Ganhar o Mundo Sem Perder a Alma

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Felicidade não é algo fácil;; é muito difícil encontrá-­la em nós e impossível encontrá-­la em outro lugar. [Nicholas de Chambort]

O homem não é uma criatura das circunstâncias. As circunstâncias é que são criaturas do homem. [Benjamin Disraeli]

Maior é aquele que conquista a si mesmo do que aquele que conquista uma cidade. [Provérbio de Salomão]

Que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? [Jesus Cristo]


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Depois de mais de vinte anos e um sem número de conversas com executivos workholics, esposas preocupadas, pessoas frustradas no trabalho e em dúvida a respeito da atividade profissional que escolheram, mulheres sobrecarregadas com a carreira e as responsabilidades da casa – invariavelmente mal resolvidas e com um profundo senso de culpa, está nítido para mim – e para eles – que a inserção da vida profissional na vida pessoal implica um dilema quase insolúvel. A equação significado, sucesso e trabalho parece não ter solução. Por um lado as empresas impõem ritmos e exigências desumanas e insanas aos seus colaboradores. De outro, as pessoas assumem cada vez mais compromissos em nome do crescimento profissional, as ambições particulares, ou a cruel necessidade de sobrevivência, na vida e no mercado. A matéria de capa da Você S.A. em sua edição de maio último afirma que “a sensação de trabalho excessivo acomete do estagiário ao presidente da companhia”.1 Os números indicam que a situação beira a insanidade: “hoje, 70% dos executivos convivem com altos níveis de estresse, 50% são obesos, sujeitos a doenças cardíacas e diabetes, e 8% sofrem de depressão”, e, segundo o Instituto Gallup, apenas 7% das pessoas estão bem nas cinco dimensões de bem estar: profissional, financeira, física, social e comunitária. Tomando como verdadeira a consideração de Alberto Ogata, da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, quando afirma que “quem se sente bem na esfera profissional tem duas vezes mais chances de estar bem nas outras áreas da vida”,2 a reflexão a respeito do modelo de relação entre vida e trabalho é urgente. 1- Giardino, Andrea; Ohl, Murilo; e Vieira, Vanessa. Epidemia workaholic: como dar um basta na neurose do trabalho e viver com mais qualidade. Revista VOCÊ S.A. São Paulo: Editora Abril, edição de maio de 2011. 2- Ibid.


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VIVER PARA OU VIVER COM Ele morreu aos 51. Simplesmente caiu na cozinha da casa de campo numa manhã de sábado e dali não se levantou mais. Na casa estavam ele e a esposa. Os filhos, dispersos, emocional e geograficamente. Cheguei à casa primeiro que eles. Todos me abraçaram e choraram. Entendi perfeitamente aquele pranto. Sabia que choravam, não a falta que o pai faria, pois não faria. Choravam a falta que o pai fizera a vida toda. Choravam a ausência do pai sem boas memórias de sua presença. Choravam um luto tardio: o pai morrera havia muito tempo. O pior dessa história é que o pai sabia. Em uma de nossas muitas conversas – era um homem falante e contador de casos – havia feito uma confissão. Disse que se arrependia da maneira como havia vivido. Contou que na juventude, em seu primeiro cargo executivo em uma multinacional, recebeu do diretor presidente o seguinte conselho: “você deve viver para a família, e não necessariamente com a família”. Um conselho diabólico, que transformava um homem destinado a amar em escravo e devoto corporativo, e prometia em troca recompensas financeiras. Em outras palavras: eu coloco em você “algemas de ouro”, sugo a sua alma para que você produza riquezas para mim, e transformo você num contracheque aos olhos dos seus filhos e da sua mulher. Mas há u m pior do pior dessa h istória. Descobri quando apresentava o seminário Vivendo com propósitos©3 para um grupo de casais. Lá pelas tantas um jovem executivo que trabalhava fora de sua cidade compartilhou com grupo que não estava satisfeito com o tempo que passava longe de casa. Disse que sentia falta da esposa e do filho, e confessou até mesmo que estava prestes a ceder aos tentadores convites dos amigos para “cair na noite”. Ficamos em silêncio, acolhendo aquela angústia, e respeitando o momento de intimidade devassada do casal. De repente a esposa do rapaz se pronunciou: “Eu já disse pra ele que não vou colocar meu filho em escola pública”. Ali estava uma mulher que desejava um marido que vivesse para a família, e não necessariamente com a família. A GRANDE CONFUSÃO O homem que confundiu o trabalho com a vida4 é o título de um curioso livro de Jonathon Lazear. Trata do difícil empreendimento de “recuperar o equilíbrio quando trabalhar se torna um vício”, isto é, deixar de ser um workaholic. Lazear conta sua história, como abandonou seu emprego no mercado editorial em Nova York e se dedicou com a esposa a um negócio 3- Kivitz, Ed René. Vivendo com propósitos. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2006. 4- Lazear, Jonathon. O homem que confundiu o trabalho com a vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.


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próprio em Minneapolis, chegando rapidamente ao êxito e à condição que permitia que fossem “a qualquer lugar que desejassem viajando de primeira classe”. Conclui dizendo que ficou viciado em sucesso. A história de Lazear é o outro lado da moeda daqueles que acreditam que trabalham demais por necessidade ou porque são exigidos por suas organizações ou empregadores. Mostra que não são poucos os que trabalham horas a mais simplesmente porque estão apegados a um estilo de vida que custa caro, e se tornaram dependentes de privilégios e benefícios que exigem sua dedicação excessiva ao trabalho. Umas horas a mais, um telefonema a mais, um cliente a mais, um negócio a mais, em pouco tempo deixa de descrever uma rotina imposta para se tornar um jeito de viver. De repente a vida se restringe ao trabalho: não existem mais amigos, apenas network; não existe mais tempo de ócio e lazer, apenas happy hour para contatos estratégicos; não existe mais a dinâmica rotineira da vida em família, apenas a ciranda do escritório e do trabalho. A convivência com o namorado e a namorada, o cônjuge, e os filhos é trocada pelos emails ainda não respondidos (ainda que a maioria seja lixo puro, spams e bobagens do tipo “não costumo repassar mensagens, mas essa você não pode deixar de ver”). A casa se torna um lugar estranho e ameaçador, e o escritório o lugar onde a segurança está estampada no ambiente frenético, mas ainda assim “familiar”. A sensação de cansaço mesmo após uma noite bem dormida (noite bem dormida, o que será isso?); a culpa intermitente que luta contra aquela voz “eu preciso me exercitar e emagrecer um pouco”; a falta de ar depois de um lance de escada; as conversas repetitivas que fazem do trabalho o assunto único mesmo nas festas com os amigos e almoços da família; a irritação, o mal humor e a falta de energia para qualquer coisa que exija um mínimo de concentração mental e vigor físico ao fim do dia; o silencioso e gradual afastamento para a solidão e o silêncio, são sintomas de que possivelmente você está “confundindo o trabalho com a vida”. Aliás, por falar em sintomas, parece que você está mesmo sentindo algumas coisas esquisitas ultimamente e já comentou umas poucas vezes que vai procurar um médico. Tudo isso sem falar no abuso da bebida ou de drogas mais pesadas, as fugas para o consumo desenfreado, inclusive de calorias, ou o sexo impessoal, além das síndromes atuais, o tal do pânico e o célebre stress. Como diz Lazear, “opção é uma palavra que não consta no vocabulário desse homem”, pois “o bom pai e marido é um bom provedor, aquele que não deixa faltar nada em casa”, que deseja dar o melhor para a família, e que diz orgulhoso “não quero que os meus filhos passem pelas dificuldades que passei”. Evidentemente, as mesmas crises e os mesmos dilemas são vividos pelas mulheres, que atualmente têm iguais responsabilidades como provedoras de suas famílias, cooperadoras para a composição da renda familiar e também,


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em número cada vez maior, carreiras profissionais muito bem sucedidas com remunerações e benefícios irrecusáveis, inclusive melhores do que seus maridos – (o que, digase de passagem, acarreta uma série de outras dificuldades que justificam um evento exclusivo do Fórum Cristão de Profissionais). O DIA TEM APENAS 24 HORAS O dia tem apenas 24 horas e parece que todas elas são usadas para o trabalho. O fenômeno das redes sociais e as novas tecnologias de informação e comunicação embaralharam as fronteiras entre vida pessoal e profissional. Os sites de relacionamentos, como Facebook, Linkedin e Twitter nos colocam diante de um imperativo quase irresistível de ficarmos plugados no mundo e acessíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana. Os smartphones e o recurso do email levaram os escritórios e as mesas de trabalho para o centro de nossas casas e ambientes familiares. O mundo on line exige que fiquemos on time. Os norte americanos criaram uma expressão para definir o sentimento de que precisamos estar ligados o tempo todo: fomo – “um acrônomo de fear of missing out, traduzido: o medo de perder algo”.5 Vivemos com a sensação de que não dá tempo de fazermos tudo o que precisamos, muito menos tudo o que desejamos. Isso explica porque o lazer hoje em dia é reivindicado como direito. Lazer é o oposto de trabalho. É aquilo a que uma pessoa “se entrega por livre e espontânea vontade, para repouso, diversão ou entretenimento, após cumprir tarefas profissionais, familiares e sociais”.6 O conceito de ócio criativo, desenvolvido pelo sociólogo italiano Domenico De Masi, 7 compreendido como a possibilidade de integração de trabalho, tempo livre e estudo, trouxe novas perspectivas para a relação trabalho e lazer. Um executivo que faz negócios enquanto joga golfe com o cliente, está trabalhando, defrutando do lazer, ou fazendo as duas coisas ao mesmo tempo? Um professor universitário, lendo filosofia na rede do sítio no sábado à tarde, está trabalhando ou curtindo mais um clássico? Depende da maneira como cada um encara o trabalho e o lazer. Como bem disse o pianista chileno Claudio Arrau, “quanto mais eu gosto do que faço, menos chamo de trabalho”. Por outro lado, estudiosos como o sociólogo francês Joffre Dumazedier, que se dedica à chamada sociologia do lazer desde a década de 40, compreendem que atividades como trabalho profissional e doméstico; manutenção do corpo, como 5- Giardino, Andrea; Ohl, Murilo; e Vieira, Vanessa. Epidemia workaholic: como dar um basta na neurose do trabalho e viver com mais qualidade. Revista VOCÊ S.A. São Paulo: Editora Abril, edição de maio de 2011. 6- Tanure, Betânia; Carvalho Neto, Antonio; e Andrade, Juliana. Executivos: sucesso e [in] felicidade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 7- De Masi, Domenico. Ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2001.


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refeições, cuidados de higiene e sono; obrigações familiares e sociais, associadas a estudos interessados e para qualificação pessoal não são consideradas lazer. Dumazedier afirma que “lazer é uma escolha individual, ajuda o indivíduo a sair da rotina, é benéfico para a saúde, é buscado com a intenção de auferir prazer e satisfação”.8 Dumazedier acredita também que o lazer é algo que se realiza de livre vontade, e nesse caso, uma caminhada matinal encarada como obrigação por recomendação médica não pode ser considerada lazer. O lazer é também desinteressado, isto é, “não está relacionado a nenhum fim lucrativo ou utilitário”. Assistir a um filme para cumprir uma tarefa escolar ou programa de treinamento profissional não caracteriza lazer. Outra característica do lazer é o prazer que ele proporciona, o “estado de satisfação como um fim em si mesmo”. Finalmente, o lazer tem um caráter pessoal, pois “supõe que todas as suas funções respondem às necessidades do indivíduo, só dele, para compensar as obrigações impostas pela sociedade”. Isto é, o lazer é uma forma de “compensar o desgaste causado pelo trabalho, pela família e pela vida social”. Dumazedier oferece uma classificação interessante de atividades que podem ser consideradas lazer:9 . Lazer físico: atividades esportivas, envolvimento e movimento do corpo . Lazer artístico: atividades como ir ao teatro, cinema, museu, espetáculos em geral . Lazer prático: associado aos trabalhos manuais, jardinagem, culinária . Lazer intelectual: possibilita a elevação da fruição de conhecimento e informação . Lazer social: sair com amigos, participar de festas e reuniões familiares, participar voluntariamente de grupos que atuam no interesse coletivo

Estes poucos conceitos teóricos a respeito do lazer ajudam a identificar as fronteiras entre vida pessoal e profissional e servem como uma espécie de gabarito para quem deseja analisar as tensões envolvidas na necessária harmonia e proporcionalidade adequadas para a dedicação a ambas as dimensões. ALGUMAS COISAS Você já sabe que a vida não pode ser reduzida a fórmulas do tipo “se – então”: se você fizer isso, então vai acontecer aquilo. Na vida, nem sempre “a” conduz a “b”. É fato que geralmente “quem semeia vento colhe tempestade”, mas também é fato que de vez em quando a gente colhe o que não plantou, deixa de colher o que plantou, convive com 8- Dumazedier, Joffre. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva, 1979. 9- Ibid.


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ervas daninhas, tem que vigiar gente plantando coisa errada na nossa horta, e luta constantemente contra essa falta de nexo que nos leva a exclamar: “mas eu fiz tudo certo, por que foi acontecer isso comigo?” Você também já sabe da impossibilidade de reduzir a vida a fórmulas, isto é, não é possível definir um padrão universal de casamento ou um arranjo familiar que combine com todo mundo em todo lugar, nem mesmo uma dinâmica de trabalho que se encaixe com todo mundo. O que dá certo para um casal pode não dar certo para outro, o que explica o equilíbrio de uma família pode ser exatamente o ponto de atrito de outra. O que é um caminho de satisfação e realização para um é um estorvo e um caminho pedregoso para outro. A dinâmica de trabalho adequada para uma pessoa é um martírio para outra. Mas você já viveu o suficiente para saber o significado da expressão “probabilidade”. Você sabe que há algumas coisas básicas, e que a vida é semelhante para as pessoas em boa parte de suas dimensões. Isto é, cada casal desenvolve sua própria rotina, mas há algumas coisas comuns a todos os casais bem sucedidos; cada família se entende de modo peculiar, mas há algumas coisas comuns a todas as famílias bem sucedidas. Cada pessoa encara o “bem sucedido” de um jeito, mas há pontos comuns em todas as listas de pessoas bem sucedidas. PRIMEIRAS COISAS PRIMEIRO – Você sabe qual é o segredo da vida? – Não, qual é? – Isso. – O seu dedo? – Não. Uma coisa. Uma coisa só. Você fica com ela e todo o resto não importa droga nenhuma. – Legal, mas o que é essa única coisa? – É o que você vai ter que descobrir.

Este é um diálogo de City slickers, com Billy Crystal e Jack Palance.10 Você encontra o centro da vida e este centro ajuda você a organizar todo o restante. Das coisas que são comuns para as pessoas bem sucedidas, uma delas, e talvez a principal é que todas elas afirmam possuir um centro a partir do qual se organizam e encontram sentido e significado para suas vidas. Jesus disse que deveríamos “buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, e todas demais coisas seriam acrescentadas” [Mateus 6.33]. Você tem que encontrar a régua que vai usar para tomar decisões, definir prioridades, escolher valores, e coisas do tipo: a maneira como usa o dinheiro, administra o tempo, atrás de quais sonhos estará correndo e assim por diante.

10- Buford, Bob. A arte de virar o jogo no segundo tempo da vida. São Paulo: Mundo Cristão, 2005..


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QUANDO TUDO NÃO É O BASTANTE A felicidade é um desejo universal. A cultura ocidental faz coro com a afirmação da Declaração de Independência dos Estados Unidos: “consideramos verdades evidentes por si mesmas que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais a Vida, a Liberdade e a procura da Felicidade”. A tradição budista oriental alerta que todo ser humano busca a felicidade e faz o possível para evitar o sofrimento. Na verdade, mais do que um desejo universal, a felicidade é um dos maiores sonhos de consumo do mundo atual. O problema é que não é possível comprar felicidade. É verdade que o dinheiro compra uma vida mais confortável e menos preocupada. Mas é também verdade que existe muita gente rica e infeliz e que o efeito que o dinheiro exerce sobre a felicidade nunca é considerado um fator de peso em estudos sobre a satisfação e felicidade das pessoas, diz uma pesquisa conduzida pela Organização Gallup, nos Estados Unidos. “O dinheiro pode garantir, em parte, a satisfação das pessoas, sem ser suficiente, no entanto, para garantir a felicidade. Segundo os especialistas, uma renda anual equivalente a R$ 130 mil11 pode, pelo menos, assegurar que as expectativas das pessoas sejam atendidas”. Os resultados do trabalho foram publicados na revista norteamericana Proceedings of the National Academy of Sciences, na edição de 7 de setembro de 2010, e revelaram o que sempre soubemos: o dinheiro compra satisfação, mas não felicidade.12 A vida feliz é simples. Paradoxalmente muito simples. Por exemplo, há quatro questões a respeito das quais as pessoas de bom senso dificilmente não estarão de acordo. A primeira é que a felicidade depende mais das coisas que a gente não pode pegar do que das coisas que a gente pode pegar. Por exemplo, entre um carro e um romance, vale mais o romance – somente um idiota acredita que um carro novo é a resposta para a solidão. Também estamos de acordo que a felicidade se explica muito mais pela dádiva do que pela conquista. Por exemplo, um abraço sincero do amigo vale mais que os elogios piegas dos asseclas ou do chefe interessado no aumento da produtividade. Somente um idiota acredita que suas amizades verdadeiras estão alicerçadas em poder, fama, dinheiro e status. Outra compreensão comum é que, em relação à felicidade, as coisas que o dinheiro não pode comprar valem mais do que as coisas que o dinheiro pode comprar. Por exemplo, a 11- Esse é o padrão norte-americano. Pesquisas feitas no Brasil indicaram renda anual de R$ 75 mil como suficientes para deixar as pessoas despreocupadas com dinheiro e passarem a pensar nas questões subjetivas que dão sentido e significado à vida. 12- FONTE: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2010/09/dinheiro-compra-satisfacaomas-nao-felicidade-diz-estudo.html


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alegria que o dinheiro não compra vale mais que a festa que o dinheiro manda fazer. Somente um idiota paga caro para participar de uma festa cuja alegria está nas garrafas de vinho. Finalmente, acreditamos que a felicidade depende muito mais das pessoas do que das coisas. Isto é, entre uma casa de campo e a amizade de um filho, a amizade do filho vale mais. Somente um idiota escolheria se sacrificar para comprar uma casa de campo e passar o Natal longe da esposa, dos filhos, filhas, genros, noras e netinhos. O mundo está cheio de idiotas. GANHAR O MUNDO SEM PERDER A ALMA Jesus era um contador de histórias. Uma delas trata de pessoas gananciosas e fascinadas com o dinheiro e as ilusões de uma vida confortável. Disse Jesus: Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens. Então lhes contou esta parábola: A terra de certo homem rico produziu muito bem. Ele pensou consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde armazenar minha colheita’. Então disse: ‘Já sei o que vou fazer. Vou derrubar os meus celeiros e construir outros maiores, e ali guardarei toda a minha safra e todos os meus bens. E direi a mim mesmo: Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se’. Contudo, Deus lhe disse: ‘Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?’ [Lucas 12.15-21]

Ao final de sua história, Jesus fez o seguinte comentário: Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus. A ideia de ser rico para com Deus segue a mesma lógica de outras duas afirmações de Jesus: Que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma? [Mateus 16.26]. A expressão “ganhar o mundo e perder a alma” geralmente é interpretada como “ficar rico nessa vida e pobre na eternidade”, ou então “desfrutar de coisas boas nesse mundo e ir para o inferno depois da morte”. Mas parece que Jesus está dizendo outras coisas também muito importantes. Perder a alma significa perder a si mesmo como pessoa. O poema Tabacaria, de Fernando Pessoa, ilustra esse significado: Fiz de mim o que não soube, E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.


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Um dos grandes privilégios – e pesos – de ser humano é a possibilidade / responsabilidade de escolher. Vinícius de Morais disse que “o operário faz a coisa e a coisa faz o operário”, isto é, o trabalho é também um caminho de auto conhecimento, auto realização, construção de uma identidade pessoal, o processo que Carl Jung chamou de individuação, ou com certa semelhança, o que Carl Rogers chamou de tornarse pessoa. Trabalhar apenas pelo dinheiro ou para ter acesso ao que o dinheiro pode comprar é um projeto de vida e de carreira pequeno demais. Cada um de nós chegará ao momento quando estará diante de um espelho para contemplar e julgar a si mesmo no tribunal da própria consciência. Nesse dia prestaremos conta do tipo de gente que nos tornamos. Nesse dia saberemos se SHUGHPRV D DOPD RX QRV WRUQDPRV DOJXpP HP TXHP ÀRUHVFHX o potencial de um ser extraordinário criado à imagem e semelhança de Deus. Perder a alma VLJQL¿FD WDPEpP desperdiçar a existência. O escritor e conferencista Stephen Covey comenta que muitas pessoas fazem sacrifícios extremos para subir a escada do sucesso, e quando chegam ao topo descobrem que a escada estava encostada na parede errada.13 O sábio Rei Salomão disse que esse é o tipo de gente que passa a vida correndo atrás do vento. Correr atrás do vento é não apenas dedicar a vida ao que é efêmero e ocupar-se apenas consigo mesmo, como também e principalmente jogar fora a oportunidade de fazer diferença no mundo, e especialmente na vida das pessoas ao redor. Desperdiça a existência quem não deixa um legado, uma contribuição para a riqueza coletiva como resultado do bom uso de seus talentos, competências, conhecimentos, experiências e habilidades. A Bíblia conta a história de um rei que reinou oito anos em Jerusalém, e foi sem deixar de si saudades [2Crônicas 21.20]. Desperdiçou a existência, perdeu a alma. Perder a alma também pode significar não ter nada que justifique sua permanência no mundo. Quando Jesus pergunta “que dará o homem em troca de sua alma?”, imagino um diálogo de Deus com um sujeito qualquer: – Fulano, chegou a sua hora. – Por favor, deixe-me aqui mais um pouco. – Lamento, não será possível, você até agora não me deu qualquer razão porque eu deveria prolongar a sua vida.

Esse raciocínio aparentemente fantasioso e sem sentido me ocorreu quando li na Bíblia Sagrada a história de uma mulher chamada Tabita. E havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que traduzido se diz Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e esmolas que fazia. E aconteceu naqueles dias que, enfermando ela, morreu; e, tendo-a lavado, a 13- Covey, Stephen. First things first [Primeiro o mais importante]. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.


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depositaram num quarto alto. E, como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, lhe mandaram dois homens, rogando-lhe que não se demorasse em vir ter com eles. E, levantando-se Pedro, foi com eles; e quando chegou o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnicas e roupas que Dorcas fizera quando estava com elas. Mas Pedro, fazendo sair a todos, pôs-se de joelhos e orou: e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e, vendo a Pedro, assentou-se. E ele, dando-lhe a mão, a levantou e, chamando os santos e as viúvas, apresentou-lha viva. E foi isto notório por toda a Jope, e muitos creram no Senhor. [Atos 9.35-42]

A história de Dorcas me faz perguntar se haverá alguém pranteando minha morte e lamentando minha falta significativa. O que teriam para mostrar a um santo homem de Deus como argumento contra a minha morte que estariam considerando prematura? Na verdade, que argumento eu mesmo poderia usar diante de Deus, pedindo a Ele que me permitisse viver um pouco mais? Pode ser uma interpretação exagerada das palavras de Jesus. Mas confesso que isso não apenas me assusta, como também e principalmente me inspira a usar bem a oportunidade que Deus me concede de viver do lado de cá do céu. DECISÕES RADICAIS Quem acredita que o trabalho excessivo está roubando as outras dimensões de sua vida não tem muitas opções. Na verdade, basicamente duas: ou renegocia o contrato de trabalho atual, ou muda de emprego/carreira/atividade. Considere um milagre se seu chefe bater à sua porta dizendo “não precisa se preocupar nem se desgastar, caso não alcancemos as metas desse trimestre não haverá tanto problema assim” ou “aqui em nossa empresa estamos mais preocupados com você do que com a sua produtividade”. Não espere que um cliente lhe diga “tudo bem, pode atrasar a entrega, eu para tudo e deixo meus funcionários ociosos enquanto você resolve seu problema”. Não se iluda, como já observou Martin Luther King Jr., o poder jamais é concedido, é sempre conquistado. Você quer o poder para decidir seu futuro, sua agenda e os rumos da sua vida? Então vai ter que se posicionar com firmeza. Mas não se desespere. Isso é possível. A maioria das pessoas somente toma providências quando obrigadas por causa de uma demissão inesperada ou um grande colapso em virtude da perda de alguém próximo, o fracasso do casamento, ou qualquer coisa que exija uma profunda revisão de vida. Essa é a história de Paul Tsongas.


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Em janeiro de 1984, o senador norte-americano Paul Tsongas, do estado de Massachusetts, declarou que iria deixar o Senado, sem concorrer à reeleição naquele ano. Tsongas era uma estrela em ascensão, franco favorito à reeleição, frequentemente apontado como candidato à vice-presidência ou até mesmo à presidência do país. Poucas semanas antes daquela declaração havia descoberto que tinha um tipo de câncer linfático, incurável, mas controlável através de tratamento e que, provavelmente, não afetaria em nada sua capacidade física ou sua expectativa de vida. A doença não o forçou a abandonar o Senado, mas forçou-o a confrontar-se com fato de que não viveria para sempre. Não haveria tempo para fazer tudo o que queria. Portanto, qual era a coisa que mais desejava fazer no tempo limitado que lhe restava? A maioria consegue evitar essa pergunta. Paul Tsongas, segundo a palavra do seu médico, teve que enfrentá-la. Decidiu que o que mais queria na vida, aquilo de que não abriria mão, já que não era possível ter tudo, era ficar com sua família e acompanhar o crescimento dos seus filhos. Preferia isto a contribuir para dar forma à legislação do país ou a ver seu nome nos livros de História. Compreendeu que, se fosse atingir a imortalidade de qualquer forma, qualquer tipo de vida após encerrados seus dias na Terra, ela teria suas raízes na família, e não na atividade legislativa.14

A alternativa é agir antecipadamente. A crença de que precisamos sempre concordar com as exigências da empresa ou dos chefes imediatos, sem questionar e argumentar de maneira racional está ultrapassada. O medo de perder um emprego não pode ser maior do que o medo de perder a alma. O medo de promover mudanças na carreira, mudando de emprego ou de atividade profissional, não pode ser maior do que o medo de desperdiçar a existência e chegar à velhice com um senso de frustração e fracasso. DUAS CARREIRAS Cliff Hakim é o fundador da consultoria de carreira Rethinking Work®, com sede em Arlington, Massachusetts, nos Estados Unidos. Seu livro mais vendido, ainda não publicado em português, tem o sugestivo título We Are All Self-Employed, e apresenta a ideia de que depender das empresas e dos chefes para o futuro da carreira e da vida é uma atitude obsoleta. Hakin defende que todos nós temos duas carreiras: uma é a carreira que desenvolvemos no emprego que ocupamos, outra é a gestão da nossa própria carreira – somos todos autoempregados, ou, em outras palavras: você é o seu primeiro e verdadeiro chefe. 14- KUSHNER, Harold. Quando tudo não é o bastante. São Paulo: Nobel, 1997.


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Assumir a responsabilidade de fazer a gestão da própria carreira é uma decisão imprescindível e inadiável para quem deseja integrar de modo saudável e satisfatório a vida profissional na vida pessoal. O desafio é grande, os sacrifícios são enormes, as eventuais mudanças são assustadoras e os custos elevadíssimos. Mas tudo vale a pena. O que não vale a pena é ganhar o mundo e perder a alma.

TEXTO

INTEGRANTE

C R I S TÃ O TODOS © 2 0 1 1

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DIREITOS E D

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FÓRUM

P R O F I S S I O N A I S RESERVADOS.

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