Boletim da Indústria Gráfica (BIG) - Edição 23 - 1950

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DA

INDÚSTRIA

GR Á F I C A

ÔRGÀO OFICIAL DO SINDICATO DAS I N D U S T R I A S

GRÁFICAS

NO ESTADO DE SÀO PAULO NÚMERO 23

SÃO PAULO, 2.= QUINZENA DE OUTUBRO DE 1950

ANO I

UM NAO FAZ FALTA... Morreu certa vez um homem muito rico em dinheiro, em virtudes e, ainda, em filhos, que eram inúmeros. Os filhos, porém, não viviam com êle, e assim não souberam de sua morte. Além disso, mal se conheciam, pois os contactos eram raros, apesar de tratar-se da conhecida família dos Sigesp. E por mais curioso que pareça, aliás é por isso que nos interessa a histó­ ria, todos os irmãos eram gráficos. Pois bem, quando morreu o velhinho, seu advogado teve que dar cumprimento às deter­ minações do testamento, segundo o qual todos os irmãos tinham que ser convocados para uma reunião fraternal, na ignorância da morte do pai. Somente na reunião é que o falecimento devia ser participado. O causídico procurou irmão por irmão e foi recolhendo as respostas. “ Eu não tenho tempo” , disse um. “ Eu vou, eu vou” , enganou outro. “ Pode contar comigo, que lá estarei” . “ Vou fazer uma forcinha” . “ Boa idéia essa reunião, eu vou sim” , anuiu um dêles. “ Eu não posso, tenho muito serviço”, disse o que se julgava mais ocupado de todos. “ Um a menos não faz falta” , foi o que disseram os mais comodistas. E assim que o advogado procurou todos, pensou que pelo menos uns cinco deveríam comparecer à reunião. Chegou afinal o dia e, à hora marcada, ninguém apareceu. Uma hora mais tarde, ninguém ainda. Duas horas depois, chegou um dos irmãos. E somente três horas depois da marcada para a reunião, surgiu no escritório do advogado o segundo irmão. E ambos queixosos... De acordo com o testamento, só realizada naquele dia e hora a reunião de todos os irmãos, seria distribuída entre êles a grande fortuna do velho Sigesp. Não se realizando a reunião, só seria a herança distribuída vinte anos mais tarde, quando os irmãos estivessem, mais unidos entre si, como condição. Essa história pode não ser real, mas tem lá seu fundo moral. E nos lembramos dela, ao termos que comentar as reuniões do Sindicato das Indústrias Gráficas. Poucos são os que comparecem. E, ao contrário da história dos Sigesp, a herança mesmo assim é distribuída aos que comparecem, embora sejam poucos. Mas em que consiste essa herança? No trabalho em pról de uma indústria gráfica coesa, forte e produtiva. Na semente de um perfeito congraçàmento da classe, cujos alicerces começamos a desenvolver. Aquêles que comparecem a essas reuniões participam désse trabalho. E estão desenvolvendo um terreno mais propício para o crescimento de nossa indústria gráfica. Numa recente reunião, uma reunião de simples confraternização, compareceram, cento e dez industriais gráficos. São Paulo possui, porém, só na capital, cêrca de setecentos esta­ belecimentos gráficos, por onde se vê que à aludida reunião não compareceu sequer um têrço dos convidados. Como pode assim existir uma classe unida? Mas sempre é tempo para se fazer alguma coisa. Agora mesmo ficou assentada a reunião dos industriais gráficos em almoços mensais, que serão realizados em lugares amplos para conter todos os que quiserem comparecer. Quem irá agora dizer: “ Um a menos não faz falta” ? ê preciso ter presente que esse comodismo é perigoso para o progresso de qualquer setor industrial, pois representa um inqualificável indiferentismo pelo que se possa fazer em seu benefício. — SODERAZ


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