Funcionalismo em Perspectiva

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CADERNOS DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Funcionalismo em perspectiva

Edição especial - 2010


Cordenação e supervisão Claudete Lima Revisão André Queiroz Cleber Barbosa Francisco Cleyton Paes Francisco Valber Barros Helder Felix João Luiz de Brito Kelvia Duarte Lilian Teixeira Maria Adelaide Souza Maria Cristiane de Souza Michely Quinto Natália Tahim Sávio Cavalcante Tarcila Oliveira Formatação Ana Angélica Santiago André Medeiros André Sabino Beatriz Pereira Cleber Barbosa Cristiane Souza Daniele Almeida Glenda Miranda Juliana Costa Monique Nunes Paula Mônica Rodrigues Renata Rolim Ticiana Rodrigues Produção Camila Sousa Lívia Chaves Magno Gomes Neurielli Cardoso


SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 4 SEÇÃO 1: EXPRESSÕES “DAR UMA” E VERBOS SIMPLES O uso de expressões com “dar uma x_ada” em oposição a verbos simples ............................ 5 O uso de expressões com dar uma x_ada em oposição a verbos simples .............................. 12 O uso de expressões com “dar uma _ada” em oposição a verbos simples .............................. 15 Dar uma x_ada em oposição ao uso de verbos simples .......................................................... 18 SEÇÃO 2: REFERÊNCIA NOMINAL Referência nominal definida e indefinida em artigos de opinião, editorial e notícia .................. 21 SEÇÃO 3: FORMA VERBAL – GERÚNDIO Forma verbal: gerúndio e gerundismo ..................................................................................... 27 SEÇÃO 4: INDETERMINAÇÃO DO AGENTE A indeterminação do agente: uma comparação entre o português oral do Brasil e de Portugal ................................................................................................................................... 31 A indeterminação do agente na linguagem escrita referencial e literária .................................. 37 SEÇÃO 5: DISCURSO E PRESPECTIVA DEÔNTICA Perspectivas deônticas alusivas à faixa etária e aos discursos formal e informal .................... 46 O verbo modal “Ter de” na modalidade deôntica no discurso oral ........................................... 52 SEÇÃO 6: ESTRUTURAS DE NEGAÇÃO Negação: um estudo de ocorrências na língua falada de Fortaleza ......................................... 55 SEÇÃO 7: GRAMATICALIZAÇÃO DO ONDE A gramaticalização da forma onde ........................................................................................... 63 SEÇÃO 8: ORAÇÕES TEMPORAIS Análise funcionalista de orações temporais em relatos da revista Seleções ............................ 68 Orações temporais sob uma perspectiva funcional .................................................................. 76 A noção temporal em orações adverbiais extraídas de blogs .................................................. 81


APRESENTAÇÃO O número inaugural dessa revista, fruto do trabalho de três equipes técnicas: a equipe de revisão, a equipe de formatação e a equipe de produção, em que se dividiram os autores, reúne textos que apresentam resultados de pesquisas com base funcionalista, realizadas durante a disciplina Lingüística: funcionalismo, ministrada em 2010.1, para alunos de Letras da Universidade Federal do Ceará. São trabalhos que investigam fenômenos da língua portuguesa em textos orais e escritos, aplicando aspectos teóricos estudados, tais como a classificação de predicados de Dik, a estrutura da informação e a estrutura temática, segundo Halliday, o princípio de iconicidade, conforme Givón. Idealizada há mais de quinze anos no formato impresso, a revista que ora sai a lume, graças às facilidades modernas propiciadas pela tecnologia, pretende servir de veículo para a divulgação de trabalhos produzidos por alunos de Letras nas diversas disciplinas. Assim, evita-se a artificialidade de escrever artigos e resenhas para apenas um leitor: o professor e dá-se a oportunidade a outros leitores conhecerem os muitas vezes excelentes trabalhos escritos por alunos de Graduação.

Profa. Claudete Lima


SEÇÃO 1: EXPRESSÕES “DAR UMA...” O USO DE EXPRESSÕES COM “DAR UMA X_ADA” EM OPOSIÇÃO A VERBOS SIMPLES André Medeiros André Sabino INTRODUÇÃO Os falantes de língua portuguesa do Brasil se expressam em determinadas situações usando duas formas verbais variantes do mesmo verbo: “dar uma (x) ada” em oposição ao verbo simples para enunciar um mesmo estado de coisas essas construções usadas para expressar uma mesma idéia com suposta equivalência se distinguem tanto no plano semântico quanto no relevo discursivo, isto é, as duas estruturas tem significados distintos, além de obvias diferenças estruturais. O objetivo deste trabalho é verificar as justificações semântico-discursivas do emprego da expressão como “dar uma limpada” em oposição à ocorrência do verbo no infinitivo “limpar”. Categorizando cada ocorrência com base na forma de construção com verbo-suporte e com verbo pleno, tipo de sintagma nominal demonstrando a deverbalidade e não-deverbalidade destes tipos, a função discursiva, isto é, se é ordem, oferta, afirmação ou pergunta, demonstrar também os aspectos se é perfectivo ou imperfectivo e duração; instantâneo, durativo ou iterativo. A metodologia utilizada consiste em localizar, primeiramente, a forma real do verbo. Depois, verifica-se, em alguns casos, quando o nome predicado esta ligado semanticamente ao verbo pleno analisando essas duas construções que se equivalem sintaticamente, temos um nome deverbal como núcleo da predicação (V - n) e constrói-se uma relação de nominalização entre V-n e verbo pleno (ex.: dar uma caminhada - caminhar), processo extremamente produtivo para a ampliação do léxico. Assim, nos corpora utilizamos, para esta análise, ocorrências retiradas da intenet no site de relacionamento ORKUT. Escolhemos essa sincronia para verificarmos se a freqüência do verbo dar como verbo suporte nessas construções como: Ocorrência Vai dar uma bobeada dessas ? Mas, na hora de dar uma cantada...Q desastre!!!... Trabalha o dia inteiro, e quando é de noite vai dar uma caminhada para

Referencia Comunidade Dar uma bobeada” do ORKUT Comunidade do ORKUT chamada “Eu não sei dar cantada” CORPUS DO PORTUGUÊS de Michael Ferreira

Função Pergunta Declaração

Afirmação


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espichar as pernas. Para te dar um OI bem caprichado! Adoro dormir e morder a canela da minha mãe,ha tambem naum posso esquecer de q gosto muito de tomar sol e dar uma cochilada no sofa da sala. da minha casa, e quando fui dar uma derrapada, a bicicleta pegou numa pedra e eu acabei... FICAREI FELIZ SE FOREM DAR UMA ESPIADA NO MEU BLOG. A prefeitura do Rio, através da operação choque de ordem decidiu que o folião que for pego dando aquela “mijadinha” (urinada) na rua será preso por ato obsceno. -Minha família,que aqui & aculá dá uma vacilada,mas tá do meu lado,ainda... Dei e levei soco, cotovelada, bico na canela e voadora. Além disso, o diabo, que o enganou, ajuda-o a dar mais cabeçadas. Gaste o dinheiro deles, peça para dar uma dentada no seu sanduíche ou na sua maçã, desperdice seu material, não devolva suas coisas. "Falar do Ericão?! O cara que em quase 4 anos de amizade apenas quebrou minha tv, quebrou a vidraca da minha casa, a maçaneta do banheiro, deu PT na porta sanfonada da cozinha, deu

Comunidade do ORKUT chamada “Gosta de dar aquela caprichada”

Oferta

Comunidade do ORKUT chamada “Eu adoro dar uma cochilada”

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Comunidade do ORKUT chamada “Segura a derrapada”

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Comunidade do ORKUT chamada “Deixa eu dar uma espiada”

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BLOG “THEBEST.BLOG.BR

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Comunidade do ORKUT “Deu vacilada mochila virada”

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Comunidade do ORKUT chamada “Já dei cotovelada sem querer”

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Comunidade do ORKUT chamada “Vou te dar uma cabeçada”

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Sugestão

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uma joelhada na minha cara, quebrou a chave da minha garagem, derrubou um litro de vinho no meu tapete e ainda por cima diz ser meu amigo?! Ser mãe é ser isto tudo com um sorriso, sem deixar de ser bonita, alegre, dedicada. É perder a paciência, levantar a voz, dar uma palmada. Adoro dar a famosa TESTADA.

ORKUT

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Comunidade do ORKUT “Eu adoro dar testada”

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São os respectivos derivados de “cotovelo, “cabeça”, “dente”, “joelho”, “palma” e “testa”, substantivos primitivos que designam partes do corpo com que se pode golpear. Quando recebem o sufixo formam derivados com a idéia de “golpe de -”. Já “ombro, “sola do pé”, “costas”, etc. também são nomes de partes do corpo com que se pode golpear, mas normalmente não aceitam a formação de derivados com “-ada” neste sentido. TAMBÉM SEI DAR MINHAS CACETADAS Jesus carregando a cruz... e o 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas, de verdade. eu levei uma coronhada e daí ? E também pode te dar um tiro ou uma facada, mas sem nunca te enganar sempre numa boa. Faz um tempo que eu não dou uma paulada com aquela mina. A polícia está a procura por um homem que deu uma pedrada na cabeça de um jovem no último sábado (30) em Muriaé. Quando João Grilo pede o punhal do cangaceiro para dar uma punhalada em Chicó, ele está segurando a gaita na mão.

ORKUT

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Dicionarioinformal.com.br

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Pode-se notar que os substantivos são derivados dos verbos “bobear”, “cantar”, aminhar”, “caprichar”, “cochilar”, “derrapar”, “espiar”, “passar”, “peneirar”, “urinar” e “vacilar”, respectivamente. Feita a análise e a coleta dos dados verifica-se que todos podem ser usados como em “dar uma –ada”. A idéia é de ação. Este uso do sufixo “-ada” é típico de um registro bastante informal daí existirem muitos vulgarismos corriqueiros, na maior parte dos casos referentes a funções fisiológicas ou sexuais. Não confundir com os adjetivos verbais que no feminino coincidentemente terminam também em “-ada” (cansada, chateada, inconformada, preocupada, etc.) que se empregam como em “Ela agora está -ada” nem com os particípios que no feminino coincidentemente terminam também em “-ada” (apreciada, estimulada, explorada, incentivada, provada, provocada, roubada, etc.) que se empregam como em “Ela foi –ada” seu material, não devolva suas coisas. As deverbais apresentam atenuação e brevidade das ações como, por exemplo: Mesmo que não fosse ficar lá pra sempre, seria bom dar uma passada pra pegar uns amuletos antes de seguir seu destino. “„Dar‟ ocorre como verbo-suporte em construções como „dar uma cabeçada‟, equivalente a „cabecear‟, mas o último parece menos freqüente.” Retomando as características básicas dos verbos-suporte no português contemporâneo, eles não impõem restrições de seleção, têm valor semântico esvaziado, carregam, morfologicamente, as marcas da flexão verbal, permitem maior versatilidade semântica e a redução da valência verbal (detransitivação), ou seja, é possível omitir os argumentos do verbo nas situações em que este os requer quando pleno. Neste sentido um jogador de futebol levou uma “microfonada” no olho, um dia desses. Mas há muitos substantivos primitivos que por algum motivo não aceitam a formação de derivados com “-ada” neste sentido. O cotejo entre as construções com verbo-suporte e as demais com verbos plenos vislumbra a possibilidade de caracterização aspectual com o verbo-suporte. Segundo Neves (1996), em pesquisas com corpora do português contemporâneo, os verbos-suportes, também conhecido como verbos leves, verbalizadores e ainda verbos funcionais, tem esse nome por suportar categorias; de modo, tempo, número e pessoa. Autora define esses verbos como semanticamente vazios que permite construir um sintagma nominal com verbo-nome em relação de paráfrase com o sintagma verbal.


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Conforme Neves (1996), essa relação de paráfrase entre verbo em estrutura de suporte e o verbo pleno não é uma condição para definir essa categoria de verbo uma vez que não se conhece construções desse tipo que não possuam correlatos semânticos constituídos por verbos simples. Desse modo, ela expande essa conceitualizacão e explica que essa categoria de verbo é fragilizada da perspectiva semântica e que se estrutura com o seu complemento com a finalidade de obter um conteúdo global. Em muitas ocorrências, o verbo leve adquire um papel numa situação comunicativa que não seria possível se o enunciador usasse o verbo pleno, pois o verbo leve requer um complemento em forma de sintagma nominal que admite ser habilitado diretamente pelo sintagma verbal. Sendo assim, a mudança de enunciação de um verbo pleno pelo verbosuporte dar maior mobilidade semântica, ou seja, é possível, com o seu uso, a adjetivação do complemento do verbo-suporte, qualificando-o, ou classificando-o: O que fez Lena dar uma gargalhada? O Zé Medeiros começou a dar uma peruada na câmera. Se emissor tivesse escolhido enunciar essas cláusulas usando o verbo pleno esses enunciados ficariam assim: O que fez Lena rir intensamente? O Zé Medeiros começou a opinar instintivamente na câmera. Entre outros efeitos. Acrescente se a isso o fato de o verbo- suporte permitir a destransitivacão do verbo pleno. Quanto à natureza do verbo- suporte se estrutura em dois tipos: deverbal e nãodeverbal. A primeira denota a funcionalidade da expressão de brevidade do processo ou de atenuação do estado de coisas. Joaquim vem cá dar uma olhada. As deverbais apresentam o processo da ação como sendo de golpe. Como se enuncia no exemplo a seguir: Se for preciso dar uma pancada em Roberto Carlos, vou dar. As pesquisas também revelam que a estrutura dar uma (X) Ada deverbal, se apresenta como forma modalizadora da linguagem constituindo recurso de expressividade. Como no exemplo: Quero isso na minha mesa para dar uma lida nisso. Justino e eu vamos dar uma saída.


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Passando pela categoria de modo onde costuma haver oscilação, como no caso, do modo real ou irreal, procurando pelos potenciais de certeza de uma ação e expressões de desejo, incerteza ou duvida. Encontra-se uma explicação para que aja a ocorrência em uma enunciação do modo irreal na forma da expressão “dar uma (X) ada” , no fato da aplicação estar ligada a fatores intencionais e subjetivos , pois, muitas vezes, cabe a atitude do falante o emprego de determinado modo. Portanto, as motivações dar ocorrência real e irreal não depende somente de fatores semânticos mais também, e com certa freqüência a fatores de duvida, de exaltação de sentimentos do enunciador. Nas representações de aspectos que são caracterizadas pela constituição temporal interna da forma verbal e pode estar vinculado a situações, processos ou estados podem ser nomeados pelos traços semânticos, flexionais ou contextuais e que denominamos perfectivo e imperfectivo. Perfectivo inclui as formas de momentos, isto é, os processos verbais são concluídos sem condicionar duração da mesma. Este traço de perfectividade pode estar semanticamente na expressão “dar uma olhada” indicando essencialmente uma ação terminada, uma pontualidade. Desta forma apresentamos alguns exemplos: Fui dar uma conferida em um de seus livros. Foi até o pátio dar uma volta. O impefectivo é característico de formas verbais imperfeita, ou seja, formas verbais cujos processos funcionam de forma durativa; uma ação que pressupõe uma fase inicial, uma passagem indeterminada de tempo e uma fase final. Trata-se de uma função durativa que é representada por uma função aspectual. A duração do processo também pode ser representada por uma forma imperfeita, forma verbal que pode determinar; o inicio o decurso e o final do processo. As formas verbais se constituem um conjunto de propriedades que dispõem os verbos para designar seus graus de atualização, ordenação e duração do processo. Conforme mostra os exemplos: Ninguém esteve lar para dar uma explicação a nos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em síntese, a análise do corpus revela que as motivações semântico-discursivas que leva o falante de língua portuguesa do Brasil fazer uso da expressão dar uma (X) Ada em oposição à forma simples são de ordem significativa, pois o permite que o emissor dê maior mobilidade ao discurso. A análise das ocorrências do verbo dar como verbo-suporte permitiu-nos atestar que essas construções:


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a) são freqüentes com substantivos primitivos que designam objetos com que se pode golpear e aceitam o nosso sufixo com este significado. b) são usadas para qualificar o nome predicativo, detransitivar o verbo e dar um matiz aspectual ao evento. Confirmou, também, a existência de um modelo morfosemantico bem definido (Vsup + N), o qual, muitas vezes, está em relação de nominalização com um verbo pleno, o que confirma, também, que se trata de uma construção geradora de nominalizações, processo extremamente enriquecedor para o léxico da língua portuguesa. REFERÊNCIAS BARROS, J. de. Gramática da língua portuguesa. Cartinha, Gramática,Diálogo em louvor de nossa linguagem e Diálogo da viciosa vergonha. Edição de Maria Leonor Buescu, Lisboa: Faculdade de Letras. NEVES, M. H. M. Estudo das construções com verbo-suporte em português. In: KOCK, I. G. V. (org.). Gramática do português falado VI: Desenvolvimentos. Campinas: Unicamp, Fapesp, 1996, p.201-231. NEVES, M. H. M. Gramática de usos do português. São Paulo: Unesp, 2000. NEVES, M. H. M. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2006. SCHER, A. P. As construções com o verbo leve dar e nominalizações em –ADA no português do Brasil. Campinas: Instituto de Estudos de Linguagem, Unicamp, 2004 (Tese de Doutoramento).


O USO DE EXPRESSÕES COM DAR UMA X _ADA EM OPOSIÇÃO A VERBOS SIMPLES Helder Felix de Souza Júnior1 Monique Nobre Nunes2 INTRODUÇÃO São muitas as motivações que levam um falante a optar por uma estrutura em detrimento de outra para atingir seus objetivos discursivos, entre elas está o contexto. Mas este não é o único fator determinante de escolhas para o falante em uma situação comunicativa. Diante disso, deparamo-nos com questionamentos no que se refere às motivações de um falante quando este se defronta com a possibilidade de escolher entre uma construção com verbo-suporte em oposição a um verbo simples equivalente para obter os efeitos de sentido desejados. Detivemo-nos, então, às construções como dar uma +particípio,como

em

Mais

adiante

vou

dar

uma

esticada pra

ele

provar

do

massapé.(Corpus do Português, ficção), e os fatores semântico-discursivos que influenciam a escolha desse tipo de estrutura pelo falante. METODOLOGIA Com o intuito de averiguar quais as motivações semântico-discursivas que podem levar um falante a escolher entre uma construção com verbo-suporte e o seu verbo pleno ou simples- correspondente, coletamos no Corpus do Português (2006) algumas ocorrências dessas estruturas. Analisamos, então, as formas dar uma _ada comparada ao seu verbo simples correspondente em composições de verbo-suporte + paticípio e sua equivalente diminutivizada presentes em ficção do português do Brasil do século dezenove retiradas do Corpus do Português (2006). Em 858 ocorrências da construção dar uma encontradas no CdP, foram analisadas 104 ocorrências presentes em ficções do português do Brasil, porém, concentramo-nos nas construções dar uma + particípio, as quais somam uma total de vinte ocorrências (19,2%). Encontramos no corpus três ocorrências (2,9%) da variável dar uma+ de+ substantivo, contudo estas não serão objeto de análise. ANÁLISE DE DADOS Partindo do pressuposto de que o falante deve optar pelo emprego de um verbosuporte porque com esse emprego ele obtém algum efeito especial, já que muitas das construções com o verbo-suporte correspondem a outras construções com o mesmo 1 2

Graduando do Curso de Letras/Português da Universidade Federal do Ceará: juniorrusso.felix@yahoo.com.br Graduanda do Curso de Letras/Alemão da Universidade Federal do Ceará: nikita_nunes@hotmail.com


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significado básico (NEVES, 2000), debruçamo-nos sobre a verificação das motivações que levam o falante a escolher entre o uso da forma dar uma + particípio em oposição ao seu verbo pleno correspondente em recortes de ficção do português do Brasil. Na análise das 104 ocorrências da expressão dar uma apenas vinte têm como complemento o particípio do verbo pleno, como em “dar uma parada” (CdP, 2006). São exemplos das variáveis encontradas na análise dos dados: (1) (2) (3)

(4) (5)

Dar uma + particípio do verbo pleno (dar uma x_ada) Não quer dar uma parada? (CdP,ficção) Dar uma + substantivo Um dia desses, quis dar uma mão, ainda não tive coragem. (CdP,ficção) Dar uma + particípio+ sufixo diminutivo Então quando a Josefina vai à cozinha dar uma espiadinha ao almoço, a coisa sai do outro mundo. (CdP,ficção) Dar uma + substantivo + sufixo diminutivo O Coronel queria até dar uma festinha pra gente. (CdP,ficção) Dar uma + de + substantivo Aí quis dar uma de machão, se ferrou. (CdP,ficção)

Durante a averiguação dos dados coletados, constatamos que, ao optar pelo emprego da variável dar uma parada (1), o falante deseja, segundo Scher (2006), expressar uma eventualidade que pode desenvolver-se rapidamente, incompletamente ou, até, descuidadamente, efeito que poderia não ser alcançado por seu verbo pleno corresponde, parar, que implica, de acordo com Neves(2000) um evento pontual, sem duração, como em: Eu achei que já estava no momento de parar e foi isso que eu fiz.(CdP,oral) Um outro fato observado foi a equivalência entre as estruturas dar uma+ particípio+ sufixo diminutivo e dar uma+ particípio do verbo pleno, já que, de acordo com Scher(2006), a interpretação que se pode obter dessas construções é essencialmente a mesma. Podemos perceber essa equivalência nas sentenças: Então quando a Josefina vai à cozinha dar uma espiadinha ao almoço, a coisa sai do outro mundo. (CdP,ficção) Vou dar uma espiada pelas salas e pela cozinha. (CdP,ficção) A adequação de registro, como afirma Neves (2000), também pode levar o falante a escolher uma estrutura com verbo-suporte em detrimento de um verbo pleno equivalente, já que construções como a que tomamos como objeto deste trabalho podem ser mais adequadas à fala coloquial. Como exemplo disso, temos: Abre essa porta que eu quero dar uma mijada. (CdP,ficção)


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Conforme a análise dos dados, constatamos que as variáveis (1), (2), (3) e (4) possuem uma carga semântica semelhante, porém, (2) e (4) são mais recorrentes que (1) e (2). A tabela abaixo expõe a quantidade de ocorrências dessas variáveis: Tabela 1: Frequência de ocorrência de construções com a expressão dar uma no corpus.

VARIÁVEIS dar uma+ particípio(dar uma _ada) dar uma+ substantivo dar uma+particípio+ sufixo diminutivo dar uma+substantivo+sufixo diminutivo dar uma+de+substantivo(não se aplica) Total

OCORRÊNCIAS 20 71 4 6 3 104

% 19,2 68,3 3,8 5,8 2,9 100

CONSIDERAÇÕES FINAIS Analisados os dados, observamos que alguns dos fatores semântico-discursivos que podem levar um falante a escolher entre uma construção com verbo-suporte como dar uma _ada e uma com seu verbo pleno equivalente são o desejo de exprimir um evento que pode desenvolver-ser de forma rápida, descuidada; e a necessidade, ou desejo, de adequação da linguagem à uma determinada situação - cotidiana, coloquial, por exemplo. Observamos também, que este tipo de estrutura quando acrescida de sufixo diminutivo, continua basicamente com o mesmo sentido. Porém, salientamos que existem muitos outros fatores que podem motivar o falante a optar entre as estruturas analisadas que não foram contempladas aqui. REFERÊNCIAS Davies, Mark and Michael Ferreira. (2006-) Corpus do Português (45 milhões de palavras, sécs. XIV-XX). Disponível em http://www.corpusdoportugues.org. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São paulo: Editora UNESPE, 2000. SCHER, Ana Paula. Nominalizações em -ada em Construções com o Verbo Leve dar em Português Brasileiro. Letras de Hoje. Porto Alegre. v. 41, nº 1, p. 29-48, 2006.


O USO DE EXPRESSÕES COM “DAR UMA ___ADA” EM OPOSIÇÃO A VERBOS SIMPLES Kelvia Saraiva Duarte 3 INTRODUÇÃO Este trabalho propõe-se verificar as motivações semântico-discursivas em estruturas com verbos-suporte, especificamente, expressões como: dar uma __ ada, em oposição às estruturas com verbos plenos. Os verbos-suporte têm significados bastante esvaziados, que formam com seu complemento um significado global, geralmente correspondente a outro verbo da língua, porém, algumas construções não possuem esses verbos correspondentes. Após a análise do corpus, verificaremos também o valor semântico das expressões analisadas, que também é um objetivo deste trabalho. METODOLOGIA A presente pesquisa é do tipo avaliatória e de caráter quantitativo. O corpus delimitado para este trabalho foi um conjunto de ocorrências composto por vinte frases em língua portuguesa falada, grande parte em entrevistas feitas a homens e mulheres, retirado do Corpus do Português disponível em: http://www.corpusdoportugues.org. Após a coleta dos dados, estes foram analisados, revelando em seus valores semânticos diversos aspectos, que em seguida foram categorizados, conforme a forma, a composição, a duração e o aspecto de cada um. DISCUSSÃO DE RESULTADOS Com base nas análises feitas em construções com verbos-suporte em oposição a verbos plenos, observamos que aqueles são tão usados por falantes de língua portuguesa quanto imaginamos, desde os mais instruídos até às pessoas sem instrução alguma. Segundo as análises, 49% das estruturas com verbos-suporte implicam noções de eventualidade com caráter diminutivizado, expressando efeito de incompletude e até descuido. Vejamos os seguintes exemplos: 1. (a) Só vou dar uma espiada. 1. (b) As aulas eram horríveis, eu ia lá só para dar uma olhada geral e depois ia ver os filmes na cinemateca. Em ambos os casos podemos perceber que a estrutura com o verbo dar constrói uma noção diminutiva das ações como se essas ações tivessem sido executadas em um espaço de tempo, porém, rápido e com certo descuido sem fazê-la na totalidade. Em 1.b, a oposição da expressão “dar uma olhada” e “ver” é muito extensa, a segunda, em 3

Graduanda em Letras Português pela Universidade Federal do Ceará. Contato: kelvia_duarte@yahoo.com.br


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detrimento da primeira, implica que de fato o agente executou tal ação com propriedade e a concluiu, ou seja, ele assistiu completamente aos filmes, o que não aconteceu com as aulas. Em outros casos, as estruturas com verbo-suporte são escolhidas pelos falantes, porque os verbos existentes na língua correspondentes a essas estruturas não preenchem o valor semântico que o falante deseja expressar. Vejamos: 2. Nesse caso, talvez o governo resolva dar uma alimentada na economia. O verbo alimentar apresenta a noção de sustentar, abastecer e fortalecer apenas através de alimentos, porém, não se pode alimentar a economia com esse recurso, então, a expressão “dar uma alimentada”, expressa a idéia de fortalecer, melhorar e aprimorar a economia, mas, não necessariamente por meio de alimentos, e sim através de outros recursos. Alguns substantivos ao unirem-se aos verbos leves, formando essa estrutura composta, implicam na restrição de instrumentos utilizados em determinadas ações. Vejamos: 3. (a) Marcelo deu uma facada no ladrão. 3. (b) João deu uma cabeçada na parede. 4. (a) Marcelo esfaqueou o ladrão com um punhal. 4. (b) João cabeceou a bola com a testa. Os substantivos facada e cabeçada em 3.a e b implicam os nomes faca e cabeça, restringindo dessa forma os instrumentos utilizados pelos agentes, pois, nos primeiros dois exemplos não poderíamos dizer que Marcelo e João utilizariam um punhal ou a parede para executarem a ação, usaram obrigatoriamente uma faca e o outro a própria cabeça. Nos dois últimos exemplos, temos construções com verbos plenos, que permitem que os agentes da ação utilizem outros instrumentos possíveis para executar a mesma. Em 3.a, Marcelo poderia ter utilizado um facão, uma faca ou qualquer outra coisa cortante, e em 3.b, João não precisa usar obrigatoriamente toda a sua cabeça para cabecear, mas parte dela, como a testa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das análises feitas a respeito do assunto, concluímos que o uso das construções com verbos-suporte implicam geralmente eventualidades com duração rápida e não conclusiva. Essas são em grande os valores semânticos atribuídos à estas estruturas, ao contrário dos verbos plenos correspondentes à elas, que implicam um aspecto pontual, no que diz respeito a duração da ação. Não podemos esquecer que a expressão falada da língua está sujeita a uma maior liberdade de criação dos falantes, logo, faz-se necessário


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ainda muitos outros estudos e análises a respeito do uso de expressões “dar uma __ada” em outros gêneros textuais para construirmos um quadro mais amplo e definido. REFERÊNCIAS DAVIES, M; FERREIRA, M. Corpus do Português. 2006. Disponível em < http://www.corpusdoportugues org> Acesso em: (dia, mês e ano do acesso) KOCK, I. G. V. (org.). Gramática do português falado VI: Desenvolvimentos. Campinas: Fapesp, 1996, p. 201-231. NEVES, M. H. M. Gramática de usos do português. São Paulo: Unesp, 2000. NEVES, M. H. M. Estudo das construções com verbo-suporte em português. In: SCHER, A. P. Nominalizações em -ada em construções com o Verbo Leve dar em Português Brasileiro.Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 29-48, 2006


DAR UMA X__ADA EM OPOSIÇÃO AO USO DE VERBOS SIMPLES Paula Mônica Cavalcante Rodrigues4 INTRODUÇÃO A partir de análises feitas em frases, cuja presença da ocorrência “dar uma x_ada se manifesta, este trabalho é desenvolvido. Foram feitas algumas análises de acordo com os tempos verbais e com base nos resultados foram feitas algumas considerações. ANÁLISE Frase 1 Presente do indicativo (1ª pessoas singular) A- Eu dou uma passada aí na faculdade, aí converso com a... B- Eu passo aí na faculdade e converso com a... Em 1-A, pode-se observar que o sentido da frase pode ser entendida como uma sequência rápida da ação. Dar uma passada pode ser entendido como uma não permanência no local e rapidez da ação. Já em 1-B, essa rapidez desaparece, embora a pessoa que realiza a ação possa também permanecer pouco tempo no local, mas a primeira frase dá mais ênfase ao processo de rapidez. Frase 2 Futuro do pretérito do indicativo (1ª ou 3ª pessoa do singular) A- Daria uma cacetada no garoto para não incomodar B- Cacetearia o garoto para não incomodar Em 2-A Tem-se o verbo que auxilia a ação seguido de um nome alterado por sufixação que pode ser confundido com um verbo. Quanto ao 2-B com a ausência do verbo “cacetear” a primeira sentença não pode se contrapor em relação a segunda, pois sem o auxílio do “dar uma x_ada” a frase não seria compreendida. Frase 3 Pretérito imperfeito do indicativo (1ª ou 3ª pessoa do singular) A- Dava uma palmada amistosa na anca do macho... B- Palmava amistosamente a anca do macho... Observa-se que “dar uma palmada” é considerada uma ação de bater, mas que não tem classificação verbal se a expressão “dar uma x_Ada” não for utilizada. Em 3-B mesmo numa linguagem informal falada, não seria compreendida a ação com o mesmo sentido de 3-A. 4

Paula Mônica Cavalcante Rodrigues (302269) aluna do curso de Letras da Universidade Federal do Ceará. Disciplina de Linguística Funcionalismo ministrada pela professora Claudete. Email: paulamcrodrigues@yahoo.com.br


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Frase 4 Futuro do presente do indicativo (1ª pessoa do plural) A- [...] No dia 1º de maio daremos uma arrancada positiva. B- [...] No dia 1º de maio arrancaremos positivamente. Na ocorrência 4-A o termo “daremos uma arrancada” tem sentido de partir, subir, ou seja, de movimento. Analisando esta frase em 1ª pessoa do plural, percebe-se que há uma forte expressão na afirmativa em oposição ao uso do verbo simples em 4-B com as mesmas características, pois em 4-B o verbo simples pede um complemento, ou a frase torna-se sem sentido, mesmo que seja uma linguagem falada. Frase 5 Gerúndio A- Mexa bem, dando uma refogada de três minutos... B- Mexa bem, refogando por três minutos... Essa análise é interessante porque não possui características que possa ser comparadas com as anteriores, o sentido das duas frases não sofre alteração. Pode-se observar que o tempo de ação é determinado. Frase 6 Particípio A- -Embora- tenha dado uma subida... B- -Embora - tenha subido... No exemplo 6-A pode ser analisado como uma rápida subida e que depois desceu, mas em 6-B o verbo simples causa uma expressão que pode ser considerada definitiva. METODOLOGIA Através de pesquisas feitas com base no corpus do português, foram realizadas algumas análises e mostrado seus resultados. Os verbos simples que podem ser substituídos pela forma “dar uma x_ada” foram substituídos e colocados seus resultados. Nas frases que possuem as ocorrências, nas quais os verbos simples não podem ser utilizados foram feitas algumas observações sobre sua formação. Foram especificadas nas análises alguns tempos verbais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS É interessante apresentar ocorrências do português falado e estudar algumas formas para o desenvolvimento de pesquisas como esta. Foram apresentadas no trabalho algumas análises e ocorrências de “dar uma x_ada” em linguagem informal, ou seja, em língua falada e feitas as comparações com o uso de verbos simples quando fosse permitido


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fazer as alterações. A análise também teve o intuito de especificar alguns tempos verbais em que as ocorrências podem ser mais freqüentes, os tempos verbais que não foram apresentados, possivelmente não foram encontradas ocorrências. Foi interessante observar que algumas frases não têm sentido se a expressão “dar uma x_ada” não for utilizada. O estudo dessas e outras ocorrências são relevantes para podermos analisar um possível desenvolvimento particular da língua. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SCHER, Ana Paula. Nominalizações em -ada em Construções com o Verbo Leve dar em Português Brasileiro. Letras de Hoje. Porto Alegre. v. 41, nº 1, p. 29-48, 2006. www.corpusdoportugues.org


SEÇÃO 2: REFERÊNCIA NOMINAL REFERÊNCIA NOMINAL DEFINIDA E INDEFINIDA EM ARTIGOS DE OPINIÃO, EDITORIAL E NOTÍCIA Ana Angélica da Silva Santiago5 Renata Alves Rolim Ticiane Rodrigues INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objetivo estudar os valores semântico-discursivos de determinantes definidos e indefinidos, a fim de propor graus de referência definida e indefinida. A pesquisa se limitou a analisar textos de cunho argumentativo e narrativo, a saber, respectivamente, artigo de opinião, editorial e notícia, todos retirados do jornal O Povo. A escolha dos gêneros se deu por que se tratam de textos persuasivos no caso do editorial e do artigo de opinião e informacional no caso da notícia, uma vez que carregam significativos valores semânticos. Segundo Koch e Elias (2006), “muitas pesquisas têm mostrado que as expressões nominais referenciais desempenham uma série de funções cognitivo-discursivas de grande relevância na construção textual do sentido”. Na presente pesquisa trabalharemos a definitude que, de acordo com Givón (1984) apud Neves (2006), “é uma subespécie da referência”, e também com expressões indefinidas, traçaremos parâmetros dentro dos valores semântico-discursivos que, porventura, essas referências venham a contribuir para o fluxo informacional do texto. Para a presente pesquisa foram coletadas 102 ocorrências de sintagmas nominais os quais tínhamos que classificá-los seguindo os seguintes critérios: referência (definida, indefinida, não-referencial); expressão (artigo definido, artigo indefinido, zero, pronome definido, pronome indefinido, numeral) e estatuto informacional (dado, novo). Algumas considerações são feitas acerca do uso de expressões nominais definidas e indefinidas são feitas por Koch & Elias (2008) no livro Ler e compreender: os sentidos do texto. Na obra supracitada, as autoras deixam claro que o uso das expressões ou descrições nominais definidas, constituídas por um determinante definido (artigo definido ou pronome demonstrativo) seguido por um nome, exerce a função de selecionar um referente, que dada a situação de interação, seja relevante para o propósito do autor, ou seja, a escolha de determinada descrição definida pode trazer informações ao leitor acerca das

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Graduandas do Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará (UFC).


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opiniões, crenças e atitudes do autor do texto, o que vem a lhe auxiliar na construção do sentido. Por sua vez, o uso de expressões nominais indefinidas, segundo as autoras, geralmente vem com função catafórica, ou seja, de trazer informação nova, porém é possível que essas mesmas expressões assumam função anafórica, referir-se a informações anteriores. Veiculadas ao plano de construção textual, podemos dizer que o uso das expressões definidas e indefinidas acarreta o surgimento de informação dada e informação nova, que também faz parte do escopo de nossa pesquisa. Uma vez que essa questão tem sido alvo de recentes trabalhos e questionamentos. Mostraremos por meio de tabelas, gráficos e exemplos os resultados de nossa pesquisa para tornar esse trabalho mais consistente e, de fato, relevante. CORPUS O corpus utilizado é composto por três artigos de opinião, um editorial e duas notícias, sendo todos do jornal O Povo, os quais foram coletados durante três domingos do mês de abril do ano de 2010. De cada gênero foram coletadas 34 ocorrências de sintagmas nominais. Como sabemos, geralmente, os textos jornalísticos tratam de temas atuais, como é o caso dos gêneros escolhidos para esse trabalho. Os artigos de opinião, por exemplo, possuem teses fundadas em visão pessoal dos colaboradores de um jornal ou revista. Ele é composto por uma linguagem de fácil acesso (direta, incisiva, enérgica e convincente) e possui maior ênfase nas afirmações do que nas demonstrações. Com relação ao gênero editorial, este também é bastante argumentativo, pois seu objetivo é a persuasão, o convencimento. Um elemento que podemos perceber nesse gênero é que a partir dele é que a revista, ou jornal, demonstra sua opinião sobre um determinado tema. Já no caso da notícia, percebemos que a ocorrência mais insistente é do artigo definido e da referência definida. Constatamos ainda que isso também ocorre no artigo de opinião e no editorial devido à sua função argumentativa e que essa estratégia serve para fortalecer as idéias de convicção da tese elaborada no texto. Também no gênero notícia, devido ao seu compromisso com a realidade, a utilização desse recurso é ainda mais constante. Ao noticiarmos um fato precisamos de certeza e exatidão, os quais são papéis do artigo e da referência definida.


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ANÁLISE Analisamos o corpus coletado nos seguintes critérios: referência (definida, indefinida, não-referencial), expressão (artigo definido – A.D; artigo indefinido – A.I; zero; pronome definido – P.D; pronome indefinido – P.I; numeral) e seu estatuto informacional (dado e novo). Para analisarmos a referência recorremos à Neves (2006) e suas considerações sobre referência nominal definida e referência nominal indefinida. A autora cita Givón e sua visão sobre definitude: “a definitude é determinada no contrato comunicativo, entre falante e ouvinte, que assumem conhecimentos por via de pressuposições”. O autor também afirma que o sintagma nominal referencial definido é usado pelo falante quando ele supõe que o ouvinte é capaz de atribuir-lhe uma única referência, através do acesso do arquivo permanente ou dêitico, e usa um sintagma nominal referencial indefinido quando supõe que o ouvinte vai atribuir mais de um referente. Hawking (1978 apud NEVES, 2006, pág. 135) desmistifica o artigo indefinido: não é correto entender-se que um artigo indefinido é usado apenas para indicar que o objeto referido não existe em nenhum conjunto compartilhado pelos interlocutores, e que, portanto, a referência feita por meio de uma expressão indefinida nunca resulta da exploração de um conhecimento ou de uma situação compartilhada por falante e ouvinte.

Já para analisarmos informação dada e nova, nos apoiamos nas considerações de Ilari sobre dado/ novo e tema/rema: “A oposição dado/novo, ou tema/rema, dá-se no interior de unidades informativas, o que faz mostrar sua articulação através da comunicação” (1992 apud LOURENÇO, 2006, pág. 1). Como resposta à nossa análise, constatamos que o número de ocorrências de artigos definidos é superior ao número de artigos indefinidos. Isso foi constatado nos três gêneros jornalísticos, como podemos ver na tabela e gráficos que seguem:

Notícia

Artigo de Opinião

Editorial

Artigo definido

52,94%

85,29%

71,40%

Artigo indefinido

11,76%

2,94%

17,10%

Zero

35,30%

8,82%

8,50%

0,00%

2,94%

0,00%

Pronome definido

0,00%

0,00%

11,40%

Numeral

0,00%

0,00%

0,00%

Pronome indefinido

Tabela 1: comparativo


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Gráfico 1: total de ocorrências no artigo de opinião

Gráfico 2: total de ocorrências no editorial

Gráfico 3: total de ocorrências na noticia

O mesmo ocorre com relação à referência nominal definida, ela possui mais ocorrência com relação à indefinida e à não-referecial, como podemos constatar na tabela e gráficos que seguem:


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Notícia Referência mais definida Referência mais indefinida Não-referencial

Artigo de Opinião

Editorial

85,30%

55,88%

85,70%

14,70%

38,23%

11,40%

0,00%

5,88%

0,00%

Tabela 2: comparativo de definitude

Gráfico 4: comparativo de definitude

De acordo com os dados coletados, os sintagmas nominais que tiveram maior ocorrência foram do tipo do exemplo que segue (artigo definido, referência mais definida e informação dada): “A Igreja de não só permitir, mas facilitar o trabalho da justiça em apurar as denúncias e punir os culpados, pois pedofilia é crime e a Igreja não pode pretender-se acima da lei”. Como a Igreja Católica deve tratar os escândalos de padres pedófilos? O Povo, Fortaleza, 11/04/2010.

Já ocorrências como a do próximo exemplo foram menos constantes em nosso corpus (artigo indefinido, referência mais indefinida e informação nova): “Foi por causa de: um conflito de tráfego, disse a assessoria”. No Cocó, medo de assaltos ainda é grande. O Povo, Fortaleza, 11/04/2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Sem nenhuma pretensão de ter esgotado o estudo proposto, pretendíamos, primeiramente, certificarmo-nos de uma possível variação da definitude nos diferentes gêneros estudados, mas os dados comprovam que os três gêneros jornalísticos têm como


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preferência a utilização por expressões definidas, com o intuito de reforçar seu compromisso com a verdade e, também, com o intuito de convencer o leitor de sua tese. REFERÊNCIAS ABREU, Roberto Martins de; ALVES, Priscila Roberta; BENEDITO, Jéssica Alves; JOAQUIM, Cristiani da Silva; LOURENÇO, Andréa Augusta; SÁ, Israel de. A Articulação Tema-Rema. Disponivel em < www.oocities.com/vinicioreclama/l02.doc> Acesso em 8 de maio de 2010. BOER, Maria Angela de Sousa. A definitude na referência textual-discursiva: uma visão funcionalista. Disponível em <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/view/729/440> Acesso em 8 de maio de 2010. LEITÃO, Renata Jorge; NOGUEIRA, Marcia Teixeira. A Oração Substantiva apositiva: aspectos textuais-discursivos. Disponível em <http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/cap09.pdf> Acesso em 8 de maio de 2010. KOCH,I.G.V; ELIAS, V.M.. Ler e Compreender: os sentidos do texto.São Paulo:Contexto, 2008. MENDES, Guilherme Rodrigues Monteiro. A Argumentação nos Editoriais Jornalisticos. Disponivel em < http://www.paratexto.com.br/document.php?id=513> Acesso em 17 de maio de 2010. NEVES, Maria Helena de Moura. Texto e Gramática. São Paulo: Contexto, 2006. BOER, Maria Angela de Sousa. A definitude na referência textual-discursiva: uma visão funcionalista. Disponível em <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/view/729/440> Acesso em 8 de maio de 2010. Corpus de Referência: BRASILEIRO, Eliene. O que pode ser feito para melhorar as condições de atendimento no IJF ? O Povo, Fortaleza, 18/04/2010 PASSEMINI, Marco. Como a Igreja Católica deve tratar os escândalos de padre pedófilos ? O Povo, Fortaleza, 11/04/2010 PINTO, Djalma. A aprovação do projeto Ficha Limpa ajudaria a reduzir a corrupção no Brasil ? O Povo, Fortaleza, 25/04/2010 ARAÚJO, Henrique. No Cocó, medo de assaltos ainda é grande. O Povo, Fortaleza, 11/04/2010 ARAÚJO, Henrique. Calçada nova para o Parque do Cocó. O Povo, Fortaleza, 25/04/2010 CAMPOS, Henrique. Criança executada. O Povo, Fortaleza, 11/04/2010


SEÇÃO 3: FORMA VERBAL - GERÚNDIO FORMA VERBAL: GERÚNDIO E GERUNDISMO Cleber Barbosa Juliana da Silva Costa Natália Magalhães Tahim INTRODUÇÃO O presente trabalho tem o intuito de fazer breves comentários sobre o uso da forma nominal do verbo gerúndio e, principalmente, sobre o seu desvio intitulado de gerundismo. Gerúndio é uma forma verbal conhecida como FORMA NOMINAL DO VERBO, juntamente com o infinitivo e o particípio. É chamado de forma nominal porque exerce também a função de nome. Esta forma nominal pode e deve ser usada para expressar uma ação em curso ou uma ação simultânea a outra, ou para exprimir a ideia de progressão indefinida. Combinado com os auxiliares ESTAR, ANDAR, IR, VIR, o GERÚNDIO marca uma ação durativa. Gerundismo - vício de linguagem que simula a formalidade e evita compromisso com a palavra dada, o gerundismo joga luz sobre o artificialismo nas relações sociais.

O gerundismo se tornou uma febre no vocabulário do brasileiro e pode ser observado desde consultórios médicos até mesmo em salas de aula de universidades. Tomamos como base a leitura de alguns textos da internet, blogs, matérias de revistas especializadas em língua portuguesa e conversas informais com pessoas próximas que já se depararam com o uso do gerundismo por outras pessoas e até suas próprias. Até mesmo porque é difícil saber o que é certo já que às vezes o conjunto de vários verbos é aceitável pela norma padrão, como em: - “Em virtude do atraso, estaremos recebendo o pagamento em conta corrente nos dias 08 e 09 de setembro.” Como já foi dito antes o uso do verbo auxiliar estar mais qualquer outro verbo é perfeitamente aceitável, pois marca uma ação durativa. - “Ele está fazendo a prova agora.” Nesse exemplo, o verbo auxiliar estar mais o gerúndio de fazer denota uma ação em andamento. O gerúndio é corretamente usado quando transmite a idéia de movimento, progressão, duração, continuidade. É com base nessas observações que começamos o nosso artigo.


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METODOLOGIA Foram tomados como base para o nosso estudo artigos da internet, salas de batepapo online, Orkut, twitter, vídeos de entrevistas do youtube e conversas informais com amigos e familiares que relataram diversas situações em que o uso do gerúndio foi deturpado e transformado em gerundismo. Tais acontecimentos são mais evidentes em atendimentos telefônicos e até em salas de aula. Por exemplo, é comum escutarmos no nosso ambiente acadêmico: “Você pode tá enviando o trabalho por e-mail.” Ou então um atendente da Oi que sempre diz que: “Vou estar fazendo a verificação dos seus dados.” Quem nunca se surpreendeu com uma expressão dessas? “Vou estar passando a ligação.” “Vou estar lhe enviando os dados.” E em blogs, frases como: “Amanhã não posso vou tá fazendo prova.” Esse vício de linguagem tem suas origens na língua inglesa. Seria uma tradução literal do emprego do verbo going to. Ex: I am going to do something (Estou indo fazer algo). No entanto, é preciso ressaltar que em alguns casos o uso do gerúndio é correto. A questão é que existe uma falsa impressão de que o gerúndio traz vantagens estilísticas sobre outros processos, o que não é verdade. Foi com base nesses relatos e em artigos e comentários de estudiosos da língua que fizemos e apresentamos o seguinte trabalho. DISCUSSÃO SOBRE OS RESULTADOS Antes de partirmos para a análise do corpus, é preciso observar que, por ser bastante utilizada pelos falantes da língua portuguesa, essa forma nominal sofreu algumas variações, as quais são condenadas pela Gramática Normativa. Como vimos na introdução, o uso correto do gerúndio visa a transmitir a ideia de movimento, progressão, duração, continuidade. Assim, a partir desse conceito, concluímos que nem todas as frases postas acima são exemplos de gerundismo, como: “Você está ligando para o número nove” “Eu já andei reclamando aqui” – Nesse caso, temos a expressão de um movimento reiterado.


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No entanto, como o presente trabalho objetiva focar o gerundismo, vamos enfatizar as ocorrências nas quais ocorre esse vício de linguagem. Sabe-se que, diferentemente do gerúndio, o gerundismo não apresenta a intenção de comunicar a ideia de eventos ou ações simultâneas, mas antes falar de um acontecimento pontual, em que a duração não é uma questão dominante. Para comprovarmos tal argumento, basta verificar que, substituindo o gerúndio pelo infinitivo ou pelo futuro do presente, o sentido da frase torna-se muito mais claro e objetivo: “...e nessa vídeo-aula, vou ensinar...” / ensinarei “...mas vou dar...” / darei notícia “Vou mostrar...” / mostrarei como criar um mural de recados A maioria dos linguistas afirma que o uso indevido e repetitivo do gerúndio (endorréia) acarreta problemas semânticos, afetando, assim, a comunicação. Acerca disso, afirma o lingüista Sírio Possenti, da Universidade de Campinas: “Há um paradoxo semântico porque se dá a impressão de que a ação prometida é duradoura”. Também a professora Maria Helena de Moura Neves declara que o gerundismo faz a informação pontual ser transformada numa situação em curso, o que possibilita a realização de um efeito pragmático de atenuar o compromisso com a palavra dada. Assim, para melhor compreensão acerca desse aspecto, veja o quadro abaixo:

Mas, então, por que o uso incorreto do gerúndio permanece? A resposta para essa pergunta possui como alicerce o que denominamos de hipercorreção. Para muitos falantes, a forma verbal em questão apresenta um caráter eloquente, sendo utilizada, muitas vezes, com a intenção de “falar bonito”.


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É partindo disso, que se verifica o uso dela indiscriminadamente por homens e mulheres de todas as idades. Vale enfatizar, assim, a fala do ex-Ministro da Saúde, José Serra, o qual, apesar de sua formação educacional, recai no mesmo erro: “...outra vacina que vamos estar aplicando amanhã.” CONSIDERAÇÕES FINAIS Para finalizar, o erro na construção do gerundismo se verifica quando construções como “vou estar viajando” são empregadas para substituir o simples futuro do presente. Em lugar de dizer, “Amanhã vou viajar” ou “viajarei para Recife”, as pessoas dizem: Amanhã vou estar viajando para Recife. Por que "erro"? Porque a construção é empregada fora do contexto que a legitima e é usada para uma finalidade que a tradição e as normas vigentes da língua não lhe atribuem, qual seja a de indicar uma simples ação futura. Outro problema relacionado ao gerundismo é a incerteza que o ouvinte tem ao depara-se com a construção do tipo “vou estar passando a ligação”, tão usada pelos atendentes de telemarketing. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PEREIRA Jr., Luiz Costa. O Gerúndio é só pretexto. Revista Língua, São Paulo. Disponível em http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=10887. Acesso em 6 de junho de 2010. PIACETINI, M. T.. Gerundismo e gerúndio. Matéria publicada em 1° de agosto de 2003. Disponível em http://www.kplus.com.br/materia.asp?co=104&rv=Gramatica. Acesso em 6 de junho de 2010. POSSENTI, Sírio. Vou estar –NDO. Disponível em http://www.marcosbagno.com.br/conteudo/arquivos/for_sirio_estarndo.htm. Acesso em 6 de junho de 2010. Sites utilizados como corpus – todos acessados em 6 de junho de 2010: http://twitter.com/bmazzeo http://twitter.com/mellisboaalves http://www.fotolog.com.br/julia_malheiros/39473590 http://vddeadolescente.spaceblog.com.br/725109/eu-devia-estar-estudando-mais-to-aqui/ http://www.helpvideoaulas.com/ http://forum.imasters.uol.com.br/index.php?/topic/313557-json/ http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=14356961579639352423 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=28104650 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=82240937 http://www.youtube.com/user/CstrikeBr http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=10887 acessado em 5 de junho de 2010. http://www.brasilescola.com/gramatica/gerundio.htm acessado em 5 de junho de 2010


SEÇÃO 4: INDETERMINAÇÃO DO AGENTE A INDETERMINAÇÃO DO AGENTE: UMA COMPARAÇÃO ENTRE O PORTUGUÊS ORAL DO BRASIL E DE PORTUGAL 6 Lilian Kelly Ferreira Teixeira7 Lívia Pereira Chaves8 INTRODUÇÃO O agente é um papel temático caracterizado por desempenhar a função de desencadeador de alguma ação e por ser capaz de agir com controle. Não deve ser confundido com o sujeito – apesar de, muitas vezes, apresentarem coincidência –, tendo em vista que este constitui uma categoria sintática, enquanto aquele diz respeito a uma representação psíquica que relaciona o evento à estrutura conceitual mental e esta à sintaxe (Cançado, 2005). Trata-se, portanto, de uma estrutura sintático-semântica. Considerando a língua a partir de uma abordagem funcionalista, ou seja, enquanto instrumento de interação social, acreditamos que um falante da língua portuguesa pode optar por apagar ou não o agente, de acordo com sua intenção comunicativa. Faggion (s/d) enumera algumas circunstâncias que envolvem o apagamento do agente em português: a) terceira pessoa do singular de um verbo que apresenta sujeito nulo e partícula se; b) terceira pessoa do plural de um verbo com sujeito nulo; c) verbos no infinitivo; d) expressões gramaticalizadas ou em curso de gramaticalização, como o cara, o nego, o camarada, o indivíduo, a pessoa, o pessoal, o sujeito, o cidadão, a turma etc.; e) expressões de característica bem generalizante, como a gente; f) ausência do agente da passiva; g) passiva sintética. Além dessas, também podemos citar o emprego de você, enquanto pronome indefinido, e a utilização da voz média, a qual, de acordo com Lima (1999), prima por focalizar o evento, não o agente. Assim, este trabalho pretende comparar o português falado no Brasil – em Fortaleza (CE) – e em Portugal no que diz respeito ao apagamento do agente, observando em quais circunstâncias ocorre esse fenômeno e quais os efeitos de sentido por ele desencadeados. O presente trabalho está dividido em Introdução, Metodologia – exposição do procedimento empregado para a realização da análise –; análise e discussão dos dados –

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Trabalho apresentado na disciplina Linguística: Funcionalismo, ministrada pela profa. Dra. Maria Claudete Lima. 7 Graduanda em Letras – Português pela Universidade Federal do Ceará. Contato: lilianteixeira@yahoo.com.br 8 Graduanda em Letras – Português pela Universidade Federal do Ceará. Contato: liviapcha@gmail.com


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apresentação dos dados obtidos e as devidas observações a seu respeito –; e considerações finais – reflexão acerca do trabalho realizado e de seus resultados. METODOLOGIA Ao todo, foram analisadas 3 entrevistas: duas delas (108 e 111), do Corpus SubOral Espontâneo (CRPC), o qual contém a transcrição de inquéritos em português europeu; a terceira, do corpus PORCUFORT – Português Oral Culto de Fortaleza – (entrevista 10 – 10 primeiras páginas), organizado por José Lemos Monteiro. Os informantes são do sexo masculino, com escolaridade de nível superior e 49, 47 e 42 anos, respectivamente. Os dois primeiros são portugueses (de Évora e de São Miguel), enquanto o último é brasileiro (de Fortaleza – CE). Dos corpora analisados foram retiradas 50 ocorrências de apagamento do agente – 25 dos corpora de Portugal e 25 do corpus do Brasil. Após essa coleta, as ocorrências foram submetidas à análise e à categorização de acordo com as variáveis de apagamento que apresentavam. Por fim, os dados foram comparados e cruzados, para chegarmos a um resultado único. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS As variáveis encontradas nas 3 entrevistas analisadas foram as seguintes: pronome indefinido, terceira pessoa do plural elíptica, voz passiva sintética, voz passiva analítica sem menção do agente, voz média pronominal, voz média não-pronominal e voz média perifrástica. A seguir será mostrada a recorrência dessas variáveis nos 3 corpora. a)

Portugal No primeiro corpus do português europeu (entrevista 108) foram constatadas 9

ocorrências de apagamento do agente, as quais podem ser organizadas da seguinte maneira: Natureza do Voz passiva

Voz média

Voz média

Voz média

Expressões

apagamento

sintética

pronominal

não-pron.

perifrástica

general.

1

1

4

1

2

11,11 %

11,11 %

44,44 %

11,11 %

22,22 %

Número de ocorrências Recorrência em relação ao todo (%)

Tabela 1: ocorrências de apagamento do agente no português europeu – parte 1 (corpus 1; entrevista 108)


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Nota-se, na primeira entrevista, uma maior preferência pela utilização da voz média não-pronominal, a qual pode ser exemplificada em “(...) por consequência as coisas correm em melhor situação de igualdade.” (CRPC, entrevista 108, l. 42-43). Percebe-se, portanto, o interesse em focalizar o processo em detrimento do agente através do efeito de sentido “evento espontâneo”, como se os fatos ocorressem independentemente da participação do agente. Na segunda entrevista, as 16 ocorrências de apagamento do agente encontradas podem ser distribuídas conforme a tabela que segue: Natureza do

3ª pessoa do

Voz passiva

Voz média não-

apagamento

plural

sintética

pronominal

9

4

3

56,25 %

25 %

18,75 %

Número de ocorrências Recorrência em relação ao todo (%)

Tabela 2: ocorrências de apagamento do agente no português europeu – parte 2 (corpus 2; entrevista 111)

Nesse corpus houve uma recorrência muito maior de apagamento do agente através do emprego de verbos na 3ª pessoa do plural, como em “(...) tem, aqui tem a dominga da, de Trás-dos-Mosteiros, é uma, uma rua que há ali para cima e fazem o império.” (CRPC, entrevista 111, l. 35-36). Esse tipo de apagamento enfatiza o processo, mas torna inferível a presença de um agente que o desencadeia, ainda que sua identidade seja por nós desconhecida. No exemplo acima referido, sabemos que há um agente que executa o processo de fazer o império, o qual não é identificado devido à ausência de menção anterior e à estrutura sintática de 3ª pessoa do plural elíptica. No entanto é possível constatar semanticamente que o processo ocorreu a partir da atuação de um agente, ainda que sintaticamente ele não seja expresso. Daí serem os papeis temáticos considerados categorias de natureza sintático-semântica. Assim, de modo a sintetizar as ocorrências observadas nos dois corpora de português oral europeu por nós analisados, teremos a seguinte tabela:


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Total de ocorrências nos corpora de Portugal Natureza do apagamento Número de ocorrências

Voz passiva sintética

Voz média pronominal

Voz média

Voz média

não-

Expressões

3ª pessoa

perifrástica generalizantes

pronominal

do plural

5

1

7

1

2

9

20%

4%

28%

4%

8%

36%

Recorrência em relação ao todo (%) Tabela 3: síntese das ocorrências de apagamento do agente no português europeu (corpora 1 e 2; entrevistas 108 e 111)

Da tabela 3 podemos inferir que a maior parte das ocorrências coletadas diz respeito ao apagamento do agente através da utilização de verbos na 3ª pessoa do plural – cujas implicações sintático-semânticas já foram discutidas anteriormente –, enquanto construções de apagamento realizadas a partir do emprego da voz média pronominal e da voz média perifrástica apresentam pouca recorrência. 3.2. Brasil Vejamos o que se passou com as 25 ocorrências de apagamento do agente colhidas do corpus PORCUFORT,de língua portuguesa falada no Brasil – mais especificamente em Fortaleza-CE: Natureza do apagamento Número de ocorrências

Pronome indefinido

Voz média

Voz passiva

Voz passiva

“A gente”

“Você”

pronominal

sintética

analítica sem

4

9

3

4

agente 5

16 %

36 %

12 %

16 %

20 %

Recorrência em relação ao todo (%) Tabela 4: ocorrências de apagamento do agente no português brasileiro

A tabela 4 mostra a larga utilização feita pelo falante brasileiro do pronome indefinido como forma de apagar o agente. Dentre os dois pronomes indefinidos empregados, “você” apresenta maior recorrência. Esse “você” não se refere ao interlocutor, mas desencadeia um efeito de sentido de generalização para fins exemplificativos. Como podemos ver no seguinte exemplo:


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(...) você num condomínio com quarenta e quatro unidades habitacionais eu NUNca... aliás já vi mas muito raramente você vê uma reunião... com mais de oito... con/ condôminos presentes... tem MAs mas quando vem o casal... você pode ver doze treze pessoas... mas tem sete ou oito apartamentos representados... (PORCUFORT, entrevista 10, p. 7)

O mesmo pode ser afirmado em relação à expressão “a gente”, a qual se apresenta nas ocorrências coletadas como pronome indefinido, não apenas enquanto “expressão generalizada”, conforme fora considerada por Faggion (s/d). b)

Portugal X Brasil Do cruzamento das variáveis observadas na língua portuguesa falada em Portugal

e no Brasil obtivemos os seguintes resultados: Voz

Pron. Indef.

Voz média pron.

passiva analítica sem menção do

Voz passiva sintética

Voz média nãopron.

Voz média perifr.

Expressões 3ª pessoa general.

do plural

agente 13 (BR) 3 (BR) = = 26%

6%

- (PT) = 1 (PT) = 0%

2%

5 (BR) =

4 (BR) =

- (BR) =

- (BR) =

10%

8%

0%

0%

5 (PT) =

7 (PT) =

1 (PT) =

10%

14%

2%

- (PT) = 0%

- (BR) = 0%

2 (PT) = 4%

- (BR) = 0% 9 (PT) = 18%

As maiores recorrências observadas dizem respeito, portanto, à utilização de pronome indefinido – na língua portuguesa falada no Brasil – e de 3ª pessoa do plural – na língua portuguesa falada em Portugal. Trata-se de um fenômeno curioso: em ambos os casos, apesar de haver apagamento do agente, este não desaparece por completo: quando se utiliza pronomes indefinidos, nota-se a atribuição do desencadeamento do processo a uma instância que não se encontra no momento da enunciação; quando ocorre o emprego da 3ª pessoa do plural, pode-se inferir que há um agente que deu origem ao processo e que apenas sua identidade não nos foi apresentada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa pesquisa constatamos que o apagamento do agente em língua portuguesa pode ocorrer de diversas maneiras, provocando efeitos de sentido peculiares que são caros ao falante no momento da escolha da variante que utilizará para determinado propósito comunicativo. No português oral europeu percebemos uma maior incidência no emprego de


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verbos na 3ª pessoa do plural, enquanto no português oral brasileiro encontramos os pronomes indefinidos – especialmente o “você”– como as variantes de maior recorrência. No entanto, devido às limitações deste trabalho, muitas particularidades inerentes às variantes da língua portuguesa aqui consideradas não foram contempladas, o que se poderá converter em tema para trabalhos futuros. REFERÊNCIAS ________________. Corpus sub-oral espontâneo – CRPC. Disponível em http://br.groups.yahoo.com/group/funcionalismo_2010/files/Pesquisas/CORPORA/Corpus%2 0sub-oral%20espont%80%A0%A6%E2neo/ . Acesso em 06/06/10, às 22:43. FAGGION, Carmem Maria. Variação histórica dos usos dos mecanismos de indeterminação. Disponível em: http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_483.pdf. Acesso em: 06/06/2010, às 20:45. _______________________. A indeterminação em Português: uma perspectiva diacrônica – funcional. 2008. 197 f. Tese. (Doutorado em Lingüística). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bento Gonçalves. 2008. LIMA, Maria Claudete. Elementos para um estudo da voz e, em especial, da voz média em português. 1999. 183 f. Dissertação. (Mestrado em Linguística). Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 1999. MARTINS, Juliana Esposito; DUARTE, Maria Eugenia Lamoglia. Uma análise comparativa das construções de indeterminação na fala e na escrita. Disponível em: http://www.filologia.org.br/ixcnlf/15/19.htm. Acesso em: 05/06/2010, às 09:35. MONTEIRO, José Lemos (org.) O português oral culto de Fortaleza- PORCUFORT. Disponível em: http://br.groups.yahoo.com/group/ funcionalismo_2010/files/Pesquisas/CORPORA/PORCUFORT/. Acesso em: 06/06/2010, às 20:14.


A INDETERMINAÇÃO DO AGENTE NA LINGUAGEM ESCRITA REFERENCIAL E LITERÁRIA Autores do artigo: 9 Maria Adelaide G. Souza (UFC) Tarcila Barboza Oliveira (UFC) CONSIDERAÇÕES INICIAIS Em nossas primeiras aulas de sintaxe na escola, aprendemos que para saber qual é o verbo da oração basta perguntar ao verbo, pois o sujeito é aquele que pratica a ação verbal, sendo que ele pode ser simples, composto, oculto e indeterminado, podendo ainda não existir sintaticamente, que é o caso da oração sem sujeito. Com o amadurecimento dos estudos, percebemos que essa conceituação não atende a todas as análises e, algo que era de simples identificação, passa a ser alvo de muitos questionamentos. Isso ocorre devido à Gramática Tradicional trabalhar com conceitos distintos da categoria sujeito sem explicitar que o sujeito pode ser analisado à luz de perspectivas distintas, podendo ser sintático, discursivo ou semântico, escolha que dependerá do foco de análise do pesquisador. Seguindo o critério sintático, utilizado nas gramáticas mais recentes, Bechara, em Lições de português pela análise sintática, afirma que o sujeito é a “unidade ou sintagma nominal que estabelece uma relação predicativa com o núcleo verbal para constituir uma oração”. Assim, o sujeito é aquilo a que o predicado se refere, apontando a pessoa verbal. Quanto ao critério discursivo, Bechara, na referida obra, define sujeito como o tópico da comunicação que pode ser animado ou inanimado, sobre o qual é feita a afirmação ou negação de uma ação. Ernani Terra simplifica dizendo que “o elemento a respeito do qual se informa algo denomina-se sujeito” (1996, p. 203). Portanto, nesse critério temos o sujeito visto segundo sua topicalidade, que pode ser medida em níveis: não tópico, baixa topicalidade, média topicalidade, alta topicalidade. O critério semântico retoma a conceituação citada inicialmente e é comum a muitas gramáticas voltadas para o ensino fundamental: o sujeito é aquele que pratica a ação expressa pelo verbo da oração. Portanto, nessa perspectiva, o sujeito é visto enquanto agente. Sobre o papel semântico de agente, Antonio da Cunha, em seu artigo Discutindo os critérios para a definição de sujeito no português do Brasil, afirma: Agente é a semântica do argumento que designa a entidade controladora de um estado de coisas indicado por um predicador dinâmico. O sujeito agente só pode aparecer com predicadores que indicam evento, isto é, que são uma dada concretização de um tornar-se. (CUNHA, 2005, p. 98)

9

Graduadas em Letras pela Universidade Federal do Ceará. Contatos: adelaide.gui@hotmail.com; tarcilabarboza@hotmail.com.


38

Apesar de ser o conceito mais popular, por conta de sua fácil compreensão, associar sujeito à agente, como o faz a Gramática Tradicional, traz complicações em análises frasais, como podemos ver nos exemplos a seguir: Ex1: Pedro consertou o carro. Na frase acima, considerando os três critérios supracitados, “Pedro” é o sujeito da oração por: relacionar-se com o verbo (sintático); ter sido feita uma declaração a seu respeito (discursivo); e ter praticado a ação verbal (semântico). Passemos a frase para a voz passiva: Ex2: O carro foi consertado por Pedro. Dessa forma, o sujeito passa a ser “o carro” nos critérios sintático e discursivo, porém já não o é no que tange ao critério semântico, para o qual os papéis temáticos da voz ativa permanecem os mesmo, “Pedro” como agente e “o carro” como paciente. O equívoco permanece quando a análise enquadra seres inanimados: Ex3: A bola quebrou a vidraça. Nos níveis sintático e discursivo, “a bola” assume a categorização de sujeito da oração, porém, quanto ao nível semântico, deve ser observado que seres inanimados não praticam ações, assim, não foi a bola que quebrou a vidraça, mas quem a arremessou; de modo que, no nível semântico, essa oração teve seu sujeito indeterminado. No que tange à indeterminação, foco principal deste trabalho, muitas serão as ocorrências nas quais a análise sintática e discursiva dirão que a oração possui sujeito, enquanto que a análise semântica, ao abordar, considerar-lo-á indeterminado, evidenciando a necessidade da identificação de sob qual perspectiva a categoria sujeito está sendo analisada. INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO VS. INDETERMINAÇÃO DO AGENTE Tendo em vista a análise sintática e discursiva, teremos a indeterminação do sujeito numa oração quando não for mencionado, o que pode acontecer por dois motivos: por não ser do conhecimento do produtor; ou por este preferir omiti-lo por questões pragmáticas. Essa indeterminação pode ocorrer de quatro formas:

a) Impessoal não-pronominal: verbo na 3ª pessoa do plural: Ex4: Quebraram a fechadura.

b) Verbo Transitivo Indireto na 3ª pessoa do singular mais a partícula se:


39

Ex5: Precisa-se de costureiras. Lembrando que, se o verbo for transitivo direto, a oração está na voz passiva sintética, portanto tem sujeito expresso: Ex6: Vendem-se casas. (Voz passiva sintética). Casas são vendidas. (Voz passiva analítica – Sujeito: casas). c) Verbo Intransitivo na 3ª pessoa do singular, mais a palavra se: Ex7: Come-se bem na pensão da D. Joana. d) Verbo na terceira pessoa do singular com o se elíptico: Ex13: Diz que os juros vão subir. e) Verbos no infinitivo: Ex8: Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Em se tratando da análise semântica do sujeito, enquanto papel temático de agente, as maneiras de indeterminação são mais vastas. Somando-se aos casos já citados, temos ainda:

f) Voz passiva sintética: verbo Transitivo Direto na terceira pessoa mais a partícula se: Ex9: Vendem-se casas. g) Voz passiva analítica: Casas são vendidas. (Agente indeterminado – quem está vendendo as casas?) h) Expressão nominal sem referente: Ex10: Sem ter como comprovar, a gente fica desconfiado. i) Pronomes pessoais sem valor dêitico: Ex11: Sabe quando tu não tem pra onde ir? j) Pronomes indefinidos e os termos do léxico que exprimem indefinição: Ex14: Todos querem aumento de salário. k) Nominalização: os substantivos são cognatos de verbos que podem ter sujeito agente. Ex15: O aumento de impostos provocou retração de investimentos. Outra questão concernente à indeterminação do agente é a noção de Voz Média, pouco reconhecida entre os linguistas: A voz média, por exemplo, mantém com a passiva e a reflexiva relações tão estreitas em português que, muitas vezes, se confunde com estas. A descrição que predomina nas gramáticas tradicionais é reflexo dessa dificuldade, uma vez que os autores mostram flutuações na classificação de determinadas formas como exemplos de voz média, de passiva, ou reflexiva. (LIMA, 2005, p. 545)

Dentro da perspectiva funcional, caracteriza-se pelo verbo transitivo com apenas um argumento de papel temático paciente ou experenciador, pela presença do pronome oblíquo, em geral, e pela espontaneidade do evento, o que implica que o paciente não teve


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parte no processo, e pela indeterminação do agente, atribuída a fatores pragmáticos. Há três tipos de voz média: a Média pronominal, a Média não-pronominal e a Média Perifrástica. Assim, entre os casos de indeterminação do agente incluem-se também as ocorrências de voz média:

l) Média pronominal: sujeito inanimado, evento espontâneo, com a ocorrência de pronome. Ex16: A chave quebrou-se. m) Média não-pronominal: sujeito inanimado, evento espontâneo, sem a presença de pronome. Ex17: A chave quebrou. n) Média perifrástica: com verbo auxiliar. Ex18: A chave foi quebrada . FATORES PRAGMÁTICOS QUE INFLUENCIAM NOS CASOS DE INDETERMINAÇÃO Neves (apud RAJAGOPALAN, 1999, p. 330) afirma que a pragmática é relativa “às escolhas que o falante faz para distribuir a informação de seu enunciado”. Trazendo a definição para o âmbito com o qual estamos trabalhando, entendemos que o falante optará pela indeterminação do agente e pela forma que a fará, de acordo com seu propósito comunicativo, que, por sua vez, deverá atender ao gênero escolhido por ele para a transferência da informação. Entre as intenções da indeterminação mais comuns temos: o enunciador não conhece o agente; o agente é o próprio enunciador que preferiu omitir-se para não se responsabilizar pelo enunciado; o agente é produto do meio social; o enunciador quer que o enunciatário encontre-se no enunciado como o próprio agente. Estudaremos, neste trabalho, a indeterminação na linguagem escrita em duas perspectivas: a referencial e a literária, com o objetivo de comprovar que a indeterminação não é feita despropositadamente, mas está relacionada como o propósito comunicativo do enunciador e, consequentemente, com o gênero discursivo por ele escolhido. METODOLOGIA O corpus referencial é composto por vinte e cinco ocorrências retiradas de sete Editoriais publicados no jornal Diário do Nordeste do dia dois, domingo, ao dia oito, sábado, de maio de 2010. O corpus literário compõe-se de trinta ocorrências de indeterminação do agente encontradas em oito frases reflexivas de Fernando Pessoa. Os corpora foram inicialmente classificados conforme as diversas formas de indeterminação do agente explicadas anteriormente. Em seguida foi realizada uma analise quantitativa e qualitativa que resultou nos dados e tabelas descritos abaixo.


41

ANÁLISE DOS DADOS a)

Linguagem escrita referencial Das ocorrências do corpus referencial houve indeterminação do agente, em sua

maioria dados situacionalmente ou inferíveis, nas seguintes tipologias: maior ocorrência de Voz passiva analítica, 52%, seguidas quatro ocorrências de Voz Passiva Sintética e Verbos no Infinitivo, correspondendo cada um a 16%. As categorias Impessoal Pronominal; Verbo Transitivo Indireto na 3ª pessoa do singular mais a partícula se; Média Não-Pronominal; Pronomes Indefinidos e os termos do léxico que exprimem Indefinição apresentaram uma ocorrência apenas em cada uma, correspondendo a 4% cada. No presente corpus, não foram encontrados exemplos correspondentes às categorias de Verbo Intransitivo na 3ª pessoa do singular mais o pronome se; Expressão nominal sem referente; Verbo na terceira pessoa do singular com o se elíptico; Pronomes pessoais sem valor dêitico; Média não-pronominal e Nominalização. O gráfico abaixo mostra de maneira mais clara essas informações:

VPA: Voz passiva analítica

Ocorrências na Linguagem escrita referencial

VI: Verbos no Infinitivo

14 13 12 10 8 6 4 4 4 1 1 1 1 2 0 0 Gráfico 1: Ocorrências na Linguagem Escrita Referencial VPA

VI

VPS

VTI

INP

PTI

MP

DC

VPS: Voz passiva sintética VTI: Verbo transitivo indireto na 3ª pessoa do singular + se INP: Im pessoal não-pronom inal PTI: Pronom es e term os indefinidos MP: Média pronom inal DC: Dem ais casos

Uma vez apresentadas as ocorrências, iniciaremos a análise qualitativa, observando os exemplos e sua aplicabilidade segundo as motivações pragmáticas. A análise de orações com Voz Passiva Analítica nos editoriais do Diário do Nordeste (DN), permite-nos constatar que a indeterminação do agente é um recurso utilizado para expressar a opinião do autor, no entanto, não somente a dele, mas de toda uma coletividade. Nos exemplos Ex1 e Ex2 a seguir, podemos perceber a indignação dos usuários do trânsito de Fortaleza diante da falta de infraestrutura. É perceptível que o autor também se inclui na massa que se aborrece e se queixa diante do descaso do poder público com o trânsito.


42

Ex1: Nenhuma grande artéria de interligação urbana, nenhum túnel (...) foram sequer planejados para beneficiar a capital cearense... Ex2: Criadas como paliativos para minimizar tão crucial problema, as rotatórias da Praça Portugal e Avenida Aguanambi têm sido alvo de constantes queixas... Quanto a Voz Passiva Sintética, observamos que há um afastamento do autor em relação ao processo proposto pelo verbo. Nas ocorrências Ex3 e Ex4 o autor defende que a mulher deve ocupar seu espaço na vida política do País, porém, mesmo que ele seja do sexo feminino, não se apossa dessa responsabilidade, deixando a cargo do leitor, seja ele homem ou mulher, a responsabilidade de agir. Ex3: Não se estabelece o equilíbrio com o grupo masculino. Ex4: Encontra-se nas mãos das mulheres (...) a decisão. A mesma conotação semântica se observa no uso de Verbos no Infinitivo, conforme os exemplos abaixo: Ex5: Para evitar o ingresso dos recursos no tesouro municipal. Ex6: De modo a evitar prejuízos futuros. Com isso constatamos que a proeminência da voz passiva analítica deve-se ao fato dela permitir um maior comprometimento do autor ou produtor com o que ele declara nos editorias, enquanto a passiva sintética favorece o afastamento deste, corroborando com o objetivo do editorial que é expressar a opinião do jornal, revista ou da empresa que representa. b)

Linguagem escrita literária

Ao analisar o corpus da linguagem escrita literária, verifica-se a abundância de ocorrências de indeterminação do agente nesse tipo textual, num corpus de oito frases reflexivas de Fernando Pessoa foram encontradas trinta ocorrências, todas de agentes desconhecidos, isto é, não captáveis através do contexto nem do cotexto. Vamos à análise quantitativa. No corpus literário, o caso de maior proeminência foi de verbos na terceira pessoa do singular com o se elíptico, tendo sido verificado em 43,3%. Em segundo lugar, apareceram os pronomes indefinidos ou os termos do léxico que exprimem indefinição, com 20%. Os pronomes pessoais sem valor dêitico ocupam o terceiro lugar, com 16,6% das ocorrências. Os verbos no infinitivo apareceram em 13,3%, ocupando o quarto lugar. E, em último lugar, verificou-se que, em 6,6% das ocorrências, os verbos impessoais nãopronominais tiverem seu agente indeterminado.


43

Não foram encontrados casos correspondentes às seguintes categorias: Voz passiva analítica; Voz Passiva Sintética; Verbo Transitivo Indireto na 3ª pessoa do singular mais a partícula se; Média Não-Pronominal; Média Pronominal; Média Perifrástica; Verbo Intransitivo na 3ª pessoa do singular mais o pronome se; Expressão nominal sem referente; e Nominalização. O gráfico abaixo mostra de maneira mais clara essas informações: Ocorrências na Linguagem escrita referencial

VSE: Verbos na 3ª pessoa do singular com o "se" eliptico

15 13

PTI: Pronomes e termos indefinidos

10

6

PSD: Pronomes pessoais sem valor dêitico

5

4

VI: Verbos no Infinitivo

5

2

INP: Impessoal não-pronominal

0 0

DC: Demais casos VSE

PTI

PSD

VI

INP

DC

Gráfico 2: Ocorrências na Linguagem Escrita Literária

Numa

análise

qualitativa

dos

dados

encontrados,

a

proeminência

da

indeterminação do agente através da utilização de verbos na terceira pessoa do singular com o “se” elíptico nas frases reflexivas de Fernando Pessoa pode ser explicada pelo propósito discursivo do “gênero” Frase Reflexiva que é convidar o enunciatário a pensar criticamente a respeito de um assunto. Para tanto, o autor faz a omissão no intuito de que o enunciatário coloque-se como agente da enunciação, como podemos observar no exemplo a seguir retirado do corpus: Ex1: “Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode dizer-te”. Os verbos no infinitivo também cumprem essa intenção: Ex3: “Precisar de dominar os outro é precisar dos outros. O chefe é um dependente”. Quanto aos pronomes indefinidos e aos termos que exprimem indeterminação, eles servem ao autor por articular, no enunciado, a generalização das categorias característico da reflexão. Ex2: “Tudo quanto vive, vive porque muda, muda porque passa, passa; e, porque passa, morre”.


44

Os

pronomes

pessoais

sem

valor

dêitico

também

possuem

a

mesma

funcionalidade, pois, quando utilizados, por não apontarem para pessoas do discurso específicas, generalizam-nas, de forma que há a identificação do enunciatário entre as mesmas, possibilitando a reflexão pretendida. Ex3: “A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos”. CONCLUSÃO É contrastando as ocorrências de indeterminação do agente na linguagem escrita referencial com as da linguagem escrita literária que se torna ainda mais clara a adaptação do fenômeno aqui discutido aos diferentes gêneros discursivos, corroborando com nossa hipótese de que a indeterminação do agente não é feita aleatoriamente, mas está relacionada como o propósito comunicativo do enunciador e, consequentemente, com o gênero por ele escolhido. Dessa forma, se a indeterminação através da voz passiva analítica é utilizada no editorial como recurso para expressar um agente que é produto do meio social, no qual o autor do texto está incluso, tal necessidade não se manifestará na frase reflexiva que, por sua vez, primará pelos verbos na terceira pessoa do singular com o “se” elíptico, uma vez que tem por finalidade convocar o enunciatário a refletir a respeito de um assunto, sendo necessário que ele sinta-se como agente da ação. Outros fatores tangentes à indeterminação do agente que são variáveis em função do gênero discursivo são o estatuto informacional e a distância referencial desses sintagmas nominais. No caso da linguagem referencial, dá-se preferência ao estatuto informacional dado ou pelo menos inferível, já que tem por objetivo transmitir informações claramente, enquanto que na linguagem literária, no geral, não há âncora referencial, uma vez que a liberdade poética permite ao autor estender o campo enunciador/enunciatário a todos os leitores. Fenômeno semelhante ocorre ao se falar em distância referencial, ligada a topicalidade. Na linguagem referencial, o sintagma nominal, quando dado ou inferível, possui baixa topicalidade, pois nessa modalidade de língua, o importante é a ação em si e suas consequências e não que a realizou. O inverso ocorre na linguagem literária, na qual é perceptível que, embora o agente seja de identidade desconhecida, ele possui alta topicalidade, pois é sobre ele que se quer falar, com o intuito de pô-lo em reflexão sobre algo. É importante ressaltar que neste trabalho não temos a intenção de dar conta de todas as questões concernentes ao assunto o qual nos propomos a discutir, mas, sim, fornecer uma base teórica que desperte o olhar crítico dos nossos colegas graduandos do


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curso de Letras para o Sujeito e, a partir daí, para as demais categorias sintáticas que são trabalhadas dissociadas do discurso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECHARA, E. Lições de Português pela Análise Sintática. Editora Lucema. Rio de Janeiro, RJ. 2001. CORPUS REFERENCIAL, Editorial Diário do Nordeste. Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com. Acesso em: 15.05.2010. CORPUS LITERÁRIO, Frases de Fernando Pessoa. Disponível em: http://www.pensador.info/frases_de_fernando_pessoa. Acesso em: 25.05.2010. CUNHA, A. S. C. Discutindo os critérios para a definição do sujeito no português do Brasil. SOLETRAS (UERJ). 2005. Disponível em: http://www.filologia.org.br/soletras/10/10.htm. Acesso em: 25.05.2010. LIMA, Maria Claudete. Reflexões sobre a medialidade em português. In: Secção de Lingüística; Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos. (Org.) - p. 545556, 2005. Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4585.pdf. Acesso em: 09.06.2010. NEVES, 1996 apud RAJAGOPALAN, K. Os caminhos da pragmática no Brasil. DELTA [online]. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/delta/v15nspe/4021.pdf>. Acessado em: 02.06.2010. TERRA, E. Curso prático de gramática. Ed.rev. e amp. São Paulo: Scipione, 1996.


SEÇÃO 5: DISCURSO E PERSPECTIVA DEÔNTICA PERSPECTIVAS DEÔNTICAS ALUSIVAS À FAIXA ETÁRIA E AOS DISCURSOS FORMAL E INFORMAL 10

Daniele Cristina de Almeida Francisco Cleyton de Oliveira Paes Francisco Valber Gomes Barros INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo observar se a variação de idade e registro sofre influência em relação ao discurso e ao contexto de situação de uso da língua, a partir do cruzamento dos resultados de fragmentos de frases retiradas de um discurso informal, diálogo, entre pai e filho e de um discurso formal, palestra, tendo como base a modalidade deôntica. Antes, porém, vamos explicitar o conceito de modalidade deôntica, expondo primeiramente o conceito de modalidade, segundo BRITTO apud in PINTO: A modalidade está inserida na função interpessoal, pois tem como finalidade a expressão de nossas crenças ou opiniões a respeito de algum assunto, como modo de interação com as pessoas no mundo, mostrando nossos critérios de verdade e valor (Pinto, 1994, p. 81).

Já por modalidade deôntica encontramos segundo BRITTO apud NEVES: Segundo Neves (1996, p. 172), a modalização deôntica implica em mais controle do enunciador em relação aos valores de permissão, obrigação e volição. No livro „Texto e gramática‟, a autora nos esclarece que há dois tipos de obrigação no eixo da conduta dos deônticos: obrigação moral e obrigação material (2006, p. 174). Enquanto o primeiro é interno, ditado pela consciência e pode ser expresso em exemplos como „Nós temos que respeitar o sinal de trânsito‟, o segundo é comandado por circunstâncias externas como em „Aquelas pessoas que estão dentro do trem não devem fumar‟.

Ou seja, modalidade deôntica estaria relacionada ao uso de que faz o falante para expressar as suas atitudes em relação a uma obrigação, permissão, proibição ou ordem. Para tanto ele faz uso de modos verbais para que essa atitude seja manifestada de forma que fique bem clara ao interlocutor. METODOLOGIA Este trabalho é de cunho quantitativo, pois registramos o número de ocorrências da modalidade deôntica no discurso de três homens, sendo um veterinário de 33 anos, outro advogado de 70 anos e um licenciado em filosofia de 32 anos. O corpus analisado foi retirado do grupo de funcionalismo11. São estes os textos que constituem o corpus: inquérito 10

Alunos do curso de letras da UFC. Grupo de funcionalismo no site do Yahoo http://br.groups.yahoo.com/group/funcionalismo_2010/ 11


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número 11, gênero diálogo, com o tema As infrações no trânsito e a impunidade, contém dois informantes, informante 1 (homem, 33 anos, fortalezense, médico veterinário) e o informante 2 (homem, 70 anos, fortalezense, advogado); e o inquérito número 17 apresenta o gênero palestra, elocução formal cujo tema é Revoluções e movimentos populares, e tem como informante um homem, 32 anos, licenciado em Filosofia. Após a análise do corpus, comparamos os resultados para saber qual o valor de modalidade deôntica mais recorrente. Para isso, cruzamos os resultados da seguinte maneira: inquérito número 11, as falas do informante 1 versus as falas do informante 2, para verificar se a idade influencia na atitude do falante ao expressar-se. Logo depois, cruzamos o discurso do informante 1, inquérito 11, com o discurso do informante da elocução formal, inquérito 17. Como ambos possuem idade aproximada, buscamos observar se o registro, dependendo do gênero, influencia no uso do valor da modalidade deôntica. ANÁLISE DOS DADOS Tabela de Resultados LEGENDA D = Diálogo EF = Elocução Formal Cruzamento dos resultados de D11 – Inf. 1 X D11 – Inf. 2 / Variável: Faixa etária D11 – Informante 1 / Homem, 33 anos, fortalezense, pais fortalezenses, médico veterinário D11 – Informante 2 / Homem, 70 anos, fortalezense, pais fortalezenses, advogado TABELA 1 Valor Obrigação

D11 – Informante 1 Faixa 1

D11 – Informante 2 Faixa 3

Codificação

Nº de Ocorrências

Ter que

04

Dever

02

Permissão

Poder

03

Proibição

Poder

01

Ordem

Imperativo

13

Total

23

Obrigação

Ter de

01

Permissão

Poder

13

Proibição

Poder

03

Ordem

Imperativo

03

Total

20

Ao observarmos acima os resultados adquiridos pelo apanhado do corpus, verificamos na fala do informante 1 a predominância do valor ordem no imperativo, ao passo


48

que o informante 2 se utiliza quase sempre de expressões que remetem ao valor de permissão com uso frequente do verbo poder.

Conquanto

os

demais

valores

encontrados não apresentem números expressivos, decidimos atentar para as ocorrências de caráter permissivo de ambos os informantes. O texto em foco constitui um diálogo sobre As infrações no trânsito e a impunidade. Diálogo esse entabulado entre um pai, que é advogado, e seu filho, um veterinário. Acreditamos que, além do objetivo pretendido deste estudo no que toca à motivação discursiva em relação à faixa etária, o papel social dos informantes pode também influir na interação verbal, conforme o prisma funcionalista. Atentemos para as frases abaixo: (1) Inf. 1: Pode ...{Pode sim (2) Inf. 1: pode {sim eh:: (3) Inf. 1: pode registrar o nome dele (4) Inf.2...tivesse e a sido avisado... uma baRREIra adiante aí /tá certo podia ... parar com um aviso ... (5) Inf.2eh {tendo atenuante pode (6) Inf.2é o consumidor então ele tem direito... um: arrecadador do Estado. O uso do verbo poder nos três primeiros excertos supracitados, articulados pelo informante 1, denota clara e concisamente a ideia de permissão. Já os últimos três trechos, referentes ao informante 2, possuem o mesmo teor deôntico, porém, parecem ser revestidos de certa sutileza. No trecho 4, o advérbio aí, que equivale a nesse ponto, seguido da afirmação tá certo emprestam ao verbo poder uma justificativa para permissão exibida na sentença em questão. Logo, entendemos que a modalidade está relacionada não apenas ao aspecto verbal, mas a toda sentença. Em tendo atenuante pode, no trecho 5, temos, especialmente no termo “atenuante”, uma marca que bem se afigura ao informante 2 em seu papel causídico e que também justifica a permissão contida no verbo poder. O último exemplo é com o verbo ter, seguido também de uma palavra muito comum ao ofício do informante 2, “direito”, e precedido do advérbio então que pode dar o seguinte sentido à sentença 6: “nesse caso o consumidor tem direito”. Embora se trate de um diálogo informal, as escolhas lexicais de natureza deôntica aqui apontadas parecem revelar que o informante 2 é mais sutil que o informante 1 no emprego do referido valor da modalidade em foco, devido seu cabedal linguístico, adquirido ao longo de seus 70 anos, e também no exercício de sua profissão.


49

Cruzamento dos resultados de D11 – Inf. 1 X EF 17 / Variável: Registro D11 – Informante 1 / Homem, 33 anos, fortalezense, pais fortalezenses, médico veterinário EF 17 – Informante homem, 32 anos, fortalezense, pais cearenses, licenciado em Filosofia TABELA 2 Valor

Codificação

Obrigação D11 – Informante 1 Faixa 1

Nº de Ocorrências

Ter que

04

Dever

02

Permissão

Poder

03

Proibição

Poder

01

Ordem

Imperativo

13

Total

23

Ter que

19

Precisar

02

Imperativo

01

Dever

01

Permissão

Poder

02

Proibição

Poder

04

Dever

01

00

00

Total

30

Obrigação

EF – Informante Faixa 1

Ordem

A tabela (2) apresenta os resultados das ocorrências de frases com modalidade deôntica no registro informal, representado pelo diálogo (D11) e no registro formal, representado por uma elocução formal (EF17). Ao cruzarmos tais resultados entre D11 X EF17 percebemos que no diálogo (D11) o valor ordem, codificado pelo verbo no imperativo é mais frequente no discurso, ocorrendo em 13 frases. Já na elocução formal (EF17) o valor obrigação codificado pela perífrase ter que é o mais freqüente, ocorrendo em 19 frases do corpus. Para exemplificarmos os resultados, selecionamos duas frases do registro informal e duas do registro formal para análise. No registro informal analisaremos apenas aquelas que têm valor de ordem no imperativo. Quanto ao registro formal, analisaremos as que possuem valor de obrigação codificadas pela perífrase ter que + infinitivo. Analisemos os enunciados (1 e 2) a seguir referentes ao registro informal. (1) “rapaz vá pedir autorização ao gerente” (2) rapaz ( ) aprenda a se comporTAr rapaz ...


50

Vemos que no enunciado (1) o locutor faz uso do imperativo vá pedir, emitindo uma ordem ao seu interlocutor. No enunciado (2) o locutor utiliza-se do imperativo aprenda a se comportar, para chamar a atenção do rapaz. A utilização do imperativo pelo informante (1) foi recorrente no diálogo. O contexto em que ele estava inserido era o de uma conversa informal tendo como interlocutor o seu próprio pai. O assunto em discussão era sobre As infrações no trânsito e a impunidade. Mas em um dado momento do diálogo o informante (1) faz uma digressão para relatar uma discussão ocorrida entre ele e outro cliente numa agência bancária. Discussão, essa, levantada por causa de um lugar na fila de atendimento. Analisemos agora os enunciados (3) e (4) referente ao registro formal. (3)... pra você manter a regime político... você muitas vezes tem que usar a força... (4) a Idéia que ti::nha vindo dos campos e dos quartéis... era que o solDAdo tinha que servir aos oficiais Observamos que o informante da elocução formal utiliza a perífrase ter que + infinitivo, o que expressa a modalidade deôntica com valor de obrigação. Existe aí a presença de uma imposição. O assunto discutido pelo informante é sobre As revoluções e movimentos populares, e os enunciados (3) e (4) abordam a questão do regime militar imposto no Brasil a partir da década de 1960. No enunciado (3), percebemos que os militares foram muitas vezes obrigados a utilizar a força para reprimir o povo. No enunciado (4) notamos que os soldados, mesmo sendo contra o regime político da época eram obrigados a servir aos seus superiores, os oficiais militares. Em ambos os enunciados do registro formal fica explícita a noção de obrigação. Após essa análise, pudemos perceber que o uso recorrente do imperativo com valor de ordem no discurso informal poder ser explicado por conta da situação que é informal, no caso um diálogo entre duas pessoas, pai e filho. O discurso do informante (1) narra uma situação ocorrida no banco. Em discussões no ambiente bancário, por conta de posições na fila, geralmente as pessoas ficam nervosas e irritadas e acabam por fazer uso de verbos no imperativo, com valor de ordem, buscando reivindicar seus direitos. Quanto ao discurso formal, o uso freqüente da perífrase ter que + infinitivo com valor de obrigação pode ser explicado também pela situação que, nesse caso, é mais formal, visto que se tratava de uma palestra que estava sendo ministrada. O informante tentou transmitir aos seus ouvintes os problemas vividos pela sociedade em contextos de revoluções e movimentos populares. Observamos nesse caso a noção de modalidade deôntica bastante marcante uma vez que esta se liga a lógica da obrigação.


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A comunicação entre ambos os registros faz uso recorrente da modalidade deôntica a qual qualifica situações por meio de valores como proibição e ordem. Isso nos mostra que o ato comunicativo é dinâmico, pode mudar conforme o contexto situacional. CONCLUSÃO Diante das considerações aqui aventadas, concluímos, com base nas análises dos corpus em questão, que a modalidade deôntica pode sofrer influência em virtude da faixa etária e da função social dos sujeitos e, também que, dependendo da situação comunicativa, o discurso pode variar entre menos formal e mais formal. Tal perspectiva só nos é possível segundo o viés funcionalista, para o qual a língua constitui um instrumento de interação social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRITTO, V. S. As marcas de modalidade na publicidade. Disponível em: http://www.filologia.org.br. Acesso em: 02 de jun. 2010 LOPES, M. F. V. Modalidade dôntica e língua inglesa: uma interface. Revista Intercâmbio, volume XVII: 344-357, 2008. São Paulo: LAEL/PUC-SP. ISSN 1806-275x MONTEIRO, José Lemos. Português oral e culto de Fortaleza. S/D disponível.


O VERBO MODAL “Ter de” NA MODALIDADE DEÔNTICA NO DISCURSO ORAL Maria Cristiane Rosa de Souza

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INTRODUÇÃO O Funcionalismo estuda a linguagem e sua relação com o mundo. O discurso não é apenas formas e regras, mas se desenvolve sendo organizado com traços que lhe caracterizam e lhe distinguem de frases que não são contextualizadas e que não se relacionam. Entre estes traços caracterizadores a modalidade é o meio que o autor usa para se expressar. Existem três modalidades distintas que são alética, deôntica e epistêmica. Em se tratando de modalidade deôntica, que será analisada neste trabalho, ela se relaciona à ação discursiva do autor para o receptor. Objetivo deste trabalho é analisar o uso do verbo modal “Ter de” na modalidade dôntica do discurso informal entre duas colegas profissionais da área de Ciências Humanas – uma, educadora, a outra, psicóloga, porém, com faixas etárias diferentes. METODOLOGIA O corpus utilizado foi o discurso oral, disponibilizado por escrito, sobre planejamento educacional, realizado por duas mulheres, ambas residentes de Fortaleza- CE. Uma delas é psicóloga e tem 26 anos de idade. A outra é educadora e tem 47 anos de idade. Denominadas, respectivamente, de informante n.1 e informante n.2. A data do inquérito é de 21/12/1993. Analisando as ocorrências de “Ter de”, segundo o critério de obrigação, os resultados de cada informante foram comparados, organizados em um gráfico e comentados. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS A modalidade deôntica indica valores de obrigatoriedade ou de proibição, de facultatividade e de permissão. Ocorre com os verbos no imperativo, no indicativo e subjuntivo. O enunciador usa esta modalidade com a intenção de instruir o receptor em prol de sua intenção, ou seja, dar uma ordem para o receptor, com o intuito de que seja

12

Graduanda em Letras-Português da Universidade Federal do Ceará.


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cumprida. Situada no eixo da conduta, impõe, proíbe ou autoriza algo. Tem o sentido de obrigação no domínio do dever. E o verbo que marca este sentido é o verbo ter.

O gráfico demonstra que de todas 23 ocorrências da modalidade deôntica com valor de obrigação, 15 são do verbo modal “Ter de”. Em todas as ocorrências existe a variante “ter que” demonstrando marca oral e informalidade do discurso. Os valores de permissão e de proibição não foram encontrados no uso do verbo ter. Nas seguintes frases transcritas do discurso oral, observa-se exemplos destas ocorrências: 1. “E A sobreMEsa então a gente pre-cisa ... teria que pensar né? uma coisa MUITO simples... agora se for o caso de fazer tem que ver isso logo né?” 2. “tem que ter um discurso, quem vai fazer o discurso?” 3. “então é assim se chegar TRInta pesSOa... aí chegar mais uma não aqui já não cabe mas você terá que se dirigir a outra sala.” Nas ocorrências não existe a idéia de hierarquia: aquele que profere a sentença estando isento de obedecer àquela ordem. Não está definido quem especificamente deve obedecer àquela ordem, mas alguém terá que cumprir. A ordem é direcionada a todo o grupo de profissionais da escola onde trabalham as duas informantes. Sendo assim, a função discursiva da 1 é encontrar alguém daquele grupo que providencie a sobremesa e da 2, encontrar quem vai ter de fazer o discurso. A função discursiva de 3 compreende na intenção de concretizar o planejamento. Não é marcado por verbos no imperativo. CONCLUSÃO Por fim, uma breve reflexão a respeito da presença da modalidade deôntica no discurso oral e informal, em parâmetro com o uso do verbo ter com o valor de obrigação.


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A modalidade deôntica é usada em discursos informais e formais, pessoais ou impessoais. Através deste trabalho percebe-se realmente a noção de que o verbo modal “Ter de” é bastante usado nessa modalidade com a pretensão de induzir alguém a fazer algo e a sua variante “Ter que” é bastante comum na oralidade, em uma conversa informal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS http://www.lpeu.com.br/a/Modalidades-de%C3%B4nticas.html Acesso em: 04/06/2010 http://www.prof2000.pt/users/primavera/b642_modalid_deontic.htm Acesso em: 04/06/2010 http://www.alfa.ibilce.unesp.br/download/v51-1/04-Neves.pdf Acesso em: 04/06/2010 LOPES, Maria Fabíola. Modalidade deôntica e Língua inglesa: uma interface. Disponível em http://www.pucsp.br/pos/lael/intercambio/pdf/artigos_xvii/23_maria_fabiola_lopes.pdf. Acesso em: 04/06/2010


SEÇÃO 6: ESTRUTURAS DE NEGAÇÃO NEGAÇÃO: UM ESTUDO DE OCORRÊNCIAS NA LÍNGUA FALADA DE FORTALEZA13 João Luiz Teixeira de Brito14 INTRODUÇÃO Esse artigo tem por objetivo analisar ocorrências de estruturas de negação na língua portuguesa do Brasil, mais particularmente na cidade de Fortaleza, através dos registros documentados no arquivo PORCUFORT (Português oral culto de Fortaleza), organizado pelo Prof. José Lemos Monteiro (Ref.). Nossas reflexões serão realizadas a partir dos estudos desenvolvidos durante o presente semestre, na cadeira de Lingüística: Funcionalismo. Esses incluem pensadores como Halliday, Givón, Dik e Hegenveld, entre outros, formadores de nosso direcionamento funcionalista, o que, em nossa concepção, e para fins desse trabalho, quer dizer que nos focaremos nas motivações e nas situações comunicativas que iniciaram e moldaram o discurso de nossos informantes. Não é pretensão da presente articulação dar conta de todo o universo lingüístico que engloba a estrutura da negação em língua portuguesa da variante linguística de Fortaleza, mas somente estabelecer uma discussão em termos funcionalistas a respeito de determinadas secções do mesmo. Devido ao tempo de pesquisa e aprofundamento limitado devemos nos contentar a tanto pelo momento. Entretanto, futuros estudos complementares não estarão descartados. O principal fundamento teórico pertinente a esse artigo, aparte do direcionamento funcionalista ligado aos estudiosos citados acima, está no trabalho e discussão propostos por Furtado(2001). A autora discute em seu estudo os mecanismos de negação em língua portuguesa e os agrupa em três modelos principais: negação pré-verbal, negação pós verbal e negação dupla. Partiremos de algumas de seus postulados e conclusões, que nos servirão de base à análise, para em seguida, construir nossos próprios estudos sobre o tema e do corpus retirar nossas próprias conclusões. MÉTODO A pesquisa foi feita a partir da extração de ocorrências do discurso de quatro informantes ao total; nativos falantes da língua; todos com educação superior finalizada em diversas áreas, variando entre eles as faixas etárias e os sexos. Trabalhamos com 13 14

Trabalho apresentado à disciplina de Lingüística: Funcionalismo, orientado pela Professora Dra. Claudete Lima Graduando em Letras pela UFC. Endereço eletrônico: jltbrito@hotmail.com


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depoimentos de dois homens (faixas etárias 1 e 3) e duas mulheres (faixas etárias 1 e 3). Foram recolhidas vinte ocorrências de cada um dos quatro informantes. Totalizando oitenta. Doravante reconheceremos os informantes por: Inf. 1 – Homem, faixa etária 1. Arquivo Did 21 da compilação PORCUFORT Inf. 2 – Homem, faixa etária 2. Arquivo Did 10 da compilação PORCUFORT Inf. 3 – Mulher, faixa etária 1. Arquivo Did 09 da compilação PORCUFORT Inf. 4 – Mulher, faixa etária 2. Arquivo Did 12 da compilação PORCUFORT Nosso estudo se dará, inicialmente, de modo separado levando em conta o sexo dos informantes. Serão analisados independentemente de um lado o corpus provido pelos dois informantes homens e do outro aquele legado pelas duas informantes mulheres, sendo o principal fator diferencial nesses dois momentos a idade. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Tomaremos dois termos, princípios básicos do funcionalismo, como descritos por Furtado da Cunha, por sua relevância na análise que desenvolveremos: marcação, que “diz respeito à presença ou ausência de uma propriedade nos membros de um par contrastante de categorias linguísticas” e gramaticalização que “focaliza a emergência, ao longo do tempo, de novas estruturas morfossintáticas, a partir de precursores paratáticos, sintáticos ou lexicais.” Desses, a estrutura não marcada ou canônica seria precisamente a pré-verbal. Sendo as outras duas, por consequência, marcadas. No entanto, é sugerido pela autora que a estrutura de negação dupla vem se tornando cada vez mais comum, dado o esvaziamento semântico sofrido pelo modelo da sentença canônica. De modo que a negação dupla estabelece-se como capaz de realçar o significado desgastado da sentença negativa. E aqui reside, possivelmente, a questão central de nosso argumento: a gradação experienciada através dessas sentenças de negação dupla; dependencial dos termos utilizados por ela; as variantes „não‟, „nem‟, „nada‟ e „nenhum(a)‟. Tabela 1 NÃO

NUM

NADA

NUNCA

NEM

NENHUM

IMPLÍCITO

Inf. 1

18

-

-

-

-

1

1

Inf. 2

13

7

-

-

-

-

-

Inf. 3

15

-

2

1

2

-

-

Inf. 4

10

8

2

-

-

-

-

TOTAL

56

15

4

1

2

1

1

Segundo nossas pesquisas, há uma variação na utilização dos termos, partículas negativas, como demonstrado na tabela acima. A variante mais comum sendo, é claro, o


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„não‟ e seu alternativo „num‟. Houve, no entanto, só uma ocorrência na qual a negação esteve implícita. DESENVOLVIMENTO Como foi dito anteriormente, são três as estratégias de negação oracional do português brasileiro: a) Negativa Canônica pré-verbal não + SV b) Negativa dupla não + SV + não (ou variante) c) Negativa final SV + não É notável, no trabalho de Furtado, que as negativas não-canônicas, devido ao seu caráter informal, são praticamente inexistentes no que concerne à produção escrita, na qual impera a forma não marcada „não + SV‟. Desse modo, pareceu-nos pertinente que nos detivéssemos ao discurso falado. No caso, os informantes entrevistados se encontram numa situação semi-formal e espontânea, assim, foram capazes de nos prover com razoável número de ocorrências não canônicas. A tabela 2 demonstra as ocorrências encontradas nos textos com os quais trabalhamos:

N + SV

N + SV + N

SV + N

OUTRO

TOTAL

Inf. 1

15

2

-

3

20

Inf. 2

19

-

-

1

20

Inf. 3

12

4

-

4

20

Inf. 4

13

3

-

4

20

TOTAL

49

9

-

12

80

Apesar do número significativo de estruturas negativas duplas, não houve ocorrência negativa final no corpus analisado. Isso nos remete novamente ao estudo de Furtado da Cunha, no qual podemos verificar o mesmo fenômeno. Eis a justificativa apresentada por ela, e que nos satisfaz: A baixa freqüência de negativas pós-verbais parece estar relacionada ao instrumento de coleta de dados usado nesta pesquisa – gravação de relatos produzidos pelos falantes, com pouca tomada de turno pelo interlocutor, que apenas estimulava o falante ou mudava o assunto da entrevista. Assim, o corpus não representa conversação natural. A observação empírica do português falado revela que a negativa pós-verbal ocorre, preferencialmente, como resposta a perguntas diretas. (p. 9)


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Dado que a estrutura canônica é a regra, pensamos não haver necessidade de aprofundamento em seu funcionamento, motivação ou semântica. Manteremo-nos focados, também devido ao curto alcance desse artigo, às formas marcadas não-canônicas a que tivemos acesso, sendo elas a estrutura de dupla negação anteriormente mencionada e ocorrências marginais que serão relatadas aqui. RESULTADOS: SEXO MASCULINO O informante masculino de faixa etária mais avançada (Inf. 2) foi o mais canônico dentre os observados. Como pode ser observado no quadro acima, ele utilizou por 19 das 20 vezes uma estrutura não-marcada. No entanto sua ocorrência marginal foi notável: Não que essa ess/ s::/ grupos dominantes não tenha interesses (Inf. 2, p. 1) Há uma negação aqui. No entanto o sintagma verbal que a acompanharia parece irremediavelmente irrecuperável pelo contexto. E não está presente no restante da frase. Essa é uma construção que somos capazes de resgatar somente enquanto falantes proficientes nativos da língua. Resumíssemos a frase a sua estrutura básica, efetuando uma troca por equivalência, teríamos: Não [isto] E o que está implícito aí é o sintagma verbal contendo o verbo ser e um possível predicativo do sujeito. Colocando em ordem direta: [Isto] não (é <verdade>) O mesmo tipo de estrutura pode ser observada na fala da Inf. 4: E não que vá ir... eh eh não que eu seja bela sabe ((sorriu)) mas muito pelo contrário... (P. 2) Podendo haver uma reestruturação semelhante: E não <isto>... eh eh não <aquilo>. Sendo: Isto = (Eu) vá ir Aquilo= Eu ser bela Sem dúvida, um sintagma nominal é desenvolvido de forma explicativa. Mas, ao que parece, a negação está intrincada fundamentalmente com um sintagma nominal. Cabendo aqui uma proposta de alargamento do paradigma de estratégias de negação


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oracionais. No entanto, não cabe aqui esse aprofundamento. Ficaremos, por enquanto, na observação do fenômeno. O Inf. 1 foi mais eclético em suas escolhas. Possivelmente pelo fato de ser um falante mais jovem dotado de forças sociolingüísticas inovadoras numa modalidade oral em estilo coloquial. Em seu discurso, houve utilização da estrutura de negação dupla em duas ocasiões e outros recursos foram utilizados por duas vezes. Tem crianças que podem apresentar um retardo mental...ou não...certo? (Inf. 1, p.1) O caráter didático do discurso nesse momento é bem claro, apesar do nível de informalidade. O que nos é permitido supor pela busca da confirmação por parte do enunciador, checando se seu interlocutor acompanha seu raciocínio. É possível depreender claramente o significado da sentença negativa implícita, possibilidade amplificada no ambiente comunicativo em questão. Sabemos que o “ou não” convida o ouvinte a resgatar o sintagma verbal anterior “apresentar”, a frase podendo ser reestruturada do seguinte modo: Tem crianças que podem (ou não) apresentar um retardo mental, certo? (Inf. 1, p.4) A negação está, portanto, deslocada. Apresenta, ainda sim, a mesma idéia informacional: possibilidade alternativa; sim ou não; afirmação ou negação. Esse tipo de deslocamento é próprio de uma situação comunicativa oral espontânea, como é o caso. Outros exemplos no mesmo tipo de comportamento foram apresentados pelo Inf.1 em seu discurso. O que pode nos levar também à conclusão de sua causa seja a estilística própria do falante em questão. RESULTADOS: SEXO FEMININO De um modo geral, os resultados levantados dos inquéritos de informantes mulheres foram bastante semelhantes entre si. Ambas fizeram uso eclético de estruturas de negação. Variando de recusas simples: Doc. - Antes do almoço a senhora num faz nenhum outro tipo assim de refeição? Inf. 3 – Não... porque... eu me alimento... (no café) (Inf. 3, p. 1) A recusas absolutas: Doc. - A senhora também costuma eh almoçar em acompanhada a família? Ou não? Inf.3 – Nunca... acontece de reunir a família porque... (Inf. 3, p.2) Passando por estruturas que resgatam o sintagma verbal anterior:


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Gosto muito mesmo muito de calça comprida mesmo até ficar ((sorriu)) suja mesmo sabe? Só não <gosto muito de calça comprida até ficar suja> onde tem festa muito... eh... sociais, né? (Inf. 4, p. 1) Até

estruturas

negativas

ligadas

a

sintagmas

nominais,

como

descrito

anteriormente, das quais a Inf. 4 fez uso em duas ocasiões. A uniformidade de resultados entre essas duas informantes pode ser explicada, possivelmente, pela aproximação na idade das duas. Apesar de se encontrarem em “faixas etárias” diferentes, segundo o nosso conceito, a diferença entre as duas é de apenas 3 anos. Enquanto a diferença entre os homens é de quase 20 (17 anos, para ser mais preciso). O uso de estruturas canônicas e não-canônicas obedeceu a um padrão basicamente igual. Ficando as estruturas canônicas entre 60 e 65 %; as ocorrências duplas ficando em torno de 15%. Resultando, as últimas, em 7 casos, os quais, unidos às 2 ocorrências providas pelo Inf. 1, analisaremos em seguida. A GRADAÇÃO EM NEGAÇÃO DUPLA A questão das variantes se apresenta como relevante nesse momento, se levarmos em conta que sua utilização influi e altera a corrente informacional desenhada pelo falante. De modo que podemos identificá-las como distintivas (o caráter distintivo de dois pares contrastantes foi inicialmente postulado pelas teses do Círculo Linguistico de Praga). Sua relevância pode ser observada principalmente nas construções negativas duplas, nas quais haverá uma gradação no significado imposto pela negativa de acordo com a variante final que for escolhida pelo falante. Observemos na tabela abaixo que houve uma larga variação nas estruturas utilizadas para formar a negativa dupla; sempre na posição final. Tabela 3:

FINAL DUPLA

NÃO (NUM)

NADA

NEM

NENHUM(A)

Inf. 1

1

-

-

1

Inf. 2

-

-

-

-

Inf. 3

-

2

2

-

Inf. 4

1

2

-

-

A utilização desses diferentes termos causa uma alteração no fluxo informacional inferido pela negação. Se temos: Num ligo muito pra isso não. (Inf. 4, p. 3) E: Não gosto nada daquelas cores eu cheguei sabe? (Inf. 4, p. 1)


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Há um movimento, uma mudança de posição do segundo termo da negação, que parece ser dependencial da escolha por „não‟ ou „nada‟. Como evidenciado aqui: Aí tenho que ir de saia mas mas num sou muito chega à saia não sabe. (Inf. 4, p. 1) Se a partícula negativa final viesse junto do verbo, parece que o termo natural a ser utilizado seria „nada‟. Enquanto, vindo ela no final da sentença, seguindo SV e SN, a escolha natural é „não‟. Há também uma gradação, que nos parece anterior à enunciação, e à escolha do termo. É o sentido que se quer imprimir ao texto: uma negação absoluta ou simples. O mesmo se dá pela utilização dos termos restantes, mas por razões diversas. Nesses casos há necessidade de imprimir uma continuidade à sentença de modo a demonstrar também (ou não) gradação. Mas os termos „nem‟ e „nenhum‟, embora capazes de emitir gradação, são de fato requisitados pela transitividade dos verbos negados. Não consegui nem che/ sequer chegar perto... (Inf. 3, p. 5) Aqui o objetivo final do falante era realizar uma ação que ia além do fato de „chegar perto‟, que é complemento do sintagma verbal negado pela estrutura dupla. Há uma correlação entre os dois períodos e isso é demonstrado através do uso do termo „nem‟. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em nossa pesquisa, nos propusemos a fazer um recorte no que está relacionado às estruturas negativas utilizadas por falantes nativos da variante do português na cidade de Fortaleza através dos discursos documentados no arquivo PORCUFOR. Usando como base as teorias funcionalistas de grandes estudiosos da linguagem e, mais especificamente, o trabalho de Furtado da Cunha, desenvolvemos uma análise do discurso de quatro informantes, os quais nos proveram com exemplos vívidos da utilização desses mecanismos de negação. As considerações realizadas nesse artigo não têm pretensão de serem finais e são menos ainda arbitrárias. Estudos posteriores e complementares deverão ser implementados de modo a aprofundar a discussão posta acima. No entanto, desde já ficam propostas as análises qualitativas e quantitativas realizadas no curso desse trabalho, como também uma breve apresentação de uma teoria da gradação em negativa. Todas essas sujeitas a discussões e reformulações. Mas, pelo presente momento, encerradas.


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REFERÊNCIAS FURTADO DA CUNHA, M. A. O modelo das motivações competidoras no domínio funcional da negação. Revista Delta – Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, v.17, n. 1, São Paulo, 2001. MONTEIRO, José Lemos (org.) O português oral culto de Fortaleza – PORCUFORT. Disponível na Internet via web Em Junho de 2010: http//www.geocities.com/Paris/Cathedral/1036.


SEÇÃO 7: GRAMATICALIZAÇÃO DO ONDE A GRAMATICALIZAÇÃO DA FORMA ONDE André Queiroz Michely Rodrigues Quinto INTRODUÇÃO Nossa pesquisa busca destacar e classificar as mudanças lingüísticas pelo qual passa a palavra “onde” ao assumir valores não-preconizados pela gramática tradicional, mudanças que são utilizadas principalmente na oralidade e na escrita de textos informais pelo fato de sofrerem menos pressões sociais do uso correto da língua. Observamos a partir da leitura de inúmeros blogs e sites de publicação de textos informais o uso do item “onde” em diferentes estruturas linguísticas e exercendo diferentes funções. Corpus: Blogs e sites de publicação de conteúdo informal. Objetivo: estudar diacronicamente a forma onde, analisando-lhe os valores sintático-semântico-discursivos. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Tradicionalmente a gramaticalização é descrita em termo de itens gramaticalizados ou em processo de gramaticalização. O termo item, todavia, não dever ser entendido apenas

como

uma

unidade

lingüística

independente.

Percebe-se

claramente

a

gramaticalização quando um item lexical/construção passa a assumir, em certas circunstâncias, um novo status como item gramatical ou quando itens gramaticais se tornam ainda mais gramaticais, podendo mudar de categoria sintática (recategorização), receber propriedades funcionais na sentença, sofrer alterações semânticas e fonológicas, deixar de ser uma forma livre e até desaparecer como conseqüência de uma cristalização extrema. Em nosso caso observamos várias vezes o item lexical “onde” ser utilizado como pronome relativo retomando um antecedente (palavra ou expressão anterior a ele), representando-o no início de uma nova oração. O problema diagnosticado foi que esses itens “onde” não se referem mais somente a um lugar mencionado anteriormente e sim a conjunto de palavras que não detonão lugar. Para melhor compreender nosso artigo é importante notar o papel da gramática normativa, a gramática que busca ditar, ou prescrever, as regras gramaticais de uma língua, posicionando as suas prescrições como a única forma correta de realização da língua, categorizando as outras formas possíveis como erradas.


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O QUE DIZ A GRAMÁTICA NORMATIVA SOBRE O ITEM LEXICAL “ONDE” ? Onde, em termos de classe gramatical, pode ser pronome relativo ou advérbio (interrogativo de lugar: Onde estás?).Porém quando assume a classificação de pronome relativo refere-se impreterivelmente a um substantivo antecedente de lugar. Exemplo: “O país onde eu moro é lindo.” O antecedente, explícito ou implícito, é um lugar ou a própria palavra lugar. BREVE COMENTÁRIO SOBRE A GRAMÁTICA FUNCIONAL: É uma gramática do uso - ela busca, essencialmente, verificar como se processa a comunicação em uma determinada língua, e, para isso, não assume como tarefa descrever a língua enquanto sistema autônomo, e, portanto, não desvincula as peças desse sistema das funções que elas preencham. QUAIS SÃO AS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS QUE O ITEM “ONDE” SOFRE? Ele tem sido usado amplamente como se fosse universal, apresentando o mesmo valor de "que, quando, cujo, no qual". Vejamos os exemplos da professora Maria Tereza de Queiroz Piacentini, que estão disponíveis no site do Instituto Euclides da Cunha: "Ambos arranjaram empregos vantajosos, onde colocavam muitas esperanças". O relativo onde foi usado de maneira errônea porque, apesar de "empregos" ser aparentemente um lugar, a sintaxe é outra: diz-se que ambos colocaram esperanças EM empregos, NOS empregos vantajosos que arranjaram. E é essa preposição que deve aparecer na oração subordinada: "Ambos arranjaram empregos vantajosos, nos quais colocavam muitas esperanças". Vejamos então outras frases que são consideradas erradas de acordo com a norma-padrão (culta) e, portanto não aceitas em concursos, provas e redação oficial (o asterisco marca a presença de erro na frase): Fez várias declarações de amor, onde fica evidente o desejo de reatar o namoro. Quais são as modalidades onde seu filho é campeão? Vamos assistir a um espetáculo bem brasileiro, onde Maitê faz um pequeno papel. Isso parece responder a uma construção teórica bastante curiosa, onde os sujeitos do presente encontram um lócus historiográfico que reconhece o seu papel. Vão focalizar os jovens e a família onde a doença foi detectada. A internet é uma grande chance de trabalhar um modelo pedagógico onde o poder constitutivo da ação do sujeito seja valorizado. As mesmas frases, corrigidas, ficam assim: Fez várias declarações de amor, nas quais fica evidente o desejo de reatar o namoro.


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Quais são as modalidades em que seu filho é campeão? Vamos assistir a um espetáculo bem brasileiro, no qual Maitê faz um pequeno papel. Isso parece responder a uma construção teórica bastante curiosa, na qual os sujeitos do presente encontram um lócus historiográfico que reconhece o seu papel. Vão focalizar os jovens e a família em que a doença foi detectada. A internet é uma grande chance de trabalhar um modelo pedagógico em que o poder constitutivo da ação do sujeito seja valorizado. COMO O USO COTIDIANO FUNDAMENTADO NA GRAMÁTICA FUNCIONAL PODE MODIFICAR E INFLUENCIAR A GRAMÁTICA NORMATIVA? - O CICLO FUNCIONAL DE GIVÓN A origem do processo teria, pois, uma motivação pragmático-discursiva, por isso, alguns autores postulam estágios ou etapas da gramaticalização como o ciclo funcional de Givón. O esquema do autor busca representar os processos de regularização do uso da língua em termos diacrônicos: Discurso > Sintaxe > Morfologia > Morfofonologia > Zero. Em princípio, itens lexicais/construções começam a ser utilizadas casualmente no discurso e, embora possam ter determinada função gramatical, seu uso não é sistemático e fixo. Por conta da sua repetição, tal forma ou construção torna-se mais regular com determinada estruturação sintático-morfológica. O item/construção se cristaliza morfologicamente perdendo paulatinamente sua variabilidade sintagmática: sua ordem torna-se mais rígida, não podendo, por exemplo, sofrer inversão ou intercalação de elementos (morfologia). Por conta da freqüência de uso pode ainda sofrer algum tipo de alteração fonológica (erosão) e desaparecer. Caso atinja ao zero, outro item ou construção é recrutado para substituí-lo formal e funcionalmente, recomeçando o ciclo funcional. Há outras perspectivas semelhantes como é o caso dos diferentes estágios de gramaticalização: sintaticização, morfologização, redução fonológica, estágio zero (reinstauração de todo o processo). FRASES DESTACADAS DO CORPUS E CLASSIFICAÇÕES: “31 sites onde achar imagens para o seu blog...” – nocional (blosque.com/.../31-sites-onde-acharimagens-para-o-seu-blog-guia-de-uso-de-imagens.html)

“Blog onde você encontra muitas curiosidades sobre fatos curiosos e criativos.” – nocional (www.tatlia.com/www.bocaberta.org)

“Damos bom-dia no Twitter (um negócio onde se fala sozinho) e não damos bom-dia pro vizinho no elevador.” – discursivo (twitter.com/prispalma) "O astronauta brasileiro Marcos Cesar Pontes pode embarcar para a Estação Espacial Internacional em uma espaçonave russa. Pontes deveria viajar com os americanos, onde treina desde 98, mas problemas nos dois países tornaram isso pouco provável." –lugar (www1.folha.uol.com.br/folha/.../ult2675u2.shtml)


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“Pode-se verificar o ganho obtido nos projetos onde se faz uma boa gestão de pessoas.”nocional (www.ietec.com.br/site/techoje/categoria/detalhe.../684) “Viva o povo brasileiro, um povo onde a vida não vale nada e mata-se por qualquer motivo sem nenhum pudor.” – relativo não-padrão (recantodasletras.uol.com.br) “O termo economia de mercado descreve uma economia onde as decisões econômicas sejam determinadas pelos indivíduos.” relativo não-padrão (wikipedia.qwika.com) “Poesia que fale sobre a vida onde está tudo bom e de repente termina.” – discursivo (br.answers.yahoo.com/question/index?qid)

“É batizado como a tese onde os semelhantes curam-se pelos semelhantes.” – relativo nãopadrão (www.blogdacomunicacao.com.br/um-pouco-mais-sobre-a-homeopatia/) “As principais infrações onde não se prevêem multas foram duramente criticadas” – nocional (jus2.uol.com.br) “Descrente do amor, fecha-se no trato difícil, agressivo, revoltado, hostil ou na indiferença, no mutismo, na tristeza onde tudo perdeu o valor”- nocional (www.espirito.org.br ›... ›Visão Espírita do Idoso)

“Onde você vai passar a eternidade?” – interrogativa (www.evangelizacao.blog.br/onde-vocepassara-a-eternidade.aspx)

"Só uma humanidade onde reine a civilização do amor poderá gozar da paz autêntica e duradoura"- nocional (www.cancaonova.com/portal/.../internas.php?id) CÁLCULO DA FREQÜÊNCIA DO “ONDE” Cálculo da freqüência do uso do item “onde” gramaticalizado: Encontramos muita dificuldade em calcular a freqüência de uso do “onde”, pois começamos a analisar corpus formais: teses de mestrado,artigos acadêmicos,etc. A freqüências em corpus como estes que passam por várias correções e revisores é quase zero,os raros exemplos encontrados são o “onde” pronome relativo que refere-se a um lugar nocional o que às vezes é permitido pela gramática por ser a definição do que é lugar ainda tema de discussão. O “onde” gramaticalizado aparece com mais freqüência no corpus analisado por esse artigo,ou seja, blogs e sites de publicação de conteúdo informal, pois existe nesses uma menor necessidade de uma escrita formal tão agressiva.Existe uma pressão social intensa para combater o uso indevido do “onde”,o que nos fundamente a fase tal afirmação foi a nossa incansável leitura de mais de quarenta blogs e sites de publicação de conteúdo informal a procura do “onde” gramaticalizado.Calculando que lemos aproximadamente duzentas páginas fazemos o seguinte cálculo: 200 páginas = 21 ocorrências Então o número de ocorrências por página é de aproximadamente 0,105 ocorrências por página. 0,105 ocorrências/página Essa freqüência é muito baixa mesmo em corpus informais.


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CONCLUSÃO O item lexical “onde” quando utilizado com função linguistica não preconizada na gramática tradicional é extremamente mal visto e mal concebido, contribuindo para que nesse momento seja muito difícil a inclusão das suas variáveis numa gramática tradicional.Nos surpreendemos ao encontrar poucas ocorrências no amplo corpos que selecionamos e concluimos que o resultado disto é a constante pressão social que afirma que textos bem escritos não devem utilizar o “onde” em suas variáveis não gramaticais, pois isto contribui para o empobrecimento do texto e uma possível descredibilidade do leitor em relação ao autor do texto. ANEXO 1 DE MAIS FRASES DESTACADAS DO CORPUS “Não é que continuo deletando 'amigos' do skype, do msn, do orkut, facebook e onde mais eles estavam? Aiaiaiaiaiaiai… Eu sempre usei a frase 'ao vencedor, ...” mulhersingular.wordpress.com/page/3/?archives-list=1-ONDE ABSTRATO.NOCIONAL “Ja percebi onde a Nike se inspirou para o azul e vermelho do fato de treino de Portugal. É uma homenagem a Cabo Verde. Só pode...” twitter.com/josebaldino/statuses/14641644230 - Em cache- NOCIONAL “Agora, como você pode ver, existe um decote onde nao teve como separar o corpo do vestido, sendo assim, ainda usando a "Pen Tool" presione "Shift" e... ” insanaidade.webnode.com/.../photoshop-mude-as-cores-de-suas-roupas/ -Em cache Similares-LUGAR “<br>Não digas desde onde és Deus.<br>Não fales palavras vãs.<br>Desfaze-te da vaidade triste de falar.<br>Pensa,completamente silencioso,<br>Até a glória de ...” www.pensador.info › autores › cecília meireles - Em cache - Similares-DISCURSIVO “25 fev. 2010 ... Onde foi que você leu minha lamúria a respeito da resistência tupinambá ao moderno? Fiquei preocupado: será que temos algum blog clone por ...” www.revistapiaui.com.br/.../A_favela_deveria_ser_incluida_na_Olimpiada.aspx - Em cacheinterrogativa “1 abr. 2010 ... O grupo foi visto na última quarta-feira (31) visitando a torre Eiffel, onde a atriz teen de Feiticeiros de Waverly Place tirou várias fotos ...” ofuxico.terra.com.br/.../selena-gomez-curte-paris-com-a-familia-e-os-amigos-141296.htm Em cache- LUGAR “... eu uso muitos cotonetes para limpar, ela veio de onde eu comprei com fungo e ta passando pra mim, enfim to perdidão me ajuda please!...” www.ciadogatopersa.com.br/forum2/viewtopic.php?id... - Em cache-LUGAR “\o/ Onde eles se reuniram no final dos anos 90, para tocarem... Alguns anos depois, Justin Holman - (vocal), Robert Davis - (guitar), Nathaniel Cox...” www.lastfm.com.br/music/Fuel/+similar - Em cache- LUGAR


SEÇÃO 8: ORAÇÕES TEMPORAIS ANÁLISE FUNCIONALISTA DE ORAÇÕES TEMPORAIS EM RELATOS DA REVISTA SELEÇÕES Mª Neurielli Cardoso15 Sávio André Cavalcante16 INTRODUÇÃO Aplica-se o nome Linguística à ciência que estuda a língua, seus comportamentos e ocorrências nas comunidades discursivas. Surgida no século XIX, baseada em estudos realizados pelo pesquisador Ferdinand de Saussure, é desenvolvida em torno de duas grandes correntes: o estruturalismo ou formalismo e o funcionalismo. O formalismo encara a linguagem como um fenômeno mental, tratando a língua como um rígido sistema autônomo, regido por relações de imanência, servindo somente como expressão dos pensamentos. Há um foco para a estrutura de um modo geral, visando à competência gramatical. A gramática é considerada um sistema de regras, que se organizam em torno da frase. Segundo o estruturalismo, as orações da língua são descritas sem levar em consideração o contexto ou a situação de produção, muito menos o grau de afetação das ideias que o emissor pretende atingir frente ao receptor. Por outro lado, a corrente funcionalista encara a linguagem como um fenômeno social, sendo a língua um instrumento maleável de interação e não-autônomo, em que a necessidade de comunicar orienta a organização estrutural da frase. O foco é a competência comunicativa, tratando o produtor das sentenças como hábil para interagir socialmente e competente para utilizar as estruturas lingüísticas de forma a alcançar o outro17. O funcionalismo tem suas origens a partir dos trabalhos dos membros do Círculo Linguístico de Praga (CLP), que procuraram estabelecer relações entre a estrutura das línguas e suas funções. Porém, Antoni e Fuza (2009), dissertam acerca dos termos função e funcionalismo mostrando que: Os termos função e funcionalismo são recorrentes na Escola Linguística de Praga, mas a interpretação desses vocábulos torna-se tarefa complexa, haja vista que, o conceito é aplicado a vários domínios e fenômenos da linguagem, sofrendo modificações e, em alguns casos, o termo funcional é usado em um sentido vago. (p. 24)

15

Mª Neurielli Figueiredo Cardoso, graduanda em Letras-Espanhol pela Universidade Federal do Ceará; contato: neuriellifc@gmail.com 16 Sávio André de Souza Cavalcante, graduando em Letras-Espanhol pela Universidade Federal do Ceará; contato: savio.andrec@gmail.com 17 Cf. Bühler (1879 – 1963, apud GOUVEIA, 1998) e Jakobson (1896-1983, apud GOUVEIA, 1998).


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Halliday (1985), um dos principais funcionalistas modernos, prefere deixar o termo função livre para outras utilizações, propondo metafunções para a linguagem, as quais são: a ideacional, a interpessoal e a textual. Quanto à gramática, o funcionalismo prevê gramáticas formalizadas e nãoformalizadas, ambas dependentes dos sistemas semântico, pragmático e algumas vezes, discursivo. Exemplos de gramáticas formalizadas são as propostas por Dik (1989) e Hengeveld (2004, apud CÂMARA, 2006). Já Givón (1993) sugere uma gramática nãoformalizada, motivada e não-arbitrária, levando a crer que há uma relação entre forma e função, refletindo o princípio da iconicidade. Nesse aspecto, é importante salientar que não obrigatoriamente toda a gramática é motivada e que a relação forma/função nem sempre é 100% icônica (LIMA, 2009, p. 33). Lima (2009, p.35) explica que “outra forma de entender a iconicidade é relacionando-a à marcação, entendida como os correlatos distribucionais e cognitivos da estrutura sintática”. Lima (2009) também mostra que Givón (1991b, 1995) propõe três critérios para se fazer distinção entre categorias marcadas e não-marcadas: a complexidade estrutural, a freqüência e a complexidade, sendo estes dois últimos associados ao relevo discursivo (fenômeno figura e fundo). O linguista também avalia, com base nesses critérios, vários outros fenômenos, entre eles, os tipos de orações (orações subordinadas/principais) que serão foco desse trabalho. Quanto às orações, Neves e Braga (1998, p. 3) explicam que a análise funcionalista leva em consideração a articulação das orações, ou seja, a “relação entre uma oração tradicionalmente considerada „adverbial‟” e a oração que as pesquisadoras denominam nuclear. Com base no exposto supra, o trabalho que se segue pretende analisar, subsidiado pela visão funcionalista, as motivações discursivas no emprego de orações temporais. A justificativa para o presente trabalho explica-se pela necessidade de dar uma contribuição, mesmo que mínima, à descrição do português com base nos estudos funcionalistas. O artigo foi dividido em 5 partes. Logo após a presente introdução e a metodologia, serão relacionadas, com base na variável posição, as demais variáveis, explicando suas motivações através de gráficos que darão à exposição uma leitura mais objetiva e revelarão uma organização estrutural do trabalho de forma que as ideias fiquem claras e possam ser facilmente absorvidas. METODOLOGIA A presente pesquisa é de natureza qualitativa no que tange à necessidade de dar uma contribuição aos estudos funcionalistas da linguagem. Apresenta, porém, dados quantitativos, visto que há um trabalho com variáveis e número de ocorrências. Como


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mencionado anteriormente, a pesquisa foi realizada à luz da perspectiva funcionalista com a utilização de autores como Givón (1993) para apresentar e explicar os resultados obtidos, a partir do princípio da iconicidade, proposto pelo lingüista. O corpus foi retirado de uma seção da Revista Seleções, nome que recebem as versões brasileira e portuguesa da Revista Reader's Digest. A seção escolhida é intitulada Ossos do ofício em que profissionais de diversas áreas relatam experiências engraçadas que ocorreram em seus trabalhos. Optou-se por trabalhar com essa seção, primeiramente por se tratar de ser um gênero narrativo e, por consequência, o fenômeno analisado ser mais frequente; o outro critério foi a informalidade, pois se tratam de relatos narrados de maneira divertida, sendo assim pouco formais. E por fim, é importante lembrar que, por ser uma revista de publicação internacional, foram selecionados, para este trabalho, apenas relatos de brasileiros com a finalidade de dar maior credibilidade à pesquisa. Foram selecionadas edições publicadas durante 4 anos da Revista Seleções, os quais foram: 2002, 2003, 2008 e 2009, o que, à primeira vista, pode parecer uma quantidade exorbitante para um trabalho curto, porém como já foi dito, foram selecionados apenas os relatos de pessoas brasileiras, reduzindo assim as ocorrências. Foram retiradas apenas quarenta e sete (47) ocorrências de orações temporais a serem analisadas com base nas seguintes variáveis: posição (oração anteposta, intercalada, posposta em relação à nuclear), tipo (desenvolvida e reduzida) e relação temporal (anterioridade, simultaneidade e posterioridade). Após a coleta, as ocorrências foram organizadas em forma de gráficos, que, como foi dito, auxiliarão a análise, a qual será construída também por meio de comparações entre as orações encontradas para mostrar ao leitor a ocorrência e as interpretações para os fenômenos descritos. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Das 47 ocorrências coletadas, várias considerações puderam ser verificadas. Relacionando-se tipo e posição, pôde-se perceber que há uma preferência pela utilização de orações desenvolvidas, conforme se vê no gráfico 1 abaixo:


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Gráfico 1

Tal fenômeno pode ser explicado pelo fato de que as orações desenvolvidas apresentam, em sua estrutura, a conjunção temporal, geralmente a conjunção quando, que, segundo Carmelino (2001, p. 3) “introduz as construções temporais, ou seja, as que denotam o tempo da realização do fato expresso na oração principal”. As desenvolvidas são preferidas pelo falante por exporem claramente a noção de tempo, o que não acontece com a oração reduzida, em que o verbo é posto em uma das formas nominais e há uma omissão da conjunção temporal, deixando mais vaga a relação temporal. Os exemplos (1) e (2) ilustram o exposto: (1) Quando olhei a folha, estava escrito: (maio 2003/p. 27) (2) Ao sair da sala e deparar com o referido senhor, ela não hesitou e lhe disse: (maio 2002/p. 29) Durante a coleta, percebeu-se que houve também uma predileção pela anteposição das orações temporais em relação ao seu núcleo ou oração principal. Empreendeu-se, portanto, uma busca pela motivação da anteposição das orações e foi constatado que há uma estreita relação entre posição e relação temporal. Com base nesse fato, a análise se voltará agora para a exposição dessa relação. Com relação à colocação da oração temporal antes da nuclear, foi notado que a anteposição é motivada pela anterioridade do fato, ou seja, quando o falante vai narrar algo, ele organiza a oração de acordo com a ordem dos acontecimentos. Sendo assim, se o fato exposto pela temporal tiver se passado antes do narrado pela nuclear, a adverbial será colocada antes. O fato é previsto por Givón (1991a,1995), em seus princípios de iconicidade, em que considera a ordem das orações de acordo com a ordem dos eventos. A preferência pela anteposição das orações também pode ser explicada à luz de outros


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aspectos da iconicidade givoniana, pois, de acordo com o lingüista, as informações mais importantes ou mais urgentes são as primeiras a serem narradas. Das 25 antepostas, houve uma preferência pelas desenvolvidas, fato que já foi explicado anteriormente e, observando a relação temporal, a maioria dos fatos narrados carrega anterioridade ou simultaneidade. A prova maior é que não foi encontrada nenhuma ocorrência de oração anteposta com relação temporal de posterioridade. Esses fatos podem ser melhor verificados no gráfico abaixo: Gráfico 2

Quanto às intercaladas, o gráfico que se seguirá mostra que elas podem assumir diferentes posições com relação à organização temporal. Embora sejam intercaladas, esse tipo de oração tem mais relação de dependência com uma das duas orações próximas. Geralmente quando a intercalada está mais relacionada com outra oração que a sucederá, então há aí relação de anterioridade: (3) Absorta na conversa de negócios com o passageiro que se sentou no banco da frente, somente quando cheguei ao elevador me dei conta de que os outros dois clientes não nos acompanhavam. (jun. 2002/p.32). O que já era de se esperar também pode ocorrer: as orações intercaladas encerrarem relação temporal de simultaneidade, embora em menor ocorrência: (4) Estávamos encerrando a programação de setembro quando nosso gerente teve dúvida quanto às datas de uma exposição organizada pela embaixada do Japão. (set. 2003/p. 28-29) Também faz-se necessário explicar que geralmente orações com gerúndio favorecem a ocorrência temporal de simultaneidade:


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(5) Chegando à sala de espera do escritório, notei que algumas pessoas olhavam para mim de um jeito engraçado (jan. 2002/p. 26) Após essa exposição sobre as temporais intercaladas, eis o gráfico que elenca os dados quantitativos e referenda os qualitativos: Gráfico 3

Por fim, seguem-se os dados das ocorrências com orações pospostas, que, à semelhança das antepostas, e consoante o princípio de iconicidade, revelam a estreita relação posição/relação temporal. Ocupando a segunda posição quanto à aparição, levando em consideração as ocorrências de antepostas e intercaladas, verificou-se que quatro das nove orações pospostas encerram relação temporal de posterioridade, por motivos já explicados. Exemplos: (6) Logo pensei: alguém desobedeceu às ordens, fotografou e já vai ser demitido antes mesmo de começar a trabalhar. (mar. 2009/p.159) (7) O telefone tocou, ela atendeu e conversou com o paciente, até que este perguntou o valor da cirurgia. (fev. 2009/p.142) Entre as pospostas, somente uma trouxe valor de anterioridade, a saber: (8) Fiquei surpresa ao verificar o "assunto" de uma das mensagens. (dez. 2008/p.159) Essa ocorrência parece aparentemente contraditória levando em conta o que foi dito até agora, mas pode ser explicada pautando-se em dois motivos: o primeiro, já foi mencionado no início deste trabalho, é o fato, exposto por Lima (2009, p.33), de que “o princípio da iconicidade (...) precisa ser visto com cautela, para não se cair na inadequação de postular que a relação forma/função é 100% icônica”. O segundo motivo pode estar relacionado ao fato de que ocorrências como estas não firam o princípio da iconicidade,


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considerando-se que talvez o falante tenha colocado o sintagma verbal na frente, pois, para ele, o mais importante seria o fato de ter ficado surpreso e não o porquê da surpresa. O princípio givoniano se aplica aí, quando considera que o mais importante é dito logo no início. Outro dado importante é que, das mesmas 9 pospostas encontradas, 5 encerram noção de simultaneidade, quase sempre com verbos no gerúndio: (9) Estava terminando de atender um paciente na enfermaria do hospital, quando uma colega me chamou para ir ao posto. (nov. 2008/p.159) (10) Estava trabalhando numa clínica veterinária, quando meu celular tocou. (nov. 2008/p.158) (11) Estava começando no departamento de suporte a clientes, na área de informática, quando um homem solicitou um atendimento para solução de vários problemas no seu computador. (jan. 2003/p. 21) Ao final, segue-se o gráfico com os resultados das ocorrências de orações adverbiais temporais pospostas juntamente com suas respectivas relações temporais:

CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho propôs-se inicialmente a analisar, com base em estudos funcionalistas, as motivações discursivas que levam o falante a organizar suas orações, neste caso em particular, optou-se por trabalhar com orações adverbiais temporais em relatos cômicos, em virtude de estes serem pouco formais. Com base nos resultados apresentados na seção anterior, por meio de gráficos e exemplos,

percebeu-se que houve uma

preferência pela utilização de orações

desenvolvidas e também uma predileção pela anteposição das orações temporais em relação ao seu núcleo ou oração principal em uma parte bem considerável das ocorrências analisadas.


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Outro fator importante que foi necessário para explicar ordenação temporal nas análises realizadas foi o principio da iconicidade na perspectiva givoniana. Segundo Givón (APUD LIMA-HERNANDES, 2006), as orações devem preferencialmente ser ordenadas segundo as relações conceptivas ou temporais, decorrentes dos fatos ou estados de coisa que designam, e tal fato é encontrado em nossas análises, pois os autores dos relatos preferiram estruturar suas narrativas com base na sequência temporal. Percebeu-se também que o uso do gerúndio motiva a simultaneidade dos fatos, sendo também explicados pelos princípios de Givón (1991a, 1991b, 1993, 1995). Outro aspecto importante a ser ressaltado também é reflexo dos princípios de iconicidade: é o fato de que a anterioridade das temporais também pode ser explicada pelo seu grau de importância, pois, segundo Givón (opus cit), o que é mais importante e urgente é dito em primeiro lugar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTONI, Juliano Desiderato; FUZA, Ângela Francine. As construções condicionais em uma perspectiva funcionalista no livro didático de língua portuguesa. Revista voos: Revista Eletrônica Polidisciplinar da Faculdade Guairacá. Ano 01, n. 01, p. 23-34, jul. 2009. Disponível em: <http://www.revistavoos.com.br/edicoes/2009/volume1/CadernoLetras/ Linguisticos/PDFs/ 02_Vol1_VOOS2009_CL1.pdf>. Acesso em: 09 abr. 2010, 01:02:00. CÂMARA, Aliana Lopes. Multifuncionalidade e gramaticalização de já no português falado culto. Dissertação de Mestrado. Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – Universidade Estadual Paulista, 2006, p. 25-38. CARMELINO, A. C. . Um estudo da oração subordinada introduzida por QUANDO. In: XLIX Encontro do Gel, 2001, Marília. Anais do XLIX Encontro do Gel. Marília : Editora Fundação Eurípides Soares da Rocha, 2001. DIK, S.C. The theory of functional grammar. Dordrecht:Foris Publications, 1989. GIVON, T. “Isomorphism in the grammatical code: cognitive and biological considerations” in: Studies in language 15-1. Philadelphia: J. Benjamins, 1991a GIVON, T. Markedness in grammar: distributional, communicative and cognitive correlates of syntactic structure. Studies in Language, 15.2. 90-8. Oregon: University of Oregon. 1991b.9 GIVON, Talmy. English grammar: a function-based introduction. Amsterdam: John Benjamins. v.1, 1993. GIVON, Talmy. Functionalism and grammar. Philadelphia, J. Benjamins, 1995. GOUVEIA, Carlos A. M. Comunicação e funções da linguagem. Língua. Volume de Didacta: Enciclopédia Temática Ilustrada. s/l: FGP-Editor, 1998. p. 31-35. HALLIDAY, M.A.K. An introduction to funcional grammar. Australia: Edward Arnold, 1985. LIMA, M. C. A não-atribuição de causalidade na Crônica Geral de Espanha de 1344. Tese de Doutorado. PPGL – Universidade Federal do Ceará, 2009, p. 33-36 LIMA-HERNANDES, M. C. P. . O princípio da iconicidade e sua atuação no português do Brasil. Filologia e Lingüística Portuguesa, v. 8, p. 83-96, 2006. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/mariacelia_a13.pdf. Acesso em: 08 jun 2010, 08:45:31. NEVES, Maria Helena de Moura; BRAGA, Maria Luiza. Hipotaxe e Gramaticalização: uma Análise das Construções de Tempo e de Condição. DELTA, São Paulo, v. 14, n. spe, 1998. Available from <http://www.scielo.br/ scielo.php? script =sci_arttext&pid =S010244501998000300013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 07 jun 2010. doi: 10.1590/S010244501998000300013.


ORAÇÕES TEMPORAIS SOB UMA PERSPECTIVA FUNCIONAL Camila Stephane Cardoso Sousa18 Glenda Miranda Moura19 INTRODUÇÃO Neste trabalho, serão apresentadas, a partir de uma visão funcional do estudo da língua, ocorrências de orações temporais em gêneros distintos, a saber, biografia e entrevista. Partimos do pressuposto de que as ocorrências refletem escolhas do falante/escritor e, portanto, tem funções diferentes conforme o contexto no qual são analisadas, embora sejam, segundo a Gramática Tradicional, sempre classificadas como orações subordinadas adverbiais temporais. Percebemos, ainda, ao nos determos à análise do corpus, que há uma diferença na posição (anteposta, intercalada ou posposta) e no tipo (desenvolvida ou reduzida) das orações colhidas, o que está relacionado ao gênero textual. Consideramos, portanto, a hipótese de que a elaboração textual que algumas estruturas genéricas exigem, permite que modelos mais formais da língua sejam utilizadas, em comparação a gêneros que permitem usos mais coloquiais. Nosso interesse é de apontar que, diferente do que postula a Gramática Tradicional, a língua deve ser entendida a partir da interação social, não sendo, assim, apenas estratificada e categorizada enquanto fechada em suas funções atribuídas de maneira restrita enquanto Orações Subordinadas Adverbiais, sem considerar sua relação com a oração principal e o modo como são dispostas dentro do período. METODOLOGIA Para compor nossa análise, coletamos 21 ocorrências de orações temporais no gênero biografia e 22 ocorrências no gênero entrevista. A biografia da qual retiramos as ocorrências (Renato Russo: o trovador solitário) versa sobre a vida do cantor e compositor Renato Russo. As demais ocorrências foram retiradas de excertos de várias entrevistas, realizadas com o artista, reunidas em uma mesma publicação (Conversações com Renato Russo). A referência completa de ambas as obras podem ser encontradas ao final do trabalho. Depois de recolhidas, as orações foram analisadas a fim de que pudéssemos perceber: (i) se eram de fato orações temporais ou apenas locuções adverbiais; (ii) a

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Aluna da graduação do curso de Lingua Portuguesa e Respectivas Literaturas. Correio eletrônico: camilastephane@gmail.com. 19 Aluna da graduação do curso de Lingua Portuguesa e Respectivas Literaturas. Correio eletrônico: glendamiranda.s@gmail.com


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posição que ocupavam em relação a oração principal; (iii) seu tipo; (iv) a noção de temporalidade que expressão em relação a principal. Por fim, com base na abordagem funcionalista dos estudos da linguagem, vemos como tais estruturas podem ser analisadas. ANÁLISE DO CORPUS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A maior dificuldade em relação ao corpus foi a de coleta. Isso porque, em comparação à biografia, a entrevista não é um gênero formal. Ao contrário, as marcas da fala do entrevistado são quase todas mantidas e a pontuação não é adequada ao que se conhece sobre a norma culta da língua, ao contrário, ela marca as pausas que o falante faz. Isso se tornou um empecilho na hora de reconhecer as orações e saber a qual oração se ligavam, e essa questão da proximidade da fala foi fator diferenciador no que diz respeito a marcação das estruturas encontradas). Para uma primeira análise do corpus, precisamos observar se as orações eram de fato temporais, ou seja, se estavam em relação de hipotaxe, segundo o que postula Halliday (1985 apud OLIVEIRA 2006). O linguista assim as classifica por entender que as orações ditas subordinadas temporais pela gramática tradicional não estabelecem com a principal a mesma relação de completude (ou encaixamento) que as orações ditas subordinadas substantivas. Por extensão a proposta de Dik (1997 apud OLIVEIRA 2006), as orações temporais seriam satélites e funcionariam modificando o nível da predicação, enquanto as subordinadas substantivas agiriam como argumentos e os demais tipos de oração poderiam modificar o predicado ou o ato de fala. Isso pode ser observado nos exemplos seguintes: (1) Quando a gente começou era assim: vamos fazer uma banda? (2) Mais ou menos na mesma época em que começou a ser alfabetizado, aos cinco anos, ele também recebeu aulas formais de piano. Podemos perceber, nas tabelas 1 e 2 a seguir, a comparação das ocorrências a partir do gênero do qual foram retiradas, da posição que ocupam em relação à oração principal, ao seu tipo e à noção de temporalidade que expressam. Gênero textual

Posição

Tipo de oração

Desenvolvida: 07 Anteposta: 08 Reduzida: 01 Biografia Desenvolvida: 01 Intercalada: 04 Reduzida: 03

Noção de temporalidade

Total

Anterioridade: 02 Posterioridade: 02 Simultaneidade: 03 Anterioridade: 00 Posterioridade: 01 Simultaneidade: 00 Anterioridade: 00 Posterioridade: 01 Simultaneidade: 00 Anterioridade: 00 Posterioridade: 03 Simultaneidade: 00

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Desenvolvida: 03 Posposta: 09 Reduzida: 06

Anterioridade: 01 Posterioridade: 00 Simultaneidade: 01 Anterioridade: 03 Posterioridade: 03 Simultaneidade: 00

Tabela 1: Tabela de ocorrências retiradas do gênero biografia.

Nessa primeira tabela, percebemos que apenas 05 do número total de ocorrências estão de acordo com o princípio de iconicidade proposto por Givón (1991, 1995; apud LIMA, 2009), formando uma percentagem de 23,8%. O princípio da iconicidade parte da motivação e não-arbitrariedade da língua, levando em consideração a relação forma/função. Uma gramática seria icônica se tal relação fosse estabelecida de 1 para 1. Para o teórico, o código gramatical é, por isso, parcialmente icônico e parcialmente simbólico, porque é preciso levar em consideração que pode tanto haver uma forma para mais de uma função quanto uma função para mais de uma forma. A iconicidade está ligada aos princípios de quantidade, proximidade e sequência da informação no discurso. Neste trabalho, interessa-nos perceber como o falante/escritor estabelece a ordem dos eventos que narra através das orações temporais dentro do discurso, dessa maneira, falamos em iconicidade quando a ordem dos eventos narrados corresponde à ordem das orações. No gênero entrevista, essa correlação é visivelmente mais freqüente: em 54,5% das ocorrências, como se pode perceber a partir da tabela abaixo. Gênero textual

Noção de temporalidade Anterioridade: 07 Desenvolvida: 11 Posterioridade: 00 Simultaneidade: 04 Anteposta: 11 Anterioridade: 00 Reduzida: 00 Posterioridade: 00 Simultaneidade: 00 Anterioridade: 03 Desenvolvida: 06 Posterioridade: 00 Simultaneidade: 03 Entrevista Intercalada: 07 Anterioridade: 00 Reduzida: 01 Posterioridade: 00 Simultaneidade: 01 Anterioridade: 00 Desenvolvida: 03 Posterioridade: 00 Simultaneidade: 03 Posposta: 04 Anterioridade: 00 Reduzida: 01 Posterioridade: 01 Simultaneidade: 00 Tabela 2: Tabela de ocorrências retiradas do gênero entrevista. Posição

Tipo

Total

22

Observemos os exemplos a seguir: (3) Naquela noite, pouco antes do Jornal Nacional, da Rede Globo, entrar no ar, realizou-se uma tensa reunião numa sala da rua Lopes Quintas [...].”


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(4) Júnior pegava carona na coleção do pai, tomando contato com Benny Goodman e Glenn Miller antes mesmo de aprender a ler, o que aconteceu no colégio Olavo Bilac. No trecho (3), embora a oração temporal esteja intercalada à principal, ela estabelece uma relação de posterioridade com o evento que a principal narra, pois a reunião foi realizada antes de o Jornal ir ao ar. No exemplo (4), ao contrário, há uma equivalência entre a ordem do evento e a ordem das orações, em que a oração temporal aparece posposta à oração principal e estabelece com ela uma relação de posterioridade. (5) Mas a partir do momento em que isso é utilizado pra rotular e em cima disso criar um texto jornalístico, acaba sendo uma coisa de má-fé. (6) A crítica, ao falar do trabalho do Legião, destaca sempre as suas letras. Nos excertos acima, ambas as ocorrências aparecem intercaladas em relação à oração principal. Entretanto, em (5), a noção é de anterioridade e, em (6) a noção é de simultaneidade. Outro ponto de destaque é que, no gênero entrevista, há uma forte presença de orações desenvolvidas, 90,9%, ao passo em que no gênero biografia, há uma relação equilibrada, 52,3%. Isso se dá pelo grau de formalidade de cada gênero: na entrevista, não existe preocupação em omitir as marcas de oralidade dos interlocutores, ocasionando uma maior informalidade, enquanto a biografia é melhor trabalhada por aquele que a escreve, sendo ainda editada antes da publicação, o que garante uma maior preocupação em manter as estruturas da norma culta. Dessa forma, podemos dizer que, na entrevista, a estrutura não-marcada, por conta de sua maior freqüência, é a oração desenvolvida. O que ocorre na biografia é que a diferença é pequena entre a porcentagem do número de ocorrências, o que não nos permite afirmar com certeza, embora o número de orações desenvolvidas seja maior do que de reduzidas. Se pegarmos o total de orações reduzidas e desenvolvidas coletadas, veremos que 64,5% das desenvolvidas aparecem na entrevista, e apenas 35,5% delas na biografia. As reduzidas, por sua vez, aparecem 16% das vezes na entrevista e 84% na biografia. Em Gomes e Pereira (no prelo), cujo corpus foi retirado de blogs, é visível esse aspecto. Em 86,4% dos casos, as orações são desenvolvidas, contra apenas 14,6%. Cardoso e Cavalcante (no prelo) colheram ocorrências de relatos de leitores de uma revista de grande circulação e, de um total de 47, apenas 31,9% são de reduzidas. O que comprova a hipótese de, em textos mais próximos da oralidade, é mais comum que haja estruturas mais facilmente processáveis e menos complexas. A partir do que foi aqui levantado, percebemos que o tipo de oração e a noção de temporalidade que transmitem se relaciona diretamente ao discurso e ao registro da língua no qual este foi produzido (formal ou informal).


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CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos ver, portanto, que, à luz de teorias funcionalistas, o estudo das estruturas da língua, no caso das orações subordinadas temporais, se torna bem mais rico do que propõe a gramática tradicional. Mais do que qualificá-las enquanto temporais, o estudo funcionalista dessas orações observa e analisa a relação dela com os eventos narrados, bem como a maneira como se ligam à oração principal e ainda como se inserem no discurso e no respectivo gênero do qual são retiradas. Como visto, na entrevista, há mais orações que correspondem ao princípio de iconicidade do que na biografia, assim como nesta, o número de orações desenvolvidas é bem menor do que na primeira. A riqueza do tema pode ser ainda melhor abordada a partir do que sugere Halliday(1985) sobre a estrutura tema/rema

e de suas implicações com o modo de

representar o mundo e, consequentemente, relacionando-as em uma localização temporal. Apesar da brevidade desta pesquisa, é de nosso interesse ampliar as discussões acerca da importância das orações temporais dentro do discurso, em contraposição à sua categorização estrutural proposta pela gramática tradicional. REFERÊNCIAS CARDOSO, M. N. F. e CAVALCANTE, S. A. S. Análise funcionalista de orações temporais em relatos da revista seleções. Cadernos de Estudos Linsguísticos. No prelo 2010. GOMES, M. dos S. e PEREIRA, B. P. As orações temporais em blog. Cadernos de Estudos Linsguísticos. No prelo 2010. LIMA, M. C. Princícios de iconicidade, In: A não-arbitrariedade de causalidade da Crônica Geral de Espanha de 1344. Tese de Doutorado. PPGL – Universidade Federal do Ceará, 2009. p. 33-36. OLIVEIRA, Taísa Peres de. Articulação de Orações na Gramática Funcional do Discurso: uma revisão no tratamento dos processos de subordinação. Estudos Linguísticos (on-line), São Carlos, nº XXXV, p. 1897-1901, 2006. Disponível em: http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-estudos2006/revista20062.htm». Acessado em «07/03/2010».


A NOÇÃO TEMPORAL EM ORAÇÕES ADVERBIAIS EXTRAÍDAS DE BLOGS Beatriz Passamai Pereira20 Magno dos Santos Gomes21 CONSIDERAÇÕES INICIAIS As construções temporais codificam principalmente as circunstâncias em que ocorre o momento de enunciação, expresso pela oração nuclear. Fatores como a posição (anteposição, posposição, intercalação), a noção temporal (anterioridade, posterioridade, simultaneidade) e o tipo (desenvolvidas, reduzidas) serão imprescindíveis na determinação da estrutura semântica das construções em questão. Tendo em vista o papel de tais fatores na marcação da organização dos enunciados, põe-se como questão a motivação dos variados usos dos mesmos. A influência dessas variáveis foi pelos autores aferida através da análise que se segue. METODOLOGIA Com o objetivo de investigar, em orações temporais, os efeitos obtidos em virtude das alterações observadas nas variáveis posição e tipo, bem como a presença da noção temporal, selecionamos um corpus composto por 37 orações, retiradas de dois blogs, a saber:

<http://jazzseen.blogspot.com>

(blog

sobre

jazz)

e

<

http://acasosafortunados.blogspot.com> (blog pessoal). A amostra contém, em sua totalidade, orações adverbiais temporais, desenvolvidas e reduzidas; antepostas, pospostas e intercaladas. Nela, buscamos examinar as noções de anterioridade, posterioridade e simultaneidade. Em seguida, contabilizamos o número de ocorrências colhidas para cada fator considerado e sistematizamos o mesmo na forma de tabelas. A partir da apreciação dos dados, à luz do funcionalismo, procedemos a uma interpretação que levou em conta o resultado do cruzamento das variáveis escolhidas e a hipótese de uma motivação, não apenas gramatical, mas também discursiva. ANÁLISE Em uma leitura mais geral, considerando-se as três variáveis em questão, podemos constatar, primeiramente, que há maior freqüência de orações desenvolvidas e antepostas. 20

Graduanda em Letras Português e Literaturas pela Universidade Federal do Ceará. Contato: bea_pas@yahoo.com.br. 21 Graduando em Letras Português e Literaturas pela Universidade Federal do Ceará. Contato: magnosantos@oi.com.br.


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Além disso, a noção de anterioridade prevaleceu sobre a de simultaneidade e a de posterioridade. Tal fato justifica-se, pois se tratam de construções retiradas de um corpus que, apesar de ser escrito, insere-se em um gênero caracterizado pela informalidade, qual seja, os blogs. Assim, é natural que a linguagem empregada nesses veículos tenda a ser mais acessível ao leitor. Para tanto, recorre-se à utilização de estratégias discursivas tais como o uso de orações desenvolvidas em detrimento de orações reduzidas, pois nas primeiras a informação é mais facilmente processada pelos leitores; o uso de orações antepostas, pois, ao fornecerem informações que acrescentam e explicam a informação contida na oração nuclear, tornam a leitura mais dinâmica e clara. A noção de anterioridade predominará, já que, está-se diante de uma construção hipotática, na qual a oração nuclear contém a informação de maior relevância sendo de se esperar, portanto, que os fatos nela narrados aconteçam temporalmente primeiro. Para corroborar essa posição cita-se Du Bois e Thompson, citados por Neves (1998): O falante estrutura as frases de seu discurso (usando, por exemplo, um sintagma nominal ou um pronome em uma determinada posição estrutural) dirigido por pressões comunicativas refletidas na necessidade de controlar o fluxo de informação.

A primeira tabela correlaciona as variáveis tipo e posição. Nele, observa-se que há um número maior de orações antepostas (20 antepostas e 16 pospostas) e de orações desenvolvidas (32 desenvolvidas e 5 reduzidas). Além disso, das 32 orações desenvolvidas, 18 são antepostas. Segundo Pereira (2004) as orações temporais, em sua grande maioria, têm como propriedade a flexibilidade de ordenação, característica identificada na presente amostra. A autora ainda aponta que essa ordenação serve a propósitos discursivos, fato comprovável na hipótese proposta pelos autores de que para um melhor desenvolvimento do fluxo informacional a estratégia discursiva empregada, neste caso o uso preponderante de orações antepostas, mostra-se bastante eficiente. Tome-se, a título de ilustração, dois enunciados que comprovam essa tese:

(1) Foi grande a confusão quando um sorridente Tobias Serralho apareceu na última reunião do Clube das Terças, o mais longevo e atuante clube de jazz do Espírito Santo. (2) Fiquei extremamente comovido quando, ao telefonar para Lester, ouvi do outro lado da linha: gratius ex ipso fonte bibuntur aquae.


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Tipo/Posição

Anteposição

Posposição Intercalada

Total

Desenvolvida

18

14

0

32

Reduzida

2

2

1

5

Total

20

16

1

1

A segunda tabela correlaciona as variáveis posição e noção temporal. Percebe-se que o número de ocorrências de orações antepostas (19 ocorrências) supera o de pospostas (14 ocorrências) e intercaladas (4 ocorrências). Outrossim, a noção de anterioridade (18 ocorrências) se sobrepõe à noção de posterioridade (6) e de simultaneidade (13 ocorrências). A predominância de anteposição se justifica ao

se

considerar que no corpus em questão todos os enunciados expressam uma relação de hipotaxe e nesta o relevo discursivo recai quase inteiramente sobre a oração nuclear, transferindo assim toda a carga de informação para a mesma. Dessa forma, a informação secundária contida na oração temporal serve apenas para explicar ou situar o que está posto na principal. Exemplica-se:

(3) (4)

Que quando eu fizer, seja por mim. Um imenso silêncio tomou conta da mesa de reunião, enquanto os membros do clube entreolhavam-se entre apreensivos e assustados. Posição/Noção temporal

Simultaneidade Anterioridade

Posterioridade

Total

Antepostas

9

7

3

19

Pospostas

2

9

3

14

Intercaladas

2

2

0

4

Total

13

18

6

A terceira tabela correlaciona as variáveis tipo e noção temporal. São 32 orações desenvolvidas e 18 orações expressando a noção de anterioridade. Uma vez mais a freqüência de ocorrência das orações desenvolvidas supera a das reduzidas. Acrescenta-se ainda o fato de que, novamente, há primazia da noção de anterioridade. Advoga-se, como já explicitado anteriormente, em favor da hipótese de que esses usos evidenciam uma estratégia discursiva própria de textos inseridos em gêneros mais informais cujo escopo principal é a facilidade de processamento da informação. Exemplos:

(5)

A sensação que me veio quando ouvi aquela regravação de "take a bow" no seriado foi estranha. (6) Quando vi a capa, sorri ao perceber em destaque (featuring) o nome da pianista Renee Rosnes.


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Tipo/Noção Temporal

Simultaneidade Anterioridade

Posterioridade Total

Desenvolvidas

12

14

6

32

Reduzidas

1

4

0

5

Total

13

18

6

Outro fato que chamou atenção dos autores foi o número de ocorrências em que se empregou a conjunção „quando‟ (17 ocorrências), indicando que, no corpus analisado, na maior parte das vezes, a temporal se presta a denotar o tempo da realização do fato expresso na oração principal (CARMELINO, 2001), auxiliando assim, na tarefa de manter a clareza e a objetividade do texto, elementos indispensáveis para uma melhor compreensão. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo da pesquisa considerou-se a hipótese de que as motivações discursivas que determinariam os resultados derivariam do tipo de gênero ao qual pertencia o corpus. A partir da análise exposta acima, constatou-se que, para o corpus em questão, as orações temporais tendem a ocorrer na sua forma desenvolvida, a aparecer antepostas a oração principal e a estar carregadas, principalmente, de noção de anterioridade. Destarte, tal resultado acabou por corroborar a tese inicial. Este estudo apontou alguns aspectos que os autores consideraram relevantes para a lingüística, sem, contudo, ter a pretensão de esgotar o tema abordado, sendo senão uma sugestão de análise. Espera-se que as lacunas sejam preenchidas por trabalhos posteriores. REFERÊNCIAS CARMELINO, A. C. . Um estudo da oração subordinada introduzida por QUANDO. In: XLIX Encontro do Gel, 2001, Marília. Anais do XLIX Encontro do Gel. Marília : Editora Fundação Eurípides Soares da Rocha, 2001. p. 205-205. NEVES, M. H. M. ; BRAGA, M. L. . Hipotaxe e gramaticalização. Uma análise das construções de tempo e de condição. DELTA. Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 14, n. esp., p. 191-208, 1998. PEREIRA, M. H. . Fatores inibidores da flexibilidade de ordenação das orações temporais. Estudos Lingüísticos (São Paulo), Unicamp, 2004.


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