A socialização do jovem e a aprendizagem: entre a escola tradicional e o ciberespaço

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Universidade de São Paulo Rede São Paulo de Formação Docente Ensino de Sociologia

A socialização do jovem e a aprendizagem: entre a escola tradicional e o ciberespaço

Antonio Aparecido Teixeira

São Paulo 2012


Universidade de São Paulo Rede São Paulo de Formação Docente Ensino de Sociologia

A socialização do jovem e a aprendizagem: entre a escola tradicional e o ciberespaço

Antonio Aparecido Teixeira- Nº USP 3238821 Orientador:- Wilson Mesquita de Almeida

Trabalho de Conclusão do Curso Especialização em Ensino de Sociologia

São Paulo 2012


Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Ficha catalográfica _______________________________

Teixeira, Antonio A. A socialização do jovem e a aprendizagem: entre a escola tradicional e o ciberespaço / Antonio Aparecido Teixeira; orientador Wilson Mesquita de Almeida. - - São Paulo, 2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização-Ensino de Sociologia-Rede São Paulo de Formação Docente/Universidade de São Paulo), 2012.

1. Educação básica. 2. Socialização. 3. Ciberespaço. 4. Condição juvenil. 5. Geração. I. Título.


Universidade de São Paulo Rede São Paulo de Formação Docente Ensino de Sociologia

A socialização do jovem e a aprendizagem: entre a escola tradicional e o ciberespaço

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado por banca examinadora em ___ de ________ de _____, conferindo ao autor o título de Especialista em Ensino de Sociologia.

Antonio Aparecido Teixeira- Nº USP 3238821

Banca Examinadora: Prof. Wilson M. Almeida (orientador) Prof. ________________Examinador 2 Prof. ________________Examinador 3

São Paulo 2012


SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO ..................................................................................... 1 2-OBJETIVO DA PESQUISA................................................................. 4 3-MÉTODOS E TÉCNICAS ................................................................... 5 4-RESULTADOS ..................................................................................... 6 5- DISCUSSÃO 5.1-O atual contexto da educação básica e a socialização ...................... 8 5.2-Novos aspectos da cultura de comunicação de massa e os processos socializadores .......................................................................................... 12 5.3-É possível que a vivência no ciberespaço interfira nos estudos desenvolvidos na escola tradicional?.... ................................................. 14 6-CONSIDERAÇÕES FINAIS 6.1-A influencia do ciberespaço sobre o interesse e/ou desempenho dos jovens alunos pelos estudos desenvolvidos na escola tradicional ......... 16 6.2-Relativizando os resultados alcançados .......................................... 18 6.3-Os desafios surgidos com as novas formas de socialização ............ 20 7-BIBLIOGRAFIA................................................................................. 22


RESUMO A presente monografia pretende verificar como o atual processo de socialização, que tem sofrido influência das transformações sociais ocorridas nas últimas décadas, principalmente aquelas ligadas à utilização das novas tecnologias do ciberespaço , pode estar relacionada com o interesse e/ou desempenho dos jovens alunos na escola pública de educação básica. Palavras ‐ chave: educação básica, socialização, ciberespaço, condição juvenil, geração

ABSTRACT  This monograph intends to investigate how the current process of socialization, which has been influenced by the social changes in recent decades, mainly linked to the use of new technologies in cyberspace, can be related to the interest and / or performance of young students in school public education. Keywords: basic education, socialization, cyberspace, youthful condition, generation

A versão em inglês do resumo esta sendo apresentada com base na tradução realizada no Google.


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1-INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende verificar como se dá o processo de socialização do jovem e a sua aprendizagem na atualidade da escola publica em São Paulo, bem como analisar se a crescente vivência no ciberespaço estaria influenciando o seu interesse e/ou desempenho nos estudos desenvolvidos com base no processo de ensino aprendizagem tradicional. O universo escolar apresenta certas particularidades como as que foram descritas por Dayrell (2010) sobre a “condição juvenil”, dentre elas pode-se destacar a avaliação que os alunos fazem da escola, considerando-a “enfadonha e sem interesse, com professores que pouco acrescentam à sua formação”, ou seja, como a maioria dos projetos pedagógicos da escola tradicional prevê a utilização de um conteúdo considerado arcaico pelo jovem aluno, este na maioria das vezes tende a retomar os valores considerados conservadores e desenvolver ações fundamentadas em normas, princípios e crenças que são disponibilizados por um processo de interdependência 1 entre as principais instituições socializadoras. Neste sentido se torna possível considerar o fato de que o processo de socialização desenvolvido entre os jovens alunos apresente certas características visíveis no espaço escolar, como por exemplo, a utilização de recursos multimídias durante o horário de aulas, o que muitas vezes fazem com que fiquem dispersos diante do processo de ensino aprendizagem, por outro lado, no ciberespaço eles costumam desenvolver a interação por meio dos recursos disponíveis na web, dentre os quais aqueles que os despertam o interesse no espaço escolar. “a escola perdeu o monopólio da socialização dos jovens, mesmo continuando a ser uma referência significativa para a vivência juvenil.Como vimos, a socialização juvenil vem ocorrendo em múltiplos espaços e tempos, principalmente naqueles intersticiais dominados pela sociabilidade. Implica reconhecer que a dimensão educativa não se reduz à escola, tampouco que as propostas educativas para os jovens tenham de acontecer dominadas pela lógica escolar.” (Dayrell, 2010).

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Segundo Setton (2011) este processo permite que os indivíduos estejam em constante contato com múltiplas referências identitárias.


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Para se discutir a particularidade referente às distintas gerações se torna necessário considerar que a juventude vivencia um processo de socialização que se desenvolve principalmente nos espaços e tempos próprios do jovem: geralmente, de lazer, mas que nem por isso deixa de se realizar institucionalmente na escola e no trabalho. O ambiente escolar proporciona o convívio entre indivíduos de gerações que podem ser consideradas distintas, o que pode significar que aja certa dificuldade para que se desenvolva um processo interativo, ou seja o termo geração é caracterizado a partir de duas dimensões que podem ser consideradas importantes para as análises sociológicas dos fenômenos educativos. “a primeira de caráter antropológico que se refere a varias formas de grupos e categorias de idade, em um sentido genealógico ou de filiação, porem mantendo um sentido ou uma função classificatória, já na segunda dimensão, sociológica ou política, destacam-se as relações de poder – tanto no âmbito da família como no cenário macrossocial das solidariedades e conflitos entre gerações, sobretudo direcionadas para as questões das políticas sociais, com ênfase na proteção social e no discutível debate sobre equidade entre as gerações” (Motta e Weller,2010)

Para Andrada (2010) a questão da mudança nas relações intergeracionais se dá em direção à liberalidade no processo de sociabilidade juvenil e a sua influência na vida profissional e familiar dos jovens. Assim, pode-se entender a existência de acomodação do jovem diante da incorporação de papeis adultos, seja pela dificuldade de inserção na vida profissional ou pela tolerância do meio familiar.

Neste sentido, a autora Tomizaki (2010)

destaca a importância da abordagem

geracional para os estudos dos fenômenos educativos. A partir do trabalho de Mannheim, mas também de autores contemporâneos, a questão das relações intergeracionais é analisada como sendo resultado dos processos socializadores que permitem “relacionar as mais diversas praticas educativas a determinadas dinâmicas intergeracionais, ou seja, relacioná-las as exigências (limites e possibilidades) que delineiam – como – e – o que – deve ser transmitido de uma geração a outra”, pois é numa dada situação social especifica que se desenvolve o fenômeno geracional .


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A sociedade da informação, também denominada de sociedade em rede2, apresenta aspectos importantes que caracterizam o atual modo de produção capitalista. A dinâmica social neste século XXI permite que se notem as dimensões dos novos espaços de sociabilidade, surgem o ciberespaço e os seus ambientes virtuais como espaços capazes da realização do trabalho, lazer e aprendizagem, e como possibilidade de emancipação do indivíduo, principalmente o jovem de áreas urbanas, nas relações sociais. Mesmo podendo ser considerado como um expoente da cultura de massas, o ciberespaço apresenta recursos disponíveis nos seus diversos ambientes que o difere dos demais meios midiáticos, capazes de proporcionar o que Levy (2008) denomina de “expansão das funções cognitivas” dos seres humanos, além de proporcionar um tipo de comunicação que possibilita aos indivíduos interagirem entre si, emitindo e também recebendo as mensagens, que podem conter desde a informação, como aos diversos tipos de recursos midiáticos.

O desenvolvimento desta nova forma de sociabilidade pautada nas formas digitais pode deteriorar a relação entre indivíduo e sociedade, historicamente se tem que as novas tecnologias estiveram atreladas aos interesses das classes dominantes servindo para fortalecer o modo de produção capitalista, elas podem ser capazes de estabelecerem uma nova dinâmica social, no caso especifico, caracterizada pela intensidade de informações dispostas em rede3, ou seja, a aparente autonomia e emancipação pode se chocar com um crescente isolamento e desinteresse pelo desenvolvimento dos estudos no espaço escolar.

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Embora a forma de organização social em redes tenha existido em outros tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para sua expansão penetrante em toda a estrutura social (CASTELLS, 1999, p. 497) 3

Alguns aspectos desta nova dinâmica social podem ser notados em “Amizade a conta gotas - Psicóloga e pesquisadora do MIT diz que os contatos curtos,rápidos e utilitários por mensagens de texto e redes sociais,como o Facebook , estão substituindo conversas de verdade” disponível em <http:// blogs.Estadão .com.br/link/amizade-a-conta-gotas/> acesso em 13 out.2012 e também em “A internet é uma máquina de fazer idiotas?” disponível em <http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/resenha/a-internet-e-umamaquina-de-fazer-idiotas/> acesso em 14 out.2012


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2-OBJETIVO DA PESQUISA

O presente projeto pretende verificar se o processo de desenvolvimento de uma nova sociabilidade não estaria provocando o aumento da ruptura nos interesses dos jovens em relação aos estudos desenvolvidos na escola tradicional. Como o convívio no ciberespaço pode influenciar as práticas e relações sociais, principalmente aquelas relacionadas ao universo escolar? Considera-se o fato de que o processo de socialização vivenciado pelos jovens alunos se desenvolve nos espaços das instituições clássicas família e escola. No entanto, atualmente, com mais intensidade, outras esferas tais como as redes sociais existentes no ciberespaço permitem que os indivíduos estabeleçam relações sociais. “O Ciberespaço, assim definido, configura-se como um locus de extrema complexidade, de difícil compreensão em termos gerais, cuja heterogeneidade é notória ao percebermos o grande número de ambientes de sociabilidade existentes,no interior dos quais se estabelecem as mais diversas e variadas formas de interação, tanto entre homens, quanto entre homens e máquinas e, inclusive, entre máquinas” ( GUIMARÃES JUNIOR,2008)

Contudo, o ciberespaço também pode ser entendido enquanto um exemplo de meio de comunicação, ou seja, pode contribuir para que os jovens alunos sejam mais facilmente influenciados pelas ideologias burguesas que se manifestam a partir da cultura de comunicação de massa.

Assim, esta pesquisa tem como objetivo: Geral: -Verificar como a sociabilidade juvenil, amplamente desenvolvida no ciberespaço, estaria influenciando o interesse e/ou desempenho dos jovens alunos pelos estudos desenvolvidos na escola tradicional. Específicos: a)aprofundar as discussões em torno da questão das relações intergeracionais diante deste processo. b)constatar se há a existência de uma retomada de valores tradicionais em paralelo com esta nova forma de sociabilidade juvenil.


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3- MÉTODOS E TÉCNICAS

O presente trabalho de pesquisa, de caráter qualitativo, buscou desenvolver o tema a partir das múltiplas realidades que o mesmo apresenta, utilizando como base as experiências dos participantes, descritas nos artigos utilizados, que acompanham os processos relacionados ao objeto deste trabalho como subsídio para o desenvolvimento do relatório narrativo.

Com isso, será adotado o método de abordagem dialético a fim de se constatar as contradições que são inerentes aos fenômenos sociais e que tal observação deve captar mudanças que ocorrem em função de tais contradições que se relacionam e se transcendem gerando novas contradições que se acham inseridas no contexto sócioeconômico e político.

Assim, para se alcançar os objetivos propostos será desenvolvida uma pesquisa exploratória com o objetivo de se estabelecer maior familiaridade com o problema, tornando-o mais evidente a partir de um estudo bibliográfico composto pela seguinte seqüência: levantamento bibliográfico, leitura, fichamento, analise de artigos que tratam da questão acima delineada.

Como procedimento técnico do projeto será adotada a pesquisa bibliográfica de artigos científicos disponíveis na internet no portal Scielo a partir do uso das palavras-chave: educação básica, ensino aprendizagem, socialização, ciberespaço e condição juvenil/geração.


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4-RESULTADOS

Os resultados obtidos na pesquisa exploratória que tinha como objetivo o estabelecimento de familiaridade com o problema proposto no TCC, tornando-o mais evidente a partir de um estudo bibliográfico, possibilitaram constatar, ainda que preliminarmente, a existência de um processo que pode ser caracterizado pelo descontentamento dos sujeitos em relação às praticas das principais instituições socializadoras, principalmente a encontrada na educação básica da escola tradicional.

A realidade existente no contexto atual da educação básica pública é discutida por Kuenzer (2010) a partir da hipótese de que a educação geral destinada aos jovens trabalhadores tem caráter certificatório e não apresenta qualidade social capaz de promover uma inclusão menos subordinada, além do não cumprimento do direito dos jovens alunos, principalmente aqueles que vivem do trabalho, de terem acesso, permanência e conclusão dos estudos.

As transformações por que tem passado a sociedade proporcionam um ambiente social no qual o indivíduo pode encontrar as condições para que as referências dispostas por um sistema híbrido sejam remodeladas de acordo com um sistema de esquemas, que, apesar de se apresentar como coerente é heterogêneo. Conforme a hipótese de Setton (2011) “a cultura da modernidade imprime uma nova prática socializadora distinta das demais verificadas historicamente” tornando possível a realização de novos questionamentos relativos ao indivíduo socializado. Como bem destaca a autora “o processo de socialização das sociedades atuais é um espaço plural de múltiplas referências identitárias”.

Neste sentido, as interações desenvolvidas pelos indivíduos através da utilização de formas digitais podem , segundo Di Felice (2007), serem analisadas através do conceito de sociedade da informação, pois a tecnologia e a informação são termos estritamente ligados ao processo de produção das relações sociais e possibilitam que se desenvolvam novas formas de sociabilidade.


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O novo tipo de sociabilidade proporcionado pelas formas digitais pode se desenvolver a partir dos sistemas informativos que permitem circular em tempo real as informações constituídas pela sociedade, além de tornarem possível que este mesmo cenário social passe por um constante refazer, inclusive recriando práticas e novas ações dos indivíduos.

Este aspecto de remodelação das praticas sociais também pode ser notado no artigo de Silva e Couto (2012) ao constatarem que este fenômeno permite uma aproximação do ciberespaço com a vida cotidiana “... praticamente, não existe diferenciação entre os domínios do digital e da realidade concreta”, resultando num processo que pode refazer o modo de consumir e se relacionar, ou seja, uma nova sociabilidade dos jovens urbanos desenvolvida a partir dos recursos “visuais, auditivos e cinestésicos proporcionados pelas TIC’s, criando assim, novas perspectivas éticas e morais”.

A função transformadora das tecnologias da informação e comunicação é evidente nos artigos pesquisados, porém, Velloso (2008) destaca que mesmo apresentando características de um espaço capaz de ampliar a participação dos indivíduos “... a Internet não é um instrumento de liberdade, nem tampouco a arma de dominação unilateral”, ou seja, ”o ciberespaço não se constitui, por si mesmo, em garantia de conquista da democracia, igualdade e ou liberdade”.

Segundo Oliveira e Tomazetti (2012) o processo formativo dos jovens alunos “mostrase cada vez mais uma experiência sem qualquer sentido, salvo o imperativo do diploma desta etapa do ensino para o ingresso em escassas oportunidades do mercado de trabalho ou a conclusão de um período indispensável para se ingressar em um curso superior”.


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5-DISCUSSÃO 5.1-O atual contexto da educação básica e a socialização

Os dados sobre a situação atual no contexto da educação básica tradicional permitem perceber que este suposto deslocamento do convívio em direção as formas digitais se dá, dentre outros fatores, devido às próprias mudanças ocorridas neste contexto que o torna desinteressante para os estudantes.

Assim, Kuenzer (2011) ao analisar os dados constatou que eles mostram que houve diminuição no número de matrículas no ensino médio, configurando segundo o INEP um crescimento negativo de -8,4% no período de 2000 a 2008, sendo que no ano de 2007, 41,3% das matrículas foram para o período noturno, também houve crescimento na taxa de repetência de 18,65% em 2000 para 22,6% em 2005, assim como na taxa de evasão de 8% para 10% no mesmo período.

Segundo Kuenzer (2011) a educação geral pública destinada aos jovens trabalhadores não apresenta qualidade social capaz de promover uma inclusão menos subordinada, ou seja, existe um distanciamento entre o discurso e a prática desenvolvida no processo de universalização do ensino médio no país que estaria impedindo que as quatro dimensões4 da educação, consideradas pela autora indispensáveis para garantir este processo, pudessem se efetivar.

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A- Ensino médio como parte integrante da educação básica, institucionalização do SNE; B- Universalização do acesso, sendo a educação mediadora do conhecimento, trabalho e cultura; C- Garantia de permanência e conclusão dos estudos, com políticas públicas destinadas aos estudantes; D- Qualidade social da educação básica que se encontra atrelada a uma dualidade estrutural expressa pelo antagonismo existente entre capital x trabalho.


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A questão da socialização é considerada por Setton (2011) como um importante conceito que pode proporcionar o entendimento sobre o processo de formação dos indivíduos enquanto parte de determinado grupo ou sociedade. É possível verificar que o processo relacionado a esta idéia apresenta diversidade de orientações culturais e que estas se apresentam aos indivíduos nos mais variados contextos num processo de interdependência entre as distintas instituições socializadoras, ou seja, “ a identidade dos indivíduos é fruto de uma superposição e coexistência de diferentes tradições”.

Com isso, a escola é apresentada como instituição que em conjunto com os meios de comunicação de massa, podem desenvolver um novo capital cultural nas camadas populares, pois ocorre um processo de intercâmbio pedagógico entre elas a partir da seguinte configuração família (camadas populares), escola (cultura letrada) e mídia (cultura de massa). Entretanto, pode-se entender que esteja ocorrendo uma ruptura nas funções primárias das instituições socializadoras família e escola, ficando os indivíduos cada vez mais submetidos a outras experiências tidas como legítimas no processo de constituição dos grupos sociais.

Neste sentido, a socialização desenvolvida no ciberespaço estaria se constituindo a partir de processos comunicativos com grande fluidez de informação e interação entre os indivíduos. Ao descrever as transformações tecnológicas que proporcionaram a definição do conceito de sociedade da informação, Di Felice (2007) pondera o fato de estarem relacionadas ao processo de produção das relações sociais e possibilitarem o desenvolvimento de novas formas de sociabilidade.

Este aspecto também pode ser notado no caráter isonômico das relações sociais desenvolvidas na sociedade digital, pois não estabelecem “uma divisão clara de setores, instituições, públicos, etc.(...) ambientes metamórficos e híbridos no interior dos quais se torna difícil distinguir as identidades e a função de cada setor”. Da mesma forma Velloso (2008) define este espaço enquanto uma ágora virtual onde se pode realizar debates públicos ou trocas simbólicas entre os sujeitos sociais, pois, assim como Hannah Arendt percebe que as esferas privada e pública podem ser expressas como exercício de ação que extrapola as atividades relacionadas ao labor e ao trabalho, permitindo aos indivíduos exercerem a liberdade e a visibilidade.


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Neste sentido, os autores Silva e Couto (2012) destacam a existência de tribos urbanas no contexto escolar da educação básica de Palmas-TO como um fenômeno relacionado com as novas tecnologias de informação e comunicação, estes novos grupamentos sociais têm como característica o fato de se depararem cada vez mais com um cenário dominado por bens simbólicos “cada vez mais mediados pelas TIC’s.”

O resultado da pesquisa destaca o fato destes alunos considerarem que “conhecimento implica o uso das TIC, o que reforça a relação de dependência entre eles”, ou seja, a interação pode ser entendida como princípio básico da vivência digital, por meio da qual “se apropriam de elementos estéticos, linguagem, estilo de vida e formas de apreender o mundo a partir das TIC.” enquanto tribos urbanas que expressam a diversidade e multiplicidade de interesses existentes na condição juvenil.

Com isso, os espaços e tempos existentes na educação tradicional, muitas vezes, ignoram a necessidade de “ promover o deslocamento da aprendizagem, a readequação de olhares e práticas pedagógicas voltados para as juventudes”.

Mesmo se considerando o fato de que as tecnologias da informação e da comunicação possibilitam aos indivíduos se organizarem a partir de novas formas de ações e interações, não significa que estejam reinventando os movimentos sociais, porém outras dimensões culturais podem surgir e serem expressas nesta ágora virtual. Entretanto, esta aparente emancipação dos indivíduos diante das transformações sociais, historicamente, tem produzido mais desigualdades sociais que conforme Severino Antonio, descrito por Velloso(2008), se desenvolvem associadas a um processo de homogeneização das culturas.

As principais características dos jovens alunos da educação básica no contexto atual têm sido amplamente determinadas pelo consumismo, segundo Oliveira e Tomazetti (2012) este fato está diretamente relacionado com a perda de interesse pelas atividades propostas para serem realizadas no espaço da escola tradicional.


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Os autores ao se referirem ao novo tipo de sociedade, centrada na fluidez dos sujeitos e das informações, rompendo as barreiras das fronteiras do tempo e do espaço, possibilitam notá-lo como relacionado com aquele organizado a partir dos pressupostos da cultura de comunicação de massa da qual o ciberespaço também pode ser considerado modelo.

Neste sentido o contexto escolar atual da escolarização do Ensino Médio vem apresentando dificuldades em proporcionar sentido no processo de formação a inúmeros jovens alunos, ou seja, a instituição escola na sociedade consumista vem perdendo a sua centralidade, não representando a sua antiga função de “agências responsáveis pela reprodução de operações valorizadas por todos” (Oliveira e Tomazetti, 2012).

Diferentemente do que se inicialmente presumia, os autores descrevem este processo de desinteresse dos alunos como relacionado à cultura consumista tida como responsável por criar um individuo moderno disposto a consumir além dos bens materiais, as informações5 advindas da televisão, rádio, internet como se por si só constituíssem conhecimento, ou seja, desenvolve-se um cenário no qual a autoridade docente como figura central de uma instituição reconhecida socialmente pelo seu papel hegemônico na socialização dos jovens ganha novos contornos.

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Segundo Pesquisa sobre internet da Nazca (2010) dentre os jovens na faixa etária de 12 a 15 anos de idade, 51%

preferem a internet ,47% a TV e apenas 1% jornal, por outro lado, na faixa de 16 a 24 anos de idade, 37% preferem a internet ,43% a TV e apenas 7% jornal.


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5.2 -Novos aspectos da cultura de comunicação de massa e os processos

socializadores

O fato de ter sido constatado um cenário que pode ser considerado pouco atrativo para os jovens alunos no contexto escolar tradicional, também é descrito por Oliveira e Tomazetti (2012), porém sob o enfoque de que o consumismo estaria criando desinteresse dos jovens alunos pelas atividades desenvolvidas nesse espaço.

Assim como Kuenzer (2011), destacam a existência de dificuldades em proporcionar sentido no processo de formação a inúmeros jovens alunos, pois este processo de ensino aprendizagem desenvolvido na educação tradicional estaria proporcionando apenas a certificação dos alunos e reproduzindo a lógica do modo de produção capitalista, expressa tanto pelo antagonismo entre capital x trabalho, como pela crescente cultura organizada em torno do consumo.

Com isso, a questão de que não tem sido proporcionada a qualidade social na educação básica e também por Oliveira (2012) de que falta horizontalidade na pratica pedagógica que é desenvolvida no espaço escolar, pode ser confirmada pelo que foi exposto sobre o processo de ensino aprendizagem que é desenvolvido no ensino médio do CEM de Palmas.

Uma educação que não seja apenas a expressão das desigualdades sociais pode ser considerada a questão básica discutida em torno destes artigos, ou seja, a condição juvenil faz com que apresentem uma constante mutabilidade que pode se refletir no modo de ser e de entender a sociedade da qual fazem parte, pois procuram nos meios tecnológicos os instrumentos capazes de proporcionar o lazer, comunicação e a própria aprendizagem.


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As principais características do ciberespaço descritas pelos autores podem ser complementadas pela fluidez de informações com que pode deparar-se no ciberespaço, ou seja, para Di Felice (2007) este aspecto permite que se desenvolva um processo comunicativo não apenas como forma de transmissão das significações e dos conteúdos sociais, mas também como instrumento para que se possa construir e reproduzir esta mesma arquitetura do social com novos significados.

Di Felice (2007) descreve o potencial dos sistemas informativos como capazes de permitir que circulem em tempo real as informações constituídas pela sociedade, além de tornarem possível que este mesmo cenário social passe por um constante refazer, inclusive recriando práticas e novas ações dos indivíduos.

O autor destaca a

importância de se questionar o atual dinamismo social tendo em mente se tratar do resultado da hibridação entre mídias, espaços e sociabilidade, porém, diferentemente de Setton (2011) que desenvolve seus argumentos com base em Nestor Canclini, o conceito de hibridismo foi descrito na perspectiva rizomática de Deleuze .

Outro aspecto importante destacado pelo autor se refere aos recursos encontrados no ciberespaço que possibilitam “leituras extensivas, caminhos alternativos para o leitor que, valendo-se dos nós na rede hipertextual não-linear, vê-se co-autor, em um exercício autônomo de produção de sentido da malha textual”, ou seja, este processo pode ser entendido como o descrito por Silva e Couto (2012) ao analisar a questão da formação escolar de que a possibilidade de “autoria está muito latente em meio a esses grupos juvenis”.

O fato constatado de que os alunos pesquisados “não querem ser ensinados, mas conduzidos à construção, às descobertas” pode ser considerado idêntico ao processo de participação dos indivíduos, descrito por Velloso (2008), nos debates públicos ou nas trocas simbólicas realizados por meio de inovadoras tecnologias.


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5.3-É possível que a vivência no ciberespaço interfira nos estudos

desenvolvidos na escola tradicional?

Presume-se que o processo de socialização desenvolvido no ciberespaço esteja relacionado com o afastamento, no sentido de não haver interesse ou haver um desempenho insuficiente, dos jovens alunos da escola de educação básica tradicional das praticas propostas neste espaço, muitas vezes consideradas ultrapassadas e sem importância para a formação destes indivíduos.

O fato de que as condições existentes no contexto escolar tradicional da educação básica têm influenciado o interesse e o desempenho dos jovens alunos do ensino médio pode ser constatado no artigo de Kuenzer (2010) , pois os dados utilizados pela autora revelam um alto nível de repetência e evasão, que ao expressarem o antagonismo nas relações sociais entre capital x trabalho, estabelecem uma dualidade invertida que segundo a autora deve ser combatida por meio da efetivação das propostas do Plano Nacional de Educação.

Com isso, pode-se perceber que a maioria dos projetos pedagógicos da escola tradicional prevê a utilização de um conteúdo considerado arcaico pelo jovem aluno, ou seja, torna-se possível aceitar que a lógica escolar criada a partir do modo de produção capitalista, associada à constatação da autora de que haja um sucateamento do ensino médio, principalmente para os que vivem do trabalho, na educação publica, também se reflete

na avaliação que os próprios alunos costumam fazer da instituição escola,

considerando-a “enfadonha e sem interesse, com professores que pouco acrescentam à sua formação”( Dayrell,2010).

O processo educativo não se desenvolve apenas na instituição escola, tampouco ela se constitui na única responsável pela socialização dos indivíduos, já que este processo caracterizado por seu hibridismo nas múltiplas matrizes disposicionais implica múltiplos espaços e tempos que podem se complementar durante toda a existência dos indivíduos.


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A socialização que pode se desenvolver no ciberespaço, exemplo de comunicação de massa, segundo Guimarães Junior (1999) permite aos indivíduos uma maleabilidade ao interagirem entre si, mas, por outro lado, como ambos os autores parecem constatar, mesmo contando com matrizes culturais heterogêneas elas apresentam como limite um frame básico que se desenvolve a partir das suas primeiras noções constantemente interconectadas num espaço plural de múltiplas referências identitárias .

Neste sentido, a existência de diferentes matrizes de cultura no universo escolar contribui para que as vivências individuais possam ganhar sentido mesmo num contexto ainda incipiente de universalização de acesso à educação no país, porém não é o que se percebe diante das transformações ocorridas atualmente na sociedade por meio das quais os indivíduos se acham diante de um emaranhado de informação proporcionada pela cultura de comunicação de massa que muitas vezes figuram como conhecimento e os tornam indiferentes à cultura escolar.

Este processo possibilitou a propagação da informação com mais facilidade, além de atingir um publico maior num curto espaço de tempo o seu custo também diminuiu, no período atual os indivíduos estão suscetíveis de confundirem a mera informação com o conhecimento, porém, o atual dinamismo social se revela como o resultado da hibridação entre mídias, espaços e sociabilidade, ou seja, este novo paradigma da tecnologia da informação tem a capacidade de influenciar toda a estrutura social, inclusive o processo de socialização e o de ensino aprendizagem.


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6-CONSIDERAÇÕES FINAIS 6.1- A influência do ciberespaço sobre o interesse e/ou desempenho dos jovens alunos pelos estudos desenvolvidos na escola tradicional

O perfil atual da educação básica publica pode ser considerado como um cenário pouco atrativo para os jovens alunos no contexto escolar tradicional, pois tem havido altos índices de repetência e evasão. As novas possibilidades criadas a partir do convívio no ciberespaço podem representar uma nova oportunidade para que possam estabelecer outras dimensões do processo de socialização, inclusive no que se refere aos estudos na educação básica tradicional.

O artigo de Setton (2011) permite que se evidenciem as principais características das novas agencias socializadoras surgidas a partir da cultura de comunicação de massa da qual o ciberespaço pode ser considerado um exemplo. Um dos questionamentos que se faz no TCC refere-se ao tipo de convívio que os jovens alunos podem desenvolver no ciberespaço e como este pode influenciar as suas práticas associativas e definir as relações sociais, principalmente aquelas relacionadas ao universo escolar? Neste sentido, a autora descreve as sociedades atuais como um espaço plural de múltiplas referências identitárias, ou seja, por meio de um processo dialógico, híbrido e disperso os indivíduos podem se situarem diante da heterogeneidade de princípios de orientação proporcionadas pelas instituições sociais. Desta forma, tem-se que a hipótese básica sobre um crescente direcionamento dos jovens alunos para o convívio virtual pode ser confirmada a partir da constatação de que não há mais a centralidade da instituição escola no processo de formação dos indivíduos e de que as transformações tecnológicas proporcionam um novo espaço capaz de orientar os indivíduos.

A existência de grande fluidez de informação e interação entre os indivíduos no ciberespaço permite que se considere este fenômeno como um tipo de processo socializador característico do novo tipo de social, interativo e ilimitado que proporciona a articulação entre mídias, espaços e sociabilidade.


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O fato dos jovens alunos vivenciarem uma condição juvenil que pode ser caracterizada pela organização deles em grupamentos que são denominados de tribos urbanas e que esta se encontra amplamente estabelecida no contexto do ciberespaço, torna possível que se entenda este processo como relacionado ao fato das instituições clássicas de socialização como família e escola não representarem mais o mesmo papel de exclusividade na formação dos alunos. A dinâmica educativa atual se apresenta como o resultado da interdependência entre as instituições, como descrito por Setton (2011), daí que não é difícil perceber a existência de um distanciamento entre os conteúdos elaborados pelas orientações curriculares da escola tradicional de educação básica e a realidade que foi analisada e que é vivenciada pelos jovens alunos, pois se torna possível aceitar o fato de que a sociabilidade juvenil, amplamente desenvolvida no ciberespaço, pode influenciar o interesse e o desempenho deles pelas atividades propostas no contexto escolar. Em relação a um dos objetivos específicos do TCC sobre as relações intergeracionais pode ser constatada a ausência de novos argumentos em torno do conceito de geração que permitissem aprofundar as discussões, porém o artigo Silva e Couto (2012), destaca um aspecto importante diante deste processo, o fato de que os jovens alunos constituem uma geração etária que se identifica mais facilmente com os recursos disponibilizado pelas TIC’s, ou seja, este fenômeno também tem sido constantemente noticiado nos meios de comunicação6 como relacionado aos indivíduos da geração x,y ou z.

Neste sentido, considerando-se este processo como próprio da socialização e ancorado nos valores dos bens simbólicos, pode-se considerar que seja próximo daquele que se realiza no contexto escolar, ou seja, ambas as praticas tem se mostrado possíveis de serem realizadas no contexto virtual, porém com outras significações e abrangendo outras dimensões da esfera social.

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Veja como exemplo a matéria “Conheça a Geração Z, os nativos digitais que moldarão o futuro” disponível em <http://idgnow.uol.com.br/blog/plural/2010/10/20/conheca-a-geracao-z-os-nativosdigitais-que-moldarao-o-futuro/> acesso em 15.nov.2012


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6.2-Relativizando os resultados alcançados A apresentação do contexto escolar atual permite que se considere que houve certa limitação dos dados por não expressarem a situação vivenciada nas escolas de educação básica existentes no estado de São Paulo, pois, ao desenvolver o projeto de pesquisa considerava-se que os jovens alunos de áreas urbanas seriam os mais propensos a fazerem uso dos recursos digitais disponibilizados no ciberespaço.

A mesma situação pode ser considerada em relação ao artigo de Silva e Couto (2012), pois o fato do artigo ter sido elaborado a partir dos dados obtidos em pesquisa realizada entre os alunos do CEM - Palmas não minimiza a sua importância para o desenvolvimento do TCC, pois são apresentadas características dos jovens alunos que podem ser consideradas próprias desta categoria e independem da localidade.

Outro aspecto que pode ser destacado é que se deixou de mencionar a diversidade existente no universo escolar, assim como os presumíveis modelos de ensino aprendizagem bem sucedidos existentes no âmbito da educação básica publica, denominada por Kuenzer (2010) de educação geral, para além daqueles relacionados com a educação profissional.

Neste sentido, a realização de um estudo complementar que analise os dados específicos sobre a situação existente no universo paulista e que contemple outros aspectos do processo de ensino aprendizagem desenvolvido na educação básica tradicional pode ser considerado importante para o tema proposto. Entretanto, diante do cronograma das atividades e da não obtenção de dados sobre este cenário durante a pesquisa bibliográfica se manteve estes como instrumentos capazes de permitirem uma reflexão sobre o objetivo do TCC.

De acordo com Setton (2011) o conceito de socialização permite verificar a existência de uma relação conflituosa entre socializados e socializadores que é caracterizada pela existência da ambigüidade de sentidos , porém se trata de uma relação dialética, na qual as ações se desenvolvam a partir da realização de uma troca incessante entre individuo e as matrizes sociais de cultura.


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Este aspecto pode ser considerado satisfatório para o desenvolvimento do TCC, pois caracteriza o processo de socialização a partir da cultura escolar como resultante da expressão de distintas matrizes culturais.

Neste sentido, a inexistência de uma cultura escolar compartilhada na forma de consenso entre os indivíduos das camadas médias da população juntamente com a existência de uma

heterogeneidade de referências culturais estariam estabelecendo

outras vertentes socializadoras que podem se apresentar como articuladas num processo que forme indivíduos plurais.

Um aspecto do artigo que pode ser considerado pouco adequado para o TCC é o excesso de conceitos utilizados por Setton (2011) que se refere à habitus, fato social total, hibridismo e a própria socialização, porém como ela própria destaca são necessários para a compreensão deste processo nas sociedades modernas.

Por outro lado, conforme destaca a própria autora novos questionamentos se fazem necessários diante de um cenário marcado pelo hibridismo das novas agencias socializadoras, dentre elas o próprio ciberespaço. Di Felice (2007) também relativiza o resultado obtido com o seu artigo, pois segundo o autor este novo tipo de social implica uma nova percepção sobre o que ele define de sociabilidade mutante que se desenvolve a partir da interação entre os indivíduos realizada por meio dos recursos tecnológicos destinados aos processos comunicativos.

Um exemplo deste tipo de questionamento consta no artigo de Velloso (2008) que ao vislumbrar o ciberespaço como exemplo de uma nova esfera do social , a ágora eletrônica contemporânea, abrangendo e remodelando as situações da vida relacionadas às esferas privada e publica, deixe de caracterizar este fenômeno a partir do conceito de socialização, utilizado no referencial teórico do TCC, porém seus argumentos permitem notá-lo como parte deste processo.


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6.3-Os desafios surgidos com as novas formas de socialização

O resultado obtido no artigo de Kuenzer (2010) não permite que seja evidenciada a questão proposta como objetivo geral do TCC, porém os dados fornecidos tornam possível reforçar a hipótese de que esteja ocorrendo um distanciamento dos jovens alunos da educação básica, caracterizado pela falta de interesse e/ou no desempenho, em relação às práticas desenvolvidas no espaço da escola tradicional.

Neste sentido, uma nova questão poderia ser feita para se constatar como hipótese básica: será que a utilização dos recursos digitais no espaço da escola tradicional de educação básica criaria novas perspectivas nos jovens alunos em relação ao processo de socialização e, em decorrência, como poderia influenciar o desenvolvimento da formação escolar?

Com isso, o desenvolvimento de um projeto de pesquisa sobre um estudo de caso em que este tipo de suporte seja utilizado poderia fornecer dados mais precisos sobre a realidade que se pretende estudar, permitindo uma comparação com o estudo aqui realizado de pesquisa bibliográfica.

As analises realizadas por Setton (2011) contribuem para que se confirme a existência de um novo processo socializador que pode ser percebido em instituições distintas daquelas consideras clássicas como família e escola, trata-se das novas agências socializadoras que têm se desenvolvido através dos recursos tecnológicos e da cultura de comunicação de massa. A questão proposta para ser verificada no TCC de que a sociabilidade juvenil, amplamente desenvolvida no ciberespaço, estaria influenciando o interesse e/ou desempenho dos jovens alunos pelos estudos desenvolvidos na escola tradicional encontra neste artigo argumentos que podem fazer com que este fenômeno seja considerado como existente nas sociedades atuais, porém o objetivo específico da retomada de valores tradicionais em paralelo com este fenômeno não pode ser constatado.


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Neste sentido, ganha destaque a questão formulada em um dos objetivos específicos sobre as relações intergeracionais, pois se presume que neste cenário atual as denominadas gerações x ou y apresentam características próprias no processo de apropriação destes recursos comunicativos existentes no ciberespaço, porém Silva e Couto (2012) não fazem referência a este aspecto o que torna possível a elaboração de um projeto abrangendo esta particularidade. Foi possível a partir do artigo “Interfaceamentos contemporâneos: tecnologias digitais e tribos urbanas no contexto escolar” de Silva e Couto (2012) realizar a constatação de que existe um processo que pode ser considerado irreversível de adesão aos recursos tecnológicos de informação e comunicação como instrumentos capazes de promover a socialização dos indivíduos.

Este ambiente específico, denominado de ciberespaço, permite a articulação e a interdependência entre as distintas instituições sociais, fazendo com que este espaço virtual se torne cada vez mais próximo da vida cotidiana dos sujeitos, permitindo inclusive que estes estabelecem novos significados ao processo de socialização.

O artigo de Velloso (2008) mesmo não apresentando o conceito de socialização para analisar as interações desenvolvidas no ciberespaço, torna possível que se note a grande contribuição que os recursos existentes neste espaço têm no processo de formação dos indivíduos, inclusive aqueles que extrapolam os limites da esfera privada do convívio social.

Neste sentido, Velloso (2008) permite que se note a importância deste espaço virtual para os indivíduos se organizarem e desenvolverem as atividades próprias da esfera pública, como aquelas próprias de uma ágora, assim um estudo de caso sobre os movimentos sociais contemporâneos que se desenvolvem sobre a plataforma eletrônica poderia ser de grande utilidade para se compreender melhor este processo.

Assim, o fato de que o processo de socialização acompanha os indivíduos durante toda a vida permite que se considere importante novos estudos sobre os desdobramentos da vivência virtual, inclusive dos aspectos relacionados ao contexto escolar no sentido de poderem gerar conhecimento.


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