de: Disponível em: <http://geoweb.vitoria.es.gov.br/>. Acesso em: agosto de 2014.


76

Fig. 49 - Análise da legislação - Plano Diretor Urbano de Vitória. Fonte: Adaptado de: Disponível em: <http://sistemas.vitoria.es.gov.br/webleis/Arquivos/2006/L6705.PDF>. Acesso em: agosto de 2014.


77

É importante observar que o artigo 152 do PDU de Vitória (2006, p. 74) descreve quais áreas não serão computadas no calculo de área útil a ser realizado no fim deste capítulo. Os tópicos relevantes a este projeto se encontram transcritos no trecho abaixo:

Com base nas diretrizes projetuais, analise do terreno, análise do contexto ambiental e análise da legislação, realizadas até aqui, obtém-se as informações necessárias para se iniciar o desenvolvimento dos estudos volumétricos e de setorização que darão origem ao projeto do Edifício Flexible House.

I - as áreas dos pavimentos em subsolo destinadas ao uso comum; II - as áreas destinadas à guarda e circulação de veículos; III - as áreas destinadas a lazer e recreação, recepção e compartimentos de serviço do condomínio nas edificações residenciais multifamiliares e de uso misto; IV - áreas de varanda, contíguas a salas ou quartos, que não ultrapassem: a) 40% (quarenta por cento) das áreas destinadas aos respectivos compartimentos das unidades residenciais em condomínios residenciais multifamiliares; VI - até 15% (quinze por cento) da área total de cada pavimento, desde que esse percentual seja destinado a circulação horizontal e vertical e que a circulação horizontal possua largura mínima de 1,50 m (um metro e cinquenta centímetros); VII - os elementos citados nos incisos I e II do artigo 159 desta lei, ou seja, elementos descobertos, tais como piscinas, decks, jardineiras, muros de arrimo e divisórios; escadarias para acesso a edificação ou rampas para pedestres e pessoas com deficiência; VIII - as áreas de compartimentos técnicos limitadas a 5% da área computável.

4.4 ESTUDO DE VOLUME E SETORIZAÇÃO

Conforme fig. 50 foi realisado o estudo de diversas alternativas volumétricas aliadas à setorização e disposição dos apartamentos que levaram em consideração as diretrizes projetuais estabelecidas, as condicionantes legais, o estudo do contexto e dos aspectos ambientais, além de um bom aproveitamento do potencial construtivo do terreno.


78

Fig. 50 - Estudos volumétricos e de setorização. Fonte: Esquema da autora.

o calculo do coeficiente de aproveitamento (C.A.), da taxa de A volumetria pré-determinada para o Edifício Flexible House servirá como base conceitual para se avançar com os estudos preliminares e se encontra ilustrada na fig. 51. Em sua base, o edifício será composto pelo pavimento térreo; subsolo, 1º pavimento-garagem e pela área de lazer, localizada no 2º pavimento. A torre de apartamentos será composta por 4 tipos distintos de pavimentos, sendo, portanto, 4 andares de pavimentos "Tipo 1", 4 andares de pavimentos "Tipo 2" e os últimos 4 andares serão compostos por unidades duplex conforme indicado na imagem, além disso, haverá um pavimento de uso técnico localizado no topo do edifício. Com

ocupação, bem como a tabela de afastamentos, foi possível definir quantos pavimentos o edifício teria, sendo, portanto, 17 pavimentos ao todo, dos quais serão considerados apenas 14 para a aplicação dos afastamentos, pois o subsolo, o térreo e o 1º pavimento-garagem não devem ser considerados. Deste modo, os afastamentos laterais deverão ser de no mínimo 5,70 m, e os frontais de 3,00 m.


79

apartamentos, uma vez que se evita a definição preliminar de usos nos ambientes. Deste modo, criou-se uma malha com intervalos de 3,5 por 2,5 m, através da qual seria desenhada a diagramação de cada planta baixa. Conforme indicado na fig. 52, através da malha criada e do desenho do pavimento "Tipo 1", todos os outros pavimentos residenciais foram criados por meio da adição ou subtração destes intervalos. Nota-se ainda, que entre a maioria das unidades, foram criados grandes afastamentos com o objetivo de liberar suas faces

para

aberturas,

deste

modo,

aumentam-se

as

possibilidades de localização interna dos ambientes, além de criar uma situação acusticamente mais apropriada. Fig. 51 - Esquema volumétrico e setorização por pavimento. Fonte: Esquema da autora.

Com a volumetria pré-definida, deu-se início ao estudo de forma e diagramação dos pavimentos "Tipo". Com base na diversidade de pavimentos residenciais, bem como os diversos tipos de plantas baixas que se pretende alcançar, optou-se por formas geométricas puras que facilitam a aplicação da estratégia de modulação estrutural, além de possibilitar

maior

liberdade

de

arranjo

interno

dos


80

Fig. 52 - Estudo de composição dos pavimentos "Tipo" - Modulação. Fonte: Esquema da autora.


81

das unidades habitacionais, que acontecerá em pele de vidro, Uma das preocupações principais referentes aos pavimentos residenciais,

além

de

apresentarem

plantas

baixas

diferenciadas, baseadas na pluralidade de arranjos familiares, diz respeito ao emprego das estratégias de flexibilidade estudadas, como meio de oferecer maior autonomia aos usuários durante o processo de morar. Deste modo, a concepção destes pavimentos também se deu através do estudo destas estratégias conforme indicado na fig. 53.

cria

uma

estrutura

independente

e

consequentemente confere liberdade à planta, de modo que as paredes possam ser posicionadas livremente, dando maior fluidez ao espaço e facilitando alterações futuras. Além disso, através da modulação estrutural, os intervalos criados podem ser manipulados com maior facilidade. A estratégia de fachada livre foi possibilitada através de sua independência em

relação

à

estrutura.

Deste

modo,

as

mudanças no uso dos ambientes sem que a estética da fachada seja comprometida. Dessa forma, os espaços internos ganham maior liberdade e a fachada do edifício também poderá receber reformas sem que as unidades sejam afetadas. Trata-se, portanto, de uma estratégia capaz de combater a determinação rígida de usos dados aos ambientes.

A posição dos pilares, localizados nas periferias das unidades,

tenha suas aberturas facilmente alteradas em função de

Em lados opostos a estes avarandados, as unidades receberão fechamento em alvenaria, onde serão posicionados os núcleos de áreas molhadas. O objetivo é liberar as fachadas periféricas dando maior versatilidade a estes espaços, para que assim, o morador se aproprie deles da forma que lhe convier. Desse modo, a área livre criada poderá receber as diversas possibilidades de layouts e até mesmo o remanejamento de ambientes.

unidades

habitacionais serão margeadas por um avarandado em "L"

Além disso, o núcleo de circulação vertical foi posicionado

responsável por criar uma separação entre o fechamento dos

para que não houvesse interferência no espaço habitado, e

apartamentos e a fachada externa do edifício, compondo

em algumas unidades foram previstos cômodos autônomos

assim, uma segunda pele. Isso possibilitará que o fechamento

que poderão ser utilizados como área de trabalho, ou quarto


82

extra para contemplar a chegada de um agregado à família. O

situações, como por exemplo, a acolhida de um idoso ao seio

cômodo autônomo confere certa flexibilidade a estas

familiar, ou o retorno de um filho divorciado.

unidades, uma vez que pode ser solicitado em diversas

Fig. 53 - Estratégias de flexibilidade aplicadas aos pavimentos tipo. Fonte: Esquema da autora.


83

uma capa de concreto de 3 cm para o nivelamento da Outra estratégia de flexibilidade prevista para as unidades habitacionais é a adaptabilidade dos espaços em função de seus usos, subdividindo-os ou integrando-os através da

superfície da laje e correção da contra-flecha, totalizando uma espessura de 15 cm para lajes que vencerão vãos de no máximo 10 m.

utilização de elementos como, divisórias móveis, divisórias leves em drywall, mobiliários como divisória de ambientes ou mobiliários operacionais. Deste modo, todas as paredes internas dos apartamentos, quando não substituídas por divisórias móveis ou mobiliários, serão compostas por drywall, que além de facilitar a adaptabilidade dos espaços sem a necessidade

de

reformas,

também

possibilitam

o

remanejamento das instalações de forma mais facilitada diante das alterações de layout que possam ocorrer.

Fig. 54 - Painéis de laje protendida alveolar com capa de concreto. Fonte: Disponível em: <http://www.tatu.com.br/pdf_novo/lajes_alveolares.pdf>. Acesso em: agosto de 2014.

É importante destacar que a flexibilidade interna das unidades habitacionais também foi favorecida pelo tipo de laje escolhida, pois a laje protendida alveolar possui a capacidade de vencer grandes vãos além de dispensar vigas, deste modo, auxilia na fluidez do espaço interno e otimiza o pé direito

dos

apartamentos.

Os

painéis

alveolares

são

Definidas a forma, a modulação e as estratégias de flexibilidade aplicáveis aos pavimentos residenciais, parti-se para a setorização final dos pavimentos, através de diagramas esquemáticos que auxiliaram na execução das plantas baixas.

fabricados no mercado com espessuras de 9, 12, 16, 20 e 25

Conforme indicado na fig. 55, o pavimento térreo será

cm. Segundo o pré-dimensionamento de cargas, foi adotado

composto por áreas de circulação e estar de uso público que

para o projeto o painel de 12 cm de espessura que receberá


84

darão acesso às lojas e a um restaurante localizado na

ambiente de trabalho com outros profissionais que não

esquina do terreno, além de contar com um estacionamento

participem necessariamente da mesma atividade ou empresa

de uso exclusivo para clientes. O objetivo é proporcionar a

e foi criado para que moradores possam receber clientes e

permeabilidade e a multifuncionalidade do pavimento térreo.

fechar negócios. Trata-se de um conceito cada vez mais

Além disso, o lobby do residencial, com acesso independente,

difundido, uma vez que o trabalho em casa vem crescendo na

possuirá uma pequena área administrativa e de serviços de

sociedade brasileira devido ao aumento do número de

apoio ao edifício.

profissionais autônomos e das más condições de mobilidade urbana, sua utilização, portanto, pode evitar deslocamentos

O acesso aos estacionamentos de uso dos clientes e

além de conferir multifuncionalidade ao empreendimento.

moradores acontecerá separadamente, sendo que a entrada de clientes será pela Rua Coronel Schwab Filho, e o acesso

O pavimento "Tipo 3" é composto por 4 unidades duplex,

de moradores ao subsolo e 1º pavimento garagem, será pela

sendo duas de 144 m2, uma de 127 m2 e uma de 160 m2. O

Rua Professora Emília Franklin Mululo. O 2º pavimento será

pavimento "Tipo 4", por sua vez, constitui o andar superior

ocupado por espaços de lazer de uso do residencial,

das unidades duplex, além de possuir uma kitnet de 34 m2. A

compreendendo piscina adulto e infantil, sauna, vestiários,

torre do edifício possuirá, portanto, 46 unidades habitacionais

ducha, academia, salão de festas, salão de jogos, cozinha de

e 4 coworking's.

apoio, e uma área externa com churrasqueiras. É

importante

destacar que

cada

uma das unidades

O pavimento "Tipo 1" será composto por quatro apartamentos

habitacionais, inclusive as de mesma área, foram pensadas

de 77 m2 e uma kitnet de 34 m2, já o pavimento "Tipo 2"

de forma a atender determinados grupos familiares, sendo,

2

contará com duas unidades de 87 m e duas unidades de 58

portanto distintas. Além disso, as unidades serão dotadas de

m2,

certa flexibilidade que possibilitará alterações futuras de forma

além

de

um

espaço

de

trabalho

compartilhado

(cowoking). Este espaço consiste no compartilhamento do

mais facilitada.


85

Fig. 55 - Diagramas de setorização dos pavimentos. Fonte: Esquema da autora.


86

4.5 PAVIMENTOS RESIDENCIAIS

Os pavimentos residenciais possuem plantas baixas distintas e foram projetados para atender a uma grande gama de arranjos familiares. Além disso, as estratégias de flexibilidade que foram empregadas possibilitam que os espaços criados sejam remanejados facilmente, através da subdivisão ou integração de ambientes, os quais poderão ser manipulados por meio da adição ou subtração de divisórias, em função das alterações que vierem a ocorrer no cerne familiar. Deste modo, as plantas baixas apresentadas a seguir, receberam ao lado, uma simbologia de alguns dos arranjos familiares que poderão ser contemplados por elas, o que não significa, portanto, que estas configurações não possam ser alteradas. Estes arranjos familiares foram definidos conforme a legenda seguinte.

Fig. 56 - Exemplos de arranjos familiares - Legenda. Fonte: Esquema da autora.

4.5.1 Pavimento "Tipo 1" O pavimento "Tipo 1" acontece do 3º ao 6º pavimento, sendo composto por quatro unidades habitacionais distintas de 77 m2 e uma kitnet de 34 m2. Sua planta baixa encontra-se


87

disponível na fig. 57 e servirá de base para compreensão do

a família monoparental de dois filhos, através da simples

texto seguinte.

alteração do layout de um dos quartos, que passaria a receber duas camas de solteiro.

Na parte superior esquerda da imagem, nota-se que a unidade foi projetada com foco em coabitações, como por

Como pode ser notado, os quartos também possuem acessos

exemplo, de estudantes, por isso é composta por 3 quartos de

com maior privacidade em relação à área de uso comum e os

solteiro e possui lavabo separado da área de banho. Além

espaços da cozinha, jantar e estar, são integrados, sendo

disso, os acessos aos quartos prevê maior privacidade em

divididos apenas por mobiliários que funcionam como

relação às áreas de uso comum. Os ambientes da cozinha,

divisórias. A bancada em madeira, por exemplo, delimita a

jantar e estar são integrados, sendo que a sala de estar pode

área da cozinha, e o aparador confere certa privacidade entre

ser facilmente isolada por meio de uma divisória móvel

o hall de acesso e a área de jantar, de forma que a circulação

segmentada, para que seja atribuído ao ambiente maior

criada

privacidade em determinados momentos do dia. Em função

consequentemente economiza área. O uso destes mobiliários

da quantidade de pessoas que coabitarão o mesmo

proporciona a criação de um espaço fluido de fácil adaptação,

apartamento, a utilização de divisórias móveis pode ser um

pois em caso de mudança no layout, basta adaptar o

interessante elemento capaz de permitir a sobreposição de

mobiliário conforme se deseja.

dispensa

o

uso

de

paredes,

fato

que

atividades nos ambientes. Na

porção

inferior esquerda

da

imagem,

a

unidade

Na parte superior direita da imagem, a unidade conta com

habitacional conta com uma suíte com closet e um quarto de

duas suítes e foi projetada de modo que poderá contemplar

solteiro, podendo, portanto, contemplar famílias nucleares e

famílias nucleares e monoparentais com um filho, além de

monoparentais de um filho e até mesmo os casais que não

coabitações de duas pessoas, como por exemplo, adultos que

possuem filhos, os quais terão como possibilidade a utilização

dividem apartamento. O apartamento pode contemplar ainda

do quarto de solteiro como área de trabalho ou quarto extra.


88

Através da manipulação das divisórias internas leves, pode-se

possibilitam a sobreposição de atividades presentes em

ainda, ampliar a sala de estar ou o quarto de casal.

ambientes de espaço reduzido. Deste modo, o ropeiro foi utilizado como divisória de ambientes e foi feito o uso de

Na parte inferior direita da imagem, a unidade é composta por uma suíte máster, podendo contemplar casais sem filhos ou pessoas que moram sós. A suíte possui closet e uma área de

mobiliário operacional, no caso do sofá-cama (fig. 58), posicionado em frente à um painel de suporte para a TV, atrás do qual existe uma área de trabalho.

trabalho integrada que pode ser facilmente isolada por meio de uma divisória móvel quando necessário. Nota-se ainda,

Nota-se que a presença de um painel móvel pode integrar ou

que no caso destes arranjos familiares, os espaços de uso

separar os espaços em função de seus usos como sala ou

íntimo exigem menor privacidade em relação às áreas de uso

quarto, configurando a adaptabilidade capaz de promover

comum, o que cria um espaço mais unitário e democrático,

alterações instantâneas nos espaços em função de seus usos

onde quarto e sala são separados por uma painel móvel que

diurnos ou noturnos, pois a mesma área que de noite pode

pode integrar ou isolar os ambientes em função das

ser utilizada para dormir, de dia pode dar espaço às

atividades exercidas.

atividades de estar ou trabalho.

Percebe-se, portanto, que famílias com maior número de membros necessitam de uma separação mais convencional entre

área

de

uso

íntimo

e

área

de

uso

comum,

diferentemente do que ocorre nas unidades voltadas à pessoas sós ou casais sem filhos. Em relação à kitnet, primeiramente foi posicionada a área molhada e o espaço livre foi dotado de elementos que


89


90

O coworking foi projetado pensando em um local onde moradores que trabalham como autônomos possam receber clientes e compartilhar seu local de trabalho com outros profissionais. Em função dos ruídos que essa atividade poderia provocar, o espaço foi reduzido a área de 57 m2 e disposto nos quatro pavimentos "Tipo 2". Dessa forma, pretende-se diluir a quantidade de pessoas por coworking e ao mesmo tempo criar áreas de trabalho mais harmoniosas, que contam com no máximo 7 postos de trabalho, uma Fig. 58 - Mobiliário operacional - Sofá-cama. Fonte: Disponível em: <http://www.itespresso.es/sofapartamento-unmueble-que-vale-por-toda-la-casa-55114.html>. Acesso em: 07 de outubro.

recepção, copa e sanitários. Além disso, as paredes que circundam este espaço são mais espessas e possuem isolamento acústico em lã de PET. Todos os apartamentos

4.5.2 Pavimento "Tipo 2"

que compartilham o mesmo andar do coworking são acessados por meio de um hall que funciona como

O pavimento "Tipo 2" acontece do 7º ao 10º pavimento, sendo

antecâmara na proteção de ruídos e proporcionam maior

composto por quatro unidades habitacionais distintas, duas

privacidade aos apartamentos.

2

2

com 87 m e duas com 58 m . Existe ainda um espaço de trabalho compartilhado (coworking) com área total de 57 m 2.

Na

A planta baixa deste pavimento encontra-se disponível na fig.

habitacional de 87 m2, foi projetada com foco em famílias

59 e servirá de base para compreensão do texto seguinte.

nucleares e monoparentais de um filho, sendo composta por

parte

superior

esquerda

da

imagem,

a

unidade

um quarto de casal e um quarto de solteiro, além de possuir um cômodo autônomo com entrada independente e lavabo,


91

podendo assumir diversos usos, entre eles o trabalho em

relação às áreas de uso comum é um aspecto considerado

casa, como mostra a planta baixa.

relevante no caso destes arranjos familiares numerosos.

A área de uso comum do apartamento é bastante fluida, o

Na

que possibilita outras composições de layout, bem como a

habitacional de 58 m2 constitui uma opção mais reduzida de

subdivisão ou integração de ambientes de acordo com as

habitação, que neste caso, foi voltada à coabitação de duas

necessidades dos moradores. Entre o estar e o jantar foi

pessoas, como por exemplo, universitários ou adultos que

posicionado um mobiliário operacional para que se possa

dividam apartamento. A unidade conta com dois quartos de

assistir TV tanto do sofá quanto da mesa de jantar e cozinha,

solteiro com acessos voltados para uma circulação que

conforme indicado na fig. 60.

confere privacidade em relação a área de uso comum. A

porção

inferior esquerda

da

imagem,

a

unidade

cozinha é isolada da circulação quando necessário, por meio O apartamento de mesma área, localizado ao lado, possui planta baixa idêntica, com exceção do cômodo autônomo que recebeu layout de um quarto com banheiro, podendo, portanto, absorver famílias estendidas ou reconstituídas de até 4 membros. Este cômodo possui grande autonomia por ter banheiro exclusivo e acesso independente, podendo, por

de um painel móvel, além de fazer divisa com a sala de jantar por meio do balcão de madeira que funciona como mobiliário divisório. Em função de novas necessidades que possam surgir, a área dos quartos poderá ser remembrada através da subtração da parede que os divide ou a área de estar poderá ser expandida.

exemplo, receber um agregado, como um idoso que resida com a família nuclear ou um filho mais velho que regressa ao

Na parte inferior direita, outra unidade de 58 m 2 foi projetada

lar. Esta unidade pode absorver também famílias nucleares

com foco em casais sem filhos e pessoas que moram sós,

ou monoparentais de dois filhos, com a possibilidade de

tratando-se, portanto, de um loft onde os ambientes são

eliminar o acesso independente ao cômodo autônomo. Como

delimitados, sobretudo pelo uso de mobiliários. Entre o

se pode notar a privacidade das áreas de uso íntimo em

acesso e a área de jantar a divisão é feita por meio do


92

aparador que funciona como mobiliário divisória. O mesmo é feito pelo balcão de madeira da cozinha, que ao mesmo tempo em que a delimita, a integra aos demais ambientes de uso comum. Entre quarto e sala foi posicionado um mobiliário operacional que rotaciona o aparelho de TV para ser visualizado de ambos os ambientes, conforme indicado na fig. 61. Pode-se observar ainda, que o acesso à área de uso íntimo neste caso não possui a mesma privacidade dos demais apartamentos, sendo separado apenas por uma divisória móvel.


93


94

4.5.3 Pavimentos "Tipo 3" e "Tipo 4" Duplex O pavimento "Tipo 3" é composto pelo andar inferior das unidades duplex e acontece no 11º e 13º pavimento. Já o pavimento "Tipo 4", que constitui o andar superior dos duplex, acontece no 12º e 14º pavimento. Deste modo os 4 pavimentos superiores da torre residencial são ocupados por unidades duplex. As plantas baixas destes dois pavimentos Fig. 60 - Mobiliário operacional vazado - TV jantar/estar. Fonte: Disponível em: <http://blog.lavincipapeldeparede.com.br/acessorios/>. Acesso em: 07 de outubro.

encontram-se disponíveis nas fig. 62 e 63, e servirão de base para o entendimento do texto a seguir. O pavimento "Tipo 3" possui plantas baixas idênticas, com exceção do fato que as duas unidades que se encontram na parte inferior da imagem possuem cômodos autônomos. Estes cômodos que se comunicam com as unidades habitacionais contíguas e também com a circulação do pavimento, possuem banheiros individuais, aumentando assim, seu grau de autonomia. Trata-se de um espaço que pode receber usos diversos, como quarto extra para contemplar famílias reconstituídas ou estendidas, escritório

Fig. 61 - Mobiliário operacional como divisória de ambiente - TV quarto/estar. Fonte: Disponível em: <http://www.lineamobili.com.br/moveisplanejados_dormitorios.html>. Acesso em: 07 de outubro.

para trabalho em casa, entre outros usos.


95

Todas as unidades possuem agregado à área de serviço um

banho com banheira de hidromassagem. Entre a cama e o

quarto com banheiro que pode ser usado por empregada. Os

sofá foi posicionado um mobiliário operacional para que se

demais espaços são bastante fluidos podendo assumir

possa assistir à TV de ambos os lados e, entre a cama e o

diversos layouts e até mesmo novos ambientes. Além disso,

espaço de trabalho existe uma divisória móvel que pode

foi feito o uso de mobiliário operacional e mobiliário como

separar ou integrar os ambientes conforme o desejo do

divisória.

usuário em determinado momento do dia. Além das estratégias mencionadas, o loft possui certa flexibilidade

Apesar das unidades serem praticamente idênticas em seu pavimento inferior, elas possuem distinção em função de sua área e também da planta baixa do pavimento superior "Tipo 4". Conforme fig. 63, na parte superior esquerda da imagem, o duplex projetado com 127 m2 tem seu 2º andar sobre um

natural devido a fluidez de seus espaços, deste modo, o remanejamento de ambientes seria ainda mais fácil no caso da necessidade dos moradores, podendo, por exemplo, criar um novo quarto em função da chegada de um filho ao seio familiar.

mezanino estilo loft, que foi pensado como uma opção para contemplar pessoas que moram sós ou casais sem filhos.

Na porção inferior esquerda da fig. 63, também sobre um

Esta opção de unidade duplex projetada para arranjos

mezanino, a unidade possui ao todo 144 m 2 em função do

familiares reduzidos se deve ao fato de que, segundo as

cômodo autônomo do pavimento de baixo. Seu projeto teve

estatísticas estudadas no capítulo 2 deste trabalho, as

com foco famílias nucleares ou monoparentais de um filho, ou

famílias deste tipo têm grandes chances de alcançar

ainda famílias estendidas ou recompostas com um membro a

melhores situações econômicas em função do maior tempo

mais que poderá ocupar o cômodo autônomo.

de vida dedicado aos estudos. A unidade possui uma suíte máster com closet, dormitório e O loft conta com uma suíte máster, com espaço de trabalho,

estar separados por mobiliário operacional, além de outra

espaço para prática de exercício físico, estar, closet e área de

suíte com cama de solteiro e área de estudo. No caso da


96

ausência de agregados o cômodo autônomo poderá ser

famílias nucleares, reconstituídas, ou estendidas, além de

usado como espaço de trabalho, entre outros usos.

possibilitar o trabalho em casa, no caso do cômodo autônomo

Na parte superior direita da fig. 63, a unidade de 144 m2, não

não ser ocupado por nenhum membro da família.

possui cômodo autônomo e ocupa toda a área do pavimento

A suíte possui closet e existe a opção de um quarto de

superior, onde se encontram uma suíte e 3 quartos de

solteiro individual e outro quarto de solteiro com duas camas.

solteiro. Com uma maior delimitação dos espaços e maior

Como

número de quartos, o apartamento foi projetado para absorver

possibilidades de remanejamento dos ambientes por meio da

famílias nucleares ou monoparentais de 2 a 3 filhos, ou ainda

manipulação das divisórias leves, como por exemplo, o

famílias estendidas ou reconstituídas de até 5 membros.

espaço do closet pode ser suprimido para a criação de um

Como se pode notar, a maioria dos quartos possui área de

novo dormitório de solteiro e o corredor seria estendido até

trabalho/estudo, pois no caso desses arranjos familiares mais

ele.

numerosos, se faz necessário uma maior sobreposição de funções nos ambientes. Além disso, pode haver a integração ou a subdivisão de ambientes por meio da manipulação das paredes divisórias leves, conforme alterações que possam ocorrer no âmbito familiar. Na parte inferior direita da fig. 63, a unidade de 160 m 2, além de possuir o cômodo autônomo no pavimento de baixo, ocupa toda a área do pavimento superior, constituindo a maior unidade habitacional do empreendimento, voltada para famílias de até 6 membros, podendo, portanto, absorver

se

pode

perceber

existem

diversas

outras

O pavimento "Tipo 4" conta ainda com uma kitnet de 34 m 2 idêntica à kitnet do pavimento "Tipo 1".


97


98


99

a proteção solar deve ocorrer em função do ângulo de Como se pode notar, todos os pavimentos residenciais possuem

nas

extremidades

da

circulação

horizontal,

aberturas que permitem sua iluminação e ventilação cruzada. Além disso, há em cada extremidade uma pequena área técnica

destinada

ao

posicionamento

de

azimute, de modo que elementos verticais são mais apropriados. Estes painéis vão do piso ao teto e possibilitam ao morador escolher se deseja ou não a incidência solar em determinado ambiente.

unidades

condensadoras de ar condicionado, as quais são encobertas

Na fachada norte, onde a proteção deve ocorrer com base no

por uma tela metálica tipo veneziana fixada à fachada. No

ângulo de altitude solar, os elementos horizontais são mais

caso dos duplex, estas áreas técnicas foram posicionadas no

indicados, portanto, as unidades receberam brises horizontais

pavimento inferior, enquanto o pavimento superior pode

posicionados a 2 m de altura, sem ocasionar a obstrução das

receber um jardim para o qual foram voltadas as janelas de

visuais. Já na fachada sul o conforto térmico ficou por conta

alguns ambientes.

do próprio avarandado que distancia a pele de vidro da fachada externa.

Em todos os apartamentos, as faces voltadas para as varandas, possuem fechamento em pele de vidro com

A parte oposta aos avarandados, onde o fechamento

aberturas maxim-ar e portas que ligam os dormitórios e salas

acontece em alvenaria, recebeu um elemento horizontal em

às varandas, de modo que a ventilação cruzada se faz

forma de caixote, conforme fig. 64, para o qual os vãos de

presente em todas as unidades.

janelas foram abertos. Dessa forma, estas aberturas também podem ser manipuladas sem que ocorra interferência estética

O próprio distanciamento entre a pele de vidro e a fachada externa, já efetua um sombreamento por parte da varanda do pavimento superior, além disso, todos os apartamentos contam com painéis móveis nas fachadas oeste e leste, onde

na fachada, pois externamente o elemento visível é o caixote e não as esquadrias. Com isso, os ambientes servidos por estas aberturas também poderão ser modificados.


100

medida 10 cm superior ao exigido pela norma, e as portas corta fogo medem 80 x 210 cm. A área dos dutos de entrada e saída de ar foi dimensionada conforme a fórmula Ω = 0,105 n, onde "n" é referente ao número de antecâmaras ventiladas pelo duto, ou seja, como o edifício é composto por 17 pavimentos e todos serão atendidos por estes dutos, a área de cada um deles deve ser de 1,79 m2, além disso, foi respeitada a regra de proporção de 1:4 no dimensionamento de cada duto. Fig. 64 - Janelas em caixote. Fonte: Disponível em: <http://ambientalistasemrede.org/habitacaomodular-tem-64-combinacoes-diferentes/>. Acesso em: 07 de outubro.

O calculo do tráfego de elevadores foi realizado conforme a ABNT - NBR 5665/1987, de modo que apenas um elevador atenderia às exigências da norma, entretanto, julgou-se mais

Em

todos

os

pavimentos

do

edifício

as

escadas

enclausuradas à prova de fumaça (PF) foram dimensionadas

condizente com o padrão do empreendimento a utilização de dois elevadores.

conforme a norma de saídas de emergência em edifícios, ABNT - NBR 9077/2001. Dessa forma, a altura dos espelhos,

4.6 PAVIMENTOS DE USO COMUM

de acordo com o pé direito do pavimento em questão, variam entre 16 e 18 cm, e a largura dos pisos foi fixada em 28 cm para todos os pavimentos. A largura dos lanços equivale a

Os pavimentos de uso comum compreendem o pavimento

duas unidades de passagem e foi projetada com 1,20 m,

térreo, subsolo, 1º e 2º pavimentos. No subsolo e no 1º


101

pavimento foram localizados os estacionamentos, e no 2º pavimento, foi projetada a área de lazer do empreendimento. Para melhor compreensão do projeto como um todo, segue abaixo a Planta de locação do edifício, onde podem ser verificados os acessos, os afastamentos e a implantação da torre residencial sobre os demais pavimentos. Deste modo, é possível perceber que a partir do pavimento de lazer (2º pavimento) foram aplicados os afastamentos laterais de 7,49 m e 12,43 m, conforme indicado na imagem. Portanto, os afastamentos laterais são superiores aos exigidos, e os afastamentos frontais são exatamente de 3,00 m. Na porção norte do pavimento de lazer, podem ser observadas uma cobertura em pergolado, e outra em telhado colonial, as quais não influem nos afastamentos.


102


103

Deste modo, a partir do terreno escolhido, que se encontra Como visto anteriormente, a diversidade tipológica de apartamentos, bem como as estratégias de flexibilização dos espaços, permitem que a edificação absorva uma grande gama de tipos familiares. No entanto, essa "personalização" das unidades, obviamente encarece tanto o projeto quanto a

em uma área dotada de infraestrutura e, segundo sua zona de pertencimento, que não possui limitação de gabarito, foi possível aproveitar o potencial construtivo do terreno e ao mesmo tempo ceder parte de seu térreo à lojas e espaços de uso público, criando assim a interface público-privado.

execução da obra, de modo que o Edifício Flexible House é entendido como um empreendimento de alto padrão, que

Trata-se, portanto de um edifício multifuncional que promove

deve possuir áreas de uso comum que atendam à um público

a diversidade, a versatilidade, a vitalidade de seu entorno e

exigente e diversificado.

uma maior comodidade para seus moradores. Conforme fig. 66 pode-se notar que o térreo do edifício foi

4.6.1 Pavimento Térreo

implantado segundo o conceito de "quadra aberta", com o

Por se tratar de uma proposta projetual com foco na

objetivo de ampliar o espaço coletivo através do território

contemporaneidade, além de contemplar a pluralidade familiar

privado. Para isso, foi criado um eixo de circulação pública

por meio das diversas possibilidades de plantas baixas e

que, conforme o diagrama explicativo faz a conexão entre a

também

o

Rua Coronel Schwab Filho, a Rua Profª Emília Franklin

sua

Mululo e o estacionamento de uso dos clientes, promovendo

das

estratégias

empreendimento

tem

de

flexibilidade

como

objetivo

aplicadas, exercer

contemporaneidade também no âmbito da cidade, de modo a estabelecer com esta uma relação harmoniosa. Isso foi possível por meio da aplicação de alguns dos conceitos estudados no capítulo 1 deste trabalho.

a permeabilidade do pavimento. Neste eixo, foram criados alguns espaços de estar e através dele pode-se acessar as lojas, que receberam sugestões de usos para um PUB, um café, uma farmácia, uma lavanderia e


104

um

grande

restaurante

localizado

na

esquina

do

Os acessos ao subsolo e 1º pavimento garagem, de uso dos

empreendimento, o qual se encarregará, por meio de sua

moradores, acontece pela Rua Profª Emília Franklin Mululo,

volumetria e revestimentos, de atrair a atenção dos

assim como o segundo acesso de pedestres às lojas.

transeuntes para as atividades que acontecem neste pavimento.

O lobby do residencial possui, portanto, acesso individual e não se comunica com a área de uso público, de forma a

No diagrama, pode-se notar ainda que este eixo de circulação

garantir a privacidade e segurança dos moradores. Sua

pública possui aberturas superiores responsáveis pela

entrada se dá por meio de um deck em madeira e possui uma

ventilação e iluminação, além de evitarem a sensação de

marquise em vidro com pé direito duplo. O espelho d'água

clausura do espaço, tendo em vista seu caráter público.

que demarca a entrada principal foi criado para separar este

Nestes espaços foram especificadas palmeiras que irão

acesso do acesso público, além de inibir possíveis pichações

atravessar verticalmente a volumetria por meio dos átrios,

na fachada.

causando um efeito de luz e sombra bastante agradável nos ambientes.

Conectado

ao

lobby

criou-se

uma

pequena

área

administrativa e de serviço que dá suporte ao residencial, e Os acessos públicos e privados não se conectam e

na recepção será feito o controle de acesso dos moradores e

acontecem de forma delimitada através do paisagismo. O

também de possíveis visitantes dos apartamentos ou do

acesso ao estacionamento de uso dos clientes das lojas se dá

coworking. No térreo foram localizadas também algumas

por meio da Rua Coronel Schwab Filho, assim como o acesso

áreas técnicas, como subestação, central de gás, depósito de

de pedestres às lojas e também o acesso de moradores e

lixo e guarita.

visitantes ao lobby, todos devidamente delimitados. Com base nesta conexão que se deseja ter entre as áreas públicas do térreo e o passeio, o pavimento foi implantado ao


105

nível da rua. Os afastamentos frontais de 3m possuem uma área permeável de 187 m2 que equivale a 10,56% do terreno, superior aos 10% exigido pelo plano diretor urbano da cidade de Vitória. O pavimento térreo, o subsolo e o 1º pavimento-garagem, ocupam toda a área remanescente do terreno, após aplicados a taxa de permeabilidade e os afastamentos frontais.


106

Fig. 66 - Planta Baixa TĂŠrreo. Fonte: Arquivo do autor. Escala: 1/200


107

4.6.2 Estacionamentos - Subsolo e 1º Pavimento

Entretanto, como se trata de um empreendimento de alto padrão, foi previsto um número maior de vagas, visando a valorização dos apartamentos. Sendo assim, o subsolo e o 1º pavimento, destinados à guarda de veículos de moradores e

Conforme o anexo 11 do Plano Diretor Urbano de Vitória, que descreve sobre o número mínimo de vagas destinadas à guarda de veículos, conclui-se que para o Edifício Flexible House seriam necessárias 73 vagas conforme indicado na

eventuais visitantes do coworking, totalizam 90 vagas de automóveis e 15 vagas de motocicletas. As faixas de circulação dentro dos estacionamentos possuem largura igual ou superior a 5,00.

tabela abaixo. O subsolo foi localizado completamente abaixo do nível da DETERMINAÇÃO DO PDU

APARTAMENTOS

APARTAMENTOS

APARTAMENTOS

COWRKING

Unidades de até 70 2 m Unidades de 70 a 100 2 m Unidades maiores que 2 100 m Unidades maiores que 2 35 m

1 vaga por unidade 1,5 vagas por unidade 2 vagas por unidade 1 vaga para cada 2 35 m

TOTAL DE UNIDADES 14

TOTAL DE VAGAS 14

rua, e como pode ser observado na fig. 67, comporta a localização do reservatório inferior, onde foram instaladas 8 caixas de 10 000l, totalizando 80 000 litros. Estas caixas

24

36

forma elevadas a 15 cm do piso em um ambiente cercado por uma tela metálica de proteção.

8

16

4 unidades 2 de 57 m

7

73 Tabela 01 - Cálculo de vagas de estacionamento. Fonte: Adaptado de: Plano Diretor Urbano do Município de Vitória.


108


109

No 1º pavimento - garagem, conforme fig. 68 podem ser observados os átrios que foram criados para auxiliar na ventilação e iluminação dos pavimentos. Além de receber as demais vagas de estacionamento, este pavimento comporta o setor de serviços do restaurante, que possui circulação vertical própria de modo a não se comunicar com o estacionamento. Este setor, conta com vestiários para funcionários, escaninhos, além da cozinha do restaurante.


110


111

área externa faz conexão com o salão de festas e seu

4.6.3 Pavimento Lazer No 2º pavimento, os espaços de lazer foram criados para atender aos moradores do residencial. A área interna do

posicionamento, confere certa privacidade aos eventos a serem realizados.

pavimento possui o mesmo alinhamento do pavimento tipo

Junto ao salão de festas se encontram ainda, uma cozinha de

localizado imediatamente acima, deste modo, como se pode

apoio e um espaço multifuncional que pode dar lugar a um

notar na fig. 69, foram garantidos os afastamentos laterais e a

salão de jogos, a uma pista de dança ou ainda a uma

insolação da área da piscina, que além de receber o sol da

brinquedoteca.

manhã, receberá também a insolação norte, ou seja, o sol Neste pavimento podemos observar também uma academia

incidirá sobre esta área durante todo o dia.

que foi posicionada para a porção sul do edifício, tendo em O acesso às piscinas acontece por meio de um deck elevado

vista o seu uso diário e o bem estar durante a pratica

a 1,30 m de altura, sob o qual funcionará a área técnica para

esportiva. De modo geral, ao posicionar o salão de festas

manutenção.

com

voltado para a fachada oeste, visto que se trata de uma área

comprimento de 25 m e largura para 3 raias, já a piscina

mais usada durante a noite, as demais fachadas puderam ser

A

piscina

adulto

é

semi-olímpica,

2

infantil possui 30 m de área. Conectado à área das piscinas foi criada uma área de suporte

aproveitadas de forma mais conveniente em termos de insolação.

com banheiros, sauna e ducha, que pode ser acessada tanto

Deste pavimento, onde a face voltada para os átrios acontece

pela parte externa quanto pela parte interna da área de lazer.

em pele de vidro, é possível visualizar a copa das palmeiras,

Ainda externamente, foi criada uma área para churrasco, com cobertura em telhado colonial, e uma área com mesas, hora descobertas, hora cobertas por um pergolado com vidro. Esta

criando assim, um clima tropical bastante propício ao lazer. Além disso, o salão de jogos faz vista ao telhado jardim que cobre o restaurante.


112


113

4.7 PAVIMENTO TÉCNICO E COBERTURA

Como se pode ver, foi utilizada para cobertura a telha zipada com inclinação de 2% e todas as calhas possuem acesso para sua manutenção e limpeza.

O pavimento técnico, localizado logo acima do último pavimento residencial, pode ser observado na fig. 71. Nele foi

Na planta de cobertura, pode-se observar o alçapão que dá

localizado a casa de máquinas, o barrilete, a escada

acesso ao interior do reservatório, o qual foi elevado 30 cm

marinheiro de acesso ao topo do reservatório superior e um

para evitar a contaminação da água. Além disso, o duto de

depósito. Já a cobertura, pode ser observada na fig. 72.

saída de ar foi elevado 1 m acima de qualquer elemento construtivo existente na cobertura, conforme ABNT - NBR

A casa de máquinas, localizada sobre a caixa dos

9077/2001.

elevadores, possui alçapão para passagem de equipamentos no piso, circulação de 1,50 m, porta abrindo para fora com

A capacidade do reservatório superior, assim como do

dimensões de 90 x 210 cm e ventilação superior a 1/10 da

inferior, foi calculada conforme a ABNT - NBR 5626. Deste

área do piso.

modo, o consumo teve como base os diversos usos de que o edifício dispõe, como residencial, administrativo (térreo e

O barrilete possui 2,20 de altura e ocupa apena uma parte da

coworking), lojas e restaurantes (PUB, café e restaurante). A

área inferior ao reservatório, pois como mostra a planta de

partir do resultado obtido para o consumo diário, foi adotado 2

cobertura, a área do reservatório corresponde a somatória da

dias para a reserva de segurança conforme o calculo

área da caixa de escada e do barrilete.

seguinte:

Anterior à escada marinheiro, foi previsto um ressalto de 30 cm em função do rasgo que é feito na cobertura para acesso ao reservatório.


114

Fig. 70 - Cálculo da capacidade dos reservatórios inferior e superior. Fonte: Arquivo da autora.

Portanto, para o reservatório superior foi projetada uma caixa de concreto de 21,55 m2 por 3,10 m de altura, totalizando um volume de 66,80 m3. E para o reservatório inferior, como visto anteriormente, foi proposto um espaço para 8 caixas d'água de 10 000 l cada, totalizando 80 000 l.


115


116


117

de 2,10, altura mínima permitida pelo código de obras do

4.8 CORTES "A" E "B"

município. Os cortes podem ser verificados nas fig. 73 e 74, bem como o

Por estes átrios as palmeiras plantadas atravessam o térreo,

esquema de setorização de cada corte, que indica os

o 1º pavimento garagem, e suas copas chegam até o

diferentes usos dados aos pavimentos e

pavimento de lazer, onde se torna visível ao exterior do

também

a

diversidade tipológica dos pavimentos residenciais. A espessura de laje adotada foi de 15 cm, deste modo, os pavimentos residenciais ficaram com pé direito de 2,90 m podendo, portanto, receber rebaixos. O pavimento de lazer ficou com pé direito de 3,00 m, o subsolo e o pavimento garagem ficaram com pé direito de 2,50 m e o térreo com 3,35 m. Pode-se notar ainda, as partes da circulação pública do térreo que receberam átrios para sua iluminação e ventilação. Nesta parte o piso recebeu um pequeno desnível para que não ficasse no mesmo nível das lojas. Além disso, o local onde as palmeiras foram plantadas possui laje impermeabilizada e ralo com tubulação que passa pelo teto do subsolo. É importante destacar que nestas áreas o pé direito do subsolo passa a ser

edifício.


118

Fig. 73 - Corte A. Fonte: Arquivo do autor. Escala: 1/250


119

Fig. 74 - Corte B. Fonte: Arquivo do autor. Escala: 1/250


120

Conforme o artigo 152 do Plano Diretor Urbano de Vitória

4.9 MAQUETE VIRTUAL

(2006, p.74), foi realizado o calculo da área útil construída, que se encontra expresso na tabela abaixo.

Através das imagens a seguir é possível visualizar o resultado volumétrico final do Edifício Flexible House.

PAVIMENTO ÁREA COMPUTÁVEL 2 TIPO 1 (4 PAVIMENTOS) 1427,22 m 2 TIPO 2 (4 PAVIMENTOS) 1593,28 m 2 TIPO 3 (2 PAVIMENTOS) 699,41 m 2 TIPO 4 (2 PAVIMENTOS) 584,79 m 2 TÉRREO + 1º PAVIMENTO (COZINHA) 420,10 m 2 TOTAL 4 724,80 m Tabela 02 - Cálculo da área computável do edifício. Fonte: Arquivo da autora.

Por fim, segue uma tabela comparativa dos índices permitidos e índices alcançados no projeto. * ÁREA DO TERRENO = 1770,40 2 m TAXA DE OCUPAÇÃO MÁXIMA PERMITIDA COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO MÁXIMO TAXA DE PERMEABILIDADE MÍNIMA AFASTAMENTO FRONTAL

PERMITIDO

ALCANÇADO

50% (885,20 2 m) 2,7 (4 780,08 2 m) 10% (177,04 2 m) 3,00 m

31,34% (554,80 2 m) 2 2,66 (4 724,80 m )

10,56% (187,00 2 m) 3,00 m em ambas as testadas AFASTAMENTO LATERAL 5,70 m 7,49 m e 12,43 m Tabela 03 - Comparação de índices permitidos e alcançados. Fonte: Arquivo da autora.


121

Fig. 75 - Perspectiva Sul/Oeste. Fonte: Arquivo da autora.


122

Fig. 76 - Perspectiva Sul/Leste. Fonte: Arquivo da autora.


123

Fig. 77 - Perspectiva Norte/Oeste. Fonte: Arquivo da autora.


124

Fig. 78 - Perspectiva Norte/Leste. Fonte: Arquivo da autora.


125

Fig. 79 - Fachada Sul. Fonte: Arquivo da autora.


126

Fig. 80 - Fachada Oeste. Fonte: Arquivo da autora.


127

Fig. 81 - Fachada Norte. Fonte: Arquivo da autora.


128

Fig. 82 - Fachada Leste. Fonte: Arquivo da autora.


129

Fig. 83 - Olhar do observador a partir da esquina. Fonte: Arquivo da autora.


130

Fig. 84 - Olhar do observador a partir da Rua ProfÂŞ EmĂ­lia Franklin Mululo. Fonte: Arquivo da autora.


131

Fig. 85 - Olhar do observador a partir da Rua Coronel Schwab Filho. Fonte: Arquivo da autora.


132

Fig. 86 - Olhar do observador a partir do acesso de moradores. Fonte: Arquivo da autora.


133

Fig. 87 - Vista interna da circulação pública e átrio. Fonte: Arquivo da autora.


134

CONCLUSÃO

O fato é a que a produção padronizada e em massa, é muito mais lucrativa que a personalização, pois além de baratear os custos de projetos e obra, faz com que o mercado se mantenha em constante movimento, pois na falta de opções

O presente estudo foi realizado com o objetivo de trazer

mais adequadas às novas necessidades que possam surgir,

novas abordagens à maneira de habitar contemporânea, de

torna-se

forma que a habitação multifamiliar continue a ser pauta de

empreendimento que melhor atenda aos anseios dos usuários

discussões na área da arquitetura habitacional, permitido,

em suas diversas fazes de vida. E quando não é possível

portanto, que cidade, habitação e usuário estabeleçam entre

mudar de apartamento, as reformas destinadas a adequação

si uma relação cada vez mais harmônica.

do ambiente doméstico podem ser bastante onerosas, de

Há que se refletir sobre a maneira como a habitação residencial coletiva vem sendo produzida em nossas cidades, pois o modelo de habitação racionalizada com base em

necessário

sair

em

busca

de

um

novo

modo que o usuário pode acabar fadado a uma condição de insatisfação diante de um espaço que não corresponde à suas necessidades e desejos.

plantas-tipo e programas pré-determinados, apesar de ser

Esta habitação padrão vem assumindo, portanto, um caráter

economicamente viável, desconsidera ou padroniza o usuário.

quase "descartável", com isso, cria-se uma quantidade

Entretanto, como foi visto neste trabalho, o usuário, as famílias e os padrões de comportamento estão em constante mutação. Deste modo, as unidades habitacionais concebidas com base em um padrão possuem grandes chances de não serem compatíveis a uma boa parte do mercado consumidor.

enorme

de

edificações

abandonadas

ou

deterioradas,

normalmente vistas nos centros antigos da maioria das cidades brasileiras, provocando assim, a subutilização do território urbano. No entanto, é possível afirmar, diante da pluralidade de famílias estudada, que há mercado consumidor para absorver


135

unidades mais personalizadas e versáteis. Se nossas cidades

Em função das novas, e cada vez mais rápidas mudanças

e sociedade vivem em constante mutação, porque continuar

que ocorrem na sociedade, o tema desta pesquisa poderá ter

reproduzindo um padrão de habitação obsoleto? Há, portanto,

continuidade e novos meios de alcançar a flexibilidade nos

uma necessidade iminente de que a arquitetura de edifícios

espaços podem ser empregados, de forma que a habitação

residenciais se insira no modo de vida das famílias, pois ao

possa alcançar um grau de versatilidade compatível com a

contrário do que se vê, a habitação que deve se adequar a

dinâmica sociedade atual.

seus usuários. Deste modo, o edifício Flexible House representa um novo conceito de edificação residencial multifamiliar que promove a diversidade por meio de plantas baixas distintas, voltadas à pluralidade de arranjos familiares, além de possibilitar as alterações que ocorrem ao longo do processo de morar por meio das estratégias de flexibilidade que foram aplicadas. Com isso, aumenta-se a vida útil do edifício através da satisfação continuada de seus usuários. Além disso, a multifuncionalidade proporcionada por lojas e espaços de trabalho compartilhado, dá ao empreendimento um

grau

a

mais

de

versatilidade,

oferecendo

mais

comodidade a seus moradores, evitando deslocamentos e promovendo a vitalidade do empreendimento e seu entorno.


136

REFERÊNCIAS ABNT NBR 5665 - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Cálculo do tráfego nos elevadores - Atividades técnicas. Rio de Janeiro, 1987. ABNT NBR 9077 - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Saídas de emergência em edifícios - Atividades técnicas. Rio de Janeiro, 2001. ACIOLY, Claudio; DAVIDSON, Forbes. Densidade urbana: um instrumento de planejamento e gestão urbana. 2. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. BERQUÓ, Elza. História da Vida privada no Brasil: contrastes da intimidade contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. Coordenador geral da coleção Fernando A. Novais; Organizadora do volume Lilia Maritz Schwarcz; Vol. 4. CARTER, Betty; MCGOLDRICK, Monica; COLABORADORES, &. As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar: Uma estrutura para a terapia familiar. 2. ed. Porto Alegre: ARTMED, 1995. Tradução de Maria Adriana Veríssimo Veronese. ECODESENVOLVIMENTO. O que é sustentabilidade. 2008. Disponível em: <http://www.ecodesenvolvimento.org/noticias/ecodbasico-sustentabilidade#ixzz2IzpFOOoU>. Acesso em: maio de 2014. FINKELSTEIN, Cristiane Wainberg. Flexibilidade na arquitetura residencial: um estudo sobre o conceito e sua aplicação. 2009. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura, UFRGS, Porto Alegre.


137

FREITAS, José Francisco Bernardino. O aterro da esplanada capixaba: A "modernidade" privada. Londrina: Anpuh – XXIII Simpósio Nacional de História, 2005. FROTAS DE CARROS E MOTOS NO PAÍS. Portal G1, São Paulo, 2013. GHIRARDO, Diane. Arquitetura contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002. GOMES, Eduardo Rodrigues. A geografia da verticalização litorânea em vitória: o bairro praia do canto. Vitória: GSA, 2009. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTRATÍSTICA (IBGE). Estatísticas do Registro Civil 2012. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTRATÍSTICA (IBGE). Sinopse do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. ______. Características da População e dos Domicílios 2010: Resultados do universo. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. ______. Síntese de Indicadores Sociais 2013: Uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). A mobilidade urbana no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2009. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). A mobilidade urbana no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2011. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). A mobilidade urbana no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2014.


138

JORGE, Liziane de Oliveira. Estratégias de flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. 2012. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo), FAUUSP, São Paulo. LEITE, Carlos; AWAD, Juliana di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012. LEITE, C.; TELLO, R. Indicadores de sustentabilidade no desenvolvimento imobiliário urbano: relatório de pesquisa. São Paulo: Fundação Dom Cabral/Secovi, 2010. PAIVA, Alexandra L. S. de Almeida. Habitação Flexível: análise de conceitos e soluções. 2002. Dissertação (Mestrado em Arquitetura da Habitação) - Programa PRAXIS XXI, FA/UTL, Lisboa. ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, Sa, 2001. SINGLY, Fançois de. Sociologia da família contemporânea. Rio de Janeiro: FGV, 2007. Tradução Clarice Ehlers Peixoto. TRAMONTANO, M.; BENEVENTE, V. A. Comportamentos & espaços de morar: leituras preliminares das e-pesquisas Nomads. In: ENTAC'04, 2004, São Paulo. Anais, 2004. Disponível em: http://www.nomads.usp.br/site/livraria/livraria.html. Acesso em: maio de 2014. UNITED NATIONS. Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common Future. 1987. Disponível em: <http://www.un-documentes.net/wced-ocf.htm>. Acesso em: 10 mar. 2014. VARGAS, Júlio Celso. Densidade, paisagem urbana e vida da cidade: jogando um pouco de luz sobre o debate porto-alegrense. Julho de 2003. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.039/663>. Acesso em maio de 2014.


139

VILLA, Simone Barbosa. Os formatos familiares contemporâneos: transformações demográficas. Universidade Federal de Uberlândia (UFU), 2012.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.